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SAO PAULO Sociedade, cultura e poli aS thee sii E ATORE EDITORA 34 Edirora 34 Leda Rua Hungria, $92 Jardim Europa CEP 01455-000 Sao Paulo - SP Brasil Tel/Fax (11) 3816-6777 www.editora34.com.br CENTRO DE ESTUDOS DA METROPOLE CEMICebrap Rua Morgado de Mateus, 615 Vila Mariana CEP 04015-902 Paulo - SP Brasil Tel. (11) 5574-0399 contato@centrod: ight © Editora 34 Ltda, 2011 Sao Paulo: novos percursos e atores © Liicio Kowarick & Eduardo Marques, 2011 |A FOTOCOMA DE QUALQUER FOLIA DESTE LIVRO E LEGAL # CONFIGURA UMA [APROPRIAGRO INDEVIDA DOS DIREITOS INFELECTUAIS & PATRIMONIAIS DO AUTOR. Capa, projeto grafico e editoragio cletronica: Bracher & Malta Prod Revisio: Isabel Jumqueira Sérgio Molina CIP - Brasil, Catalogagio-na-Fonte (Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Brasil) Kwai, Licio ss ‘So Pato: now percusos ates loose, ear poli) /neanizaio de Lio Kemarick ¢ Eduardo Margy Si Pal Ed. ‘Ger de Esuden ds Metro, 2011 00. IBN OTRAS TIBOR 1 Sociologia urbana. 2. Cade de So Paulo asria crvea. 3 Reqito Metopobana de Sho Paulo Histia cones, 4 Clues epics. Mangos Fado, I, Teo . Nov s Apresentagio Marta Arretche Introdugio Liicio Kowarick e Ec - Os estudos sobre a ci quarenta anos de mu nos olhares sobre a ¢ Maria Encarnacién \ Parte I Crescimento da popu na Regido Metropoli desconstruindo mito: Rosana Baeninger =O centro e seus cortir 1s socioecon« Liicio Kowarick . Favelas ¢ periferias n Camila Saraiva e Edi A presenga estrangein processos urbanos ¢ + Maria Cristina da Sil Parts lades-regides ou h O debate visto do Su Alvaro Comin... Os mecanismos de ac em perspectiva comp Nadya Guimaraes, N ¢ Paulo Henrique da SAO PAULO: NOVOS PERCURSOS E ATORES Sociedade, cultura e politica Apresentaciio Marta Arretche Introdu: Liicio Kowarick e Eduardo Marques 1. Os estudos sobre a cidade quarenta anos de mudanga nos olhares sobre a cidade ¢ 0 social Maria Encarnacion Moya Parte I — VIVER E HABITAR NA CIDADE 2. Crescimento da populagio na Regido Metropolitana de Sao Paulo: desconstruindo mitos do século XX Rosana Bacninger O centro e seus cortigos: dindmicas socioecondmicas, pobreza e politica Liicio Kowarick 4, Favelas e periferias nos anos 2000 Camila Saraiva e Eduardo Marques los A presenga estrangeira processos urbanos e escalas de atuagao Maria Cristina da Silva Leme e Sarah Feldn 131 Parte Il — TRABALHO E PRODUGAO 6. Cidades-regises ou hiperconcentragio do desenvolvimento? O debate visto do Sul Alvaro Contin 5 7. Os mecanismos de acesso (desigual) ao trabalho em perspectiva comparada Nadya Guimaraes, Murillo de Brito ¢ Paulo Henrique da Silva 179 10. 13. 14. 5. Cidade e praticas urb Parte III — POLITICA & REPRESENTAGRO Estratégia partidéria ¢ clivagens eleitorais: ais pds-redemocratizagio Fernando Limongi e Lara Mesquita .. as eleigoes municip: Relagdo entre movimentos sociais e instituigdes politicas na cidade de $20 Paulo: 0 caso do movimento de moradia Luciana Tatagiba . ‘Movimentos sociais e articuladoras no associativismo do século XXI Adrian Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Bichir Parte IV — Sociasn DADE, COTIDIANO E VIOLENCIA Cinema contemporanco ¢ politicas da representagio da ena urbe paulistana Esther Hamburger, Ananda Stiicken Laura Carvalho e Miguel Ramos -O rap ea cidade: reconfigurando a desigualdade em Sao Paulo Teresa Pires do Rio Caldeira .. Homicidios: guias para a interpretagio da violencia na cidade Paula Miraglia .. ‘Transformagdes sociais e politicas nas periferias de Sao Paulo Gabriel Feltran . as: nas fronteiras incertas entre o ilegal, o informal e o ilicito Vera da Silva Telles e Daniel Hirata Sobre os autores: 233 301 321 347 Apresentacao O livro Sao Paulo: tica) 6 mais uma impor Metrépole tem a honra para a agenda de estude pitulo possa ser lido sep warick e Eduardo Marq tana e suas transforma rentes perspectivas. A obra da continu da sociologia urbana, qu za ¢ dos movimentos so