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PESQUISA HISTORICA ‘A compreensio dos fendmenos sociais dos nossos dias ¢ a relagdo entre pafses Pobres € ricos, a situacio econémica do Brasil, o lugar do Nordeste no crescimento idem do conhecimento que se tenha do pasado, Assim, os aconteci. Mentos atuais $6 tém significado com relagio a0 contexto dos fatos passados dos Quais surgiram, A pesquisa historica ocupa-se do passado do homem, e a tarefe do historiador, Gefinida por Borg (1974:81), consiste em “‘localizar, avaliar e sintelizar sistemética € objetivamente as provas, para estabelecer os fatos e obler Conclusdes referentes aos acontecimentos do passado"” A pesquisa hist6rica, porém, nao esté interessada em todos 0s acontecimentos desde @ apari¢ao do homem no mundo; ela se preocupa, particularmente, com o registro escrito dos acontecimentos. Os fatos acorridos antes da aparigio da escrita compreendem A pré-histéria, e esta € campo de arquedlogos, antrop6logos etc. 15.1 Objetivos da pesquisa histérica Segundo Helmstadter (1970), a pesquisa historica apresenta dois objetivos bé- sicos: 1° Produzir um registro fiel do passado Neste caso, o pesquisador enfrenta um problema realmente hist possfvel traté-lo de duas maneiras: na primeira, coleta-se a informago e © problema em um momento dado (estudo de corte-transversal); na s creve-se 0 desenvolvimento de um acontecimento através do tempo (e tudinal). 246 PESQUISA SOCIAL A medida que se acrescenta o periodo de tempo analisado, aumenta 0 risco de no se encontrar registros completos dos fendmenos tratados. Nesse caso, 0 pesquisador pode hipotetizar sobre os acontecimentos, baseado na informagio dis- ponivel. Evidentemente, todavia, isso apresenta limitagdes para sua andlise. A falta de registros completos também pode-se dar no caso de se investigar acontecimentos de importincia secundéria. Por exemplo, é facil encontrar registros completos sobre a vida do presidente Getilio Vargas. No entanto, pode ser dificil encontrar registros sobre a vida de alguns de seus ministros. Voltaremos a este problema ao tratar da escolha do tema de pesquisa. 2 Contribuir para a solucao de problemas atuais Em vez de produzir um registro do passado, outro objetivo da pesquisa his t6rica é contribuir para solucionar problemas através do exame de acontecimentos: passados. Por exemplo, o éxito de uma campanha de erradicagdo do analfabetismo no Brasil exige um estudo sério da problemética atual, identificando areas geogré- ficas e caracteristicas dos analfabetos. Para compreender a situagio atual deve-se fazer uma anélise histérica para determinar as origens do analfabetismo. 15.2 Aspectos especificos da pesquisa histérica A pessoa que trabalha com pesquisa histérica deve conhecer alguns aspectos especificos desse tipo de enfoque. Em primeiro lugar, a pesquisa historica bascia-se em observacdes que no podem ser repetidas, como € 0 caso de outros tipos de estudo, tais como a enquete, os estudos descritivos, as experiéneias de laboratério etc. Por esse motivo, e considerando que a informagao nao tem sido organi nem registrada para solucionar problemas especificos, a pesquisa hist6rica demand {ntenso trabalho bibliogréfico-documental e grande paciéncia por parte do pesqu= sador. Portanto, o investigador que perde a calma porque no pode encontrar informacao fundamental, ou ndo esta disposto a procurar em documentos um dad importante para seu estudo, ndo se entusiasmard com a pesquisa histérica. Em segundo lugar, a pesquisa histérica, geralmente, é realizada por um pesquisador. Isso nfo quer dizer que neste tipo de pesquisa ndo se pode traball em equipe, mas que 0 trabalho individual exige grande esforgo do pesquisador. Em terceiro lugar, 0 relat6rio de pesquisa € menos rigido e mais norma que os apresentados em outros tipos de pesquisa. A andlise dos dados é m qualitativa, sem muita utilizacdo de métodos estatisticos. 