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SEGREDOS DO VATICANO

Na história alternativa das sociedades secretas, a posição tomada pelo Vaticano, e por
quem quer que tenha calçado as sandálias do pescador, em qualquer época da história,
sempre foi uma questão da maior importância. O relacionamento entre o papa e os Grão-
Mestres das sociedades secretas tem sido explosivo. E não poderia ser de outra forma. A
Igreja encarou os membros das sociedades secretas como anarquistas espirituais, agentes de
uma conspiração satânica contra a religião organizada. Por sua vez, os maçons e rosa-cruzes
acusaram a Igreja de ter suprimido os verdadeiros ensinamentos de Jesus de Nazaré. Outras
sociedades secretas, como os Illuminati e os Carbonari, foram fervorosamente anticlericais.
Elas conspiraram para derrubar a Igreja Católica, devido a sua oposição às antigas religiões
pagãs e à heresia maniqueísta, fontes de inspiração espiritual para esses grupos, e ao seu
apoio à rica classe dos latifundiários, opressores das massas.

De início, algumas dessas sociedades secretas receberam apoio papal. As ordens


cavalheirescas, como os Cavaleiros Templários, que eram nominalmente cristãos receberam
favores papais especiais. Mesmo o priorado de Sião, que somos levados a acreditar que tenha
promovido a heresia de que Jesus sobreviveu à crucificação, recebeu inicialmente uma carta
de autorização do papa Alexandre III, no século XII. Trata-se do mesmo pontífice que
concedeu aos templários privilégios especiais. Além disso, a Igreja medieval patrocinou as
guildas de pedreiros, cujos artífices construíram as catedrais góticas, ainda que as suas
origens lendárias antecedam a crença cristã, tendo fortes raízes nos Mistérios pagãos.

O clima de desconfiada tolerância só começou a mudar quando o Vaticano passou a


encarar as sociedades secretas como uma ameaça política e ideológica à Igreja. A criação,
pelos templários, de uma “Igreja dentro da Igreja” e rumores de suas práticas pagãs e
heréticas forçaram o Vaticano a, relutantemente, apoiar a cruzada pessoal do rei Filipe de
França contra a Ordem, no início do século XIV. A Igreja havia, anteriormente, agido contra
os cátaros e outros hereges, para manter o seu monopólio espiritual em face de uma religião
alternativa crescente.

Ao tomar esse tipo de ação, o Vaticano estava seguindo uma tradição histórica, pois a
Igreja cristã, em seus primórdios, tentara neutralizar os seus dissidentes por uma série de
concílios que estabeleceram os princípios e as doutrinas oficiais do cristianismo. Esses
concílios — sobretudo o terrível Concílio de Nicéia, reunido pelo imperador romano
Constantino, no século IV d.C. — rejeitaram crenças pagãs, como a reencarnação, mantidas
pelos primeiros cristãos, e apresentaram Jesus como Deus encarnado, em vez de um mestre
espiritual humano. Quem discordasse dessas decisões era tachado de herege, significando
“aquele que escolhe”, pouca tolerância podendo esperar da nova geração de líderes cristãos
que detinham o controle político da nova Igreja.

Uma das primeiras vítimas da intolerância da Igreja Cristã foi o cristianismo celta,
dissolvido pelo Concílio de Whitby, em 664 d.C. O cristianismo celta desenvolvera o seu
caráter peculiar durante a ocupação romana da Grã-Bretanha, tendo sido fortemente
influenciado pelo druidismo, Consoante a lenda, a primeira igreja cristã nesse país, foi
construída pelo tio de Jesus, José de Arimatéia em Glastonbury, no condado de Somerset,
onde atualmente existe uma abadia medieval. José era um rico mercador que visitava as
minas de estanho da Cornualha com objetivos comerciais. Em uma dessas viagens a negócios,
José teria trazido consigo o seu jovem sobrinho, iniciado em um colégio druida. Glastonbury
havia sido um centro espiritual desde tempos pré-históricos e a versão do cristianismo
introduzida por José e seus discípulos se entremesclava com o paganismo. Um ramo separado
da Igreja celta foi estabelecido em Gales, no século V d.C., por monges irlandeses que haviam
combinado as tradições orientais com o paganismo nativo da Irlanda.
Além do druidismo, a Igreja celta fora influenciada pelo cristianismo copta. Essa versão
não-ortodoxa da nova fé foi fundada por Clemente de Alexandria, que mesclou os
ensinamentos de Jesus com o gnosticismo, o judaísmo e o neoplatonismo. Clemente baseou
sua Igreja Copta no evangelho secreto de Marcos, escrito pelo evangelista em Alexandria,
após a morte de Jesus. Esse evangelho preservou os ensinamentos secretos de Jesus aos seus
discípulos mais próximos, iniciados nos Mistérios cristãos. É interessante notar que Ormus, o
lendário fundador no século I, pertencia à sociedade secreta que se tornou o Priorado de Sião.
Ormus viveu em Alexandria e foi convertido ao cristianismo por Marcos.

Nosso conhecimento contemporâneo do evangelho de Marcos remonta a 1958, quando


um professor norte-americano de teologia, Dr. Clemente achou preservada em um mosteiro
no deserto este evangelho. Segundo Smith, os ensinamentos secretos de Jesus foram
transmitidos aos seus discípulos durante um rito de iniciação parecido com os dos Mistérios
pagãos. Smith interpreta a refeição de comunhão ritual dos primeiros cristãos como um rito
pagão descendente dos Mistérios de Ísis e Osíris. Essa interpretação esotérica do cristianismo,
que contrasta com a versão censurada oferecida pela Igreja foi adotada pelas sociedades
secretas medievais.

Antes de se tornar uma estrutura de poder estabelecida, protegida pela força da Roma
imperial, o cristianismo primitivo agira secretamente, como os cultos de Mistérios pagãos, e
sofrera perseguições pelas suas crenças subversivas. O ódio romano aos cristãos devia-se à sua
crença de que os seus ensinamentos eram politicamente subversivos e ameaçavam o status
quo. No século III d.C., quando o Império Romano ingressou em um período de crise, os
cristãos haviam se infiltrado em importantes posições da sociedade romana, apesar de serem
vistos como perigosos dissidentes, cujas idéias alienígenas colocavam em perigo o tecido
social do Império. Essa perseguição coincidiu com grandes conflitos no interior da própria
Igreja, a respeito da relação do poder soberano dos imperadores romanos com a
espiritualidade cristã.

