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DEONDE ViEMOS. ‘muon apenas porque as eseassas descobertas de fésseis na Aftiea oriental no infio da década de 60 se transformaram em uma“en- sxurrada’ de achados, mas também porque o contexto das evién- ‘cis fsseis na regio, especialmente no que diz respeto a sua data- ‘to, era muito diferente do da Africa austal, "No sul, a maori dos fsels hominineos foi, e ainda ¢ encon- trada em cavernas que se formam em rochas dolomitias (a dolo- rita € um earbonato rico em magnésio). Embora pesquisadores ceasionalmente eneontrem um esqueleto bem preservado de um. {ndivieiuo (como os de Malapa}, a maior parte dos fsseis de homi- 10s primitivas localizados nessas cavernas eram sobras de re- feigies de leopardos e outros prodadores Esses ossas edentes no consumids foram arrastados para as cavernas por enxurradas juntamente com solo superficial. No interior da caverma, terra © ‘0s 0550s formaram os chamados cones de talus, versbes desorgani- ‘radas dos simétrios cones de arvia que se erguem na base de anti- ‘gas ampulhetas, Nas cavernas, ess camadas, ou estratos, nem sempre sequem a regra geral de que as camadas mais antigas| ‘eam na base ¢ as mais eeentes no topo. Como se iss0 no fosse sufleientemente frustrante, alé recentemente pesquisadores no tinham ideia de como datar sedimentos nas eavernas. No inicio da década de 60, tudo.o que eles podiam fazer era encaixar os achados ‘hominineos em uma sequéncia temporal rudimentar baseada nos tipos de animais fossilizados encontrados nas cavernas. RIQUEZA DO VALE DOIUFT. conmmamasiavty, 4 Epica Riss. de hominineos do leste da Aiea vem de sitios proximos ao Vale do Rift Oriental, que corta es ‘spate do continenteafrieano do mar Verto, no norte, as mar- ‘gens do lago Malawi e além dele, no sul. Em vez de serem encon- ‘rads em cavernas, os fosseis de hominineos do Teste afticano S80 descobertos em sedimentos depestados ao redor de lagns ou a0 Jongn de margens de ries. Muitas dessas camadas rochosas pre- servam a diego do campo magnético da Terra na época em que foram depositadas; ¢ como sto sitios ao ar livre, 0s estrats ineor- poram cinzas expeidas por muitos dos vuledes gerados dentro € ‘ao redor do Vale do Rift Oriental pelo movimento de placa tecto- ‘leas, Bses aspoctos significa que, em cada sito, pesqusdores ‘tm meios de estabelecer a idade dos estat, independentemente dos fosseis que passam conter.Além disso, como as camadas de ‘dnzas vuleinicas funcionam como tuma série de cobertores com ‘arimbos de datas lancads sobre a regito, elas permitem que pes- {quisadores correlacionem fsseis deposits a mihares de quild- -metrosde distancia, “Muitos dos sitios de fOssels hominineos mais ricos do Teste africano, como os da bacia Omo‘Turkana ¢, mais a0 norte, a0 Tongo do rio Awash, contém estratos que representam milhoes de ‘anos, Portanto, € possivel estabelecer datas minimas de “inicio” & ‘im’ para cada grupo espectfico de fsseis de hominineos. Fast ‘especificidade deisa claro que no leste da Attica, quanto mais préximo da porcio orientaaustral, entre umn milo de anos € {quatro milhces, hominsneos foram contemporineos. Ao longo de tum milho de anes, por exemplo (de aproximadamente 2:3 mi- hoes a 14¢ mith de anos tras), dois tipos muito diferentes de hhominineos — Pavardhropus boise e Homo habits — viveram na. ‘mesma regio da Africa oriental. Fes eram tao diferentes que um. ‘guia de safiri préchistérico teria enfatizado que seus eranios € fdentes quase nunca so confundides, independentemente da fragmentagao féssil. Também esta claro que os hominineas dos 36 Scenic Ameriean Bra | Outubro 2016 