15.3 Processo Como em tod tapas: 1. Formulag 2. specific 3. Determin 4. Coleta & a. andl b. use ° fo * fo c. busca + na Preparag’ Interacaa Concluss Conclusa Aplicacaa yprnraw 15.3.1 Escollia © estudo hist ‘mencionados 7 tigado, a pesquisa: ver, 1971) na ides 1. Onde 00g 2. Que pess 3. Quando 4. Que tipal escopo do tabelecidos nessa | uma regio, um variar de uma (i PESQUISA tISTORICA 5.3. Processo da pesquisa histérica Como em toda pesquisa, no estudo hist6rico podem-se estabelecer as seguiintes tapas: 1. Formulaedio do Problema. 2. Especificagdio dos Dados. 3. Determinago da adequa¢io dos dados disponiveis. 4. Coleta de dados: a, anélise dos dados conhecidos; b. busca de novos dados de fontes conhecidas: © fontes primérias; fontes secundérias busca de dados de fontes previamente desconhecidas: ¢ na forma de dados; na forma de fontes. Preparagio do relat6rio, Interagao entre preparacdo do relatério e anilise dos dados. Conclusio da fase descritiva da pesquisa. Conclusio da fase interpretativa da pesquisa, Aplicacdo da pesquisa aos problemas atuais e hip6teses futuras. 15.3.1 Escolha do tema e formulagdo do problema 0 estudo histérico comeca com a escolha de um tema. Além dos critérios jé ‘mencionados sobre a importincia, originalidade e viabilidade do tema a ser inves- tigado, a pesquisa hist6rica acrescenta alguns critérios, Para Gattschalk (Apud Tra- ver, 1971) na identificagdo do tema devem-se formular quatro perguntas: 1, Onde ocorrem os acontecimentos? 2. Que pessoas estdo envolvidas nesses acontecimentos? 3. Quando ocorrem os acontecimentos? 4. Que tipo de atividade humana abrange? © escopo do tema da pesquisa hist6rica pode variar segundo os critérios es tabelecidos nessa pergunta: a drea geogréfica, que pode incluir uma loealidade, uma regido, um pais ou um continente; 0 niimero de pessoas incluidas, que pode variar de uma (biografia) a muitas pessoas (portugueses, indios etc.); 0 fempo 248, PESQUISA SOCIAL, considerado, um ano (a revolucéo de 1932), alguns anos (a Segunda Guerra Mun- dial, 1939-1945) ou um século (0 século XX); e o tipo de atividade humana, que roe mitt entre atividades expecificas (medicina, engenharia etc.) e mais gerais indistria, agricultura, edueagao etc.). Exemplo de pesquisa historica: a infletnels dia politica desenvolvimentista do Brasil (1969-1973) nas tendéncias atuais do Superior no Nordeste. De acordo com os critérios estabelecidos: * a fea geogrifica: Nordeste: * tempo considerado: 1969-1973 e o presente: * atividade humana: ensino superior; * Pessoas envolvidas: planejadores governamentais, comunidade académica universitéria, Bin geral. no campo educacional, sio muito comuns os estudos biogréticos, talver pela sua facilidade de realizaco em comparagao com outras formnae de pes- usa historica, Mas existe grande necessidade de estudos sobre as idéias © now. enios que influenciam no desenvolvimento educacional do Brasil. Inquestionavel- Mente. esta necessidade se estende a outras éreas de conhecimento. lima vez escolhido o tema, deve-se formular o problenta em termos precisos & Obietivos. Geralmente, a pesquisa historica, quando visa produzir uum registto do assado, apresenta os verbos em tempo pretérito. Por exemplo, qual foi a influéncie dos jesuitas na educacdo brasileira? Como enfrentou o Governo de Getlio Vargas © problema da seca no Nordeste? Quando a pesquisa hist6rica visa contribuir para a solugao de problemas atuais, 9s verbos podem estar conjugados em tempo presente. Exemplo, quais s30 as causae gconémicas do subdesenvolvimento do Nordeste? Quais slo as eausas da crise na ensino profissionalizante brasileiro? 