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FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS
DA PROTECAO DO MFIO AMBIENTE
JOSE AFONSO Da Stiva
Proiessor Tula da Faculdade de Divito
' da Universidade de S30 auto,
Revista de Divito Ambiental RDA
SusAnio: 1. Introdugao - 2. Os direitos fundamentais: evolucao ¢ co-
andere gDeclaracdo de diettos: modelo brasileiro ~ 4. Vida ¢ melo
ambiente ~ 5. tmplicagdes do tratamento ora adotado, alguns exemplos
colhidos da jurisprudéncia do STF - 6. Conclusio,
1. Introdugao
A protecao do meio ambiente passou a ser tema de elevada impor-
Lancia nas Constituigées contemporineas. O diteito ao mero ambience
ecologicamente equilibrado entra nelas deliberadamente come direito
fundamental da pessoa humana, nao mais como simples aspecto da atri-
buicao de érgios ou de entidades puiblicas, como ocortia ees constitui-
¢ oes mais antigas.* Bem se sabe que os diteitos fundamentals sao histo.
Covel tm € 8 transformam. Apareceram com a revolucéo burguesa
# ¢ evoluiram, ampliaram-se, com 0 corter dos tempos. A cada etapa da
bist6ria novos direitos fundamentais surgem, a ponto de se falar em ge-
ravbes de diteitos fundamentats: direitos de primeira, segunda e teroerg
geragdes
1. Ch nosso Dircito ambiental constitucional,p. 43dof AFONS D4 SILVA
2. Os direitos fundamentai
: evolugao e conotacio
“ere
Direkos in
piretoncie | eee, sas ressténela opessio
(den geraca0) | propredae | :
| picts negaricos
Tatar dort india singuarment considerado (ea nda
~satide
~ habitagio
~ educagio
~ salério suficiente& sobrevivencia
Direitos econdmicos e saciais
(de2.geragio)
~ seguridade social etc
Dieeitos p
Titular do direito. svjetos coletivos.
~ desenvolvimento
“pa
= comunicagio
= meio ambiente
= patrimdnio comum da humanidade
Direitos coletivos e difusos
(de3.2 geragao)
Direitos positives e negatives
jodelo brasileiro
3. Declaragao de dit
A Constituigao de 1988, como tipica Constituigdo transformista, bus-
ca superar o liberalismo pela configuracao de um Estado Democratico de
Direito, com marcado acento nos valores que emanam dos direitos de 2.*
‘geracao (valores social) e 3.¢ geracao (a solidariedade)..
Ea protecao do meio ambiente, como se nota, manifesta-se como
um direito fundamental de terceira gerago, que tem como titular néo um
individuo nem determinado grupo, mas, como nota Paulo Bonavides, tem
como titular 0 “género humano mesmo, num momento expressivo de sua
afirmagao como valor supremo em termos de existencialidade concreta’?
Nao tem apenas uma dimensao negativa e garantistica, como os direitos
individuais, nem apenas uma dimensao positiva e prestacional, como os
direitos sociais, porque é, a0 mesmo tempo, direito positive e negativo;
porque, de um lado, exige que o Estado, por si mesmo, respeite’a quali-
dade do meio ambiente e, de outro lado, requer que 0 Poder Puiblico seja
‘um garantidor da incolumidade do bem juridico, ou seja, a qualidade do
meio ambiente em fungao da qualidade de vida. Por isso é que, em tal di-
mensio, nao se trata de um direito contra o Estado, mas de um direito em
2. CE Curso de direito constitucional, 5. ed., 1994, n.5.FUNDAMENTOS CONS “HVC ON US DA PROTECAO DO MEIO AMBIENTE 947
face do Estado, na medida em que este assume a fungo de promotor do
direito mediante agdes afirmativas que criem as condicdes necessétrias 20
gozo do bem juridico chamado qualidade do meio amiente.
