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11. Unus testis — O exterminio dos judeus e o principio de realidade* para Primo Levi 1. No dia 16 de maio de 1348, a comunidade judaica de La Baume, uma pequena aldeia provengal, foi exterminada, Esse acontecimento éapenas um elo de uma longa cadeia de violéncias, ocortidas na Franca meridional em decorréncia da ecloso da Peste Negra, em abril do mesmo ano. A hostilidade contra os judeus, que muitos consideravam culpados por ter propagado a Peste jogando veneno nos pogos, nas fontes ¢ nos rics, se havia cristalizado pela primeira vez em Toulon, durante a Semana Santa, 0 gueto fora assaltado, homens, mulheres ¢ criangas foram assassinados. Nas semanas seguintes, violéncias andl ficaram em outras localidades da Provenca, como Riez, Digne, Manosque, Forcalquier. Em La Baume sé houve um sobrevivente: um homem que dez dias antes tinha partido para Avignon, con- zado em Los Angeles, na Uc vocado pela rainha Joana. Ele deixou uma comovida recordacio do acontecimento em poucas Tors Viena, Joseph Shatzmiller, combinando num belissimo ensai uma nova leitura do trecho escrito na Tord com um documento} hoje conservado na Osterreichische Nationalbibliothek de rado de um registro fiscal, conseguiu identificaro nomedo sobre- . Em 1349, ele tinha se estabelecide em ayas Quino Aix, onde recebeu o exemplar da Tord, Se voltou a La Baume de- pois do massacre, ndo sabemos.! Agora vou falar brevemente de um caso diferente, embora de certo modo correlato. A acusagao de propagar a Peste feita aos judeus em 1348 reproduzia tal e qual um esquema qu gitaumageracaoantes. Em 1321, durantea Semana Santa, difun- emer diu-se de repente um boato por todaa Franca eem algumaszonas vizinhas (Suiga ocidental, Espanha setentrional). Osleprososou, deacordo com outras versoes, os leprosos incitados pelosjudeus, ‘ou ainda os leprosos incitados pelos judeus incitados pelos reis sia, haviam urdido uma cons- Wios sadios. Os reis muculmanos, obviamente, ndo havia como serem atingidos; mas por dois anos mugulmanos de Granada eda Ty piragao para envenenar os Jeprosos e judeus tornaram-se alvos de uma série de violéncias ealizadas seja pela populacao, seja pelas autoridades politicas ¢ religiosas. Procurei em outra ocasifo destrinchar esse complexo emaranhado de acontecimentos.* Gostaria de analisar aqui um trecho extraido de uma cronica escrita ne pelo chamado continuador de Guilherme de Nangis: um monge anénimo que, como 0 seu predecessor, vivia no mosteiro de io do século xiv Saint-Denis. Depois da descoberta da suposta conspiragio, muitos udeus, Principalmente na Franga setentrional, foram mortos. Perto de Vitry-le-Frangois, diz 0 cronista, cerca de quarenta judeus foram sdeci- presos numa torre, Para nao serem mortospelos cristaos, ram, apds longas discussdes, matar-se uns a0s outr9s. Encarre- n-se do gesto um velho, muito respeitado, e um jovem. De- pois o velho pediu ao jovem que o matasse. 0 jovem aceitou com relu mas em vez de se suicidar apoderou-se do ouro ¢ da prata contidos nos bolsos dos cadiveres.que jai tow entio escapar da torre com uma corda, feita de lenc6ii rados. Mas chao, quebrando a perna, e foi morte. mm no chao. Ten mar- corda nao era bastante comprida e 0 jovem caiu no Oepisddio nao é, de per si, mplau iveis a cel. No entanto apresenta algumas ine juudeus de Flévio Josefo. 1) © primeiro trecho (1m, 8) ‘ala de qua~ lonuma grata de dam todos, com excegio de dois: 0 proprio Josefoe um soldado seu amigo, que aceita nao maté-lo; 2) ades com dois trechos daa guerra dos 0 segundo descreve 0 célebre'cerco de Massada, a cesesperada resisténcia dos judeus reunidos dentro da fortaleza, seguida por tum suicidio coletivo, também com duas excegdes: duuas mulheres (vt 8-9). Como interpretar as analogias entre os dois trechos de Josefo ea passagem, ji mencionada, da cronica escrita pelo conti- nuador de Guilherme de Nangis? Devemos supor uma convergén- cia dos fatos ou, a0 contririo,a presenga de um toposhistoriogr’~ fico (que na versio mais recente incluiria uma alusio a outro topos, aavider judaica)? Ahipétese de um topos historiografico ja foi formulada cau telosamentea propésito do relato dos acontecimentos de Massada feito por Josefo.’ A obra de Flavio Josefo, amplamente conhecida naldade Média, tanto em grego como na célebre versdo latina pre- parada sob a direcao de Cassiodoro, era particularmente difun- 1s que che- garam até nés) no norte da Franga e em Flandres. Sabemos que dida (pelo que se pode julgar do mimero de manuse: {o josefo fazia parte das leituras prescritas durantez Quaresma no mosteiro de Corbie por volta de 1050; suas obras no entanto das numa lista do século xtv de leituras prescri nJo sfo mencion tas aos monges de Saint-Denis, entre os quaisestava, como ja dito, © continuador de Guilherme de Nangis.’ Além disso, falta uma prova direta da presenga de manuscritos de A guerra dos judeusde Flavio Josefo na biblioteca de nista poderia té-los consultado sem dificuldade: dentre os muitos manus (0s existentes na Bibliothéque Nationale de Paris, hé.um (que remonta ao século xtt) proveniente da biblioteca de Saint- Germain-des-Prés’ Tudo isso permite afirmar que o continuador Iherme de Nangis pode ter conhecido a A guerra dos jude de Flavio Josefo (ou a sua adaptagdo no século ty conhecida como ‘Hegesippo”).