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0c NowBero wrncanoQ) BRASIL Unidos pela gafieira SAO PAULO SE RENDE AO RITMO DO SAMBA A DOIS, E CLUBES DE DANCA EFILIAIS DE ESCOLAS TRADICIONAIS DO RIO FICAM LOTADAS DE ADEPTOS E DE ALUNOS POR CLEIDE CARVALHO clidecarvalhoq@spogiobocombr FOTOS MICHEL FILHO ‘SAO PAULO ‘em a proguica do fim de so- ‘mana nem aiminencia da so- gunda-feira ram o ritmo dos casais no saioda Zais, antiga casa de shows na Vila Maria- nna, na Zona Sule Sio Paulo. Bali quesse instala nas noites de domingo (0 Clube da Gatieira, que mistura jovens e _gr&alhos na danca a dois aomdhor estilo Carioca, odo samba de gaf eet Nao se sabe se por ees parque danear é dive rere vel com oestilode vida saudavel em voga, reat © ato € quea danga inventada no subir- ree bio carioca e consagrada nas famosas ga- pore’ ficiras da Lapa esti “bombando" nas aca- demias paulistanas. E 6 das escolas de danga que sem as tumas que invadema pista da Zais nas domingueiras ¢lotam 0 ‘Magn6lia Villa Bar, na Lapa paulistana Zona Oeste) ds quintas-Ieras, ¢ 0 O do Borogods, em Pinheirns as sends Aprocura pelo sama entrelagado & tao grande quea Casa de Danga Carlinhosde Tesus, fanquia da casa carioca, que fica ‘em Botafogo, abriu turmas extras nas ta des de damningo. No Centro de Danea ka me Arisa, outa vind do Rio,amadalida- ‘de ganhou turmas exclusivas,além de ser ensinada nas aulas de danca de sala. Apenas nestas duas escolas sio quase nil alunos aprendendo a sambar juntinho, — 0 samba de gafieia eresce de forma impressionante. Alguns anos atrés, em Sao Paulo se dancava principalmente o pagode, ¢ o same era 0 samba no pé. ‘Agora, 0 de gaficira tem sido 0 mais pro- ‘curado, indusive para festivais de danga de salao — diz. Mexandre Lopes, de 37 nox, ex-seguranga particular, que come ‘gou a dangar na década de 90, tomou gos- {oa ponto dese transformar em professor 726 — ¢ guatroanosatris, deddiu langaro Ciu- beda Gafiera, em parceria com 0 promo- ter Mico Sortso. ‘Nao queo samba de gaficira tenha si- do apresentado aos paulistanos ha pouco tempo. Longe disso. A cidade ja abrigou gaficiras famosas como Paulis- tano da Gloria, Som de Cristal ¢ Gari- to. Eram lugares como osdo Rio, onde adanca tinha estatuto Ocorze que adanga adois passou um bom tempo meio fora de moda. Foi 0 periodo das danceterias, quando dan- Gar se transformou numa acao indivi- dual, onde os movimentos nao inham. deer aprendidos ou ensaiados. — Onde tem samba de mfiera, a gente vai. £0 que gostamos de fazer, nosso hrobizy, nosso lazer — diz Marlene Lisboa, de 26 amos, estudante de Arquitetira, que chegou a Zais de sapato baixo e trocou por uma sandalia de salto alto para den- gar a0 som da banda Universo Gaticira cam o namorado, 0 an Fherson Souza, de34 anos, Sao Paulo tem la sua nevera oc1ce0 C) ce nora20 ce 200 ‘Até hd pouco tempo, a danga de saldo na cidade havia ganhado fama de reu- ir uma leva de mulheres dispostas a aprender, se divertir e, quem sabe, on- contrar um par interessante — um ca- valheiro culto, charmoso, dancante € disposto a assumir compromisso. Mas essa historia ficou para trés. As mulheres séo, sim, maioria em muitas acaclemias,mas encontrar ounioumea- valheiro de’xou de ser importante. Quan- do hd mais homens do quemulheresd postos 2 cair no samba a dois, as escolas providenciam bolsisias — homens dis- postos 2 aprender sem pagar e servir de par as damas. Nos bares e saldes, prolile- ra figura do