Af € que entram as normas do art. 225, § 1.°, que arrola as medidas
€ providéncias que incumbem ao Poder Puiblico tomar para assegurar a
efetividade do diteito reconhecido. que nos limitaremos a enunciar, quais
sejam: 1) preservar e restaurar os processos ecoldgicos essenciais e prover
‘o manejo ecoldgico das espécies e ecossistemas; 2) preservar a diversida-
de ea integridade do patriménio genético do Pais e fiscalizar as entidades
dedicadas a pesquisa e manipulagao de material genético; 3) definir, em
todas as unidades da Federagao, espacos territoriais e seus componentes
a serem especialmente protegidos - a alteragaio e a supressao sdo permi-
tidas somente por meio de lei, vedada qualquer utilizagdo que compro-
meta a integridade dos atributos que justifiquem sua protecao; 4) exigir,
na forma da lei, para instala¢ao de obra ou atividade potencialmente cau-
sadora de significativa degradacao do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dard publicidade; 5) controlar a producao,
a comercializagao eo emprego de técnicas, métodos e substancias que
‘comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 6)
promover a educagao ambiental em todos os niveis de ensino e a cons-
Cientizacao publica para a preservacao do meio ambiente; 7) proteger a
fauna ea flora, vedadas, na forma da lei, as praticas que coloquer em ris-
co sua fungao ecolégica, provoquem a extincao de espécies ou submetam
0s animais a crueldade.
Além desses meios de atuagao do Poder Publico, a Constituigdo im-
poe condutas preservacionistas a quantos possam direta ou indiretamen-
te gerar danos ao meto ambiente. Assim, aquele que explorar recursos
minerals fica obrigado a recuperar 0 meio ambiente degradado, de acor-
do com solugao técnica exigida pelo érgao ptiblico competente, na forma
da lei, e as usinas que operem com reator nuclear deverao ter sta locali-
zagio definida em lei federal, sem o que nao poderao ser instaladas. Dé
ela énfase & atuagao preventiva, mas nao descuida das medidas repressi-
vas, ao exigir a recuperagao do meio ambiente degradado por atividades
regulares, e especialmente ao sujeitar as condutas ¢ atividades lesivas ao
meio ambiente a sangées penais ¢ administrativas, sem prejuizo da obri-
gagdo de reparar os danos causados.
A Constituigao, com isso, segue, ¢ até ultrapassa, as Constituigdes
mais recentes (Portugal, art. 66, Espanha, art. 45) na protecao do meio
ambiente. Toma consciéncia de que a qualidade do meio ambiente se
transformara num bem, num valor mesmo, cuja preservagao, recupera-
‘edo e revitalizacao se tornara num imperativo do Poder Publico, paraa
8 JOSE AFONSO DA SILVA
assegurar a satide, o bem-estar do homem ¢ as condicdes de seu desen-
volvimento; em verdade, para assegurar 0 direito fundamental a vida. As '
normas constitucionais assumiram a consciéncia de que o direito a vida,
como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que
hé de orientar todas as formas de atuacao no campo da turela do meio
ambiente. Compreendeu que ele é um valor preponderante, que ha de
estar acima de quaisquer consideragdes como as de desenvolvimento,
como as de respeito ao direito de propriedade, como as da iniciativa pri
vada. Também esses sdo garantidos no texto constitucional, mas, a toda
evidéncia, nao podem primar sobre o direito fundamental 3 vida, que esté
‘em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é
instrumental no sentido de que, mediante essa tutela, o que se protege é
um valor maior: a qualidade da vida humana.
4, Vida e meio ambiente
Assim, como se nota, vida humana e meio ambiente se entrelagam
como valores recfprocamente coimplicantes. Vida, no texto constitucio.
nal (art. 5.°, caput, CF/88), nao seré considerada apenas no seu sentido
biolégico de incessante auto-atividade funcional, peculiar 4 matéria or:
ganica, mas na sua acepcao biogréfica mais compreensiva. Sua riqueza
significativa é de dificil apreensao porque é algo dindmico, que se trans-
forma incessantemente sem perder sua propria identidade. E mais um
proceso, que se instaura com a concepcao (ou germinagdo vegetal),
transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qua-
lidade, deixando, entao, de ser vida para ser morte, Tudo que interfere em
prejuizo desse fluir espontaneo ¢ incessante contraria a vida.
