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CapiruLo 4. PROCESSO CAUTELAR 198 4.1, ASPECTOS GERAIS 0 Estado realiza a jrisdigo sob duas formas: pela cogni¢ao, quando o magistrado, diante dos elementos trazidos aos autos pelas partes (provas), faz a concregao da norma a0 caso abstrato, dizendo a vontade da lei; e pela execugio, quando tomaefetiva, vale dizer, real, esta mesma vontade. Acontece que a prestagio nao surge instantaneamente, sendo certo que ‘oadequado decisério apenas se daré apés uma longa sequéncia de atos que levario ao convencimento do juz E €ustamente ness interregno (demora-tempo) que o estado de pesso coisas e provas pode softer mutagées (desvio, deterioragzo, alienagio e até mesmo a morte) que, se nao obstadas, levam a inutilizagao do provimento jurisdicional, ‘De nada adiantariadeterminar que o obrigado entregasse coisa que ja nao ‘mais existisse ao tempo da prolacdo da sentenca; ou deferir parte o direito de colher depoimento testemunhal de quem jé estivesse morto na ocasiao a instrugio processual;ou, ainda, conceder alimentos a quem, no curso da demanda, veio a falecer justamente pela auséncia de ditos alimentos. ‘Todos os elementos do processo (pessoas, provas e bens) podem, na demora do processo principal, enfrentar situacao de risco de dano, por con- ATENGAO! O sequestro distingue-se do arresto, embora ambos visem & constrigio de bens para assegurar sua conservagio até que possam prestar servigo 4 solugio definitiva da causa. Assim: 1) o sequestro atua na tutela da execucdo para a entrega de coisa certa e o arresto garante a execucdo por quantia certa; 2) 0 sequestro visa a um bem especifico (dito “litigioso") e o arresto tem o escopo de preservar um “valor patrimonial’, podendo assim, qualquer bem patrimonial disponivel ser objeto de tal medida. A) PRESSUPOSTOS DO SEQUESTRO primeiro requisito genérico € 0 interesse na preservagdo da situagio de fato, enquanto nao julgado 0 méri ‘O segundo requisito indispensavel 60 temor ou perigo de dano irrepardvel ou de dificil reparagdo ao bem que estd sendo ou que seré disputado no processo principal, ou mesmo as pessoas as quais 0 bem liga. A medida cautelar sempre pressupde, portanto, um perigo a ser afastado, B) OxjETO DO SEQUESTRO A regra do artigo 822 fala da decretacao do sequestro nos seguintes casos: = De bens méveis, semoventes ou iméveis: sempre que, disputada a pro- priedade ou posse, houver perigo de rixas (contenda fisica entre pessoas, comumente verificada nas disputas entre herdeiros) ou danificasdes (dano que incide sobre o bem, valendo salientar que o termo tem ampla conotagio, de modo a abranger a sua venda, doagio, deterioragio ¢ até o seu desaparecimento); © Dos frutos ¢ rendimentos do imével reivindicando: neste caso Fé apés condenagdo em sentenga ainda sujeita a recurso, esta praticand? ato de dissipagao, seja dos frutos (a exemplo de uma safra produzida pele imével), sea dos rendimentos (a exemplo dos aluguéis); ‘© Dos bens do casal: 0 sequestro se daré, de forma preparat6ria ou inciden- tal, nas ages de separacio judicial, anulacao de casamento ou divércio (c, por extensio, nas de dissolugdo de uniao estavel), quando umn dos Onjuges os estiver dilapidando. = Nos demais casos expressos em lei: vé-se, portanto, que o rol acima é meramente exemplificativo, Outros casos de sequestro so encontrados, porexemplo, nos artigos 125, CPP (sequestro de bens iméveis adquirides pelo indiciado com os proventos da infragio) ¢ 16 da Lei n® 8.429/92 {sequestro dos bens do agente publico ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patriménio). Pondere-se que o requerente da medida teré o dnus de demonstrara exis- téncia de quaisquer dos fatos que alegar como causas da pretensio cautelar. ©) Justiricacko Privia Os fatos imputados como prejudiciais ao bem disputado devem ser provados pelo autor. Em direito nao basta alegar. Quem alega tem 0 Onus da prova. & possivel, porém, que o requerente nao tenha a prova documental dos fatos que esté alegando, Entio, o legislador permite que essa prova possa ser feita por testemunhas. A prova terd lugar, destarte, em uma audiéncia. A justificagao prévia é a audigncia para a obtencio de prova oral dos fatos imputados como causa de pedir do sequestro. D) 0 SEQuEsTRO EA AGAO PRINCIPAL ‘Assim como mencionado no arresto, a decisio na cautelar de sequestro (sua procedéncia ou improcedéncia) nao tem qualquer repercussao no pro- cesso principal (artigo 810, CPC). Em outros termos, o requerente da medida nao seré, necessariamente, a ‘pessoa a quem o jufzo reconhecerd 0 direito & coisa defendida. F) Nomeagio be nErostrinio © depositario dos bens sequestrados seré uma pessoa da confianga do juiz. O depésito é encargo e recai sobre pessoa que o juiz entenda idénea ara a atribuigio. As partes, contudo, podem indicar ao juiz, de comu acordo, o depositirio. O juiz muito dificilmente rejeitard a pessoa indicada e «ssa parece ser a melhor solugio para o depésito. O legislador permite, por outro lado, que qualquer das partes venha a ser nomeada depositiria dos bens. O depositério, nesse caso, deve oferecer maiores garantias que a outra e prestar caugio idonea. A entrega dos bens far-se-4 logo apés o depositério assinar 0 devido termo de compromisso. Caso haja resistencia na entrega, o magistrado poder determinar 0 auxilio de forga policial. 4.9.3. BUSCA E APREENSAO. Abusca e apreensio é espécie inserida no género “apreensio judici lado das medidas de arresto e sequestro. No entanto, ndo podemos confundi-la com as modalidades anterior- mente estudas, Primeiro porque ela tem cardter residual, na medida em que se aplica ‘a0s casos em que sio incabiveis aquelas providéncias (ex.: busca e apreensio de material confeccionado com violagao a direito autoral, como modalidade reparat6ria @ futura agdo de indenizagéo por danos materiais e morais) Em segundo lugar, pelo fato de que, enquanto o arresto e sequestro inci- dem sobre coisas, a busca e apreensio também poderd incidir sobre pessoas. £0 caso, por exemplo, do menor que, apés passar um final de semana com pai, estd na iminéncia de ser levado para outro estado da federacio. Assim, antes mesmo de ajuizar ago para pedir a manutengio de sua guarda, a mie podera ingressar com agao cauitelar de busca e apreens4o do menor. Pelo exposto, podemos definira busca e apreenstio como medida cautelar ‘que tem por objetivo preservar pessoas ou coisas para a eficacia da decisio a ser proferida na cognigo ou dos atos a serem praticados na execusio. ( instituto tem previsio nos artigos 839 a 843 do CPC. A) Esrécies A medida teré natureza pessoal quando incidir sobre pessoas, ¢ real quando incide sobre coisas. essoas que estejam em isco, em especial, incapazes, criangas, adolescen- tes que podem ser alvos da medida para o fim de preservi-las de maus-tratos ‘ou mesmo de deslocamentos para locais nos quais nao possam ser alcangadas Por quem com elas tenham relacionamento. Quanto as coisas, ressalte-se que, pela prépria natureza da medida (buscar e aprender), a coisa ha de ser mével B) VARIAGGES JURIDICAS DO TERMO “BUSCA E APREENSIO” A expressio "busca e apreensio” comporta variagées na interpretagio juridica do contedido do termo. Ble pode se referit a uma medida cautelar auténoma,a uma simples medida em carater incidental na cogni¢o ou exe- cugio sem cardter de autonomia e também a uma medida satisfativa prevista em torno do bem alienado fiduciariamente. ‘= A busca e apreensio cautelar auténoma: a busca ¢ apreensio cautelar auténoma é o procedimento previsto entre os artigos 839 843 do CPC. (O procedimento nasce como objetivo de preservar pessoas ou coisas para a eficécia de um processo em curso oua ser manejado. & instaurado pelo intetessado por meio de uma peticao inicial e surge com autonomia em relagao ao procedimento principal de cogni¢o ou executivo. = A busca e apreensio incidental na cognigo ou execugao: a busca e a apreensio também podem ocorrer em carater incidental pela necessidade de apreenso de pessoas ou coisas para o cumprimento de uma decisio proferida. Determinada incidentalmente, ela também pode ter natureza cautelar e ser determinada de oficio. A busca e apreensio incidental sio previstas, por exemplo, nos artigos 362 e artigo 461, par. 5° do CPC. » A busca e apreensio na alienagio fiducidria: em razio da alienagio fiduciia, 0 credor fiducisrio pode requerer a busca e apreensao do bem adquirido pelo devedor e sobre o qual repousaa garantia do empréstimo. Nesse casoa medida é decorrente de um procedimento instaurado como fim da busca e apreensio, tem carter autonomo, e a pretensio € satisfa- tiva do direito, ou seja, nao é cautelar (Decreto-Lei n° 911/69). A alienagio fiducidria, portanto, é agao de conhecimento (e no cautelar!) de rito especial, com caréter satisfativo, na medida em que o ato de apreensio, do bem exaure a prestagao jurisdicional ©) Jusriricagio Prévia A justificagao prévia € uma audiéncia na qual a parte requerente teré a oportunidade de produzir prova em torno da alegacao da inicial. Para a obtengio da medida no basta alegar a situagdo de risco da pessoa ou coisa objeto da medida; é necessério que haja prova em torno da alegacio. O juiz 86 deferira a medida em havendo prova da alegacio. A liminar (medida no inicio do procedimento), especialmente necesséria nesse tipo de procedimento, s6 218 ser deferida se houver prova do risco a que esta submetida a pessoa ou coisa protegida. Se 0 requerente nao tiver prova, poder requerer a audiéncia de justificagao prévia. D) ProcepimENTO © procedimento cautelar de busca e apreensio & 0 mesmo previsto para qualquer outra agio cautelar (petigdo inicial, admissibilidade,liminar, citagao, resposta, instrugao e sentenga), Cabe ressaltar que na pega inicial o requerente, além de atender aos requisitos gerais dos artigos 282 e 283 do CPC, expord as razes justificativas da medida e da ciéncia de estar a pessoa ou a