Na primeira década do século IV, surgiu uma situação em que vários imperadores rivais
lutaram pelo trono romano. Dessa luta intestina emergiu um candidato que, durante o seu
longo reinado, de 306 a 337, desempenharia um papel decisivo na história tanto do Império
Romano como do cristianismo. Esse homem foi Constantino Magno.

Constantino fora criado nas crenças religiosas pagãs do culto do Sol Invictus, que
identificava o imperador como a encarnação do deus Sol. Esse culto foi a primeira tentativa,
na cultura romana, de impor uma estrutura monoteísta ao panteão politeísta de deuses e
deusas cultuados pelo povo. Em muitos aspectos, assemelhava-se à religião de Aton do antigo
Egito, criado pelo faraó herético Akenaton. Inicialmente, Constantino fora um pagão devoto,
e registra-se que, ao lutar na Gália (França), teve uma visão do deus solar Apolo, cultuado em
Roma como a encarnação suprema do divino Sol. Entretanto, ao marchar sobre Roma,
Constantino teve outra visão, de uma cruz flamejante no céu encimada pelo lema, em letras
de fogo “In hoc signo vinces”, traduzindo: Com este signo vencerás. No dia seguinte, ao
vencer a batalha, o oportunista Constantino decidiu que o deus cristão era uma deidade
poderosa, digna de sua adoração.

A partir de então, Constantino, ainda que só tendo plenamente aceito o cristianismo


em uma dramática conversão no leito da morte, tornou-se mais tolerante para com a nova
religião. A comunidade cristã logo percebeu contar com um aliado no trono romano e se
aproveitou desse fato. Os líderes cristãos identificaram o novo imperador como o “amado de
Deus”, que “guia e dirige, à imitação do Senhor, todos os assuntos do mundo”. Com essas
palavras, a Igreja primitiva claramente reconheceu, no imperador romano, o representante
de Deus na Terra. Ela inclusive adotou o simbolismo do culto solar pagão ao descrever
Constantino como “a luz do Sol que iluminou, com os seus raios, os que lhe estão mais
distantes”.

Constantino, por sua vez, aumentou o poder político da Igreja embrionária, nomeando
cristãos para posições-chave em sua corte, proibindo a prática privada de rituais mágicos e
declarando o domingo um dia de descanso. Durante o seu reinado, o paganismo continuou
florescendo e ritos sacrificais foram praticados como um importante aspecto do ritual oficial,
Entretanto, não havia ilusão quanto ao fato de que Constantino, ainda que tolerasse esse
estado de coisas, secretamente favorecia o cristianismo, tornando-a religião oficial do
Império Romano.

O enfoque favorável às crenças cristãs, iniciado por Constantino, prosseguiu com os


seus filhos, que o sucederam no trono, mas sofreu uma breve reversão durante o curto
reinado de seu sobrinho Juliano, de 355 a 363. Este era um intelectual místico que, na sua
juventude, havia sido iniciado nos Mistérios pagãos da deusa grega Hécate. Ao mesmo tempo
em que se fazia passar por um cristão devoto, Juliano trabalhava para reverter os avanços da
religião cristã nos 40 anos precedentes. Ele concedeu um alto grau de liberdade para todas as
crenças religiosas, incluindo o cristianismo, mas mostrou-se tendencioso em relação ao
paganismo. A sua morte, na campanha contra a Pérsia, trouxe um súbito fim a revivescência
neopagã no Império.

Rumores logo circularam de que Juliano não havia sido morto pelos persas, mas
assassinado por um membro cristão de seu próprio exército, contrário às crenças pagãs do
imperador.

Com a morte de Juliano, a religião cristã rapidamente se restabeleceu em Roma e, sob


o crivo do imperador Teodósio (378-395), o culto aos antigos deuses pagãos foi, finalmente,
proibido. Esse evento coincidiu com os ataques a Roma por tribos bárbaras, que marcariam o
fim de sua glória imperial. Em 452, o nanico Átila, o huno, apareceu ante os portões de
Roma, mas foi repelido pelo bispo da cidade, que declarou que o poder temporal do
imperador romano havia sido transmitido para ele.

No sangrento período após as invasões bárbaras e no início da denominada Idade Média,


a Igreja Romana começou a estabelecer o seu poder político. No século V, reconheceu a
família real dos francos, os merovíngios (os reis cabeludos), ao batizar Clóvis como o primeiro
monarca católico da Europa. A Igreja decidira que um líder forte era necessário para forjar a
unidade européia, face às invasões bárbaras e assegurar a sobrevivência do cristianismo ante
a oposição pagã. Em 751, quando o trono merovíngio foi usurpado por um chanceler da corte,
o Vaticano rapidamente reconheceu o novo regime. O último rei merovíngio, Quilderico III, foi
deposto e aprisionado. Os seus cabelos escorridos, com um significado espiritual para a
família, foram ritualmente tosquiados pelo papa, como símbolo da perda de poder da
dinastia. A estirpe dos merovíngios, contudo, sobreviveu através de casamentos com as
famílias dos duques de Habsburgo e de Lorena.

No final do século VIII, o relacionamento entre os reis francos e o bispo de Roma tinha
se estreitado, Em 795, o papa Leão III reconheceu o monarca franco Carlos Mano como o
Patrício de Roma. Quando Carlos Magno salvou o papa da desgraça de uma acusação de
corrupção, o pontífice em gratidão, o coroou como o novo imperador romano. O sacro Império
Romano, governado pelo rei franco, foi a primeira tentativa da Igreja medieval de expandir a
sua base de poder, da esfera espiritual para o mundo da política internacional. O intuito do
Vaticano era formar uma Europa unida, com base nos valores cristãos e na cavalaria, através
da qual pudesse exercer o poder temporal e espiritual absoluto.
Com a morte de Carlos Magno, esse sonho da unidade européia rapidamente se
desvaneceu. O seu neto foi coroado imperador romano em 915, mas com a sua morte, nove
anos depois, o trono imperial permaneceu vago por duas décadas. Em 936, Oto – o filho de
Henrique, o Passarinheiro, que consolidara a dinastia saxônia, na Alemanha – foi eleito rei
pela aristocracia alemã. Ele declarou a sua intenção de lutar contra os inimigos de Cristo e
expulsar os pagãos de sua terra. O Vaticano viu, nesse guerreiro alemão, um imperador
romano potencial.

