Você está na página 1de 219
REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA SUMARIO DO NUMERO DE JANEIRO-MARCO DE 1943 ARTIGOS BACIA DO ALTO PARAGUAI, pelo Dr Peozo pr Moura, do Conselho Nacional do Petidleo CONSIDERAGOES SOBRE AS FORMAQOES PERMO-CARBONIFERAS BRASILEIRAS, pelo Prof Maris G pe Otivea Roxo, consultor técnico do Conselho Nacional de Geogiafia . ORIENTAGAO CIENTIFICA DOS METODOS DE PESQUISA GROGRAFICA, ‘pelo Prof FRANCIS RuELLAN, da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil A FERROVIA CORUMBA-SANTA CRUZ DE LA SIERRA. pelo Tte Col mea Ficuzineno, da Comissio de Redacdo da Revista Brasileira de Geo- grafia VULTOS DA GEOGRAFIA DO BRASIL ALPREDO D'ESCRAGNOLLE TAUNAY ALFRED RUSSEL WALLACE COMENTARIOS DO RIO AMAZONAS B DA POROROCA, pelo Cel AxiLcar A Boretsio pr Macatsies CLASSIFICAGAO REGIONAL DAS ESTRADAS DE FERRO BRASILEIRAS, pelo Eng Fravio Viriea “THE FACE OF SOUTH AMERICA”, obia de JouN I, Ric, comentada pelo prof $ Frors Anzu ATLAS DE GEOPOLITICA (geopolitischer geschichtsatlas), obra de Fr Braun e A. H ZIEGrELD, comentada pelo pot DeLeapo pz Canvatzo TERMINOLOGIA GEOGRAFICA, ela Redacio TIPOS E ASPECTOS DO BRASIL ERVAIS ERVATEIROS NOTICIARIO X CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FIRMADO INTERCAMEIO CULTURAL ENTRE 0 © N G & THE AMERICAN GEOGRAPHICAL socreTy BIBLIOTECA GEOGRAFICA BRASILEIRA CONCURSO DE MONOGRAFIAS DE ASPECTOS MUNICIPAIS QUARTO ANIVERSARIO DO SERVIGO DE GEOGRAFIA B ESTATISTICA FISIOGRAFICA ADQUIRIDOS PELO ITAMARAT! DOIS ANTIGOS ATLAS DO BRASIL I CENTENARIO DO NASCIMENTO DO VISCONDE DE TAUNAY ROLETIM DO CONSELHO NACIONAL DE GEOGRAFIA TERTULIAS GEOGRAFICAS SEMANAIS HISTORIADOR MAX FLEIUSS CORONEL TEMISTOCLES PAIS DE SOUSA BRASIL PROFESSOR FRANZ BOAS Pag” 1— Janciro-Margo de 1943 39 a a a3 4 99 108 113 324 wr 129 131 140 m1 aa 149 151 184 16 162 164 168 169 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Ano V | OUTUBRO-DEZEMBRO DE 1943 | Neo 4 PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO Prof. Emmanuel De Martonne Diretor do Instituto de Geografia da Universidade de Paris — Secretério Geral da Unido Geogratica Internacional (PRIMEIRO ARTIGO) — (N. R.) (EST. I, XIV — xvi)! Do imenso territério brasileiro, a tnica parte cujo relévo possa ser objeto de estudo para a morfologia moderna é 0 macico atlantico, cujos planaltos e serras, ultrapassando 2 000 m de altitude, se estendem ao longo da costa de Santos 4 Bahia e s4o conhecidos'’até a mais de 500 km para o interior, nos Estados. de Sao Paulo, Rio de Janeiro, Espirito Santo, Bahia e Minas Gerais. & ai que aportaram os primeiros conquistadores, impelidos pelos aliseos; ai se estabeleceram firmemente grandes massas de europeus, que, por causa das plantagdes, e sobretudo das minas, foram obrigados a ter um conhecimento mais. rigoroso do solo e do subsolo (fig. 1). A carta ao milionésimo em quase-téda essa regidéo n&o se reduz a@ uma simples compilagéio. O Servico Geolégico de Sao Paulo, organi- zado nos moldes do Geological Survey dos Estados Unidos, publicou, na falta de cartas geolégicas, uma importante série de cartas nas escalas de 1:100 000 e de 1:200 000 cobrindo téda a regiao litoranea do Estado e avancando ao norte, até o Rio Grande. O Estado de Minas imitou seu vizinho, e suas cartas na escala de 1:100 000 vado até 4 nova capital, Belo Horizonte.? A extensfio limitada do Distrito Federal, em térno NOTA DA REDAQAO — Em 1940, o Prof. Eananuet pz Martone publicou nos Annales de Géographie dois artigos sobre “Os problemas morfoldgicos do Brasil tropical atlantico”. Em con- seqiléncia dos acontecimentos de maio-junho de 1940, chegaram ao Brasil sémente dois exemplarce do primetro artigo, enquanto que do ‘segundo se sabia aqui apenas da sue existéncia. © interésse désses artigos era tal que, por via diplomética, foi solicitgda ac Professor pe ‘MaxroNNe a remessa de um exemplar de cada um déles, assim como a permisséo para traduzi-ios e publicé-los, O Professor nz Marrone atendeu a ésse pediido e féz doacho de seus direitos autorais, ‘como agradecimento pela acolhida que teve por ocasido de suas missées no Brasil. 1 A publicacho déste artigo, que deveria aparecer no mimero 276 de 15 de novembro de 1939, fol retardada pela reducto de 50% do numero de paginas, conforme as presericbes governamentais resultantes do estado de guerra, As quais so submetidas as publicacées periédicas. & a razio pela qual as estamras fora de texto que o acompanham trazem a referénela ao n.* 276 e.ao tomo XLVIII. (O autor refere-se aos Annales de Géographie) . 2 A representacho do relévo.por meio de curvas de nivel equidistantes de 25 m € freqtiente- mente muito expressiva na carta paulista, mas as cotas sio demasiado raras. A carta de Minas parece estar apolada numa triangulacio mats densa, mas a representacdo por curvas equidistantes de 50 m é menos satisfatoria. . No Estado de Sio Paulo, a Comissio Geografica e Geoldgica publicou, além disso, uma série de'levantamentos na escala de 1:50.00 dos principais cursos de agua e do Utoral. Estes Ultimos dao a representacdo do relévo por curyas de nivel numa faixa que atinge as vézes 20 2 30 km de lergura (toda a ilha de Sao Sebastiao af esté compreendida) . Pg, 3 — Outubro-Dezembro de 1943 524 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA do Rio, 6 figurada por uma carta admirdvel, que faz sentir mais ainda a falta de documentagao precisa para todo o Estado do Rio de Janeiro, o do Espirito Santo e o da Bahia.* Nao surpreenderé a auséncia de uma cartogratia geolégica regular. A melhor viséo de Conjunto que foi publicada é ainda a carta geolégica ao milionésimo do Estado de Sao Paulo. Apesar disso, 0 Brasil tropical atlantico esté bem longe de ser uma regido nova para a pesquisa cien- tifica. Muito cedo, antes das primeiras cartas, antes das estradas de ferro e mesmo das rodovias, naturalistas como AuG. DE SaIntT-Hitaire, Liais, EscHwecz, Branner e Dersy nela deixaram sinais de sua pas- KAS as NZ [X] 1-100 000 s.Pauio ixpipeees oe [2 100 000 mina ze Fig. 1 Quadro da reunido das cartas topografieas do Brasil Tropical Atlantica ‘a 1:100 000 € 1:200 000 (Estados de Sto Paulo e de Minas Gerais) SP., Foiha de Sdo Paulo, 1:100 000 — RP., Folha Ribeirdo Preto 1:100 000, — BH., Foiha Belo Horizonte, 1:100 000 — Notar 0 recobrimento dos mapas dos dois Estados ¢ @ irregularidade da forma das jélhas, sagem. Uma corrente continuada de sabios estabeleceu-se entre a Europa e éste admiravel campo de estudo; e os servigos locais multiplicaram as contribuigdes para o conhecimento do solo, a ponto de ser dificil conhecer e avaliar todo o seu valor.‘ As idéias gerais e as hipdteses, que os fatos conhecidos podem sugerir, foram discutidas em sua maior parte. & chegado: talvez o.momento de tentar fazer uma selecdo dentre elas, levando em conta progressos feitos pelos métodos de andalise mor- fologica.® 3 As cartas désses Estados, publicadas em escalas préximas ao milionésimo, sfio de valor muito desigual. A do Estado de S40 Paulo, emhora muito melhor, publicada com convengées geoldgicas coloridas, oferece diferencas desconcertantes em relacio as cartas topograficas na escala de 1:100 000 ultericrmente publicadas. + Assinalaremos, dentro os trabalhos que nos foram mais utels, além dos que menciona P, DeNIs em sua excelente “mise-au-point” da Geographie Universelle (t. K Amérique du Sud, 14 parte, 1927): Wasusunnz, Petroleum Geology of the State Sdo Paulo, Com. Geogr. Geol. 8A0 Paulo, Bol. 32; James, Parston, The surface configuration of SE BRAZIL (“An. Assoc. Amer. Geogr.” XXXII, 3, 1932, pags.” 165-193); — e os numerosos artigos de L. F. pe Morais Reco, entre os quais 6 préciso destacar especialmente: Notas sObre a geomorfologia de Sdo Paulo, e sua genesis (Inst. Astronomico e Geogratico ...... Sao Paulo, 1932, 28 p.); O vale do Sdo Francisco, ensaio de monografia geografica (Rev. do Museu Paulista, Univ. de Séo Paulo, XX, 1936, pags. 491-706); — Camadas cretéceas do sul do Brasil (An.’ Escola Politecnica. Sio Paulo, 1935, pags. 231-274); — O sistema de Santa Catarina em Sao Paulo (An. Escola Politécnica, 8. Paulo, 1936, pags. 3-87). . 5 em suma isto que tentou ©. Maui nas conclusées de sua interessante relagtio de viagem: Vom-Itatiaya zum Paraguay, Leipzig, 1927 — e em um artigo muito substancioso da Zeitschr. d. Ges, J. Erdkunde, Berlin, 1924, p. 161-196: Die geomorphologische Grundziige Mittel-Brasiliens. As soluicées que élé traz sto sempre inteligentes, mas raramente baseadas numa discusséo completa. Pag. 4 — Outubro-Dezembro de 1943, PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 525, Dois problemas merecem particularmente a atengdo: as relacdes do relévo com a estrutura e a originalidade do modelado tropical. O primeiro se apresenta aqui em condigées particulares, sem exemplo na Europa nem na América do Norte, mas parece que nado sem analogia com os que se oferecem, seja na Africa, seja na Australia, na borda de fragmentos do mesmo bloco gondwanico.* O segundo foi sobretudo considerado com a finalidade de explicar detalhes pitorescos, como os famosos pies de agucar, dos quais 0 mais célebre é 0 que marca a entrada da famosa enseada do Rio.” fle mere- ceria ser mais largamente considerado; oferecendo-se ent&o a ocasiao de notar uma diferenciagao segundo as mudang¢as do clima, que se torna menos umido para o interior, e segundo as altitudes que ultrapassam largamente 2 000 m. I — RELEVO E ESTRUTURA Bloco fraturado ou Os tracos gerais do relévo sugerem evidentemente relévo apalachiano a idéia de um bloco antigo levantado e fraturado. Desde o primeiro momento em que os transa- tlanticos rapidos se aproximam da costa, até o Rio e mesmo além de Santos, aparece a serra do Mar como uma alta escarpa, que lembra, numa outra paisagem, a frente SE do Macico Central francés.* S6 o rio Doce abre uma brecha na muralha rigida e continua. Em téda parte a impressao é a mesma, logo que se tenha atravessado as suas cumiadas, quer seja pela estrada de ferro, a rodovia moderna ou a pista accessivel aos automéveis, que acaba de ser aberta, do Rio a Petrépolis, de Santos ou Sao Vicente a SAo Paulo, de Ubatuba ou Caraguatatuba em direcdo ao Paraiba. As declividades vertiginosas, que causam espanto de se ver reves- tidas de floresta densa, (est. XIV A) sucede uma topografia ondulada, de vales largos e freqiientemente com fundo pantanoso. O homem con- tribuiu para acentuar o constraste pelo deflorestamento progressivo do planalto ondulado, enquanto que a floresta se fecha novamente s6bre as ilhotas de agricultura, que datam dos primeiros tempos da colonizagao, na base da grande escarpa da serra do Mar. A linha de cumiada é um divisor de Aguas e as capturas ai surpreendem menos por sua existéncia do que por sua relativa raridade. Todos os rios (com excecao. do rio Doce e do Paraiba) voltam as costas ao Oceano; as altitudes se abaixam, no conjunto, para Oeste. No Estado de Sao Paulo, vé-se dentro em pouco o macigo cristalino desaparecer sob uma cobertura sedimentar discor- dante, mergulhando para o Parana, e, apds uma zona de planicies que > 6 A aproximacto das séries estratigraficas nao deixou de ser felts pelos gedlogas (principal- mente A. L, Du Tort, Our wandering continents, in-8.°, 360 pags., Edimburgo, 1937, ¢ F. pe ‘Morais Rico, O sistema de Santa Catarina, loc. clt.). Os gedgrafos n&o parecem ‘ter considerado © que as formas do relévo devem a estruturas andlogas e as suas diferencas locais. 7 ver principalmente Farmers, Die Lateritoberflache in Landschajtsbild vom Rio de Janeiro (Leopoldina, Ber. d. K. Akademie d. Naturforsch. If, 1926, pags. 121-131) — F. W. FRESE, Brasilianische Zuckerhutderge (Zeitschr. 1. Geomorphologie, VIII, 2, 1933, pags. 49-66) © Boden- verkrustungen in Brasilien (Zeltscher. ¢. Geomorphologie, IX, 6, 1936, pags. 253-248) . &. Pensei poder desenvolver a comparacio 2 propésito da serra do Mar e do “Espinouse” (Bull de V’Assoc. de Géogr. Francais, dez., 1933, pags., 138-145) Pg. 5 — Outubro-Dezembro de 1943 220 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA lembram a depress4o periférica dos nossos macigos hercinianos, ergue-se um relévo monoclinal vigoroso com aberturas (per¢ées) conseqiientes e morros-testemunhas (buttes-témoins). Esta cuesta de Botucatu é o bordo do capeamento de arenitos, com intercalacdés de rochas eruptivas basicas, que cobre, em imensas extensdes, o embasamento gondwanico, no Brasil e no Uruguai, tal como na Africa Ocidental Francesa, Africa Austral e india (fig. 2). A inclinagéo do embasamento para o interior nao é, porém, a mesma em téda parte; o Paraiba médio, correndo quase paralelamente a costa, é dominado por um segundo abrupto, a serra da Mantiqueira, quase sempre vizinha de 2 000 m, aproximando-se mesmo de 3 000 em dois pontos. Seu largo vale esta escavado em argilas la- custres, datadas por uma flora e uma fauna do Neogéneo recente. O “fésso do Paraiba”, comparavel aos de tantos macicos antigos, tornou-se um tema muitas vézes repetido. Tais sfo as interpretagdes que se impuseram. Os progressos dos levantamentos topograficos e dos reconhecimentos geolégicos obrigam @ considerar outras perspectivas. A orientacéo da serra do Mar, da Mantiqueira e do Paraiba nfo é a unica a aparecer no terreno e nas eartas a 1:100 000. Algumas cristas repetem, a alguns quilémetros de distancia, um alinhamento E-O, ao norte de Séo Paulo. A sudoeste do Estado de Minas, os alinhamentos N-S s&o particularmente notaveis. Freqiientemente a relag&o désses alinhamentos com a estrutura é evi- dente; as alturas formadas de rochas mais duras parece tangentes ao mesmo nivel. E num relévo apalachiano que se é levado a pensar. Os alinhamentos das serras litoraneas, que se repetem éles préprios em téda uma série de acidentes, néo admitiréo a mesma explicacao ? Sabemos agora 0 bastante sébre o Brasil para sermos obrigados a encarar ésse problema, que se formula para todos os velhos maci¢os, terras hercinianas da Europa ou blocos do antigo continente de Gondwana. Na diferenciacdo do relévo, na qual dois processos — deslo- camentos da massa, com empenamento e maior ou menor soerguimento, e recoméco da eroséo guiada pela estrutura antiga desempenharam, na verdade, o seu papel; qual seria a participagéo de cada um déles? Estrutura antiga Para responder, € indispensdvel estar bem infor- mado sébre esta estrutura, muito mais complexa que as cartas de conjunto fazem supor.® A zona herciana da Europa, desmembrada pelos contragoipes dos dobramentos alpinos, habituou-nos a ver em cada um dos blocos cristalinos de dimensdes modestas, um conjunto de rochas muito resistentes, opondo-se simplesmente &s massas sedimentares, das quais mal se destaca. Aqui, em imensas extensdes, aparece o velho embasamento, e a diferenciag&o do relévo pode ser atribuida a uma desigual resisténcia das rochas cristalinas, num clima em que a decomposigao é mais rapida e d& um maior poder seletivo a erosiio. ‘A carta geolégica do Estado de Sio Paulo nfo f@z af nenhuma disting’o. Pag. 6 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOL6GICOS DO BRASH, ‘TROPICAL ATLANTICO 7 Boa vista Rerende _itapeva A Parahyba campos de or PdoBahu. Pag, 7 — Outubro-Dezembro de 1943 20) 1 j 1,589. sets Caraguatatuba Fig, 2 — Série de cortes esquematicos do Brasil Tropical Atlantico, orientados NO-SE. a 1 z 3 3 & 5 S s nN heetOmetros. iacoes: SM. cérea de 1:800 000; altura (ezagerada 10 vézes) A proprin série queana, que format as sere (fori, do Mar ¢ Hiquenay, (serra rea da Mane hae um Ai os vo Prequente- mente menos resisten: os tole homogented granites tes do que os gnai 8&0 encontrados decom postos om téda a altura dos cortes di 140m, ao longo da estrada de Petrépolis, além dos su- burbios do Rio de Ja- neiro, enquanto que os verdadeiros gnaisses de cor clara, freqtiente- mente porfirdides, apa- recem nas cristas. No- tou-se que os gnaisses escuros dominam 20 longo do Paraiba; sua gra mais fina e sobre- tudo a abundancia da mica negra, tornam- n’os certamente mais sensiveis 4 decomposi- co. Para Morais Réco, o “fésso do Paraiba” 6 uma pura hipétese e a depressio é simples- mente obra da erosdo nesses gnaisses menos resistentes . N&o ha duvida, em todo caso, que as séries menos intensamente metamorfizadas, conhe- cidas no interior, ofe- recem rochas de resis- téncia desigual. No Es- tado de Sao Paulo a série de Sio Roque é um complexo de filitos, quartzitos e calcdreos metamérficos 528 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA fortemente dobrados e atravessados por numerosas apéfises gra- niticas com corneanas e anfibolitos. No Estado de Minas, onde a exploracgéo do ouro e do ferro conduziram a repetidas prospecgdes, distinguiram-se numerosas séries de metamorfismo desigual: a série de Minas, comparavel & de Sao Roque por seu vigoroso dobramento, seus filitos e suas corneanas, onde os quartzitos formam a maioria das elevagées; — uma s¢rie do Espinhago, cujos arenitos com silex exercem também uma notavel influéncia no relévo; — enfim uma série de Bambui, menos deslocada e téo fracamente metamorfizada que alguns fdsseis, que Ihe indicam uma idade gotlandiana, foram encontrados nos calcareos, aos quais se deve, ao norte de Belo Hori- zonte, 0 desenvolvimento de fenémenos carsticos. Todos ésses elementos, sofreram numerosas fases orogénicas cujo estilo e cujas linhas diretrizes podem ter sido diferentes. As “Brasi- lidas” assim formadas permaneceram, como as “Sahdaridas”, qual um pedestal insensivel aos dobramentos e que a erosdo tendia a nivelar e a soterrar sob seus detritos. O Devoniano do Estado de Sao Paulo é 0 ultimo episédio marcando uma invaséo marinha, e, ai como na Africa, como na fndia e na Australia, sao sedimentos continentais que recobrem uma grande parte do embasamento (série de Santa Catarina no Estado de Sao Paulo). Ai, também se nota um episddio glacidrio, morainas e conglomerados, entre um Carbonifero xistoso com fetos (Gangamopte- ris) e um Permiano com répteis (Mesosauros). No Estado de Sao Paulo, o Glaciario, mais argiloso, permaneceu quase ‘como foi deposto; mas, no Estado de Minas, a série de Lavras, mais rica em conglome- rados, esta ligeiramente dobrada. Tudo indica uma estabilidade mais precoce ao sul, uma sensibi- lidade maior ao norte. No Tridssico, entretanto, as condigdes parecem mais uniformes e os arenitos de Arcado, com as lavas que os recobrem na bacia do Sao Francisco, lembram os arenitos de Botucatu, do Estado de Sao Paulo, com seus basaltos; em téda a parte séo as mesmas cha- padas, as mesmas frentes de cuestas com morros-testemunhas abruptos. Capeamento sedimentar e Esses dados permitem concluir pela superficie de erosdo fossilizada _possibilidade de uma topografia apa- lachiana desenvolvida nas séries do- bradas pré-carboniferas, compreendendo mesmo a série arqueana. A importancia da cobertura sedimentar detritica, de origem continental, atesta a das erosdes que nivelaram os antigos dobramentos. Dever-se-ia poder encontrar restos da superficie de erosao fossilizada. © exame do contacto entre o embasamento cristalino e as séries carboniferas no Estado de Sao Paulo parece-nos decisivo déste ponto de vista (fig. 2). Se nos afastarmos da estrada que segue o vale do Tieté, encaixado nos xistos cristalinos, reconheceremos facilmente nas cercanias de Salto Pag, 8 — Outubro-Dezembro de 1943 Abrupto florestat da serra do Mar, visto de Santos. Abrupto rochoso da alta serra do Mar, perto de Petropolis. Vista tomada da ‘nova via. férrea’ Mairinque-Santos. Vista de avido. Cumes de 2 000 — 2 200 metros (Castelo, morro de Fagundes ‘4o fundo, cascata do ribeiro das Antas, crista e Pedra do Sino). @-eérea de 1 000 m. PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 529 de Itu a superficie de base dos xistos argilosos, nivelando granitos e gnaisses, que sobe regularmente a partir de 550 m com uma declividade de 1 a 3%, durante uma dezena de quilémetros pelo menos. Acontece © mesmo mais ao norte até Campinas (cortes, fig. 2). O declive é um pouco mais forte na altura de Mogi Mirim. As sondagens feitas para pesquisa do, petrdleo na base da cuesta dos arenitos de Botucatu, perio de Sao Pedro e de Bofete; foram levadas até 1 000 e 1 200 m de pro- fundidade sem atingir o Cristalino; deduz-se existir uma declividade média sensivelmente da mesma ordem.' Esta superficie pré-permiana (ou mesmo carbonifera) nfo era sem duvida uma planicie perfeita, e ,as proprias camadas da série de Santa Catarina nao sao isentas de ligeiras ohdulagées; 4 todavia é notavel que seu prolongamento ideal para leste venha tocar as primeiras cristas de quartzitos da regiao cristalina, tanto entre Mogi Mirim e Socorro, como 4 leste de Campinas ou de Itu. Assim tudo concorre para convencer que o relévo apalachiano desempenha um papel essencial na morfologia do Brasil tropical sul- atlantico. Querera isto dizer, entretanto que a diferenca de resisténcia das rochas explique tudo ? E, se nao fér assim, poder-se-4 encontrar um principio que permita discriminar os acidentes diretamente devidos a deformacées recentes, dos devidos simplesmente a uma adaptacéo & estrutura dum embasamento antigo ? Notemos primeiro que a igualdade aproximada da altitude das cristas de rochas resistentes s6 se realizou em um raio limitado. Uma variagfio continua poderia talvez ser explicada pela subida para as antigas cumiadas divisoras de aguas; variagdes bruscas lembram a hi- potese das deslocagées. Os dois grandes alinhamentos da serra do Mar e da serra da Mantiqueira parecem nao poder ser explicados de outro modo. Os alinhamentos das Sua diregdo retilinea e paralela 4 costa nao serras litoraneas é 0 tnico nem mesmo o melhor argumento. Os dois bragos do Paraiba, ligados pelo sin- gular cotovelo de Guararema, tém aproximadamente a mesma orien- taciio, que é a de um feixe de pequenos afluentes prolongando-se segundo linhas rigidas (fig. 3). Estas: linhas podem ser o vestigio de muito antigos deslocamentos longitudinais favorecendo a incis&o dos talvegues, ou podem mesmo seguir afloramentos menos resistentes, mais freqiientes do que se imagina na série arqueana: gnaisses de gra fina, gnaisses escuros ricos em biotita e mesmo micaxistos.