15.3.2 Especificagao © adequacio dos dados Uma vez escolhido o tema ¢ formulado o problema, a pesquisa histérica exige tum basso adicional que, geralmente, n20 se inclui nos outros tipos de pesquisa: exame dos dados disponiveis. Por um lado, existem muitos dados que nao tem relevancia direta com o problema de pesquisa. Por exemplo, em um estudo sobre a €volugao das metodotogias utilizadas no ensino rural em determinada comunidade. dados Felevantes sio descrigdes dos curriculos, das metodologias dos professores, caracteristicas dos alunos, aproveitamento escolar desses alunos etc. Dados interes. Santes, mas irrelevantes, seriam aqueles referentes as condicdes de vida da comu. nidade, Portanto, podem ser exclufdos da pesquisa For outro lado, 0 investigador deve fazer um exame detathado dos dados, para Geterminar s¢ existe suficiente informagio disponivel que permita a realizagao pesquisa. No dispor detes, eunifo cxaus as informacde 15.3.3 Ava Hockett ( mais importa pelo historiada Portanto, 0 ine informacio reu precisa sobre s Exemploz FEPLAN, p. 5 “Durante efetiva do Bras um caminho pa iato.”” 0 fato 6: agi efetiva da Geralment tificar os dados riador que, em processo de des Provenientes da dos acontecimen Para tomar sador deve aval experiéncia na claraedes de pol fidveis. Além de ay rocurando estah que ocorrem os § Tidade das inform PESQUISA HISTORICA 249 Pesquisa. No caso de no existir dados suficientes, ou que o pesquisador nao posse ispor deles, a pesquisa nao pode ser realizada. Assim, € necessério fazer uma ido exaustiva da literatura para ter confianga de que foi possivel juntar todas formacdes possivcis. mente, no comeco de uma pesquisa hist6rica ndo € possivel determinar, Exatidao, toda a informacdo requerida, pois muitos dados surgem da andlise partes documentais. O investigador, no entanto, deve planejar as formas de 10 as fontes a cada momento da andlise dessa informacao, 5.3.3 Avaliacio dos dados Hockett (1955) considerou que a revisio critica dos dados reunidos € 0 passo importante na pesquisa hist6rica. Como destaca esse autor, os dados utilizados historiador consistem em formulagdes escritas carregadas de interpretacdes. tanto, 0 investigador deve ser capaz de reconhecer a objetividade do fato. Cada sformacdo reunida deve ser examinada rigorosamente para poder-se dar uma opiniio recisa sobre sua exatidao, Exemplo: Colonizacdo Portuguesa: © BRASIL (Hist6ria, Supletivo, 2° Gran, PLAN, p. 55). “Durante cerca de 30 anos, Portugal desinteressou-se de uma colonizacto iva do Brasil. Isto € explicével quando sabemos que Portugal havia descoberto caminho para as indias que the oferecia maiores oportunidades de ganho ime- ato.” © faio é: durante cerca de 30 anos, Portugal desinteressou-se de uma coloni- zagao efetiva do Brasil. O resto do pardgrafo € interpretardo dos autores do texto. Geralmente, 0 pesquisador em Hist6ria se confronta com o problema de iden- tificar 05 dados € decidir quais s40 confidveis ou duvidosas. Suponha-se um histo- riador que, em 1992 deseja estudar os efeitos da recente guerra das Malvinas no processo de democratizacao da Argentina. Como sé sabe, tanto as informagées provenientes da Argentina quanto as provenientes da Inglaterra contavam sua versio dos acontecimentos. Em que fonte confiar? Para tomar uma decisio sobre em que acreditar e em que duvidar, 0 pesqui- sador deve avaliar as fontes de informagGes, prevendo determinar sua confiabilidade experiéncia na problemética em estudo. Para o exemplo acima referido, as de- claracdes de politicos ingleses ou argentinos, logicamente, nfo seriam muito con- fidveis. ‘Além de avaliar as fontes, o pesquisador deve analisar a informaco produzida. procurando estabelecer sua consisténcia