Em 951, Oto foi coroado rei da Lombardia e se tornou o governante do norte da Itália.

Depois de derrotar os pagãos magiares, em 955, Oto assumiu o título de “Protetor da


Europa”. Em Roma, o papa João XII, um notório mulherengo, que transformou o Vaticano em
um bordel, apelou para a ajuda de Oto na luta contra os seus inimigos. Em 962, recompensou
o rei alemão coroando-o sacro imperador romano. No século seguinte, a Europa foi governada
pelos papas italianos e os imperadores alemães, esses últimos considerados pela Igreja como
representantes na Terra do poder temporal de Deus.

A eleição em 1073, do papa Gregório VII comprometeu essa cômoda aliança. O novo
papa declarou a sua crença de que o Vaticano era o senhor dos imperadores romanos e o
vigário eleito por Cristo. Asseverou que a coroação do sacro imperador romano pelo pontífice
era uma demonstração pública de que o poder político do Império emanava de Deus, através
de seu emissário eleito no Vaticano. O imperador Henrique IV contestou essa visão e foi
imediatamente excomungado pelo papa por traição. Diante de revoltas locais que ameaçaram
derrubá-lo do trono, Henrique viu-se forçado a se retratar e a submeter-se à autoridade do
papa.

Essa batalha ideológica entre os papas e os imperadores romanos, por eles criados,
estende-se por centenas de anos. O ponto em que podemos discernir o início da influência das
sociedades secretas, nessa luta pelo poder, foi no reinado de Frederico II, coroado sacro
imperador romano em 1215. Frederico era um homem possuidor de uma grande visão
espiritual, tendo seguido os passos de seu avô, Frederico Barba-Roxa, que desafiadoramente
declarara: “Possuímos o nosso reino e o nosso império não como um feudo do papa, mas pela
eleição dos príncipes de Deus somente”. Frederico II tornou-se rei da Sicília e, em 1228,
partiu para uma cruzada à Terra Santa em que acabou se tornando rei de Jerusalém. Corriam
rumores de que Frederico se envolvera na prática do ocultismo, incluindo a astrologia e a
alquimia. Ele mantinha um harém, em sua corte na Sicília, falava árabe e havia,
presumivelmente, sido iniciado na fé islâmica. Talvez seja essa a explicação de o papa
Gregório IX ter denunciado Frederico como um herege e a personificação do Anticristo.

As ambições políticas de Frederico, no Oriente Médio, o levaram a um conflito aberto


com os templários, após negociar a devolução pelos muçulmanos de Jerusalém ao exército
cristão. No tratado, Frederico permitiu que os muçulmanos mantivessem o controle do local
do templo de Salomão, onde se erguia uma mesquita. Esse acordo desagradou aos templários,
para os quais essa concessão era um insulto e uma traição, devido ao significado espiritual do
templo para a Ordem. Para eles, enquanto a Ordem persistisse, era essencial que o templo de
Salomão ficasse em mãos dos cruzados cristãos. Frederico tinha conhecimento da indignação
deles e dizem que ele deixou Jerusalém com medo de que os templários, ou os seus aliados,
da Ordem de Aziz (daí a origem da palavra assassinos), estivessem tramando a sua morte. A
oposição de Frederico à Ordem Templária deve-se ao fato de que compartilhavam as mesmas
aspirações políticas.

O sacro imperador romano fundou a sua própria ordem cavalheiresca, conhecida como
os Cavalheiros Teutônicos, rivalizando com os templários. De 1230 a 1239, diversas batalhas
foram travadas entre as duas ordens pela supremacia na Terra Santa. Como um ocultista, é
possível que Frederico se opusesse aos templários por discordar das suas crenças espirituais e
julgar que tivessem se extraviado do verdadeiro caminho. Frederico sabia que qualquer
tentativa de derrubar a Ordem pela força estava fadada ao fracasso, devido ao apoio do
Vaticano naquela época. Entretanto, a sua oposição à Ordem na Terra Santa enfraqueceu
seriamente o seu poder político e a perda do templo de Jerusalém solapou o seu moral. Essas
circunstâncias contribuíram para a queda final dos templários.

Em 1250, com a morte de Frederico, o Sacro Império Romano entrou em colapso.


Durante 20 anos a Europa foi devastada pela guerra, até que em 1273, o conceito do antigo
Império foi revivido, com a coroação, na Áustria, de um novo sacro imperador romano, o
conde Rodolfo de Habichtsburg, ou Habsburgo, cujo significado é: o castelo dos falcões. Nos
300 anos, seguintes, sob a proteção do Vaticano, os Habsburgo estenderam o seu império
através da Europa, com base em seu poder temporal e no poder espiritual da Igreja Católica
Romana.

A bem sucedida aliança entre os Habsburgo e o Vaticano foi seriamente enfraquecida


pela ação de um homem, um reformista que usava o símbolo da rosa e da cruz em seu selo
pessoal. Tratava-se do monge alemão Martinho Lutero, que em 1517, desgostoso com as
práticas corruptas da Igreja, pregou um documento na porta de sua igreja local, condenando
a venda de indulgências papais. O papa Leão X imediatamente emitiu uma bula contra Lutero,
que prontamente a queimou em público, levando-o à excomunhão em 1512. A Reforma,
supostamente apoiada pelos rosa-cruzes e por outras sociedades secretas que se opunham à
Igreja Romana, alastrou-se pela Europa. Tornou-se um movimento popular apoiado pelas
classes dirigentes, o que impediu o Vaticano de frear o seu implacável progresso pela
sociedade européia.

Esse período da Reforma representa uma época-chave da história, marcada pela


mudança do relacionamento entre a Igreja e as sociedades secretas. Nos séculos XII e XIII, a
Igreja se valera do poder da Inquisição para esmagar os cátaros, que desafiaram o seu
domínio no sul da França. No início do século XIV, destruiu os templários e, no final desse
século, começou a perseguir as bruxas, herdeiras dos resíduos das antigas religiões pagãs.
Com a Reforma, a Igreja viu-se diante de um inimigo que impunha um limite ao seu poder de
destruição. Desse modo, da noite para o dia, o conceito de religião organizada na Europa foi
revolucionado. Se a Reforma foi auxiliada pelas sociedades secretas, tratou-se de um golpe
de gênio por parte delas.