® Mas dai nfo decorre necessariamente que o suici: dio coletivo de perto de Vitry-1 ha ocorrido. Ainda serd preciso trabalhar sobre essa questo, embora, talve: venhaa ser impossivel chegar a uma conclusio precisa, rangois nunca te 2, Esses acontecimentos que remontam aum passado remoto ‘equase esquecido se conectam por intermédio de miiltiplos fiosao tema que indiquei no subtitulo. Pierre Vidal-Naquet se mostra agudamente consciente, visto que decidiu publicar no mesmo volume (Les Juifs, la mémoire, le présent [Os judeus, a meméria, 0 presente), Paris, 1981) um ensaio sobre “Flavio Josefo e Massad “Um Eichmann de papel”: uma discussio detalhada daquela his- toriografia dit jonista’, que sustenta a inexisténcia de cam- pos de exterminio nazistas." Mas a presenga de contetidos anélo- gos —a perseguicao dos judeus na Idade Média, o exterm: judeus no século xx — é,a meu ver, menos importante do que a analogia dos problemas de métado postos porambosos casos. Vou tentar explicar por qué. Asanalogias entre os do dos rechos de Josefo, respectivamente sobre 0 episédio de Jotapata e 0 cerco de Massada, tratam nao s6 icidio coletivo como também da sobrevivéncia de dois indi- dost viduos: Josefo 0 soldado seu amigo, no primeiro caso; as duas mulheres, no segundo. A sobrevivéncia de um individuo era um Fequisito necessério para que houvesse uma testemunha: mas por que dois? Creio que a escolha das duas.testemunhas se explique pela recusa bem conhecida, presente tanto na tradicao juridica romana como na tradigao judaica, de reconhecer a validade de uma Gnica testemunha num julgamento.” Ambas ¢s tradigdes cram, decerto, familiares a um judeu que se tornara sidadio ro- mano, como Flavio Josefo. Mais tarde, 0 imperador Constantino transformou a recusa da tinica testemunha em lei propriamente dita, que foi depois incluida no eédigo de Justiniano." Na dade Média, a alusdo implicita a Deuteronémio 19, 15 (Non stabit tesis nus contra aliquem) tornou-se testis unus, testis Procuremosimaginar por um momento 0 que aconteceria se um critério desses fosse aplicado na pesquisa histérica. Nosso conhecimento dos fatos qu de 1548, perto de Vitry-le-Frangois, num dia nao registrado do vero de 1321,ena gruta dos arredores de Jotapata em julho de 67 baseia-seem testemunhas mais ou menos diretas. Sao elas, respec- tivamente, 0 individuo (identificado como Dayas Quinoni) que escreveu as linhas que se lem na Tord hoje conservada na Natio- nalbibliothek de Viena; 0 continuador de Guilherme de Nangis; Flavio Josefo. Nenhum historiador sensato repeliria esses testemu- hos definindo-os como intrinsecamente inaceitaveis. Segundo a Pritica historiografica normal,o valor de cada um deles deverd ser estabelecido através de uma série de cotejos, Em outras palavras, dever-se-& construir uma série que inclua pelo menos dois do- cumentos. Mas suponhamos, por um momento, que 0 continua: 24 dor de Guilherme de Nangis, na sua descrigo do suicidio coletivo advindo nosarredores de Vitry-le-Frangois, tenha apenas feito eco a0 A guerra dos judeusde Flavio Josefo. O suposto suicidio coletivo acabaria se dissolvendo como fato, mas a sua descricio constitui- ria sempre um documento importante da difusio (que também 6, salvo para um positivista inveterado, um “fato”) da obra de Flavio Josefo na Ile-de-France no inicio do século x1v. O direito ea historiografia tém, pois, ao que parece, regras e fandamentos epistemolégicos que nem sempre coincidem. Por- tanto, os prineipios juridicosnao podemsertransferidoscom todo © seu peso para a pesquisa histérica." Essa conclusio parece con- tradizer a estrita contigtidade salientada por estudiosos quinhen- tistas como Francois Baudouin,o historiadordo direito que decla- rou solenemente que “os estudos histéricos devem se apoiar num. sélido fundamento legal, ea jurisprudéncia deve estar unida a his- toriografia’.” Numa perspectiva diferente, ligada a pesquisa anti- uéria, o jesufta Henri Griffet, no seu Traité des différentes sortes de Preuves qui servent a établir la vévité de Phistoire {Tratado dos dife- rentes tipos de provas que servem para estabelecera verdade! rica] (1769), comparou o historiadora um juiz que verifica a cre- dibilidade das diversas testemunhas."* Hoje, essa analogia soa decididamente fora de moda. £ pro- vavel que muitos historiadores hodiernos reagiriam com certo embarago & palavra crucial do titulo do livro de Griffet: preuves, Provas. Mas algumas discussdes recentes mostram que a conexio entre provas, verdade e hist6ria, sublinhada por Griffet, nao pode ser descartada facilmente. 3.Jamencionei“Um Eid Pierre Vidal-Naquet para refutar a famigerada tese, proposta por Robert Faurisson e outros, segundo os quais os campos de exter- ann de papel’ oensaio escrito por emente num pequeno volume intitulado Les assas- ire [Os assassinos da memo dedicou a sua mae, ages, de ordem mais explicitamente teérica, ineadas por Vidal-Naquet numa carta a Luce Giard incluida num volume em meméria de Michel de Certeau langado faz uns anos. L'écriture de V'histoire (A escrita da hist6ria), publi- cado por Certeau em 1975, foi (escrevia Vidal-Naquet) um livro importante, que contribuiu para arranhar a orgulho: dos historiadores: “Desde entio tomamos consci inocéncia do fato de que o historiador escreve, prodiiz um espago e um tempo, embora estando cle préprio inserido num espago enum tempo’ Mas (con- tinuava Vidal-Naquet) nfo devemos nos desfazer da velha nogao de “realidade” no sentido, evocado por Ranke um século antes, claquilo “que propriamente aconteceu": ‘ive profunda consciéncia disso tudo no momento em 11 0.380 Fai nda dura. Non isson, que infelizmente: Faurisson €0 dade de tudo em quetoca:a dor,a morte,os instrumentosda morte, Michel de Certeau ficou profundamenteab: deli vicgio de: iscurso s camaras de gis, que tudo docomesse perverso ‘¢ me escreveu uma carta a esse respeito [..]