‘Todo ser dotado de vida ¢ individuo, isto é: algo que nao se pode
dividir, sob pena de deixar de ser. 0 homem € um individuo, mas ¢ mais
que isto, é uma pessoa.* Os seres racionais, como diz Kant, s4o chamados
pessoas, porque sua natureza jé 0s designa como fim em si, ou seja, como
algo que nao pode ser empregado simplesmente como meio ¢ que, por
conseguinte, limita na mesma proporgéo 0 nosso arbitrio, por ser um ob-_
jeto de respeito”.*E assim se revela como um valor absoluto, porque ana
tureza racional existe como fim em si mesma. Assim, 0 homem representa
3, Reproduzimos aqui consideragSes que constam do nosso artigo citado, Revista
dos Advogados 18/50.
CE Recaséns Siches, Vida humana, sociedad y derecho, p. 254,
Cf. Immanuel Kant, Fundamentos de la métaphysique des mocurs, trad. Victor i
Delbos, Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1982, p. 104FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA PROTECAO DO AMNIO AMBIENTE _949)
necessariamente sua propria existéncia, Mas qualquer outro ser racional
representa igualmente assim sua existéncia, em conseqiéncia do mesmo
principio racional que vale também para mim. E, pois, ao mesmo tempo.
um prinefpio objetivo que vale para outra pessoa. Daf 0 imperativo prati-
co, posto por Kant: “Age de tal sorte que consideres a humanidade, tanto
nna tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultanea
mente como fim e nunca simplesmente como meio" A pessoa é um cen
tro de imputagio juridica, porque o direito existe em fungao dela e para
propiciar seu desenvolvimento.
‘Tal concep¢do enriquece a vida humana e da uma dimensao, muito
para além do individuo, 4 sadia qualidade de vida a que o meio ambiente
ecologicamente equilibrado visa garantir, até porque, além dos caracteres,
de individuo biolégico, a pessoa tem os de unidade, identidade e conti
nuidade substanciais.” No dizer de Ortega y Gasset, mencionado por Re-
caséns Siches, “la vida consiste en la compresencia, en la coexistencia del
yo con un mundo, de un mundo conmigo, como elementos inseparables,
inescindibles, correlativos"® A vida humana, que é 0 objeto do direito as-
segurado no art. 5.°, caput, integra-se de elementos materiais (fisicos e
psiquicos) e imateriais (espirituais). A “vida é intimidade conosco mes-
mo, saber-se ¢ dar-se conta de si mesma, um assistir a si mesma e um
tomar posicao de si mesma”? Por isso 6 que ela constitui a fonte primaria
de todos os outros bens juridicos. De nada adi:
gurar outros direitos fundamentais, como a igualdade, a intimidade, a Ii
berdade, o bem-estar, o meio ambiente equilibrado, se nao erigisse a vida
humana num desses direitos, No contetido de seu conceito se envolvem o
direito & dignidade da pessoa humana, o direito & privacidade, o direito &
integridade fisico-corporal, o diteito a integridade moral e, especialmen-
te, odiretto a existéncia.
Em conclusao, a protegdo ao meio ambiente traduz o modo de pro-
tecdo a vida, a qualidade de vida, a sobrevivéncia da espécie humana, que
6 destinataria dos direitos de terceira geracao.
Este € 0 contexto que deve norteara interpretagao das normas cons-
titucionais pertinentes que consbstanciam o direito ao um meio ambien-
te ecologicamente equilibrado, com uma conseqiiéncia relevante para
a garantia de sua eficécia e aplicabilidade, qual seja, a sua insergao no
6. Idem, ibidem, p. 105.
CL. Recaséns Siches, op.ci
Idem, ibidem, p. 61,
Idem, p.60.JOSE AFONSO DA SILVA
rol das matérias componentes dos limites materiais ao poder de reforma
constantes do art. 60, § 4.°, da CF/88. Quer dizer, a aderéncia ao direito a
vida do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado conta
mina esse direito de uma qualidade que impede sua eliminacdo por via
de emenda constitucional.
5. Implicagées do tratamento ora adotado: alguns exemplos colhidos
da jurisprudéncia do STF
Mesmo antes da Carta de 1988, 0 STF admitiu a provecao constitu
cional ao meio ambiente exatamente em razao de sua pertinéncia 20 di-
reito a vida:
“Poluicao ambiental. Protecao & satide da populacao. Atividade de
mineragao. A Cetesb tem competéncia legal para aplicar sangdes as em-
presas que exercem atividades minerarias, inclusive pedreiras, desde que
estejam poluinde o meio ambiente, afetando a satide e a seguranca da
populacdo fora da érea objeto da pesquisa e lavra. Recurso extraordinari
nao conhecido.
