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sérgio paulo ribeiro de freitas teoria da harmonia na musica popular uma definigdo das relagdes de combinacao entre os acordes na harmonia tonal Universidade uo Estado de Santa Catarina - UDESC Centro de Artes ~ CEART DEPARTAMENTO DE MUSICA Laboratorio de Ensino da Area de Fundamentos da Linguagem Musical Florianopolis, fevereiro de 2002 teoria da harmonia na musica popular uma definicao das relacdes de combinac3o entre os acordes na harmonia tonal Prefacio fem nossa escola como um texto que visa primeiramente — © de uma ‘determinada mancira bem especial — introduzir, em nossos cursos. esse tipo de conhccimento, Esse experimento de publicagao visa primeiramente subsidiar, enquanto texto de fundamentagao, uma capacitagao de nivel universitario de nosso licenciado © bacharcl, esse campo do oficio musical, Assim, se a abordagem dos fendmenos da harmonia em uso na misica popular contemporanea, tém aqui carater reflexive. investigatorio, historico, critico, estético. abrangc universal, tém tambem. por outro lado, claras intengdes de ser_mercadologica. ‘operacional, pritica, direcionada, sincrénica, instrumentalizante. contextualizada © local. Aqui. neste momento particular de sua formagio, importa muito que nosso ceducando domine essas habilidades de uma maneira concreta ¢ funcional. ¢ trate disto ‘como uma aquisigao de ferramentas de aproximacdo, de autoinsergao ¢ de construgio de sua cidadania social. cultural e profissional, atento ¢ eénscio daquele cntendimento ‘que a maioria das pessoas de nossa época e lugar tem do que € a musica, Na real, esse texto foi eserito precisamente com essa intengio: a de ser um programa de ensino aprendizagem da harmonia da misica popular para o estudante de misica de hivel universitério. Entio, & um texto para e da universidade, que aborda um Confecimento que se desenvolve fora dela. Essa presenga da universidade ¢ determinante, pois cinco instituigdes piblicas de ensino superior estdo presentes aqui ‘A Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. onde cursei a graduagao entre IOK1 a 1986 © encontrei ambiente © suporte académico para os primeiros anos investidos nesse trabalho. A Universidade Federal de Sio Carlos - UPSCar, que me permitiu a dedicagdo praticamente exclusiva 2 pesquisa c que me proporcionou a singular oportunidade de uma capacitagio docente nessa area do conhecimento entre 1992 ¢ 1995 ¢ onde mais tarde voltei a trabalhar, cntre 1998 a 2000. A Universidade Estadual Paulista - UNESP. entre 1993 ¢ 1995, onde obtive a qualificagio de mestre fem artes através da formalizaglo © sistematizagio deste conhecimento. Universidade Federal de Uberlindia - UFU. onde tive a grata oporunidade de lecionar entre 1996 ¢ 1998, E agora, até que enfim. depots de 20 anos dedicados a ‘essa materia, a Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. que oferece a nés — professores e alunos — a chance historiea de fazer uma coisa grande: estudar. ensinar, aprender ¢ fazer musica numa cadeia de relacdes sociais de faro festabelecida A oportunidade de sermos cidaddos cm uma coletividade ¢ de assumir ‘com essa coletividade, a sua existéncia sempre rica e problematica A UDESC tem a qualidade de possuir musicos alunos. isto realmente interessa: esse texto pode fazer sentido aqui agora stdo pessoas que precisam € aereditam na musica E sse volume ¢ uma publicagdo de minha dissertagio de mestrado. Aparece aqui Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas Laboratério de Ensno da Area de Findomentos a Lnguagem Musical Centro de tree | CEART ‘Gniveritace co estado de Santa Catarina - UDESC Flonandpols — fevers de 2002, unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, ‘Campus de Sao Paulo INSTITUTO DE