Em 1529, os príncipes alemães que haviam apoiado Lutero e a sua política reformista
protestaram junto ao imperador Carlos V contra as restrições impostas ao novo movimento
cristão.

Essa manifestação deu origem à palavra “protestante”, e uma campanha para reformar
a Igreja Romana de seu interior, foi transformada em uma religião alternativa que desafiou a
autoridade espiritual do papa e o poder material do Sacro Império Romano. Os grão-mestres
das sociedades secretas ofereceram apoio aos reformadores religiosos por reconhecerem na
Reforma um meio de enfraquecer a influência da Igreja Católica nos assunto europeus.

A Reforma efetivamente emasculou o poder político da Igreja. Estabeleceu as


fundações do movimento puritano, cujos membros fugiram da perseguição religiosa na Europa
para fundar uma nova nação, na América, baseada em princípios espirituais derivados de
fontes rosa-cruzes. Proporcionou, também uma atmosfera liberal em que o Renascimento,
inspirado nas melhores idéias do mundo clássico pagão, pôde florescer. Indiretamente, a
Reforma forneceu o ímpeto para a revolução científica do século XVII, centrada em
conhecimentos de rosa-cruzes, como Sir Francis Bacon e Sir Isaac Newton, levando à fundação
da Sociedade Real, depois da Guerra Civil inglesa. Na Europa, embora os Habsburgo
continuassem governando como sacros imperadores romanos por mais 300 anos, até a
renúncia de Francisco II à coroa, em 1806, a Reforma destruiu qualquer esperança de união
sob o controle da Igreja Romana. Acima de tudo, as reformas religiosas do século XVI
marcaram início de um período em que a Igreja Romana se tornou determinada a exterminar
as sociedades secretas que haviam enfraquecido a sua base de poder.

O surgimento público da Ordem Rosa-Cruz, no século XVII, pregando a igualdade


política e a liberdade religiosa, e o ressurgimento, no século XVIII, das guildas maçônicas,
usando o simbolismo dos pedreiros medievais como metáforas espirituais, representaram uma
ameaça adicional à Igreja Romana. A autoridade da Igreja sobre o povo comum baseava-se em
sua alegação de exercer o poder através da sucessão apostólica a partir de Jesus e São Pedro.
A Igreja medieval criou um clima de medo, ao promover a existência de uma conspiração
satânica que incluía a todos os que ousassem resistir à doutrina cristã. Em contraposição, as
sociedades secretas ofereceram aos seus seguidores uma versão alternativa da
espiritualidade. Os líderes dessa sociedade, além de afirmarem ter havido a Igreja
deliberadamente subvertido os ensinamentos de Jesus, também ensinavam existirem outras
fontes de conhecimento espiritual tão válidas como a crença cristã, mas que a antecediam
em milhares de anos.

Quando as lojas maçônicas começaram a se espalhar pela Europa, a Igreja reagiu com
uma campanha de difamação semelhante à empregada contra os hereges e as bruxas.
Distribuíram-se panfletos antimaçônicos, alegando que práticas sexuais anormais, como a
sodomia e flagelação, tinham lugar nas lojas maçônicas. Em 1738 foi emitida pelo papa
Clemente XII, a primeira bula papal condenando a franco-maçonaria. Essa bula ameaçava com
a excomunhão qualquer católico que se tornasse maçon, naquele tempo uma punição
gravíssima, Como resultado dessa bula, registrou-se alguma ação policial limitada contra os
maçons, na França e em outros países.

Na década de 1780, acusações de que sociedades secretas, como os Illuminati, estavam


usando a franco-maçonaria como camuflagem para o radicalismo e a revolução fizeram com
que a Igreja renovasse os ataques contra as lojas maçônicas. Muitos governos europeus
estavam propensos a agir para refrear os excessos políticos dos maçons, e seus esforços
contaram com o apoio do Vaticano. Entretanto, a Reforma e a Idade das Luzes, com as
filosofias humanistas e racionalistas, haviam minado a Igreja Romana. As bulas emitidas pelos
papas condenando as sociedades secretas somente tiveram efeito nos países católicos e,
dando que muitas das fraternidades ocultistas contavam com amigos influentes em altas
posições, a extensão da ação clerical foi muito limitada.

O clímax da cruzada da Igreja para conter a influência da franco-maçonaria, deu-se no


século XIX. Em 1864, o papa Pio X condenou o socialismo e as sociedades secretas em seu
Sumário de Erros, publicado em seguida a uma investigação das atividades revolucionárias na
Itália. Os Carbonari, que recrutavam os seus membros entre oficiais do exército, policiais e
proprietários de terras, estiveram em atividade na Itália nas primeiras três décadas do século
e, em 1848, a revolução havia se alastrado como fogo por muitos países europeus, inclusive a
Itália. Doze meses depois da publicação do Sumário, o papa voltou a condenar as sociedades
secretas, especificamente atacando a franco-maçonaria como anticristã, satânica e de origem
pagã. Em 1884, o papa Leão XIII emitiu uma proclamação identificando a maçonaria como
uma das sociedades secretas que trabalhavam para implantar o reino de Satã sobre a Terra,
Condenou também a franco-maçonaria por, segundo ele, tentar “reviver as condutas e os
costumes dos pagãos”.
O conceito do século XIX da maçonaria como uma conspiração satânica foi, finalmente,
abandonado depois de desmascaradas as retumbantes e grotescas confissões da sumo
sacerdotisa de um grupo ocultista chamado de Nova Loja Reformada do Paládio. Essas
confissões foram uma apurada fraude perpetrada por um jornalista francês, Leo Taxil que, em
1885 e 1886, publicou uma série de panfletos acusando a maçonaria de um ressurgimento da
heresia cátara. Taxil apresentou, para um público crédulo, a sumo sacerdotisa de uma Ordem
maçônica secreta, Diana Vaughan, que havia renunciado ao “culto satânico da franco-
maçonaria”, tendo se convertido à Igreja Romana.

