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COLBGAO PSICOLOGIA soca j Fernando Gozélez Rey O SOCIAL NA PSICOLOGIA E A PSICOLOGIA SOCIAL ~ Pos rol errno) ~ Dit erent i As A emergéncia do sujeito Leoncio Camino = Universidade Federal da Pataiis (IPS) ‘Tradugéio de Vera Liicia Mello Josoelyne & EDITORA VOZES Petropolis Asociedade como sistema complexo é totalmente subst por didlogos e sistemas conversaci ‘em contextos ct que, ndo ha duvida, sao reveladores de muitas coisas, my nao podem ser vistas separadamente de outras calacter desses sistemas que ndo so exclusivamente ciscursivas. Creig gue algo importante da disletica, e que a teorla da complexidage adota mais tecentemente, ¢4 visio da interdepenciéncia dos fen ‘menos. Excluir o pensamento humano ea tenséo gerada pelos gy, jettos como forma de desenvolvimento dos espacos sociais, a met, Yer, tem indmeras consequéncias negativas para 0 desenvali. mento da psicologia social Considero a produgao de nenrativas como expresséo da sent. os que nao se esgotam nas formas nartativas que os expressam ‘As narrativas vieram adicionar mais uma fonte de estudo dos pro. Cessos subjetivos que a psicofgia, em sua individualizacdo com Portamental, nunca tinha estudado, No entanto, transformar a pro. ria narretiva no sistema ikimo de construgéo caquilo que elas expressam pareos"me uma simpiificagao que oculta a verdadeira ordem complexe dés processas sociais. adic ARES ia eansomanc naman a 2 que o centro das | cesgos como atnbtbs distin ai en 3. AEMERGENCIA DO SUJEITO EA SUBJETIVIDADE: SUA IMPLICACAO PARA A PSICOLOGIA SOCIAL 3,1. A subjetividade em uma perspectiva dialética: a ruptura com o existencialismo intrapsiquico e com a dicotomia do social e do individual A subjetividade foi totalmente afastada do vocabulario das ciéncias sociais a partir da filosofia modema do sujeito do exis: ] tenclalismo associado a_qualidades intrinaecas da natureza humna- ina, consideradas como tesponsaveis pelos varios tipos de ativida- de humana. A xeifieac3o do subjetivo como natureza humana foi negada por varias perspectivas que s@ foram degenvoivendo du- -yant®'9 Beauly XX. importancia c semiética e da flosof cente da linguistica, do pragmatismo, da da linguagem contrifsulu para fazer com s5eS passasse a ser, em primeiro lugar, os jem € da significagoe, depois, a visto da lin guagem como prética social. Essa visio fol superandi a jdeia de ividuo portador de uma éssencia, € pande én primeino pl: no alelgde um individuo basicdtriente organizado em suas pr cas simbélices, 0 que dava énfase a seu caréter social © 08 pro: processos de lin | Gas sociais, Zsse descentramento na representagao do homini: ‘elorgado pela critica do nés-estruturalismo e da pos-modemida- ara uma ruptura gradual com a imagern de um su- do, o que fez com que, eventualmente, os conceltos de sujeito e de subjetividade comegassem a parecer obsoleies. Como argumentei em uma publicago anterior’, a moderida- de entra na psicologia basicamente através do empitismo, @ naa 1. GONZALED RBY,F. 2002) Sujet ysubjetvided: una aprximacié histrico-cukual \Mesaco: Thomson 123 ela filosofia moderna do sujeito, Até mesmo porguie 0 conceit, de consciéncia, que teve um certo papel de destaque nos primeiros anos da fundagao da psicologia com os traballios de Wunet, fot prontamente rechagado na 1épida e progressiva hegemonizagay horte-americana da psicologia modema. © comportamentoe a Of- dem descritiva e objetiva dominante na metodologia, hegemoni zaram as representagdes dominanites da psicologia no século XX Até 4 prépna psicanalise, interessada em reivindicat uma repre. sentago da psique como sistema constituido e inexequivel pela aparéncia, que quase chegou a atribuir a psique uma ordem onto- logica diferente, acabou restzingindo a interpretagio da psique a metéforas presentes nas tepresentagdes dominantes das ciénoias da época, 0 que dificultava sua posigao como um sistema qualita- ‘Rvamente diferente do biolégico par um Jado e do social por outro. Contribuiram também para a exclusio da subjetividade do dominio da ciéncia, por um lado, o fato de que o termo subjetivo Passou a Ser associado com erro e distorcéo, uma distorgao prove niente do sujeito. Essa distorgao foi desqualificada pela represen- tagéo positivista que dominou a psicologia de forma absoluta na primeira metade do século XX. B, por outro, asignificagao que do- minou o tertno na perspectiva ta cognigao social, que justapunha a experiéncia subjetiva interna e 0 mundo objetivo extema, Ne- nbum autor especificou a natuteza ontolégica da psique como fe- nomeno subjetivo. O gubjetivo era assoctado ao interno, ao distor ‘cedor, 20 espititual, ao Tellext'do'exéino, ao oculto, mag, em ne- Thumm Caso, se especifivava HOVE ordem de processos que crac- teriza a prochigao subjetiva. Conrisso, a descentragao da metatora naturalista-individualista Jevou 80 predémMitio-de-uma-metafora Inguistico-sociologica. O simbdlico substituii.o imtemo e reificon a(Orei do Soclal, "iin Social que perdeu o sujeito e toda a produ- Ao psiquica que nao fosse de Cider simbdlica, como vimos no capitalo’antetior. A represeniagéo dialética dominante nos primérdios da psico: logla soviética, que representava una dialética em movimento, comprometida com a musdanga € a novo, permitiu o desenvolv- tnento progressive de uma representagdo da psique que ie grando em sua interdependéncia o diferente, para finalmente PIO” duzir uma nova definigio ontolégica do subjetivo: a prothucao de sentidos. O conceito de sentido, introduzido por’ ‘Vygotsky na psi- 44 cologia, e desenvolvido de mangira acelerada em seus uiltimos tra- balhos, como mostramos no primero capitulo, da fima uma psico- icamente configurada, mas que nao foi subs tuida por ume metafora socioldgica. A categoria sentido permite visualizar a especificidade da psique humana e incorporar um buto ao social: o carater subjetivo dos processos sociais. Com desvanece a dicotomla abjetivo-subjetivo, que era inseparavel da dicolomia interno-excterna. A subjetividade néo é o oposto do