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(LEICA domovernen nA - 4° Binesre ) nse. oats! Ceuso AnrOnto Bawpetna De MELLO 3. za nee EFICACIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E DIREITOS SOCIAIS Iedigdo, 2 tragem EPICACIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. 'E DIREITOS SOCIAIS. © Caso Avrowo Baxeta ne Meio 1 edigdo, 1 tragem: 032008. ISBN: 978-85.7420-947-0 Divetos reservados desta eid, MALHEIROS EDITORES LTDA. ‘ua Paes de Arai, 29, conju 171 ‘CEP O4551°540~ Soe Panto SP Tet) 3078-7208 Fax (1) 31085095 URL: wor eondiore comb ‘ma: malbcrosence a come Ealtoragdo Eltronca ‘Leura Por Lets Studio copa Crag: Vania cin Amato Arte Final: PC Baitoral ide Inmpresi no Brasil Printed in Bras ‘tz2010 Este livro 6 o texto da palestra sobre “Aplicabilidade das ‘Normas Constitucionsis sobre Justiga Social”, feta no Con- ‘gresso Nacional da Ordem dos Advogados do'Brasil em Flo- Fianépolis/Santa Catarina, maio/1982, com devida atualizagio dos dispositivos constitucionais e pequenissimo acréscimo na parte em que refiro a nogao de diretto subjetivo, bem como fefetuada a divisto do tema em cepitulos e subtitulos. Capitulo 1 Uva Proosra pe Classinicacio ba Ericicus pas Nokwas Constrrucionats 1 namo I-A forsake Corti Platts para oo adminitrades. bing T-Introducio 1. Bm cada periodo histérico os legisladores constituints, de sepra, incorporam nas Leis Fundamentais aquilo que no perlodo correspondente se consagrou como mais generosa ‘expressio do idedrio da época, Fazem-no, muitas vezes, com Simples propésito retGrico ou porque no se podem lavar de ‘consigné-los. Mas, animados de reta intengo ou servindo-se {isto como blandicioso meio de atrairsustentago politica ou de exquivar-se i coima de retrogradas, o certo é que geralmente ts Cartas Constitucionais estampam versiculos prestigindores 10 emchcia DAs NoRMAS CONSTETUCIONAS & DIREITOS SOCIAS| dos mais nobres objetivos sociaise humanitirios © idesrio avalizado pela cultura da época ‘Acresce que o paradigma em que se espelham 0 des centros culturais mais evoluidos. Dai a razao pela qua estes supremos documentos politicos, mesmo quando gestados de forma utoritiria, impopular ow antidemocritica, exibem também, em seu bojo, preceptivosiluminados por Fulguragdes progressistas, hhumanitiria, deferentes para com a Justiga Social 2. Adolph Merkel observou que “atéo monareahereditirio 6 spresentado, por uma politica e por uma ciGneia que tratam de justificar a monarquia com uma ideologia demoeritica, como um representante de seu povo".! Nao hé, estranhar, pois, que os investidos em poder constiuinte pelo povo e os {que se auto-investem neste papel, por e para se configurarem, ‘como representantes do povo, Vejam-se na contingéncia de insculpir na Lei Suprema um conjunto de dispositivos que exalgam tanto os direitos individuais com os direitos sociis. corre que a forma mais eficiente de torné-los inoperantes 1a pritica, deliberadamente ou no, & desenbi-los em termos, _vagos, genéricos, luidos ou dependentes de normagdo infra- onstitueional 43. Este modo de regular acaba tirando com uma das mos 0 «que foi dado com a outta. Termina por frustrar 0 que se procla- ‘mou enfaticamente. Cumpre, em iltima instineia, uma fungao ceseamoteadora, tenha ou nfo esta intengo adrede concebida, Porém, tal resultado ocorre menos porque os preceitos em cat ‘sa Sejam juridicamente débeis, inoperantes de dreito, e muito mais por uma inadequada compreensto da forva juridica que les & propria. Dai a convenigneia de dissipar a errdnea inteli- _géncia predominante acerca da efcdcia ou aplicabilidade destas disposigses. 