- Eu tinha a con- 26 ‘que,na falta de melhor, continuareiachamar de realidade, Sem essa realidade, como se faz, irentre romance e historia?” Nos Estados Unidos, a pergunta sobre a diferenca entre r0- ‘mance ¢ hist6ria costuma provir ou pelo menos remeter a obra de Hayden White. As diferengas entre Hayden Whitee Michel de Cer- teaut,do ponto de vista da pritica historiografica,sio Sbvias,mas é impossivel negar que entre Metahistory (1973) ¢ L’éeriture de Phistoire (1975, que também inclui ensaios escritos alguns anos antes) exista uma certa convergéncia, Mas para entender plena- mente a contribuicto de Hayden White creio ser necessério esbo- gar rapidamente sua biografia intelectual 4.Em 1959, no ato de apresentar ao piblico culto americano atradugio de um livro escrito por um dos mais fis seguidores de Croce — Dallo storicismo alta soctologia {Da historia para a socio- logia], de Carlo Antoni —, Hayden White falou do ensaio juvenil de Croce “La storia ridotta sotto il concetto generale dell’arte” [A hist6ria reduzida ao conceito geral de arte], definindo-o como uma contri * A importancia desse ensaio, publicado por Croce em 1893, aos 27 anos, jé havia sido frisada pelo proprio Groce, na sua autobiografia intelectual (Contributo por R. G. Collingwood (The Idea of History ® Como era previsivel, ocapitulo de Metahis- tory dedicado a Croce inclui um exame detalhado de “La storia ridotta sotto in concetto generale dell’arte”:" Mas a dezesseis anos de distancia, White havia assumido uma atitude muito mais morna, Declarava ainda compartilhar algumas afirmagées cru- ciais do ensaio de Croce, como a nitida distingao entre a pesquisa hist6rica, considerada uma atividade puramente propedéutica,ea 27 historia propriamente dita, identificada com a narragdo histérica, Mascon assim: do verna“revolUugak troduzida por Crocenasensibilidade nverdadeiro passoa ds,dado que entre seusefeitosestava a historiografia da tentativg — que vinha emergindo na sociologia durante aqueles mesmosanos— de construir uma iéncia geral da sociedad. Mais grave ainda foram as suas conseqdéncias no sua concepeao daartecome reprecentagio literal da realidade isolou defato ohistoriador, como ai tist,dospro- bolistase .6s-impressionistas haviam alcaneado em quase toda a Europa na representacio dos dversos ni {gressos mais recentes, e cada vez mais importantes, que si de consciéncia.* Nesse trecho ja aparecem alguns elementos da obra sucessiva ‘de Hayden White. partir de Metahistoryele se nteressou cada vez ‘menos pela construgio de uma “ciéncia geral da sociedade” ecada vezmais pelo “lado artistico da atividade historiografica” Esse des- locamento de énfase nao esté muito distante da longa batalha anti- Positivista de Croce, que inspirow, entre outras coisas, também a sua atitude desdenhosa em relagio as ciéncias sociais. Mas em Metahistorya influéncia decisiva que Croce havia exercido nas pri- meiras fases do desenvol ento intelectual de White sstava supe- rada, Sem diivida o crédito de Croce continuava alto. Ele era defi- nido como “o historiadormaisbem-dotado de todos o* filésofosda historia deste século” e, na tiltima péigina do livro, era calorosa- mente elogiado por sua presumida atitude “irénica’.* Mas a ava- iagio global recordada acima atestava a existéncia de um si cative desacordo com a perspectiva tedrica de Croce. ag principal motivo da insatisfagao manifestada por White em relagao ao pensamento de Croce versava, como se viu, sobre o seu “coneeito da arte como representacio literal da realidade”: em outras palavras, sobre a sua atitude “realista’.” Esse termo, que esse contexto possui um significado cognitivo,e nfio meramente estético,tem, referindo-sea um fil6sofo neo-idealista como Croce, um tom levemente paradoxal. Mas idealismo de Croce era muito especial: 0 termo “positivismo critico”, proposto por um dos criti- suclos da sua obra, parece mais apropriado." A fase mais nitidamente idealista do pensamento de Croce deve ser atribuida 8 forte influéncia exercida sobre ele por Giovanni Gentile,a quem esteve ligado por duas décadas de uma estreitissima associagao intelectual.” Num conhecido adendo & Logica come scienza del concetto puro [Légica como ciéncia do conceito puro) (1909), Croce tragou um panorama retrospective do seudesenvolvimento intelectual, desde “La storia ridotta sotto il concetto generale delVarte” a0 recente reconhecimento da identidade entre histéria ¢ filosofia,alcangado sob o impulso dos estudos de Giovanni Gen- tile (“meu carissimo amigo [...] a0 qual tanta ajuda ¢ tantos esti- mulos deve a minha vida mental”). Alguns anos depois, no entanto, as ambigiidades intrinsecas dessa identidade (como também, num plano mais geral, da suposta convergencia teérica entre Croce e Gentile) vieram a plena luz.” Croce, interpretando a filosofia como “metodologia da historia’, parecia dissolver a pri- meira na segunda. Gentile moveu-se na diregao oposta. “As idé sem fatos sio vazias”, escreveu num ensaio de 1936, “Il supera- mento del tempo nella storia” (A superasao do tempona hist6ria), “a filosofia que nao ¢ hist6ria é varia abstragio. Mas os fatos nada mais do quea vida do momento objetivo da autoconsciéncia, fora da qual nio hi pensamento real e construtivo",Portanto,a histéria [es gestae] ‘nio deve ser um pressuposto da historiogratia [histo- ria res gestarusn]”. Gentile repelia vigorosamente“a metafisica his- 219 ge pre ia. Conceito absurdo, como todos os conceitos das icas; mas prenhe da lores conseqti -mpre mais perigoso o inimigo que conseguiu penetrar em nossa cismo”, Gentile reagia a “Antistoricismo” [Anti-historicismo], um ‘io de tom polemicamente antifascista que Croce havia aca- do espirito como ato puro] (1918), umaobra que por sua vezcons- ria e storia dela storiografia {Teoria ehis- da historiografia] (1915) de Croce.” Mas, em 1924,a querela filosdfica entre os dois ex-amigosse havia transformado num rude antagonismo politico e pessoal: Essa aparente digressdo era necesséria para esclarecer os seguintes pontos: a) O desenvolvimento intelectual de Hayden White s6 pode ser entendido se se levarem em conta as relages que ele teve na lealismo italiano: proposto por White em Tropics of Discourse, coletanea de ensaios publicada em 1978, 0 rastro do pensamento de Croce era mais uma vez perceptivel. Em 1972, White escrevera que Croce juventudecomo neo b) No enfoque “iropolégic geral” (Go subs c quaseacaptara te tropologica i em geral. Oqueoimpediu de formular ess dela foi, muito pro- terpecta- ravelmente, a desconfianga “irénica” por ele nutrida em relagio a qualquer sistema no ambito d enfoque partia de Croce para tomar uma dire¢ao bem diferente. Quando lemos que “a trépica € 0 processo através do quer discurso constitu [0 grifo consta do texto} os obje- tos que pretende descrever de forma realista ¢ analisar de forma objetiva” (trata-se de uma passagem da introdugao a Tropicos do discurso, 1978"), reconhecemos a critica jé recordada ao “rea- lismo” de Croce. ©) Essa posicao subjetivista foi certamente fortalecida pelo encontro de White com a obra de Foucault, Mas ésignificativo que White tenha procurado “decoditficar” Foucault por meio de Giam- battista Vico, isto &, 0 suposto pai fundador do neo-idealismo ita- liano." De fato,a afirmagao de White sobre discurso que cria seus objetos parece ecoar — com uma diferenca substancial a que ace- narei adiante — a insisténcia de Croce sobre a expressio ¢ sobre a gitistica geral combinada com o subjetivismo radical de Gentile, segundo 0 qual a historiografia {historia re proprio objeto, ahistoria [res gestae].“Le itn fence linguistique”: essas palavras de Barthes, usadas por White como epigrafe da coletinea The Content of the Formt [O contetido da forma] (1987), poderiam ser atribuidas imagindria combina- Gao de Croce e Gentile que acabo de evocar. A leitura de Barthes, no inicio dos anos 80 (em Trépicos do discurso Bar- do”), também fortaleceu um esquema preexistente. gestarvm) ria seu mais qu'une exis- feita por thesmal eraci 5. Nessa reconstrucao hé um elemento discutivel: o papel atribuido a Gentile. Pelo quesei, Whi nea analisou seus escri tos, aliés, nunca o citou (com uma Gnica e importante exce¢ao, sobre a qual me deterei \qui a pouco). No entanto, a famil dade coma obra de Gentile pode ser tranqailamente pressuposta como White que, através de Antoni, havia sido ciado na tradigao filoséfica do neo-idealismo italiano. (Ao con- , um conhecimento direto da obra de Gentile deve ser mestudi excluido no caso deBarthes.A fungao decisiva que teve Barthes no desenvolvimento intelectual de Certeau pode explicar — ainda que s6 parcialmente —a convergéncia parcial entre este ultimo ¢ Hayden White.) Asintimas relagdes que Gentile teve como asc tragica morte, de certo modo obscureceram, pelo menos fora da Itilia,a primeira fase do seu percurso filoséfico. A adesio de Gen- tile ao idealismo de Hegel era o resultado de uma leitura original dos escritos juvenis de Marx (A filosofia de Mars, 1899"). Ao ana- lisaras Teses sobre Feuerbach, Gentile interpretow a préxis marxista através do célebre mote de Vico, verumt ipsum factum — melhor dizendo, através da interpretagdo que dela tinha sido dada pelo neo-idealismo. A préxis era considerada um conceito que impli- no, atéasua cava a identidade entre sujeito ¢ objeto, enquanto o Espirito (0 sujeito transcendental) cria a realidade." A afirmagao, feita por Gentile muito mais tarde sobre ahistoriografia que criaa historia, outra coisa nfoera que um corolirio desse principio. Essa apresen- taco de Marx nas vestes de um fildsofo substancialmente idealista exerceu um peso duradouro na vida politica e intelectual italiana, Claro, 0 uso da expressio “filosofia da praxis” nos Cadernos do cér- cere de Gramsci (onde seria de esperar “materialismo histérico”) era ditado antes de mais nada pelo propésito de contornar a cen- sura fascista. Mas Gramsci também fazia eco ao titulo clo segundo ‘ensaio de Gentile sobre Marx (A filosofia da praxis) assim como, ¢ mais significativamente, a insisténcia de Gentile na “praxis” como conceito que reduzia fortemente (até quase eliminar) a posicio decisiva do materialismo no pensamento de Marx. Outros ecos da interpretagao de Marx proposta por Gei no marxismo juvenile até no marxismo maduro de Gramsci." Sustentou-se que 0 conhecido trecho dos Cadernos do cércere em quea filosofia de Gentile era julgada mais proxima do futurismo do queade Croce imp! foram identificados Gramsciem 1921 considerado talvez o futurismo como um movi- mento revolucionario que havia sido capaz de responder a uma demanda de“novas formas de arte, de filosofia, de costume, deli ‘guagem”?