ob- jetivo, é uma qualidade da objetividade nos sistemas humanos produzidos culturalmente A subjetividade permite uma reconstrugao nao s6 da psique individual, como também das varias formas de produgéo psiquica, pidprias dos cenérics sociais em que vive 0 homem, assim tam- bém como da propria cultura. A cultura é uma produgac subjetiva ‘que expressa as condigdes de vida do homem em cada momento histérico @ em cada sociedade concreta, mas que constitul uma produgdo diferenciada que indica procisamente o curso dos processos da subjetivacao que orientaram a acao humana em cada época e ambiente em que essa ago foi realizada. A cultu- 1a nao 6 uma adaptag a, e sim uma produgac humana sobre essa realidade, desen- ida ndo como expresso direta de alzibutos objetivos a ela © pela forma como o homer e a sootedade produciram dos subjetivos diferenciados diante dela a partir de suas histérias. ‘A subjetividade é inseparével das necessidades que ela gera no curso de sua historia e, portanto, em nivel subjetivo, é impossivel existir um reflexo objetivo de alguma coisa que néo dependa das necessidades do sistema que reflete, necessidades que se expres- sam tanto em sujeitos concretes, como naqueles espagos socials em que as pessoas se relacionam De uma perspective dialética, o resyate da subjetividade, em ver de coisificar a definigao de subjetividade em uma instancia, entidade ou tipo de proceso concrete, fol capaz de estender compreender a produgéo de sentidos a todos os processos e for- as de organizagao da atividade humana, dos processos macras- sociais até os microssociais e os individuais. A subjetividade nao se substancializa em atributos universais. Bla representa uma pro- dugSo de sentidos inseparfvel do contexto e das formes comple- xas de organizagao social que esto por tris dos varios espagos de 125 tn : | ago social. A cubjetividade 6 um sistema pecmanentemente em ‘ocessa, mas com formas de organizaczo que sac dificeis de dent crever e que, portanto, epistemologicamente, no séo aceseiveis s eserigéo. 1s80 foi corretamente expressado pela representacay gue Freud fez sobre a psigue. A subjetividade é da oxdem do cong, titufdo, mas representa uma forma de consuitwigdo que, por sua vez, & permanentemente reconstituida peas agdee dos sujeitos dentro dos diversos cendrios sociais em que atuam. Dessa perspectiva, a subjetividade representa um nivel ma. croteérico para a constiugéo do pensamento psicolégica. E, para no gerar nenhuma confusao, o que quero dizer quando me eto a0 macrotedrico néo esid telacionacio com uma ordem universal pré- via, @ qual devemos adequar aquilo que astudamas, ¢ sim a uma teo- ta geral que participa do sentido que adquirem todas as constr. es especificas dentro de um campo de conhecimento. Por sua voz, ela é também um momento de referéacia para todas as novas construgdes dentro da delimitagao te6rica que orienta esse proces. 80 construtivo. Nesse sentido, a subjetividade representa uma teo- via bésica e getal sobre a psique, que permite a articulacao dos dif. Tentes campos da psicologia aplicada, até agora fragmentadas ¢ disparsos por construgies teéricas parcials. Cada campo di que 6 erroneamente chamada de psicologia aplicada se tra’ mou em Un espago tedrico especifico que se nutte de si mesmo sem nenbuma articulaao com os autzos campos, o que nade mais 6 se nao uma evidéncla da crise tedrica da psicologia Assitn, por exemplo, a psicologia social surgiu como algo dife- Tente © sem pontos de contato com a psicologia educativa, pois ambas esto voltadas para microproblemas que nao tém nada en comur. Isso pée em risco a propria detnigéo da psicologia pela ausénola de qualquer referente comum que nos permita, através Gas diferenges entre os campos aplicados, dialogar e avangar conhectmento de um tipo de delimitacao tesrica que supostainen- te darta unidede ao campo. A capacidade de progresso naqutlo que ¢ diferente no conhecimento de um sistema complexa que tem diferentes cenérios, e que se expressa em todos os contextos de alividade humana, é 0 objetivo de um nivel macrotedrica que deveria ser 0 campo de uma psicologia basica ou geral e que hoje esté monopolizado por uma das abordagens particulares da psico- logia quando se identifica psicologia bésica com anélise expeti- mental da conduta. 126 1 ‘alt cca alan ama ated islet sicologia ica, comoa sentido subjetivo que ar vei dos posits desenvovintos do uma psiclea gra jrraves da diversidade ¢ tenses da construgao do conhecimento ‘os diferentes campos da psicologia aplicada. sees campos, por gua vez, 2 complementam e se contradizem no desenvolvimento de seus corpus tedricos. O sentido subjetivo delimita a especificidade do pstquico em todas as atividades ou processos humnanos, portanto é uma condi ao nova, desconsiderada durante mutto tompo, & qual é preciso, ar atengdo na produgde de todas as experiéncias humanas, Por isso, ndo ha nenhura contradigo quando falamos de espagos ci- ferentes de subjetividade para designat 0 espayos em que esta € prodtizids, pois a subjetividade se produz de forma simulténes em todos os espacos ca vida social Go homem. lss0 faz com quo osu- subjetivamente constituide ao jo de sua historia, desen- jlva processos de subjetivagao em uma de suas atividades: atuais e que os sentidos subjetivos produzidos em cada uma des: sm subjetivamente as outras, em um pro snente de integrago, organizagao e mudanga que tem ado em seu carater processual, Zs9e fato muda comple- tamente 4 maneira fragmentada ¢ estatica pela qual estudamas: as diferentes alividades humanas € seus processes de motivacao correspondentes. A motivagéo nao é especifica de uma atividade, é uma moti- vvagéo do sujelto, uma contiguragao nica de sentido que particina da produgao de sentide de uma atividade concreta, mas que nao € alheia aos outros sentides produzides de forma simultanea. emou- ras estesas da vide do sujeito. O sentido subjetivo é a integragdo de uma emocionalidade de origens diversas que se integra a for- mag simbélicas na delimitagéo de um espago da experiéncia do io. No sentido