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20 20 «0 MUNDO EM QUE VIVI 4» Depois de ter lido a carta da minha mae, 0 av suspirou como se fosse assaltado por uma dor forte: ~ So me faltava mais esta. E depois duma pausa: Rose Katarina, queres deixar 0 teu av6? Nao quero, nao quero, respondi. Que mais podia ter respondido? Nao cstava hé muito combinado que nur ao deixaria’ Noentanto, muita coisa se modificara em nossa casa. O avo ji nao brin cava comigo, passava os dias sentado no sofa, de ollios tristes ede pernas in- chadas metidas num balde de agua. Que era feito do meu avo Markus, homem sem igual, que me levava as cavalitas para a mesa, contaya as mais maravilhosas hist6rias e cantava as mais lindas cangOes? Acabaram-se as nossas horas intimas, acabaram-se as visitas a lojado sr. Meyer, acabaram— -se as cumplicidades alegres enquanto a av6 lavava a louga na cozinha. Era ‘a.av6 quem, pela manhi, batia o ovo na chavena para depois me chamar: “Levanta-te, mandriona, O café ja esta frie”. és viver com eles, continuou 0 av Os teus pais querem que E que tens de aprendera lere a escrever. Quero aprender com a senhora Lebehuhn, avo. Um sorriso de satisfacao deslizou-lhe pela cara: ~ Dizes bern, filhinha. Pediu-me que Ihe levasse o bloco de cartase a caixa de charutos em que guardava a tinta azul e a vermelha, a pena ¢ os ldpis. Comegou a escrever uma carta que, como a mao Ihe tremia, levou muito tempo aacabar, Fazia pensar num menino a escrever, de to desajeitado, ele, que costumava de senhar letras bonitas, para cima finas, para baixo grossas. Dias depois chegou o meu pai num carro de cavalos, beijou-me na testa edissi Estas bonita. E que precisava de falar com 0s avés. Vai me a porta sem objecao. sala de visitas ver os élbuns, Rose, propuseram-me, ¢ aavé abriu Mas cu no queria saber dos dlbuns, queria saber o que se dizia na outra ndife- rente, Gelada, asala de visitas. Antipaticas, as capas brancas que cobriam 0 sala, Tratava-se de mim, cu bem sabia, ¢ isso nao me podia deixar me no sofa como se fosse uma visita estranha e esperei. Finalmente chamaram por mim. ~ Rose, amor, disse oavo, esbocando um gesto cansado -, tens de ir com oteupa Tao velho, t4o cruelmente velho 0 meu avé Markus sofa ¢ os maples. Tive medo. Sentei i. Os filhos pertencem aos pais, é a lei da vida. Nao! Nao vou! Nao vou!, gritei. O avé abanou a cabeg ~ Vamos 08 dois canta “Tenho de deixar a minha cidade.. 45 Deuotom eentrei. A sua voz era quebrada ea minha desafinada. Alguém de fora talvez se risse ao ouvir-nos cantar, mas as duas pessoas junto de nds, aavé Ester e 0 seu filho mais velho, sabiam: a um homem doente de corpo c alma estava a ser roubada a ultima alegria lagrimas nos olhos. Decerto era por isso que tinham, 20 Maseu, de stibito, senti-me invadida por um rancor. Rancor por o meu avo ja nao ser o homem bonito, forte, protetor, por o seu cabelo estar reduzido a umas pobres repas desalinhadas, por ter pernas grossas como cepos ¢ metidas num reles balde de agua. Achei-me atraigoada, miseravelmente atraigoada Mas apesar disso recusei-me a seguir o meu pai, que entao resolveu lan ss car-mea isca: Repara, minha filha, s6 queremos o teu bem. E ainda nao te disse que a lua mae Le comprou um lindo vestido de seda. ~ Onde esta? ~ Em casa, a tua espera. so “Em casa”, disse. Viera para me tirar da minha casa e ia