° Uma contigaidade anéloga entre a filosofia de Gentile eo futurismo, vistosambos como exemplosnegativos de“anti-his- toricismo’, havia sido sug citamente, por sua vez, por Croce, numa perspectiva de antifascismo liberal-conservadora." Aluzde umaleitura de esquerda da obra de Gentile (ou, pelo menos, de parte desta), 0 sabor quase gentiliano perceptivel nos escritos de Hayden White a partir de The Burden of History [O onus da historia] —um manifesto por uma nova historiografia de enfo- que modernista, publicado em 1966 — parece menos paradoxal.” Pode-se compreender facilmente a ressondncia (assim como a intrinseca fraqueza) desse ataque as ortodoxias historiogréficas liberais ¢ marxistas. Entre o fim dos anos 60 ¢ 0 infcio dos anos 70, 0 subjetivismo — inclusive o subjetivismo extremo — tinha um sabor nitidamente radical. Numa situagdo em que desejo era uma palavra considerada de esquerda, realidade (nela inclufda a insis- téncia sobre os“fatos reais”) tinha um ar decididamente de direita. Essa perspectiva simplista, para nao dizer suicida, parece hoje amplamente superada, no sei pl Pe ido de que asatitudes que implicam uma fuga substancial da realidade nao sio mais privilégio exclusive de exiguas fragdes da esquerda, Deveria levar em conta disso tudo qualquer tentativadeexy icaro fascinio, verdadeiramente singular, quehojeenvolve, inclusive fora dos ambientes académicos,asideo- logias céticas. Nesse meio-tempo, Hayden White pronunciou-se 23 a ‘contraasrevolugdes, tantoas porcima, comoas porbaixo.."*Essa afirmagao, como se lé numa nota de rodapé, nasce do fato de que “muitos teéricos considera queo rel mo que convida a um ati- vismo revolucionério deum tipo particularment sponsivel.A rancia social, endo a licenga de fazer‘o que se bem quer Ceticismo, telativismo, toleran a primeira vista,a distan- a entreessaauto-apresentago do pensamento de White ea pers- pectiva te6rica de Gentile nfo poderia ser maior. A polémica de Gentile contra os historiadores positivistas nao tinha implicagoes céticas, enquanto a sua posigao filos6fica implicava um Espirito transcendental, e nao uma multiplicidade de sujeitos emptricos. Gentile nunca foi um relativista. Ao contrétio, ele a igioso, intransigente, tanto em aml ntou um filoséfico ito politico.” E, naturalmente, nunca teorizou a tolerancia, como atesta 0 apoio que deu ao fascismo, irclusive em seus aspectos mais violentos, como 0 “esquadrismo”.*” A famige- rada definigao do portete como “forga moral” comparével i prega- 40 — afirmagio feita por Gentile no decorrer de um comicio durante a campanha eleitoral de 1924" — era em tude ¢ por tudo coerente com a sua teoria rigorosamente mon dade criada pelo Espirito nao hi sao entre fatos e valores, Nao se trata de divergéncias tedricas marginais. Quem quer que sustente a existéncia de uma contigiiidade te6rica entrea pers- pectiva de Gentile ea de White develevar em conta essas diversida- des. Devemos nos perguntar, portanto, em que sentido White, em seu ensaio “The Politics of Historical Interpretati ica: numa reali- 1gar para uma verdadeira distin- *Bsqu: 150 de andos armados (square) contra os opositores. [N.T.] 214 da interpretagao hist6rica), péde afirmar que a sua concepgao da hist6ria tem pontos de contato com aque € associada convencio- nalmente as ideologias dos regimes fascistas’, esses regimes de que consi- ele repele os “comportamentos no plano politico e social derando-os “inegavelmente horrendos” 6.Essa contradicdo, percebida com tanta clareza, leva-nosao 10 no enfoque de White, “Devemos evitar’, dilema moral imp! afirma ele, “os sentimentalismos que nos levariam a rechagar uma ‘concep da hist6ria simplesmente porque foi associada as ideo- logias fascistas. Devemos encararo fato de que na documentacao historica nao encontramos nenhum elemento que nos induza a construir seu significado num sentido em vez de num outro. Nenhum elemento? De fato, ao discutir a interpretagio do exter- minio dos judeus fornecida por Faurisson, White nao hesita em propor um critério com base no qual se possa julgar a validade de interpretacées histéricas em conflito, Percorramos a sua argu- mentagio. Aafirmagio de White ora citada pressupée 1) adisting&o (ou, melhor dizendo,adisjungio) proposta por Croce em seu primeiro ensaio tedrico, “La storia ridotta sotto il concetto generale dell'arte’ entre “pesquisa hist6rica positiva” e “hist6ria propria- mente dita’, ou seja, narracao histérica; 2) uma interpretagio cética dessa distingao, que converge sob muitos aspectos com 0 subjetivismo transcendental de Gentile. Ambos os elementos podem ser identificados na reacao de White refutacdo, fornecida por Vidal-Naquet “no terreno da hist6ria positiva’, das“mentiras de Faurisson sobre o exterminio dos judeus. A pretensio de Fau- risson, diz. Whi concertante”, Mas a nogio de “mentira”, por implicar conceitos como “realidade” e“provas”, deixa White num embaraco evidente. ‘moralmente ofensiva e intelectualmente des 235 Prova-o este trecho singularmente equivocado: A dis ingao entre uma mentira ou um erro e uma interpretagao errénea pode ser il de rastrear quando lidamos com acontecimentos his- t6ricos menos amplamente documentados do Holocausto”. Na verdade, também neste tiltimo caso, White nio consegueaceitaras conclusdes de Vidal-Naquet. White susfenta que hé uma grande diferenga “entre uma interpretao que ‘transformaria profunda- mente a realidade do massacre’ e uma interpretacao que nao teria alcangado um resultado do género. A interpretagao israelense deixa intactaa‘realidade’ do acontecimento, enquanto a interpre- tagZo revisionista 0 desrealiza, redescrevendo-o de tal modo que faz deleumacoisa diferente