subjetivo integra-se tanto a divorsidade do so- ‘quanto a do proprio sufeito em todas suas dimens6es, incluin- do.a corporal. As emogdes associadas 4 condigao de vida do sujet- 10 se integram em sua produgo de sentido. Imaginar que o sujeito é constitufdo subjetivamente é a tinica maneira de representarmos, na integridade de sua ago especifi- ca, @ multiplicidade de sentidos subjetivos que 0 definem como sa7 sujelto sootale pessoal. Assim, ao estudar os eer envolvides no fracasso escoler, dentro de uma seciedacs te munidade concreta, estamos nos deparando com processos caracterizam o funcionamento da subjetividade social nesses jagos, pois sSo uma expresso de processos sociais dominanss esse espago social scans Tentarel especificar o que entendo por ceréter so to, tendo em conta que A. Touraine, a quem cousin was ig yéncia imporantissima na recuperagao do valor do sujelto para ¢ pensamento nas ciénciae socials de hoje, ¢ oom quem dialogare: Intensamenve na proxima segdo, disse (2002) a ‘A aflrmagio fundamentalmente nao social, porque a ox O ant do aio mais defensiva que conttance deve se aaa através de contaotensivas no espago piblico, oque implica tn onflito com as forges econbinicas @ com opoder. O cconceito-sujeto. Delendo-me contra osociale oreconstra0(p. 35) Na afirmagao anterior de Touraine surge algo que acompanha toca sua definigao do social durante sua obra: ele se situa no social como a produgao atual que caracteriza as cendrios aqui e agora, representa uma produgéo simbélio: cdo, teré uma relagéo contraditoria com esse espago norm que nao deixa lugar para sua expressdo. No entanto, quando atic mo que o sujeito ¢ social, 0 fago com relagéo @ sua ga propia historia, o que néo significa que exista, como toda minha obra, uma relagéo de determinagao direta e subjetividade individual por um “social” colocado em uma dimen- so extema e objetiva com telacdo av individuo, o que caracter Zou és varias formas de visio sociol6gica ou objetal da psique O que nos pemmite sair desse “beoo sem aida’ é procisamente cencetiode sabjetvidade, na mecide em que aprodigao ce sen dose articula de forma simultanes no eujeito individual ¢ na subjeti- vidade social, em processos contraditérios, onde a produgao subje tiva de um nivel influi no cutro através da agéo daquele diante da dita produgdo. A agao do sujeito individual é um momento dosenti- do produzido por qualquer evento ou proceso sacial sobre o suet < 128 # a Eee eee eee Cee eee ee eee eee eee eee eee ete ema eee eee eee eee eee ee aaa eae ee eee te eee eee ee eee eee EEE Eee ee EEE to Porianto, 0 sujaito se especifica em sua condligao de forma per- Renente frente ao social atual ¢ essa eepecficicade ¢ de orden Fubjetiva. No entanio, a configuracao hisiérica da subjeuidade 6 {na organizacéo de sentidos subjetivos produaidos através de uma yota social que chega a ser singular e que se transforma em uma fonte de constituigdo do sujeito através dos proprios sentidos subje- tivos que vao se produzindo ao longo desse processo. Provesso que, fm cada tum de seus momentos, contem, de forma inseparavel, ‘po gasde sentido” dessa histria,E essas pegas, nesse momento con- treto, néo so sociais, e sim subjetivas, constituldas em um sujeito ‘oncieto. B essa diferenciacdo relativa que, a meu ver, pode-se 6u- entender na distingdo que Touraine introduz, Em outra citagdo de seu tabalho o autor diz: O desejo é 0 sujelto de ser um ator e¢-se um ator “social”, néo um ator no vacuo. 0 ator social 6 canaz de modificar seu ambiente, ftraves do trabalho ou da camumicagéo. Mas essa ago sobre 0 social tem sempre un fundamerto no social, que fo! reigioso € ppolitioe mas qua hoje é ético (p. 4) 0 teligioso, 0 politico e o ético nfo 20 sociais na medida em que se erguem acima do social atual, o normatizam ¢ 0 paula. les si instituiges que marcam ~ a prior! ~ formas de produgao de sentido nos cenérios socials, mas que, apasar disso, se configu ram socialmente, todos eles, ¢ sua forma de expresséo em cada sociedade concréta ird se configurar através de sentidos subjeti- ‘vos que expressam o momento atual dessas socledades, Portanto, sio gociais em sua etiologia e em seu desenvolvimento, embora ‘estejam mais além do social no plano des agdes concretas presen- tes nos suieitos sociais ¢ individuais. Estao mais além do soctal porque séo formas o1ganizadas de subjetividade soctal cue nBo variam do forma imediata diante dos eventos eociais presentes. ‘A naturalizagéo na vis das processos humanios complexos levou primefto a uma individualizagao desses processos, colocan~ Gono sujeito a responsabilidad por configutagdes de sentido sao inseparaveis de uma ordem social. Conduziu tambem a ums ciclogismo Ingénuo na andlise dos processos psicolgicos, que- endo delimitar parcialmente “zonas do social” responeévels por tupos diferentes de agao individual e ignorandoo caratex profunda- mente singular deseas zonas como produgdes de sentido do sujet 129 ogee nee ‘sujeito social e pessoal. Assim, ao estudar os elementos de sey envolvides no fracesso escolar, dentro de uma sociedade nS munidade concreta, estainos nos deparando com rocessce catacterizam o funcionamento da subjetividade social nesses pages, pois sdo uma expresso de processos socials dominen’>, nesse espago social ae Tentazei especificar 0 que entend: lo por calater social do sujgj. to, tendo em conta que A. Touraine, a quem considero uma a rencia importantissima na recupetagao do velor do stjeito para Pensamento nas ciéncias sociais de hoje, e com quem dlalogarel intensamente na proxima segao, disse (2002): {A stimagio fandamentalmente nfo socal, poraue aoc L jom social co anto do suletio, mais defeneiva que conflitante, deve se = através ce contaofensivas no espaco canfite com as foreas econsmicas 6 com conosto-sujeto, Detendo-me contra social recon ‘Na afirmacao anterior de Touraine surge algo que ac 1a vedas detngto do soil duran ta oa else stan socal como a produgao ata que caracteriza as cendrios socials e que, aqui eagora, representa ume produpdo simbdlica instaticionalze