coisa no lugar designado. E) A SISTEMATICA DO CUMPRIMENTO DO MANDADO. Cabe ponderar, antes de qualquer coisa, a necessidade de assinatura do juiz no instrumento em questo, sob pena de nulidade, em virtude do aten- dimento ao consubstanciado no inciso XI do artigo 5° da CF de 1988 (entrada em casa alheia somente com ordem judicial) Os artigos 841 a 843 disciplinam a sistematica do cumprimento do man- dado nos seguintes termos: Artigo 841. A justficacdo prévia far-se-d em segredo de justica, se for indispensdvel. Provado quanto baste 0 alegado, expedir-se-4.0 ‘mandado que conterd: T= a indicago da casa ou do lugar em que deve efetuar-se a ditigéncia; IL a descrigdo da pessoa ou da coisa procurada e o destino a the dar; IU ~ a assinatura do juiz, de quem emanar a ordem, Artigo 842. O mandado seré cumprido por dois oficiais de ustica, tum dos quais o leré ao morador, intimando-o a abrir as portas. § °, Nao atendidos, os oficiais de justiga arrombardo as portas externas, bem como as internas e quaisquer méveis onde presumam que esteja oculta a pessoa ou a coisa procurada § 2°. Os oficiais de justiga far-se-@o acompanhar de duas teste- munhas. § 3°, Tratando-se de direito autoral ou direito conexo do artista, irprete ou executante, produtores de fonogramas e organismos de radiodifusdo, o juiz designaré, para acompanharem os oficiais de justica, dois peritos aos quais incumbird confirmar a ocorréncia da violagdo antes de ser eetivada a apreensio. Artigo 843. Finda a diligéncia, lavrardo os oficiais de justiga auto circunstanciado, assinando-o com as testemunhas. = Os Oficiais de Justiga: a regra para o cumprimento do mandado prev que dois oficiais de justisa devem participar da diligéncia de cumpri- ‘mento. © habitual é que os mandados sejam cumpridos por apenas um_ oficial de justiga. No caso da busca e apreensio cautelar, a previsio da patticipagio de dois oficiais tem em vista dar maior seguranga juridica a0 ato a ser praticado por esses serventudtios da justica. A medida de busca e apreensio ocorre, principalmente, quando ¢ grande o grau de litigiosidade das partes ¢ 0 objeto da apreensio deve ser resguardado de toda a atuago que possa ameagi-lo. As vezes ¢ indicado ao magistrado determinar, também, o acompanhamento de profissional especializado ao atoa ser cumprido, como, por exemplo, um médico (no caso de pessoa a ser interditada) ou assistente social (no caso de menor). = Oarrombamento de portas: ha regra prevendo expressamente o arrom: bamento de portas se necessério para o cumprimento da busca e apreen~ sio. A regra consagra, em outros termos, que tudo 0 que for necessario para o cumprimento do mandado de busca e apreensao sera feito. Os atos em questo deverio obedecer rigidamente & proporcionalidade ou razoabilidade dos atos administrativos ("no se abatem canhées"), sob pena de responsabilizacao civil do poder pi ATENCAO! E mister fazer duas ressalvas. A primeira, no sentido de que o principio em ‘questo se aplica quando do julgamento do reexame necessério, a teor do que dispde a Stimula 45, do ST); a segunda, é que a situago do recorrente poderd ser agravada caso o tribunal verifique lesdo & matéria de ordem piilica (é 0 ‘que se chama de “efeito translativo dos recursos” 5.1.4, PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE, Assim como o diteito de agao s6 pode ser regularmente exercido quando obedecidos certos requisitos, sendo 0 recurso uma extensio desse direito, deve o mesmo obedecer a pressupostos que condicionem o seu processamento e, por consequéncia, a andlise da matéria nele veiculada, Destarte, o uizo de admissibilidade consiste na verificagio dos pressu- postos recursais da modalidade recursal de que se tenha valido 0 recorrente para impugnar o decisério judicial Aludidos requisitos consistem em matéria de ordem ptiblica, de modoa poder ser enfrentada em qualquer grau de jurisdicao, de o sidade de provocacao da parte. A importancia é vislumbrada no fato de que ambas as instdncia (recorrente e recorrida) exercem dito juizo de prelibagio. Preenchidos os requisitos, diremos que o recurso ser “conhecido”, de sradentrarna anélise meritria (juizo de mérito) para, s6entzo,, concluir pelo “provimento” ou “improvimento” do instrumento recursal Eis 0s pressupostos de admissibilidade: ‘© Tempestividade: deve ser ele interposto no prazo previsto em lei. E mister ressaltar que a interposi¢ao do recurso prematuro (apresentado antes da publicagio da decisio a que se pretende impugnar) importa no seu ndo-conhecimento, caso o mesmo nao tenha sido reiterado apés a publ cagio oficial da decisio recorrida. Primeiro porque, se utilizado 0 instru- ‘mento antes do termo a quo, nao deixard o mesmo de ser extemporaneo} Segundo, pelo fato de que, aviado o recurso antes da publicagio do inteito teor da decisio, nao se poderia falar, tecnicamente, em inconformismo. 0 posicionamento em questio fora pacificado por intermédio da edicio da Simula 418, do ST). [No mais, frise-se que o prazo serd dobrado em certas situagBes: recurso pelo MP, Fazenda Publica (artigo 188, CPC), 0 pobre na forma dale, desde que representado por defensor dativo (artigo S®, par. 5, Lei n® 1.060 de 1950}, eos ltisconsortes com diferentes procuradores (artigo 191, CPC), desde que, neste caso, mais de um tenha suportado prejuizo (Stimula 641, STF); Preparo: consiste no pagamento das custas, como espécie de taxa, em irtude da contraprestacio por servigo piblico especifico. O preparo deve ser efetuado no ato de interposigdo do recurso, Sao isentos do pagamento daquela o MP, a Fazenda Publica e os que gozam de isengio legal 229 230. quando se tratar de recurso de agravo retido, embargos de declaracao ‘ou agtavo de instrumento utilizado para destrancar recurso especial ou extraordindrio (isengao objetiva) 2 ATENGAO! Verificada ainsuficiéncia no valor do preparo, o recorrente sera intimado para ‘complementé-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desercio. = Legitimidade: podem manejar o recurso: 1) quem for parte na relagao processual; 2) 0 terceiro prejudicado (ex.1: um advogado, por exemplo, tem legitimidade para recorrer de sentenca em que tenham sido fixados 0s hono- trios. A legitimidade do advogado é contemplada, inclusive, pela Siimula 306, do ST], a qual possibilita, também, a inclustio do mesmo na execuséo promovida pela parte; ex.2: recurso interposto pelo arrematante que viut 0 ‘magistrado acolher os embargos & arrematagao interpostos contra arrema- tagao feita em hasta piblica); 3) 0 Ministério Piiblico, seja no processo em que for parte ou naqueles em que tenha atuado como fiscal da lei (ainda ue, aqui, nao tenha havido recurso voluntario pela parte, a teor do dis- posto na Siimula 99, ST). = Inter : representado pela demonstragao de que o provimento jurisdi- fe trouxe prejuizo. Somente poderd recorrer quem experimentou prejuizos coma decisio emitida. =» Regularidade formal: trata-se de exigéncia quanto a presenga de requi- sitos estruturais, a saber, fundamentagio e pedido de reformayinvalidagio/ integragGo da decisao (gerais). Podem, também, consistir em requisitos especificos, os quais variam de acordo com o instrumento recursal manejado. (exemplo: no Agravo de instrumento, devem-se juntar cépias da decisao agravada, certido de intimacao, c6pias das procuragdes, ete; no Recurso especial fundado em dissidio jurisprudencial, o recorrente devera acostar a prova da divergéncia mediante certidao, c6pia autenticada ou citagio do repositério de tiver sido risprudéncia oficial ou autorizado em que jada a decisio divergente, et) © Inexisténcia de fato impeditivo: a apreciagao do recurso nao serd feita um fato que a impeca. Neste contexto, existem dois fatos, impeditivos que merecem destaque: a desisténcia e rentincia A desisténcia é ato unilateral do recorrente 0 qual impede a apreciagao de recurso anteriormente interposto, independente da anuéncia da parte con- 1 (ao contrario do que ocorre coma desisténcia da agao, apés decorrido ‘0 prazo para resposta artigo 267, par. 4, CPC). Pode ser requerido, desde {que nao se tenha, ainda, realizado o julgamento. Pode ser manifestada por petigao avulsa, ou mesmo verbalmente, durante a sustentacao oral ‘Outrossim, a rentincia se dé antes mesmo de uma possivel interposigao do instrumento recursal cabivel. Pode ser emitida de forma téciea (quando praticado ato incompativel com o direito de recorrer, a exemplo do devedor que, no prazo do recurso cumpre espontaneamente com 0 decidido ou sim- plesmente, deixa transcorrer 0 prazo recursal sem o aviamento do recurso) ow expressa, quando aviada peticdo manifestando o desinteresse em atacar 0 comando judicial que Ihe causou gravame. 2 ATENGAO! Vale ressaltar que a reniincia pode ser total ou parcial, de modo que a parte pode limitar o desejo de recorrer de forma principal, mantendo, no entanto, a possibilidade de recorrer adesivamente. Nao havendo especificacao, a reniincia atingird o direito de recorrer como um todo. 5.5. EFEITOS Em primeiro lugar, cabe afirmar que o recurso tem 0 efeito obstativo, no sentido de que impede a produgio do transito em julgado da decisio combatida. Todo recurso terd efeito devolutivo, no sentido de “devolver” a matéria, objeto da impugnasio, para uma nova apreciagao do judicidrio, seja para a ‘mesma ou uma superior instancia. Havers efeito suspensivo naquele recurso que tiver o condao de impedir, de imediato, 0 cumprimento da decisio recorrida, a exemplo da apelacao. Por fim, o recurso ters efeito expansivo quando o seu resultado atingir ‘matéria no impugnada (dito “expansivo objetivo". Ex. recorre-se quanto d condenagao em dano moral eo resultado atinge o montante fixado,) ou pessoa que nao tenha recorrido (dito “expansivo subjetivo". Ex: apenas um litisconsorte recorre e o resultado beneficia quem nao haja recorrido) H4, ainda, o efeito translativo, o qual possibilita ao tribunal analisar as ‘matérias de ordem piiblica, independentemente de terem sido suscitadas no instrumento recursal. 