daquilo queas vitimassabemdo Holo- ‘causto’™ A interpretagao histérica do Holocausto fornecida pelos sionistas, diz White, nao é uma contre-vérité (como haviasugerido ‘Vidal-Naquet), mas uma verdade:“Sua verdade, come interpreta- istérica, consiste precisamente na sua effcdcia em justificar fo uma ampla gama dos atuais comportamentos politicos de Israel, que, do ponto de vista dos que os formulam, sao essenciais nao apenas para a seguranga, como para a propria existéncia do povo judeu”. De modo andlogo, “os esforcos do povo palestino em dar vida a uma resposta politicamente eficaza politica de Israel geram la de uma interpretagao da uma ideologia também effcaz, prov prépria historia dotada de um significado até hoje ausente”* Po- demos concluir que, sea narragao de Faurisson se tornasse eficaz, White nao hesitaria em consideré-la verdadeira. ‘Umia conchusio do género é 0 resultado de uma atitude tole- rante? Como se viu, White sustenta que ceticismo ¢ relativismo podem proporcionar as bases epistemolégicas ¢ mo ais da tole- rancia.” Mas essa pretensao ista hist6rico como do lgico. Do ponto devi atolerancia foi teorizada por individuos que insustentavel, tanto do ponto de ist6rico, porque nham fortes convic- {es intelectuais e morais (o mote de Voltaire “Lutarei para defen- 226 der a liberdade de expresso daqueles com quem estou em desa- cordo” pico). Do ponto de vista l6gico, porque o ceticismo absoluto entraria em contradigio consigo mesmo se nao fosse estendido também, tolerancia como principio regulador. Naosé: quando as divergencias intelectuais e morais nao esta ligadas em Ultima anélise & verdade, nao hi nada a tolerar.®* De fato, a argu- mentago de White que liga a verdadea eficicia chama inevitave mente no a tolerincia, mas 0 seu opasto — o juszo de Gentile sobre o porrete como forga moral, No mesmo ensaio, como se viu, White convida a considerar sem “sentimentalismo” o nexo entre tuma concepgio da histéria por ele implicitamente elogiada eas, “ideologias dos regimes fascistas”, Ele define essa atitude como ‘onvencional’: Mas a mengio do nome de Gentile (junto ao de Heidegger) nesse contexto nao parece em absoluto convencional.” 7.A partir dosanos60,asatitudescéticas de queestou falando tornaram-se cada vez mais influentes nas ciéncias humanas. Essa ampla difusio s6 em parte pode ser atribuida a uma suposta novi- dade. Somente um intento laudatério pode ter sugerido a Pierre Vidal-Naquet que “desde entao [desde publicacio de L’écriturede histoire, de Michel de Certeau, em 1975] tomamos consciénciado fato de que 0 historiador escreve, produz um espago ¢ um tempo, embora estando ele proprio inserido num espago e num tempo’ Como Vidal-Naquet sabe muito bem, a mesma posigao (que as vezes levou a conclusdes céticas) foi fortemente frisada, por exem- plo, num ensaio metodolégico nada audacioso, como O que éhis- ‘ria? (1961) de B, H. Carr —assim como, muito tempo antes, por Benedetto Croce. Considerando esses problemas numa perspectiva histérica, poderfamos apreencler melhor as suas implicagées te6ricas. Pro- porei partirmos de um breve ensaio escrito por Renato Serra em 227 1912, mas publicado apenas em 1927, depois da sua morte prema- (1915). O titulo — Partenza diun gruppo di soldat’ perla Libia por uma grande multidao.” Nesse ponto aparece uma série de observagoes. \s de uma reflexiio sobre a his- t6ria e sobre a narragdo hist6rica que desemboca de forma ‘usca num trecho detom solenemente metal chianos. Ess o,repleto de ecosnietzs- jo inacabado, que mereceria uma anilise ma longa ¢ aprofundada, reflete a complexa personalicade de um homem que, além de ser 0 melhor critico italiano da sua geraco, eraum eruditocom fortes interesses filos6ficos. Na sua correspon déncia com Croce (a quem era ligado por relages pesioais muito préximas, embora nao sendo um seguidor seu), explicou a génese das piginas de que estou falando.” Elas haviam sido estimuladas por “Storia, cronaca e false storie” [Hist6ria, crOnica efalsa histé- ria) (1912), um ensaio de Croce depois revisto e inclufdo em Teo- ria e storia della storiografia. Croce havia mencionado a distincia, thada por Tolst6i em lerna e paz, entre um acontecimento real — uma batalha, por exemplo— eas lembrangas fragmenté- riase distorcidas deste, que servem de base para os relatos dos his- toriadores. O ponto de vista de Tolstéi é conhecido: a distancia s6 pode ser preenchida recolhendo as memérias de todos os indivi. duos (atéo mais humilde soldado) diteta ou indiretamente envol vidos na batalha; Croce rejeita essa solugao, eo ceticisn:o quea seu ver ela encerravi |, como sendo absurda: “Nés, a todo instante, conhecemos todaa histéria que nos importa conhecer”; portanto, que nao conhecemos ¢ idéntica ao ‘coisirem si” Serra,ao sedefinir iron ‘eterno funtasma da ‘amente como“um escravo exprimiralgo diferente de si mest Ohomem que age € um fato. ] Todo depoimento da testemunho ape- igem,do.seu fim, ede que conta ¢ outro fato de si mesmo, do seu moment nada mais." ‘Nao eram reflexdes de um tedrico puro. Serra sabia o que era a erudigao. Nassuascriticas cortantes ndo contrapunha attificiosa~ ‘mente as narragoes hist6ricas aos materiais com que sdo construf- das, Serra sabia muito bem que qualquer documento, a despeito de seu cariter mais ou menos direto, sempre guarda uma relagio altamente problemética com a realidade, Mas a realidade ("a coisa emi”) existe." Serra repelia explicitamente qualquer perspectiva posit ingenua. Mas as suas observagdes nos ajudam a repelir também a em que se somam positivismo (ou seja, uma a um ponto de “pesquisa historica positiva” baseada na decifragio literal dos documentos) ¢ relativismo (ou seja,“narragbes histéricas” basea- das em interpretagdes simbélicas, incotejaveis e irrefutveis). As narragdes baseadas numa s6 testemunha discutidas na primeira parte deste ensaio podem ser consideradas casos experimentais, istingao tao nitida: uma leitura nfl a narragdo. Uma relagao andloga, embora em geral menos evi- dente, também pode ser conjecturada num plano mais amplo. aque refutam a existéncia de uma diferente da documentagao disponiv iatamentesobre 229 Portanto uma histor tude totalmente cética em relacao 4s narragdes 'sndo tem fundamento. 