ARTES. Programa de Pés-Graduagao em Artes Dissertagdo apresentada ao Programa de P6s-Graduacao em Artes da Universidade Estadual Paulista, ‘como parte dos requisitos para obtengao do titulo de Mestre em Artes, ‘rea de concentragao: Musica. Titulo Teoria da Harmonia na Musica Popular: uma definigao das relagdes de combinagaio entre os acordes na harmonia tonal P6s-Graduando: ‘Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas Orientadora’ Prof*. Dr?. Maria Helena Maestre Gios ‘S80 Paulo 2° semestre de 1995, Segunda Unidade: FUNGOES HARMONICAS Segunda Unidade-PungSes Harmonicas 20 2.FUNGOES HARMONICAS sistema harménico 6 baseado na combinag4o de unidades que, uma apés a outra, se sucedem linearmente. Essa ¢ uma condigSo primeira porque a Harmonia acontece no tempo e, no decorrer do tempo, como se sabe, no importa o que se faca, as coisas s8o sempre subseqUentes. Além dessa condig&o, por assim dizer, “naturalmente imposta", para a Harmonia © compromisso com a linearidade @ também uma premissa cultural e estética pois, fiel aquelas normas morais e éticas que nos ensinam que um termo nfo pode aparecer ao mesmo tempo que um outro, os enunciados harménicos excluem toda e qualquer possibilidade de duas de suas tunidades se manifestarem a0 mesmo tempo. ‘As unidades basicas do sistema harménico so chamadas de “Funcées Harménicas”. Essas unidades, ou FungSes, como pretendemos demonstrar ao longo deste texto, esto para a Harmonia como classes gramaticais, como tipos de categoria que se diferenciam segundo suas caracteristicas particulares de sonoridade e de suas capacidades de expresstio no desenrolar do fato harménico. Na definicSo, atribuig8o, sistematizag&o e entendimento das aplicagSes destas FungSes Harménicas, um eritério possivel, @ 0 de uma organizagio embasada na dualidade conceptual de “repouso/movimento". Ou seja, ¢ possivel uma normatizagao tipologica fundamentada nna relagdo manifesta entre um par de unidades distintas que, ao mesmo tempo, so opesitoras e complementares, Uma classificagao dicotdmica onde, os dois polos se correspondam e onde um no vale sendo pelo outro. AA distingao entre duas categorias funcionais fundamentais, situadas cada uma ‘0m um dos dois polos desta binariedade modelo, 6 uma possibilidade real e convidativa porque, tanto. fenomenologicamente quanto culturalmente, esse par “repouso/movimento" 6 entendido como uma relagdo que implica em transigbes de um termo a outro sempre de maneira seqUencial, linear e subseqlente e que, inevitavelmente, se manifesta ao longo de um decurso de tempo. Incitada pelo principio da simplicidade, a tarofa de se enquadrar as muitas espécies de sonoridades & capacidades harménicas em um destes dois pélos, 6 uma solugSo confortavel e que tém se mostrado totalmente capaz de nos auxiliar no estabelecimento das “Fungdes Harmonicas" e de nos oferecer critérios para seu uso. ‘Segunda Unidade: Fungées Harminicas a 241. as tes ol ‘A Teoria Funcional, para a qual "sé existem trés classes de fungées harmonicas", entende que para o polo conceptual “repouso” a fungtio harmonica correspondente ¢ a da “Ténica’ (T), termo de dominio que implica na auséncia do movimento". No outro extremo - em contradominio que implica no abandone de um estado de “repouso” - apés uma cuidadosa e histérica observagtio sobre as ccaracteristicas principais do "movimento", estabeleceu-se 2 subdivisto em dois sub- movimentos. Um primeiro, de “afastamento do repouso’, correspondente & fungio harménica de “Subdominante" (S) e um segundo, de “eproximagéio do repouso” correspondente a fung&o harménica de “Dominante” (0). ‘Quad 4 iusto demonsrativa ds relagdes de “dominio /contadominio” ‘A expressao dramética do discurso da Harmonia ¢ decorréncia do conflito entre ‘esses termos. A