interna ¢ externa e seriedade no momento que ocorrem os fatos, examinando opinides sobre a capacidade, integridade © qua- lidade das informacdes produzidas. O pesquisador deve examinar, também, @ T= 250 PESQUISA SOCIAL, Psitabilidade da fonte no transcurso dos anos, procurando referencias existentes em relagio 4 prépria fomte e a0 trabalho produzido por ela, Uma vez avaliada a fonte, 0 pesquisador deve examina os documentos, Nessa avaliagdo, deve considerar duas importantes fontes de erro, a falta de autenticidade de precisio dos dados. Existen A ~ EVIDENCIA EXTERNA Como pode um documento histérico no ser auténtico? Em Primeiro lugar, Pode ser fraudilento. Hi muitos escritos hist6ricos falsos que leveran 08 pes: sadores a conclusdes erradas, Alem da fraude, existem muitos documentos andnimos. Nesse caso, a autoria do escrito € questionada e se toma dificil estabelecer a data do documento, Isso Bristem ainda outros problemas que podem afetar a autentcidade da informe: G20. Por exemplo, se © pesquisador deseja analisar 0 conteido dos dsewnog do Minlstro de Educacto, em determinado perfodo, para esudar a politica edven, pny brasileira, pode enfrentar o problema de determinar quem realment. escrevia e discursos. © mesmo tipo de problema pode surgir 20 analisar a coney oficial, pois, freqiememente, quem assina ndo é 0 autor da carta Em geral, para tratar da consisténcia extema de um documento, dito documento com a informacao do mesmo acontecimen tras fontes. Se duas font 2. nenhuma fonte confidvel deve apresemtar uma visio contréria dow cimentos relatados. Quando nao se cumprem essas exigéncias, milo se pode falar de fe apenas refere-se a este como um prov B - EVIDENG! ‘Uma vez « determinar a exg dos autores ou | Robert Trs avaliacao do ing i PESQUISA HISTORICA B - EVIDENCIA INTERNA Uma vez estabelecida a autenticidade do dado histérico, o pesquisador deve determinar a exatidao da informacao. Para isso é importante avaliar as caracteristicas dos autores ou informantes. Robert Travers (1971) recomenda as seguintes perguntas que podem ajudar na avaliagaio do informante: 1. O autor de um determinado documento & um observador, é um experiente? Se um astrénomo relata a sua observagao sobre a aparigao de um OVNI, seu relato teré mais confiabilidade que aquele feito por uma pessoa no especialista em astronomia. Geralmente, acredita-se mais nos relatos de especialistas, que nos informes de amadores. 2. Qual € a relacdo do autor com o acontecimento? Quanto maior a proxi- midade, em tempo € espaco, do autor com 0 acontecimento referido, mais valor tera 0 documento como fonte. Em geral, as pessoas que aparecem apés ocorrido um acontecimento, ou esto distantes dele, sio menos con- fidveis que as pessoas que presenciam dito acontecimento. Por exemplo, quem relata um acidente de carro apés presencié-lo, é mais confidvel que a pessoa que relata o mesmo acidente sem estar presente no momento da ocorréncia. Em que medida o autor sofria pressdes distorcedoras? Existem muitos casos em que os documentos apresentam uma visio di torcida da realidade. Por exemplo, 0 relatGrio que se apresenta A opiniao piblica, apds uma reunido, a portas fechadas, de ministros, executivos ou outras pessoas, geralmente néo reflete 0 ocorrido durante a reuniao. Outro exemplo apresenta-se em determinados paises € momentos hist6ri- cos, onde certos pensadores sao censurados € 05 autores nao podem re- ferir-se a eles em seus trabalhos. historiador deve estar em condigdes de identificar as possiveis pres- ses softidas pelos autores de um documento. 