8. Sobre Auschwitz, Jean-Francois Lyotard escreveu: apenas vidas, imévei tos para medir,c ireta o , sugere a mente dos entesaidéia de uma imensa forga sismica.(... ComAusch- itz, adveio algo de novo na hist6ria (o que pode ser apenas um € NAO um fato), a saber: que os fatos, os testemunhos que conservam os rastros do aqui e do agora, os documentos que indi- cam o sentido ou os sentidos dos fatos e dos nomes, ¢ enfim a pos- sibilidade de viriostipos de frases cuja relagdo constroia realidade, tudo isso foi tanto quanto possivel destrufdo. Nao caberé porven- tura ao historiador levar em conta, além dos danos, os maleficios cometidos? Além da realidade, a metarrealidade, ou seja a destrui- ‘lo da realidade?[..] Seunnome (0 de Auschwitz] assinalaos limites emqueoconhecimento’ térico vé posta em discussdo sua propria competéncia. Nido estou de todo certo de que esta iltima observacaio seja verdadeira, A meméria ¢ a destruigo da meméria séc elementos ecorrentes na histéria. “A necessidade de contar para ‘os oul! de fazer‘os outros’ participarem’, escreveu Primo Levi, “hav: adquirido entre nés, antes da libertago e depois, o cardter de um impulso imediato e violento, a ponto de rivalizar com as outras necessidades elementares.”” Como mostrou Benveniste, uma das Palavras latinas que significam “testemunha”é superstes — sobre vivente.* 230 12. Detalhes, primeiros planos, microanalises — A margem de um livro de Siegfried Kracauer" 1. History: The Last Things before the Last ( mas coisas antes das tiltimas], o livro péstumo e inacabado de Siegfried Kracs em 1995, Para essa ocasiao, Paul Oskar Kristeller, que hi sentado a primeira edigao em 1969, escreveu um novo preficio. Nos 26 anos transcorridos entre as duas versbes do texto de Kri teller houve uma verdadeira Kracauer-Renaissance, atestada por reimpressdes, traducdes, ensaios de varios géneros em diversas linguas, Mas para o Kristeller de 1995, esse reconhecimento tar- dio estava contaminado pela tendéncia a eliminar da imagem de Kracauer tudo 0 que nao fosse redutivel a Escola de Frankfurt, Como exemplos dessa leitura distorcida, Kristeller citou os en- saios de Gertrud Koch e de Inka Miilder-Bach sobre History: The Last Things before the Last, publicados no fasciculo que a revista » foi publicado pela primeira vez em brochura iaapre- ho de 2003 igresso 231 Etat retors op. cit. px! ng, Storia notturna. Una decifazione del sabia, Tarim, 1989, Pp.AAv1,23-4. 11, UNUS TESTIS — 0 EXTERMINIO DOS FUDEUS FO PRINCIPIO DE REALIDADE [pp. 210-30] Les Jui de Provence pendant a Peste Noire’ in Revue 974, pp. 437-80, especialmente pp. 469-72 2.Cf. Storia noturna, Tarim, 1989, pp. 5-35. 3.CE Bouquet, Recueil des historiens des Gaules ex dela France vol. x pp. 629-30. pe, Laguerra gh Flavius Joséphe ct Masad 981, pp. 43ss,,queanalisa comagudeza os paralelismosentre os dois, twechos (para.atradugto italiana desseensaio, que no faz parte da coletinea GI viae il presenzeRomna, 1985, ver Pierre Vidal-Naquet trad, t.D. Ambrosio, Roma, 1980, pp. 161-83). 6.CL. G.N_ Deutsch, Iconographieset illustration de Flavius Josepheautempsde lectures de table 'abbaye de Saint-Denis lain du 42,1930, pp. 163-75. Wi secouventet Ja ibliothéque de Clony verse milieu du x sitcle’ in Reva 1pp.89-124, especialmente pp.93€ 113, da, La bbliothdgue de abbaye de Saint-Denis Paris, 1985, 2 propésite de uma requisigio cenvinda por Reichenau a Saint-Denis para obter uma c6pia das Anviquitates Judaicaede Flavio Josefa (p. 61; cf-tambén, ibid. p. 194), 9.B.N. Lat. 1251s, 11, Uma tradusio inglesa deste timo ensaioaparecewem Democraey,abr. 1981, pp.67-95:"A Paper Eichmann?" (note-se 0 ponto de interrogagio, ausente I francés; para atraducio italia in Bichmann di car pp. 19588). 12, Menos convincente me parecea propostade M: por P.Vidal-Naquet (Les if, op. cit p. 59, nota48;tra 1.173, nota 50), segundo a qual no primeiro caso o parlelismo deveria ser feito coma mulher que denunciou Flavio Josefoe seus companheiros, 13. CE-H, Van Vliet, “No Single Testimony” (Studia Theologica Rheno- ‘Traiectna,1¥), Uttecht, 1958.4 vantagem de dispor de mais de uma testemuunha Gressaltada de um ponto de vista mais geral (usta, l6gico) porP.Vidal-Naquet, 15.Cf,por exemplo,A. Libois,“A propos des modes de preuve et plusspé= cialement dela preuve par témoins dans la Hommage au Profsseur Paul Bonenfant (1899-1965), Bruxelas, 1965,pp. 932-46, especialmente pp. 539-42, 16.Sobreesseargumento,verasalusbes, idasembora, p.Peeters,"Les in dela Classe des Lettres. ol. XX, 1946, p. 8285. (Pp. 95-64 propésito historia tia conjunctione, polegomenon libri Il, citado por D.R. Kelley, Foundations of Modern Historical Scholarship, Nova York-Londres, 1970,p. 116(mastodo oivro importante) 18, Consultei a segunda edi (Lidge, 1770). A importincia desse breve tratado éagudamente ressltada por A. Johnson, The Historian and Historieal dence, 1926, Nova York, 1034, p. 114, queo define como “the most significa book on method after Mabillon’s De re diplomatic’ Ck A. Momigliano, "Sto Giard (org), Pars, 1987, pp.71-2.Com acarta de ‘Vidal-Naguet ficamos sabencdlo que na origer dessa correspondéncia estava a pparticipagio dos dois correspondentes na discussio piblica da tese de Frangois Hartog,posteriormente publicada como titulo Le mirird 'Héredote, aris, 1980, Sobre algumasimplicagies desselivro,ver"Appendice. Prove e possbilita” 21. Aspiginas que seguem siobascadasnosescritospublicadospor Hayden 407 i i me stesso, Bari 1926, pp. 32-3,R. Oxford, 1956, pp. 91s story. The Historical Imag 1ore,1973,pp.281 foparao’ Bari, 1927, pp. 3-48 26.1bid.,p.3786434. 