1 integra al Ltr te sh Anna 0 xen Mab aa PROFOSTADE CLASSIREAGAODAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 11 4. Obviamente, ndo se imagina que basta stair a atengo sobre o verdadeito teor da eficécia que Ihes ¢ inerente para solver entraves e dificuldades ubicados em outro sitio: 0 da realidade sécio-politca subjacente. Contudo, pretende-se que 1 formagdo de uma conseiéncia juridica ou sua focalizayio in- tensiva sobre a real impositividade normativa das regras cons~ titucionais existentes concorre para induzir a uma aplicagao ‘mais ampla de seus comandos. Pretende-se que pode colaborar para a invalidago ou questionamento estritamente juridico, ante os tribunais, da consttucionalidade de leis, atos concretos ‘4 politicos goveramentais cujas orientagbes pelejam a arca partida com o regramento constitucional atinente & ordem eco ‘ndmica e social 1A forca juridica vinculante das Constituicbes ‘5. Uma Constituiglo, desde logo, define-se como um corpo ‘de normas juridicas. De fora parte quaisquer outras qualifica- jes, 0 certo & que consiste, antes de mais, em um plexo de regras de Direito. ‘A Constituigao no é um simples idedrio. Nao & apenas ‘uma expresso de anseios, de aspiragdes, de propésites. E a twansformagao de um ideétio, € a eonversio de anseios e as pirages em regras impositivas. Em comandos. Em preceitos obrigatérios para todos: Srgios do Poder ¢ cidadios. 6. Como se sabe, as normas juridicas nto so conselhos, 0 rnamentos, sugestdes. Sio determinagses. O tro caracterstico do Dircito é precisamente o de ser diseiplina obrigatoria de ceondutas. Dai que por meio das regras jurdicas nio se pede, ‘lo se exorta, nfo se alvitra, A feigdo especifica da prescrigio juridica € a imposigio, a exigéneia, Mesmo quando a norma faculta uma conduta, isto é, permite ~ a0 invés de exigi-la 12 Eckcin DAS woRMAS CONSTTUCIONASfIRETOS SOCIAS = hi, subjacente a esta permissio, um comando obrigatério, © coervitivamente assegurivel: o obrigatério impedimento 2 terceiros de obstarem ao comportamento facultado a outiem € sujeigdo a0 poder que Ihes haja sido deferido, na medida ¢ condigdes do deferimento feito. 7 Uma vez que a nota tipica do Direito é a imposicio de condutas, compreende-se que 0 regramento constitucional &, acima de tudo, um conjunto de dispositivos que estabelevem ‘omportamentos obrigatsris para o Estado e para os individuos, Assim, quando dispde sobre a realizagio da Justiga Social ~ mesmo nas regras chamadas programaticas ~ esta, na ver_ «dade, imperativamente, constituindo 0 Estado Brasjeiro no indectinavel dever juridico de realizé-ta, & Além disto, a Constituigao no ¢ um mero feixe de {cis igual a qualquer outro corpo de normas. A Constituigao, sabidamente, € um corpo de normas qualificado pela posigag altaneira, suprema, que ocupa no conjunto normative. Ea Let {its Leis Ea Lei Minima, igual todas as demas se subordinam na qual todas se fundam. Ea lei de mais alta hicrarquia. Ea Ie fundante a fonte de todo o Direto, Ea maute Urea ie validade de qualquer ato juridico. A Consus todos devem obedigcia:o Lesa, Jadicsio €o Exeeatvo, por todos os seus Sigler s spo ssjam de que escalto forem, bem como todos os membros ‘led. Nig ao eit mtn eccapa 2 eae io. Segue-seque suit algun, ocupea posi auc sean od prticar ato gealou individual ststnavonconee descompasso coma Constinigo sein que tal so ses alee <4 mais rave mld, por inp oa ao ore escaldo maximo. pio in eee Us ‘ma norma juridica é desobedecida quer quando se faz © due ela proibe, quer quando nio se faz 0 que cla determina, (Com efeito, sendo a Constituieio um plexo de normasjuridicas —e normas de nivel supremo - ¢ inevitivel concluir-se que ha violagio Constituigdo tanto quando se faz o que ela inadmite ‘como quando se omite fazer © que ela impBe. E, se omissio hhouver, car configurada uma inconsttucionalidade. Este conjonode proposes qe vimos enuncando parecers um repositrio de obviedades. Tbramos em poclamar estas noptes cura porque freqlenemente slo descuradas no exame dhs sivagdesconretas E édest conjunto de obviedades, por feitamente expictado, que prlendemos pair para 9 anise do aaron que 08 octpa. 