‘* Mas, quando se trata da serra do Mar e da serra da Mantiqueira, 0 fato essencial, que seria um érro esquecer, é que elas nao representam cristas, mas sim degraus. A predominancia dé gnaisses mienos resistentes ao longo do Paraiba, 2 A deslocacdo suposta por Morars Réso ¢ intetramente imutil. 3 Reveladas por sondagens (Morais Réco, Notas sdbre a geomorjologia de Séo Paulo, oc. cit.) ¥ Levante! uma série de afloramentos déste género no corte da estrada que atravessa 0 Paraiba, de 8, José dos Campos a Caraguatatuba. Pég. 9 — Outubro-Dezembro de 1943 520 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA nao explica o degrau da Mantiqueira; os micaxistos menos resistentes da série de Minas estado na vertente oposta, 1 000 m mais acima; e é por uma lenta subida que se chega 4 borda do planalto da serra do Mar (cortes, fig. 2). O “fdsso ‘do Paraiba” é talvez uma hipétese simples demais. O rio, como os lagos alongados que o precederam no Tercidrio, '* parece ins- talado ao pé de um abrupto tectdnico, flexura decomposta em escadaria de falhas marcando a borda de um bloco basculado para o norte, da A Fig. 3 — Orientacto rigida SO-NE da réde hidrografica na zona litorénea desde Santos (S) até as prozimidades do Rio de Janeiro. Bscala, 1:2 500 000. mesma maneira que o bloco da serra do Mar (fig. 4). Esta concep¢ao impée-se cada vez mais, sempre que se sobe a imponente escarpa da Mantiqueira, seja para Itapeva e Campos do Paraiso (1 900-2 000 m), seja para a alta cipola da Bandeira, ponto culminante do Brasil (2 854 m) seja para o Itatiaia, menos elevado apenas de alguns metros, (N.R.) mas que forma escarpamentos fantasticos evocando os macigos alpinos. A parte estas Agulhas Negras e alguns cumes em forma de paes de acucar, 0 que se encontra nessas alturas, 6 uma topografia de matu- ridade: cabegos arredondados e largos vales, 4s vézes mesmo depressdes (“cuvettes”) tmidas, ameacadas de captura pela eroséo que ataca as encostas abruptas que descem para o Paraiba (est. XV). Seria surpreendente que os acréscimos desta vertente sejam, no total, insignificantes, se a linha de separagdo das aguas nao tivesse sido 2 Além da bacia pliceénica figurada na carta geolégica ao milionésimo do Estado de Sfo Paulo, uma pequena bacia fol reconhecida em torno de Resende, ao pé do Itatiala, cuja extensio esta cxatamente figurada na carta do Iistiaia de Ris. Lastéco (citado mais adiante). NOTA DA REDACAO — De pedrdo com a recente determinacdo foita pelo Professor Atinto um ‘Maros e seus alunos da Escola Nacional do Engenharia, a altitude do pontao da Bandeira é de 2.890 metros, sendo de 2 787 metros a do pico das Aguihas Negras, na serra do Itatiala (ver artigo Bublicado no presente nimero desta REVISTA). Pag. 10 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO sa imposta por uma deformagio recente. De fato, como na serra do Mar, seja em Santos, seja em Caraguatatuba, seja perto do Rio de Janeiro, em Petrépolis ou em Teresépolis, somente alguns riachos caem em cascatas; todo o resto vai para o interior do continente. Os recuos da borda do bloco, raramente ultrapassando alguns qiiilémetros, siio de- vidos a ataques da erosio paralelamente ao eixo do desnivelamento. A erosio poude utilizar, quer um dos deslocamentos da superficie fle- xurada, quer um afloramento de rochas menos resistentes: gnaisses escuros ou micaxistos, como se observa na serra do Mar, perto de Santos, na ravina do Cubataéo, ou na Mantiqueira, na ravina de Piracuama, perto de Itapeva; mas é preciso n&o esquecer que a erosao ndo o teria podido fazer se o desnivelamento da frente do bloco nao Ihe tivesse proporcionado o ensejo e que sulcos paralelos a esta frente, relacionados com a estrutura antiga, persistem sob a forma de largos vales maduros no reverso do bloco inclinado para o interior do continente. Em resumo, estamos em presenga de um conjunto de fatos morfo- légicos que s6 dao lugar a uma unica interpretacéo, mesmo que sua suposta relagéio com um acidente tecténico nao esteja em téda parte exatamente estabelecida. Nenhuma investigacio geolégica detalhada atingiu a frente da Mantiqueira, ** mas, no Distrito Federal, as serras alinhadas aquém da frente da serra do Mar e dominando a enseada, mostraram falhas longitudinais com veios eruptivos.'* Mais longe, ao norte, na regiao litoranea da Bahia, as pesquisas geolégicas e geofisicas para o petrdleo revelaram desnivelamentos consideraveis do Cretaceo, a base antiga afundando-se bruscamente de cérca de um milhar de me- tros; o préprio Tercidrio, menos perturbado, é as vézes sensivelmente levantado. E sem duvida a acidentes do mesmo género, aos quais é dificil dar uma referéncia, na auséncia de uma cobertura sedimentar recente, que so devidos os alinhamentos de grandes ilhas aquém da frente da serra do Mar (Santo Amaro, Sao Sebastido, Ilha Grande, Cabo Frio, etc.) . A ilha de Sao Sebastiao, de facil acesso e felizmente cartografada pela Comissio de Exploragao do Litoral, apresenta-se como um bloco basculado para o continente, cuja frente abrupta esta virada para o Oceano (fig. 5). Do lado do canal pouco profundo que a isola, é possivel seguir terragos marinhos e niveis de erosio escalonados.'* Nada de parecido se encontra do lado do alto mar, onde os assaltos das vagas nado fizeram mais que avivar, em uma cingiientena de metros, no mé- ximo, os declives das escarpas que mergulham sob as ondas.? 4M A tinlca excecho 6 a meméria de Rusrio Lamfoo, O macico de Itatiaia e regides circundantes (Serv, Geolog. e Miner, do Rio de Janeiro, Boletim, 88). Mas a regido estudada 6 ocupada pelo batolito de sienito nefelinico do Ttatiaia que apaga téda a estrutura e nfo permite que se Iocalizem as falhas provavels. A carta que a acompanha est& apenas na escala de 1:600 000, 8 E, BackHEUSER, Breve noticia sobre a geologia do Distrito Federal (An. de Estat{stica da Cidade do Rio de Janciro. V. 19268) — — Ver também B, Pats Leme, O tectonismo da Serra do Mar (An, da Academia Brasileira de Clencias, TT. n.° 3, 1930). i 3 terraco de 20:m 6 encontrado sObre o continente perto de Séo Francisco. ¥ Muito notével na Ponta do Bol; a ilha do Cabo Frio foi mais atacada (grutas, cortes verticals e obelisco isolado) . Pg. 11 — Outubro-Dezembio de 1943 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA a8-wnyou ‘soend sjop SON ‘npLandso Y ‘nqwwiDd OP vand “avdni] ap vI8Ia “DaonbuyuDy vp v1498 ‘O71 Oj sopposseip sym 0 9. 10L9/uy nosGap o ‘snDisap siop jund-a ‘opundos ou ‘ngs Y ‘D1198 Pp gdos OU OUNII0 O ‘OSD ONsWd ON — “OS naniwIMNBv1DD Vind VPP MP ‘AN OP ODdaW DU DIA “EI OP Bis2s ‘ODIDa WAT ‘spauplozy] 991198 Sop ue GOO T AP swAsaLoUf So;dnuqy spUDAS SOP Sop BuNLOUDE —~ F “BIL eqmerenBese9, iE BP mag's oyoW's Pag. 12 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 533 Relevos apalachianos Depois déste exame das serras litoraneas, for- do interior madas pelas partes mais cristalinas e mais antigas do embasamento, se passarmos ao interior do continente, onde dominam rochas menos metamorfizadas e de resisténcia mais desigual, ficaremos surpreendidos de constatar que a distingao entre os relevos tecténicos e os relevos de adaptacao 4 estrutura torna-se ainda mais delicada. & af, entretanto, que estao os relevos apalachianos mais caracteristicos. Quando os observamos em certo numero de pontos, tendo em méo as cartas de’ que dispomos, preciosas, apesar de sua imperfeic&o, é possivel encontrd-los, se- gundo essas cartas, desde os arredores de Sao Paulo até Belo Horizonte. Sao as vézes verdadeiras cristas mo= noclinais, mas freqiientemente arestas com vertentes simétricas, cujo tragado nao é jamais retilineo e pode encurvar-se até esbogar uma semi-elipse, sinal de uma dobra cujo eixo se eleva ou se abaixa rapidamente; a altitude sofre ai variagdes fracas, mas repetidas, pelo desenvolvimen- to de colos de flanco. Encontram-se tam-" bém Iombadas arredondadas até formar quase que planaltos de altitude uniforme, entalhando camadas duras alteadas, que representam testemunhas evidentes de su- perficies de erosao. O Estado de Sio Paulo oferece na série de Sao Roque os exemplos mais notaveis de cristas estreitas, aparecendo geralmente em feixes descontinuos com orientacéo varidvel (serras de Japi, por exemplo, atravessadas pelo Tieté). Rara- mente seu comprimento atinge mais de 5 ou 6 km, "* as vézes siio reduzidas a um morro isolado, como o Jaragua, cuja si- Thueta caracteristica aparece em todo. pa- norama dos arredores da capital paulista. £ que os quartzitos, que formam a maior parte das cristas, estfo imprensados em sinclinais agudas e freqiientemente lami- nadas. As elevagdes graniticas com cor- neanas séo também limitadas. eee Z . te ‘ \ \ a Fig. § — "Vista panordmica da itha de Sdo Sebasitéo e do canal que a separa do continente, tirada da cidade de Sdo Sebastiao. Terraco litordneo desfiorestado ao sul de Vila Bela. Notam-se acima dots nivets de cristas cobertus dé matas ¢ subhorizontats, ss ‘Tivemos freqtientemente que exagerar as suas dimensOes na nossa carta moifolégica. Pag. 13 — Outubro-Dezembro de 193 4 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAPIA As condicées sfo outras no sul de Minas. Cristas mais espéssas e mais continuas ai se seguem em muitas dezenas de quilémetros, sempre com tragados sinuosos; e orientagdes diferentes aparecem lado a lado. As cercanias de Belo Horizonte sdo particularmente interessantes (fig. 6). Fig. 6 — Bloco diagrama das serras do Estado de Minas Gerais, a0 Sut de Belo Horizonte Odservagdes: Ib., pico de Itabira; R.V., rio das Velhas; O.P., cidade de Ouro Preto: Ie. ‘pico de Tiacolomi; §.0.B., serra do Ouro’ Branco —~ Geologia: 1, Gnaisse; 2, Quartzitos; 3, Micazistos; 4, Série de Itacolumt (cloritaristos, 2istos com sericita, calcdreo cristalino). A nova capital, realmente bem denominada, estende suas avenidas e seus parques ao pé das cristas monoclinais da serra do Curral del Rei, diante dos largos horizontes que se abrem para o norte em virtude do afloramento do embasamento arqueano, cujas suaves ondulagées sd cessam onde aparecem os planaltos ‘calcdreos da série de Bambui. O contrario para o sul, onde existe todo um mundo de serras e de gar- gantas, no meio do qual se desenvolveu a atividade mineira e onde a capital decaida, Ouro Preto, pendura suas ruas estreitas e seu formi- gueiro de igrejas, numa vertente abrupta cortada de ravinas. O rio das Velhas abre um corte natural; subindo-o, para o sul, tem-se a impressio de uma topografia apalachiana ainda imperfeitamente elaborada, como na Bretanha ou nas Ardenas. Os estrangulamentos, onde a estrada se eleva a mais de 100 m acima do talvegue, correspondem as barragens de quartzitos, particularmente do famoso itabirito; ° os alargamentos dos vales, com terragos, onde se aninham pequenos centros industriais ou comerciais, correspondem aos micaxistos e aos gnaisses profunda- mente descompostos. Mas as cristas, imperfeitamente desbastadas, se x» “Quartzito enriquecido por minério de ferro. Pig. 14 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 535, esbatem em ondulacgdes confusas, quando vistas de um ponto culmi- nante. Fica-se entéo surpreendido de ver o horizonte fechado qua- se de todos os lados por relevos possantes, alongados de preferéncia de sul a norte. A-serra Geral, onde os quartzitos mergulham para leste, assim como a serra da Moeda, que se liga & serra do Curral perto de Belo Horizonte, sao cristas macicas, cuja altitude pouco varia ao longo de um tragado ondulado que se prolonga por mais de 20 km. Esse tragado ondulado nao permite que se atribua a um deslocamento a depressdo da bacia do rio das Velhas. Somos obrigados a ver na dis- cordancia das orientagdes, 0 indicio de dois sistemas de dobramentos antigos e na diferenca de altitude, atingindo a mais de 500 m, o sinal de duas superficies de erosao. E o que confirma o estudo dos arredores imediatos de Ouro Preto (fig. 6). Vé-se ai a crista da serra Geral desenhar uma volta e seus quartzitos, adquirindo a dureza do itabirito, inclinarem-se sob a forma de lajes para o sul, na vertente em que se encontra a velha cidade. Todos os elementos do relévo seguem a mesma torsao. Pode-se, entre- tanto, encontrar ai testemunhas de duas superficies. A mais alta, que é a mais bem conservada, liga-se uma série de cristas macicas ou de planaltos, principalmente o macigo que barra ao sul o horizonte de Ouro Preto, sinclinal de arenitos micaceos com inverséo de relévo, que é coroado pela ponta em balanco (“en porte-4-faux”) do Itacolumi,?° que se ergue até 1 797 m, mas também pelas serras de Ouro Preto e do Salto, verdadeiros “créts” (N.R.) formadas pelas mesmas camadas acima dos gnaisses.*! A superficie de erosdo inferior pertencem os planaltes de gnaisse cujas ondulacées se estendem de 1 000 e 1 300 m em direciio a Hargreave e Cachoeira do Campo, assim como 0 triste planalto de xistos sericitosos de Venda Nova; e é nesse mesmo nivel que a erosdo do rio do Funil esculpe as cristas monoclinais alinhadas de Ouro Preto para Mariana, seguindo as barras de itabirito e as lentes de calcdreos cris- talinos. Insistimos num exemplo cujo estudo parece demonstrativo. Vé-se que o interior, se néo oferece cumes to elevados e desnivelamentos tao fortes como a zona das serras litoraneas, distingue-se por uma notavel variedade de aspectos, orientagdes varidveis indicando provavelmente numerosos periodos orogénicos e indicios de muitas superficies de erosio antigas, o que faz supor mais de um recomégo da erosdo (“reprise du modelé”) . E impossivel supor que 0 domfinio das serras litoraneas nio tenha sido afetado pelas mesmas vicissitudes. NOTA DA REDAGAO — Denomina-se “eréts” aos topos das escarpas que flanquelam um “combe”, vale escavado pela erosto numa anticlinal, como € comum no telévo jurassiano. (Ver Dz Martone — Traité de Géographie Physique — 4° edigho — pag. 793, 795 ¢ 796). = 0 itacolumito tiptco 6 um arenito em que a mica é tao abundente que a rocha se decomp5e em lamelas flexiveis, © nome de Tiacolumi é dado nao sémente A ponta abrupta formada por esta euriosa rocha, que se levanta ao sul de Ouro Preto a1 757 m, mas 2 uma outra rocha, ma's elevada, a0 sul de Mariana (1 850 m). Os portuguéses as distinguiram pelos nomes de Pedra Menina € Itacolumi de Mariana. "Segundo o gedlogo FP. Lacourt, professor na Escola de Minas de Ouro Preto. eujo ol acothimento me pormitiu uma intelacdo rapida, ésses gnajeses cobrem, ultrapaseando-n, com “itacolumitos, a qual por sua vez recobre (chevauche”) a série de Minas inferior (Resumo da geologia da féIha de Ouro Preto, An. da Escola de Minas, n 27, Ouro Preto, 1935). Pag. 15 — Outubro-Dezembro de 1943 536 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Depois de ter assinalado os dois principais aspectos do Brasil tro- pical atlantico, é preciso tentar distinguir as linhas gérais de sua evo- lugdo morfologica. Superficies de erosio e Numerosos autores assinalaram superficies movimentos epirogénicos de erosdo no Brasil tropical atlantico. Para Wasuurne, ” a vertente oposta da serra do Mar de Santos é um peneplaino tipico. Harper e CHAMBERLAIN *? véem nas cristas da serra do Espinhaco, ao nordeste do Estado de Minas, os vestigios de uma peneplanicie pré-cretacica. Mau ™.assinala, ao longo do rio Doce, uma série de niveis em andares. Preston James* dis- tingue duas ou trés superficies a 1 000 m, a 1 400-1 500 mea 1 700-1 800 m. Morais Réco** considera no Estado de Sdéo Paulo uma peneplanicie eocénica e uma peneplanicie pliocénica. Seria certamente pouco verossimil qué um velho macigo como o das Brasilidas tivesse escapado a uma usura mais ou menos completa e a novos ciclos de erosdo (“reprises d’érosion”). Desde 0 Devoniano, os produtos de sua ruina nao cessaram de acumular-se a oeste e ao norte, parecendo descer de terras hoje desaparecidas, situadas ajém da zona das serras litoraneas., Os arenitos réticos que formam a cuesta de Botucatu no Estado de Sao Paulo nao constituem sua Ultima teste- munha, e, no reverso da cuesta, vé-se aparecerem, a alguns quilémetros de Botucatu, as primeiras testemunhas de uma nova série detritica, os arenitos de Bauru, de idade cretacica, largamente espalhados.&4 medida que se desce para o Parana (fig. 2). Das indicagées dadas pelos autores, é entretanto impossivel ter uma idéia precisa sdbre o ntimero, a extensdo e as deformagées das super- ficies de erosio. Nenhum ensaio de representacao cartografica foi ten- tado a éste respeito. E isto que tentamos fazer, utilizando como do- cumentos os estudos locais, fotografias, esbocgos e cortes, as recordacdes de viagens rapidas, enfim o exame atento de tédas as cartas topogra- ficas na escala de 1:100 000, publicadas’ pelos Estados de Sao Paulo'e de Minas Gerais Acreditamos de inicio ter identificado de maneira indiscutivel a superficie. de eros&o continental pré-permiana, fossilizada pela formacao de Santa Catarina, conforme foi acima referido, nas redondezas de Itu. Ela pode ser seguida no Estado de Sao Paulo, desbastada numa largura de 10 a 20 km ao longo de uma faixa de 100 km de comprimento no minimo, até as proximidades do rio Grande. Notavelmente aplainada perto do contacto com a cobertura, ela se eleva para leste, de 600 a 800 m em média, cada vez mais ondulada. Prolongando-se o perfil tangente 4s mais altas de suas ondulagées, chega-se as primeiras cristas apala- Wasuaunne, Petroleum geology, loc. cit. 2% HIaRpen ¢ CHAMBERLAIN, The geology of central Minas Gerais (Journ of. Geology, XXIII, 1917). © ©. Maut, Vom Itatiaya zum Paraguay. 