daem multiplicidade de formas que delimitam 0 campo do social que aiua sobre 6 sujeito. Essa é uma perspective legitima de anélise do problema, en ‘verdade que o sujeito, em sua d 40, tora uma relagéo contraditéria com esse espaco non que nao deixa lugar para sua expresso. No entanto, quando ‘mo que 6 sujeite 6 social, o fago com relagdo a sua géne: propria historia, o que nao significa que exista, como afirmei em toda minha obra, uma relagao de determinagao direta e linear da at ‘idual por um “social” colocado em uma dimen- iio extema e objetiva com relago ao individuo, o que caracteri- 20u as vatlas formas de visdo sociolégica ou objetal da psique © que nos permite sair desse "beco sem saida” 6 precisament= © conoeito de subjetividade, na medida em quea prodligao de senti- dose articula de forma simultanea no sujeito individual ena subjet vidade social, em processos contraditérios, onde a produgso subje- tiva de um nivel influi no outro através da aca daquele diante da dita produc. A ago do sujeito individual é um momento do senti- do produzido par qualquer evento ou processo social sobre o sujei- ’ 128 z BEERS C EEE SEE eC EEE eee Se eee ECR Be eC EEE Ee eo Eee SCE Cee eCCeeE be tec eee Cee tet Cee Sete eee Cee terete tee Cee tbat tet eet te terete eee terete tote to. Postanto, 0 sujeito se especilica em sua condigao de fo ‘nanente frente 20 socia) atual © essa espocificidate ¢ de cxdern ubjetiva. No enttanto, a configuagéo historica da subjetividade € {ima orgenizacio de sentides subjetivos produaidos através de uma fota social que chega a ser singular e que se transforma em uma fomie de constituigdo do sujeito através dos proprios sentidos subje- tivos que vo se produzindo ao longo dese proceseo, Proceso que, emcada Um de seus momentos, contém, de forma inseparavel, "pe- gasde sentido” dessa histéria.B essas pegas, nesse morneato con- treto, ndo So sociais, e sim subjetivas, constituidas em um sujeito ‘concreto. B essa diferenciago relativa que, a meu ver, pode-se su- pentender na dietingéo que Touraine introduz, Em outta citagao de seu trabalho o autor diz. C deseo é 0 sujeito de sor urn ator eé-se um ator “social”, néo um ator po vacuo. © ator social € capez ds motificar seu ambiente, através do trabalho ou da comunicagéo. Mas essa acdo sobre 0 Social tern sempre un fundamento no social, que foi religioso € politica mas quo hoje & ético (p. 24) O religioso, 0 politico e o ético néo sdo sociais na medida em que se erguem acima do social avual, o notmatizam e o pautarn. Biles sao instituigdes que marcam ~ a priodi - formas de produgao de sentido nas cendrios socials, masque, apesar disso, se configu ram socialmente, todos eles, e sua forma ce expresso em cada sociedade concreta ira se configurar através de sentidos subjeti ‘vos que exprassam 0 momento atual dessas sociedades. Portanto, sao sociais em sua etiologia e em seu desenvolvimento, embora estejam mais além do social no plano das agées concretas pres2n- tes tos sujeitos socials ¢ individuais. Estdo mals além do social ~ potqque sao formas organizedas de subjetividade social que néo variam de forma imediata diante das eventos sociais presentes. ‘Annaturalizagao na visSo dos processos humanos complexos levou primeiro a uma individualizagao desses processos, colocan- do no sujeito a responsabilidade por confiquragées de sentido que sao inseparaveis de uma ordem social. Concuziu também a um so- ciclogiamo ingénuo na andlise dos processos usicolégicos, que: rendo delimitar parcialmente “zonas do social” responsdveis por tipos diferentes de s¢ao individual e ignorando o caréter profunda- mente singular dessas 2onas como produgoes de sentido do sujet 129 al. Assitn, por exemple, fe 00 a violencia, que ora sia atte aml oe eam Iunleacte de mss, sn qu se compioro ol uiesee de elementos de sentido produzidos nos espagas mais dike «a vida social, que se articulam também de forma diferen 4 ‘expresso vioienta de cada sujeito singular e dos espace om que a vslénda 3 expessa, Poiano, a comproen ese gail de process to complexos:0s leva necesseram uma construgdo tedrica abrangente, @ partir da a oir uma significagdo teorca qe sea sensivelaos varies ice que e ilegem ees proud cmp de venti. Aes , nosso estorgo est voitado ci social que nes perme visvaizar mentee gore ce eeenes buljeivo,eosmentsprodurdas om cada emago ego ten ¢o abjetivacdo soctal. Mais adiante examin Jerenoia dese categoria par @psicoluia socal de noses ane je De Dorsbentiva em que a defendemos, a cotogoria subjetivice tee a ‘est em uma definigdo dialética que permitiu com- re em sua condigo hislérica e cultural, sua especilicidade com relago aos a 5 ananes de a ntos sistemas envaWvid Com sua expressao e seu desenvolvim i. 8 jonto, inclusive o neurobiol6- eo distin 8e radicalmente do representacionalismo episte ico € do racionalismo que predominavam na psicolog A subjetividade n30 6 um sistema racional Sua crganizaga desenvolvimento no eto subordizadesarezio thamana,embo 1a se exprescem nels @ soja influenciatos pot ela, As poses racials do ser humanos80, na realidad, produgdes de sentido, na esi en gue organiza sea base ds interes re esdatesrectonados as contestos ded cs cust ata, 8 bart de suas ines neses contetos. sso sua 20 contro da cielidade mobilizadora da razdo uma emocionalidade cor- prometida com uma histéra ¢ com uns valores que nao so iguals ara cada nag, grupo soctl, familia on pessoa que pe sim em cuitwasclfeents, A tezao est subordnada a umn produce his ria de senitos e née ao convo Pteoement,é osn ut des caracteiteas do unctonameno subjetvohamano que tat ta a solugto de confliics em qualquer grupo ou sociedads bumana, Cada cultura é uma fonte de produgio de sentidos social mente compertlhada ¢ institucionalmente regulada © controlada, eran sOctsis da gé. 130 + q ne att jue cificulta mutto 08 processes de particulanizag geses, paradoxalmente, séo oscenciais para odes ma Subjetividade social saudavel. Lm dos aspec evindicagao do sujeito é justamente essa tenséo entre a subjet: "dual ea pressio social e dai a