27. Ibid. p. 407. 28. E.Colorni, estetica di Benedetto Croce i, 1981) so, derse ponta 30.CLB.Croce, Logica come scenza del concerto puro, Bari 1971, pp. 193-5, CftambémG. Gen porele, pp. 409s, 31. Desenvolvo a (“Cattaneo mas profundas observagaes de Piero Gobetti Scrit storici,leterarieflosfii, Tarim, 1969, p. 199; publiendo ori 922). 32. Cf.G. Gentile, “Il superamento del tempo nella storia’ in Memorie ita 1ee problemi dela flosofia e dela v oma, 1936, pp. 314 € 308, Trinta anos cending of Time in History” Histo resented to Eenst Cassirer, Oxford, 1936, p95: 0 pre 36). las foram acrescentadas prova- is da publicagio do ensaio de Crace “Antistoricismo” (teat nnferéncia prosunciada em Oxford em 1930, mas publicada somen sua conferéncia provas p. cit, p.752.€ 769), Para pa Accademia dei Lincei corrigidas no dia 2 de abri ‘a reagio de Croce aos ens ria come pensieroe come az na tradugdo inglesa, History as ‘uma alusto polémicaa Gent também no mesmo volumeas piginassobre“La storiografiacomeliberazione dal (La storia, op. cit. pp. 30-2): "Somos um produto do passado e vvivemos imersos no passado, quea nosso recor nos comprime..” Gentile, cujo idealismo era muito mais radical ¢ cocrente, havia afirmado que o passado {assim como o tempo) s30 noses puramente abstratas, superadas na vida al concreta (“Il superamen .pp.3085.).Aimportincia de" foi salientada por C. Garbol tori a reagio de Whi especficamente americano, Mas 0 pragmtico (mediado por Gio- na obra de Croce, principalmen 1972-3), in Tropics of Dis- course, Baltimore, 1978, p.75. 37. Ibid, p.2 409 40.6. Gentil Diss, 1899, pp. 51-15: Gr Ss Giovani Gentil losofo europeo, Tarim, 1989, pp. 94 5s. a propésito de A. Gramsci Quasderm del carcere,V. Gerra- tana (org), volt, Tusim, 1975,p.2038. Para juizo de Gramsci sobre ofuturismo, ef Socialism fscisma, LOr superamento” op. cit, p.314:"A pbesidéias,como ais, privadas de qualquer consist 1a ignoraneia de que os fatos recebem do pensamer to quando viver corpulentos diante da intuigdo histories’ 49. CF.,por exemplo, G. Ge in Che cosa fascisma. Discorsiepolemiche,Florenca, 1924 (naverdade, 1925), pp. 143-51, '50.Ct., por exemplo,a parte intitulada “La violenza fascist’ in Che cosa eit {fascia (conferéncia pronunciada em Florenca,em 8 mar. 1925),ibid.,pp. 29-22. 51."Estadoeindividuo [..] slo uma s coisa;e arte degovernar éaartede conciiar ¢igualac os dois termos, de mado que maximo de liberdade se conei- liecomo maximonioapenasdeordem publica puramenteexterion mastambém ce sobretuda de soberania consentida pea ei ede seus 6rgtos necessrios, Porque ‘omsximo deliberdade sempre coincide com 0 miximo da forga do Estado. Que orca? As dstingdes nesse campo sio caras aos que no se conformam a esse con- ceito da forsa, queno entanto é essencial o Estado ¢,conseqlienteme we, liber- suem a forga moral da material: a forga da l ea forga da violéncia que se opde rigidamente A vontade do cidadio, Dis- fo argumento adotado — da pregasio 20 io pode ser outrasendo a que conclama inter ormenteo hhomem eo persuade a consentir. Qual deve se anatureza desse arguine! 410 '50-1).0 discurso, pronunciado em Palermo em 31 mar. 1924, aparece primeiro 198 como La Nuova Politica Liberal (u,2 abr. 1924). Ao republicS-lo um ise Matteottic taembaragada earrogar explicava quea forga paraa qual preten- deca reconhecer um significado moral era uma so, do Estado, de que porrete fascistas havia sido o sucedineo necessirio numa situagi0 “Forzaeconsenso’, vol. x0, Florengay cf, por exemplo, B.Mussol ia, E.e D. Susmel [org. in Gerarchia (1923) (in Opera 1956, pp. 195-6). 52, orm, op. cit, pp-74-. 53. Ibid, p.77. Note-se quefaltao grifo no testo francts 54. bid, p.80. Grifos meus, 55. bid.,p.227,nota 12. 56, Agradego a Stefano Levi Della Torre por algumas observasoes esclare- cedoras sobre este ultimo ponto. 37.C{.H. White, The Content of Form, op. cit, p. 74 '58.CER Serra, Seritletterari, morale poitci M. Isnenghi (org.Turimn, 1974, pp. 278-88. O enstio de Serra ji hava sido interpretado de mancira pare- «ida por C. Garboli,Falbalas Mi 159, Ver, por exemplo (mas no exclusivamente), 0 conlsecido Triptico (Os que partemetc., que seencontra no Meteopolitan Museum de Nova York, 60. CE. R. Serta, Epistoloro, L. Ambrosi A. Grilli (org), Flosenga, 1953, pp. 4545s. {61.C£.B. Croce, Teoria e storia della storiografia, Bari, 1927,pp.44-5. 62. CER, Serra, Epistolaro, pct. 63.CER Serra, Seritletterariop. cit, p. 285. (64, Tbid.,p.287. ofthe torical Emplotment’in Probing, op. Lyotaed, Le Diférend, a Se questo un womay Benveniste, H yocabol Tarim, 1976, vol. pp. 492-5 (adiferenga entre testise superstesé anali= sada nap. 495). an

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