3 PREsTon James, The surface configuration, of SE Brasil, loc. cit. © Morais Rico, Notas s6bre a geomorfologia de Sao Paulo, loc. cit. "7 -Nossa, carta (Lest. 1) resulta da redugio fotogréfica de 62 c6plas (“calques”) 2 1:100.000. As curvas de nivel das diferentes superficies séo cotadas em hectOmetros em nimeros romanos. Pag. 16 — Outubro-Dezembro de 1943 Est. XV Panorama tomado do Itapeva (1 980 m) para os altos vales maduros da serra da Mantiqueira. flovesta com araucdrias, na, bacla onde nasce o rio Piracuama, do qual se advinha 0 brusco mergulho numa garganta que entalha o abrupto. A esquerda, coméco de formacdo de ravinas, a mata sobe em cada talvegue. Campos nos dorsos Griédondadnn, ey r = mn eS) See Feuille 1 SN LEA Se 4 Bs aw Feuille © A porucaTus } oF wk “a enapant ta f LLL SALT ie ~ . . i | — an Low, - < Lis poste! es \ aC 5) \, el a RIO_DE Vronicrgt nov SANEIR Aumales de Geographic. N? 277. Echelle. de, j= 500.000, eo Sone Tes LLL ‘LIBRAIRIE ARMAND COLIN - PARIS iN WH. RSS g YE ASN eatin NA F nss | Jome XLIX, 1940-PLL PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 837 chianas atingindo 1 000 m, como a serra de Cabral & leste de Campinas. Deve-se supor que tédas as cristas apalachianas derivam desta super- ficie ? No o cremos. Sem divida pode-se admitir que ela esté longe de ter sido perfeitamente nivelada, e é certo que foi deformada por movi- mentos do solo. Entretanto as desigualdades constatadas, 14 onde a continuidade da superficie é certa, sio bem menores do que as das cristas; querendo-se tocar o nivel médio destas, dever-se-ia considerar nao um aumento, mas sim uma diminuicéo da declividade da super- ficie fossil. Por mais interessante que seja a superficie pré-permiana, ela 6 um caso particular, uma excecéo na morfologia do Brasil tropical atlantico. O aspecto mais comum do relévo no dominio das rochas antigas é 0 Seguinte: colinas onduladas, cortadas por vales com uma centena de metros de profundidade e dominadas por cristas ou escarpas. A altitude média das colinas aparece singularmente uniforme em uma regiao deter- minada, a das cristas ou das escarpas é muito mais varidvel, mas estas variagGes so, ora muito bruscas ao longo de tracados retilineos, ora muito lentas. Encontrando-se éste esquema em um certo numero de panoramas, seja ao norte de Sao Paulo, seja no alto Paraiba, seja nas redondezas de Belo Horizonte, Ouro Preto, e mais ao sul no Estado de Minas; reconhecendo-o por téda parte quando se inspecionam as cartas — por pouco expressiva, entretanto, que ai seja em geral, a represen- tagdo da topografia —, no se pode escapar & conclus&o de que o macica antigo do Brasil tropical atlantico guarda a marca de dois modelados da erosdo levados até 4 maturidade. Esta maturidade das formas é as vézes tio evidente em altitudes superiores a 1 500 m, como em altitudes mais humildes, nao ultrapas- sando geralmente 1 000 m. Os campos da zona das serras no séio apenas alturas deflorestadas, mas regides de topografia ondulada com solo pro- fundo, com largos vales, suspensos acima de colinds onduladas, das quais os separam grandes abruptos e vales relativamente estrangulados. & surpreendente ver do alto de um cume da Mantiqueira, como o Itapeva, a floresta subir ao longo dos entalhes estreitos que ultrapassim a borda da escarpa, comegando a morder as relvas onduladas dos campos (est. XV). O que vimos a ésse respeito nos Campos de Jordéo, nos Campos de Paraiso, a carta nvu-lo mostra, e acreditamos poder notd-lo também nos Campos de Ribeiréo Fundo, ainda mais extensos, a leste de Socorro, e em muitos outros pontos. - Esta “superficie dos campos”, como quereriamos chamé-la, é. en- ‘tretanto bastante limitada. E antiga, se bem que, sem dtivida, mais recente que a superficie pré-permiana. Seus limites podem ser escarpas retilineas, como a frente da Mantiqueira ou a dos Campos de Ribeirao Fundo, ao pé dos quais se alinham o alto Jaguari, afluente do Tieté e o io Itaim, afluente do Sapucai, escarpas geralmente voltadas para o ul ou o sudeste e que sao evidentemente as bordas falhadas ou violen- amente flexuradas de blocos basculados. Do lado do norte e do oeste, é geralmente num contérno recortado e menos preciso que a alta super- Pag. 17 — Outubro-Dezembro de 1943 -32- 538 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA ficie dos campos se interrompe. Freqiientemente ela se adelgaca e passa a_cristas arredondadas, alongadas no mesmo sentido que os grandes abruptos, de SO a NE. As vézes ai se insinuam vales de 200 a 300 m de profundidade, mas de seccdo larga e dilatada (“évasée”), como as cabeceiras do Sapucai, tributario do rio Grande, que sobem até a crista principal da Mantiqueira, ou as do Mogi-Guagu, cujas aguas vao ao Parana pelo oeste. 5 Trata-se evidentemente de um degrau de erosao, cuja altura sempre ultrapassa 200 e pode atingir 400 a 500 m. Abaixo desta altitude, encon- tram-se raramente alturas comparaveis aos campos tipicos, salvo, talvez, no alto rio Pardo, particularmente nas redondezas de Pogos de Caldas, onde os ciclos recentes de erosdo tiveram dificuldade em atacar um macico sienitico. O que domina é a paisagem das colinas mamelonares dominadas por cristas curtas com orientagées variaveis, mas de altitudes assaz constantes; é raro que um panorama de uma cingtientena de qui- lémetros de raio ai revele diferengas locais de mais de 200 m. Elas sobem regularmente de 1 000-1 100 m a 1 300-1 400 m, seja para o sul, afastando- se do rio Grande, seja para leste, afastando-se da zona em que aflora a superficie pré-permiana. Esta Ultima superficie apareceria cortada novamente por aquela, na qual a erosdo, recomegando, retalhou cristas de rochas duras, e compreende-se que ela tenha desapare- cido na maior parte do macico antigo. A “superficie das cristas médias”, prolongada para o oeste, passaria acima do contacto com a cobertura permo-tridssica, e fica-se tentado em concorda-la com a frente da cuesta de Botucatu, que atinge freqiientemente 900 m (fig. 7). Trata-se, com téda verossimilhanca, de uma superficie de erosao ter- cidria mas nao, como alguns parecem ter pensado, ** de uma superficie pliocénica. Fig, 1 — Relagéo das diferentes superticies, Corte ideal O-E, P. Superticie Pré-permiana —"C, Supericie' de Campos’ — , Superfcie das erictas medias # preciso levar em conta, com efeito, numerosos fatos importantes: a existéncia dos profundos entalhes que assinalamos nas elevacGes for- madas pela superficie de campos, o largo desenvolvimento de colinas onduladas, que as cristas dominam, enfim, a extensaéo geral de uma topografia amadurecida, cujos pontos baixos estao recobertos por sedi- mentos pliocénicos continentais no alto Tieté e no médio Paraiba. Descendo os diversos bracos do alto Sapucai, por exemplo, nao é ao nivel das cristas médias que se chega, mas sensivelmente mais abaixo; emoldurados por patamares, depois cada vez mais largos, com fundo chato e pantanoso, para as bandas de Pouso Alegre, os vales séo apenas entalhados de uns 100 m, num labirinto de colinas, que nao ultrapassam % BRaNNeR, WaSHBUENE, Maui, Monais Réco, etc. Pég. 18 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLGGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 339 900 a 1 000 m. A mesma aparéncia 6 encontrada quando se desce para oeste, 20 longo dos dois rios Mogi, do Jaguari ou do Atibaia, cabeceiras do rio Piracicaba, ou mesmo ao longo do rio Jundiai. Déste lado, o nivel de colinas mamelonares parece perder-se ou confundir-se com a super- ficie pré-permiana que éle entalha nas suas partes mais altas, enquanto que permanece acima de suas partes mais baixas (fig. 7). Parece’que as duas superficies podem ser distinguidas bastante claramente nas cer- canias de Jundiai. Ao sul desta pequena cidade a estrada de Sdo Paulo se insinua através de um relévo muito fragmentado, mas no qual se distingue facilmente, do alto de um mirante bastante alto, o nivel das colinas mamelonares, prolongando-se para o sul até as proximidades do Jaragua, que o domina a mais de 200 m. Neste lugar, Sao: Paulo esta a vista. Dai se chega até o bordo da escarpa da serra do Mar, sem en- contrar altitudes superiores a 800-900 m, salvo em alguns pontes. Nao é possivel ter-se divida sébre a surpreendente maturidade da topografia em térno da antiga bacia lacustre, cujos depdsitos argilo- arenosos formam o solo da capital paulista e todos os autores a consi- deram como formada no Neogéneo. : Todos est&éo de acérdo em estender as mesmas conclusdes a quase téda a bacia média do Paraiba, onde as formacées pliocénicas sao ainda mais extensas. A dissecacéo mais avancada déste lado explica-se facil- mente pelo vigor de um rio que desemboca diretamente no Oceano, e cujo vale, largamente escavado nas argilas lacustres, esté‘a 150 m abaixo do do Tieté. Por ai se explica também a captura, hé muito assinalada, *” dos dois bracos superiores do antigo Tieté, 0 Paraibuna e o Paraitinga. Na auséncia de cartas de 1:100 000, é dificil distinguir o que pode restai de uma topogratia mais antiga que o Neogéneo. Altura ultrapassando 1000 m, como a.serra de Quebra Cangalha, e mesmo 2000 m, como o macigo de Boa Vista (2080) que fica em frente ao Itatiaia, parecem entretanto indicar que o ciclo de erosdo neogénica nao féz desaparecer todos os vestigios dos movimentos do solo que afetaram as superficies anteriores. Primeiras conclusées Depois desta andlise chegamos & nogiio de trés superficies de eroso, além da superficie pré- -permiana. A mais recente, cuja idade neogénica é bem determinada, tem © seu maior desenvolvimento na bacia do Paraiba e no alto Tieté, onde ela foi ligeiramente empenada (‘“gauchie”) e sobretudo notavelmente re- duzida pelo desabamento que féz chegar 0 Oceano ao pé do degrau tecténico da serra do Mar. A ela pode-se ligar, a oeste e ao norte, 0 nivel das colinas onduladas que recorta a superficie pré-permiana, e nado parece ter sofrido perturbacdes notaveis. As cristas apalachianas que a dominam sao as testemunhas de uma superficie mais antiga, que parece poder concordar-se com a cuesta de Botucatu e seria devida a © Desde Woovworrm (Expedition to Brazil and Chile, Bul. Mus. of comparative Zool., Harvard ‘University, LVI, 1912), que definiu de modo breve e muito exatamente as suas aperéncias (pags. Joocluiy ésaq capture for muitas Vézes descrita, sem que nada de novo se trouxesse. ‘Todos esto de acérdo em recué-la até ao Quaternério antigo. Pag. 19 — Outubro-Dezembro de 1943 540 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAPIA um ciclo de eroséo paleogénica. Recortando o prolongamento ideal da superficie pré-permiana, ela parece ter sofrido um levantamento geral para o sudeste e deslocagées orientadas para SO-NE ou E-O. E impos- sivel nao distingui-la da alta superficie de campos, violentamente fra- turada na Mantiqueira, certamente mais antiga, mas cuja idade é ainda duvidosa. Estas conclusGes sao tiradas do exame do macigo antigo no Estado de Sio Paulo até aproximadamente o meridiano de 45° (fdlha oeste de nossa carta), isto 6, da regiao mais complicada, e por isto mesmo a mais interessante e felizmente a mais bem conhecida. E necessario completa-las considerando de um lado o que se passa mais a leste, na parte do Estado de Minas em que dispomos de cartas topograficas. e estudos geolégicos, e de outro lado o que esté a oeste da cuesta de Botucatu, cujas relagdes com o macigo antigo devem ser precisadas. As superficies de erosio e — Pela estrada de rodagem ou pela via fér- suas deformagées no sul rea, a viagem da Capital Federal & capital do Estado de Minas do Estado de Minas da a principio a im- : pressdo de uma rude regiao de montanhas. Trata-se de escalar sucessivamente a escarpa da serra do Mar, excepcio- nalmente elevada acima da enseada do Rio de Janeiro, depois a da Man- tiqueira que atinge quase 2 800 m no Itatiaia. Razéo de mais para ficar-se surpreendido com a monotonia das paisagens que se desenrolam em seguida até as proximidades de Belo Horizonte; impressao mais viva ainda numa viagem por aviao, onde o corcoveamento confuso das colinas se segue a perder de vista. As cartas de 1:100 000 permitem precisar isso melhor. Ai se encontram novamente as mesmas formas incaracte- risticas, com altitudes variando raramente de mais de 100 m na extens&o Esta uniformidade pode ser atribuida a extenséo do embasamento gndissico. Com efeito, os relevos acentuados que se encontram a partir de Queluz em direc&o a Ouro Preto e Belo Horizonte sdéo formados por micaxistos, xistos sericitosos e quartzitos das séries metamorficas de Minas e ce Itacolumi. -Entretanto as mesmas séries, aparecendo ao sul de Sao Joao del Rei, mal interrompem a monotonia do relévo. Tragando as isoipsas segundo as cotas dos pontos mais altos, fica-se surpreendido ao vé-las alinhar-se, sem hesitag4o possivel, normalmente aos cursos dagua. & preciso admitir que se trata de uma superficie de erosdo desenvolvida numa muito grande extensio, em condicGes notaveis de estabilidade. E isto que nos leva a colocar de preferéncia essas formas muito evoluidas no Terciario antigo, em vez de no Plioceno; mas é€ possivel que sua elaboracéo tenha continuado, cada vez mais lentamente, até a época atual, na bacia su- perior do rio Grande, até a orla das serras onde esta sua nascente e até a linha divisora das aguas com o rio Doce ou com o rio Sao Francisco. © A carta de 1:100 000 do Estado de Minas, inferior & do Estado de Sio Paulo na expresséo do rélé¥o, 6-Ihe, entretanto, superior pela abundancia de cotas, que no deixa nenhuma divide sObre nossas ‘conclus6es. Pig. 20 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO Sat Se os relevos acentuados da regiao mineira de Ouro Preto-Belo Horizonte resistiram ao aplainamento geral, sua constituigéo geoldgica teve nisso certamente o seu papel; nfo se poderia duvidar disso ao cons- tatar-se a importancia que tem af 0 itabirito. Mas a andlise do terreno nos mostrou aqui orientacdes tecténicas e escalonamentos de superfi- cies, indicando uma histéria perturbada. Entramos num dominio novo, em que a estabilidade da plataforma do rio Grande nao é mais a regra, e onde, por outro lado, se manifestam orientagdes que sfo desconhecidas ou muito raras nas serras litoraneas de S. Paulo. Os dobramentos da série metamérfica de Minas se alinham segundo a direg&o N-S; pode-se atribuir a movimentos péstumos, a dobras de fundo_(‘“plis de fond”) da mesma diregdo, a alternancia de altitudes e depresssdes que nossa carta revela: levantamento da bacia superior do rio das Velhas, abatimento da bacia superior do rio Doce, rugas paralelas da bacia superior do rio Muriaé, cujos pontos mais altos sdo a serra de Sao Sebastiao e o macico da Bandeira. Sem permitir certa precisdo, as cartas ao milionésimo e o esbégo geolégico do Estado de Minas na mesma escala™ permitem prever que éste regime 6 0 que domina mais ao norte, em 4 ou 5 graus de latitude pelo menos, em téda a bacia superior do rio Séo Francisco. Um exame rapido do sul do Estado de Minas permite pois, completar com felicidade © que ensina a analise do relévo e da estrutura do macigo antigo do Estado de Sdo Paulo. Convém agora voltar 4 borda ocidental e as suas relagdes com a cuesta de Botucatu. Acuestade A existéncia de um degrau de erosio cuja frente esta Botucatu voltada para o macico antigo, correspondente. ao bordo das chapadas formadas pelo capeamento do macigo antigo do Brasil oriental, foi em boa hora assinalada, e os morros de encostas abruptas — outrora uniformemente cobertos de floresta, agora quase por téda a parte desflorestados para acolher as plantagées de café, que nao cessam de atrair as atencdes na estrada de S40 Paulo para 0 norte até o rio Grande —, foram descritos e corretamente interpretados como as testemunhas de uma grande’ cuesta, particularmente | por Maut e por Morats Rico. Todavia, continuava a ser dificil conceber a natureza desta cuesta e suas relagdes com o macico antigo, na ausén- cia de qualquer figuracéo exata de seu tragado numa escala que per- mitisse uma visio de conjunto.* Nossa carta (félha I) da éste tragado para téda a extens&o em que dispomos de cartas de 1:100 000. Pode-se_ dela tirar imediatamente uma série de conclusdes interessantes. A cuesta é em téda parte extremamente recortada, evidentemente gragas aos numerosos vales conseqiientes, quase todos ainda com sua fungao % Mapa geoldgico do Estado de Minas Gerais organizado por Dyatma Gutmanizs e Orivro Bansosa, 1:1 000 000, Belo Horizonte, 1994, ® Pode-se ser tentado a procuré-la na carta geoldgica ao miltonésimo do Estado de So Paulo. Infélizmente as divisées estratigraticas séo af concebidas de tal forma que o tragedo da cuesta fica completamente confuso. Pag. 21 — Outubro-Dezembro de 1943 saa REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA normal. O Jacaré Guagu, afluente do Tieté parece o unico a ter sido decapitado por uma (ou numerosas) cabeceira do rio Corumbatai, de tracado obseqiiente. Entretanto a cuesta recuou: fortemente, particularmente ao sul, onde sua frente esta a 120 km da borda do macigo antigo; e, como é normal, é déste lado que ela é mais recortada, 0 vale conseqiiente do Tieté formando um tridngulo cuja altura atinge 70 km. A frente da cuesta se aproxima cada vez mais da borda do macico antigo, para o lado do norte. Perto de Mococa, so é separada desta por uma quinzena de quilémetros. Se sua altitude absoluta se elevou de cérca de 150 m, sua altitude relativa diminuiu de mais da metade e os vales conse- qiientes, que descem pela contravertente da cuesta, sobem cada vez menos para além da frente, quando se vai até Franca. Todos éstes fatos demonstram, sem duvida alguma, que se trata de um relévo de erosdo desigualmente evoluido, quer pela altitude mais forte do embasamento antigo para o norte, quer pela espessura maior da cobertura para o sul. Com efeito, a série detritica permo-carbonifera, cujos xistos argilosos permitiram o largo desenvolvimento de uma de- pressio com formas suaves, desaparece entre Mococa e Franca; * sua espessura e sua complexidade aumentam para o sul, onde os gedlogos distinguem numerosos andares: os arenitos de Passa Dois, que superam o Glacidrio propriamente dito, tornados mais resistentes pela existéncia de silex, sféo capazes de dar em alguns lugares indicios de cuesta. A propria cuesta ndo é exatamente comparavel aos exemplos co- nhecidos na Europa, onde se reconhece uma camada resistente (comu- mente calcdrea) ao longo da cornija que coroa a frente. Os arenitos réticos nao sao, por si proprios, uma rocha muito dura. E a derrames de basaltos antigos, aparecendo em numerosos niveis, mas sobretudo desenvolvidos no tépo da série, que elas devem o fato de poder dar encostas bastante ingremes. Assinalaram-se endurecimentos locais por metamorfismo no contacto das chaminés; mas trata-se, nesse caso, de detalhes, em comparagéio com os lengéis eruptivos largamente esten- didos. Entretanto, a continuidade désses lengdéis esta longe de ser per- feita. Os panoramas que se desenrolam de um ponto culminante da cuesta, quer para Botucatu, quer para Saéo Pedro, quer mais ao norte, mostram sempre diferengas notaveis no aspecto dos promontérios da cuesta; ora uma sé cornija, ora numerosos patamares, cuja correspon- déncia a outros tantos lencéis basalticos é facil de verificar-se (est. XVI). Essas condicées estruturais certamente contribuiram fortemente para a fragmentacdo da cuesta. Parecem principalmente poder explicar seu desdobramento na regidio de Ribeiro Preto — Franca. Entretanto é impossivel atribuir-lhes o aspecto geral do tragado, que resulta do recuo, mais ou menos rapido e do desenvolvimento maior ou menor dos vales conseqiientes segundo a inclinag&o das camadas. % Mais além da regiéo levantada em 1:100 000, (isto é, fora do quadro de nossa carta), a carta geoldgica so milionésimo do Estado de Séo Paulo assinala o-afloramento dos gnaisses ‘no vale do rio Grande, diretamente recobertos pelo rético. Pag. 22 — Outubro-Dezembro ae 1943 PROBLEMAS MORFOLOGICOS. DO. BRASIL. TROPICAL ATLANTICO 543 & ainda esta inclinag&éo que convém considerar, ao mesmo tempo que a do prdprio planalto, se se quer precisar as relagdes da cuesta com o macigo antigo. Segundo nossas medidas barométricas nos arredores de Botucatu e de Sao Paulo, a declividade da superficie dos basaltos, que formam a contravertente da cuesta na vizinhanca da frente e dao, por sua decomposicao, a famosa terra roxa, nao é inferior 4 da penepla- nicie féssil pré-permiana e dos arenitos ou xistos da série de Santa Cata- rina (5 p. 1 000), mas sensivelmente mais forte do que a do planalto, determinada segundo as cartas topograficas de 1:100 000 sébre uma extensdo bastante grande (0,75 p. 1 000). O planalto deve ser consi- derado como uma superficie de eroséo posterior ao Cretdceo (arenito de Bauru), estabelecida em relag&o com 0 lago eocénico cujos depésitos se encontram perto do Parand. & apenas na borda da cuesta que a espessura reduzida do arenito de Bauru permitiu o desbastamento da superficie estrutural dos basaltos. & pois evidente que se, prolongando-se 0 aclive do planalto para leste, chega-se ao nivel de cristas apalachianas a cérca de 1 200 ou 1 300 m (fig. 7), a superficie de erosio assim deter- minada sO pode ser de idade paleogénica. Este resultado justifica a classificagéo dos niveis que propusemos e permite formular as seguintes conclusées gerais sébre a evolugéo mor- folégica da parte do Brasil tropical atlantico que estudamos. Conclusées gerais Procurando precisar as relacgdes-do relévo com a estrutura, podemos distinguir no macigo antigo muitos dominios diferentes: 1.°) O das serras litoraneas, onde a orien- tagao SO-NE do relévo e da réde hidrografica corresponde 4 das camadas de gnaisse, mas onde os grandes desnivelamentos s&o devidos a um jogo de blocos deslocades por falhas ou flexuras que desposaram as diregdes das antigas dobras e estéo voltadas o mais freqiientemente para o Oceano; o reverso dos blocos oferece, em altitudes elevadas (1 500 a 2 000 m), uma topografia de maturidade, cuja idade, sem dtvida bas- tante antiga, parece ser dificil de fixar; 2.