4. Qual foi a intengao do autor do documento? Um relato escrito de um acontecimento pode ser elaborado com diversos propésitos: para informar (relat6rio anual de atividades de uma empresa); para dar ordens (as comunicagées de dirigentes aos subalternos); para produzir determinados efeitos na populacdo (diversas polfticas); ett. ‘A intengo do autor é um importante elemento para avaliar os aspectos hist6ricos de um documento. Por exemplo, as caracteristicas do discurso de um parlamentar dependerio da posicdo politica do autor 252 PESQUISA SOCIAL 5. Qual € 0 nivel de especializagao do autor no registro de determinadas ‘Uma fonte 5 See teenie? analisados, exist Um entrevistador no treinado pode transmitir impressOes totalmente que observa um ‘erradas. Um periodista experiemte dard melhor informacao que um turista ‘ou gravacdo dire Portanto, 0 historiador deve conhecer a experiéncia do autor de um Teproducdo dessa cumento escrito. sua vida em term pessoa, também « Até que grau a forma de escrever de um autor pode interferir no regis tipos: animada € exato de um acontecimento? fato que ocorre Um eseritor renomado no é necessariamente um bom. infor © relato de um | Geralmente ele nao pode fugir da tentacao de estabelecer seu relato. sim, 0 historiador deve ter muito cuidado em distinguir 0 que so f em um museu. a © © que sio interpretagées no relato de um escritor. discos, fotografias Uma vez determinada a autenticidade do documento e a exalidag) ene reunkio. informagao registrada, 0 pesquisador esté em condigao de ii O que caract interpretacdo. Deve-se advertir que, particularmente na pesquisa hist da fonte com o a revisio dos documentos se faz durante todas as etapas da pesquisa. intervém entre a mento final de wi mente, ap6s a reu 15.3.4 Coleta dos dados Bccmento, Tai pretacies dos rela lisso e para evitar 1. A responsabilidade do pesquisador de conhecer toda a informacdo. Miscute-se ¢ subm nivel sobre o acontecimento estudado. Mente. Assim, ass 2. Procurar novas fontes, j4 existentes, que the permitam descobrir Isso nfo gai dados. Qualquer pessoa ¢ Procurar novas fontes e dados, no momento desconhecidos, que yersao pessoal © contribuir a uma melhor andlise dos acontecimentos. Por exemplo, @ Epriméria” nzo quisador que deseja estudar a influéncia da politica econdmica no d interferéncia @ volvimento do ensino profissionalizante de 2° grau deveré, em lugar, procurar documentos que identifiquem a politica econémica © cacional do governo; estudar ocorréncias que relacionem ambos o& tos; buscar andlises das estatisticas educacionais e econémicas segundo lugar, poderia procurar novos dados, em jonais, revistasy macées do Congresso Nacional e outros que possam enriqt andlise. Pode ser que descubra um documento, desconhecido no que altere radicalmente a interpretacao usual do fendmeno em movimento politie Esta etapa da pesquisa hist6rica exige as seguintes consideragdes: Uma fonte mento registra 971465) exemp Nesse caso, 4 titui, precaria intervém nat 15.3.5 Fontes de dados quatro element Por exempla Geralmente, as fontes dos dados histéricos classificam-se em fontes © fomes secunddrias. que um turista, tor de um do- ir no registro mm informante Seu relato. As- que so fatos a exatidio da iniciar a sua isa hist6rica, pesquisa em primeiro mica e edu- ‘fo momento, em csuido, PESQUISA HISTORICA 253 ‘Uma fonte priméria € aquela que teve uma relacdo fisica direta com os fatos analisados, existindo um relato ou registro da experiéncia vivenciada. Uma pessoa que observa um acontecimento € considerada uma fonte primédria; uma fotogratia ou gravacdo direta desse acontecimento também é uma fonte priméria, como é uma Teproducao dessa fotografia ou gravaedo. Os escritos de uma pessoa que relata a Sua vida em termos histéricos, ainda que o documento esteja elaborado na terceira Pessoa, também constituem fontes primérias. Assim, as fontes podem ser de dois tipos: animada e inanimada. A primeira