ferramentas analiticas, « desigual apropriagao d quais novas modalidadk contexto de erescente e Paralelamente, o livro i sociologia, ciéncia politi deslocamentos populaci do comportamento eleit traparlamentar, bem co. a metrOpole paulistana generalizada para conte Sao Paulo: novos ; produtiva colaboragio escolha por técnicas qui uma decisio acerca dae der a uma pergunta sub observagio um dado obj te do problema e 0 obje Cidades-regides ou hiperconcentragio do desenvolvimento? O debate visto do Sul' Alvaro Comin A literatura sobre as grandes cidades (city mais ecuménico, global-cities 0 mais restrito a ‘mundiais) sustenta que elas sio 0 centro do desenvolvimento econdmico * das grandes cidades atual. Apesar da diversidade de perspectivas tedricas ¢ disciplinares, duas ideias-forca sio recorrentes neste debate. A primeira diz respeito a perda de importancia dos Estados Nacionais, por forca dos processos de globalizagio ¢ integracio produtiva entre as varias rey principais aglomeragdes urbanas o lugar central de articulagio da economia lobal, que hoje se organizaria sob a forma de uma constelagao de cidades, de niveis hierarquicos variados. Mesmo internamente as nag6es, as desi gual idades-regides deveriam ser buscadas em suas proprias diferengas s do planeta, que conferiu as ides entre as “Os estuclos sobre competitividade e desenvolvimento econd- mico sempre tenderam a concentrar seu foco nas nagdes como unidades de analise e nos atributos e politicas nai principais verores. Como os cientistas regionais ¢ os gedgrafos econdémicos ha muito perceberam, entretanto, existem diferencas substanciais de desempenho entre as regides em virtualmente todas as nagdes. Isso sugere que muitos dos determinantes essenciais do desempenho econdmico devem ser buscados no ambito regional” (Porter, 2003: 550; tradugio do autor) © autor agradece a Alexandre Abdal, Bruno Komatsu, Carlos Eduardo Torres to de sobretudo, pela eolaboragio no desenvolvimento das Freire e Maria Carolina Oliveira, colegas do Cebrap, pelo auxilio no processam dads preps ideas aqui conti. de tabelas Cidades-regides ou hiperconcentragio do desenvolvimen A segunda ideia-forga (logicamente articulada & primeira, porém com estatuto teérico ¢ empirico préprio) explora a morfologia interna das eco- nomias urbanas procurando demonstrar que, por sua escala e concentracio de recursos modernos (mormente aqueles descritos como intensivos em tec- nologia e conhecimento), elas so 0 centro das atividades mais inovadoras € capazes de produzir os movimentos shumpeterianos de destruigio criativa responsiveis pela evolugao da economia em escala nacional e mundial: s das economias nacio- “As cidades-regides so as locomoti nais nas quais esto situadas, sendo os lugares onde se concentr massas de atividades econémicas inter-relacionadas, que tipica mente apresentam elevados indices de produtividade por forga de suas economias de aglomeragao e seu potencial inovador. Em mui- tos paises avangados, as evidéncias sd de que as maiores dreas, metropolitanas vém crescendo mais aceleradamente do que as outras areas do territério nacional, mesmo naqueles paises onde, nos anos 1970, parecia prevalecer um padrao de crescimento nio metropolitano. Em pafses menos desenvolvidos, também, como 0 Brasil, a China, a India ea Coreia do Sul, 0s efeitos da aglomera- lo sobre a produtividade sao evidentes eo crescimento econdmi- co tipicamente caminha a uma taxa maior nas grandes 4reas me- tropolitanas. Essas mesmas regides metropolitanas so, a0 mesmo tempo, os centros do crescimento nacional e os lugares nos quais jiores chances de a industrializacio voltada as exportagdes tem se desenvolver” (Storper e Scott, 2003: $81, tradugio do autor) mo definem Duranton e Puga (2005), estas cidades transitam de um padrao de “especializagao setorial” (sedes de aglomeragoes de cadeias indus- (0 funcional”, baseado em atividades triais), para um padrao de “especiali tercidrias de comando