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JOS DE MESQUITA

Jos de Mesquita
Da Academia Matogrossense de Letras

Revista de Cultura
Cu da Glria
(pag. 28-29)

Jos Barnab de Mesquita


(*10/03/1892 22/06/1961)
Cuiab - Mato Grosso

Biblioteca Virtual Jos de Mesquita


http://www.jmesquita.brtdata.com.br/bvjmesquita.htm

Ano XIV, (janeiro de 1940), n 157


Rio de Janeiro

CU DA GLRIA 1940

JOS DE MESQUITA

Cu da Glria

mas sim leve parenthesis de sonho ...


Cu da Gloria, que sempre idealizo
para a delicia recolhida
duma vida de prece e de silencio,
contemplativa e lyrica, s feita
de desejos velados,
e esperanas desfeitas ...
Cu de luminosidade esvaecente,
liquefazendo-se como
uma grande saphira a se diluir nas guas ...
Cu que bem o meu cu de mystico dolente
e a que eu desejaria,
se alasse, ao pr do sol, o meu esprito,
num vo lento e leve,
que fosse
como o doce morrer longo dum dia estivo:
somno sereno de que se accorda
para a Ressurreio, alvorada suprema
nessoutro cu da Gloria nico eterno!

No scenario infinito
dos vastos cus polychromos, radiantes
da Guanabara,
a reflectirem-se nas guas,
ou debruados, languidos,
sobre a curva macia das montanhas,
nenhum para mim to suggestivo
como este cu da Gloria!
Cu baixo, mo-tenente,
que desce quasi ao nosso alcance
e envolve, caricioso, a paisagem de em torno ...
cu que uma festa quotidiana,
espectaculo immenso, lacre, multiforme
que Deus nos da gratuitamente ...
radiante sob o sol rubro de fevereiro,
profundo a luz suave das estrellas,
lcida beno que se estende
do morro todo verde ao mar azul e prata,
sereno, casto, manso,
sem anseios ou ardores,
como um beijo de me ou um amplexo fraterno ...
Cu que me acostumei a ver, to doce,
das varandas abertas
do velho Suisso,
ou da praia tranquilla,
praia antiga, que se recorta entre o arvoredo,
junto velha amurada,
sem estrepito de vagas rugitentes,
sob a doura elisea e recolhida,
do outeirinho fronteiro azul e branco,
tendo Santa-Teresa, a Urca e o Po de Acar como panno de fundo,
cu plcido a inflectir-se na bahia,
como um cu de prespio,
vendo das ondas a quebrana langue
nas pedras lisas e escuras,
num morrer que no e morte,
3

Fevereiro, 1939.

(Dos Rhythmos Novos)

In: Revista de Cultura. Rio de Janeiro. Ano XIV, (janeiro de 1940), n


157, p. 28-29.

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