sitios paleontoldgicns na Africa oriental diferem dos encontrados na Aftica astral ~ mas abordaremos isso mais tare. Encontrar evidenelas de P boise’ e H. habilis nos estratos que resistram milhares de anos no signifiea necessariamente que 08 dois hominineos tinham de se revezar na mesina cacimba, Mas ‘quer dizer que tm, ou talvez os dois, desses hominineos nao é ancestral de humanios modernos. Embora evéncias muito poste- riores na evoluo umana sejam consistentes com uma mises rnagio moderada entre neandertais e humanos modernos, em. minha opiniio as diferencas fisieas muito mais acentuadas entre P boisei e H, habilisindicam que a hibridagao era muito menos provivel. F, mesmo que tenha ocortido, ela pouco fez para meselar ‘as diferengas substancials entre essas duas espécies. Em outras pa- lavras, a imagem de um tinico ramo genealosico simples no parece mais adequada para representar humanos ha uns dois mi- Thges de anos. Nossa ancestralidade primitiva parece mais um feixe de ramos — poderfanmos até pensar em algo pareeido com um. arbusto emaranhiado (ver ustragdo na pagina 30). ‘Também ha evidéncias de maliplas linhagens em nosso passa do mais recente. Neandertais, por exemplo,tém sido reconhecidos, ‘como uma espécie separada hi mais de 10 anos, medida queo ‘tempo passe, pesquisadores descobrem maise maiscaracterfsticas ‘que os difereneiam de humanos modernos.Também salbemos que ‘um terveiro hominineo, mais ecatamente 0 H. erectus, provavel _mente sobreviveu multo além do que se aceditava originalmente ‘eque 0 Homo floresiensis, embora possa ter sido continado &ilha de Flores, é quase ertamente um quarto homininco que viveu no ‘planeta nos dtimos 100 mil anos. Evidénctas de um quinto homi- neo distinto, o homem de Denisova, vieram de DNA antigo ex ‘ado de uma falange[osso do dedo da mao] de 40 mil anos. Alem disso, surgiu uma evid2neia de pelo mais wma “linhagem fantas- ima’ no DNA de hirmanas moderos vivos hi 100 mil anos. Portan- 10, nossa historia evolutivareeente €multo mais ramifeada que se ereditva i apenas 10 anos. “Taver a deseoberta, dessa “ramificagao arbustiva” em nossa ‘evolugio nao deveriater sido uma surpresa. No passado,aexistn- cia contemporinea de maltiplas espécies aparentadas parcee ter sido a norma para muitos grupos de mamiferos; portanto, por que hhominineos deveriam ter sido diferentes? Ainda assim, erfticos da Jrvore geneal6glea mais ramificada tém acusacl os paleoantrop6- logos de terem sido exeessivamente meticulasos em identifiear rnovas espécies em seus achados, presumivelmente devido a umn dese de fama e mais financiamentos de pesquise. ‘Minha pereepco, por outro lado, é que muito provavelmente ‘estamos lidando com um fendmeno real. Primeiro, ht razbes vi- ‘dase Iogieas para suspeitar que o registro fsil sempre subestima fo mimero de espéeies. Segundo, sabemos por meio de animais ‘ivos que muitas espéeies incontestadas so difeeis de distinguir "usando assos ¢ dentes; 0s chamadios teedos duros, que sio tudo 0 “que sobrevive no resto fésil.Além disso, a matoria das especies ‘de mamiferos que vivia entre trés milhoes ¢ um millio de anos atris nfo tem descendentes vivos. Portanto, a existéncia de varios ‘homininoos primitivas contemporsinens sem descendentes diretos vivos no é*estranha’ ‘Se for verdade que hominneos tinham uma rica diversidade em seut passado, eabe a bidlogos descobrir as pressdes eolutivas {que permitiram isso, O cima é um dos candidatos Gbvios: suas ‘mudangas ¢, portant, alteragGes de habitats ao longo do tempo, rmostram tendéncias que osclam dentro desi mesmas. De modo

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