10. Todas a disposigdesconstanes de una Constinigto, incisive as progrmitiens—repiaae~, so normas jurdieas tn pclomenos, vee pat ds prenuneiode que oem. oss ‘Afonso da Silvie sou notve esti sobre pica lldad das Norma Consiuconas regis: "Noh norma consttucional de valor meramente moral ou de conselo,aviaos ou ede, dissera Ruy conscantemostamos nouto lugar. Todo paneipio inserto numa Constuigaorgidaadguire dimensto jurdiea, tmcsmoaucls de carer mais acenfundament ol ogico-pro- ruitio, como a declaragto Joa. 170 da Contig! "A frdem eccndmica(.) tem por fm assegura atodos exstencia ign, confonme os ditames da Justga Soil”, ou esas: “O Estado promovert incentive o desenvolvimento cietiico, f pesquitae-acapecitagto tecnologia” (ar. 218); “O Estado tani eros Opleno exerci dos drtos cultura encesso {S fonts da culture nacional” (at 215)" Daler rbd comigul kid “Teor be ti, equi, daqula premisea js tania vezer-eminciada: mo tern conctona eluded occa, Toda las iradiam efeitos judicosimprtando sempre numa inovag3o da ett Norma Coons, Me S80 Pa Mion ‘ordem juridica preexistente a entrada em vigor da Consttuigdo ‘ que aderem e a ordenagto instaurada”> De fato, no fri sentido que o constitute enunciasse certas isposigdes apenas por desfasto ou porno sopitar seus sons, 13. Derevés, outros versiculo consttucions em decorrncia de suns, dependem de norma intacostitacionl p= radesprenderem a plenitude dos efeitos a que se destinam © Aue neles se encontram virtualmente abrigados, isto €, in fer Também cles, de imediato, dflagram efeitos, porém de me- nor densidade que 0s anteriores. Com efeito, nto outorgam, por si mesmos, o desfrutepositivo de um beneficio, nem per item exigi que este venha a ser juridieamente composto © deferido, 14, Sem embargo, como ao adiante melhor se veri, per ritem aos interessados contraporem-se 40s atos legislativos © infralegislativos praticados em antagonismo com a previc Ho constitucional. Vale dizer: se nio proporcionam sacar luma utitidade positiva, fruivel a partir da simples norma consttucional, proporcionam, entretanto, empecer comporta- ‘mentos antinémicos ao estatuldo. Am disto,e por forga dito, surtem a conseqiéncia de impor 0 exegeta, na anlise de quaisquer ats ou relagbes juriicas, contenciosas ou nfo (portato, submetidas ao Poder Judcirio ‘ou apenas dependentes de aplicagao administrativa), 0 dever Juridco ierecusavel de interpreti-los na mesma linha edirega0 ‘estimativa, para que aponte o dispositive constitucional, 15. 0 quanto basta para evidenciar quer a jurdicidade, quer a impositividade destes dispositivos. Seria © caso, por texemplo, da regra que estatui como prineipigs a fungo social da propriedade (rt 170, IN), a redo das esigualdades re- gionais sociais (at. 170, VID), a busca do pleno emprego (ar. 170, vin). Em face do exposto, resulta claro que seria um equivoco supor que as normas ora coptadas nfo investem os interessados em direitos de qualquer espécie 16 cActa DAs NonAs ConsTTUCIONAIS#DIEITOS SOCAIS 16, Estas duas espécies de rogras a que se acaba de aludir reste paso comportam em seu interior outras disquisigBes, fem atengdo a novos aspectos diferencias, Além disto, nto ‘io as tnieas espéciestipoldgicas reconheciveis no texto cons- titucional. Com efeito, hi ainda, regras meramente atributivas de competéncias piiblicas © das quais nlo se pode extrait, dliversamente das hipéteses anteriores, limitago ou constran ssimento algum para seus ttulares. Seus efeitos juridicos so (08 de conferir poder aos destinatirios das compeiGncias outor. ‘2adas. O tinico diteito que delas procede para os individuos & ‘© de que as competéncias em pauta nao sejam exereidas seno pelos sujetos nelas regularmente investidos 17, Parece bem, entdo, formular um quadro genérico dos \istintos tipos de normas constitucionas,e suas subulivisdes in. testinas, tomando como eritériosistematizador