°) O dominio da série metamérfica (de Séo Roque no Estado de Sao Paulo, correspondendo sem duvida & série de Minas no Estado do mesmo nome), caracterizado por cristas de rochas duras descontinuas e de orientagéo varidvel. No conjunto poder-se-ia af reconhecer feixes de dobras menos rigidos formando uma virgagéio (N.R.) (“virgation”) caracterizada entre o bordo ocidental do macico antigo e a aresta prin- cipal da Mantiqueira. A altitude dessas cristas varia entretanto, em - geral, de maneira demasiado continua para que nao se seja obrigado a ai ver cristas apalachianas, testemunhas de uma superficie de erosao, que alids parece localmente conservada sob a forma de alturas ondu- ladas, ao norte do grande sulco E-O seguido pelo alto Mogi-Guacu e “por dois afluentes do Sapucai; NOTA DA REDACAO — © térmo “virgacio” (“virgation”), empregado por Evvarpo Suzss em sua obra A Face da Terra (Das Antiitz der Erde), designa o tracado dum feixe de dobras cujas direcoes divergem, encurvando-se, & maneira das hastes de um ramalhete (Tomo 1.°, pag. 356-da edigho francess, tiadueso de Euotuaron, pe Masornix). A palavra entrou rapldamente he linguagem fica internacional. (F. Pag. 23 — Outubro-Dezembro de 1943 sah REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA 3.°) O dominio da plataforma do alto rio Grande, vasta extensdo de relévo ondulado, elevando-se insensivelmente de 1 000 a 1 200-1 300 m, que parece ter gozado de uma estabilidade excepcional, a maturidade do relévo tendo sido perpetuada desde o Tercidrio ou mesmo do Cretaceo. 4.°) Nos reconhecemos. nas cabeceiras do rio Doce e do rio das Velhas 0 comégo de um novo dominio, onde a série de Minas esta afetada por dobras com o eixo na diregdo N-S, cuja orientac&o se mani- festa em pesadas cristas bastante continuas, formadas por quartzitos, € onde dobras de fundo, de idade relativamente recente, mas da mesma orientacdo, dio uma alternancia de depressdes, que reproduzem num nivel inferior o modelado da plataforma do rio Grande, e de serras rela- tivamente audaciosas até 4 massa culminante da Bandeira (2 890 m). 5.°) Enfim, estabelecemos de maneira certa a existéncia no Estado de Sao Paulo de uma superficie de erosao fossilizada pela série detritica continental, chamada de Santa Catarina. Sua extensio poude ser pre- cisada numa faixa de 10 a 20 km de largura e 200 km, no minimo, de comprimento. Sua declividade é em téda parte mais forte que a da superficie de cristas apalachianas que recortariam seu prolongamento para leste. Ela ultrapassa ainda mais a rampa da superficie suavemente ondulada, acima da qual se elevam essas cristas em tédas as bacias dos afluentes do Parana; superficie esta que se encontra mais largamente desenvolvida na diregio de Sao Paulo e da bacia superior do Paraiba; 6.°) Somos, pois, conduzidos a distinguir quatro superficies de ero- so. A tnica cuja idade esta fixada sem que haja diividas, aflorando apenas numa faixa estreita, 6 nao obstante preciosa pelo corte que ela faz em duas superficies necessariamente mais recentes, que sdo sepa- radas por 200 a 300 m em geral. A mais baixa é indicado assinalar uma idade neogénica, dada a sedimentag&o continental pliocénica que & mes- ma est ligada, no Paraiba e no alto Tieté. Quanto 4 mais elevada (super- ficie das cristas), pode-se pedir sua idade a uma ligacgdo hipotética com a frente da cuesta de arenitos réticos guarnecidos de basaltos, que se Jevanta além de uma grande depress&o escavada nas camadas menos resistentes da série de Santa Catarina. A declividade das camadas sendo da mesma ordem que a da superficie pré-permiana, 0 prolongamento da superficie das cristas que vém aflorar na frente da cuesta corta o Cretaceo e vem concordar com o Tercidrio do Parana. Resta a alta superficie dos campos, cuja idade nada permite fixar. Duas hipéteses pederiam ser consideradas: ou bem a superficie esteve, no Cretaceo, em relacao com o arenito de Bauru, sendo a superelevacado devida aos movimentos tercidrios; ou bem éle derivaria da superficie pré-permiana, cujo declive diminuiria para o centro de um abaulamento, Tais séo as conclusédes as quais nos parece conduzir 0 exame dos fatos conhecidos no raio que nos foi accessivel e na extenséo em‘ que cartas topograficas de 1:100 000 permitem uma anilise relativamente precisa. Nao dissimulamos as fraquezas que poderao aparecer numa tal construgéo, quando os conhecimentos geolégicos tiverem progredido suficientemente e quando os levantamentos topograficos tiverem coberto » Pag. 24 — Outubro-Dezembro de 1943 epinyna sop ovsuayze v vind misa.o0xf mp opdmpsvaeq * woo sppouoropiai spypiayosp ap syanmy “21Se0pNS o DUDE OLpEE ONS ap OJAad NPDU AX "19H PROBLEMAS MORFOLOGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 345 regides ainda desconhecidas nos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo. Se entretanto, & luz déste ensaio de sintese, nao se teme lancar um olhar para além das regides por ela diretamente interessadas, podev- se-ia esbocar mais ou menos da seguinte forma a evolucéo do macigo antigo do Brasil tropical atlantico. Este antigo embasamento, que se manteve insensivel aos dobra- mentos desde o Primaric, como os outros testemunhos das grandes massas continentais gondwanicas, tem todavia seu relévo muito dife- renciado, onde se reconhecem os vestigios de uma historia com nume- rosos episddios. Os mais antigos nao sao despreziveis, pois a lei do rejuvenescimento, imposta por movimentos de conjunto, sempre foi 9 deskastamento, por eroséo, das massas resistentes, orientadas pelos dobramentos anteriormente apagados; e os préprios movimentos d2 conjunto produziram tensées, resolvidas por deslocamentos cuja orien- tacéo acompanhava a da tecténica antiga. A localizacéo dos gnaisses e micaxistos, certamente anteriores ao Primario, também tem sua influéncia no dominio das serras litoraneas. Os feixes de dobras do Primaério metamérfico se revelam ainda nas cristas apalachianas. Entretanto a tendéncia geral parece ter sido para uma inversio das primitivas relagdes de altitudes. O embasamento gondwanico se inclinava para o norte e para o oeste como a superficie fossil pré-permiana e se estendia largamente para leste, no lugar do atual Oceano. Seu fracionamento comegou ja no Cretaceo, cujos depé- sitos marinhos est&o na Bahia; mas, nas regides aqui estudadas, 6 para a Area de abatimento do Parana que ainda se dirigiam a drenagem e o aluvionamento. A superficie de erosdo dos campos, qualquer que seja a solugio que se adote para sua idade, existia quando o abaulamento se acentuou no que deveria ser a zona de serras litoraneas. O rebordo da Mantiqueira podia j4 ter sido esbocado no principio do Tercidrio, talvez mesmo a fratura da frente oriental dos Campos de Ribeirao Fundo. Foi preciso entretanto um longo periodo de tranqiiilidade para que se realizasse a vasta plataforma de erosao do rio Grande. A cuesta dos arenitos réticos, se ja estava esbocada, encontrava-se nesse momento notavelmente a leste da posicio atual. O momento decisivo é 0 Neogéneo, % ent&o que a dobra de fundo se exalta, na zona de serras litoraneas, divide-se em dobramentos, ondulacgées e tem como resultado fraturas alinhadas. A frente da Mantiqueira é claramente desenhada; no seu sopé se alinham os lagos do Paraiba e do alto Tieté. A erosdo faz desa- parecer a superficie paleogénica cujas cristas apalachianas permanecem como testemunhos, e desenvolve uma nova superficie que se encontra em muitos lugares no interior e se estende quase que até o abrupto da serra do Mar. No Quaterndrio, 0 j6go dos blocos esta quase termi- nado; 0 embasamento antigo desce para a féssa atlantica por trés de- graus, dos quais 0 wltimo esté recoberto pelas ondas do Oceano. Déste momento data também o grande recuo da cuesta dos arenitos réticos para oeste e as capturas evidentes sébre sua frente; 0 afloramentao da superficie fossil pré-permiana mudou de lugar, pois, enquanto que a Pig. 25 — Outubro-Dezembro de 1943 546 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA erosdo atacava suas partes mais altas a leste, desbastava uma nova faixa a oeste. E enfim a partir do Plioceno e principalmente no Quaterndrio que se desenvolveu a ofensiva da drenagem direta para 0 Oceano. Seria surpreendente, se fésse de outro modo, que as areas ganhas pela bacia do Paraiba nao féssem mais substanciais. O grande abrupto da Manti- queira permanece intacto, e os afluentes da margem esquerda do grande rio sé ganham terreno, com os rios Pomba e Muriaé, 14 onde o degrau, continuo desde as nascentes do Atibaia até as do rio Grande, se divide (como o mostra nosso mapa, félha II) em numerosas flexuras de ampli- tude relativamente reduzida; ainda ha a levar em conta o rio Doce, favorecido éle proprio por uma penetragéo profunda da subsidéncia atlantica. A captura dos antigos bragos orientais do alto Tieté (Parai:- tinga e Paraibuna) pelo Paraiba é a mais espetacular vantagem alcan- cada; tudo contribuia para torna-la inevitavel: nao somente as facili- dades oferecidas para a eroséo atlantica pelo Plioceno, outrora mais extenso, mas também as dificuldades que encontrava o Tieté para atravessar, ao sul de Jundiai, as cristas apalachianas, persistindo em seguir um tragado antigamente fixado sébre a superficie paleogénica e que nao mais corresponde as condicées atuais. * RESUME L'Auteur est Professeur de géographie & 1s Sorbonne — Directeur de l'Institut de Géographie de VUniversité de Paris et Secrétaire général de I'Union Géographique Internationale. Aprés avoir souligné l’adaptation appalachienne de I'hydrographie & la direction générale Sud-Ouest — Nord-Est des bandes gneissiques plissées qui forment le socle des serras littorales (Serra do mar et Mantiqueira), M. oz Maxronxz montre que les grandes dénivellations sont dues 4 un Jeu de blocs disloqués par des failles ou des flexures, qui sont orientées comme les anolens plis, et gui ont leur versant abrupt vers Océan tandis que sur leur revers, en pente douce vers l'intérieur, entre 1.500 et 2000 ms, s'observe une topographle de maturité avancée. L'age de cette surface des Campos, comme on peut I'appeler, semble difficile & fixer. On peut envisager qu’elle ® été en rapport avec les grés de Bauru, Ia’ sur élévation étant due aux mouvements tertiaires, ou qu'elle dérive d’une autre surface d’érosion prépermienne dont la pente diminueralt vers le centre d’un grand bombement. I existe en effet dans I'Etat de Saint-Paul une surface d’érosion fossilisée par la série détritique continentale du systéme de Santa Catarina, ce qui conduit @ Tul attribuer un age prépermien. Elle s’étend sur une bande large de 10 & 20 km et longue de 200 km ao moins. Sa pente est forte et, si on Ia prolonge vers I'Est, elle passe au-dessus du niveau des crétes appalachiennes. D'autre part, dans les séries plissées métamorphiques algonkiehnes de Minas et de Sto Roque, Vérosion ‘ditférentiolle a laissé en saillie des bandes de roches dures d'altitude si peu variable qu’on doit y voir des crétes appalachiennes témoins d'une autre surface d’érosion qui recoupe la surface prépermienne et est par conséquent plus récente. Dans le haut Rio Grande, Une plateforme d'une stabllité exceptionnelie s’éléve insensiblement de 1000 & 1 200-1 300 m. Elle développe un relief de maturité sans doute depuis le Tertialre ou méme le Crétacé. Cette “surface des crétes moyennes” est peut-étre liée, en effet, au front des grés rhétiens, elle recouperait le Crétacé et viendrait se raccorder au Tertiaire du Parand, ce qui Iui donnerait un age paléogene. Enfin une quatriéme surface mollement ondulée s'observe dans Jes bassins des affluents du Parané et se retouve plus largement développée encore autour de Saint-Paul et dans le bassin supérieur du Paraiba. Elle se tent & 200 ou 300 m environ au-dessous de la surface paléogéne et, en raison de la sédimentation continentale pliceéne du Paraiba et du haub Tiété, 0 est Togique de lui attribuer un ge néogéne. Ainst M, Dz Marronwe est amené & distinguer quatre surfaces d’érosion, ce qui suppose de longues périodes de stabilité. Les mouvements importants datent du néogéne ou des plis de fond affectent le socle ancien, produisant dans le domaine du Rio Doce et du Rio das Velhas une alternance de dépressions et de bombements orlentés N-S, comme les plis de la série métamorphique de Minas Gerais et sexaltant dans le maseif de le ‘Bandelra. C'est au méme mouvement qu’ll faub attribuer l'exaltation de la Mantiquelira et de la serra do Mar dont les fronts orlentaux se divisent et aboutissent & des flexures et des failles alignées. ‘Au Quaternaire, @ la fin de ces mouvemonts, le socle ancien descend vers l'Océan en trois gradins dont le dernier est partiellement submerge ‘Le travail de I'érosion s'intensifie avec les mouvements du sol du Néogéne. Modelés par les affluents du Parand, qui coulent vers l'Ouest, la cuesta de Botucatu se festonne et recule vers TOuest, tandis que ‘des captures se produlsent dans la dépression subséquente qui la borde & VEst: im surface fossile prépermienne est progressivement exhumée vers l'Ouest, tandis que Version en attaque les parties orienteles les plus élevées. Pég. 26 — Outubro-Dezembro de 1943 ey r = mn eS) See Feuille 1 SN LEA Se 4 Bs aw Feuille © A porucaTus } oF wk “a enapant ta f LLL SALT ie ~ . . i | — an Low, - < Lis poste! es \ aC 5) \, el a RIO_DE Vronicrgt nov SANEIR Aumales de Geographic. N? 277. Echelle. de, j= 500.000, eo Sone Tes LLL ‘LIBRAIRIE ARMAND COLIN - PARIS iN WH. RSS g YE ASN eatin NA F nss | Jome XLIX, 1940-PLL PROBLEMAS MORFOLGGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO saT Enfin, M. De Marrowwe fait vigoureusement ressortir que o’est seulément a la fin du Pliocéne et surtout au Quaternaire que le drainage direct s'organisa vers 1'Océan, ce qui explique que “le grand abrupt de la Mantiqueira reste intact”; “la capture des anclennes branches orientales du haut Tiété (Parahytinga et Parahybuna) par le Parehyba est I'avantage le plus spectaculatre remporté” RESUMEN Después de haber subrayado la adaptacién apalacheana de la hidrogratia a a dtreccién general sudoeste-nordeste de Ins fajas gnilsicas plegadas que forman el escudo de sierras Costaneras (Sierra del Mar y Mantiqueira), el Sefior Ds MARTONNE muestra que las grandes desnivelaciones se deben a un fuego.de bioques desplazados por fallas o flexiones, que son orientadas como los antiguos pliegues, y que tienen su pendiente abrupta volvida hacia el mar, mientras que sobre su revés, en declividad suave para el interior, se observa, entre 1 500 y 2 000 metros, una topografia de maturidad avanzada. La edad de esa’ superficie de Campos, como se puede 'amarla, parece dificil de fijarse. Se puede considerar que ella ha estado en relacién con las areniseas de Bauru, debiéndose el levantamiento a los movimientos terciarios, 0 que ella derive de wna otra superficie de erosion prepermiana cuya pendiente disminuiria hacia el centro de un gran combado. Existe, con: efecto, en el Estado de Sio Paulo una superficie de erosién fosilizada por Ia serle detritica continental del sistema de Santa Catarina, lo que leva a atribuirle una edad prepermiana. Ella se, extende sobre una faja de 10 a 20 km de ancho y 200 km de largo por Io menos. Su pendiente es fuerte y, s! se la prolonga hacia el Este, ella pasa por encima del nivel de crestas apalacheanas. Por otro lado, en las series plegadas metarhérficas algonquianas de Minas y de San Roque, Ia erosion diferencial ha dejado en saliencia fajas de rocas duras de altitud tan poco variable que se deben ver ai crestas apalacheanas testimonios de una otra superficie de erosion que cuerta la superficie prepermiana y es por consecuencia més reciente. Bn el alto Rio Grande, una Plataforma de una estabilidad excepcional se levanta insensiblemente de 1000 a 1200-1 300 m. Ella desarrolla un relieve de maturidad sin duda desde el Terciario o mismo desde el Cretacico. Esta “superficie de las crestas medias" est talvez ligada, efectivamente, al frente de las areniscas réticas; ella cortarfa el Cretacico y vendria a concordar con el Terclario del Parand, Jo que le daria una edad paledgena. Por fin, una cuarta superficie suavemente ondulada se observa en las cuencas afluentes del Parané y se encuentra aun més desarrollada alrededor de San Paulo y en la cuenca superior del Paraiba, Ella esté situada a 200 0 300 metros, mas o menos, abajo de la superficie paledgena y, en _raz6n de la sedimentacién continental pliocénica del Paraiba y del alto Tieté, es légico atribuirle una edad nedgena. Asi el Sefior Dz Marroxwz es levado a distinguir cuatro superficies de erosién, lo que supone largos periodos de estabilidad. Los movimientos importantes son de fecha del Nedgeno, cuando pliegues de fondo han afectado el escudo antiguo, produciendo en el dominio del Rfo Doce y del Rio Velhas una alternancla de depresiones y de combados con orlentacién N-S, como los pliegues de la serie metamérfica de Minas Gerais, y clevéndose en el macizo de la’ Bandera. Es al mismo movimiento que se debe atribuir el levantamiento de la Mantiqueira y de la Sierra del Mar cuyos frentes orientales se dividen y terminam en flexiones y en fallas alineadas. En el Cuaternario, al fin de esos movimientos, ei escudo antigo decende para el Océano en ‘tres escalones de que ef ultimo estd parcialmente sumergido. El trabajo de la erosién se intensifica con los movimientos del suelo en el Neégeno. Modelada por los afluentes del Parané, que corren hacia el Oeste, Ia cuesta de Botucatu se recorta y ae repliega hacia el Oeste, mientras que se producen capturas en la depresién subsecuente que la limita al Este. La. superficte fosil prepermeana es progrestvamente exhumada hacia el Oeste, mientras que la erosién le ataca las’ partes orientales més elevadas. Por fin, el St. DE MagroNnz hace vigorosamente resaltar que es solamente al fin del Plioceno, y'sobretudo en el Cuaternario, que se organizé el drenaje directo para el Océano, Jo que explica que “el gran abrupto de la Mantiquelra queda intacto”; “la captura de las antiguas ramas orlentales del alto Tieté (Paraitinga y Paraibuna) por el Paraiba es la ventaja més espetacular que se ha ganado. RIASSUNTO Dopo aver posto in risalto ’adattamento appalachiano dell’idrografia alla diresione generale da Sud-Ovest a Nord-Est delle fasce gnelsiche riplegate, che formano lo zoccolo delle catene Itoranee (Serra do Mar e Mantiqueira), De Manrowne dimostra che 1 grandi dislivellt sono dovutt all’azione di blocchi spostat! per effetto di fenditure o di flessioni orientate come le antiche pieghe, col versante a pico rivolto all’Oceano, e declinanti con dolce pendio verso V'interno, ove presentano, fra 1 1 500 e i 2 000 metri, una topografia di avanzata maturita. E difficile stabilire Veta di questa superficie dei Campos (come son chiamati). Si pud supporre che sla stata in relazione coi grés di Baurt e sia stata sollevata nel movimenti terziarl, oppure che derivi da ‘un‘altra superficie d’erostone pre-permiana, le, cui inclinazione dminuirebbe verso 1 centro d'un grande rigonflamento. 