231 23 32. 5.1.6, PRINCIPAIS MODALIDADES ‘Considerando a importancia do tema, € mister tecert sobre as espécies recursaisa seguir. 0s consideragdes 5.1.6.1. APELACKO ‘A apelacio € considerada como um dos recursos mais importantes do nosso sistema juridico, na medida em que ela ataca o provimento judicial de maior carga lesiva, a saber, a sentenga A) Derinigho £0 recurso manejado contra toda e qualquer sentenca, seja terminativa ‘ou mérito, em procedimento comum ou especial B) OnjETo Conforme salientado, 0 recurso em andlise é aptoa atacar sentenca, seja ela de mérito ou terminativa (artigo 267 e 269, CP Interposto 0 recurso, o tribunal estara adstrito & andlise da matéria que é objeto da impugnagao recursal, nos limites, é claro, do objeto da agio (regra do tantum devolutum quantum apellatum). E 0 que se chama de “extensio” da apelacao (prisma horizontal) Entretanto, dentro da limitagio imposta, o tribunal poderd visitar todos 08 argumentos que foram levantados pelas partes (“questdes suscitadas"), mesmo que tais espécies nao tenham sido objeto de andlise da sentenga ou do instrumento recursal, tudo com vistas a proferir uma decisio qualitativa (Efeito devolutivo em profundidade da apelagao). £0 que se chama de “profun: didade” da apelacio (prisma vertical) Reforgando tal circunstancia, o legislador pontificou que, quando 0 pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelagdo devolverd ao tribunal o conhecimento das demais. (ex: 0 juizo de primeiro grau acolhe o argumento de pagamento da divida ea instancia de segundo grau acolhe a extingao da divida com fundamento na prescri¢a0, tendo sido ambos os argumentos ~ prescrigao e pagamento - levantados na pega de defesa, porém apenas um deles acatado pela sentenca) O recurso de apelagio veicula pelo menos um dos seg die = Errorin procedendo: dizem respeito & desobeditncia de normas ligadas a0, procedimento (ex: julgar antecipadamente a lide quando néo era 0 caso, visto que existia prova a ser produzida a favor do prejudicado; ex.2: rejeitar aooitiva de testemunha ow a produgao de prova pericial) 1 Error in judicando: ligados ao jutzo de mérito (ex.: md valoragio de pro- vas, como no julgamento baseado em depoimento de tinica testemunka de acidente, quando comprovado robustamente por pericia a culpabilidade da parte declarada vencedara na sentenca). C) ForMaLiDapEs = Prazo: 0 prazo para a interposigao do recurso € de 1S dias, contados da publicacao da decisio que se quer recorrer. Atente-se que, conforme analisado na teoria geral, os prazos devem ser dobrados quando se tratar de fazenda pablica, MP, litisconsortes com diferentes procuradores e 0 beneficidrio da justica gratuita quando acompanhado de defensor dativo. = Petigao: a pega deverd conter os nomes e qualificagao das partes, funda- mentos de fato e de direito bem como o pedido de nova decisio (refor- mando ou invalidando a anterior) = Preparo: o recotrente deverd efetuar o preparo do seu recurso (salvo no aso dos que sio isentos (par. 1, artigo SII, CPC), mediante o pagamento das custas, de modo a acostar comprovante no ato de interposiczo do instrumento recursal (artigo SUL, CPC). Ocorrendo insuficiéncia no valor do preparo, a desergao apenas serd declarada se o recorrente, intimado, xo o houver complementado no prazo de § (cinco) dias. Havendo justo impedimento, poderd o magistrado relevar a pena de deserso (ex. agéncia bancéria encerra expediente forense mais cedo ou advogado que fora assaltado). D) Ererros Como regra geral, sera recebida em ambos os efeitos (devolutivo e suspensivo}. efeito devolutivo significa que o re a juris ‘tem 0 "poder de devolver para icdo (agora superior) apenas a matéria que é objeto da impugnagao ecursal, possibilitando uma nova andlise sobre a mesma (regra do tantum \ devolutum quantum apellatum). £ 0 que se chama de “efeito devolutivo em extensio”(prisma horizontal), Entretanto, dentro da limitagao imposta, 0 tribunal poderd analisar todos os argumentos que foram levantados pelas partes ("questdes suscitadas"), mesmo que tais espécies nao tenham sido objeto de andlise da sentenca ou do instrumento recursal (feito devolutivo em profundidade da apelacao ~ prisma vertical). Outrossim, o efeito suspensivo da apelacio se refere ao fato de que ela impede que a sentenga impugnada seja, desde logo, executada. > ATENCAO! No artigo 520, do CPC, olegislador tratou de estabelecer o feito tZo somente devolutivo no recurso em andlise, haja vista a natureza emergencial das maté- rias nele veiculadas, de modo que a concessao de efeito suspensivo em tais situagdes poderia acarretar lesio a direitos (sentenga cautelar; que confirmaa antecipacio dos efeitos da tutela; sentenga na ago de alimentos, a que julga improcedentes os embargos & execugao e a sentenga que julga a divisio ou demarcagio de terra) E) PROCESSAMENTO Igado, o recurso de apelago percorre um caminho que vai 0 grau até o de segundo (tribunal). Assim, 0 percurso é desenvolvido da seguinte forma: No juizo de primeiro grau: = Juizo de admissibilidade prévio: interposto 0 recurso perante o juizo de primeiro grau, este fara o exame acerca da presenga dos pressupostos recursais. Cabe ressaltar que, verificando 0 magistrado que o decisério encontra-se em conformidade com Stimula do STF ou ST}, nao receberd o recurso de apelago (artigo 518, par. €evitar a subida desnecesséria de recursos nos casos em que de antemio, qual € 0 posicionamento que domina as cortes extremas. © Contrarrazées: realizado o prévio juizo de admissibilidade, declarara 0 juiz os efeitos em que a recebe, determinando a intimagio da parte contraria para a apresentagio das contrarrazbes. 234 © Reexame da admissibilidade: apresentada a resposta, éfacultado ao juiz realizar novo juizo de admissibilidade no prazo de cinco dias (artigo 518, par. 2°), visto que a parte contraria pode suscitar defeito nio percebido, de imediato, pelo juizo.a quo. Realizado o novo jutzo de admissibilidade, serdo 0s autos remetidos & instncia Superior, > ATENGAO! Caso a apelagio seja interposta contra sentenca que indeferiu a petigao inicial (artigo 295, 1, CPC) ou julgado a improcedéncia liminar (artigo 285-A, CPC), é possivel que, apresentado o recurso, o magistrado venha exercer seu juizo de retratagao, nos prazos, respectivamente, de 48 (quarenta ¢ oito) horas {artigo 296, CPC) 5 (cinco) dias (artigo 285-A, par. 1°, CPC). No juizo de segundo grau: = Nulidade sanavel e julgamento da apelagio (artigo 515, par. 4°): cons: tatando a ocorréncia de nulidade sandvel, 0 préprio tribunal poder proceder com tal mister e, ato continuo, proceder com o julgamento da apelagio (£'o caso, por exemplo, de no se ter deferido a oportunidade {a0 recorrido para apresentar as suas contrarrazées. Em ver de determinar 0 retorno do autos primeira instancia, o tribunal sanard 0 vicioe prosseguird com o julgamento).. = Possibilidade de Julgamento antecipado nas hipéteses de extingao sem resolugio de mérito (teoria da “causa madura” - artigo SIS, par. 3°, CPC): nos casos de extingio do processo sem julgamento do mérito,o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questio exclusivamente de direito e estiver em condigdes de imediato julgamento. 5.1.6.2. AGRAVO Existe uma série de comandos judiciais que, no obstante nao ponham firm & relagao processual, acabam por criar gravame ou inconveniente a uma das partes, contra a qual o decis6rio foi emitido. £ 0 caso, por exemplo, de negativa de oitiva de testemunhas, indeferimento de exame pe ue antecipa os efeitos da tutela ou concede uma liminar, 238 236 Para todos 0s casos, cabivel serd a interposigio do recurso de agravo, ng modalidade retida (em regra) ou por instrumento. A) Dekinigio Eo recurso cabivel de toda e qualquer decisio interlocutoria proferida no Processo Civil. B)OBjeTo Do conceito supra, verifica-se que o recurso deve ser manejado em face de decisées interlocutérias. Tais decisdes podem ser conceituadas como provimentos que so proferidos no curso do processo (regra geral, antes da sentenga), decidindo incidentes processuais. ©) Esrécres Existem duas espécies que ora nos interessa: Retido: nele a parte recorrente manifesta o seu inconformismo face & determinada decisio interlocutéria, mediante manifestagao fundamen- tada, apresentada ao juizo recorrido, ficando o mesmo “tetido” nos autos, para posterior apreciago por ocasiio de preliminar de apelagaio. Um dos seus objetivos é evitar a preclusio. A interposigao na forma retida é a regra no nosso sistema juridico, pois evita a proliferagao de agravos de instrumentos em todas as cortes do pais. © De instrumento: sera manejado em trés situagdes: a) decisdo puder causar dano grave ou de dificil reparagdo (tal como ocorre nos casos de deferimento ou negativa de tutela antecipada ou medida liminar); b) se a decisio impde negativa ao seguimento de apelagao (vale ressaltar que, de igual modo, a negativa de seguimento a Resp ou Rex também enseja¢ interposigio do Agravo de instrumento ~ artigo S44, CPC); c) sea decisio delibera a respeito dos efeitos em que o recurso é recebido (a parte pretendia ‘que o magistrado recebesse em ambos os efeitos ¢ ele s6 a recebe no eleito devolutivo, por exemplo). 1) FORMALIDADES F PROCESSAMENTO Namodalidade retida: 1» Prazo: 10 (dez) dias ou oralmente, se proferida a decisio em audiéncia de instrugao e julgamento. Neste caso, nao deixard de ser o mesmo fun- damentado, necessitando-se reduzr as alegagdes do recorrente a termo. 