e suporte, que “servem” as cadeias de produgio jé nao mais situadas em seu territ6rio. A literatura em questdo comporta um sem niimero de controvérsias, mas de modo geral as premissas acima enut ciadas so comuns & maioria dos estudos de referéncia. Neste artigo pretendemos apontar alguns dos limites destas ideias-forea, utilizando como suporte empirico o desenvolvimento da cidade de Sao Pau- lo, Nosso argumento central é o de que nao se pode entender a dinamica das grandes cidades (pelo menos em paises como o Brasil) sendo tendo como referéneia a dinamica de seus contextos nacionais. Elevados niveis de con- centra¢io regional da riqueza, em outras palavras, elevados niveis de desi ss Alvaro Comin Bualdades regionais (tio nao podem ser explicad Pela localizacio geograt Na maioria dos casos est dos estados nacionais gu as disputas entre elites re Perativos (reais ou fictici nalidade “estritamente e As teorias econdmic © Faro de que mesmo os ¢ se aglomerar no espago: e estructura e forca de traball entre outras. Essa raciona tados nacionais, especial desenvolvimentistas, com © Brasil ¢ outros paises lat Desenvolvimento “ta sio boas razées para conc niimero muito limitado de Vantagens aglomerativas be racionalidade parece “func desenvolveram, alguns de fc (Como Téquio, Seul, Taipe modernas e globalizadas Mas em muitos casos, vados niveis de desigualdad internas nestes espacos cent delos de desenvolvimento dc cial, induziriam naturalment anos 1990, provavelmente 5 6 das baixas taxas de crescin rais, as mudancas neste aspec ram (Comin e Amitrano, 200 tem crescido mais rapidamen do das politicas sociais que i como efeito da demanda exte Vestimentos estatais em infrae ser acrescidos. Mas 0 fato é « dustriais quanto as de secvig Cidades-regioes ow hiperconcentrage tira, porém com interna das eco- ae concentragio tens nais inovadoras € ps em tee sstruiglo criativa tle mundial: ymias nacio- concentram que tipica- por forga de lor. Em mui- ‘aires dreas edo que as paises onde, cimento nao dém, como 0 ja aglom ato econdmi- les reas me- io,20 mesmo, res nos quai es chances de io do autor). es transitam de um 'sde cadeias indus- eado ematividades ias de produgio ja stio comporta um missas acima enun- destas ideias-Forga, cidade de So Pau- adera dinamica das senao tendo como ados niveis de con- ados niveis de desi- Alvaro Comin gualdades regionais (to comuns nos chamados paises em desenvolvimento), no podem ser explicados apenas pela disposigio de recursos naturais ou pela localizagio geogrifica; tao pouco por fatores meramente “culturais”. Na maioria dos casos estas desigualdades sao também o produto de politicas dos estados nacionais guiadas por varias formas de “racionalidade”, como as disputas entre elites regionais, a forga dos interesses estrangeiros, os im- perativos (reais ou ficticios) de seguranga nacional e até mesmo pela racio- nalidade “estritamente econdmica” As teorias econémicas oferecem muitas ¢ convincentes explicagdes para 6 fato de que mesmo 0s processos mais “imateriais” de producao tendem a se aglomerar no espagor escala e escopo de produtos, disposicao sobre infra- sstrutura e forca de trabalho especializada, proximidade cultural cognitiva, entre outras. Essa racionalidade econdmica certamente nao escapou aos es- tados nacionais, especialmente aqueles usualmente chamados de estados desenvolvimentistas, como o Japio, a C 6 Brasil e outros paises latino ia do Sul e, claro, a China. Com snericanos também nao foi diferente. atraso € escassez de poupanga doméstica sio boas razGes para concentrar os melhores recursos de uma nagao em um nimero muito limitado de lugares, a fim de obter escala, escopo e todas as vantagens aglomerativas bem descritas pela teoria econémica regional. E esta racionalidade parece “funcionar”, na medida em que estes paises de fato se desenvolveram, alguns de forma espetacular, a ponto de suas cidades centrais, (como Téquio, Seul, Taipei e Xangai) figurarem