7 Esiste effettivamente nello Stato dl San Paolo une superficie .d’erosione, contenente fossili della serle detritica continentale del sistema di Santa Caterina, che pertanto deve risalire all'epocapre-permiana. Forma una fascia larga de 10 a 20 km e lunga almeno 200, con inclinazione forte, e tale che, prolungando tdealmente {1 suo profilo verso Est, lo sl vede passare sopra il livello delle ereste appalachlane. Draltra parte, nelle serie riplegate metamorfiche algonchiane di Minas e di Séo Roque, Kerosione differenziale ha fatto sporgere fasce di rocce dure, d'altezza cosi poco variabile che devono essere considerate creste appalachiane, contrassegni d’un'altra superficie di erosione, che taglia la superficie pre-permiana, ed é, pet conseguenza, pitt recente di essa. Nell'alto Rio Pag. 27 — Outubro-Dezembro de 1943 548 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Grande, una piattaforma d’eccezionale stabilita sale Insenstbilmente da 1 000 a 1 200-1 300 metrl, con-un rilievo di maturité che senza dubbio risale al Terziario e forse al Cretaceo. ‘Questa “superficie delle creste medic", forse legata alla fronte del grés retici, taglierebbe M1 Cretaceo e verrebbe a raccordarsi col Tergiario del Parang, {1 che attesterebbe’ 1a sua cta paleogenica. Infine, una quarta superficie, dolcemente ondulata, si osserva net bacint degli affluent! del Parané e si ritrova pia largamente intorno a San Paoio e nel bacino superiore del Paraiba. Si stende a elrea 200-300 mietri sotto il livello della superficie paleozentea, e, con riguardo alla sedimentazione ‘continentale pliocenica del Paraiba e dell’alto Tiet@, ‘pare logico atribulrle un’ et& neogenica. Cosh Dz Martone @ tratto a distinguere quattro superficl di erosione; é implicita in q distinzione V'ipotest di lunght periodi di stabilita. I moviment! important! risalgono al Neogene. durante {1 quale pleghe di fondo moditicarono Vantieo zoceolo, determinando, nella zona del Rio Doce e del Rio das Velhas, un'alternativa di depression! e rigonflamenti, orientati da Nord a Sud come le pieghe delle serie metamorfiche i Minas Gerais, ¢ culminanti nel massiccio della Bandelra. Deves! attribuire allo stesso movimento 11 sollevamento della Serra da Mantiqueira e della Serra do Mar, le cul front! orlentali st dividono e mettono capo a flessioni ¢ fenditure allineate. Nel Quaternario, alla fine di tali movimenti, 'antico zoccolo scende verso l'Oceano in tre gradint, Yultimo del quali é in parte sommerso. Il lavoro d’erosione s'intensifica co! movimentt del suolo nel Neogene. Modellata dagii affluenti del Parana, che corrono verso Ovest, In costa di Botucatd st frastalia e urretra vo guella direzione, mentre si manifestano catture nella depressione che la flanchowgia ad Est. La superficie fossile pre-permiana € progressivamente messa allo scoperto verso Ovest, mentre Verosione attacca le sue part! oriental, pitt alte. Da ultimo, De Martone afferma energicamente che solianto alla fine del Pilocene, ¢ sopratutto nel Quaternarlo, si produce il deflusso diretto verso l’Oceano: il che spiega perché sia timasto Intatto 1 grande scoscendimento della Mantiqueira. La cattura degli antich! rami ortentalt dell’alto Tieté (Paraitunga e Paraibuna), da parte del Paraiba, n’é il pitt notevole risultato. a SUMMARY Having polnted out the appalachian adaptation of drainage patern to the .southwest~ northeast general direction from the folded gneissic bands which form the bedrock of the constal ranges (Serra do Mar and Mentiquelra) Mr, Dz Marronwe proceeds to show that the bold upheavals are due to a set of blocks displaced by faults or distortions, orlented like the old folds, and which bear thelr steepy slope toward the Ocean, whilst on’ their back sione, gently aggraded towards the interior, landforms of advanced maturity are to be seen within 1 500 and 2 000 meters, The age of such a surface of Campos (prairies). as one may so call it, seems difficult to ascertain. Tt may be thought of as to have been either related to the sandstone at Baur, the upper clovation being due to tertiary movements, or to derive from another Surface of pre-permian erosion from which the slope decreased towards the center of a great convexity. ‘The fact that there is In the State of Sio Paulo an erosion surface fossilized by the continental detrital series of the Santa Catarina system, mokes the surface be attributed a pre-permian age. It extends over a band of 10 to 20 km width and at least 200 km long. Its slope is sharp and, if elongated westwards it would passe above the level of the appalachian creste. - ‘On the other hand, in the algonkian metamorphic folded series of both Minas and S40 Roque, the differential ‘erosion has left outlying strata of resistant rocks so slightly variable fn altitude that the appalachian crests therein should be seen evidences of another erosion surface which wears down the pre-permlan surface and is consequently more recent. On the upoer Rio Grande an exceptionally stable platform rises insensibly from 1000 to 1 200-1 200 meters. It undoubtedly develops a rellef of a tertiary or even cretaceous maturity. ‘This “surface of ‘average crests” may be In effect ascociated with the front of the rhactian sandstone, it would wear down the cretaceous and would come to join the tertiary of the Parané, so as to remain = paleocene age. Finally, a fourth gently rolling surface as observed in the basins tributaries of the Parand fs to be found again in fullest development around Sao Paulo and on the head waters of the Paratba. It Keeps Itself at 200 or 300 meters approximately above the palacogene surface ond, by reason of the continental pllocene sedimentation of both the Paraiba and the upper Tiété, a neogene age may logically be ascribed to it. ‘Thus Mr. Dy Manronne is led to distinguish four erosion surfaces, which suggests long periods of stability. ‘The major movements date from the neogene where folds deeply affect the ancient bedrock, producing in the domain of Rio Doce and Rio das Velhes an alternation of depression and convexities having © N-S trend, Eke the folds of the metamorphic series of Minas Gerais and standing out at the rock mass of Bandeira. To the same movement it should be attributed the proeminence of both Mantiqueira and Serra do Mar whose eastern fronts dissect and result im distortions and horizontal faults. In the quaternary, at the end of these movements, the old bedrock descends towards the Ocean im three shelves the Inst of which is partially submerged. : ‘The erosion process 1s Intensified which the movements of the neogene soll. Modeled by ‘the affiuents of the Parand, which run westward, the Botucatu cuesta ts festoooncd and reozdes westwards, While captures tise in the subsequent depression which surrounds it on the west. The pre-nermian fossil surface Is progressively exhumed towards the west, whilst the erosion there attacks the highest eastern parts. Lastly. Mr. Dr Marronne vigorously points out that it is only at the end of the pliocene and chiefly in the Quaternary that direct drainage is arranged towards the Ocean, and this explains why “the great abrupt of Mantiqueira remains intact"; “the capture of the old eastern branches of the upper Tiété (Paraitinga and Parafbuna) by the Paraiba is the most spectacular advantage obtained”. Pag. 28 — Outubro-Dezembro de 1943 PROBLEMAS MORFOLGGICOS DO BRASIL TROPICAL ATLANTICO 349 ZUSAMMENPASSUNG Nachdem Snr. Dz ManonNe die apalachianische Anpassung der Hydrographie an die allgemeine Richtung Sudosten-Nordwesten der gneissischegefalteten Strecken, die die Base der Kisstenberge ‘Serra do Mar und Mantiquelra) bilden, betont hat, zeigt er dass die grossen Untersehicde durch die grossen Blécke bedingt sind, weiche wie die alten Pelten orlentiert sind und die cine schrotte Wasserscheide zum Ozean haben wahrend sie aut dergegengesetzten Seite, die sich sanft ins Innere ausdchnt, auf einer Hohe von 1 500 und 200 m, eine Toposraphie von weitester Reife bildet. Das Alter dieser Fldehe von Campos, wie man sic nennen kénnte, schemt echwer fest zu legen.zu sem. Man kana vielleieht behaupten dass sie in Korrespondenz mit den Areniten von Baura steht und dass die Erhéhung durch tertiire Bewegungen bedingt ist oder dass dieselbe durch eine andere Bewegung der prepermianen Erosion, welche longsam absank, verursacht wurde. Im Steate S4o Paulo_besteht tatsiichlich eine Erhdhung von fossilierten Erosion durch: aie detritsiche kontinentale Serie des Systems ven Sta. Katharina, die es erlaubt inm ein preper- mianisches Alter zuzuschreiben. Sie emreckt sich auf einem Gebiet von 10-20 Kulomeren’ Breite und mindestens 200 Kilometrn Lange. Sein Abfall ist sehr stark und verlangert sich nach Westen hin; er ist héher als die apaluchianischen Héhen: Anderselts verursachte die diferensiale Erosion in den alongonquianisch metamérfisch gefal- tenen Teilen von Minas und SSo Roque sehroffe Felsen von ziemlich gleichmassiger Hohe die als apaiachianische Felsen angesthen werden miissen. In Rio Grande haben diese Erhdhung bis zu 1 400 — 1 200 — 1 300 m. Diese Felsen mittlerer Hohe haben vilelelcht Verbindung mit den retischen Areuiten; sle gehneiden das Cretaceo und haben auch Verbindungen mit den Jertiaren von Parana, damit ist thr paleogenisches Alter bewiesen. Dann bemerkt man noch eine leicht gewellte ErhOhung in den Nebenfitissen des Paranés und in dem oberen Lauf des Paraibas. Sie bleibt aut ciner Hohe von 200 — 200 m Uber der paleogenischea Hohe und man kana ihr ein Alter der neogenisschon Zelt gusprechen. So hat Dz Manronng vier vorschieden Fiichen der Erosion untersehieden welche cine sehr lange Perlode der Stabilitat als sehr wahrscheinlich festsetzen West. Die vedeutenden Bewegungen kommen von der Neogenischen Zelt her withrend der die Falten die alten Buscn beeimiiussen und die in dem Dominium des Rio Doce wnd Rio das Velhas Depression in der Richtung N-S verursachen, wie in den Falten der metamorphischen Serie von Minas Geraes und die kuar in dem Macigo da Banceira mu bemerken sind, Demseiben Bewegungen muss man auch die Erhéhungen der Mantiqueira und der Serra do Mar deren Ostfronten sich tellen, zuschvelben. In der Quaternerischen Zeit, am Ende dieser Bowegungen, allt die alte Base’im drei Stufen von denen dle letate gum ‘Tell versunken ist, In din Ozean. Dio Erosions — Arbeit wird stiirker mit den Bodenbewegungen der neogenischen Zeit. Durch ‘die Nebenflsse des Perands, die nach dem Westen fliessen, modeliert hebt sich die “cucsta de Bowuceti" ab und witt naen dem Westen zurlick, wihrend mon in den folgenden Depress:onen Gie sie im Osten begrenzen, capturen produziert werden. Die fossile preparmianische Fiiche laiitt progressiv nach dem Westen wihrend die Erosion Ure westlichen hoheren Telle angreift. Zum Schluss erwahnt De Martone noch besonders deutlich dass erst am Ende der plioce- nischen Zeit und beronders wahrend der quarternarischen Zeit sich eine direkter Zufluss 2um Ozean gebildet hat was auch die abrupten Gefalle der Mantiqueira, die vollig unversehrt blieden, erklaren; Die Fassung der allen westliehen Arme des oberen Tietvé (Paraitinga und Paraibuna) durch den Paraiba sind die grossten erhaltenen Erfolge. RESUMO Bollotiginte ta apalekian sdapton de Ia hidrografio al ta Generale direkto Sudokeldent- Nordorienta de la refaldita) gnejea) strioj, kiuj formas la soklojn de la marbordaj montaroj (Serra do Mar kaj Mantiqueira), o£ MantoNNE montras, ke la grandaj senniveligoj estas Suldataj al aro da bloksj delokigitaj de fendoj’ au ficksajoj, kiuj estas orlentitaj Kiel Ia antikva) faldoj, kaj havas la krutan deklivon turnita al la Oceano, dum sur la Kontratia dcklivo, kiu milde Kinigas al la interlando, vidigas, inter 1 500 kaj 2.000 m, topografio Je maljuna matureco. La ago de tiu suprajo de Kampoj,’ biel oni povas gin nomi, fajnas esti malfacile fiksebla. Ont povas Konsiderl, ke i estis cn korespondado kun la grejsoj de Bauru, kaj @ia levigo suldigas ai la terelaraj movoj, ati ke gi devengs de iu alia suprajo Je antalpermetaja erozio, kies deklivo phmalgrandigus al la centro de granda konveksajo. Ekzistas efektive en Stato Sio Paulo erozia suprajo fosiligita de la kontinenta forjetaja serio de In sistemo el Santa Caterina, ka! tio kondukas nin al la Jena konkludo, ke om! devas nuti al gi antatpermetajan agon. Gi etendigas tra strlo, Iara Je 10-20 km kaj longa je 200 km, Grkaie. Gia deklivo estas forta kaj, plilongigante Orienten, fi patas super la nivelo de 1a apalckiaj resto} Aliflanke, ée la algonk!a metamorfaj refalditaj serfoj el Minas kaj el SAo Roque, la diferen- ciala erozio okazigis la aperon de malmolaj roko) kun alteco tiel malmulte veriebla, ‘ke ili devas esti rigardataj Kiel apaiakiaj Krestoj, atestamto) de iu alia erozia suprajo, kit tranéas Ia antaiipermetajan suprajon, Kaj, konsckvence, estas pll jusa. e la alta Rio Grande, platajo je eseepta star:meco levigas iom post iom de 1 0C0 al i 200-1 300 m, Gi montras teliefon de matureco, sendube de Ia tereiara enoko aa e¢ do la Kretaceo. ‘Tiu_“suprajo el mezaj krestoj” eble estas ligita, efektive, al la fronto de rektikaj grejsoj; @) tranéus ia Kretaceon Kaj venus ligigi al la terciafa epoko de rivero Parana, kaj tio donus al Bi paleogen'kan agon, Fine Kvara suprafo milde ondumita vidigas é2 1a basenoj alfluajaj de Parana kai reaperas pli yasta ankerau Girkat Sao Paulo kaj ¢e Ia supera baseno de rivero Paraiba. Gi sintenas Je érkatl 200 qt 200 m super Ja paleogen‘ka suprajo kaj, dank’ al la pliocen:ka kontinenta sedimentado de Paraiba kaj de la alta Tieté, estas logike imputi al gi neogenikan agon, 1s. 29 — Outubro-Dezembro de 1943 880 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA ‘Tiamaniere py Manrowne estas Kondukata al tio, distingigi kvar eroziajn suprajojm, Kaj tio antalisupozas longajn periodojn de staremeco La gravaj movoj datigas de la Neogeniko, en kiu funda) faldoj difektas Ia -antikvan soxion, Kaiizante €e la apartenajo de Rivero Doce kaj de Rivero das Velhas alternadon de kavajo) xaj malkavajo} orientita) lat N-S, ‘kiel Ia faldoj de la metamorfa serio el Minas Gerais, Kaj reliefigante Ge la masivo de Bandelra. Al tiu sama movo oni devas imputi la altigon de Mantiqueira kaj de Ia Serra do Mar, tes ortenta} fronto} dividiges formante Intivieajn fleksajojn kaj fendojn. Ge Ia Kvartenara Epoko, je Ia fino de tiu) movoj, In antikva soklo malsupreniras laa tri étupoj, el Kkiuj la -lasta estas parte subakvigite La eroria laboro intensigas kun la movoj de la tero de 1’ Neogeniko. Modelita de 1a alfluajoj de Parané, kiuj fluas Okcidenten, la marbordo de Botucatu siluetigas ia} dorseniras okcidenten, Gum farigas kaptajoj 6e la sekva malaitajo, kiu @in boardas oriente. La antatipermetaja tosilia suprajo estas lom post iom elteri@anta okeldenten, dum ln erozio atakas giajn pli altaln orlentaJn partojn: Pine, pe Manronnat rellefigas, ke estas nur Ge la fino de la Pilogentko kaj precipe Ge Ia Kvartenara Bpoko, ke la rekta drenado sin direktas al la Oceano, kaj tio Klarigas, ke “la granda abruptajo de Mantiqueira restas netusita”; In Kaptado de la antikva) orienta) brakoj Ge la alta Tieté (Pareitinga ke] Paraibuna) fore de Paraiba estas la plej admirinda el la atingital avantagos. Pég. 30 — Outubro-Dezembro de 1943 DETERMINACAO DA ALTITUDE DO PICO DA BANDEIRA NA SERRA DO CAPARAO Prof. Alirio H. de Matos Chefe da Campanha de Coordenadas Geo- gréficas do Conselho Nacional de Geografin A questo da altitude do Caparaé, ponto culminante do Brasil, nao mereceria mais qualquer atengdo, si nao tivessem surgido certas duvidas que exigiram uma verificagao. Fagamos um ligeiro retrospecto, afim de trazer melhores escla- recimentos. Em 1911, fazendo o Professor ALVARO Da SiLvemra, entao Diretor do Servico Geografico de Minas Gerais, viagens de explorac&o_pelas serras do Itatiaia e Caparaé, descobriu, por uma ligeira determinag&o baro- métrica de altitudes, que o pico da Bandeira no Caparaé era mais alto que o das Agulhas Negras, no Itatiaia, que até ent&o era considerado o culminante do Brasil. Afim de confirmar a descoberta, procedeu o Professor a determinagées mais rigorosas fazendo leituras simultaneas de barémetros sdbre ésses picos e os respectivos pontos de referéncia em estagdes de estradas de ferro vizinhas dos picos e concluiu que a altitude do Caparaé era de 2 884 metros e a do Itatiaia era de 2 821, havendo assim uma diferenga a favor do Pico da Bandeira (Caparaé) de 63 metros sébre o das Agulhas Negras (Itatiaia) . Grande celeuma levantou-se nessa ocasiao, provocando polémicas e afim de derimir a quest&o foi por parte da Comissdio do Clube de Engenharia, encarregada da confecgfio da carta do Centendrio, de- signado o Engenheiro ApoLFo ODEBRECHT para proceder a novas deter- minagdes. ODEBRECHT desincumbiu-se da tarefa achando para as Agu- lIhas Negras 2 790 metros e para o Caparaé 2 870. Parecia assim que estava liquidado o assunto e o Caparaé tinha ganho em definitivo a questao. Entretanto, nesse interim, o Servigo Geografico de Minas procedia a triangulacéio do pico da Bandeira e, quando ésse pico foi ocupado pelo Engenheiro Gr. Lemos, triangulador do Servico Geografico, ve- rificou-se que a posicao do pico diferia da achada pelo Professor ALVARO DA Stnverra de cérca de 1 km. Concluiu eritao ALvaro pa SILVEIRA que, nem .Gi_ Lemos nem OvesrecuT haviam ocupado o pico da Bandeira, mas sim um outro pico situado mais ao sul que ALVARO DA SILVEIRA denominou pico do Cruzeiro. Em uma ligeira palestra que tive com ésse professor, hé anos atrés, expoz-me éle essa nova diregéo que os acontecimentos haviam tomado, manifestando 0 desejo de ver o assunto definitivamente resol- vide com a determinacio do verdadeiro pico da Bandeira. Pég. 31 — Outubro-Dezembro de 1943 55a REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Eu ja havia em excursdo de exercicios praticos de Astronomia e Geodesia em 1934 e 1935 determinado a altitude do pico das Agulhas Negras e achado o valor 2 787 metros, conforme publiquei no n° 8 da revista CTC da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1936. Propus-me ent&o a fazer igual trabalho na serra do Caparaé. Or- ganizou-se um programa para ésse fim e em 1939, fui com outra turma de alunos proceder 4 determinacdo. Infelizmente fomos durante 20 dias consecutivos, em julho, perseguidos por uma chuva extemporanea e continua, que impediu a terminacéo dos trabalhos. Sdmente em 1941, j4 com outra turma, me foi possivel voltar 14 afim de terminar o servico. Passo a dar aqui uma descrig&o dos trabalhos executados, afim de esclarecer o leitor sébre o grau de confianca que merece o nosso trabalho. Procedemos em primeiro lugar a uma triangulagdo. Para isso foi medida, proximo a cidade de Manhumirim em Minas Gerais, uma base de 407,593 m, com basimetro de invar. Desenvolveu-se entéo uma cadeia de pequenos quadrilateros, entre essa base e a estac&o de Jequitibaé, da Leopoldina Railway. A estacdo de Jequitiba, fica a cérca de 8.km ao sul de Manhumitim. Foram estabelecidos dois vértices principais, denominados pelos alunos, res- pectivamente morro do Sapo e Alirio, aquéle, proximo a Manhumirim, éste, a cavaleiro da Estacao de Jequitiba. De ambos ésses vértices avis- tava-se claramente o pico da Bandeira. Terminada essa parte dos trabalhos, foi organizada a subida ao pico da Bandeira, sob a direcao do meu assistente Eng.° Huco Récis pos Rets, e em dia determinado, foi efetuada a medigao simultanea dos Angulos do triangulo Sapo-Alirio-Bandeira, assim como também dos angulos verticais necessarios 4 determinac&o da diferenca de alti- tude entre o pico da Bandeira e cada um dos 2 vértices inferiores. Afim de assegurar as altitudes dos pontos basicos, procederam-se a diversos nivelamentos: 1.° — Nivelamento geométrico entre a plataforma da estacaio de Manhumirim e a base. 2.° — Nivelamento geométrico entre a plataforma da estacao de Jequitibé e o vértice Alério. As cotas das plataformas foram gentilmente cedidas pela Leo- poldina Railway. : 3.° — Nivelamento trigonométrico entre a base e o vértice Alirio através da triangulacao. As altitudes obtidas pelos dois processos, concordam dentro de 10 centimetros, concordancia suficiente para o fim em questao. Pag, 22 — Outubro-Dezembro de 1943 Pes BANDEIRA OO Ore 7 ese on SEAR Vso OF Manu Po BANDERA D? A? 2 a os 4 oS ERE. OR SERAA VISTO OE JeOUMTIBA Fig. 1 Fig, 2 — Perfil da serra, visto de Manhumirim, Pig. 3 — Perfil da serra, visto de Manhwmirim, Fig. 4 — Serra do Caparas — Pontao da Bandeira, com 2 884 metros de altitude. Foto reproduzido das Memérias Corograficas de “Auvano A. DA. SILVEIRA. Fig. 5 — Pontdo da Bandeira — Sinal geodésico colocado pelos alunos da E.N.E. Fig. 7 — Mediedo dos dnguios no pontdo da Bandeira Fig. 8 — Como foi resotvido 0 problema aa falta ao tripe. Fig. 9 — Demonstracdo de regozijo pela terminagdo dos trabatnos. ALTITUDE DO PICO DA BANDEIRA NA SERRA DO CAPARAG 553 O assistente Huco Rets levou instrucées precisas, para verificar si, junto ao pico da Bandeira havia qualquer outro pico, cuja altitude se the pudesse assemelhar. Em resposta, assegurou-me éle que, dentro de alguns quilémetros ao redor do pico da Bandeira se enxergavam os demais picos muito para baizxo. Fica assim esclarecido que, o pico que foi galgado, é, de fato, o mais alto da serra. Isto alids fica confirmado por outras observagdes que adiante mencionaremos. Na medicaéo final dos 4ngulos do triangulo grande, passou-se um episédio que, embora nao tendo produzido conseqiiéncias graves para 0 resultado em vista, pés & prova a capacidade de se desvencilhar de dificuldades sérias nesses trabalhos. Durante a subida ao pico da Bandeira, cada um dos alunos car- regava uma pega qualquer: balizas, instrumento, tripé, madeira para o sinal, fora a bagagem pessoal e o rancho. O encarregado do tripé, parando para beber agua no Ultimo cér- rego encontrado, prosseguiu viagem, mas por esquecimento, abandonou o tripé. A falta déste s6 foi notada depois da chegada da turma ao pico. A volta de qualquer pessoa para buscé-lo, importava na perda de cérca de trés horas, o que prejudicaria 0 programa das visadas recipro- cas e simultaneas. O assistente Huco Reis resolveu o caso, instalando 0 teodolito cuidadosamente sdbre um buraco nas pedras e, manipulan- do o teodolito com cuidados extremos, conseguiu que o érro de fecha- mento do triangulo grande nao atingisse a mais de 4”. Mau grado ésse contratempo, a medida dos 4ngulos verticais também n4o preju- dicou de modo notavel o resultado, como se vera adiante. Resumimos aqui os resultados apurados nos, calculos: 1) Cota do vértice Sapo 738,50 Diferenca Sapo-Bandeira 2 151,24 Cota do pico da Bandeira ...... == 2 889,74 2) Cota do vértice Alirio 711,30 Diferenca Alirio-Bandeira . 