1» Petigio: no prazo aludido, a parte deverd interpor petigio fundamentada, sendo, porém, desnecesséria a instruczo por documentos. = Preparo: nio necesita. zo de retratagio: poderd ser exercido pelo magistrado, desde que iceda a oportunidade para a parte contréria manifestar, em 10 (de2) dias, as suas contrarrazées. Nam © Prazo: dez dias, ' Petigdo: devera ser escrita ¢ interposta diretamente no tribunal, sendo instrufda com os seguintes documentos: a) obrigat6rios: cépia da decisio agravada, certidao da respectiva intimagao e das procuragées outorgadas aos advogados do agravante ¢ agravado; b) Facultativamente: com outras que entender ites Prepato: no ato de interposigo do recurso (artigo S11) pagar as custas € 08 valores relativos ao porte de remessa ¢ retorno (que sio despesas pos conforme tabela publicada pelos tribunais. 0 de retratado: deve o agravante, no prazo de 3 (trés) dias a contar 4dainterposicio do recurso, requerer a juntada, ao juizo de primeito grau, épia da petigdo do agravo, do comprovante de sua interposigio, além da relagio dos documentos que instruiram 0 recurso, sob pena de no imento do agravo, desde que arguido e provado pelo agravado. O objetivo, aqui, € possibilitar ao magistrado o exercicio de sua retratagao, ps o conhecimento do inconformismo da parte recorrente. Se assim 0 fizer,o recurso estard prejudicado. ? % 23 3 8 © Possiveis atitudes do relator (artigo 527, CPC): a) negativa de seguimento (porauséncia de pressupostos recursais, ou por estar 0 recurso em confronto com Siimula ou jurisprudéncia dominante do respectivo tribunal ou do STF ou ST), por exemplo); b) conversio em agravo retido, quando houver auséncia de lesividade; ¢) atribuir efeito suspensivo, nos casos de urgéncia (artigo 558, CPC); d) deferir a tutela antecipada em sede recursal ~ efeito ativo ~ (como quando negada a tutela liminarmente pleiteada e combatida a decisio por agravo). Pode o relator, assim, de logo, deferir a tutela antecipada, antes do mérito do agravo ser discutido no colegiado; e) requisitar informagoes do magistrado de primeiro grau, que as prestard dentro de 10 (dez) dias (prazo impréprio}; f) intimar 0 agravado para apresentar as contrarrazdes, em dez dias; g) dar vistas ao MP, se for o caso, para que se pronuncie em 10 (dez) dias; h) apés ultimadas tais formalidades, pedird, dentro de trinta dias, dia para julgamento. Da decisio que converter o agravo em retido ow atribuir efeito suspensivo no caberd recurso, salvo pedido de reconsideragao ao relator. Como inexiste espécie recursal, a doutrina entende cabivel a impetragao de mandado de seguranga para aquele que sofreu os efeitos negativos de tal interlocutéria. 5.1.6.3. EMBARGOS INFRINGENTES £ o remédio apto a combater acérdio nao unanime, © qual reformou sentenca ou julgou procedente a aco rescis6ria, com o objetivo de fazer pre~ valecer 0 voto vencido, O recurso em telaé tratado nos artigos 530 a 534, CPC. A) CasimENTO A.utilizagdo do instrumento em questo estara condicionada & presenca dos seguintes pressupostos: = Acdrddo ndo-undnime:a divergéncia em questao deve ser constatada entre 0s votos, nao sendo suficiente a discrepancia entre as fundamentagoes Assim, nio obstante tenha havido distintas fundamentagdes, a votagio no mesmo sentido impede o manejo do recurso em questo; = Reforma da sentenga de mérito: & necessério que 0 acérddo nito-undinime tenha dado provimento ao recurso de apelagio e, por consequéncia reformado o decisério de primeiro grau; . © Procedéncia da a¢do resciséria: de igual forma, o acérdio nao unanime que houver julgado PROCEDENTE a ago rescis6ria poderé ser atacado pelos embargos infringentes. 2 ATENGAO! UW) cabimento dos embargos infringentes para atacar acérdéo ndo-undnime proferido no julgamento do agravo retido: A doutrina e jurisprudéncia se incli- rnam no sentido da possibilidade, haja vista que o agravo retido é levantado em preliminar de apelacio. A exigéncia feita, no entanto, é que a matéria veiculada no agravo seja de mérito (& 0 caso, por exemplo, da arguigao de prescri¢io ou decadéncia nao acolhida pela instancia inferior e, agora, acatada pelo tribunal). A matéria fora pacificada mediante a edigo da Stimula 255, do ST): "Cabem embargos infringentes contra acdrdao, proferido por maioria, em agravo retido, quando se tratar de matéria de mérieo” 2) cabimento dos infringentes contra acérdiono-undnime que dé provi ‘mento a remessa necessdria: Apesar de a doutrina e jurisprudéncia, inicial- ‘mente, inclinassem no sentido da possibilidade, o posicionamento atual do ST} é no sentido da impossibilidade. £ que, como o reexame necessério nao possui natureza de recurso (no se confundindo com a apelagao), mas se trata, tio-somente, de condigto de eficdicia da sentenca emitida contra 0 poder piblico, nao hé como estender a aplicagao dos infringentes aquela hipdtese, visto que o artigo 530 apenas se refere Aapelagao. O entendimento fora pacificado pela Stimula 390 do ST}; 3) embargos infringentes em sede de mandado de seguranga: nao obstante venha existir acérdio nao undnime que julga procedente apelacao, quando 0 decisério for emitido em sede de mandado de seguranga, nao poder a parte se valer dos infringentes. Este € o entendimento pacifico na jurisprudéncia e consubstanciado nas Siimulas 169, ST} e 597, STF. O fundamento reside no fato de que a mesma é apoiada em lei especial, a qual no contempla a Utilizagdo dos infringentes. B) PROCESsAMENTO. © Prazo de interposicao € de 15 (quinze) dias, sendo as contrarrazdes apresentadas em idéntico prazo (artigo 508, CPC). Da decisio do relator que hegar seguimento ao recurso caberd agravo, no prazo de 5 (cinco) dias para © rao competente para o julgamento (artigo $32, CPC). 0 240 C) PREVIO ESGOTAMENTO DAS INSTANCIAS ORDINARIAS. Cabe ressaltar que, sendo possfvel o manejo do presente recurso, este sera necessariamente utilizado. € que a nao utilizagao dos infringentes fara surgir dificuldades no manejo de futuros recursos extremos (Recuso extraordinario ou especial), haja vista que o prévio esgotamento das vias ordinarias constitui pressuposto de utilizagio daqueles. Neste sentido, vide Siimula 207, ST] [D) EMBARGOS INFRINGENTES PARCIAIS Sabe-se que, ante a multiplicidade de questdes decididas no acérdio que julga a apelagao ou agio resciséria, é posstvel que os magistrados venham ter entendimento undnime em relagio a algumas matérias (por exemplo, ocorrén- cia de dano moral) e divergente noutras (quantum indenizatério, inexisténcia de danos materiais, et). Destarte, apenas a parte divergente (néio unanime) sera suscetivel de ataque via infringentes, sendo a parte unnime combatida mediante Recurso Extraordinario ou Recurso Especial, conforme a hipétese de cabimento, Neste caso, 0 prazo para a interposicdo dos infringentes ficard sobrestado até a intimasdo da decisdo dos embargos, a teor do que preceitua 0 artigo 498, CPC. 5.1.6.4. EMBARGOS DE DECLARAGIO 0 principio do amplo acesso é atendido na medida em que o cidadao no apenas extrai do poder judicidrio um decisério qualquer, mas uma decisio limpida, despida de qualquer vicio que possa dificultar a postulagio ou defesa de direitos perante o aparato estatal. Pensando nisso, o legislador previu os embargos de declaragiio como instrumento apropriado a integrar as decisdes judiciais, de modo a expurgar eventuais vicios (obscuridade omissao ou contradigao) que venha possuit. O recurso em tela classifica-se como espécie intermediéria, na medida em que se situa entre a sentenca e a apelagdo, 0 acérdio e 0 RESP, REX ou Infringentes; entre a decisao interlocutoria e 0 agravo de instrumento. A) Concerto E 0 remédio recursal que visa integrar decisério judicial (sentenea, acor- dao ou decisiio interlocutéria), sanando obscuridade, omissio ou contradigao existente. B) CONDIGOES ESPECIFICAS PARA A UTILIZAGAO DO RECURSO © Obscuridade: a obscuridade surge de decisio incompreensivel,inint ‘givel, como quando o magistrado transcreve consideragGes acerca de um possivel direito que teria alguma das partes (benfeitorias, por exemplo) e, a0 final, se omite no pronunciamento da questo. Ou mesmo no caso de quando o julgador, ndo obstante tenha sido postulado danos morais e estéticos separadamente, atribui condenagao de tinico montante ambos, impossibilitando a compreensio do quantum dirigido a cada dano. = Omissio: ocorte quando 0 magistrado deixa de apreciar questées rele- vantes, arguidas pelas partes. Certamente que o magistrado no est obrigado a apreciar todas as questbes levantadas pelos ltigantes. Porém existem aquelas que possuem suma relevancia de modo a poder influenciar, inclusive, no julgamento da questo controvertida (por exemplo, prontincia do magistrado acerca de condenacio do vencido em custase hono- ratios advocaticios, a existéncia de caso fortuito, prescri¢o, culpa exclusiva da vitima, etc). E por isso que, nao raro, a omissio é a causa ou condigo que possibilitar o manejo dos embargos de declaragao com efeitos modificativos. ® Contradigao: ocorre geralmente quando hé uma contraposigao entre o raciocinio veiculado na fundamentagdo e o resultado emitido no dis- positivo do decisério (por exemplo, no corpo da sentenga o magistrado transcreve raciocinio que indica o deferimento de determinado tit na parte dispositiva, o indefere, ou vice-versa). ©) Ererros ( recurso interrompe o prazo para a propositura de quaisquer recursos, por ambas as partes, devolvendo-se, por conseguinte, a sua totalidade. Urge ressaltar que a interposigdo a destempo (intempestivo) dos embargos nao implica na interrupgio do prazo para se aviar outros recursos. Os embargos declaratérios existentes na lei dos Juizados especiais civeis Lei n® 9,099/95) apenas suspendem o prazo para a interposigéo de outras, espécies recursais, de modo que o lapso temporal anteriormente transcortido no pode ser desprezado. 