Harmonia ¢ um jogo de relag6es entre estas trés fungbes. Neste jogo, a convicgo de que as unidades individuals do sistema s6 tem significado em virtude de suas relagdes miitues, é priméria e principal. Partes de um todo notavelmente dinamico a fung6es harménicas so unidades que nao tem um papel substancial e aprioristico, @ sim um valor expressivo totalmente relacional e contextual. Para a concepeso funcional o que comanda a agao ¢ 0 “entre si" @ nao 0 “em si". O sentido harmonico se estabelece gragas a uma relag&o de diferencas comparadas onde, o significado de uma determinada classe funcional no & imanente, mas sim, resultante da oposi¢ao desta IRIEMANN, H. Bajo Cifrado. Barcelona: Ed, Labor, 1927. p. 29, 20s termos “afastaments" © “aproximagio so aqui utlizados segundo 0 proposto por KOELLREUTTER, HJ. Harmonia Funcional "Sao Paulo: Ricordi Brasileira, 1980. .13 Segunds Unidade: Punjies Haménics 2 classe as qualidades caracteristicas daquelas outras. Funcionalmente, o que quer que Percebamos, sé 0 fazemos gragas acs nivels de contraste © das diferengas estabelecidas. Essas trés fungSes harmonicas se combinam e se compensam mutuamente, cada qual com seu conjunto caractertstico de sonoridades possiveis, desenvolve aquele papel conveniente e necessério, © por tanto também belo?, no decorrer do acontecimento musical. As relagées entre essas fungSes se manifestam sempre em sucessées de ‘componentes que se encadeiam conseqdentemente. So relagSes que se fundamentam fem processos narratives de causalefeito; de preparaplolresoluglio; de tensdo/relaxamento € de tantos outros possiveis pares de conceitos onde os termos mutuamente se implicam e onde, cada funcdo particular possua qualidades proprias, caracteristicas e nitidamente distintas da outra, antecedente ou subseqUente, func8o ‘positora complementar Entondendo as fungSes de Subdominante e de Dominante como subdivisées internas da categoria "movimento", propomes a seguir um quadro comparative que pretende resumir as conceppSes meta-musicais mais comuns que se tém das fungSes harménicas. Stio conceites estétices, adjetives, afetes, qualidades, elogios, idéias © descrigSes que sintetizam uma colegao de significads atribuldes a trama funcional 20 longo destes anes de historia harmonica, @ que podem nos ajudar a lidar com essas tes fungbes. ‘Quadro 5: iusto conceinl meta-vocabulr das relagdesfancinais ‘posigao as qualidades de |" oposigSo as qualidades de |" auséncia de novas: “Teas qualidades de D Teas qualidades de S qualidades inci atvidade = fnalza atvidade = inatvidads desigualdace instabildade descrtva ‘mnceneza > Essa correlagio entre “conveniéncia” e “beleza” funda-se no pensamento Socritice, segunda o qual “6 belo 0 conveniente” SOCRATES apud ZAMACO'S, J. Temas de Estédca y de Historia de la Musica Barcelona: Labor, 1975. p. 5 z = = eneonte : = limite = certeza: * efeto: quando resulta de T |. causa que induz 20 eeito T + eteto: quando cona asa quando anecede 1 Causa Quando comeca conseauerte 7 aniecoderts + eonseauente ‘quando worn dT quando conc antecedente anc vt para D arguments = pergunta antecede a preparagio |. prepare papel omamental ST elements —Sponal seterminante principal recurso de + pinepal mew de ‘ornedade do sistema Dreparacto do sistema 2 [neds now regides |. iodur tenses diatones ampiado romeo + aparcio eiatwamente |. apando elaivamente menor que a api menor ue a apargio do T slumenta nivel de [ato nvel de expecta bab ou nenhur nivel de __expectatva expectawa 7 favoreca o aumento dos | complexe > emples nivee de compleace 2.28 lis Progressées Harménicas Basicas Como vimos, as fungSes s8o as unidades distintas do sistema harménico, so ‘emitidas sucessivamente, ndo so concomitantes e nao s&o simuttaneas; s8o ‘seqilenciais e, por