Penso valida a distingao entre legistar sobre exploracao mineral €
protecdo do meio ambiente decortente dessa exploracao, em beneficio
da satide piibliea, fora do local da lavra. Na espécie, 0 v. acérdao entendeu
ser supletiva a legislacao estadual, quanto aos efeitos danosos da explora-
‘cao da pedreira, de modo negligente e perigoso para a saiide publica” (RE
105.569-3/SP, Declaracao do voto do relator, Min. Cordeiro Guerra, DJU
18.10.1985, p. 18.460).
Outras manifestagées judiciais do STE
“A questao do direito 20 meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Direito de terceira geragao. Principio da solidariedade. O direito & integri-
dade do meio ambiente. Tipico direito de terceira geracao. Constitui prer-
rogativa juridica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do proceso
de afirmagao dos direitos humanos, a expressao significativa de um poder
atribuido nao ao individuo identificado em sua singularidade, mas, num
sentido verdadeiramente mais abrangente, prépria coletividade social.
Enquanto 0s direitos de primeira geracao (direitos civis e politicos) - que
compreendem as liberdades classicas, negativas ou formais - realgam 0
principio da liberdade c os direitos de segunda geracao (direitos econd-
micos, sociais e culturais) - que se identifica com as liberdades positi-
vas, reais ou concretas - acentuam o principio da igualdade, os direitos de
terceira geragao, que materializam poderes de titularidade coletiva atti-
bufdos genericamente a todas as formagdes sociais, consagram o princi-
pio da solidariedade e constituem um momento importante no processoCAO DO NE AME ENTE 9ST
de desenvolvimento, expansao e reconhecimento dos direitos humanos,
caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponiveis, pela nota
de uma essencial inexauribilidade, Consideracées doutrinérias" (trancri-
40 parcial da ementa oficial) (MS 22164/SP - Tribunal Pleno. rel. Min,
Celso de Mello, DJU 17.11.1995, p. 39.206)
+ Exatamente por isso, enquanto nos direitos de primeira e segunda
geragdes temos o Estado e a individuo em posicées distintas, aqui, nos
direitos de terceira geracao, Estado e individuo (coletivamente conside-
rado) podem ocupar o mesmo pélo. Ferido o direito. ha legitimacao con.
Corrente ¢ disjuntiva do Ministério Publico, das pessoas politicas, autar-
Quias ¢ fundagdes, empresas puiblicas e sociedades de economia mista,
além de as associagdes (Lei 7.347/85. art. 5.°), postularem judicialmente a
sua reparagdo (nas agées civis puiblicas ¢ coletivas).
+ Alids, de acordo com a jurisprudéncia dos Tribunais superiores,
quando o bem da vida processualmente discutido é pecuniério (dinheiro
ptiblico), a falta de intervencao do Ministério Puiblico nao acarreta nuli-
dade. Assim, nas desapropriagdes, nao raras vezes nao intervém 0 Minis-
tério Puiblico.
No entanto, se o bem da vida for 0 meio ambiente (por exemplo, de-
sapropriagdes para a criagao de parques ecoldgicos), a falta de interven-
‘s40 acarreta a nulidade do processo. Conforme entende o STF.
“Constitucional, Ministério Publico. Acao civil publica para protecao
do patriménio publico, Art, 129, II, da CF/88. Legitimagao extraordinéria
conferida ao érgao pelo dispositivo constitucional em referéncia, hipéte-
se em que age como substituto processual de toda a coletividade e, con-
seqiientemente, na defesa de auténtico interesse difuso, habilitagao que,
de resto, nao impede a iniciativa do préprio ente publico na defesa de seu
patriménio, caso em que o Ministério Publico interviré como fiscal da lei,
pena de nulidade da agao (art. 17, § 4°, da Lei 8.429/92). Recurso nao
conhecido” (RE 208.790/SP, Tribunal Pleno, rel. Min. IImar Galvao, DJU
15.12.2000, p. 105).
