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A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO EM CURSOS A

DISTÂNCIA
Juliana Guimarães Faria

A nossa atuação no processo de mediação da construção de conhecimento é


reflexo da concepção de educação e do conjunto de objetivos que nos propomos para
o processo de ensino-aprendizagem.

Na educação a distância, devemos considerar que o estudante é sujeito ativo


do processo e, portanto, protagonista na construção do próprio conhecimento. Neste
sentido, compreendemos que o conhecimento não é depositado, transferido ou trans-
mitido para os sujeitos envolvidos no processo.

Você consegue aprender o que não tem significado para você?

Vasconcelos (1993) afirma que o conteúdo necessita ser manipulado pelo estudante,
precisa ser trabalhado, refletido, re-elaborado, para assim, passar a ser um conheci-
mento deste estudante, construído por ele.

Mas, e quando o estudante memoriza o conhecimento necessário e que será exi-


gido pelo professor? Ele consegue demonstrar desempenho suficiente para ser
aprovado, concorda?

Na modalidade de educação a distância, o estudante está disposto de forma


que se não for ativo para buscar as informações, com estímulo e motivação para rea-
lizar os estudos necessários, está fadado a um aproveitamento não satisfatório. Este
aproveitamento não satisfatório pode se tornar algo mais sério, quando o professor de
turma e assistente de turma não forem capazes de perceber o grau de conhecimento
construído pelo próprio estudante. Ou seja, quando as atividades solicitadas visam
apenas respostas memorizadas pelos estudantes e não estimulam a manipulação do
conteúdo, à significação do conteúdo, a memorização será o recurso pelo qual o estu-
dante lançará mão para ser aprovado e o conhecimento estará comprometido.

Se o estudante foi aprovado, mas o conhecimento do conteúdo apresenta-se


como não satisfatório, o objetivo inicial da disciplina está atingido?

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De acordo com Vasconcelos (1993), a construção CRAZYMANIA. Dialética. Disponí-
do conhecimento, na perspectiva dialética parte do ciclo: vel em: http://www.superzap.com/
biblioteca/?cat=filosofia&page2=
Síncrese, Análise e Síntese. Afirma o autor que é preciso, dialetica. Acesso em 02 jul. 2007.
além de apresentar os conteúdos a serem conhecidos, uma Dialética
mobilização dos estudantes para que possam sentir inte-
resse pelo conteúdo e dêem significado a ele, para, então, Originalmente, é a arte do diálo-
go, da contraposição de idéias que
o estudante construir o próprio conhecimento ao ponto de leva a outras idéias. O conceito de
elaborar uma síntese sobre o mesmo. dialética, porém, é utilizado por di-
ferentes doutrinas filosóficas e, de
acordo com cada uma, assume um
Afirma Saviani, significado distinto.

O movimento que vai da Síncrese (‘a visão caótica do todo’)


à Síntese (‘uma rica totalidade de determinações e de rela-
ções numerosas’) pela mediação da Análise (‘as abstrações
e determinações mais simples’) constitui uma orientação
segura tanto para o processo de descoberta de novos co-
nhecimentos (o método científico) como para o processo
de transmissão-assimilação de conhecimentos (método de
ensino) (1983, p. 77).

Neste sentido, o conteúdo novo ao estudante pro-


voca o desconforto frente ao desconhecido, partindo para
a necessária análise deste conteúdo, manipulando-o, para,
então, realizar a síntese deste conteúdo, concretizando a
incorporação do conhecimento construído.

Para Vasconcelos, uma metodologia dialética de


construção do conhecimento é expressa em três momentos
correspondentes que devem fazer parte da preocupação
dos educadores que mediam o processo de ensino-apren-
dizagem: mobilização para o conhecimento, construção do
conhecimento e elaboração e expressão da síntese do co-
nhecimento. Para o autor, estes três momentos se aproxi-
mam da metodologia dialética de construção de conheci-
mento (Síncrese, Análise e Síntese).

É possível na Educação a Distância desenvolver esses três momentos? O que preci-


sa ser feito? Que estratégias podem ser usadas estando distantes dos estudantes?
Estar em sala de aula, todos juntos ao mesmo tempo, parece fácil! E porque é tão
importante esses três momentos, visando a construção do conhecimento por parte
do estudante?

Isso é uma realidade que será enfrentada por vocês professores, orientadores e
tutores, junto aos estudantes. O grande desafio é saber quando o estudante realmen-
te realizou a síntese e construiu o conhecimento ou apenas memorizou o conteúdo
momentaneamente e este conteúdo efetivamente não foi incorporado e poderá ser
utilizado futuramente pelo estudante na vida profissional.