levar-me para casa... Mas um vestido de seda? Ina tinha vestidos de seda. A avé nunca me deixara usar nenhum. Abracei o avd Markus, beijei-Ihe a cara, em tempos tao bela. Segui o pai. Reprimi os solugos. Virei-me. E para sempre levei a imagem: © um velho alquebrado, de ligrimas a cairem no bigode descurado. “Limpa aboca, avo”, diziaeuem tempos. “Ora, ora”, respondia ele, um pouco em- baracado. Agora nenhum de nés falou. Os nossos olhares cruzaram-se pela ultima ver A avé acompanhou-nos a rua. Silenciosa, de porte rigido, beijou-me yo na testa. Sé boa, Rose, disse. E mais nada. Subi com o pai para 0 carro. Ao de leve, tocou com o chicote no dorso do cavalo, que se pos. trotar. ~ Adcus! Adcus! © Ocarro ganhoua subida da rua, A silhueta negra da avi ceu imével e cada vez mais pequena. Havia a rosa dum vermelho carregado no friso da janela. Havia ro: tantes em terras distantes. Havia vestidos de seda. Ea miragem dum mundo desconhecido tomou conta de mim Ester permane- as dis— tke Losa, © Mundoem que Viet, Porto, Fdigoes Afrontamento, 1987, pp. SO-S2 ‘Saber Ler 1 ON icio do texto, é comunicada uma novidade aos presentes. 1.1. Identifica: a) a personagem que anunciou essa novidade. b) omeio através do qual teve conhecimento da mesma. c) oemissor da novidade. d) as pessoas visadas pela noticia comunicada. 2. Oantincio feito ve perturbar a tranquilidade das personagens. 2.1. Comenta a reacao da netae do avo. 3. “Dias depois chegou o meu pai num carro de cavalos [....” (inha 28) 3.1. Esclarece o objetivo da visita do pai. 4, “= Vaia sala de visitas ver os slbuns, Rose [...].” (linha 22) 4.1. Indica 0 que motivou a ordem dada a Rose. 4.2. Relaciona o estado de espirito de Rose com a descricao da sala. 5. Adadaaltura, Rose sente-se traida 5.1. Explica o que despertou esse sentimento em Rose. 5.2. Transcreve a enumeracao que evidenciz aimagem afetuosa do avé Markus. 6. "[...]o meu pai[...] entao resolveu lancar-me aisca [...]"{iinhas 54-55) 6.1, Esclarece 0 sentido da expressio sublinhads. 6.2. ustifica a atitude do pai. 7. “Viera para me tirar da minha casa e ia levar-me para casa...” (inhas 50-61) 7.1. Esclarece 0 sentido da afirmacao anterior 8. OavOMarkuse a ave Ester manifestam-se de forma diferente relativamente 3 partida da neta, 8.1. Estabelece a comparacao entre a reacao de ambos. 9. Atribui um outro titulo sugestivo ao texto, justificando a tua escolha. 10. “Deu o tom e entrei. A sua voz era quebrada e 2 minha desafinada. Alguém de fora talvez se risse ao ouvir-nos cantar, mas as duas pessoas junto de és, 2 av6 Ester e 0 seu filho mais velho, sabiam: a um homem doente de corpo e alma estava a ser roubada a tltima alegria.” linhas 4522) 10.1. Classifica o narrador do texto quanto & presenca 10.2. Reescreve o excerto transcrito como sede um narrador nao participante se tratasse. 2. Léas frases com atencdo. a) Rose Katarina nao queria deixar 0 avo. b) *- Rose Katarina, queres deixar 0 teu av0?” linha 5) 2.1. Completa a frase seguinte: R —_Naprimeira frase, Rose Katarina desemnpenha a fungio sintatica de na segunda, a de vocativo, ocotrendo neste caso sepatado do predicade por uma 2.2, identifica 0 vocativo, nas frases que se seguem. a) "= Quero aprender com a senhora Lebehuhn, avé.” (nha 20) bb) “= Vaia sala ver os dlbuns, Rose [.