a consisténcia © amplitude dos direitos imediatamente resultantes para os ‘ndividuos. Com efeito, a partir dai sera possivel examinar se ‘especificamenteaforgajurdica isto a eficdcia—das dstintas regras consitucionaise reconhecerse direitos que efetivamente podem ser invocados, desde logo, pelos interessados Espera-se demonstrar, uma vez assentadas as premissas sobre a tipologia ea eficécia destas normas, que surdirdo, a0 final, conchusdesaltanto surpreendentes. Isto & que uma corets nslise das dices consitucionaisimpoe logicamente conclu {que a partir delas,c independentemente de normacio ulterior, 4J8 sto invocdveis direitos muito mais amplos e slides do que se supde habitualmente, 18.0 fato de virem sendo subutilizados pelos interessados ‘4 de vitem sendo desconhecidos a cotio ea sem-fins pelo Po- der Piblico nao infirma a tese juridica de que existem ¢ estio disponiveis. Tal fato serve apenas para incitar os estudiosos do Dircito a transitarem persistentemente por este tema e a bbuscarem em juizo reconhecimento efetivo destes direitos Postergndos, até a consolidacao de uma conscigneia nacional | ea destes direitos, a0 ‘capa de determinar a positividade fit ‘menos quando levados & apreciacio jurisdiciona. 1 ~As normas constitucionais x ‘ea imediata geracdo de direitos para os administrados fence ees ane Ct de ie ae eee anaes aie ee ae ee atest se tee cle 9 ore ee Mie the ee Ae ee terior. Outrossim, no cbnfere com a identificagao de normas Ca ee reser etaaca| cndtene unger: nie et le pet eee eee’ sen mete tates ogee se ce ee ee a See St Ses oe aea eens ae ae sa ae i oa ee Aaa i ee eo eee ee ee ae i Te ee Se ce se et eee, rcerpe pri aeirn 18 EFICACIADAS NORMAS CONSTITUCINAISIREITOSSOCIAS 21. Para confirmar estas assertivas, tome-se, por exemplo, ‘© modelo oferecido por José Afonso da Silva em sua excelent sistematizagao tripartida. Haveria compreensivel- mas falaciosa ~tentagao de supor que as normas de eficdciaplena outorgassem sempre aos administrados a posigio juridica de maxima consis- téncia. Deveras: em paralelismo com as de eficicia conta, ‘jos efeitos podem ser limitados por regramento ulterior, ¢ ‘com as de eficicia limitada, cujos efeitos essenciais dependem de ulterior legislagdo, as normas de eficacia plena deflagram ccabalmente seus efeitos em desatada ¢ imediata aplicagio, prescindindo de legislagdo ulterior e repelindo restrigdes em seu conteido, [Nada obstante, em inimeros casos as normas de eficcia pilena sto, precisamente, as que conferem a posigdo juridica ‘mais débil para os administrados. Esta espécie de normas tem a pculiaridade de poder gerar tanto a posigio juridica mais forte para 0s cidadios quanto a posicZo juridica mais fraca, 22. Basta pensar-se na regra do art. 22,1, da Constituigio, segundo a qual compete Unido legisla sobre dieito civil ou direito comercial, erbi gratia # norma de eficécia plena. Sur- te, de logo, todos os seus efeitos, que so, precisamente, os de inyestir a Unio no poder de editattais regras. Sem embargo, por forga deste preceptivo, os administrados nfo colhem dite algum, exceto o de que tal legislagio sendo editada, 6 0 seja pela Unido. Vale dizer: os cidados nfo sacam desta regra qual quer utilidade ou beneficio. Também nio podem exigir que o Legislativo legiste, nem podem — com base nela ~ obstar a que © fara segundo os rumos ou finalidades tais ou quais, eleitos pelo rg legiferante. Antinomizamese, norma do at. 206 TV, impostiva de srtidade do ensin pico nos estabeleimentow sis © Suc também é ropa deeicciaplon, confer imetiatamente tos adminnradosodeto dr desta grate Jeon Incaso 0 etabeleimento oficial a vile ‘Ve-se,entio, que duas normas da mesma compostura tipo- |6gica ~efiedcia plena — geram posigdes juridieasradicalmente distintas. 23. De outro lado, 0 preceito do art. 5°, LVI, impediente

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