importancia que Toural- Os grupos 6 nagdes em contflite tém historias diferentes, me- jponas diferentes e valores diferentes sobre os mesmos fatos. Tuco waro 6 acompanhado de uma emocionalidace que, em sua integia- gao inseparavel com os provess0s simbdlicos produzidos em cada espago social, deteninina o sentido subjetivo dessas historias, oses, por sua vex, ndo:xG0 mudar graces a meros argumentos 18- cionais, pois cada racionalidade tera em sua hase uma produgdo tides. As nagociagbes sé sao possives através de grapos de diglogo, capazes de produzir contradighes cuja solugéo seja impossivel apenas com a ajuda das atuais representacdes © crengas sobre as quais se situam os representarites de cada grupo em canflito no comego do diélogo. A efetividede de um processo de negoctagao co ‘apos em conflito forem capazes de ela tinham che- gado a negociagao. E que bro elas, gerando novas representacdes que ndo eam visivels no comego de sua atividade. Base é o Unico processe capaz de: zir novos sentidos e de criar um verdadetro camninho de integracao entre grupos humanos em conilit. Embora a discussdo “racional” possa, em um momento dado, Jocar algum grape ou pessoas em conilito em. una posiGd0 Su- pperior a das demais em fungéo da qualidade ¢ do poder de convic- cao de sens argumentce, na verdade, ela nao exeroeré qualquer influéneia na mudanga da emocionatidade do outro, ja que se apora ‘em uma organizagao de sentidos que ost delinida a partir de uma forma de poder da qual o outro ~ 0 "derotado” ~ néo faz parte. B ‘por essa ra28io que sb o verdadeiro didlogo pode representar 0 ver- Gadeiro caminho pata uma nova piodugao de sentidos capez de por em contato os grupos em tensao, Todo grupo de poder tenta Jegitimar sua posigéo com relagéo aos demats através do wma ra cionalidade que €, sobcetudo, uma produgio retorica apolada em ‘uma posigéo de poder. 131 A producto de sentido, os processos de subjetivacaa os torcedotes, ja que estao associados as necessidates ie? produz e, com isso, no 840 processes produtores de tes 8 bre sistemas extemos a eles, Os sistemas humanos ~ taneo8 sii como 06 varios espacos socials em que s¢ et ‘ ee ; 2 constitu; — Drodutores de sentido, que sao capazes de prodzt eating. lesa partir dos sentidos dominantes om suas soja, so capazes de produzir reaidades culturals que nf cot Govemnadas por uma ordem natural extema ¢ sim por sien subjelivos que 76m uma historia e que podem até Plorinne ais pata aqueles qué no compartilharam essa historia, trae, essas diforencas sejem legitimas, o qua nao se wustifica game umas para dominar ¢ exluir es outras. —- i; ‘Uma das crises que esté se agravando na ordem mundial atual qué o avango tecnalégico permitiu o controle de- Técnicas sof cadas que facilitam 0 desenvolvimento da ‘humanidade mas au cae mio dan et ian orgam um grande poder aqueles que possuem contol dossasenicas, Besse poderpedeemvatero wo desu a a m a5 1601 cas @ favor de uns e em detrimento de ou- ino exemple dissoéa eneigia Duclear. Assim, os organismos “ntemacionals€ as potencies que ifm esses tecitsostentam con a lar sua proliferagao com base em uma tacionalidade que ¢ ela. Dorada nor aqueles que} os possuet Essastentativas de conto » Ro entanto, mais de que 0 poder de convicedo dos argumentize conde tém um sentide diferente ‘para aqueles a quem o controle ee nigido. Isso é a causa das Continuas violagdes secretas dos cordos por aqueles que ndo possuem ditos recursos 8 gue, por sua Vez, Sao capazes de gerar um numero infinito de novos siste- mas de argumentagao tacional ara justificar seus objetivos ou agdes divergentes. Todo sistema de sentide ¢ capaz de elaborat ‘acionalidades que fundamentem a crientagdo de suas apdes Acultura é uma produgao de sentida que | dade de um sistema de préticas compartiado peri oie Bor OutTO e que nunca sera modificado, demonstra as Ga humnanidade, apenas nor apelos oriundos de uma racional externa ao sistema dentro do qual certas praticas s40 compartilna Gas. Portanto, a humanidade enfrenta hole desafios de natureza Subjetiva que nunca enfrentou anteriormente, pois a qlobalizaga0 192 ef idem global que, para néo ser uma ordem de domi- a, exige & negociacéo permanente enire paises fom culturas @ interesses diferentes. O papel da psicologia e sua poricipagao em problemas de orders macro precisam crescer de forma significativa nos préximos anos, mas, apesar disso, ‘uma psicologia social que se concentra, primordialmente, et pleas de ordam micro, Asubjetividade como produgdo de sentido estimula formas de racionalidade que facilitam assumir compartithar as produgies de sentido em uma cultura. Essas racionalidades adquirem forma fm sistemas juridicos e morais e em todo sistema normativo ela porado pela sociedade e por suas instituigdes. Por tras desses sis- temas nommativos existem sistemas de sentido subjetivo, néo sb de cardter juridico, como também politico ¢ ideolégico. Assim, as rupturas que ovorreram naqueles paises que, como o meu, Curba, foram resultado de uma revolugdo que modificou profundamente rio 56 0 sistema de propriedade mas 0 sistema poiftico e todas suas instituigdes, geraram uma oposigaa que nao era 86 exercida por aqueles que haviam sido diretamente afetados pelas medidas mas também por pessoas que nao cons¢ ram produzir um senti- do subjetivo diante das mudangas. Embora de um ponto de vista objetivo essas pessoas: ssem um horizonte social me um ponto de vista subjetivo néo foram capazes de as: ‘novo, um processo que sofreu grande influéncia do imaginrio so- cial dominante antes das mudangas produzidas, Dessa perspectiva que adovamos, a subjetividade representa um sistema aberto, que se expressa de forma permanente através da aco, seja a de suleitos indivicuais ou a das diferentes instan- cias e instituigdes sociats. Portanto, ela se caracteriza por seu ca: dter processuel e em nenhum momento represents um conjunto de entidades estaticas, situadas em uma esséncia que alua como determinante dos comportamentos do sistema. Nesse sentido, ¢ subjetividade se caracteriza pela mesma natureza