2:179,15 Cota do pico da Bandeira ............ 2 890,45 Foi adotada entao para a altura do pico da Bandeira a média dos dois valores achados acima, isto é 2 890,1 metros. Quisemos aproveitar a ocasido para determinar, embora por sim- ples visadas tangenciais, as altitudes dos picos vizinhos mais proemi- nentes. Para isso, desenhamos cuidadosamente em duplicata, o perfil da serra, vista do vértice Sapo e nela assinalamos por letras os diversos picos. (V. fig. 1, 2 e 3). Pog. 33 — Outubro-Dezembro de 1943 384 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Infelizmente, 0 aspecto da serra, visto do vértice Alério estava t&o modificado, que no foi mais possivel identificar a maioria dos picos assinalados, somente o pico do Calgado ficou reconhecivel. Calculamos a altitude déste pico, que, embora determinada por simples visadas tangenciais, fornece um valor suficientemente apro- ximado, assim temos: Altitude do Calcado + 2766 m Resta-nos, por ultimo, discutir a duvida levantada pelo Prof. ALvaRo DA StLverRA no que diz respeito ao pico do Cruzeiro, onde, diz éle, estiveram Opeprscut e Git Lemos. Na félha topogréfica do Manhuacu, escala de 1 por 100 000, do Estado de Minas, figuram dois picos: o do Cruzeiro, ao sul e o da Bandeira imediatamente ao norte do primeiro. Os perfis tragados por nos da serra, vista de Manhuacu e de Jequitiba mostram claramente que ao sul (direita) do pico da Bandeira, néo existe sendo 0 pico do Calcado, ingreme, inconfundivel e muito mais baixo que o da Bandeira. A fotografia (fig. 2) mostra ésse perfil fotogra- fado e néle podem ser bem identificados os dois picos Bandeira e Cal- ¢ado. O pico do Cruzeiro nao existe, em absoluto. Por outro lado, néo pode haver duvida que nés determinamos a altitude no mesmo pico onde o Prof. ALvaro pa Stiveira. O cliché n.° 4, reproducdo ‘do publicado por éle no seu livro Memérias corogrdficas, Vol. I, mostra que se trata do mesmo pico fotografado, (5 e 6) pelos alunos. Além disso, nés encontramos 14 em cima um caderno com im- presses de excursionistas e néle figura a declaracéio do Engenheiro Gu Lemos, afirmando que ali estivera em servico da triangulacéo de Minas. Nao resta pois a menor dtvida que o pico determinado por Gi, Lemos € 0 mesmo pico determinado por nés e por ALvaRo pA SILVER, A divergéncia achada por éste na posic&éo do pico sé pode ser atribuida a um engano. Quanto a OveLBrecur nada podemos afirmar, por nao conhecermos detalhes a respeito. As figs. 7, 8 e 9 mostram alguns aspectos dos trabalhos. RESUME LiIngénieur Ariuio Hvovenst or Matos, Professeur de la chaie d’Astronomie et de Géodésie & I'Eeole Nationale de Génie Civil, communique dans co travail Ics résultats qu'll a obtenus, avec l'aide de ses éléves, cn 1941, lors de In détermination de I'altitude du Pic de la Bandeira, point culminant dé la Serra de Caparaé. Ce point, qui est aussi le point culminant des montagnes du Brésil, ne mériterait plus notre attention s) des doutes n’étatent survenus. Un leger historique nous apprend, en effet, qu’en I911, Ie Professour Auvano pa Smveiea, alors Directeur du Service Géographique de V'état de Minas Gerais, en faisant des voyages déxptoration dans les régions de IItatiaia et du Caparad, découvrit par des déterminations Pag. 34 — Outubro-Dezembro de 1943 ALTITUDE DO PICO DA BANDEIRA NA SERRA DO CAPARAO 355) vaiomécataues que Vattitude da ple do la Bandetia du Cnpaind était plus gia Aiguilles Notes de TTiatiain et quil a passé a blue considers commmne lanl te pias naw der ee Tout en faisant cetto affiimation, Je Piofessem Atvaro 4 Sruveira, chetche & piéciser les Dlemicis résultats, en procedanv & des déterminations’ plus tigouseusen’ et oa falsent aes obs Vations Daometataues simuleanées xn Tes ples et aur stations ae chemin, Ge. fel ow oo ee Points de 16féence peu eloignés D'apiés le résultot de ces observations Valtitude du Caparad Saunt 2 Gotan ot clo do 1Htatinn 2 Bal m, Ia ffovensa enti too aiioues stant Pat CnNol eat em Quelque temps apres, le Club des Thgéulems désigua VTagéniom Avorro Opeenzcar pour fane de nouvelles aéterminations des altitudes mentiounées, lequel artiva du résultat suivant Alguilles Nokes (Itatiain) 2790 m, et Pic de la Bandeliz (Capaiad) 2870 m, et cette question puaissait ainsi ésone Cependant, Jorsque le Seivice Géographique de U'ittat de Minas fb In tiangwlation de cette iégion, VTupéniem Gn, LExos consinta que le Pic de la Bandelia n'ocoupait pas exactement Ia place Indiqné par le Professem Auvano pa Sinvema, mais qu'il y avail & pou pies une difffience de un Islométie, d’ou Von a conelut que ul Gu, Lsnos, ni Goisnerctr, n'nvalent été sm le Pic do Ia Bandoha, mols pmtot su un autie pie, situé plus au sud, dénommé Pic du Cruze Co fut en 1941, que Fantom piocéda & In détermination piécise de Valtitude et de In position du Plo de la Bandeia, au moyen do la triangulation et de nivellements geométigues et trigonometalques Tout en éient su: le Pie de Ja Bandeia, VIngéniom tuo Reis, son assistant, tut chargé si les ples envionnants élafcut réellement plus bas que ceini de la Bandclia, ce qui fui trouvé exnet E'autem eub ainsi Ia certitude d’éte sit le plus haut point de Ja Seua du Gapaiad On aMiant> alors comme atitinde du Ple ge ta Barlena, Ia yatew movenne 2 8901 1a des valews ealouiées [2 899,74 et 28905) Pai des simples Vvisées tangcntielles, on délcumina Valtitnde a “Caleado”, 2 760 1 Quont aux doutes suectiés sm Ia wiaie position Gu Pie du Cruzeho, sui leqnel doivent evolr 66 Gi. Gurtas 6 OpionzcAs, suivant Vopinion du Piofessew Avvano oa Enwsima, Vuteu a constalée mau sud du Pie de Ia Bundeke il existe sculcmené le Ple du Culeado — quoiate sur Ia entice topomaphique de “Manhusss” & Vechélle do 1:00 G00, de V'étnt de Minus Gerais, figmeé le vie du Ciuzcho Liautem colt ains) avo déctds aéfinitivement cette question pleine d'interét vu uu'elle fixe le point culminant dea montagnes du Brésih RESUMEN En este articulo el autor, Ingenleio Auito Hucurnsy pz Matos, catecatico de Asticnomin y Geodesin de ia Esenela Nagionai de Ingenleiia, comuntea tos restltados de In deteuminacién de In altilud det pico do In Bandera, en Is sietia de Caparad, Levada a cfecto po él y sus alumnos en 194i La_euestion de In altitud el Caparad, punto culminante del Bicsil, no més meecerta atencion, si no hubician sutgide ducks que exigicion vettieseion Hagamos ua ligero retrospesto Em 1911, haclendo el profesor Auwvaxo va Styetna, entonces cizcetor de} Servicio Geosatico de Minas Geis, viajes de exploiacion por tas sierias de Ttatlaia y de Capmias, desoubio por una 1dpida detenainaoién baomeétrien de altitudes que el pico de la Dandeva’en et Capaiad aia mas allo que el de Agujas Nemaaa en el Ttatiaia considaindo, hasta entonces, ef eulminente dsl Brasil Contimando exo, procedié cl potessor, a determingeiones was ilettiosns, haciendo Iechmas simultineas de barémetios sobie cos picos y sus respectives puntos de refeienein en estaciones de Feniocauites vecinas de ello: y coneluyd que In altitud de) Coparaé ea de 2 884 metsos y In del Ttatiain 2 821, siendo por covsigniente de 63 metios Ia dizeronela entae el pies de Ja, Bandera (Capmiad} y el de Agitjas Negias (itatiaia) A fin de hacer nucvas determinaciones we dosignade pot 1a Comision del Club de Ingenieria, el Ing Avowro Onemnecer, que cumplié su tarca, balando pata les Agujas Negins 2790 metios ¥ pain el Caparad 2 870 Parceia solucionada la cuestion Sin embargo, al proceder el Servicio Geogiaficn de Minas a la thiangutaetén, el triangulador Ing_Gn, Leos obseivé que In posicién det pico discordaba de in hallada por’ el Prot Anvao DA Stiveia, de esrea de 1 km A lo ave dste concluyé que mi Gu. Lewos ni Onsusscry habian estado en el pico de In Handea, pero s{ en un otto, més hacia el Sur, a que Mand pleo del rucero En 1941, hizo el autor Ia determinacion precisa de la altitud y de la posicién del pteo, mediante tliaagulacion y nivelamientos geométrico y trigonométrico Eneagado el Ingeniero Huco Rus, su asistente, de verifiea. si pidsimo al de la Bandera habia cualquier ot1o pido de altitud semejante, constaté que los demés estaban mucho hacia abajo Queds, asi, esclarecido que se habia subido el pico mas alto ae la sieiia oe Se adopté, entonces, puia altitud del pico de ta Bandera, el promedio, 2 890,1 metios, de Jos valotes. calcwlndos (2 889,74 y 2 890.45) Poi mitadas tangenciales sencillas, se deteiminé aun la altitud del “Calgado", 2 168 metios Pag 35 — Outubro-Dezembro de 1943 596 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Cuanto a la duda acerca del pico del Crucero, donde dice el Prof Atvszo pa, Siuvera que han estado OnemcHt y Gu, Lemos, se constaté — aunque figuie este pico en Ia hoja topogritioa de ‘Manhuassti (escala 1:100 000), del Estado de Minas Gerals — que al sur del pico de In Bandera no existe ot10 pico a no ser'el de Crlgado Queda asf definitiyamente cenada Ia cuestién acerea de esa interesantisima sieia RIASSUNTO Ling Anywio HUUENEY px Marios, piofessoie di astionomia e geodesia nella Scuola Nazionale di Ingegneria, espone i risultati delle, determinazione dell’alicza del Pico da Bandeiia, nella Seria do Caparad, esegulta da Iu e dat suo! discepoll nel 1941 Lraltezza di questo monte, iI pitt sito del Biasile, aveva dato Inogo ¢ discussioni, che rese10 oppoituna questa veuifien Nel 1941, 1 Piof Atvaxo va Suwvesma, allora direttore del Servizio Geopsatico di Minas Gerais, im_um viaggio di esplorazione delle catene d’tatiaia e di Caparad, accert, mediante una determinazione baiometrica approssimativa delle altezze, che il Pico da Handeira del Capsraé era pli alto delle Agulhas Negras dell'Itatiain, vetta che er considerate come il punto culmi- nante del Brasile Piocedendo, in seguito, a determinazion! pit rigo.ose, il piofessore effettud letture simultance di baromeiai sopra le due clme e nel 1Ispettivi puntl dl siferimento in stazioni Ferrovianie prossime, glungendo alla conchusione che Valtezza del Pico da Bandeira ascendeva a 2884 metil e quella delle Aguihas Negias a 2821, con una difforenza di 63 metal a tavore de} primo: LiIng Apotro Ovrnrzenr, incarieato di nuove misurazioni da parte del Club d’Ingegneria, dotermind Ie altezze di 2870 metii per M1 Pico da Bandelia e di 2790 per le Aguthas Negras DI problema pareva risolto, ma durante Vesecuzione di triangolazion! geodetiche per conto det Seivizio Geogiafico di Minas, 1"Ing Gm Lemos verificd che 1 posizione del Pico da Bandeira differive ai chea un chilometro da quella indieata dal Prof Auvano ta Sitveina Quosti obbicttd che Gx, Lemos © Opepricer non crano saliti sul Pleo da Bandeita, ma su un alto, situato pit a Sud, che denomind Pieo do Gruzeio Nel 1941 Tautore procedetie alla determinazione precisa della posizione e dell’alteza del Pico da Bandeha, mediante tiiangolazione ¢ livellamento geometrico e tiigonometzico L'Ing Huco Reis, assistente del professoie, imcaricato di verificare se vieino al Pico da Bandeita esistessero altre vette d’altezza poco difterente, constatd che tutte le cime prossime erano assai pit basse e confermd che quel picco é i pil alto della catena Come altezza del Pico da Bandeita fu adotteta quella di 2 890.1 metti, media det aisuitatt di due determinaziont (2 889,74 e 2 890,45) Mediante mire tangenalali fu determinata anche Yaltezza del monte Caleado, 2 766 metii I dupbt del Prof Atvaro pA SivetRa intorno alla cima su cui erano saliti Opesnecer e Gu, Leos appaivero infondati Sebbene nella carta geografica, alla scala di 1:1 000 000, dello Stato di Minas Gerais, roglio di Manhassi, figmi il Pico do Ciuzeizo, in realtd, a Sud del Pico da Bandeiia, non esiste ultra vetta d’altezza poco inferlore, se non quella del Calgado Cosi la discussione @ definitivamente chiusa SUMMARY The author, Engineer HucunNuy pe Matos, holder of a chair of Astionomy and Geodesy ab the National Engineering School, reports on a determination of the altitude of the pico da Bandeira, @ Deak on the seira do Capaiad, surveyed by him and his students in 1941 ‘Tho question of the altitude of Capaiaé, the loftiesp point of Brazil, would deserve no more attention were it not for some doubts which demanded thelt ascertainment Let us look back bulefly In 1911 when Prof Atvano pA Suuvrina, then Directo: of the Seivigo Geogiifico de Minas Gerais was Journeying to explore the Jtatiaia and Caparaé mountains, he discovered by a slight barometric determination of altitudes that the Bandelra peak on the Capaiaé was higher than ‘that of the Aguihas Nemas on the Itatiaia, the latter having been considered up to that time as the culmination To confirm such an obseivation the professor went on to make more rigorous determinations by means of simultaneous ba1ometer readings on those peaks and the respective points of refcience in neighboring allways stations to reach the conclusion that the altitudes were: Capaiaé 2884 motels and Ttatiais 2 821 metels, difference of 63 meties in altitude between the pico da Bandelia (Capsiaé) and that of Agulhas Negras (Itatiaia) Engine: Anouro Opemreen, appointed by the Engineering Club to perform new determinations, carried out his task to find 2 790 meters for Agulhas Negias and 2 870 fo. Capmaé ‘The question appeared to be settled then However, in the couse of a triangulation by the Servico Geografico de Minas, Engineer Gi Lumos obselved that the position of the peak was different trom that found by Prof Anvaro Da Stvgiga in about 1 Kilometer At this statement the latte: again concluded that neither Pag 36 — Ontubio-Dezembio de 1943 ALTITUDE DO PICO DA BANDEIRA NA SERRA DO CAPARAO. sot Gu, Lemos nor Opeprectr had been on the Bandeira peak, but on another one lying farther south which he called pico do Cruzeiro In 1941 the author of the prosont article made the precise determination of both altitude and position of the peak by means of tlangulation and geometric and trigonometile levellings His assistant, Kngineer Huo Reis, instructed to ascertain whether there was another peal of ‘3 similar altitude near that of Bandeira, found out that all the otheis weie much’ below And it thus remained clear that the ascent this time hud been made to the highest pont As a resulb, the average of 2 890 1 m of the calculated values (2 889 74 and 2 890 45) was adopted fo the height of the pico da Bandeia. By simple tangential observations the altitude of the “Calgado” (2766 meters) was determined also ‘As for the uncertainty about the pico do Cruzoiro, which, as Prof Atvano pa Srvema says, ls where both Onruxscur and Gu, Lemos have been, it was found out — regardless tho peak appearing on the map-sheet of Manhuasst (to scale '1:000 000). of the State of Minas Gerais — that to the south of the pico da Bandeira there is not any other peak except that of Caleado ‘This, therefore, settles definitely the question about that very interesting soa ZUSAMMENPASSUNG In diesem Artikel teilt uns dei Autor, Her Ingenlour Auimo Hucuenzy pz Maros, Professor der Astionomle und det In der Geographie angewandten ‘Trigometrie der National Ingenieurschule, dic Resultade der genauen Festlegung der Hohe des “Pico da Bandeira” in dem Gebhge von Capatad, welche von thm und seinen Schiihen 1941 gemacht wurde, mit Die Frage der Héhe des Caparad, dem héchsten Punkte Buasiliens, witrde keine weitere Beachtung finden, wenn nicht Zwelfe! die einer Kiirung pedurften, aufgekommen wien Daher wollen wir einen kleine Riickblick machen Als im Jahre 1911 Professor Dr Atvazo pa Snwvema, dann Leiter des geogiaphischen Dienstes des ‘States Minas Geraes, Erforchungsreisen im Ttatiala-und Capaiageblige machte, entdeckte er durch eine oberflfichliche baiometrische Festlegung dei verschiedenen Héhen dacs der Pico da Bandotla im Caparagebirge hdher sei als die “Agulhas Negi2s” im Ttatiaigebirge welche: bis dahin als der héchste Punkt Brasiliens galt Nachdem er dies bestiitigt fand, machte et genaueie Feststellungen, indem er gleichzeltige barometrische Lesungen anstellte mit dem Resultat dass die Hohe des Caparaé 2 824 m und die des Itatiai 2 621 als feststehend angenommen wurde: der Unterschled zwichen dem Pico da Bendeira und den Agulhas Negras war also 63 m Um neue Messungen zu machen wurde von dem Klub dei Ingenulere, Dr. Anouro Oprenecu beauftragt. Dieser fand fur dic Aguihas Negias die Héhe von 2790 m und fiir den Caparaé 2.870 m Es schlen dass damit die Frage geldst wire Als jedoch der Geographische Dienst von Minas Geraes seine Messungen voinahm, stelite der Messer Ingeniew! Gi. Leatos fest dass die Lage des Pico von der von Professor Auvano DA Stivorna um ungefahr 1 kim veischieden war Daraus schloss e dass weder Gu Lemos noch Opesxecut auf dem Pico da Bandelia waren, sondern auf einem anderen, siidlicher gelegen, welchen et den Pico do Cruzeiro benannte Tm Jame 1941 nahm der Autor dieser Zellen eine genaue Festlegung de: Hohe und Lage des Pieos yor unter Hilfe von Messungen, geometrischen und trigonometiischen Abmessungen Jegitcher Art . Der Ingenieur Huco Rezs, sein Assistent, wurde von ihm beauftragt festaustelion ob in der Nahe des Pico da Bandeitante andere Berge von Abnlicher Hohe existierten und er stelite fest dass alle andere viel tiefer seien So wurde damit klat festgestellt dass dei hOchste Berg der Gebhgskette orstiegen worden war Fiir die Héhe des Pico da Bandoha wurde dann die folgende Uohe festgelegt 2 890,1_ m Zahl welehe aus den verschiedenen erhaltenen Werten (2 889,74 und 2 890,45} gewonnen wuide Die Hohe des “Calcado” wurde dann mit 2765 m festgelegt Um noch auf den Pico do Cruzeiro zu kommen, wo, wie Piofesso: ALvano pa Stwvera meinte, sich dieser Berg auf der topographischen Landkaite von Manhuassit (escala 1:1 000 000) des Staates Minas Geraes befindet dass stidlich des Pico da Bandeiia ken Beig ausset dem “Pico do Caleado” zu finden ist So ist mit diesen Feststellungen die Plage dieses so interessanten Borges endgiiltig meldst RESUMO, En tiv Gi aitikolo, Ia aiitoro, Ingenieo Azimo Hucuswey ve Anos, katedra profesoig de Astionomio Kaj Geedeslo en Ia Nacia Lemejo de Ingeniearto, sciigas la iezultojn de Ia ditino de la alteco de 1’ pinto de monto Bandeits, ée la “Serra” (Montaro) Caparad, farita de li ka} eo Ma) lemmanto} en 1941 La afero pila alteco de Capaiad, Ia plejsupio en Brazilio, ne piu mé estus aperinta} @ub9j, kiuj postulis kontiolon Mi fa1u iapidan rigardon en Ja estintecon, En 1911, Kiam plofesoro Anvaro DA SiuvEiRa, tam diektoro de la Geogtafia Servo de Stato Minas Goals, faris esploradajn vojagojn tie "Ia montaroj Ttatiaia kaj Caparad, ektovis per rapida barometza difino de alteco, ke la pinto de monto Bandelta estas pli alta ol tiu de Agulhas Negras, ée la montaio Ttatiaia, konsiderata, gis tlam, le plejsupro en Brazilo Konfirminte tion, Ia profesor faris difinoJn pil rigorajn, kaj, samtempe, Iegadojn de barometroj su tus itus atonton, se ne Pig 37 - Outubro-Dezembro de 1943 558, REVISTA BRASILEIRA DE GNOGRAPFLA pinto} kaj In respektivas 1atas punktoj en fervojaj stacios, najbaraj al i, Kes Konkludis, ie Gapaiad havas Ia altecon de 2 84 metio} kaj Ttatisia nu 2 041 moto}, kaj al 1a difevenco inter Ia pinto de Bandeiia (Capaiad) Kaj tht de Agulhas Negias (Itatiala)’ estas Je 63 metoi Pot fai novain difmojn la Komtiato de a Ingenieasta Khubo komislis Tnfentaon Avouro Onrsnecur, ki plenumis sian tasKon Kaj Urovis po: Agulhes Negias ta eltecon de 2790 metro} Kaj pot Capaiad tiun de 2870 metioj Sajnis, ike la afeio estls solvita ‘amen, iain In Geogiafie Servo de Stato Mines Gevals fo.adis a ttianguindon, 1a tiea funkeluio, “Ingenieio Gi, Lemos, Konstatis, ke la pozicto de In pluto difeiencas de tiu tovita @e piofesoro Atveno va’ Exveiia “unu Kilometion Lat ties Konkiudo, ek Gr Leatos, nek Onnszacnr staiis sit Ja pints de monto Bandena, sed sur glia punkto, pl sude, kiun It noms vind @ eGiuseho (legit: Kiuzejro) En 1901 In aiitoto ditinis piecize ta altecon kaj la pozicio de tiu pinto, peie de titengnlado kaj geomeisia kaj tigonomettia nivelado} Ingenieio Hsco Bers, Ma asistnato, komistite por eksament x p Bandela ests Tu am samatiecn. pinto, Kostubie, ike 1m eateral pinto) Klatigis, Ke ont supienliis In ple} aitan pinton de la moniaic Ont ditinis por Ia elise de I pin'o da Bandelsa, IA meznombron, tio estas, 2 890.1 metojn, de 1a Kalkullta' vatovo} (2 889°14 Kat 2 890.45). Por siinplay tangential celado) oni wnkait ditimis ta algecon de “Grleado”, Kiu estas ogala al 2 760 im Ruate al 1a dubo prl Is pinto de Cruzelto, Kio, Ia lo dio de pioteso. Anvato wa StverRA, estis Onumvont fay Git Lemos, Ont konstaile — kvankam figunas tiu el bit swt lo toposratia folio do Manhunssu (eksio 1:00 0¢0), do Stato Minas Geiais — Ke sude de la pinto de Bandelia ne ekzistaa alla pinto, knom ‘tiu de Calgado ‘Tiel sin enfermis la afero pri tiu te interesa montato oksime de la pinto de nas be malsupre ‘Tiel Pig 38 — Oubumo-Dozembio “de 1943. AS NORMAS DA ELABORACAO E DA REDACAO DE UM TRABALHO GEOGRAFICO Prof Francis Ruellan Da Faculdade Nacional de Filosofia da ‘Universidade do Be edo. cienti~ feo das Reuniées Cultzais do Consetho Nacional de Geogialia As normas a serem observadas na preparacdo e redacéo de um estudo geografico baseiam-se essencialmente numa definicio da Geo- gratia. Definigéo — O objeto da Geografia é ao mesmo tempo uma des- crig&io e uma explicagéio dos conjuntos de fenémenos que dao A terra sua fisionomia atual. A descrigdo tem por finalidade fazer ver as paisagens ter:estres e marinhas na sua complexidade viva, insistindo nas associaces dos tracos fundameniais, fisicos, biolgicos e humanos, que as caiacterizam e na distribuicdo e correlagdo dos fatos observados. A desericgéo deve preporar a explicagdo das formas do terieno, do clima, do regime das aguas e dos aspectos da vida vegetal, animal ec humana, isto 6, wma interpretacéo cientifica baseada nas relagdes de causa a efeito e nas inflwéncias rectprocas dos fendmenos observadas ,Um fato s6 é verdadeiramente geografico na medida em que se traduz, direta ou indiretamente, por um aspecto das paisagens fisicas ou humanas. Dai resulta que um trabalho geografico original sé pode ser o resultado de uma pesquisa, pessoal no terreno, o trabalho de gabi- nete sendo apenas 0 complemento necessdrio dessa pesquisa. As regras a observar compreendem quatro grupos distintos: 1°) Regras gerais, que sAo comuns a todo trabalho geografico e encontram uma ampla aplicacdo na Geografia geral, fisica ou humana 2°) Regras préprias aos estudos de Geografia regional 3°) Regras que se aplicam a redagéo e a apresentagdo de um trabalho geografico. 