isso, sé podemos escutar uma fungdo de cada vez, linearmente. Essas sucess6es lineares de unidades harménicas so denominadas aqui de “Progressbes Harménicas"'. As mais concisas das relagdes lineares entre as fungées de Tonica, Subdominante e Dominante so chamadas de “Progress6es Harmonicas Bésicas”. So tipos primarios de combinag&o entre as trés classes funcionais que atuam ‘como modelos sintiticos que alimentam todo o sistema harménico. As muitas possibilidades de seq0éncias de acordes so derivadas das ts seguintes +0 conceto de “Progressdes Harménicas” term aqui sentido andlogo 20 de “processo cadencial”, cu soja, de “condupio de ume sucesso de acordes", proposto por ZAMACOIS, J. Tratado de Harmonia, op .cit_1* volume p. 128. Outro reterencial teénico para © emprago do term "Progressoes Harmonicas” 6 ‘© conceito de "Decurso Tone!" definido como uma "seqdéncia de funcSes dispostes no espago tonal... (04 de “rajetéria tonal” proposto por SCHURMANN, E F A Musica como Linguagem So Paulo Brasiiense, 1980. p. 138 Segunda Unidad: Pungdes Hasménicas 24 iia 2) A progressao T'S D T, sugere um plano retérico discursive do tipo “repouso - movimento ( = afastamento do repouso + aproximagéo do ‘repouse) - repouso™, & um giro completo potas trés fung6es © compara-se ‘a um episédio dramatico com comego meio e fim. b) Em TD T a fungao de “movimento” fica somente & cargo da Dominante. ) Em T'S T, esse efeito contrastivo ¢ atribuido a Subdominante. Cada um desses tr6s tipos de combinagio das fungSes harmonicas trabalha como uma unidade autdnoma, e por mais sintético que seja, qualquer um deles é capaz de fazer sentido sozinho dentro do sistema. Esses trés formatos de progress8o s8o as ‘mais simples relagdes harmonicas existentes na tonalidade, s8o os resumos minimos do sistema, s8o aquelas menores articulagdes funcionais capazes de estabelecer a tonalidade. Através da sequencia, combinagao, repetigao e variagao destas pequenas tunidades 6 que seog5es formais mais longas (as frases, sentenas, perfodos, temas, introdugBes, codas, movimentos, etc...) se estabelecem. E 0 conceito de “Progresso” que nos permite entender uma obra musical como uma grande sucesso linear composta por varias pequenas unidades de sucesso linear. A capacidade que esse nUmero tio reduzido _de apenas és “Progressdes Harménicas Bésicas "_ tem de sgerar um tio variado e distinto universo de manifestagSes musicais se deve aos fatores a seguir comentados, 2.2.1. a diferenga especifica entre os termos “Tung&o" “acorde” E preciso notar claramente que, para o presente sistema expositivo, o fermo “‘tunclo" nfo se confunde com 0 fermo "acorde". No so termos sinénimos, nfo se equivalem e sob todos os aspectos sto coisas muito diferentes. A fungie esta para o sistema harménico como uma categoria que congrega aqueles acordes que por suas caracteristicas constitutivas e expressivas se filiam a esta ou aquela determinada classe funcional. © acorde & uma manifestago de uma classe funcional, 6 apenas uma 5 Analogo ao concsito de "Sintagmat em SAUSSURE, F. Curso de ingGlstica geral So Paulo: Cultroe 1 USP, 1988. p.142. As relacdes sintagmaticas basciam-se no cardter linear do signo lingUistico, na “que excli a possiblidade de (se) pronunciar dois elementos 20 mesmo tempo" lingua ¢ formada de elementos que se sucedem um aps outro linearmente, isto é, na “na cadeia da fala" Essa relag3o linear e sequencial, Saussure chama de 'sintagma" Segunda Unidade: anges Harménicas 2s escalaglo dentre algumas das possibilidades existentes nesta espécie de banco de reserva harmonico que é a fungao.