hoje na galeria das mais, modernas e globalizadas. Mas em muitos casos, a estratégia de hiperconcentracao produziu ele- vados niveis de desigualdade regional, assim como profundas desigualdades internas nestes espagos centrais. Muitos apostaram que mudangas nos mo delos de desenvolvimento dos pafses mencionados, como a abertura comer- cial, induzitiam naturalmente a reversio do viés concentrador. No Brasil dos anos 1990, provavelmente por forga do baixo dinamismo econdmico, isto 6 das baixas taxas de crescimento do produto, a despeito das reformas libs rais, as mudangas neste aspecto foram timidas ou simplesmente nao ocorre- ram (Comin € Amitrano, 2005). Na presente década, as regides mais pobres tem cresc Desenvolvimento “tardio’ lo mais rapidamente do que as mais ricas, em parte como resulta- do das politicas sociais que induziram a acelerag30 do consumo, em parte como efeito da demanda externa por produtos primdrios, em parte por in- vestimentos estatais em infraestrutura ¢ certamente outros fatores poderiam ser acrescidos. Mas 0 fato é que as atividades mais modernas, tanto as in- dustriais quanto as de servigos, continuam fortemente concentradas nas idades-regides ou hiperconcentragio do desenvolvimento? 159 ‘mesmas regides do Sul-Sudeste e, em especial, no Estado de Sao Paulo, ainda muito proximas de sua érea metropolitana e, portanto, de sua capital. Alguns dados sio apresentados neste artigo e ha muita pesquisa académica a susten- tar esta afirmagio. E ia recente em favor das regides ais pobres nao esta de forma alguma descartada, caso 0 ciclo de crescimen- . como se projeta atual reversio desta tem to econdmico nacional se mantenha em acelerag: mente. Estudo recente da MB Asociados, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 20 de junho de 2010 (pp. Bi e BS) sugere que o veror de cre cimento apoiado em transferéncias de renda, que manteve a Regio Nordes te em ritmo bem mais acelerado do que a Sudeste, entre 2003 © 2008, ja dé ados sinais de inversdo em favor do maior dinamismo dos investimentos pi nesta iiltima, com destaque para o Estado de Sao Paulo. © argumento de que o Estado nacional € ainda 0 ator chave para ex- plicar (¢ transformar) 0 perfil das desigualdades regionais é desenvolvido neste artigo em duas diregdes. A primeira aponta para o fato de que a enor me concentragao demografica, de ativos produtivos e de riqueza em Sio Paulo é produto direto do “estilo” concentrador do desenvolvimento brasi leiro, devendo-se em boa medida ao actimulo histérico de politicas direta ou indiretamente patrocinadas pelo Estado nacional brasileiro. A segunda segue © percurso inverso e busca entender os efeitos da centralidade de Sao Paulo sobre o dinamismo da economia brasileira e sobre as desigualdades regionais tracio de ativos na regio (capital, forga de trabalho, in- fraestrutura fisica e de conhecimento) a qualifica, potencialmente, como centro de irradiacao de influxos modernizantes sobre o restante da economia nacional (0 agente shumpeteriano), mas isto ainda est& por ser demonstrado empiricamente, sob pena de assumirmos como conclusio o que é apenas uma premissa proveniente da literatura internacional, Na segunda secao deste artigo, que se segue a esta introdugao, desen- volvemos, por meio de uma sucinta retrospectiva histérica, a trajetéria de Sao Paulo, destacando que a enorme concentragio do desenvolvimento na: cional nesta regio foi uma combinagao de elementos “locais”, gestados, principalmente a partir do final do século XIX (pela propagagao da cafeicul tura), com 0 estimulo ¢ © planejamento por parte do Estado nacional, a partir do mesmo perfodo, Frisa-se aqui a importincia que a dindmica nacio- nal teve para o desenvolvimento da cidade. Na terceira secdo, tomamos como eixos de anzlise das transformagdes recentes por que passa a economia da cidade trés tpicos recorrentes no debate sobre as economias das gra lades, a saber, a) a natureza setorial