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© Lugar da Interpretacio Diante das earacteristicas que evocamos acima e dos conceit que apresentamos, cabe comegar a refletir sobre 0 Aispositive da andlise, Sea linguagem funciona desse modo, como deve proceder o analista? Que escuta ele deve tstabelecer para ouvir para Ii das evidnciase compreender, acolhendo, a opacidade da linguagem, a determinagio dos Sentidos pela historia, aconstituigao do sueito pela ideologia pelo incansciente, fazendo espaco para © possivel, a Singularidade a ruptura a resistencia? Como dissemos mais acim, a proposta& a da construgao de um dispositivo da interpetaea0. Esse dspositivo tem como caracteratica colocar sito em relagdo a0 no dito, o que 0 sujeito diz em um lugar com o que € dito em outro lugar, que dito de um modo com o que é dito de outro, procurando ouvir, naguilo que osueito dz, auilo qu ele nao diz masque consi igualmente os senidos de suas palavas. ‘A Anise de Dseurs no procua o sentido “verdadero” mas ‘real do sentido em sua matecialidade lingisicaehistéica, A ‘deologianio se aprende, 0 inconscentenio se controla como Saber. A prépca lingua funciona ideologicament, tendo em sua raterialidde esse jogo, Tod enunciad, ditt M.Pécheux (dem), lingisteamente dserivel corto uma si de ponts de deriva possvel oerecendo lugar iinterpreago. Ele sempre suscetvel ‘de seromarse outo. Esse lugat do ouro enunciado éo lugar da ierpretagio, manifest;ao do inconscente e da ideologia na producto dos sentdos ema consti dos sujeitos.E também ‘ences nterpretago que podemos considera inenliscuso (exterior coma alteidadedscursiva: "é porque hi outro mas sociedads ena istria, diz M.Pécheux(1990),correspondente a este outro Tinguajiro diseursivo, que af pode haver ligago, dentificagso ou transferénca, nto 6 existéncia de uma eg brindo a possibldade de interpreta. E€ pong hese gag (ue as iligceshstrcas podem-seorgaizar em memoris,€ as ‘elagées sociais em redes de signficantes" “Temosafirmado que noi sentidos “liters” guandadesem algum liga ~seja oc&rebro ova ling ‘sar, Ossemidos eos sueitos se constituem em processos em {que i transferéncas, jogos simbélicos dos quai no tems 0 Controle eos quai oequrvoco ~o trabalho da ideologia edo inconsciente~ eso largament presente. ‘As transferencias presentes nos processos de identifieago dos sujeitos constituem uma pluralidade contradtsria de filiagdes hist6ries. Uma mesma palavra, na mesma lingua, significa diferentemente, dependendo da posigio do sujito fda inserigio do que diz em uma ou outra formagio ‘iscursiva, © analista deve poder explicitar os processos de Jdentficagdo pela sua anise: falamos a mesma lingua mas falatnos diferente. Se assim €,o dispesitivo que ele consi deve ser capaz de mostrar isso, de lidar com isso. Esse dispositive deve poder levar em conta ideologia € inconseiente assim considerados. 0 disposiivo, a escua dscursva, deve explictar os gestos de interpretagao que se ligam aos procesos de idemiticagio tos sujetos, suas fliagbes de semidos:deseever a elagio do sujet com sua meméria, Nessa empreitada, desctigio © interprelago se interelacionam. Eé também arefa do analis Aistingui-las em seu propésito de compreensio. Podenos mesmo dizer que a interpretagio aparece em dois momentos da andlise 4 em um primeito momento, € preciso considerar que a interpretagaa Faz parte do objeto da anlis, isto €, 0 sujeito ‘qe fala interpreta eo analista deve procurar deserever esse testo de interpretasio do sujeito que constitui 0 sentido submetido 2 anslise: bem um segundo momento, preciso compreender que ni hi descrigo sem inerpretago,entZoo proprio analista est envolvido na interpretagio. Por isso € necessério intoduzit-se um dispositive te6rico que possa intervir na w telagdo do analista com os objetas simbélicos que analisa, prodiuzindo um deslocamento em sua relaio de sujeito com 4 interpretagdo: esse deslocamento vai permitir que ele ‘rabalhe fo entemeio da descrigio com a interpreta, (que seexpera do dispositive do anata que el the permita trabathar ndo numa posipio neutra mas que sejareatvizad «em fao da interpretago: 6 preciso que ele atravesse oto de ‘wansparéacia da lingoagem, da ltralidade do sentido e da ‘onipoténcia do sujeto, Esse dispositivo vai assim investr na ‘opacdade da linguagem, no desceniamento do sujeto © no feito metaférico, isto é, no equiveco, na falba e na ‘maleraldade, No