+ Caso da inconstitucionalidade da Constitui¢ao estadual, que nao
atentou & imprescindibilidade do impacto ambiental:
“Julgando o mérito de ado direta ajuizada pelo Procurador-Geral da
Repaiblica, o Tribunal declarou a inconstitucionalidade do § 3.° do art.
182 da Constituigao do Estado de Santa Catarina, que dispensava o es-
tudo prévio de impacto ambiental na caso de areas de florestamento ou
reflorestamento para fins empresariais, por violagao ao art. 225, § 1.9, IV,
da CE/88 (‘Art. 225, Todos tém direito ao meio ambiente ecologicamenteoNso 4 SVS
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Publico e a coletividade o dever de defendé-
lo € preserva-lo para as presentes e futuras geracées. § 1.° Para assegurar
a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Publico: (...) IV - exigit, na
forma da lei, para instalacdo de obra ou atividade potencialmente cau-
sadora de significativa degradacao do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dard publicidade; (..)). ADIn 1.086-SC, rel.
Min. Imar Galvao, 7.6.2001,(ADI-1086)" (Informativo do STF 231, Brasi-
lia, 04 a 08.06.2001),
+ Conflito entre a Unido € Minas Gerais ainda: a solugdo mais justa
considerando a hierarquia dos valores extraida do proprio sistema cons-
titucional:
*O Tribunal, resolvendo questao de ordem suscitada pelo Min. Néri
da Silveira, relator, conheceu da agao civel origindria ajuizada pela Agén-
cia Nacional de Energia Elétrica - Aneel e Itapebi Geracao de Energia S.A.
(concessionéria de eletricidade) contra 0 Estado de Minas Gerais, em que
se alega que a Lei Estadual 13.370/99, ao declarar a Cachoeira do Tombo
da Fumaca patriménio paisagistico e turistico do Estado e ao criar érea
de protegio ambiental, teria interferido na exploracao do potencial hi-
dréulico do wecho do Rio Jequitinhonha localizado na Bahia, conflitando
com a competéncia da Uniao como poder concedente da concessio de
servigo piblico de energia elétrica. O Tribunal entendeu caracterizada a
‘competéncia origindria do STF para julgar ‘as causas e os conflitos entre
a Unido e os Estados, a Unido e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administracao indireta’ (art. 102, 1,
CF/88), uma vez que se discute de um lado a exploracao hidrelétrica e de
outro a competéncia de protecao 20 meio ambiente do Estado. ACO (QO)
593-MG, rel. Min. Néri da Silveira, 7.6.2001. (ACO-593)" (Informativo do
STF 231, Brasilia, 04 a 08.06.2001).
6. Conclusio
Esse caso de Minas Gerais poe em confronto valores constitucionais,
~ a protegao do meio ambiente como direito fundamental da pessoa hu-
mana ~ e valores institucionais - a questao da reparticao de competéncia
federativa, que requer ponderacao consciente para se chegar a uma solu-
‘cdo justa com a selegao do valor preponderante. Para tanto é pertinente
recorrer aqui a um exemplo dado pelo ilustre ambientalista Paulo Affon-
so Leme Machado, que bem ilustra um modo de decidir numa situagao
como essa, Ou seja: a Suprema Corte americana, anos atrés, parou uma
hidrelétrica, diante de um caramujo que existiu no Vale do Tenessee, por-Fuxpases
que entendeu essencial para a vida dos americanos @ existéncia daquela
lONAIS 34 953,
| espécie, € porque, como disse 0 relator do processo: “nés mesmos nao
| sabemos 0 que esse caramujo faz para a nossa satide. Mas nao temos, ain-
|
da, conhecimento do que ele pode fazer um dia’ Nao sabiam isso, con-
Cluiremos nds, mas sabiam que era possivel mudar a hidrelética e assim
salvar 0 caramujo. Salvar o meio ambiente, por entender que a existéncia
daquela espécie ¢ essencial & vida, no caso, & vida dos americanos.
10. “A tutela do meio ambiente na Constituigéo Federal de 1988" In: Matia Arte
misia Arraes Hermans (Coord,). Direito ambiental, Brasilia: Brasilia juridica/
Conselho Federal da OAB, 2002. p. 353