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O livro Poeira no Cho, de Darbi Masson Suficier, deparou-se com o mito da

caverna e pensou ser ele uma das sombras. Explico-me. Numa roda de
amigos, diadesses, referi-me aos contos como se fossem eles poesia.
Poesia o qu, rapaz? So contos. Bem, esse quem vos escreve aqui
costuma ver poesia em tudo e, assim, ainda que contos sejam seus escritos,
por minha completa ignorncia literria, considero Darbi um poeta antes de
contista. Fao um rpido parntese: imbudo dessa perspectiva da poesia principal minha vida de maneira geral -, chego a arriscar-me publicamente
em erros ao afirmar que mesmo um artigo cientfico sem uma determinada
dimenso potica, perde mais para uma falta tcnica, normatizada,
universal; enfim, os erros so meus.
Poeira no Cho poesia que se encontra no cotidiano, todos os dias num
olhar para um lado, olhar para o outro. Distraidamente. (...) uma velhinha
de noventa anos gastava as ltimas energias do corpo e da vida ao recolher
as folhas da calada (...) ao longe os passarinhos ainda danavam. Se a
poesia j no d mais conta do mundo e das gentes, tal as sombras
socrticas que mal representam a realidade, se assim for, que dancem os
pssaros, que folhas consumam a rstia da vida, mas voltemos a ouvir a
desnecessria msica ao longe e fazer da distncia uma mera palavra
ilustrativa, pois que seu senso espao-temporal no ter mais substncia
aps a poesia. Subir, descer, danar, trs casas abaixo, no final da rua, sete
meses, dois anos - ter oito antes dos trinta. Est escrito na orelha: Poeira
no Cho , certamente, um livro desnecessrio.

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