94? D) PROCESSAMENTO prazo de interposigao é de cinco dias, inexistindo deferimento de prazo para as contrarraz6es (salvo no caso de possibilidade de efeitos modi- ficativos). A interposicio fora do prazo nao terd o condo de interromper o prazo em questio, Inexiste preparo para a espécie recursal em exam. O julgamento se dard pelo mesmo drgio que emitiu o decisorio a ser reexaminado. E) EMBARGOS DE DECLARAGAO COM FFEITOS MODIFICATIVOS Ocorre quando 0 suprimento da omissio havida ¢ capaz de modificar 0 julgado. Neste caso, o magistrado deverd conceder prazo para a parte con- tritia contra arrazoar 0 recurso, sob pena de nulidade por cerceio de defesa. Exemplo clissico é 0 do magistrado que se esquece de apreciar aalegacio de prescrigao, julgando a demanda procedente. Aviando os embargos, 0 réu solicita manifestacio jurisdicional sobre a questo, seja para negé-la, seja para acolhé-la. Verifique que, declarando a existéncia da prescrisio, 0 resto do decis6rio restard comprometido. F) EMBARGOS PROTELATORIOS E PENALIDADE Quando opostos com o intuito manifestamente protelatério, o manejo do instrumento em questo ensejard a aplicagao de multa nio excedente a 1% {um por cento) sobre o valor da causa, a ser revertida a favor do embargado. Caso haja reiteragao no manejo, a multa serd elevada para até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposigdo de outro recurso a0 recolhimento do montante em questio, pelo que constituird novo pressuposto recursal para a admissibilidade do recurso aviado. G) EMBARGOS E PREQUESTIONAMENTO ‘Além dos objetivos ja estudados, os ED também tém a serventia de prequestionar o drgio recorrido acerca da questao federal que seré objeto de futuros recursos extremos (Resp ou Rex), tudo com o intuito de evitar a preclusio processual. Por exemplo, por mais que tenha sido proferida sentenga cujo teor € vio- lador de matéria federal ou constitucional, deve-se aviar, em primeiro lugat, ‘08 recursos ordinariamente previstos (apelago e embargos infringentes), de modo a haver o prévio esgotamento das instancias ordinarias. Entretanto, a rmatéria constitucional ou federal hé de ser tratada pelos tribunais inferiores, de modo que no podem elas ser arguidas pela primeira vez em sede dos recursos extremos (de modo a haver a supressao de instancias).E por isso que, ‘a despeito de ter sido levantada a matéria por ocasido do recurso respectivo, omitindo-se o tribunal a quo, serdo cabiveis os embargos declaratérios com © propésito de prequestionamento. Neste sentido é 0 texto da Stimula 98 do ST}: “Embargos de Declaracio ‘manifestados com notério propésito de prequestionamento néo tem carter protelatério.” 5.1.6.5. RECURSO EXTRAORDINARIO diante do escalonamento das regras juridicas dispostas por Hans Kel- sen, em sua "teoria pura do direito’, verifica-se, claramente, que as normas constitucionais ocupam lugar de destaque, considerando-se como normas fundantes das demais regras componentes do ordenamento juridico pattio. ‘Assim, a lesio ou contrariedade do seu comando implica o abalo de todo um sistema construido sobre raizes constitucionais. Ejustamente por isso que o proprio constituinte procurou criar instru- ‘mento jurdico apto a sanar, diante de um caso concreto, a contrariedade aos postulados constituci is: 0 recurso extraordinério. A) Dertnigio ‘Trata-se de recurso de fundamentaco vinculada, direcionado ao Supremo ‘Tribunal Federal, que tem como principal objetivo fazer prevalecer a Consti- tuigdo num caso concreto, alterando, assim, a deciséo que contrariou a Carta Magna e, por consequéncia, a sorte do recorrente. ercebe-se, de antemio, que, sendo de natureza extraordinatia, apenas ‘a questio da interpretacio do direito € que pode ser proposta ao drgio de julgamento do recurso 0 STF), sendo vedada a andlise de questoes de fato e, por conseguinte, da prova produzida no processo, a teor do consubstanciado na Simula 279. O recurso tem previsio no artigo 102, Ill da Constituigéo Federal eo seu processamento esta disciplinado nos artigos $41 ¢ segs. do CPC. 1B) CaimENTO: Ressalte- em Gnica ou em um primeiro instante, que 0 REx s6 caberd em decisdes ima instancia, Decisdes que possam ser alteradas por outro rectrso, que no 0 REx nio admitem contra elas 0 referido recurso. £ 0 que 243 744 se denomina de “prévio esgotamento da instancia ordindria” (Simula 281, STH). Assim, por exemplo, sea sentenga contrariar dispositivo constitucional,, contra ela deverd ser interposto o recurso de apelagao e nao tera cabimento 0 Extraordindrio. A decisio em tinica instancia é aquela que nio prevé qualquer recurso contra ela. Nesse caso, caberd o recurso extraordinaio, ‘A decisio em questio ha de ter incidido em um dos casos abaixo (artigo 102, 1, CF): = Contrariedade direta e literal da Constituigao: para efeito de recurso extraordinirio, na hipétese em questio, nio vale a violagio a principi que no seja expresso ou violacdo que seja indireta, (ex: deciso que admite prova ilicita no processo, violando diretamente o disposto no artigo 5°, LVI, CE; ou a decisdo que julga ser a justiga estadual competente para resolver controvérsia de natureza trabalhista, violando o artigo 114, CF.) = Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal: os tratados ¢ leis federais sio resultados de complexo procedimento legislative, no qual se submetem ao controle de constitucionalidade. Por outro lado, a sano presidencial também pressupde controle de constitucionalidade. Assim, federal e o tratado gozam de presungio de constitucionalidade, a qual, contrariada por decisio judicial, pode remeter a questao a0 STF pela via do REx. Neste caso, estaria havendo uma violagio REFLEXA a CE/88. (ex.:caso muito comum era o da possibilidade de priséio do depositdrio infil, tendo em vista a violagiio do Pacto de Sao José da Costa Rica) ‘= Julgar valida lei ou ato de governo local contestado em face desta Cons- tituigio: a regra considera que o Brasil adota 0 pacto federativo, pelo {que 0s Estados que o integra abrem mao de sua soberania em favor da Unido e, por consequéncia, da Constituigao Federal. Assim, se a decisio de nica ou tiltima instancia diz da validade de ato ou de lei local que foi contestado em face da Constituigéo Federal, pode ser submetida a0 STR. Neste caso, estaria havendo uma violagdio REFLEXA & CF/88. (ex. €0.caso de municipio ou Estado que cria determinado tributo considerado inconstitucional. Se, gjuizada a demanda, o judiciériojulgar valida a lei local que criow dito tributo,estaré a decisdo sujeita ao recurso extraordindrio). =» Prevaléncia da lei local sobre a Lei Federal: ainda em vista do pacto fede: rativo, a decisio que julga a é matéria constitucional. (Ex: 6a situagdo na qual uma decisdo julga valida lei local - municipal ou estadual- cujo teor contraria matéria reservada & Let n° federal. Eo exemplo de municipio que proibe a utilizago de capacetes pelos ‘motoqueiros, indo de encontro ao disposto no eédigo brasileiro de trénsito). C) PRocessamenTo. (© Recurso serd interposto perante o presidente ou vice-presidente do ‘Tribunal recorrido (artigo 541, CPC), no prazo de 15 (quinze) dias; o recorrido seté intimado para apresentar as contrarrazes (artigo S42); O juizo de admis- sibilidade é exercido pelo presidente ou vice-president do tribunal recorrido depois da resposta (artigo S41 c/c o § 1° do artigo 542, CPC); O recurso tem apenas o efeito devolutivo (§ 2° do artigo $42 e 497, CPC). Se interpostos o Recurso Extraordindrio e o Recurso especial simulta~ neamente, 0s autos seguem primeiro para 0 ST) para julgamento do Recurso Especial (artigo $43, CPC). No ST) pode o relator interpretar que o REx deve ser analisado antes do Especial, remetendo os autos ao STF. O STF é quem, contudo, dird da necessidade de que o REx seja apreciado antes do Especial. Entendendo diversamente, remeterd os autos ao ST], que terd de julgar 0 Recurso especial em primeiro lugar. Contra a decisio que ndo admite o recurso extraordinario sera cabivel agravo nos prdprios autos (artigo 544, CPC). 2 ATENGAO! 0 § 3°do artigo 102 estabeleceu como pressuposto do RExa repercussio da matéria trazida no recurso, ou seja, que ela interesse a um grupo conside- ravel de pessoas. A Lei n® 11.418/06 regulamentow a questao, acrescentando dispositivos ao CPC. § 3°. No recurso extraordindrio o recorrente deverd demonstrar a repercussio geral das questdes constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que 0 Tribunal examine a admissao do recurso, somente podendo recusé-lo pela manifestagao de dois tergos de seus membros Artigo 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisio irrecor- ‘vel, ndo conhecerd do recurso extraordingrio, quando a questio constitucional nele versada no oferecer repercussao geral, nos ter- mos deste artigo 4) 5 246 § 1° Para efeito da repercussio geral, seré considerada a existencia, ou no, de questdes relevantes do ponto de vista econémico, politico, ico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa, $29.0 recorrente deverd demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciagao exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existéncia da repercussio geral § 3°. Haverd repercussdo geral sempre que 0 recurso impugnar decisiio contréria a Stirmula ou jurisprudéncia dominante do Tribunal $4, Sea Turma decidir pela existncia da repercussao geral por, no minimo, 4 (quatro) votos, ficaré dispensada a remessa do recurso «0 Plen¢ §°5®, Negada a existéncia da repercussao geral, a decisao valeré para todos os recursos sobre matéria idéntica, que serdo indeferidos Timinarmente, salvo revisao da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. § 6°, O Relator poderd admitir, na andilise da repercussao geral, a manifestagiio de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. §7°.A Siimula da decisao sobre a repercussdo geral constaré de at, {que seré publicada no Didrio Oficial e valerd como acérdéo, Artigo 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fun- damento em idéntica controvérsia a andlise da repercusso geralserd processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado 0 disposto neste artigo. {§1.Caberd ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representatives da controvérsia ¢ encaminhé-los ao Supremo Tribu nal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitive da Corte. § 2°. Negada a existéncia de repercussdo geral, os recursos sobres- tados considerar-se-do automaticamente nao admitidos. § 3°, Julgado 0 mérito do recurso extraordindrio, os recursos sobrestados sero apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformi- 2zaga0 ou Turmas Recursais, que poderdo declard-los prejudicados ou retratar-se. § 4°, Mantida a decisao e admitido o recurso, poderd 0 Supremo Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou refor mar, liminarmente, 0 acdrdao contrério & orientacdo firmada, §.59%. O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporé sobre as atribuigdes dos Ministros, das Tarmas e de outros 6rgaos, na andlise da repercussio geral. 