processual & ‘envolvimento com 0 contexto que os sistemas de prétiess discur- vas apresentadas pelo construcionismo. De ondesurgem, entéo, as diferengas entre esses tipos de processos e quail seu significado para a psicologia 2, especificamente, para a psteclogia social? ‘Um significado, um processo simbélico, nao é responsavel por sua propria emocionalidade, Na verdade, existem iniameres signi- ro 133 | | | ficados socielmente valorizades que nfo envolvem emociona, mente muitos setors de uma populagao. Todo sistema simbolieg ‘ransita dentro de conjuntos de emogdes organizadas em estaiog de necessidade que, em sua relagaa com 0 sitnbilico, 840 capazes de legitimar um “espago" portador Ge sentido. O sentido subjetivg Tepresenta a integragao necessaria de uma produco emovional com un bo historia propnia, com processos simbélicos de uma naty. ies dentro de uma delimitagao de sentido, tanto em nivel de um sujeito concreto como no de um grupo social. Fssa integragao ¢ arbitréria, 1em a ver com histérias diferenciadas nas quals cerios espagos adquiriram essa capacidade produtora de sentido. Assim, por exemple, a violencia de un sujeito om sua familia pode repre- sentar praticas de sentido altamente diferenciadas, impossiveis de serem associadas a Uma entidade mental como a agrest de. Em um sujeito, a vicléncia expressa uma configuragao organi- de exclusdo ¢ de falta de afeto, associadas a ciime, rancor, que sao inseparave costs ribcce queso erprona om Sngas tyre que se desenvolve cao de sentido pode se expressar em emogdas e formas de com ottamento muito diferentes. Os elementos de sentido envolridos na vioiénela familiar de um gujeito seréo diferentes do mesmo tipo de elementos de um ‘outio sujetto. Por essa razdo 0 compariamento néo é a expressao objetivada de nenhuma entidade psicolégica universal, como pre- iendia a psicopatologia universalizadora que iqnora as historias @ os contextos diferenciados dentro dos quails se produz o compat tamento rotulado como patologico, As emagties associadas a sentidos subjetivos sé capazes de evocar de forma penmanente uma muliplicidade de processos simbélicos, da mesma manera que 0s processos simbélicos asso ciados a um sentido subjetivo evocam emogbes sem que nenhum dos dois se transforme em causa do outro. Essa capacidade gene- Tativa reciproca e permanente entre o simbélico e o emocional ¢ 0 que caracteriza os sentidos subjetivos. Todo sentido subjetivo se nutre de elementos de sentido muito diferentes, oriundos de espa- 184 ie vote cstiadesose ict SAS a Sh el gos € tempos também diferentes da histéria Ge umna pessoa ov ‘grupo social, Os senticos nunca representam contetkics estations tnivetsais associados a determinadas préticas humanas. Por esse motivo, dessa per a @ debva de estar associadla a qualquer tipo de in , como acquelas que caractet! zaram os sistemas dindmicos que surgisam camo opgces & psico Jogia comportamental na modernidade. ‘A importancia da subjetividade para o desenvolvimento da psicologia social ndo é resultado apenas do concetto de subjetivi- dado social e suas implicagdes quando considoramos a sociedade como cenario da produgio de sentidas. Ao contrério, 0 proprio conceit de sentido cubjetivo define uma maneira de ver a psique za qual o social esté pemanentemente cnvolvido, O conkecimen- {tp de uma configuragac de sentidos, mais o que ele significa com relago ao sujeito que o produz, tambérn tera muluiplas implica~ es pare 0 conhecimenta dos espacos sociais nos quais aquele sujetio tansita CO conceito de sentido subjetive se diferencia do conceito de cas discursivas que caractetiza 0 construcionismo social por (o sentido subjetivo esté nevessarlamente assoctaco, embore no seja um reflexo delas, a uma constelacdo de formas de vida objetivas © subjetivas que se integram de forma inseparével na produgdo de sertides. O sentido subjetivo expressa a condigéo vi- tal das pessoas, Assim, dessa perspectiva da subjetividade n&o ‘exista, como também ndo existe para © construcionismo soctal, renhuma entidade psiconatclogica individual, como, por exem- plo, o alcoolismo ou a psiconatia. Cada aleodlatta expressa ume produugao de sentidos singular que define sua dependéncia a essa substéncia. No entanto, nessa produgso de sentidos, é possivel encontrar elementos cormuns de uma situagao social compartilha- da, como, por exemplo, as criangas que inalam substéncias quimi- ‘cas expressam que isso Ihes ajuda @ controlar a fome, que Ines da ‘uma certa euforia e que passa a set uum incentivo para os desafios do dia a dia Os autores consirucionistas nos disiam que 0 anterfor 6 uma namrativa compariihada, e nisso estamos de acordo, Porém néo estariamos de acordo sobre ela ser uma narrativa nao referencia a algo extemo a ela. Pensamos que essa narrativa é a expressdo de lima ptodugdo do sentido que expressa historias locais, mitos € 135 crengas que passam de geragao em geraca s ets geen corn mgs ae nso porque esto associadas a elementos objetivos de uma condi ‘humana compartilnada ea uma emocionalidade aesociada at? praticas. Essa, emocicnalidade também é portadora de um; ‘ inte ue osté nfo sf na meméria narrada, mas tamhém em cfeliges © valores atuais ce Ao entre diferentes formas de rea 4 sentidos é indireta, complexa, aculta. recente da no processo de produggo de conhecimento, construgdo queen de vl semente dentro de dlintaps tees un deliney dade © que nAo €, ni delimitagSo no moa sentido em que as prtcas decors sac. Quando nos referimos a elementos ‘passiveis de serem. an casper et, nfo estos nano ok dade se nos revele nessa categoria, pois estaria core tuma concep¢go representacional do conhecimento, O cue ea mos fazendo ¢ enfatizar a capacidade da categoria de produ teligibilidade sobre aspectos que sao ser reis aO registro cri Por nossa delimitagao tedrica para aborde IS Essa Tealidade 2 A categoria sentido subjetive, por cutio lado, também nos per elemento presente em nossa representacao ted- jetividade e que nao aparece construido na repre- modus opetandi construcionista: as emogées, pe i