refere-se a uma pessoa que relata algum fato que ocorreu com ela ou um acontecimento do qual participou. Por exemplo, © Telato de um prisioneiro de guerra ou um relato de um participante de um movimento politico. A segunda refere-sé a objetos fisicos, tais como os que existem em um museu, materiais que reproduzem registros diretos de um acontecimento, discos, fotografias, fitas etc., ¢ material escrito, tal como transcrigées oficiais de ‘uma reunido, O que caracteriza as fontes primérias animadas ou inanimadas é a proximidade Ga fonte com 0 acontecimento ¢ a minimizac3o de interferéncia de pessoas que intervém entre a experiencia e o registro desse acontecimento. Por exemplo, docu- mento final de uma conferéncia, encontro ou seminirio néo se elabora imediata- Mente, aps a reunido. Uma ou mais pessoas so responsaveis pela elaboracdo desse Gocumento. Tais pessoas participaram do evento, mas terdo as suas proprias inter- Pretacdes dos relatos de outras pessoas, que também participaram da reuniio. Por isso ¢ para evitar distorgées, nesse tipo de reunides, antes de comecar uma sesso, discute-se © submete-se & aprovacio o documento elaborado apés a sesso prece- dente. Assim, assegura-se a exatidio do documento final. Isso nao garante a veracidade © exatidao do registro em termos absolutos Qualquer pessoa que relata um acontecimento ndo o faz imparciaimente: apresenta 8 versio pessoal com suas distoredes conscientes ou inconscientes. Portanto, a fonte “primaria”” ndo se refere A exatidio ou veracidade do registro, mas & minimizagzo de interferéncia entre 0 registro e o acontecimento, Uma fonte secundaria € aquela que nfo tem uma relagao diteta com 0 acon- {ecimento registrado, senio através de algum elemento intermediério, Robert Travers (1971:465) exemplifica, claramente, esse tipo de fonte: “se um historiador esté Interessado na vida de uma pessoa, que chamaremos X, pode precisar estudar do- cumentos produzidos por Z, que nunea conheceu X pessoalmente, Z pode ter con- seguido a informacao sobre X, através de uma entrevista com Y, amigo pessoal de X. Nesse caso, Ye Z introduzem distoredes e, portanto, Z, como fonte secundaria, Constitui, precariamente, uma fonte de informacao mais pobre que ¥. Se a mente que intervém na transmissio de informacao se amplia de X-Y-Z a um documento de quatro clementos, aumenta a inadequagao da informagao” Por exemplo, um pesquisador esté interessado na vida do ex-Presidente Jodo Figueiredo estuda um documento escrito por uma pessoa que no combess © Presidente. Essa pessoa obteve a informacdo através de uma entrevista como ex 254 PESQUISA SOCIAL, Presidente Emesio Geisel. Nao é dificil imaginar que a interferéncia de outras: Pessoas pode distorcer a informacio original, As fontes secundérias apresentam ampla variaglo em relacdo & proximidade do acontesimento, Entre aquelas préximas a fonte primaria, admitase, or exemplo, Como se pode consiatar, existem duas diferencas entre as fontes primérias ¢ secundérias. i e A proximidade com o acontecimento: a fonte lament com o evento; a fonte secundéria, no. A Segunda refere-se aos elementos que intervém enure a fonte e o acontecimenr, Na fonte priméria, pelo fato de existir uma relac2o diteta com o evento, nao: existem elementos interventores. Na fonte secundria existe pelo menos cane pessoa Gis Paticipa na geracio da informagdo. Assim, surgem novas possiblidadee ae distoredo, devido 4 percep¢ao e interpretacao seletiva dos iatos \orica, © pesquisador trabalha com dados ja existentes e que, logicamente, Posem ser mudados. Por isso, este tipo de pesquisa exige especial euidads escolha da fonte. Outro problema sério de pesquisa historica € a representatividade de a Os

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