1D) O PRESSUPOSTO DO PREQUESTIONAMENTO (Os tribunais superiores e o Supremo Tribunal Federal construiram uma interpretagzo que consiste na necessidade de que a matéria a eles proposta pelo recurso extremo tenha sido debatida pelo érgio recursal. £ que muitos recursos sio apresentados aos tribunais superiores ¢ ao STF sem que 0 bbunal de segundo grau tenha tido a oportunidade de se manifestar ex tamente sobre a matéria que justfica 0 recurso de natureza extraordinéria, Por exemplo: a parte suscita no REx que a decisdo recorrida fez prevalecer cal em face de regras de Lei Federal. Ocorre que ele nao havia subme- tido esta questio ao drgio recorrido, ou seja, falado em seu recurso para o 6rgio recorrido de REx que a decisio em tal sentido faria prevalecer a Lei Local em face de Lei Federal, o que pelo pressuposto do prequestionamento € absolutamente necessario, Dai que se a questio tiver sido levada ao érgio recorrido ¢ esse nao tiver se manifestado, cabem os Embargos de Declaracao para efeito de prequestionamento, Em outras palavras: imagine a situagio na qual o juizo de primeiro grau indefere a oitiva de testemunha titil ao deslinde da questo. Neste caso, € mister que o prejudicado venha arguir a nulidade 0 principio constitucional do contraditério e ampla defesa, por intermé do agravo retido, de modo que a mesma venha ser enfrentada pelo tribunal a quo por ocasiéo da apelagao (prequestionando a questo). Quando o tribunal de segundo grau houver enfrentado a questo, ai, sim, poderemos falar em utilizagdo do recurso extraordindrio perante o STF. E) SOMULAS DO STF SOBRE 0 RECURSO EXTRAORDINARIO: = SUMULA N° 279: “Para simples reexame de prova no cabe recurso extraordinari = SUMULA N° 281: “E inadmiss{vel 0 recurso extraordinario, quando couber, na justiga de origem, recurso ordindrio da decisio impugnada.” = SUMULA N° 283: “E inadmissivel o recurso extraordinario, quando a decisio recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e © recurso ndo abrange todos eles.” a a = SUMULA N° 284: “f inadmissivel o recurso extraordindrio, quando a deficiéncia na sua fundamentagao nao permitir a exata compreensio da controvérsia.” = SUMULA N° 285: “Nao sendo razodvel a arguigiio de inconstitucionali- dade, no se conhece do recurso extraordindrio fundado na letra “c” do artigo 101, lll, da Constituicio.” = SUMULA N° 289: *O provimento do agravo, por uma das turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que sem ressalva, nao prejudicaa ques- to do cabimento do recurso extraordinario.” = SUMULA N° 292: “Interposto o recurso extraordindrio por mais de um dos fandamentos indicados no artigo 101, Il da Constituigdo, aadmissio apenas por um deles nio prejudica o seu conhecimento por qualquer dos outros.” = SUMULA N° 456; “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordindrio, julgard a causa, aplicando o direito a espécie.” © SUMULA N? 513: “A decisio que enseja a interposigio de recurso ordi nario ou extraordindrio nio & a do plendrio, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do érgio (camaras, grupos ou turmas) que completa o julgamento do feito.” = SUMULA N? 528: “Se a decisio contiver partes auténomas, a admissio parcial, pelo presidente do tribunal “a quo”, de recurso extraordinério que, sobre qualquer delas se manifestar, nao limitard a apreciago de todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de interposigio de agravo de instrumento.” 5.1.6.6, RECURSO ESPECIAL Diante do escalonamento das regras juridicas dispostas por Hans Kelsen, em sua “teoria pura do direito”, verifica-se, claramente, que as normas constitucionais ocupam lugar de destaque, considerando-se como normas fundantes das demais regras componentes do ordenamento juridico patrio. De igual modo, as leis ordinérias ocupam posigSes bem definidas,estando ‘acima de outras fontes de menor relevancia, as quais lhe devem o respectivo respeito, a exemplo dos decisérios judiciais. ‘Assim, a lesio ou contrariedade do seu comando implica 0 abalo de todo um sistema construido sobre raizes mencionadas. E justamente por isso que o proprio constituinte procurou eriar instru ‘mento juridico apto a sanar, diante de um caso concreto, a contrariedade aos postulados federais: € 0 recurso especial Percebe-se, de antemio, que, sendo de natureza extraordinéria, apenas ‘a questio da interpretacio do direito é que pode ser proposta ao drgio de julgamento do recurso (o ST)) sendo vedado, pois, a andlise de questées de fato ¢, por conseguinte, da prova produzida no processo, a teor do consubs- tanciado na Siimula 07. A) Derinigio “Trata-se de recurso de fundamentacao vinculada, direcionado ao Superior Tribunal de justiga, que tem como principal objetivo uniformizar a interpre- taco da ei federal a partir de um caso concreto, alterando, por consequéncia, a decisio impugnada. B) Hip6reses DE CABIMENTO aber o Recurso especial contra julgamento de Tribunal Regional Fede- ribunal de Justiga de Estado, Tribunal de justica do Distrito Federal ou ‘Tribunal de Territério que em éinica ou iiltima instance = Contrariar tratado ou lei federal, eas leis federais revelam do ponto de vista objetivo a vontade do povo brasileiro que o Poder Legislativo consegue captar e transformar em norma. A vontade do povo é expressa por intermédio da norma, que deve ser concretizada pelo estado-juiz. Sea decisio contrariar 0 tratado, federal ou negar-Ihes vigéncia, a vontade do povo expressa na norma é desconsiderada. 1u negar-Ihes vigéncia: os tratados = Julgar vilido ato de governo local contestado em face de lei federal: com 6 pacto federativo, os Estados e os governos que os representam abrem mio da soberania em favor da Unido. A lei federal, em vista disso, deve ser observada em todo o territério nacional e nao pode ser contrariada 249 230 por ato de governo local (ato administrativo estadual ou municipal, a exemplo de decretos, portarias, regulamentas etc). Se 0 ato de governo local é impugnado em face de lei federal e 0 Judiciario local diz que ele , convém que o ST] diga da existéncia ou nao da contrariedade para, eventualmente, restabelecer a lei federal éval ® Conceder lei federal interpretacio divergente da que lhe haja atribuido outro tribunal: nesse ponto identificamos a principal razio da existéncia do Recurso Especial, qual seja a de uniformizar a interpretacio da lei federal. O Brasil é um pais de dimensOes continentais e € caracterizado por desigualdades regionais econémicas culturais. Essas desigualdades podem determinar, eventualmente, que a mesma lei seja interpretada diferentemente em diversas partes do territério nacional. Assim, o recurso especial é para uniformizar a interpretagao. Imaginemos que o Tribunal de Justiga de Pernambuco, julgando apelagao, diga que a lei federal X tem uma interpretagio, enquanto que o Tribunal do Rio Grande do Sul diga que a interpretacao € de contetido diferente. A parte prejudicada pela decisio do Tribunal de Pernambuco pode invocar a interpretacao do Rio Grande do Sul, se ela for a que o beneficia, e pedir que o ST) uni- formizando a interptetagao dé provimento ao seu recurso, Vale ressaltar ‘que a divergéncia entre julgados do mesmo Tribunal nao enseja recurso especial, a teor do que preceitua a Siimula 13 do ST}. C) PROCESSAMENTO Considerando a natureza de recurso extremo, aplicamos ao recurso especial todas as consideragdes feitas ao recurso extraordinario, linhas atras. D) O pREssuPosTo DO PREQUESTIONAMENTO. ‘Também aplicamos, aqui, todas as consideragGes referentes ao recurso extraordinatio, anteriormente efetuadas ) Os RECURSOS REPETITIVOS uma técnica de sobrestamento de recursos de igual contetido no ambito do proprio ST} e nos Tribunais locais até a manifestacZo do ST] sobrea questiio de de milhares de processos por ano com uma imposigéo de carga de trabalho aos Ministros que é impraticivel. Por outro lado, muitos dos recursos apre~ sentados contém matéria jé analisada pelo Tribunal ou que serd analisada. Esta técnica permite, ento, que o ST} selecione processos que representem a discussao juridica e os decida com repercussio sobre os demais processos de matéria comum, 05 quais terdo a mesma solugio, se jd estiverem no ST}, ou serio reapreciados pela instancia de origem. Esses recursos s6 subiro ao ST) se 0 Tribunal local nao adequar o seu julgamento ao que tiver sido decidido pelo ST}. Vejamos 0 que diz a lei Artigo 543-C. Quando howver multiplicidade de recursos com fundamento em idéntica questéio de direito, 0 recurso especial serd processado nos termos deste artigo. § 1°. Caberd ao presidente do tribunal de origem admiir um ow ‘mais recursos representativos da controvérsia, 0s quais serdo encami- rnhados ao Superior Tribunal de Justica, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tri- bunal de justica, § 2°, Nao adotada a providéncia descrita no § 1° deste artigo, 0 relator no Superior Tribunal de Justiga, ao identificar que sobre a controvérsia jé existe jurisprudéncia dominante ou que a matéria jd estd afeta ao colegiado, poderé determinar a suspensdo, nos ‘bunais de segunda instancia, dos recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida {§3°, O relator poderd solictar informagées, a serem prestadas no prazo de quinze dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsa, 4°. Orelator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justica e considerando a releviincia da matéria, poderd admitir manifestagdo de pessoas, 6rgios ou entidades com interesse nna controvérsia. § 5°. Recebidas as informagées e, se for 0 caso, apés cumprido 0 disposto no § 4° deste artigo, ter vista 0 Ministério Piblico pelo prazo de quinze dias. § 6°, Transcorrido o prazo para 0 Ministério Piblico e remetida <épia do relatério aos demais Ministros, o processo serd incluido em pauta na segaio ou na Corte Especial, devendo ser julgado com prefe réncia sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso os pedidos de habeas corpus. 