personal dancer pé.de valsa de alugue! levado a tiracolo a casas oturnas ¢ clubes da cidade s6 paradan- car Tambémo Qube da Gaticira aderiua onda: por RS 3 a ficha, adquirida no cai- xa, mulher tire seu Par. Mas a historia de dama pagante se mostra mais necesséria na érea nobre Paulistana, a que aprenden a dangar pe- Ga que abrin a Escola de Dangas e Boas “Maneiras em 1915 —“lecionando danga, sociabilidade ¢ boas maneiras’ Em aca- domias daszonas Norte © Leste, as aulas estiorepletas de homens dispostos a sair bailando por ai. ‘Clovis Jurado, 46 anos, que comanda a Casa de Danga Carlinhos de lesus, inaugurada hei pouco mais de um ano em Santana, na Zona Norte, airma que a danga se tornou mais democratica — Aqui cada um vale o que danca. Nao importa se vem de Ferrari ou de metro — afirma. ‘A escola leva a marca do homem a quem se atribui a responsabilidade — Por talento edireito — deter envolvido em glamour osamba dangadoa dois. E ele quem conta: —AEba (Ramat) me viu dangando © chamou para fazer 0 filme “Opera do ‘Malandro’ Revivi na danga a persona- gem do bom malandro, do boémio. A roupa foi 0 Ruy Guerra (diretor) quem. deu. O chapéu que uso é 0 mesmo, 0 chapéu palheta — diz Caslinhos. r SANDS ve Garantie Ta) pe rusts Conant Safa ENG DEOENTED 1422-680 | COPATABANA 2275 BOTAFOGO 2537-8014. | ae. SUE-OSIE) | cRuAD eee reine te Marco Antonio Perna, engenheiro, mante da danga e autor do livro ‘Samba de gaficira’ diz. que, enquanto Carlinhos de Jesus fez. 0 marketing da danga em torno da imagem do malan- dro carioca, outro dangarino impor- tante, Jaime Aréxa, formatou os passos de forma que a elite pucesse entender ce conseguisse dangat. Fle afirma que 0 samba de gafieira, originario do maxi- xe, no feve a mesa importéincia. (0 maxixe entrou no teatro de re- vista, foi dangado em Paris em 1910, 0 auge da danca de salao, ¢ esteve pre- sente no noticisrio parisiense. O sam- ba de gafieira nao teve a mesma sorte. Sungiu nas décadas de 30 e 40 e logo depois caiu em desuso na alite, Mas ele permaneceu nos saloes de festa do su- biirbio — explica. Enquanto no Rio 0 samba de gafieira steve vinculado as comunidades mais pobres, em Sao Paulo ficou ligado a imagem dos sambistas das comunida- des negras. Se por um lado pode pare- ‘cer preconceito, de outro é visto como uma espécie de reveréncia ao talento dos negros para dangar. Em Sao Paulo, © paulisiano comeu 0 samba. Ficou sé gafleira— que & lugar onde sedanca, eno o nome do estilo. wrnoes ne wovEURRD CE 290 Perna diz que o samba de gaficira esti para o Brasil como 0 tango para a Argentina, nao fosse os hermanos te- rem associado danga e musica a pon- tode uma nao sobreviversema outra, OBrasil, por sua ver, vinculow 0 sam ba ao carnaval, relegando 0 samba dangado a dois a segundo plano. 0 marketing internacional é odo samba no pé ‘Mas a comparacao com o tango tem também outro viés. A dana tem muita lirada de perna, cruzada, passos que evidenciam a mulher e tornam 0 cava- Iheiro uma espécie de protetor. — No salao, € como se fosse um ca- sal de mestre-sala e porta-bandeira. Ele sempre a protege e, a0 mesmo ‘tempo, abre espaco para que se exi- ba. Quem leva 6 0 homem, ¢ o sinal de para onde vai, como no tango, é dado com os ombros. A mulher, por sua ver, jamais olha para 0s lados, 36 Para 0 parceiro — conta Marcos Bri- Iho, de 38 anos, dangarino e prote: sor que comecou estudando balé classico, aos 11 anos, Para ohomem, é sempre mais diffe o