trabalho da ideologa, A cans dese dspstvo resulta na aera da paso do Ietr pra o luge const polo alsa Lugar em que se mos 8 aleridade docs aera cura quel: pode produit Nese hips, leo reflete mss stu, compreende 0 movimeto da ineeta520 inset no objeto simbsico qu éseualvo. Ele px nto contemplar (eorizar) expr (deserve) osefios da inerpetago.Porisso que daz que 0 analista de discus, dere do hemeneut, 1 ‘meres ele tabla (aos mites da inert leno seca fara da hiss, do smbicn ou da idclogia. le se colo em uk rxgo dsfocada qusthepemitecoatmplaro proceso de pro ‘esentdes em sss cones. ‘Sem procurareliminar os efeitos de evidéneia produzides pela inguagem em seu funcionamentoe sem pretender colocat~ fe fora da intrpretaeio ~ fra da histria, fora da lingua ~ 0 analisiaproduz seu dxpostvo teico deforma ano se vita esses efeitos, dessasilusdes, mas iar proveto dels. Eo faz pela mediagaoteérica. Para que, no funcionamento do discarso, ha produgo dos efeitos, ele alo refita apenas no sentido do reflexo, da imagem, da idcologia, mas refita no sentido do pensar, Isto significa colocar em suspenso a interpretacio. ‘Contemplar. Que, na sua origem greg, tem a ver com deus, com 9 momento em que © hess contempla antes da lua: ele cencara sua tare. Ele a pensa 6 Em nosso caso tats dato, no sentido de que no hs andise escurso soma media terca permanente emtodos os pasos a andlise, trabalhando a intermiténcia entre descriga0 e Jmerpretaeo que constituem, amma, o proceso de compreensio ddoanalsa assimqueoanalist de diseuso "encaaalinguagem, ‘Tendo isso em cont, ele constr finalmente seu dispositive snalitco, qu ele paiculariza, apart da questio que ele colo «fae aos materiais de andlise que constituem seu corpus € que ele vist compreender, em fungo do dominio cientico ‘que ele vincula eu trabalho. Com esse dispositive, ele esté em medida de pratcar sua anise, e 6 a partir desse dispositivo ‘que ee interpreta os resultados aque ele chegar pela andlise do discus que ele empreendeu, Para iso é preciso que ele compreenda como o discurso se textualia, ‘As Bases da Anélise ‘Um dos primeiros pontos a considera, se pensamos a anise, 6 a consiuigdo do compus (E, Orlandi, 1998). [A delimitagio do corpus mio segue eriérios empiticos (postvistss) mas tesrcos, Em geral distinguimos © corpus ‘experimental eo de arquivo. Quanto natreza da linguagem, ‘devemos dizer que a ands de discuso ineressa-s por priicas sscursivas de diferentes naturezas: imagem, som, lta, ee Nao se objetiva, nessa forma de andlise, a exaustividade {que chamamos horizontal, ou seja, em extensZo, nem ccompletude, ou exaustvidade om relagio ao objeto empitica, Fle 6 inesgotdvel. Isto porque, por definicio, todo discurso se estabelece na relagio com um discurso anterior e aponta para outro, Nao hi discurso fechado em si mesmo mas um processo discursivo do qual se podem recortar ¢ anslisat estados diferentes, @ ‘A exaustvidade almejada — que chamamos vertical ~ deve ser considerada em relagio aos objtivos da andlise e 3 sua {emitica. Essa exaustvidade vertical, em profundidade, leva a ‘consegiéncias teéricas elevanese fio trata os “dads” como smeras ilustragdes. Tata de “Tatos” da linguagem com sua rmeméria, sua espessura semAntica, sua materialidade lingustico-iscursiva Assim, eonstruso do corpus ea andlise esto intimamente ligudas: decidir o que faz parte do corpus é€ decidir acerca de propriedades discursvas,Atulmenteconsiera-se que amelhoe raneira de atender & questio da constituigio do corpus & construe montagens discursivas que obedegam ertérios que ddecorrem de prineipios teéricos da anise de dscurso face aos ‘bjetivos da ands, e que permitam chegar® sua compreensto, Esses objetivos, em consoniincia com o método © os procedimentos, no visa a demonstagio mas a mostrar como tum discuso funciona produzingo (efeitos de) sentdos. af no pademos evita uma distingéo produtiva que existe centre discusoe texto. Esta, por sa vez, raz necessariamente ‘cansigo aque existe entre sujeito e autor. © texto € a unidade que o analista tem diante de sie da «ual ele parte. O que fazele diane de umn texto? Ee oremete imediatamente a um diseurso que, por sua vez se explicita fem suas regularidades pela sua referéncia a uma ou outra Tormagio discursiva que, por sua vez, ganha sentido porque deriva de um jogo definido pela formacio ideol6gica

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