251 252 7°, Publicado o acérdao do Superior Tribunal de Justica, os recursos especiais sobrestados na origem: 1-terdo seguimento denegado na hipétese de o acérdao recorrido coincidir com a orientagao do Superior Tribunal de Justica; ou IL ~ serdo novamente examinados pelo tribunal de origem na hipdtese de 0 acdrdao recorrido divergir da orientagio do Superior Tribunal de Justiga § 8°. Na hipétese prevista no inciso Il do § 7° deste artigo, man- tida a decisto divergente pelo tribunal de origem, far-se-d o exame de admissibilidade do recurso especial $9°. O Superior Tribunal de Justiga e os tribunais de segunda ins tancia regulamentardo, no ambito de suas competéncias, 0s procedi- mentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo F)SGMULAS DO ST] SOBRE © RECURSO ESPECIAL: = SUMULA N° 05: “A simples interpretacio de cléusula contratual no enseja recurso especial.” © SUMULA N° 07: “A pretensio de simples reexame de prova nao enseja recurso especial.” = SUMULA N° 13: “A divergéncia entre julgados do mesmo Tribunal no enseja recurso especial = SUMULA N° 83: "Nao se conhece do recurso especial pela divergéncia, quando a orientagio do Tribunal se firmou no mesmo ses recorrida.” ido dadecisio = SUMULA N° 123: “A decisio que admite, ou no, o recurso especial, deve ser fundamentada, com 0 exame dos seus pressupostos gerais € constituciona = SUMULA N° 126: “E inadmissivel recurso especial, quando o acérdio recortido assenta em fundamentos constitucional einfraconstitucional, qualquer deles suficiente, por sis6, para manté-lo, ea parte vencida nio manifesta recurso extraordinatio. = SUMULA N° 203: “Nio cabe recurso especial contra decisio proferida, nos limites de sua competéncia, por érgao de segundo grau dos Juizados. Especiais.” = SUMULA N° 207: “E inadmissivel recurso especial quando cabiveis embargos infringentes contra acérdio proferido no tribunal de origem.” © SUMULA N° 211: “Inadmissivel recurso especial quanto & questo que, a despeito da oposigio de embargos declaratérios, nao foi apreciada pelo tribunal a quo.” 5.1.6.7, RECURSO ADESIVO existem provimentos judiciais que, uma vez emitidos, acabam por pro- vocar prejuizos a ambas as partes figurantes no processo. Séo situagdes em que 0 érgio julgador profere decisio de procedéncia parcial da demanda, condenando o réu em parte dos pedidos e, noutros, declarando nao ser legi- timaa pretensio do autor. erceba que, em tais casos, ocorreu o fendmeno denominado de “sucum- béncia reciproca”, de modo que ambas as partes terdo interesse em manejar o correspondente instrumento recursal. corre, entretanto, que, recorrendo apenas uma delas, a lei abriu a pos- sibilidade da parte que nio aviou o recurso origindrio no prazo legal venha aderir ao recurso principal no prazo das contrarrazées: € o que a doutrina denomina de recurso adesivo, O objetivo é evitar que uma delas, conformada com a decisio origindria, seja surpreendida com a interposico do recurso da parte contriria no iltimo dia do prazo. £ como se fosse uma “segunda chance” outorgada & parte. Perceba que, em verdade, 0 recurso em estudo no consiste em instru mento auténomo, diferentes daqueles ja previstos em lei, porém em uma forma diversa de interposigo daqueles jé previstos A) Deeinigko Consiste em modalidade péstuma de interposigio de recurso de apelagio, embargos infringentes, recurso especial ou extraordindrio. 253 754 B)PRazo Seri no prazo das contrarrazdes ao recurso principal 1S (quinze) dias, Ur, ressaltar que, apesar de poder aderir ao recurso principal, aqueles que dete, prazo privilegiado nao gozarao da dilagao pelo fato de que a regra apenas se refere ao prazo para recorrer e nao apresentar as contrarrazies, . Nao é este, entretanto, 0 posicionamento que tem sido adotado pelo ST) e STF, sendo que, no Ambito daquelas cortes, o entendimento é no sen. tido de que o adesivo nao constitui recurso novo, mas, sim, modalidade de interposigo de recurso jé existente (apelagao, embargos infringentes, recurso especial ou extraordinério}, cujo prazo, relativamente & fazenda piiblica, deve ser dobrado, a teor do que dispae o artigo 181, CPC. ©) Recimeyuripico © Regime sera subordinado ao do recurso principal, de modo que, nio sendo ele conhecido, ou tendo a parte desistido do recurso principal, o recurso adesivo seguiré a mesma sorte (lembre-se: “o acessbrio segue o principal”) 5.2. ACAO RESCISORIA Com o objetivo de conferir seguranga as relagdes juridicas, consiste em regra do sistema juridico nacional a indiscutibilidade das decisbes que se revestiram do manto da coisa julgada. Entretanto, nao obstante tenha 0 decisério se revestido de tal caréter, fato € que existem situagdes em que o legislador acabou por relativizar 2 autoridade da sua permanéncia perante 0 mundo juridico, justamente por apresentar vicio insuportavel ou situagio autorizadora, exaustivament tados no artigo 485, CPC. A) Deinigho Bo instrumento juridico-processual que visa desconstituir decisorio de mérito transitado em julgado, quando presentes vicios autorizadores. B) NaTUREZA JURIDICA Como o proprio nome sugere, o instrumento em questo tem nat reza juridica de ago desconstitutiva (ou constitutivo-negativa). Pode se" jsualizada como espécie de sucedanco recursal, ou sea, meio de impugnagio ve decisio judicial que se desenvolve em processo distinto daquele ao qual « decisio fora emitida, ©) OBJETO DA RESCISKO Serd a sentenga de mérito, sejam elas nulas ou meramente rescindiveis {neste iltimo caso se incluem aquelas que, nao obstante sejam despidas de sicio, possam ser rescindidas, haja vista expressa previsio legal, tal como corre coma prevista no artigo 485, Vil do CPC ~ quando a parte esteja de posse de documento de que néo péde se valer quando da época da demanda origindria). Excepcionalmente, a decisio terminativa sera objeto de rescisio quando consistir naquela que acolheu a existéncia dos pressupostos processuais impeditivos previstos no artigo 267, V, CPC (Perempeda, ltispendéncia, coisa julgada), vendo em vista que, nos casos mencionados, a lei profbe a proposi- tura de nova demanda, ‘Vale ressaltar que existem decisdes de mérito que sio, mediante expressa proibicio legal, insuscetiveis de combate mediante o instrumento em questio. Sio eles: Acérdiio proferido em Adin ou Adecon (artigo 26 da Lei n° 9.868/99), em ADPF (artigo 12 da Lei n® 9.82/99) e em Decisdes proferidas em sede de ado especial civel (artigo 59 da Lei n° 9.099/95). legislador também proibiu 0 manejo do instrumento em questio quando a sentenca for meramente homologat6ria de acordo (artigo 486, CPC). £ que, neste caso a sentenga nao apreciou o mérito da demanda, limi- tando-se, tio somente, alhomologar acordo celebrado entre as partes. Assim, existindo qualquer vicio de vontade (erro, dolo, coagii), deverd o mesmo ser desconstituido mediante ago anulatéria, inalmente, a doutrina entende que nao ha possibilidade de rescisio de deci merit 1 proferida em processo cautelar, justamente por nao possuir natureza i, a ndo ser que o mesmo tenha sido desatado mediante aincidéncia do artigo 810, CPC (declaragao de prescrigo ou decadéncia), D) HipGreses DE CABIMENTO A sentenga de mérito poderé ser rescindida nas seg ntes hipéteses: ® Se verificar que foi dada por prevaricagio, concussao ou corrupgio do juiz: as hipoteses em questdo representam figuras tipicas, de cardter Penal. A primeira consistente no “retardo ou omissiio do dever de oficio, 28H cou na pratica em desconformidade coma lei, tudo com vistas a satsfazer interesse ou sentimento pessoal”. A segunda na “exigéncia, para si oy. para outrem, ainda que fora da fungdo ou antes dela, vantagem inde vida", A corrupgao, por sua vez, ocorre quando “se pede ou recebe, em virtude da funcao, vantagem indevida” (artigos 319, 316 e 317, do CP, respectivamente). , ‘A possibilidade de rescisao se dé em virtude do decisério nio ter se apoiado nos elementos constantes dos autos, mas, apenas, nos interesses pessoais do magistrado. Nao obstante exista a regra maxima da proibigdo de interpretacio extensiva ou andloga das regras penais, 0 dispositivo em questo deve ser interpretado de forma extensiva, de modo a abarcar todos os tipos de irre- gularidades do magistrado no exercicio da funcao, preservando o principio do amplo acesso a justiga (= ordem juridica justa). = Proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente: sio pres- supostos processuais de validade. No primeito caso, 0 vicio acaba por macular o requisito de parcialidade do drgio julgador, ao passo que 0 segundo requisito atinge o pressuposto da competéncia. Vale ressaltar que, em se tratando de suspeicdo e incompeténcia relativa, vo nao € ensejador do remédio em estudo, haja vista que, in casu, as irregularidades acabam por convalescer(lembre-se: 0 juiz nio pode decretar, de oficio, a incompeténcia relativa ~ Siimula 33, ST) = Resultarde dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusio entre as partes, a fim de fraudar a lei: 0 dolo se caracterizaré quando a parte ludibriar o magistrado ou a parte adversa, sendo que este engano seja decisivo no resultado do julgamento (veja-se que o legislador se utiliza da expresso “quando a sentenca resultar..."). E 0 que