aprendizado. Afinal, quem comanda os pasos ¢ ele. Eis af uma outra expli- cagio para o surgimento dos personal p28 — DOISADOIS. ‘Alunos nas escolas de Cariinhos de Jasus (Golado) e Jaime Ardxa (acima) dancers — a mulher aprende mais ré- pido © quer parceiro a altura. ‘A paixio pelo samba de gafieira pa- rece ter mesmo tomado Sa0 Paulo, — 0 gostoso & que nao é pegacao ou paquera. F se reunir para dancar. Nin- guém aqui quer dividir problemas. ‘Tem a adrenalina, a sensacao boa da noite de danga — diz a pedagoga Soni: Maciel, que costuma dangar as segun- das-feiras no O do Borogod6 — Quem danga bem 0 samba a dois danga qualquer outra coisa —diz ofer- ramenteiro Carlos Aratijo, 40.anos, bol- sista da Interativa Dance, em Moema. — Adana agrega 0 social, o artistico © 0 condicionamento fisico. Vocé ma- Iha e fica bem sem pegar peso. Melho- rm até a fungao cardfaca. Tem ainda a ‘gio das proprias escalas, que esto fa zendo mais eventos — afirma Marcelo Cunha, carioca ¢ s6cio do Centro de Danca Jaime Ardxa no bairro do Cam- po Belo. Ble lembra que os ritmos da moda, como a zumba e 0 atual zouk, tam- bém levam mais jovens para as esco- las. Fé nos sales que eles tém conta tocom acultura brasileira do samba e se dao conta do prazer de dangar a0 ritmo carioca.¢ Campos opostos ‘Ter opiniao & um direito. Expressar opiniao, idem. Mas por que ouvir a opiniao alheia, erelletir sobre cla, parece ser tao dificil? Atualmente, na era das redes sociais, qualquer post pode gerardezenas, centenas, milhares de comentarios. Nao importa 0 assunto, todo mundo tem um, pitaco 2 dat. Fscutar (OK,, ler) © pontode vista do outro é que nao parece tio facil. Pode sera melhor fralda descartavel para umn recém-nascido, Pode sero teste de medicamentos & cosméticos em animais. Pode ser 0 efeito do Mercurio retrogrado. Pode ser o rumo «las manifestagées no pais. Pode ser a melhor época para adubar orquidea. Nao é Ocaso de acreditar que foi 0 Facebook e seus correlatos que, a despeito de pregarem Ocontrério, pioraram a comunicacao entre as pessoas. Um dos entrevistados de Cléudia Amorim para a reportagem de capa desta edicao, 0 psicanalista jurandir Freire Costa 6 categérico: ‘As pessoas no se ouvem.’ A partir da pagina 30, a reporter {raga um panorama da atualidade sob oviés do embate radical de opi (fugazes ou nao), em que todo dia (e nada contra isso) parece dia de Fla-Flu.6 MARCELOBALBIO [DMTOR ASSETENTE O GLOBO now romncewne Q)srocscoxze SUMA.RIO Advogade fae sore noe famsta/DOSS CAFES E A CONTA 76 Agangorra ene 0 pabaiho oo lazer/ MARTHA MEDEIROS °12 (GENTEFINA Pic Frc ma bela (ena saie)/ COLUNISTA CONVIDADO PIE amos ur curvocle Noeetes/ COMPORTAMENTO P22 Samba de gafena conquista ox paliscanes/ BRASIL P26 ‘Ara das opinioespotaizadas/ CAPA P30 ‘Pairo Gabriel do Lamas para a: paginas) PERFIL P36 Qamnario da maior cliente da Vuitton no Bio/ MODA ?3= ‘ACHADOS IMPERDIVESS 242 ‘Maguiagem: am versio miniatura/BELEZA P44 As bussasde ure tama e aafé’ no Cosme Velho’ DECORAGAO P46 ‘ALBERTO GOLDIN P50 Vinhos brances ts com wows tntas/ SABORES P51 yoeos Ps ue dizer navi ls frias/ ARTUR XEXEO P58 SINTA-SEEMCASA. Detalhe deum dos ambientes do “camae café” Casa Beludi: acdoentreamiaose ‘eaproveltamento total PAG REVISTA GL by eee ee Sdbene: vira Pe Bate-boca por qualquer tema nas redes sociais chama a aten¢ao. Para uma nova era: a da opiniao (radical) formada'sobre tudo. exo

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