As memórias de Diana, na verdade escritas por Taxil, tornaram-se um sucesso


instantâneo de vendas. A capa de seu tratado antimaçônico, Les Mystéres de la Franc-
maçonnérie, retrata um grupo de franco-maçons cultuando Baphomet, o ídolo dos templários,
no interior de um templo maçônico. Em primeiro plano, está a figura encapuzada de um
assassino com uma faca e uma figura feminina com uma espada árabe segurando uma cabeça
decapitada. O papa leu avidamente esses chocantes livros, usando-os como prova dos males
da franco-maçonaria.

A campanha antimaçônica de Taxil teve tamanho sucesso, que uma conferência foi
organizada, à qual compareceram milhares de pessoas ansiosas para ouvir mais revelações. O
papa enviou um telegrama abençoando o evento; lido em voz alta para a multidão, que
aplaudia ruidosamente. Na conferência, os delegados pediram a Taxil que apresentasse a sua
famosa testemunha, mas o astuto jornalista contou à assembléia que ela tivera de se
esconder, após ameaças de morte por assassinos maçônicos.

A cruzada antimaçônica manteve sua força total até 1887, quando Taxil finalmente
confessou, em uma entrevista coletiva, que Diana Vaughan havia sido um produto de sua
imaginação. Ele afirmou ter escrito os livros para expor os ridículos excessos dos ataques da
Igreja Católica Romana aos franco-maçons. Essa confissão, além do simbolismo templário e de
conexões com a Alvorada Dourada, sugere que a cruzada antimaçônica foi uma operação
“suja das sociedades secretas a fim de desacreditarem futuros ataques da Igreja”. A ação
surtiu o efeito desejado, ainda que o infeliz Taxil, atacado pelos seus enfurecidos colegas
jornalistas, enganados por suas mentiras, tivesse que ser resgatado pela polícia.

Afirmou-se amiúde que o derradeiro objetivo das sociedades secretas seria infiltrar-se
no Vaticano e instalar no trono papal um de seus homens. As conspirações iluministas foram,
finalmente, desmascaradas em 1875, com a morte acidental de um sacerdote membro da
Ordem. Durante uma missão secreta para a Ordem, ele foi atingido por um raio, e o seu corpo
foi recolhido a um convento próximo. Uma freira que preparava o corpo para o sepultamento
encontrou um maço de documentos costurados no forro de sua batina. Esses documentos
esboçavam planos para a destruição da Igreja Católica a partir de seu interior. As autoridades
prontamente prescreveram a Ordem e o seu líder, Adam Weishaupt, foi banido da Baviera.
Ainda que morresse na obscuridade, alguns anos depois, logo após o seu banimento,
estabeleceu as bases de seu grande plano que, conforme muitos acreditam, continua ativo
até hoje.

Certamente, um dos principais objetivos dos Carbonari era infiltrar-se em todos os


níveis da Igreja e, finalmente eleger um de seus membros como papa. Alguns críticos atuais
da Igreja Romana, sobretudo aqueles com visões políticas direitistas e partidárias de
doutrinas ultratradicionalistas, como a missa em latim, vêem na liberalização da Igreja, nos
anos recentes, provas de que a sua hierarquia foi infiltrada, no nível superior, pelos agentes
das sociedades secretas que trabalham pela sua futura queda.
E, seu livro The Broken Cross, Piers Compton, ex-editor do jornal católico The
Universe, fez um levantamento da suposta infiltração da Igreja Romana pelos Illuminati. Ele
cita, como indícios, o uso do símbolo iluminista do olho dentro do triângulo por proeminentes
católicos. Esse símbolo tem sido usado pelos jesuítas, serviu de símbolo do Congresso
Eucarístico da Filadélfia, em 1976, e figurou em uma emissão especial de selos do Vaticano,
em 1978. Compton afirma ainda que o papa João XXIII, falecido em junho de 1963, usava o
símbolo em sua cruz pessoal.

De acordo com Compton, o papa João (anteriormente, bispo Angelo Roncalli) era um
iniciado de uma sociedade secreta. Roncalli foi consagrado bispo em 1953 e ingressou no
serviço diplomático do Vaticano como visitante apostólico da Santa Sé em Sófia, na Bulgária.
Em sua estada na Bulgária, Roncalli teria, supostamente, se filiado a uma sociedade secreta
cujo símbolo era a rosa e a cruz. Durante o seu papado, de 1958 a 1963, foram fomentadas as
primeiras grandes reformas da teologia católica, desde a Idade Média. Aos olhos da ala
tradicionalista da Igreja, essas reformas eram um programa de mudança radical ditado pelos
Grão-Mestres das sociedades secretas ao seu títere papal.

Em seu livro, Compton afirma que centenas de importantes clérigos católicos são
membros de sociedades secretas. Ele cita um artigo em um jornal italiano, em 1976, que
listou mais de 75 autoridades do Vaticano, como membros de sociedades secretas. Elas
incluíam o secretário particular do então papa Paulo VI, o diretor-geral da rádio do Vaticano,
o arcebispo de Florença, o prelado de Milão, o sub-editor do jornal do Vaticano, vários bispos
italianos e o abade da Ordem de São Benedito. Supõe-se que a sociedade secreta em questão
seja a franco-maçonaria, ainda que ao menos um nome da lista teria ligações familiares com
os rosa-cruzes.

Em sua exposição das sociedades secretas e de sua suposta influência sobre o Vaticano,
Compton aponta o cardeal do século XIX Mariano Rompalla (1843-1913) como um de seus
principais agentes dentro da Igreja. Esse liberal siciliano esposava pontos de vistas radicais e
subiu à posição de secretário de Estado no papado de Leão XIII. Em 1903, com o falecimento
do papa, Rompalla emergiu como o principal candidato à sua sucessão. Ele só deixou de ser
papa, porque o cardeal da Cracóvia, a mando do imperador José de Habsburgo, exerceu o
poder de veto. Como governantes do Sacro Império Romano, até 1806, os Habsburgo haviam
preservado o direito de vetar qualquer candidato papal que considerassem inadequado para a
função.

Considerando-se a aversão do imperador austríaco às sociedades secretas e à sua


intromissão na política européia, a sua ação fez sentido. Após a derrota, o cardeal parece ter
exercido pouca influência sobre os assuntos do Vaticano. Diz-se que, após a sua morte,
documentos foram encontrados entre os seus papéis associando-o à OTO e a Aleister Crowley.
Infelizmente, o papa eleito ficou tão chocado com o seu teor que ordenou a sua queima, de
modo que jamais saberemos o que continham.