ose nid, sd0 constitunivas das formas de organiza 7 bat lade e fundamentais para a compreensae dos sen- As emogdes tamam form 0 eat ce maneka neta po: um sition, Aigo cus dacs eee compartilham com um mesmo valor emocional para elas. Assim, por exemplo, duaa pessoas que so wimas do uma injustice, que arab corsidetam pervesa, us softem as mesmas eousequéncias nsitucionais como resi do dela, tno ter emagdes diferentes diante de fato, o que deter minaré a produgdo de sentidos subjetives diferentes. Rscos sent ee ot ua vr srioresponsévei pla aera de vie ieete senna ers incu Se rentes deaceitagio e rolagoes na histara de suas vida nigger a 136 x entemente as respostas emocionais desses sujetios diante de ima experiéncla concrota vivenciada de forma semelhante por ‘mbos. Na produgdo de sentidos, nao s6 esta, como jé expressa- nos em varias ocasioes, a experiéncia concreta imediata ou 0 sis. jema natrativo dentro do qual se est4 co-construindo socialmente essa experiéncia, como também uma histérla marcada de emo- gfes que, com grande frequéncia, esto alémn da capacidade abual de conscientizagao do sujeito, um aspecto que foi essencial na smetéfora freudiana de representacao da pique, Em sua ruptura com uma concepgi representacional do co sahecimento, essa perspectiva da subjetividade em que me caloco compartilha com 0 constracionismo social no plano epistemol6gt- co necessidade de transcender uma epistemologta valtada para a resposta, ¢ enfatiza uma epistemolog'a voliada para 2 constra- gGo, na producdo conjunta de tecidos dialdgioos, de conversagdes com os sujeitos estudados. No entanto, & ciferenca do constracio- nismo, ela se orienta para a consttugao de aspectos nao visiveis e ‘do diretamente expressos nas conversagées, retomando uma fun~ gao construtin iterpretativa sobre 0 material produzido. Essa fungdo esté mais além daquilo que esta explicito nas conversa- des, e é de uma natureza diferente & dag narratives que enchem assas conversagdes, Isso assinala outra diferenga coma o constru- cionismo social como essa tendéncia vem se expressando na psi cologia. CO conceito de subjetividade 6 um macroconceito que integra ‘08 complexos provessos ¢ formes de organizagao psiquicas envol- vidos na produgao de sentides subjotivos. A subjetividade se pro- duz sobre siglernas simbélicas e emogdes que expressam de forma diferenciada 0 encontro de historias singulares de insténcias s0- ciais e sujeitos individuais, com contextos sociais e culturais multi- dimensionais. Esses contextos, que incluem as institulg6es, 0s va~ tins tipos de agdo social do homem ¢ suas formas de intearagao mactossocial, aparecem como contextos produtores de sentido através das historias subjetives de seus protagonistas, assim como das historias e processos de subjetivagde daqueles espacos $0- clais em que a aco social se produz. Fsses processos: ‘de subjeti- vagéio se produzem através das relagbes entre pessoas. proceden- tes de diferentes espagos sociais. No entanto, essas n&0 so rela- gOes abertas e esponténeas entre elas, e sim organizadas através 137 perenne de eddigos socials e emocionais. Rsses cddigos $4 cuistalizada dle configuracdes de sontico ‘nstntcionalies chegaram a ter espago de poder e que estéo presontes o tes lagdes que se pioduzem e reproduzem nesses ec? os socials atlavés de suas hierarquias dominantes, de seus at 908 morais, seus mitos, memorias @ discurs9s 6 outras formse =, subjetivagao social. nee __Astbjetividads nfo 4 uma cetogoria mentatista é,sim, uma categoria que especifica uma posicéo eaien = te 8 definicgo da psique, ontologia que nao ¢existencialista nam ‘alist ndividualista etétice, nm inxapsiquica e sim configu: Gora de wm sistema que integra, embora em processos dle desen, volvimento diferenciados o contradivores, ohotem e a cultut aque, na verdad, define o desenvolvimento pslauico comoinsena, rave! da cultura. Essa é também uma posicaa dialogica, ascurive e socialmente produzida, mas que tom como tnidade tesuica os sencial a categoria de sentido. Essa categoria ndo se eagota en ‘sua dimensao simbdlica. Ao cont ela integra processos. a: rages peiquicas com ra erolvicas de fona permenanto com as agbes ds sults oe zag historica de sentido que marca a eape — ee dessa produgdo com 0 contexto onde essas A categoria de sentida sempre est associada to, em aul gs de soit ome ns co mi ages @ relagées nos diferentes espagos socials em que se mov menta. Porianto, o sentido sempre transita pelo singular € ge pro. Guz no singular. Nao hé sentido universal, pois todo sentido subie tivo tem a marca da histéria de seu protagonista, Podemos dize que hé umn sujeito quanco ha produgio de sentido, quando ha at fetenciagan e singularidade. Sem isso, 0 sujeito foa anulado pot determinagées objetivas extemas A subjetividade representa um tipo diferento de fond com relagdo @ outtos que também so soskinomne produidos ‘mas que expressamn definigSes ontologicas diferentes. Assim, pot exemplo, tim meio & agressiva néo porque os sujeitos que viverh nele se sintam agredidos, ott tanham consciéngia da agresséo, ¢ sim pelo tipo de emogoes qua produz. sobre o sujeito; que 30 vi- venciadas como indefensabllidade, arbitrariedade, injustica, falta 138 iia lianas sonra its aitasee estan ech, ge reconhecimento e de afeto, humilhago ¢ outras que, em sua jmegrag0, 840 responsaveis pela constitnigéo de um sentido sub- Jeswo. fss0 sentido subjetivo pode ter, ent suas varias formas de i pressAo, um comportamento agressivo cu até mesmo a subanis so. Por essa razao é que a) produgdo de sentidos é tao dindmica e Suita. No emtarto, a prépria pessoa suomissa, quando ha wma snudanga da condigao de poder daquela pessoa ou daquelas pos~ Joos a8 quais ola esteve suhordinada em uma relagao de submis ‘sho, pode se tomar profundamente violenta. ‘A produgao de sentidos subjetivos ulttapassa a capacidade mediata de conscientizacdo da pessoa e as emogies mediatas queatuarn como causas concretas. O processo de confisuracéo de um sentido subjetive ¢ um processo hist6rico, mediato, em que a expresso