* Neste sentido, entendemos aqui que, os termos T, $ @ D nfo so apenas ‘simbolos graficos equivalentes aos I, IV @ V graus. N&o podem também ser entendides apenas como uma outra maneira de se grafar os acordes de C, F, e G em Dé Maior. Nao ‘so apenas nomes novos para os bons e velhos algarismos romanos e n&o significam a mesma coisa que uma letra de cifra de acordes. Os signos T, Se D representa trés classes funcionais onde o I grau é apenas 0 mais importante representante da classe Paradigmatica de T; 0 IV um representante da classe da $ ©, 0 V, uma das possibilidades de D. ‘As fungSes sto trés classes gramaticais distintas, cada uma retine em torno de si aquele conjunto de graus, ou aquele grupo de acordes que, por suas caracteristicas estruturais, qualidades funcionals © convengdes estetico-cuturals, se filam a uma destas trés unicas classes’ Esse procedimento de atribuico de varios e distintos graus (= acordes) uma linia e determinada fungdo, ¢ uma possibilidade de equivaléncia ao nivel do sintatico © do necessariamente ao nivel do semantico®. Estes diferentes niveis de equivaléncia AA funglo é uma categoria abstrata, 0 acorde & uma escolha concieta. A func ¢ da ordem do “acontecimento’, 0 acorde & um tipa de “coisa” A funcao caracteriza- A idea de como a simplicidade deste entendimento @ eficente, pode ticar mais clare com o auxiio de uma analogia - apenas para fins de argumentacdo ilustratva - entre o sistema funcional harménico e © sistema predicatwo da linguagem A classe dos Verbos, por exempia, contam muitos verbos, NO fentanto, enquanto categoria sinttica, ndo se confunde com um verbo especiico, da mesma maneira {ue as classes funcionais T, $ e D no se confundem com l IV € V pois, alérm desses, poderdo estar representadas por outros graus Sujito Predicado s Dt “O mundo | €uma mentra™ —7 vit 2rd um sonho i a cai 60 pe mm [wri subu na cai 1 fo hr fomecera a sliglo vi po Tw Mara. . nmi) [oT — Aiet = wm bev fer 1 “este de eu en Frognro? 40u seja, se por um lado (a0 nivel do gramatical) 2 frase "O mundo @ uma mentir” ¢ idéntca & “Zezinno subiu na caixa", por outto (a0 nivel do sentido, 20 nivel do signficado das frases) os ‘Segunda Unidade- Fungées Harmonicas 26 entre os distintos acordes de uma mesma classe funcional so potencialidades primarias do sistema harménico, estao disponiveis ja no momento da concepgae de uma idéia musical e s4o escolhidos e atribuides na fase da composicao segundo eriterios estétices, estilstices, de ¢poca, de intengéo e de escolha pessoal 2.2.2. Meios de Preparacéo!” ‘Outros importantes recursos tecnicos que permitem um alto grau de elaboragao e uma grande margem de variag&o destas trés “Progressdes Harmonicas Bésicas", sto aqueles recursos de preparagdio, ligagdo e conexo que server de aproximagaio aos acordes principais'* Exemplo? demonstaso do so de "Metos de Preparapao” conectando as fangSesT, Se D 1 > s ~ D ot 8 c_ | a7 _| bm | o7 | cG | G7 jc _ F _ way? Viti) INT VI ta Wma? 2.2.3. transferéncia funcional des tipes de “Progresso Harmonica” ‘As “Progressées Harmonicas Basicas" atuam como padrées transferivels, ou como tipos moldaveis. Funcionam como modelos relacionais de combinagées de duas ‘ou mais classes funcionais que podem se manifestar sobre varios pontos do sistema, ‘Sto formatos estabelecidos, “clichés”, que possuem a capacidade de passar de um eixo cenurciados so ntamente diferentes, De modo similar, para a Harmonia, o VI graw pode ser atibuido {4 T tanto quanto um I grau. Essa equvaléncia ao rivel da classe funcional, no quer dizer no eatanto, ue 0 VI resultaré sempre no mesmo tipo de expresso estética que ol, e vicewersa, 7 ‘As técnicas de "Substituigdo" e de "Rearmonizagio" - termos que vez por outta 880 informalmente ublizados para designar estes processos de atibuicdo de diferentes graus as classes funcionais - & ‘igor so curas cosas, e devem ser precisamente entendidas. Subentendem uma id preexistente escolha de grau que agora sera “substitudo", ou uma harmonzacto em uso que agora sera “rearmonizada’. Séo idéias propicias © tpicas do arranjo, da reletua, da adaptacdo © da recriacdo, que podem aparecer também nas reexposigSes, recapitulagdes desenvolvimento © codas das Composicdes oniginais. Mas que demonstram também, a grande capacidade que uma unica fungao tem de se fazer representar por diferentes graus. 