Com a morte do papa reformista João XXIII, em 1963, a Igreja Católica ingressou em
um período turbulento que viu o Vaticano abalado por um escândalo financeiro causado pela
sua duvidosa relação com uma loja maçônica secreta, com a Máfia e com extremistas de
direita. O novo papa, Giocanni Montini, havia sido arcebispo de Milão, e os seus críticos o
viam como um socialista que tentara fazer um pacto com o Partido Comunista italiano, após a
Segunda Guerra Mundial. Na Verdade, a visão política do novo papa era mais complexa do que
esse flerte com a política esquerdista deixa transparecer.

Montini sem dúvida tinha pontos de vista fortemente antinazistas, que ele exerceu de
1940 a 1945, como chefe de uma seção do serviço secreto do Vaticano na Europa ocupada.
O pai do arcebispo Montini era um destacado social-democrata e as suas relações de
família permitiam ao seu filho, o secretário de estado do Vaticano, encontrar-se com líderes
comunistas, em 1944, para discutirem a partilha do poder, na Itália do pós-guerra, com
socialistas e democratas. De acordo com um relato da reunião preparado pela CIA (a agência
norte-americana de espionagem), Montini esperava que, após a guerra, comunicações
pudessem ser estabelecidas entre o Vaticano e a União Soviética, a despeito do
anticomunismo do papa Pio XI.

As afiliações políticas de Montini parecem ter mudado drasticamente após a guerra. No


início dos anos 50, ele se envolvera diretamente com a CIA, através e sua organização de
fachada, o Comitê Americano por uma Europa Unida (ACUE), tendo supostamente espionado,
para a agência, colegas sacerdotes com opiniões esquerdistas. O ACUE havia sido fundado em
1949 e o seu primeiro presidente foi William Donovan, apelidado de “Wild Bill”, um herói de
guerra do Departamento de Serviços Estratégicos (OSS), que foi um precursor da CIA. O
secretário do ACUE era um diretor do Conselho de Relações Exteriores e um coordenador da
futura Comissão trilateral, dois grupos vistos pelos teóricos da conspiração como organizações
de fachada para as atuais atividades dos Illuminati na política internacional.

O intuito do ACUE, conforme sugere o nome, era proporcionar auxílio norte-americano


à unificação política da Europa após a guerra. A idéia era apoiada por muitos políticos
importantes, inclusive Churchill, que após a guerra, freqüentemente defendera a criação dos
“Estados Unidos da Europa”. O ACUE foi um produto da mentalidade da Guerra Fria e
promoveu uma política anticomunista. Era secretamente financiado pelo governo norte-
americano e tinha vínculos com o príncipe Bernardo, da Holanda, e com um ex-diretor do
serviço britânico de operações especiais, que mandava agentes saltar de pára-quedas na
Europa ocupada, para realizar atos de subversão e sabotagem.

Quando Montini foi eleito o papa Paulo VI, em 1963, os seus críticos notaram que a
anterior linha dura do Vaticano em relação à franco-maçonaria relaxou consideravelmente.
Em 1917, às vésperas da Primeira Guerra Mundial e no ano da Revolução Bolchevista, o
Vaticano proibira os católicos de se tornarem franco-maçons. Um católico que se descobrisse
ser um maçon ou membro de “qualquer outra sociedade secreta que conspirasse contra o
Estado” poderia ser excomungado. Sob o papado de Paulo VI, essa rígida proibição foi
relaxada e um católico passou a poder aderir a uma loja maçônica, contanto que isso não
envolvesse atividades anticlericais. Como resultado, em 1975, um arcebispo brasileiro
celebrou uma missa especial pelo 40º aniversário de uma loja maçônica.

Em 1978, rumores de uma iminente tomada do poder italiano pelos comunistas


chegaram aos ouvidos do papa. Informou-se que o Vaticano transferira cinco bilhões de
dólares de seus ativos financeiros da Itália para os Estados Unidos, porque o papa havia
pedido a confiança no sistema democrático europeu. Paulo VI supostamente acreditava que a
Europa estava à beira de uma revolução esquerdista. Boatos circularam no Vaticano de que o
papa estava disposto a romper com a tradição e se afastar, de modo que fosse eleito como
sucessor um europeu não italiano, capaz de fazer um acordo com o bloco do Leste que
preservasse a Igreja em uma futura Europa socialista.

O temor papal de uma tomada do poder pela esquerda era compartilhado pelas
sociedades secretas e, especialmente pelos membros de uma loja maçônica italiana cuja
exposição pública jogaria uma luz sobre as intrigas políticas e financeiras clandestinas dentro
do Vaticano, o que possivelmente acarretaria o assassinato do próximo ocupante do trono
papal. Propaganda Dois, ou P”, como se tornou popularmente conhecida, era uma loja
maçônica elitista, fundada em 1960 por um rico negociante, Licio Gelli. Ele lutara junto aos
fascistas italianos na Guerra Civil espanhola, nos anos 30, e irmanara-se aos nazistas durante
a Segunda Guerra Mundial. Não obstante os seus pontos de vista direitistas, Gelli estabeleceu
vínculos com os guerrilheiros comunistas, durante as hostilidades, o que lhe valeu escapar de
ser julgado como criminoso de guerra. Gelli tinha ligações com vários grupos fascistas na
América Latina, com a CIA e a Máfia. Para ele, a adesão à franco-maçonaria era um
importante aspecto de seu trabalho político. Em 1976, disse a amigos que “a franco-
maçonaria odeia o comunismo, por ser este contrário à idéia da dignidade do individualismo
pessoal, destruidor dos direitos da dignidade do individualismo pessoal, destruidor dos
direitos fundamentais que são a herança divina de todos os homens e inimigos do princípio
maçônico da fé em Deus”.