comportarmental é o resultado de uma longa evolupdo ge elementos diferentes. Esses elementos véo se constituindo como sentido subjetive sé em sua relagao necessaria com outros elemontos que aparecem na delimitagao de uma zona da expe- riéncia do sujeito através de sua histéria pessoal. O cenatio da pro Gugo de sentidos 6 0 sujelto em seu cardter diferenciado ¢ em sua ago, em sua int separavel com a personalidade que 0 constitui, No entanto, essa personalidade néo ¢ ume ebstrapao despersonalizada, e sim a configuragae histérica de senticios de um sujeito particular. ‘Assim, por exemplo, © compartamento atento de uma mae com talagao a seus filhos pode provocar emogies de aceitagao, carinho, teconhecimento e ielicidede no filho favorito, ¢ emogdes completamente diferentes, de hipocrisia, formelismo, invasao de privacidade e cutras, naquele filo que se sente em uma posigao secundiria com relagio ao outro. Todas essas reacdes néo denen- derdo da verdadeira intencdo da mae que, 20 atuar, pode estar es: timmlada por sua necessidade de ser usta ¢ iguaitéria com ambos ede nao deixar evidéncias de suas preferdncius reais. Apesar dis so, essas preferéncias podem ser sentidas ¢ configuradas de forma inconsciente, inacessiveis ern um primeiro momento aos protago- nistas desse espaco de Telagdo. Essas tramas ocultas de sentido ‘que atravessam os processos de ilagio sao responsaveis pela ‘produgao de sentido dos protagonistas nesses espacos de relacéo, Bxempphos disco so aqueles atos extremamente brutais ¢ pro- fondamighte “inracionais” cada vez mais frequentes neste mundo \ 139 mais agitado e competitive, onde a ‘nos egpaco e é sustitulda por e mente, vao sendo cada vez mai 8 da vide cotidiana Dessoas, Esse € 0 caso, por exemplo, da matanga de Columbine 19s Estados Unidos, onde dois adolescentes mataram, de forma in. Gisoriminada, um grupo de colegas @ logo apds se suicidazarn, conceito de morte comparilhado por alguns desses jovens, que ouco depois do fato convergaram com repérteres e psicélogos, e ‘também sua posigdo com relacéo ao mundo, nos indica win proosy_ 80 oculto de produgao de subjetividade dentro dessas espagos e«- colares que, longe de revelar a inadequagao da subjetividade indin. dual daqueles que perpettaramn o erime, nos revela a oonfigmaciig de processos extracrdinariamente complexos de configuragio de subjetividade social, $e no forem estuclados ¢ modificadas, esees fproess0s continuardo @ provocar eventos somelhantes. B 0 farao através de subjetividades individuais que se transformam no pont ats sensivel desses espagos socials pela convergéncia em algue mas delas de um conjunto de fatores sobre os quais temos o dever de getar conhecimento através das cléncias sociais, Esse comp! tmisso com o conhecimento e mudanga de uma realidade social que o construcionismo desestima 6 outro ponto forte de dit entze a pasigéo que defendemos e o construcionismo 50 As ideias desenvolvidas até aqui nos mostraram a cessaria da subjetividade social e individual como processes de origem similar, mas que expressam historias diferentes, constituin- do assim uma fonie de contradigae do desenvolvimento humano, Nenhum sistema ne histdria da humanidade fo! capaz de neutrali- zar 08 sujeitos individuais, por mais que se tentha investido no pro- cesso de sua domesticagao. Essa capacidace subversiva da ordem estabelecida é precisamente a que reivindica o valor da subjetivi- dade para uma psicologia critica e da liberacéo, de tem cada vex me. Avordem dos aspectos sociais objetivos é controlada e organi- zada de tal forma 2 reduzit toda a capacidade geradora individual No entanto, a capacidade subjetiva diforenciada dos sujeitos faz ‘Coll que sujam processos de resisténcia em situagdes que, por seu cardter objetivo, fariam com que tais subversdes da ordem estabele- ida fossem inimaginaveis. Bé gracas a essas subversdes que & 60 ciedade segue seu movimento por cima daquelas personalidades que, em diferentes momentos da histéna, quiseram provocar sé 140 i i 4 : fm, gerando verdades absolutas € universais associadas a suas pessoas e aos projetos que apresentam "em nome de todos 3.2. A subjetividade social e a subjetividade individual: impacto sobre a psicologia social O objetivo dessa diviséo, apresentada e des em 1993, ndo é indicar que a subjetividade in i a0 indivicuo e que exista outra subjetividade que social. que as pessoas que acompanharam meu trabalho néo podem co- meter esse ero, pois sempre enfatizei que a subjetividade ¢ um sistema complexo que tem dois espagos de coustituigao perma- nente ¢ inter-Telacionada: o individual eo socisl, que se consit- tuem de forma reciproca e, ao mesmo tempo, cada urn est consti- tuido pelo outro, Dessa forma, rompa-se definitivamente com a ideia de um individuo isolado, naturalizado. A concep¢ao histéri- dividuo 6 aquela que o reconhece come subjetiva- mente constituido, na medida em que essa condigao rompe com e, 0 Mesto tempo, nao 0 year € imedista. Nessa deter re 08 processes de ordem social, nos quaié se jual e os processos psiquicos individuals que jessa acto, A subjetividede individual indica processos @ formas de orga nizagéio da subjetividade que ocorrem nas histérias diferenciadas dos sujeitos individuais. Portanto, ela cetimita wm espago de sub jetivacdo que contradiz € de forma permanente se confronta a ‘03 espagos socials de subjetivacae. O processo de produgao de sentidos subjetivos do sujeito individual néo reproduz nenuma Jogica externa ao sistema individual no qual esses sentidos sto produzidos, Uma das forgas essenciais para o desenvolvimento de ambos os niveis ¢ precisamente a tensio que se produz entre es- ses dois espagos de subjetivacéo. Em geial, a psicologia social nao inchutu nem as questbes da subjetividade individual nem tampouco o proprio sujeito. No er tanto, nos primérdios a psicologia social critica na América Lat por suas definigdes @ hoje reconhecida por muitos como psi Gia da lierragao, terme intzoduzide por Martin Baro, Esse, que viu 4 141

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