Temos que recuperar a importância da construção do conhecimento por par-


te do estudante: é preciso superar o comportamento condicionado, memorizado e a

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farsa do professor que finge que ensina e o estudante que finge que aprende e todos
fingimos que a escola está dando conta do seu objetivo de trabalhar o conhecimento.
O que acham de proporcionar ao estudante momentos de manipulação e trabalho com
o conteúdo para sua efetiva aprendizagem? Para isso, as estratégias de motivação,
aprendizagem e síntese são fundamentais para serem usadas nos cursos a distância.
Mas, ainda fica a questão: como saber se realmente o estudante construiu e sintetizou
o conhecimento estando distante fisicamente?

Oras, que tal lançarmos mão das ferramentas de comunicação como estraté-
gia para os momentos de mobilização dos estudantes, conforme estudamos no Eixo
2? Como também, a possibilidade de visualizar a síntese construída pela mediação
estabelecida com as atividades propostas? O fato é que a mediação estabelecida é
que pode garantir esses momentos: mobilização, construção e síntese. É a atuação de
vocês, junto ao coordenador de sala que podem trazer momentos de construção dia-
lética do conhecimento.

Os estudantes, historicamente e culturalmente, necessitam ser guiados. Mas,


como guiar sem cair na memorização, buscando a dialética na construção do conheci-
mento? São muitas as reflexões trazidas nesta temática e não é interesse responder a
todas, até para deixá-los inquietos e incomodados em relação a esta Temática.

Mas, vale recuperar as reflexões de Vasconcelos (1993) sobre estes três momen-
tos:

- Mobilização para o conhecimento: é um momento importante para a efetiva aprendi-


zagem ao passo que se trata de mobilizar os estudantes para o objeto a ser conhecido.
As ferramentas de comunicação para aguçar nos estudantes a curiosidade sobre o con-
teúdo, a compreensão dos objetivos propostos e a possibilidade do estudante expres-
sar o conhecimento prévio, é interessante como um processo de mediação, propondo
atividades que permitam esse momento. Serão as atividades propostas por vocês,
junto aos coordenadores de salas, que irão suscitar a mobilização. Por isso, a relação
entre estudantes e professores não pode ser alta. O número de estudantes deve per-
mitir o processo de interação intenso para que a mobilização aconteça. Os encontros
presenciais são momentos de mobilização importantes que devem ser utilizados como
estratégias de mediação da construção do conhecimento.

- Construção do conhecimento: este segundo nível/momento é a interação do sujeito


com o objeto a ser conhecido. “Deve-se possibilitar o confronto de conhecimento en-
tre o sujeito e o objeto, onde o educando possa penetrar no objeto, compreendê-lo
em suas relações externas e internas” (p. 42). Percebem a importância da atividade
de manipulação do objeto a ser conhecido a ser proposta aos estudantes? Se for so-
licitada uma atividade em que o pressuposto é a memorização, como poderá haver a
interação com o objeto a ser conhecido? A interação com o objeto de estudo é permi-
tida quando este objeto tem significado para o sujeito. Assim, os educadores precisam
colaborar para que esta interação aconteça plenamente.

- Elaboração e expressão da síntese do conhecimento: este é o momento da sistemati-


zação do conhecimento construído, instante em que o estudante compreende concre-
tamente o conteúdo estudado e abstrai as relações trazidas por este novo conteúdo,

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inclusive para avançar e compreender outros conhecimentos. Mais uma vez, as ativida-
des propostas de síntese são importantes no processo de mediação da construção do
conhecimento.

Dessa maneira, percebemos como é primordial a reflexão contínua da equipe de


formação direta (professores, orientadores e tutores) sobre a abordagem que farão do
conteúdo, junto aos estudantes. Querem a construção do conhecimento ou a memo-
rização? A atividade proposta está calcada em qual abordagem? Ela dá conta dos ob-
jetivos traçados? É preciso compreender também que a construção do conhecimento,
por parte do estudante, será concretizada a partir da mediação de outros sujeitos, não
só vinda de vocês formadores, mas as interações estabelecidas do estudante com ou-
tros colegas e com a comunidade na qual está inserida. Nesta compreensão, incentivar
a interação do estudante com a comunidade também é uma estratégia que contribui
com a construção de conhecimento.

A construção do conhecimento é dialética e a partir das interações sociais es-


tabelecidas. Concordam com isso? Vêem possibilidades nos cursos a distância para a
construção do conhecimento e a identificação deste processo? O que pensam? Este
texto não finaliza com essas questões, mas com o significado que cada um de vocês
pôde construir a partir da leitura. Que tal trocarmos esses significados entre nós?

Referências bibliográficas:

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez; Autores Associados,


1983.

VASCONCELOS, Celso dos S. Construção do conhecimento em sala de aula. São


Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1993.

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