A cruzada anticomunista que motivou Gelli e outros membros da loja P2 permitiu que
ela se tornasse um instrumento da atividades subversivas da CIA na Itália, durante os anos 70.
Diversos membros de destaque da P2 receberam apoio financeiro da Agência para combater
os comunistas italianos que canalizaram recursos para outros grupos anticomunistas no
exterior. A filosofia política da P2 centrava-se na criação de um governo alternativo, que
tomaria o poder caso a Itália enfrentasse uma insurreição comunista ou os comunistas
vencessem uma eleição democrática. O plano previa um “golpe branco”, organizado pela P2,
de contra-revolucionários, com o auxílio externo da CIA e de tropas norte-americanas, se
necessário, estabelecendo um regime direitista e pró-EUA. À semelhança das sociedades
secretas políticas do passado, como os Illuminati e a Sociedade de Thule, a loja P2 buscava os
seus membros, estimados em 2.500, nos altos escalões do establishment social, político e
militar. Eles incluíam três ministros, os chefes do serviço secreto italiano, os chefes do estado
maior do exército, marinha e Ministério da Defesa, os comandantes da polícia paramilitar e
da alfândega, 18 membros do parlamento, 21 juizes e destacados negociantes, jornalistas e
comentaristas políticos.

A P2 também tinha ramificações no exterior, em Cuba, na América do Sul e nos Estados


Unidos. Um relatório oficial do governo italiano a descrevia como “uma seita secreta,
combinando política com negócios, com o fito de destruir a constituição do país”.

Segundo um artigo de Jonathan Marshall, publicado no jornal para político Lobster, a


P2 também tinha ligações com grupos neotemplários da França. Gelli, como grão-mestre da
P2, havia contatado Jacques Massie, um inspetor de polícia de Marselha que era membro de
um grupo de extrema direita chamado Serviço de Ação Crítica (SAC). Massie e cinco membros
de sua família foram metralhados ao supostamente, revelarem os segredos do grupo aos
colegas da polícia. Entre os membros da SAC, estavam proeminentes figuras políticas, ex-
mercenários que haviam lutado com os terroristas pró-franceses na Argélia, e elementos do
submundo. Massie esteve envolvido no contrabando de armas da Turquia para a esquerdista
Brigadas Vermelhas e terroristas neonazistas italianos, a fim de financiar as atividades do
SAC.

Quando esteve em Marselha, em visita a Massie, o grão-mestre da P2 teve contatos


com representantes de uma ordem neotemplária simpatizante das metas do SAC. Gelli teria
discutido os seus planos para o futuro da Itália com os seus novos amigos. Na França, as
modernas Ordens Templárias incluem entre os seus integrantes, altos funcionários públicos,
banqueiros, oficiais da polícia e do exército e membros do serviço secreto francês. As Ordens
são divididas em diversas seções, algumas aliadas a grupos maçônicos e políticos da França
que financiam o anticomunismo.

Um desses grupos neotemplários, cuja existência foi revelada nos anos 60, contava com
ricos membros ligados ao Vaticano. Esse grupo era, estranhamente, pró-católico, monarquista
e anticomunista, e um de seus líderes, Constantin Melnik, estava vinculado ao serviço secreto
francês, à rádio Europa Livre (uma organização de fachada da CIA) e à Rand Corporation (uma
instituição direitista de alta consultoria financeira pelo Pentágono). Melnik nascera na
França, mas os seus pais foram russos brancos e, segundo ele, o avô havia sido médico pessoal
do czar Nicolau II.

Um vínculo adicional, ainda que improvável, entre o Vaticano, os Romanov e as


sociedades secretas surgiu nos anos 60, quando o chefe adjunto do serviço secreto polonês
fugiu para os Estados Unidos. Mikael Goliniewski supriu a CIA com uma torrente de revelações
sensacionais sobre a suposta infiltração da sociedade ocidental por agentes soviéticos. No
entanto, a agência passou a desconfiar quando o fugitivo polonês mudou o nome para Alexi
Nicholaevith Romanov, anunciando ser o filho secreto de Nicolau II.

Goliniewski foi apoiado, em sua pretensão, por uma Ordem cavalheiresca direitista
chamada os Cavalheiros de Malta, que remonta as suas origens aos cruzados que lutaram na
Terra Santa. De acordo com a tradição ocultista, um dos grão-mestres dos Cavaleiros de
Malta, Manuel de Fonseca, iniciou-se na tradição templária, no século XVIII, e introduziu o
conde Cagliostro no templarismo.

A Ordem moderna jactava-se de contar com simpatizantes no Vaticano, na Igreja


Ortodoxa Russa e nos grupos de imigrantes russos brancos no Ocidente que tentavam
restabelecer a monarquia em sua pátria. Essa conexão russa deriva de 1798, quando Napoleão
invadiu malta e o czar Pedro I ofereceu refúgio aos Cavaleiros. Credita-se a ele a formação de
um grupo clandestino de oficiais do exército e sacerdotes-ortodoxos russos, conhecido como
Círculo Secreto, fanaticamente dedicado à preservação e proteção da Mãe Rússia. O Círculo
Secreto, que tinha vínculos com os Cavaleiros de Malta, sobreviveu à Revolução Bolchevista e
infiltrou os seus agentes nos serviços secretos ocidentais, a fim de destruir o comunismo e
restaurar o governo russo branco em Moscou.

Os modernos Cavaleiros de Malta apóiam a facção direitista e ultranacionalista no


Vaticano oponente das reformas do papa João XIII e de seus sucessores. Eles têm defendido a
volta da antiga missa em latim e vêem os liberais da Igreja como inimigos da verdadeira fé.
Em anos recentes, circularam rumores ligando os Cavaleiros de Malta a grupos políticos de
extrema direita e à CIA.

Goliniewski tinha uma antiga ligação com a família real britânica que é interessante.
Lorde Luis Montbatten, tio do príncipe Charles, foi um dos principais críticos da pretensão do
fugitivo polonês à descendência dos Romanov. Montbatten era aparentado, através da rainha
Vitória, à família real russa e também era um forte oponente dos Cavaleiros de Malta e crítico
de sua associação com a CIA. O nome de Montbatten havia sido cogitado quando Churchill e
Roosevelt, supostamente membro de uma sociedade secreta de inspiração iluminista,
discutiram a restauração do antigo império dos Habsburgo, depois da Segunda Guerra
Mundial, como parte de seu ambicioso plano de uma Europa unida. Churchill acreditava que a
restauração de uma supermonarquia européia serviria de antídoto aos planos de uma
supermonarquia européia serviria de antídoto aos planos expansionistas comunistas na
Alemanha, França, Itália e Áustria do pós-guerra. Montbatten foi indicado como um candidato
adequado a imperador, assim como o Dr. Oto de Habsburgo, um importante expoente de uma
federação pan-européia.