1 Os "Meios de Preparacdo” serio tratados em unidades especiicas. Aparecem aqui apenas. cenquanto argumentos que procuram demonstrar como um nimero tho reduzido de “ProgressSes Harmonicas Basicas" se transforma em infntas possiblidades de manifestagbes musicals, 31 Ainda em analogia, poderiamos dizer ent que, da mesma forma que em um verso do tipo "O meu hhoréi € um mogo prequigaso” (AZEVEDO, A in "Pooma do Frade” apud TAVARES, H. Teoria Mteraria Belo Horizonte. Ed Matiaia Lida, 1688. p. 66) a estrutura bisica de “sujeto/ predicado” pode aparecer recheada por classes gramaticals auxiiares, as "Progressées Harmonicas Basicas” também podem parecer ensiquecidas por recursos semelhantes, Esses procedimentos sao disponiveis # podem gerar inumeras interpoiagées, elaboragdes e varagbes sobre as cadéncias basicas, como nesse Exemplo 2, 40 tipo: O meu belo ¢ bondoso herd é um mace dengoso, alegre e preguigass Segunda Unidad: Fungdes Hanménicas i de referéncia para outro sem mudar suas relagSes internas, sem no entanto, chegar a estabelecer de fato uma outra tonalidade (= modulago). © Exemplo 3 demonstra esse Principio de transferéncia funcional do tipo de “Progresso Harmonica”: + em a) na tonalidade principal de D6 Maior, uma mesma articulagao cadencial se transfere do eixo de referéncia da T (compassos 1 2 4) para o eixo de referéncia da D (compassos 5 a 8). Na primeira metade a progressdo “T S D T” esta em fungao da tegido da T (acorde de C); na segunda metade o mesmo tipo de progress&o agora acontece tendo como referéncia a D (acorde de G) que 6 aqui, a regido harménica destacada dentro da tonalidade principal. + em b) 0 mesmo se da em relag&o 4 S tendo o I grau (acorde de Dm) como eixo de referencia’? ‘Exemplo 3 ihustrapo do principio da transferéneia funcional do tipo de Progsessio Harménica| 2) ransferincia funcional do centr tonal de Dé Maior para aregido de sua Dominante ~ V grau tc [re jar je 6 ce tor 8 ems. T s D T 1 - We vv 1 v 6 own ov emsol s D x 1 we VT ' 1 Note nos do's casos desse exermplo 0 uso da Tensio (ou dissonancia acrescentada) enquanto recurso de destaque @ intensificacdo da qualidade funcional atribuida 20 acorde. A fung’o T ‘caracteriza-se por no receber Tensio alguma, a S acrescenta-se a8, e Da 7. Essas distingdes slo Jimpocantes porque todos os acordes aqui envoWides $80 pertetos malores, portanto idénticos. E © Uso das tenses que contribut para diferencié-os. Essa dferenciacdo se faz necessaria se entendemos {ue aqui, alguns acordes podem possuir dupla interpretagao funcional. em a) 0 C #0 I(T) de 25 Malor 0 IV (S) de Sol Maior - a diferenciacéo funcional se intensfca pelo acréscima da sexta sobre 0 C quando ele assume a furgao de $ (ver a nota 13). OG 6 0 VD) de Dé Malor © 0 I(T) de Sol Maior -a aierenciagdo funcional se intensifica pela auséncia da 7° sobre © G quando ele assume temporariamente a fungdo de T. Note-se ainda que, algo semelhante se dé em relagdo ao caso de b) 190 1V6 6 0 conhecido de “accord de fa sixte ajontée de Rameau” que @ detinido pelo proprio autor come "um acorde dissonante formado pelo actéscimo de uma sexta 20 acorde perteto” ( RAMEAU, op cit p 64) Essa sexta, coloquiaimente chamada de “sexta de Rameau’, @ uma tensao acrescentada {ue iguala a sonondade do IV grau (que, com 0 acréscimo da sexta, fica com as notas "F&-L4-Dd-RE ‘em D6 Maior @ "F&-L4b-D6-R6" em