4°) Regras que se aplicam a elaboragéo e a redagéo das con- clusées de um estudo PRIMETRA PARTE Regras gerais I — Descrigéo — As paisagens devem ser descritas de uma forma ao mesmo tempo precisa e viva Os fendmenos fisicos e humanos devem ser apreseniados nos seus aspectos complexos, sem serem isolados do meio em que foram observados. Um trabalho deixa de ser geografico quando isola os fatos da paisagem, que constitui o meio complexo em que s&o observados Pag 39 — Outubio-Dezembio de 1943 560 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA II — Localizagéo — Os fatos mais comuns, ou pelo menos os que serviram de base 4 descric&o, devem ser localizados com precisio. Essa localizagaéo deve apoiar-se numa, nomenclatura exata e deve ser acompanhada de cartas, esbogos e medidas, nao deixando nenhuma divida sébre a situagao do fenédmeno estudado. Il — Extenséo — Os limites do fenémeno ou do grupo de fené- menos estudados devem ser objeto de uma atenta pesquisa, que faca ressaltar, se necessdrio, a situacéo e a fungdéo das zonas de transicao IV — Distribuigéo — No interior dos limites anteriormente deter- minados, convém marcar a distribuicéo do tipo escolhido como norma, notando ao mesmo tempo suas variagdes de carater e de freqiiéncia e tentando delimitar as regides em que se observam e&sas variagdes V — Correlagéo — Convém marcar as correlagées entre o fendmeno ou o complexo de fenémenos estudados, por um lado, e por outro lado, os fendmenos ou fatos conexos. VI — Comparagées — Os estudos geograficos e, em particular, os de Geografia geral, se apoiam em comparagées bem conduzidas entre fendmenos similares, observados em diversos pontos do Globo. Essas comparagées devem ser baseadas num estudo cuidadoso do meio com- plexo em que se observam os fendmenos comparados, afim de apreender bem suas causas fundamentais e as raz6es de suas variagdes, ou seja, distinguir cuidadosamente o que é geral e o que é particular A Geografia geral baseia-se nos estudos regionais donde se tiraram as relagdes de causa a efeito, mas essas conclusdes sé poderiio ter o valor das leis cientificas pela multiplicacéio dos estudos regionais pru- dentemente conduzidos. As generalizacdes exigem, pois, uma grande cultura geografica e muita prudéncia. VII — Causas — A pesquisa das causas dos fendmenos é a finali- dade de todo estudo geografico, deve tender a explicar as variacdes de aspecto e de natureza.dos fendmenos geograficos e conduzir a inter- pretacéo das paisagens VIII — Conseqiiéncias — As conseqiiéncias fisicas e humanas da existéncia e da distribuigéo do fenémeno ou do grupo de fenémenos estudados sio igualmente estabelecidas com o maior cuidado, evitando os processos puramente dedutivos, que afastam o estudo da realidade complexa dos fatos observados {X — As ciéneias auxiliares da Geografia — A pesquisa das causas e das conseqiiéncias de um fenémeno geografico obriga a recorrer a ciéncias como: a Geodésia, a Topografia, a Mineralogia, a Petrografia, a Paleontologia, a Estratigrafia, a Tecténica, a Sismologia, a Meteoro- logia, a Hidrologia, a Botanica, a Zoologia, a Antropologia, a Etnogra- fia, a Historia, a Estatistica, a Sociologia, a Tecnologia... etc... mas no se deve esquecer que estas sio ciéncias independentes que sd devem intervir num trabalho geografico & titulo auxiliar para permitir melhor Pag 40 — Outubio-Dezembro de 1943 AS NORMAS DA ELABORAGAO E DA REDAGAO DE UM TRABALHO GHOGRAFICO 561 compreensio do meio geografico complexo, mas que nao devem jamais ser objeto de desenvolvimento que nao sirvam a interpretacio, direta ou indireta, das paisagens. & preciso tomar cuidado, por exemplo, quando se faz um estudo geografico, para nfo abusar da geologia histdérica ou da historia das sociedades humanas; a explicagéo da paisagem atual pelo passado 6 0 limite que nao deve ser ultrapassado. Dentro do mesmo espirito, 0 estudo geografico da populagao nao pode ser um simples comentario de estatisticas ou de cartas demogra- ficas, deve procurar a maneira pela qual a paisagem humana é influen- ciada por seus caracteres fisicos ou pelas bases étnicas e religiosas, pelas formas de propriedade e de explotagao, que sao os fundamentos sdlidos das sociedades humanas, os que se transformam com a maior lentidado e deixam as vézes, mesmo na paisagem, uma marca que muitos séculos de ocupacaéo por uma outra civilizagéo nfo conseguiram apagar O estudo geografico geral de uma produgao, nao deve, tampouco, contentar-se com um comentario das quantidades, dos transportes e dos mercados, mas deve mostrar e explicar as transformag6es provo- cadas por essa explotacéo nas paisagens e na vida dos agrupamentos humanos dos paises de produc&o, de transito, de transformacgéo e de consumo 1.° das matérias primas, alimentares ou industriais, 2.° dos combustiveis, ou das outras formas de energia, 3.° dos produtos e dos sub-produtos fabricados XK — Predomindncia dos caracteres fisicos ou humanos — A pes- quisa das causas e das conseqiiéncias das variagdes observadas na sua forma e na sua distribuic&éo, deve levar a sublinhar vigorosamente, sobretudo para os fatos de Biogeografia e de Geografia humana, aquilo que deve ser atribuido ao livre arbitrio do homem, em relacéo ou nao com as religides e costumes dos grupos étnicos ou com o grau de civilizagao. SEGUNDA PARTE Regras para os estudos de Geografia Regional I~ A definicdo da Geografia regional é a base de tédas as regras enunciadas —- O estudo geografico regional se aplica a uma associacao, no espago, de um complexo de fenémenos cujos limites devem ser bem mareados assim como a distribuic&éo, as causas, as conseqiiéncias e as relagdes reciprocas, afim de separar aquéles que, diretamente ou por suas combinagées, dao a essa regio seus caracteres originais, permi- tindo distingui-la e compreender as relacées fisicas e humanas que ela tem com suas vizinhas 'Tédas as regras formuladas acima se aplicam igualmente A Geo- grafia regional, a diferenga provindo ates de uma questéo de escala do que de uma questaéo de método, mas a originalidade da Geografia regional provém sobretudo dela considerar uma porgdo do espago ter- restre como uma individualidade cujos caracteres procura definir Pag 41 — Outubro-Dezembio de 1943 568 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA IL — Convém distinguir as regides naturais e as regides antropo- geograficas ou de Geografia humana 1°) As regiées naturais tém quadros permanentes que nao coin- cidem sempre com os quadros da ocupacéo humana. O que os deter- mina, é um cardter ou um agrupamento de caracteres particulares do relévo, da estrutura, do clima ou da vegetacio e é ésse carater ou ésse grupo de caracteres que é importante conhecer bem, devendo ser vigorosamente acentuado na exposicao Nao se trata de enumerar simplesmente os elementos caracteristicos das paisagens 1egionais, mas de fazer cormpreender a evolucaéo de que éles vesultam pela exposic¢&éo das causas e dos efeitos que encadeiam uns aos outros, os fatos da eslrutura, do modelado, do clima, da hidro- gratia e da vegetaciio, para tornar seu meio complexo inicligivel ¢ fazer sobressair a2 maneira pela qual ai se inscreve a atividade humana 2°) As regiées de geografia humana ou antropogeogrdjicas podem agrupar paisagens de caracteres fisicos muito diferentes. Devem sua personalidade % atividade econémica ou politica do homem, ligam-se a agéio de um povo ou estéo ligadas a momentos da histéria econémica, mas seus agrupamentos cfémeros podem ier uma larga influéneia no espago. Importa, pois separar bem os caracteres essenciais e procurar suas relagdes com as condicées naturais Nao convém, portanto, procurar somente a maneira pela qual a natureza influencia a atividade humana numa regiao determinada, mas também aquilo que 0 homem escolheu dentre o que a natureza Ihe ofereceu, quais séo as razGes dessa escolha de acérdo com o que se sabe das origens do povamento, das suas formas de civilizacdo e de sua orga- nizagic social e teligiosa e quais as conseqiiéncias para a oiganizaciéo da vida regional, A grande indtistria moderna criou regides antropogeogréticas A organizacdo financeira.e técnica de uma emprésa ou de um grupo de emprésas, o recrulamento, 0 género e o nivel de vida de sua mao de obra, suas necessidades de matéria prima e de combustivel, suas con- dicées de transporte e seus meicados interiores e exteriores, térn reso- nancias geograficas tao profundas, que quase sempre se observam trans- formagées importantes ou mesmo vadicais da paisagem, que devem sei bem descritas afim de serem corretamenie interpretadas. Os novos agrupamentos de populagao, as mcdilicagées do habitat, da densidade e da estrutura social e religiosa, mudam n&o sémente o aspecto como reagem, por meio de novas necessidades, s6bre as culturas, a criagaéo e as proprias formas de propriedade ¢ de explotaciio agricola Criam. assim, novas regides econémicas cuja estrutura, freqiientemente com- plexa, deve ser objeto de estudo geografico, que nao atingiria seu objetivo Se se restringisse 4 andlise das quantidades produzidas, consumidas ou transportadas III — Os estudos de Geografia regional devem fazer compreender ndo sé como vive a regido estudada, mas quais séio suas possibilidades Na nossa época de grande especializacio das técnicas, a Geografia Pag 42 — Outubso-Devembio de 1943, AS NORMAS DA ELABORAGAO FE DA REDACAO DE UM TRABALHO GEOGRAFICO 563 estabelece a ligacéo compreensiva, indispensavel, entre as ciéncias fisicas e naturais, por um lado, as ciéncias morais e sociais, por outro lado, e os gedgrafos sAo, désse modo, os mais bem preparados para avaliar e hierarquizar a totalidade dos recursos de uma regifo, assim como dar todos os elementos necessarios para novos empreendimentos indis- pensdveis para estabelecer uma sa previsio. Essa responsabilidade particularmente pesada deve incitar os geégrafos a realizar pesquisas regicnais metddicas, isentas de téda fantasia TERCEIRA PARTE de tim trahalho Regias para apresentag A definic&o da Geogratia e as regras gerais ou peculiares & Geografia regional, tal como foram expostas acima, devém constantemente ins- pirar a redagéo e a ilustracfo de um trabalho geogratico I—0O plano de wm trabalho varia seyundo as conclusées ds quais se chega durante a pesquisa — Os planes iradicionais ein que os fatos se sucedem numa ordem légica varidvel. siluacdo, geologia, relévo, clima, como se se tratasse de esvaziar o contetido de gavetas, sem cuidado de coordenagao, devern sev rejeitados pois mascaiara os cara teres fundamentais do assunto tratado O trago ou o complexo essencial 1essaltado pela pesquisa deve sev acentuado e é em térno désse falo central cu désse grupo de fatos, que o plano devera ser articulado de modo a mostrar em seguida as ligacdes que os caracteres iém com éle A) Exemplo tirado da Geografia, fisica geral a formacao dos cordées litoraneos A pesquisa me conduziu as conclusdes seguintes as vagas de translagéo s&o a causa essencial da formacdo dos corddes Hitoraneos. Depois de uma descrig&io dos cordées lileraneos fazendo sobressair os tragos que revelam a agéo das vagas, comecarei pois, por estudar o mecenismo das vagas de transiacéo para mostiar como elas jogam os materiais arrancados as falésias ou trazidos pelos rios, como caminham os seixos e as areias sob seu impulso e como sua agéo ultrapassa a de oulras causas possiveis Em seguida, em téino désse carater central, gruparei o estudo das diferentes formas de cordées lilordneos, graduando minhas conclu- sées fundamentais e mostrando o papel das causas ¢ influéncias secun- darias, como as correntes. B) Exemplo tirado do estudo de uma regido natural a Atnaz6nia brasileira. A pesquisa leva ao veconhecimento dos seguintes caracteres a Amazénia brasileira 6 uma imensa floresta tropical, densa, cobrindo uma planicie construida ¢ drenada por um grande rio de descarga poderosa e regular O esiudo da floresta e das associagées vegetais e animais que a forrnam em funcao do clima é portanto o cardter essencial pelo qual convém comegar a exposicao, depois abordar-se-a as relagdes do rio com Pag 43 — Outudio-Dezembro de 1943 564 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA a planicie e com o clima A ocupagdéo humana sera em seguida estreita- mente ligada aos dois tracos fundamentais: a floresta tropical e os vales que permitem penetrd-la. A combinacéo désses caracteres essen- ciais da ocupagaéo humana, tal como se adaptou a certas variagdes do aspecto fisico désse grande conjunto, principalmente do clima, relévo e estrutura, permite enfim tracar os quadros de uma diviséo em regides antropogeograficas, que serdo estudadas da mesma maneira, isto é, pelo agrupamento dos fatos em térno dos tracgos que distinguem essas regides das vizinhangas. C) Exemplo tirado de uma regiao antropogeografica. 0 Ruhr A regiao do Ruhr, situada a noroeste da Alemanha, deve sua origi- nalidade ao grande desenvolvimento da industria pesada Portanto, sé depois de ter definido e delimitado a zona industrial do Ruhr, convird, estudar 0 modo pelo qual as possibilidades naturais da regido foram utilizadas e quais foram as conseqiiéncias para a transformagao da pai- sagem, em particular o desenvolvimento do povoamento, a construgéo das vias de comunicagéo e as transformagées da agricultura. Poderei dar, désse modo, uma viséo sintética dessa regido industrial, muito mais exata do que se tivesse apresentado os fatos na ordem tradicional geo- logia, relévo, clima, hidrogratia, vegetacéo, dando assim, uma impor- tancia grande demais a caracteres fisicos que devem ceder o lugar a ésse grande fato primordial’ o enorme desenvolvimento industrial de uma regido do noroeste da Alemanha, no fim do século XIX e na pri- meiia metade do século XX Il — A descrigéo néo deve ser um inventdrio VipaL pg La BLacuE dizia freqiientemente’ “Enumerar nao é descrever” Uma nomenclatura de montanhas, de rios e de aldeias, por mais precisa que seja, é um trabalho que nao tem maior valor cientifico do que a lista de instru- mentos e acessérios de um laboratorio. II — A descrigdo deve ser viva — Deve esforgar-se por exprimir os tragos essenciais da paisagem, os que melhor traduzem sua estru- tura fisica e humana, definindo as formas e as associacdes dos fatos, permitindo penetrar todo o dinamismo das transformacées que ela pode sofrer e permitindo formular bem os problemas que serdo estudados. IV — A descri¢éo das paisagens deve conduzir a sua interpretacdo. Todo fato geografico se inscreve numa paisagem e um estudo sé per- tence 4 Geografia na medida em que localiza os fatos na paisagem para descrevé-los bem, para associd-los estreitamente 4s outras formas da vida fisica, vegetal, animal e humana e tentar explicay nao somente suas causas e suas conseqiiéncias essenciais, mas as influéncias que éles recebem de seu meio geografico como as que o fazem sofrer V — 0 vocabuldrio geografico moderno deve ser empregado cor- retamenie. A redacao deve inspirar-se na necessidade de descrigdes que conduzam a interpretacdo por uma escolha apropriada de térmos com- preensiveis que nao descrevem sodmente as formas, mas dio ao mesmo tempo uma indicag&o sébre suas origens Pag 44 — Outubro-Dezemmio de 1943 AS NORMAS DA ELABORACAO E DA REDAGAO DE UM TRABALHO GEOGRAFICO 565 Essas descrig6es explicativas exigem um vocabulario técnico pre- eiso, que deve ser empregado com atenc&o, 0 que implica que n&o se possa pretender escrever um trabalho geogrdfico conveniente sem ter adquirido os rudimentos da Geografia geral, fisica e humana. VI — A interpretacgdéo nado é uma andlise anatémica, deve levar a compreenséo de um mecanismo. — Se a andlise é Util na pesquisa, deve ser proscrita na exposigéo, em que se deve procurar fazer a sintese dos elementos de que se dispde, para mostrar bem sua articulagao e hierarquia. Uma dissecagéo anatémica da paisagem, pega por peca, nao pode conduzir a uma conclusao construtiva. Para fazer compreender o me- canismo de um relogio, em lugar de descrever e de classificar cada peca destacada, devo mostrar como funcionam as engrenagens essenciais; para um ser vivo, em lugar de enumerar as partes de seu esqueleto, devo expor o encadeiamento de seus movimentos e as fungées da vida, 0 mesmo acontece com uma paisagem Pensar como gedgrafo, é ter constantemente no espirito um complexo de fatos dos quais se procura determinar a distribuicéo, as causas, as conseqtiéncias e as influéncias reciprocas, afim de chegar a uma interpretaciio que nao deixe de lado nenhuma caracteristica essencial e sublime ao mesmo tempo, as gra- dacGes introduzidas por fatos de importancia secundaria VII — A interpretagdo deve cuidadosamente evitar ultrapassar os fatos — ¥ preciso sobretudo, nao se fiar nas hipdteses e nas formulas brilhantes, mas excessivas, que criam somente a confusdo porque ultra- passam os fatos observados e nfo resistem ao exame cientifico VIII — Um trabalho geografico deve ser acompanhado por ilus- tracoes cuidadosamente escolhidas e estreitamente ligadas as interpre- tagdes dadas no texto. * A variedade dessas ilustragdes é consideravel cortes, perfis de rios, estereogramas ou blocos-diagramas, cartas geomorfologicas, diagramas e cartas climaticas, biogeograficas, demograficas, econémicas, fotogra- fias cuidadosamente situadas e comentadas. etc .., mas nfo se deve esquecer que os trabalhos graficos nao constituem um fim em si, sao sodmente auxiliares da pesquisa cientifica e s6 tém valor quando acom- panhados de um comentario explicativo e quando conduzem a con- clusoes. IX — Uma carta e um gréfico néo tém nenhum valor cientifico se sua projecdo, seu modo de construgéo e sua escala, ndo estdo indi- cados por uma legenda precisa e indicagdo das fontes utilizadas X — O interésse geogrdfico das cartas e dos diagramas aumenta considerdvelmente se éles tem por fim uma representagdo sintética Os estereogramas ou blocos-diagramas, mesmo