}." (nba 32) ) "= Rose, amor, disse 0 av6, esbocando um gesto cansado [...].” (inna 39) 4d) *~ Repara, minha filha, s6 queremos o teu bern.” (linha 56) ¢) *- Sé boa, Rose, disse.” (iha71) Saber ler 1d. a) avd (Markus) b) Uma carta €) Amae de Rese. d) Rose eos avds, 24. Rose, surprasndida com anoticia, declarou que no se queria separar do avd nem da atual professora. Por sua vez. ‘.avé ficou muito transtarnado com a noticia; no entanto, tratou de escrever aos pais de Rose. 3A. 0 pai foi buscar Rose para a levar com ele O pai queria falar em privado coms avis de Rose sobre 0 destino da filha 4.2. Rose sentia-se ansicsa e assustada devido & iminente separagio das avés 2, coma tal a sala gelada parecia-the antipatica e desconfortavel 61, A expressio significa que o pai procurou seduzi-la com presentes. 6.2, Como Rose se mostrava reticente em acompanhéslo, 9 pai procurou convencé-la com a promessa de presentes. TA. Para Rose, a casa dea ere aquela onde sempre viveu com os avis. # nBo a casa dos seus pis 8.1. Enquanto o avé se mostra abatido e choreso, @ ave revela- se mais forte e austera 2. Respasta pessoal 40.1. 0 narrador é participante ‘como S.A. Rose sente-se aida pelo facto personagem principal. de constatar que 0 av jé n80 10.2,Deu 0 tome ela entrou. A sua € 0 que era, pois esté vor era quebrada € a da neta desamparedo, fraco e doente, desafinade.Alguém de fora talvez de jé ndo serem t&o curplices se risse ao ouvi-los cantar, ‘como outrora ('acabaram-se mas as duas pessoas junto deles, as cumplicidades alegres’ a avé Ester e 0 seu filho mais tnnas 415), velho, sabiam: a um homem 8.2. “o homem bonilo, forte, doenie de corpo e alma estava 1 protetor” Ginna sh. a ser roubada a ultima alegria. Establece a correspondénci entre as frases pode suelo, x cies simples |, 46,7 Sujet conposto:2, 8 1 O paide Rose enviou uma carta as pas OSuete bent: 3 5 2. Oavb Rose fcaram pesross coma novice. Suet inde: 9 3. “Finaimentechamaram por im." inka 38) 2s sings ae 4, “Osfilhos prtencem aos pas...” ino) bose” 5. “Abraceioavé Markus "fins 1) Sujit composto Sal - . rina file 6 “Osnosses hares cruzaram-se pela tim vez.” | site suerte oes! (inks 7-58) 1d) Sujeto indeterminado 7. *havé acompanhou-nos rua” inks 68) 8, Rose eo paisubram para o carro de caval 9. Diz-se ques fihas pertencem as pais 1 Lise fenenr eam stones 2. Atenta nas frases a seguir transcritas e nhada pelas expresses sublinhadas. ica a funcao sintatica desempe- a) “Os professores s20.as pessoas mais caprichosas do mundo [...}” inhas10-1) b) “Dou-me razoavelmente com os professores e com as professoras.” linha 3) ©) “0Sr. Kepler, ovelho professor de matemstica, a0 principio embirrava co- migo [...]." (linhas 14-15) 4) “Meti o cademo de exercicios na pasta [..]" (nhas 18-19) ¢) “Roi um boca ho a_pena [...].” (linhas 20-21) 1) “De repente 2s palavras surgiram.” (inhe 24) 3. Hi tantos mand: 3.1, Reescreve a frase anterior, subst A.um sindnimo. B. um anténimo. 2 Fungées sintaticas: a) Predicativo do sujeito ) Moiticador €) Modificador do nome positive, @) Complement obliquo. @) Complements direto. 1) Predicado, 34. Exemplo: ‘A. Hé tantos preguicosos ra minha turma, B, Ha tantos estudiosos na minha turma 44, Anne disse que 0 seu profeszor/o professor dela he tinha marcado/marcara aquele trabalho de castigo. — sna minha turma [.]."(Inhos 9-10) ido a palavra destacada por:

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