Do menor) a0. Il grau (que com sétima - acorde que Rameau op ct p. 39. jd admite e incorpora «fica "RE-F&-L&-Dé" em Db Maior e "RE-F4-L4b-D6" em Dé Manct) & ue, desde 1722, conceptualmente estabelece a equivaléncia funcional entre os IV e Tl graus, ambos igualmente eficientes enquanto acordes de Subdominante. Esta sexta incorporou-se a0 sistema de tal ‘modo que “pode-se considerar@ sexta étdo caracteristice para @ Subdominans quanlo a sdtima para a Dominante” - ver BRISOLLA, CM. Prineipios de harmonia funcional. SP. Novas Metas,1070 p55 Entlo, podemos dizer que, quando se deseja sublinhar em um acorde, Seu papel de Subdominante, acrescenta-se a ‘sexta de Rameau’ E justamente por isso que, neste exemple, todos os acordes que {desempenham 0 papel de Subdominante aparecem com a sexta acrescentada, Segunda Unidade: Funges Harménicas 8 1) ansferincta funcional do centro tonal de Dé Motor para a regio de sua Subdominante grou {cre e7 jc Jom _|Gme__ a7 om __| emos 7 s . ia 1 Meow 1 0 ave om emré s > T 1 Neoow ot Esse 6 um expediente fundamental do sistema harménico, um arti muttipicador que expande esses ts tipos de “Progressbes Harmonicas Bésicas” para incontaveis situagées musicais. Dependendo do eixo de referéncia adotado uma mesma arficulagao cadencial se transforma em um novo, expressive e surpreendente Icio acontecimento musical. As “Progressbes Harmbnicas Bésicas” so assim, combinagbes de classes funcionais que, por sua vez, se comportam também como unidades funcionais. S80 modelos que tomam sentido dependendo de onde esto colocados, de como se relacionam com as demais unidades harmonicas e que variam de sonoridade e de feito expressive musical segundo o eixo de referéncia adotado. 2.2.4, outras varidveis Recapitulando, até aqui temos que, do ponto de vista estritamente harménico, ‘esta modesta tipologia de apenas trés formatos de “Progressdes Harmonicas Basicas” ‘se multiplica em inumeras outras manifestagdes cadenciais porque: primeiro, cada fungdo esta sendo entendida como um conjunto composto por distintos graus ou acordes disponiveis, @ no, como ‘um determinado grau, ou um acorde especifico; segundo, porque interligando estas trés fun¢Ses que compéem as “Progressbes Herménicas Basicas", podem aparecer varios “recheios’, varios recursos auniliares de ligag8o e conexBo, que transformam estes tipos cadenciais basicos em pilares de sustentagao para elaboradas seqdéncias de acordes, e ainda; ‘Segunda Unidade: Fungées Harménicas » + terceiro, pela capacidade que cada tipo cadencial tem de se comportar como um “cliché” disponivel para uso em qualquer regio ou eixo de referéncia interna de uma mesma tonalidade, No entanto, ocorre ainda que: 0 estabelecimento do efeito musical de uma “Progresso Harménica” extrapola 0 émbito do estritamente harménico. A “Progresso Harménica” @ um fenémeno que envolve igualmente todos os outros parametros do sistema tonal: envolve a diversidade caracteristica da condugo de vazes ( mudanga de osigdo, disposieao, inversao,..); envolve as sonoridades tipicas do uso das tensées (nonas; décimas primeiras; décimas terceiras...); envolve as figuragdes da ritmica; a construgdo dos contornos melédicos; a ornamentag&o advinda do uso das notes auxiliares; os tipos caracteristicos de articulagao; a capacidade expressiva dos matizes dinamicos; o timbre de orquestrago e/ou de instrumentag&o; enfim. A grande combinatéria de toda esta diversificada somatéria de parametros entra também no jogo quando da concretizagdo do acontecimento de uma “Progresso Harménica”. Este quarto fator ¢ decisivo; 6 a grande variével que permite que estas Unicas trés farmulas de progressto, soando sempre de maneira diferente, se repitam o tempo todo.

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