esquematicos dao ao mesmo tempo o relévo e a estrutura. Do mesmo modo, deve-se pre- ferir uma carta geomorfolégica, mesmo suméaria, a duas cartas precisas, Pig 45 — Outubio-Dezembio de 1943 586 REVISTA PRASILEIRA DE GHOGRAFIA mas independentes, uma topografica, outra geolégica. Nos estudos hidrograficos devem figurar os principais tipos de alimentagéo ¢ as curvas mais caracterfsticas do regime junto das confluéncias Nas cartas de vegetac&o, deve figurar o essencial do relévo ce dos regimes climaticos . Os graficos e diagramas demograficos e econdémicos adquirem ver~ dadeiramente uma significacaéo geografica, ndo somente quando apro- ximam muitas ordens de fatos, mas quando s&o localizados sdbre cartas Jembrando esquematicamente cs grandes tiagos fisiccs, que podem ter relacdes com os fatos estudados. XI — As rejeréncias bibliogrdficas relacionadas com o texto e a ilustracéo devem ser muito precisas QUARTA PARTE Regras que se apticam 4 claboragdo e A redag des de um estudo Um trabalho cientificatnente orientado deve conduzir a conclusdes De cada desenvolvimento particular deve sair uma, ou varias con- clusdes, estabelecendo 0 que é adquirido e o que permanece em estado de hipétese. © trabalho termina por uma conclusdo geral que coordena as conclusdes parciais e tenta ressaltar as causas e as conseqiiéncias das caracteristicas geograficas essenciais da paisagem e mostra as rela- goes com fatos ou regides de natureza andloga Em resumo, durante a elaboracio e redacio de um trabalho gengra- fico, o autor deve conslantemente inspirar-se nas conclusdes seguintes: A Geografia 6 uma ciéncia que procura definir as associagées de fatos na sua forma sintética, para melhor apreender suas relacdes complexas, isto 6, para compreender um conjunto coerente de mani- festacées de vida fisica e humana na superficie do globo Convém pois, marcar com preciséo a extensdéo dos fendmenos que entram na composicéo de um meio geogrdfico, procurar suas causas e conseqiién- cias e tragar sua evolugado & RESUME, Lautem, Professew: Faancrs RvmLiaN, Diectew d'tudes & Ifeole des Hautes tudes Cnstitut dé Géomaphie de l'Universite We Pails) Professem de Géomaphie & Ja Fac Nationale de Philosophie de 1'Université du Présil et ehmgé de Vouienti xéun‘ons cultyteties du Consell Naiional de Géomaphie 2 cherché A condenser dans Jes normes qu’ll convient de sulvie lis de V’élaboation d'un avail géog.aphique Définition: Lobjet de la gdographie est en méme temps une de T'enscmble des phenoménes, qui donnent a la tei1e sa physionomic Pag 46 — Outubro-Dezembro de 1943 AS NORMAS DA ELABORAGAO F DA REDAGAO DE UM TRABALHO GEOGRAVICO 567 Le travail géogiaphique otiginal suppose nécessaement une cuquote personnelle mu le terrain, le taavail de cabluet n’étant que le complement néccssaire de cotta enguete Dans ln pemigie partie de son travail Vautem présente les idales généales aut ont une Inge applieation aussi bien en Géogiaphie Physique qu’en Géopiaphie Humaine: 1) Description préelse et vivante 2) Locatisation piécise 3) Uxtenston des faits étudiés et étude des zones de transition 4) Ropaitition des phénoménes typiques et de lews variations 5} Conélation montiant les relations ente les taits 6) Compainisons bases sur une étude des phénoménes similalies 7) Causes des vatiations de aspect et de Ie nature des phénoménes 8) Conséquences physiques et hnmalues 8) Sciences ausitiaires qui doivent seulement Intervent & ce Une 10) Piédomiance des caactéies physiques ou humains wine de monic) la pat qu'il fanb atiibuer aux iutiuences nauuches ef celle qui plovient du Libie mbiae de Vaomiue Seconde purvie: Réples propios aus shudes de géveraphic igtonale 1) Dérinition — L'étude géozraphique régionole s'applique A une associncion aans Pespace @un complexe de phénomenes, dont 1 ueporte de bleu marque les limiks la te, aici, 1s cntiees, ks Conscyueners et ies TelaLOUS 2oeproUues, aun Ge dayayer COU Gui CouAcuE wa te ylwn SuUCiCe Ses eaLuciGies OFBLAAUS 2) H convient de distinguet tes réxfous a géourapuie huinaaie, om Vauelvite Lime ¢ Died Gowicnees, suivany de cuore nue pan (uielics des régions withiyposécxraphiars ou de Glne Ges pAYADELA AVE des Etrocieccs peysiues wune G2 Ge que ta waiune Mi ulfte 8) Les ctudes de géogievlio idgivuale dvivent fae compeudie won silemens Ja wantere dont vit 14 region Guudive, mmuis fe 1ase1ul aussi Ios possibllites de cebie Louie, en evel: ut une lidivon eutie Tek WenmnGens cL en en duuuant Jes Cemneuis Weal Us ust Desens poll 1 Sut Disseuicay de noivelles eaneps ives Toisteme nureio: RS de piésentotion a'un travall geet 1) Le plan a'tm favail voile sulvaub les conelusions aw-qitelles om amive pendant In recheiehe “Lo lait ow complexe esseuiiel Gue Ia ierhe@ebe @ dégazé doit Cue wis cn dvidence et c'est muioitt Ge co fall ceaual on Ge ce golipe de taits ys le pla dude etre arvetis dv meaiawe A penuetae a’élablit cusuite les Gene que kes autres euacieics ont uvee TUL (pltisicuis cxetuples delident bieu vlaiiG fa indie GouL ceite iegle doit etre appliques) 2) La desciipsion ne acit pas éue un inventaire 3) La deveription doit éhe vivante 4) La deseription des paysages dolb condulie & leu inteipagtation 5) Lo yocabuinue géogiaphique modeae duit ee employé conect ment 6) interpretation ne doit pas Oe ume analyse competion dun mésauisme ¢y Von dol cheieher & fab on chsposs omiaue, elle doit contuhe & Ia une symuacae Ges @émenie dont 7) Linterprétation doit éviter soigneuscment de dépasser les inits 8) Un tava géomapnique doit Ste acemnpagné Ge photogisybics seigneusement cioisies et GUI solemy ChoscuieAd Lees AUX IMtamétations données dans le texte 9) Une euite ou un giaphique n'a aueuae valew, st sy projection ou Iéeholle adoptte ne SOL Eas INsLQuUEs PAL Wile dwZLUde PLOLIKC Ch sl les suulces Ubilisées ne KUNE yas insationnées 10) Winter géomiayhigue des eaites on des Miagiammes est considéanlement rupmeaté sills tendent & une Lepiésentation symtieuaue 11) Les 1éléences bibliographiques se rapportant au texte cb A Millustiation doivent, ete tes précises Quutiisme partic Conclusions Un tavail conduit soientifiquement doit aboutit A des conclusions A mexne que Te travail sq dévelopye i iaut ékuborer acs conclusions garticlles sur lesyuetics dolt s'appuye. la conclusion pengiale finale RESUMEN El onto, Prof; Francis Rurutan, Dict de Estudios en In Escuela de Altos Estudios (instituios do Gromaatin de Ii Tniveisidid de Pails), Professor de Geosiatia en in Facultad Nacional de Filosofia de la Universidad del Brasil y Onleniado cieniiica de fas reuniones culturaies del Consejo Nacionel de Gcogiatia, bused teunh en este aitieulo, basiadose en In definicién de la Geogiafia, las normas de claioacién de un trabajo geogiaflco Pag 47 — Outubo-Dezembro de 1993 568 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA Definicién: “EL ebjeto de 1a geografia es al mismo tiempo una dese.ipeién y una explieacion de tos conjuntos de fenémenos, que dan a la Tieita su fisionomia actual” El trabajo geogréfico original exige una pesquisa personal en el ter1eno, y el trabajo de oficina es solamente el complemento necesario de esa investigacion En la primera parte de su articulo, el autor presenta las Reglas Geneiales, con ampli apli- eacién en la Geogiafia, fisica y humana 1 — Doseripetén precisa y viva 2— Localizacién precisa 3 — Extensién de los hechos estudiados y estudio de Jas onas de tiansicién 4—Distribucién de los fenémenos tipicos y de sus vatlantes ~ Comtelacién mostiando las 1eiaciones de los hechos entie ellos —Compmiactones basadas en un estudio de los fenémenos siilaies 7 — Causas de Ias varinciones del aspecto y de Ja natualeza de los fenémencs 8 — Consecuencias fisicas y humanas 9 — Ciencias auxiliares que deben solamente mtervenir a titulo austilar 10 ~ Predominancla de los caracteres fisicos © humanos a fin de mostial lo que toca a las influencias naturales y lo que toca al libre arbittio del hombre Segunda parte: Reglas pata el estudio de In geogratia regional 1 — Definicién — El estudio geografico regional se aplica a una asociacién en el espacio de un conjunto de fendmenos, cuyos limites deben cor bien marcados asi como Ia distulbucién, las eausas, las consecuencias y' las relaciones reciprocas, a fin de separar aquellos que dan ® esi region sus caactores otiginales : 2 — Conviene distinguli las iegiones naturales y las regiones antiopogeograticas 9 de geografia humana en que Ia actividad humana giupa paisajes con calacteristicos fisleos muy diferentes, segun quello que el hombie escoger, de lo que la natmaleza le ofieclé 3 — Los estudios de geomafin regional deben hacst comprender no solamente como vive Ja region estudiada, sino también cuales son sus posibilidades, estableciendo una ligacién entre los téenicos y dandoles Ios elementos necesatios a las nuevas empresas Tercera parte: Regis de piesentacién de un tiabajo geogratico 1 — Bl plan de un trabajo varia segun las conclusiones a que se lega dunante Ia pesquisa BI trazo 0 complexo esencial 1esaltado poi Ja pesquisa debe sex acentuado y es alrededor de ese hecho central o de ese grupo de hechos que se deberd articular el plan de modo a mostrar en seguida las ligaciones que los cazacteristicos tienen con él (muchos ejemplos han hecho muy elaia In manera por que se debe piacticar esa regla) 2— La desctipeién no debe ser un inventario 3— La deseuipetén debe ser viva 4— La desctipeién de los paisajes debe conducir a su inte:protacion 5 — EI vocabulario geogrifico moderno debe sex empleado coirectamente 6 — La interpretacién no es un anfilisis anatémico; debo conducir a Ia comprensién de un mecanismo y busear baer la sintesls de los elementos de que se dispone 7 — In interpretacién, debe culdadosamente evitar exceder los iimites de los bechos 8 — Un tiabajo geogiatico debe ser acomparindo por ilustiaciones culdadosamente escogidas ¥ ostiechamente ligadas a Ins inte:pretaciones dadas en el texto 9— Una carta y un grifico no tlenen ningun valor clentifico si su proyeccién, su modo de eoustruccién y su oscala, no estan indleados por una leyenda precisa y por indicacion de las fuentes utilizadas 10 — EL inteiés geogrifico de Ins caitas y de los diagramas sumenta considerablemente si ellos tienen por fin una epresentacion sintética Li — Las referencias bibHiogréfieas relacionadas con el texto y In ilustracién deben ser muy precisas, Cuarta parte Un trabajo cientificamente orlentado debe conduch a conclusiones A la proporcion que el trabajo se desariolla deben scr elaboiadas conclusiones parciales en que esté basada una conclusién general, tinal RIASSUNTO. Ul Prof Francis RvELLan, docente di geografia nella Facolt Nacional di Filosofia dell’ Universitit del Biasile, detta norme per I'elaborazione di studi geogiaficl, fondate sulla definizione della geo- grafla come “descrizione e splegazione dell"insieme det Yenomeni che danno alla terra il suo attuale aspetto” Ti lavoro geogratieo originale esige ilcerche personali sul terreno, delle quali il lavoro ai tavolino @ soltanto un necessario complemento Pag 48 — Outubro-Dezembro de 1943 AS NORMAS DA ELABORACAO E DA REDACAO DE UM TRABALHO GHOGRAPICO 589 Nella prima parte dell’articolo, Vautore espone norme generali, Iaigamente applicabllt nella geogiafla, fisica e umana: 1 Deserizione precisa e vivace 2 Localizzazione precisa 3. Estensione del fatti studiati e esame delle zone al transizione 4 Disteibuzione del fenoment tipicl o delle loro variant 5 Conielazione 1eciproca tra i divers! fattl 6 Compmazioni fondate sullo studio det fenoment similares 7 Cause delle vatiazioni degli aspetti e della natiua dei fenoment 8 Conseguenze fisiche e umane 9 Intervent! accessori di sclenze ausiliert 10 Predominio det caiatteri fisicl o di quell uman Nella seconda parte, I'autore di noime per gli studi ai geografia regionale 1 Lo studio geogiafico regionale si iiterisee all’assoclazione nello spazio tra fenoment costituenti un complesso, i cul limiti devono essere nettamente segnutl Devono anche essere chiaiamente definite la distiibuzione, le cause, le conseguenze e Ie relazioni reelproche del dettl fenomeni, in modo ehe siano postl in‘evidenza quelll che danno alla 1egione i suol caratten! tipiet 2 Conviene distinguere Ie region! natutali e le region! antropogeogifiche; in queste ultime possono coesistere pacsaggi con caratteri fisici molto diversi, secondo le scelte operate dall'uome tra le ilsorse offerte dalla natura 3. GU studi di geografia 1egionale devono mostiare, non solo come vive la regione studiata, ma anche quali sono le sue possibilita, approfittando dela collaborazione dei tecniel e fornendo elementi necessarl a nuove imprese. ‘Nella terza parte, V'autore espone norme dt presentasione di un lavoro geografico 1__TI piano oniginario di un lavoro dev'essere modifieato, ove occotta, in relazione al risultatt detl’indagine T trattl essenziall da quests rivelati devono essere posti in risalto; intomo a tale uucleo centrale, 11 piano dove svolgers! In modo da mostiare i nessi esistenti fra 1 vari caratterl ed il nucleo stesso. 2 La descrizione non dev'essere un inventarto 3° La desciizione dev'essere vivace 4 Ln deserizione dei paesaggi deve conlune alla loro interpretazione 5 Dev'essere usata corretamente In terminologia geografiea moderna 6 _Liinterpretazione non dev'essere semplice desciizione anatomtca, anzi deve guidare alla comprensione delle relazioni e conduire ad una visione d’'insieme. 7 L'ntermetazione non deve esorbitaie dai fattl. 8 Un lavoro geografico dev'essere accompagnato da illustrazioni, scelte con sugacia e con riguardo alle inte:pietazioni esposte nel testo 9 Una carta o un grafico perdono buona paite del loro valore scientifico se non sono corredati delle indicazioni necessarle per la coiretia lettuia — proiezione, modo di costiuzione, scala, ece — e dell'olenco delle fontl utilizzate 10 Liimportanza geografiea delle carte e dol giaficl @ notevole, se riescono a dare rappresentazioni sintetiche IL Le indicagioni bibliogiafiche elative al testo ed alle illustiaziont devono essete precise Nella quarta paite, Vautore espone consideracioni general Afferma che col progredire del lavoro si devono ticavare conelusioni parziall, che Pol, coordinate, conducono alla conclustone geneiale Qualsiasi lavoro esegulto con metodo scientifico deve condurre a conclusioni. SUMMARY The author, Prof FRANCIS RUMIAN, Directem d'Etudes A I'Boole des Hautes tudes {institute of weoslaphy at the Sorbonne), professor of geoglaphy at the National Faculty of Philosophy, University of Brazil, and scientific conductor of cultural meetings at the National Council of Geogiaphy, basing Almselr on the definition of geogiaphy sought to assemble, in this article, the rules for developing a geographical study Definition: “The objective of geomiaphy is at the same time a description and an explanation of the assemblages of phenomena which make up the iace of the earth” Any ouginal geographical study implies a peisonal someh In the field, inside work being only a needed complementary feature of such an investigation In the first part of his article the autho: presents the General Rules for wide application to geogiaphy, physical and human 1 — Description, precise and vivid 2— Accurate location 3— Extent of facts under consideation and the study of zones of tansition 4— Distribution of typiesl phenomena and their vatlances 6 — Comparisons based on a 1esearch of the similar phenomena 6 — Comparisons based on a research of the phenomena 7-— Causes of variations both In appearance and nature of the phenomena 8 — Physical and human effects. Pég 49 — Outubio-Dezombio de 1943 ee 70 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAPIA 9 — Auxillary sciences which should interpere only on the basis of aid 10 — Predominance of physical and human features in order to determine both the réle played by natural influences and thet due to man’s fee will Second part: Rules fo. studies on regional geography 1 — Definition — The regional geographical research is applied to a space assoclation of a complex set of phenomena, the mits of which should be so well matked as the distilbution, the causes, the effects and the mutual telationships should in order to detach those impatting to the region its original pattems 2 — It is convenient to distinguish the natuial regions from the anthropogeographic or human geography regions in which man-made scenes ate giouped with much different physical details, in accordance with what he chooses fiom among what nature offered him 3. — The studies of regional geography should not only meke one understand how the region unde consideration lives but also ite possibilities, and should establish a link between technicians and afford the necessay cloments for new enterprises. Third part: Rules for presenting a geogiaphical work 1 — The planning of a study varies according to the conclusions amived at tn the course of @ iesenich “Emphasis should be placed on the essential Iineament o1 complex evidenced by investigation, and it is alound such a fact or such group of facts that the plan should be geared in order to show at once the associations which the features have with it (several examples have made the way to follow in this ule clear enough). 2— The description should not be an inventory. 3 —The description must be a vivid one . 4—The description of landscapes should lead to thelr interpretation 5 — The modern geographical vocabulary should be used in a correct manner, 6 — The interpretation Is nob an anatomical analysis, tt should lead to the understanding of @ mechanism and should seek to make a synthesis of ‘available elements 7 —‘The interpretation should carefully avoid surpassing the actual facts. 8 —A geogiaphical study should be accompanied by sellected iMustrations closely related to the interpictations given In the toxt 9 — Any map o1 giaph will have no scientific value if thelr planning, construction and scale are not Indicated by an accurate legend and if there 1s no indication of the sources uscd. 10 — ‘The geographical value of maps and diagiams is considerably increased if they have ‘the object to conveying synthetic representation 11 — The bibliographical references related to the text and the illustration should be absolutely accurate Fourth pat; Conclusions A scientifically conducted woik is one that leads to conclusions As the work develops partial conclusions should be drawn as a basis for a final general conclusion. : ZUSAMMENFASSUNG Der Verfasser, Piofessor Francis Rurutax, Direktor des Geographischen Institutes der Universitit Paris ‘und Professor fii Erdkunde ‘an der nationalea Filosophischen Fakultit der Universitit von Brasilien wie auch wissenschaftlicher Ravgeber de: kwtuien Veieiigungen des nationalen Rates {tir Eidkunde, veisuchte in diesem Aitikel die Nomen det Elaboration einer geogiaphisehen Aibelt gu voreimigen, indom e1 sich auf dic Definieiung der Exdkunde basiert. Definieruag: Das Objekt der Geogiaphie ist au selben Zeit eine Beschreibung und eine Erkliuung der Phenomene welche der ide seine augenblickliche Phisionomie geben Die whkliche geogiaphische Arbolt eiheischt eine peisdnliche Forschung auf dem Terrain, die Arbeiten am Sekeibiisch sind nw notwendige Vervollstiindigungen dieser Foischungen In dem ersten Teil selnes Artikles erwbnt der Vetfasse. die allgemeinen Regeln mit Weltgehe.sver Anwendung an die physiche und menschliche Geographic 1 —Genaue und lebendig Beschteibung - ~ Genaue Feststellung des Ortes, — Tiweiterung der studierten Tatsachen und Studium der Zonen des Uberganges, — Veiteilung der typischen Phenomenen und seine Vatiierungen 5 — Wechselberichungen dle die Besichungen der Tatsachen unter sich zeigen 6 — Veigieichungen welche auf einem Studium da Phenomenes fussen 7 — Die Ursachen dei Verandérungen des Anblicks und der Natu: de: Phenomene. 8 9 new ~ Die physichcn und mensehlichen Konsequenzen — Die Hilfswissenschatten welche nu als solehe zugezogen werden kénnen 10 — Die Vorheischaft des physichen und menschlichen Characters um den Anteil welche den natitilichen Mullussen und den fielcm Urtell des Menschen zukommt, zu zeigen: Zweiter Teil: Regeln um die regionale Erdkunde zu studieen 1 — Definlerung — Das Studium der iegionalen Geographic wid an eine Verbindung im Raum cines Komplexes der Phenomene deien Gienzen sehr genau maikiert sein mtssen in Beaug auf dle Vertcllung, U:sachen, Folgen und gegenseltige Hezichungen, angewandt um die abzuzwelgen, welche jenet Gegend Seinen besonderen Charakter geben. Pag. 50 — Outubro-Dezembro de 1943

Você também pode gostar