ocorre ‘quando a parte extrai documento importante, o qual estava contido nos autos; ou quando subornou perito para alterar no resultado de pericia decisiva da lide; ou, ainda, quando criou dbice ao conhecimento, pelo réu, da propositura da ago, levando-o ao estado de revel. Haver, trossim, colusdo quando as partes se unirem para simular demanda que trard prejuizos a terceiros. E 0 caso de marido e mulher que simulam separacio judicial e partilha patrimonial que fraudard credores. Seo ‘magistrado perceber ta fato, no transcorrer da demanda, emitird sentenga que obste o intento das partes (artigo 129, CPC). No entanto, nao percebendo, € consumando-se a coisa julgada, outra alternativa nao restard sendo o manejo da rescisoria. = Ofender a coisa julgada: a coisa julgada constitui-se em fato extrinseco que impede o ajuizamento de nova demanda (ora, se a nova lei nio poderd prejudicar a coisa julgada, o que dizer de uma decisio posterior que ofendeu coisa julgada anterior?). Assim, havendo uma segunda coisa julgada, esta seré rescindida para dar lugar a primeira = violar literal disposigio de lei: aqui o entendimento € no sentido de que o ajuizamento da resciséria independe da natureza da norma tida como Violada: se constitucional ow infraconstitucional e, neste Ultimo caso, se de natureza material (error in judicando, Fx: violagio ao artigo 71 da Lei 8.666/93) ou processual (error in procedendo, Ex: violagio ao artigo 214, Pc) A jurisprudéncia cristalizada no ambito do STF, por intermédio da Stimula 343, € no sentido de que nao cabe 0 ajuizamento do instrumento fem questio quando a decisio rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretagio controvertida nos tribunais. Ressalte-se, ainda, que, em se tra- tando de norma constitucional,o verbete em questio nao pode ser aplicado, tendo em vista que se deve preservar sua aplicagao uniforme, em qualquer situagio perante todos os destinatérios, além do que, o STF deve preservar 0 seu papel de guardiao da Constituigio Federal. Veja-se, a esse respeito, 0 trecho do aresto abaixo colhido do Egrégio ST): co) 3. Ocorre, porém, que a lei constitucional nao é uma lei qualquer, mas a lei fundamental do sistema, na qual todas as demaisassentam suas bases de validade e de legitimidade, e cuja guarda é a missio primeira do érgdo maximo do Poder Judicidrio, o Supremmo Tribunal Federal (CF, artigo 102) 4. Por essa razdo, a jurisprudéncia do STF emprega tratamento diferenciado a violagao da lei comum em relagao & da norma cons- titucional, deixando de aplicar, relativamente a esta, o enunciado de sua Siimula 343, @ consideragio de que, em matéria constitucional, rndo ha que se cogitar de interpretagao apenas razodvel, mas sim de interpretagao juridicamente corre. ER 5. Bs, portanto, aorentagio a ser seguida nos casos de agi cisbra fandada no artigo 485, V, do CPC: em se tratando denon infraconsttuciona, nao se considera existente “viola lacs dtisposgcio dele’ «, portanto,ndo seadmite aga resciséria, quam “a deciséorecindenda setver baseado em texto legal de interpreta, to controvertida nos tribunais” (Simula 343). Todavia, essen, ciado néo se aplica quando se trata de “texto” consttuctonal 6.A orientagdio revela duas preocupacdesfundamentais da Corte Suprema: a primeira, a de preservar, em qualquer circunsténcie,« supremacia da Constituigdo e a sua aplicago uniforme a todos ce destnatdrios; a segunda, ade peservarasua autoridade de guardiae dda Constituigdo, Esses os valores dos quais deve se lancar mo para solucionar os problemas atinentes&rescisio de julgados em matéra constitucional 7. Assim sendo, concorre decisvamente para um tratamento dif renciado do que seja “literal volagdo” a existéncia de precedente do STE, quardigo da Constituigao. Ele € que justifica, nas agdesrescss- rias, a substituigdo do parimetro negativo da Simula 343 por um pardmetro positiv segundo o qual hd violagdo & Consttuigdo na sentenga que, em matéria constitucional, é contrdria a pronuncia mento do STF. (Precedente da } Segio: EREsp 391594/DF, Min José Delgado, Dj de 30.05.2005) = Se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na prépria agio resciséria. = Depois da sentenca, 0 autor obtiver documento novo, cuja existéncia ignorava, ou de que nao péde fazer uso, capaz, por sis6, de Ihe assegurar pronunciamento favoravel. = Houver fundamento para invalidar confissio, desisténcia ou transa¢io, tem que se baseou a sentenga. Fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa: hi erro, quando a sentenca admitir um fato inexistente, ou quando cor siderar inexistente um fato efetivamente ocorrido. & indispensivel, €™ ambos os casos, que nao teniha havido controvérsia, nem pronunciament© licial sobre o fato, ) LeorrimupavE. Poderdo manejar o instrumento juridico em questo os que foram parte na demanda rescindenda (incluidos os terceiros intervenientes que, fo ingressarem na demanda, assentaram-se na condigio de parte) ou seus Sucessores; 0s terceiros juridicamente interessados (no intervieram no process0, embora acabassem por sofrer os efeitos do decis6rio};e 0 Minis io Puiblico, nos processos em que, embora nao tenha participado, sua jntervengio era obrigatéria ou naqueles em quea sentenga foi resultado de colusio entre as partes. F) Prazo er de 02 (dois) anos, contados a partir do transito em julgado da decisio rescindenda. 2 ATENGAO! or mais que haja situagdes em que sao diversos os momentos de transito em julgado, entende o ST] que a ago é nica, por isso 0 prazo se conta a partir da data do transito em julgado da ultima decisio proferida no pro: ccesso. Ademais, a possibilidade de manejo em diferentes momentos provo- caria o inconveniente de ter que rescindir parte do julgado com a agao ori- gindria ainda em curso. E 0 entendimento esposado mediante a confecgio da Siimula 401, ST) E mister salientar, ainda que nao constitui condicionante imperiosa 0 prévio exaurimento dos recursos nas instancias ordindrias, haja vista que o artigo 495 se refere apenas 20 “trnsito em julgado da decisio", o que se da pelo exaurimento dos meios recursais ou, simplestente, pela ndo-interpo- sig no prazo legal. 6) PRoceDiMENTO O procedimento seguir os seguintes pasos: ® Petigio inicial: além dos requisitos gerais dos artigos 282 ¢ 283, CPC, deverd a mesma conter a particularidade do depésito de caugao prévia de 5% sobre o valor da causa, reversivel em proveito do réu, no caso da resciséria ser julgada, por unanimidade, inadmissivel ou improcedente. 260 Eximem-se de tal exigéncia a fazenda piblica, o MP e o pobre na form, da lei. A petigio inicial apresentaré o pedido de desconstituigao da decicay proferida (iudicium recindens) e, se positivo, ode novo ulgamento da caus (iudicium rescisorium), salvo, neste dilkimo caso, quando © novo juga. mento houver de ser novamente realizado pelo juizo de primeiro grau (aexemplo da corrupgdo, prevaricagdo ou concussio do juiz, impedimento, et). O valor da causa corresponder4 ao beneficio econdmico pretendide pelo autor, o qual poderd coincidir ou nao.com o valor dado a agio or naria (posigdo do ST)). £ que, ndo obstante tenha sido atribuido um dado valor & causa originaria, fato € que o valor da condenagao (ou execucio) seja distinto, motivo pelo qual o resultado da rescisoria importaria em ‘consequéncias financeiras naquele montante. (ex,:60 caso de, ndo obstante ter sido o valor da causa na monta de R$ 1.000,00, o valor do precatério a ser expedido se encontrar no patamar de 500,000,00). juizo de admissibilidade: verificada a obediéncia aos requisitos legais, 0 ‘magistrado (relator) determinard a citago do réu, a fim de responder aos. termos da ago proposta Resposta do réu: deverd ser apresentada no prazo fixado pelo relator, varidvel entre 15 (quinze) e 30 (trinta) dias. O prazo em questo ser ‘quadruplicado, em se tratando de fazenda publica (embora haja posicio- namento contrario, haja vista que o relator, ao fixé-lo, j poderia levar em consideracao a situagio especifica; no caso dos litisconsortes com diferentes procuradores nao ha divvidas quanto & incidéncia do prazo dobrado (artigol91, CPC), tendo em vista que, in casu, seria impossivel antever a presenga de diferentes procuradores; quanto a revelia, no ha a incidéncia do seu efeito material (presungao de veracidade) haja vista que a coisa julgada é matéria de tipica ordem publica. Instrugdo: havendo necessidade, poderdo ser produzidas as provasadmi- tidas em direito, caso em que os autos poderao ser baixados ao juizo de primeiro grau, a fim de facilitar a sua coleta, 0 prazo de instrugao ser de 45 (quarenta ¢ cinco) a 90 (noventa) dias. O instrumento juridico utilizado para efetuar a solicitacdo em questo sera a carta de ordem. Concluida a instrugao, sera dada vista as partes para que apresente™, sucessivamente, em 10 (dez) dias, suas alegagdes finais, apds 0 que OS autos subirio ao relator para julgamento na conformidade do regiment do tribunal respectivo. » Julgamento: sendo acolhida a pretensio do autor, 0 érgio julgador res cindiré o julgado combatido, proferindo decisio de natureza constitutivo- (ou desconstitutiva, como queira) ¢, se for 0 caso, proferiré novo decisério, o qual substituird o anterior. No caso do julgamento undnime de improcedéncia, 0 depésito feito no nascedouro da asao serd revertido em proveito do réu, vencedor da demanda. 261 BIBLIOGRAFIA BUENO, Cassio Scarpinella, Curso Sistemético de Direito Processual Civil, 5: recursos, processoseincidentesnos tribunals, suceddneos recursais:¢énicas de controle das decisdes judiciais. Sao Paulo: Saraiva, 2010 DONIZETTI, Elpidio. Curso Didatico de Direito Processual Civil, Sio Paulo: Atlas, 2011 GONGALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Exquematizado. Sio Paulo: Saraiva, 2011 MARINONI, Luiz Guilherme. CPC Comentado Artigo por Artigo. 2° ed. Sa0 Paulo: Revista dos Tribunais, 2011

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