A revelação das atividades ilegais da loja P2, além de mostrar uma rede de
conspiradores direitistas engajados em atos subversivos, também trouxe à luz um escândalo
financeiro que envolveu altos funcionários do Vaticano. Esse escândalo emergiu com o colapso
do Banco Ambrosiano, cujo diretor-gerente, Roberto Calvi, ainda que um católico fervoroso,
também era uma personalidade de destaque na loja P2. Em 1971, Calvi foi apresentado ao
diretor do Banco do Vaticano, o bispo Marcinkus, por um colega da P2, conselheiro financeiro
do papa Paulo VI. O bispo tornou-se diretor do Banco Ambrosiano, cujas subsidiárias estavam
ativamente engajadas na “lavagem” de dinheiro ilegal para a Máfia.

Rapidamente, vínculos se formaram entre o banco Ambrosiano e o Banco do Vaticano,


envolvendo a Igreja Católica em uma operação financeira que a associou à franco-maçonaria,
aos extremistas de direita e ao crime organizado.

A tarefa de Calvi na P2 era explorar os seus extensos contatos com os banqueiros


internacionais para montar uma estrutura, no exterior, que funcionasse como alternativa ao
sistema bancário italiano caso os comunistas subissem ao poder. Embora um devoto católico,
Calvi se valeu de sua posição na P2 para se beneficiar financeiramente. Ao aparentemente se
suicidar, enforcando-se sob a ponte de Blackfriars em Londres, circularam rumores de que
havia sido assassinado para não revelar informações sigilosas da franco-maçonaria
internacional. Essa tese foi reforçada pelo desaparecimento após a sua morte, de sua pasta
contendo documentos que implicavam o Vaticano com o Banco Ambrosiano.

O escândalo da loja P2 veio à luz após a morte do papa Paulo VI, no verão de 1978. Um
papa socialista, Albino Luciani, que havia sido patriarca de Veneza, foi eleito pelo Colégio de
Cardeais, adotando o nome de João Paulo I. O novo papa parecia determinado a associar um
novo estilo ao papel de vigário de Cristo, e logo os meios de comunicação e denominaram de
“papa sorridente”, devido ao estilo brando, ao senso de relações-públicas da Igreja. Tratava-
se também de um sofisticado liberal, defensor do controle da natalidade e de uma posição
mais liberal ante o divórcio, o aborto e a homossexualidade.

Além disso, parecia que o novo pontífice planejava investigar os recentes escândalos
financeiros da Igreja, vender vários de seus ativos para distribuir dinheiro aos pobres e
reformar o sistema bancário do Vaticano, dominado pela influência da loja P2. João Paulo I
também chocou muitos tradicionalistas ao se referir, abertamente, a Deus como pai e mãe,
em um sermão para as multidões da praça de São Pedro. A natureza andrógina de Deus havia
sido discutida por teólogos liberais por muitos anos, mas sempre fora vista como uma heresia
pelo Vaticano. Poucos dias após a sua eleição circulavam boatos pelos corredores do Vaticano
de que o papa era um herético, homossexual e criptocomunista.

Como era de se prever, João Paulo I enfrentou uma forte oposição, dentro do Vaticano,
à sua campanha contra a corrupção que havia infestado a Igreja durante o papado anterior.
Pouco antes de sua eleição, o pontífice recebeu uma lista de um Ambrosiano, um exemplo de
lealdade a um amigo, em vez de uma conspiração envolvendo sociedades secretas.

Os investidores financeiros do papa Paulo VI em bancos norte-americanos nos anos 70


ao temer um golpe comunista, foram trazidos de volta, segundo membros do Vaticano, após a
tentativa de assassinato de João Paulo II por um pistoleiro turco em 1981.

Os serviços secretos ocidentais espalharam, pela imprensa, uma falsa versão, visando
encobrir os verdadeiros fatos, de ter se tratado de uma tentativa da KGB, através do serviço
secreto búlgaro, de silenciar o apoio do papa ao sindicato Solidariedade de sua terra natal, a
Polônia. Entretanto, pessoas bem informadas mostraram que o quase assassino não tinha
vínculos com o bloco do Leste, sendo de fato, membro dos Lobos Pardos, grupo terrorista
turco de direita financiado pela CIA e por neofascistas italianos.

Afirma-se que o Vaticano foi antecipadamente advertido de uma possível trama para
matar o papa. A fonte dessa informação foi um alto funcionário da embaixada soviética em
Roma. Devido a essa advertência, e às informações coletadas pelo serviço secreto do
Vaticano, o papa se convenceu de que a tentativa de assassinato não foi uma conspiração
soviética, mas produto de interesses comerciais ocidentais contrariados. No dia que foi
alvejado, o papa João Paulo II pretendia lançar um ataque contra a imoralidade do
capitalismo ocidental, exortando as sociedades européia e norte-americana a um retorno aos
valores espirituais.

Não obstante a sua visão tradicionalista sobre questões morais, vozes extremistas no
Vaticano continuam especulando que o papa Paulo II pode estar sob a influência das
sociedades secretas. Desde os dias de João XXIII, um movimento radical dentro da Igreja tem
procurado estabelecer vínculos mais estreitos entre o catolicismo e outras igrejas cristãs, com
o objetivo final de eliminar as divisões da Reforma que enfraqueceram o cristianismo. Esse
evento certamente não seria benquisto pelas sociedades secretas; porém os ultranacionalistas
têm visto, no desejo do papa de apoiar essa linha, indícios de uma conspiração anticatólica.

Nas celebrações em homenagem a São Francisco de Assis, em 1986, que enfatizaram


unidade de todas as religiões mundiais, o papa participou de uma prece ecumênica pela paz
mundial. Os Tradicionalistas ficaram horrorizados ao ver o pontífice compartilhar,
alegremente, uma plataforma com um lama tibetano, um swami hindu, um curandeiro
indígena norte-americano, um rabino judeu e um sumo sacerdote maori. Observou-se que a
unidade de todas as religiões mundiais e o reconhecimento de que todas derivam da mesma
fonte antiga constitui a filosofia central das sociedades secretas.

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