da economia da regio; b) a extensio de seu campo aglomerativo; ¢ c) suas A enorme conc des. 160 Alvaro Conia fungdes como espago de inverso ao da segao ant tem para o funcioname outros termos significa distinta e tinica no cena Por fim, nas conel hiperconcentracao uch: sugerindo que ela tance ativos mais nobres (com empresas de servigos es universidades etc.); qua aprofunda a dinamica « areas metropolitanas, O pals & wciabr Ao contrario dam. surgimento precede em n Brasil as cidades so pro gratérios. O emprego ma Profundamente (e até os « mento econdmico e, em urbanos, sem os quais 0 5 ‘Como bem se sabe, nizagio portuguesa, a cid € pouco importante entre Foi s6 com a expansio da interior do Estado de Sao sede das atividades comer: nova ¢ extraordinariamen se di j4 nos quadros da tr. pendente e sob a clara pers muito cedo (pelos menos dc polo de atragio de volumos a0 longo de quase todo 0 destino) recebeu sucessivas italianos, espanhdis, alemi iaponeses, coreanos, para n Cidades-regides ou hiperconcent »Paulo, ainda apital. Alguns nica a susten- or das regiGes de crescimen- projera atual- 10 Estado de vetor de cres- egiio Nordes- 42 2008, ja dé entos privados have para ex- # desenvolvido de que a enor- iqueza em Sao Ivimento bra lticas direta ow «segunda segue le de Sao Paulo dades regionais. de trabalho, in ialmente, como ite da economia er demonstrado ue€ apenas uma rodugio, desen- a trajetoria de avolvimento na- acais", gestados agio da cafeicul- tado nacional, a dinamica nacio~ s transformagoes \s recorrentes no natureza setori terativoy € c) suas Alvaro Comin fungdes como espago de inovagao ¢ circulagdo de conhecimento. Em sentido inverso ao da secdo anterior, frisa-se aqui a ampla centralidade que a re tem para 0 funcionamento ¢ 0 dinamismo da outros termos significa que ‘onomia nacional, 0 que em la nao é apenas maior, mas qualitativamente distinta ¢ Ginica no cenario brasileiro, fim, nas conclusdes, exploramos algumas das ambivaléncias da hiperconcentragio urbana do desenvolvimento em paises como o Brasil, sugerindo que ela tanto “resolve” (ou mitiga) 0 problema da escassez de ativos mais nobres (como forga de trabalho de elevada qualificagao, redes de empresas de servigos especializados, densidade de instituigdes financeiras, universidades ete.); quanto prolonga as intensas desigualdades regionais e aprofunda a dinamica de s socioespacial dentro destas grandes ‘reas metropolitanas. (O pafs £ A CIDADE Ao contririo da maior parte das cidades europeias ¢ asidticas, cujo surgimento precede em muito ao dos estados nacionais a que pertencem, no Brasil as cidades so produto da colonizacao e de miltiplos processos mi- gratérios. Oe fricana marcard profundamente (e até os dias de hoje) a distribuicao regional do desenvolvi- mento econdmico e, em particular, a forma prego macigo da forga de trabalho esera 10 dos mercados de trabalho urbanos, sem os quais © processo de transformagao capitalista nao ocorre. Como bem se sabe, embora tendo sido fundada logo no inicio da colo- nizagao portuguesa, a cidade de So Paulo permanecera como um pequeno € pouco importante entreposto comercial até quase o fim do século XVII Foi s6 com a expansio da cultura do café pelas terras que hoje compdem 0 interior do Estado de Sao Paulo € que a cidade ganhou importéncia como sede das atividades comerciais e bancérias, impulsionadas, por sua vez, pela nova ¢ extraordinariamente rentavel cultura. O desenvolvimento da re se da ja nos quadros da transi 10 do Brasil para a condigao de nacao inde- pendente ¢ sob a clara perspectiva de extingao da escravidao. Por isso, desde muito cedo (pelos menos desde os anos 20 do século XIX), a regio se tornou polo de atracio de volumosa imigragio internacional. A partir do século XIX a0 longo de quase todo o século XX, 0 Brasil (sendo Sao Paulo o principal destino) recebeu sucessivas levas de imigeantes de origens as mais variadas: italianos, espanhdis, alemaes, poloneses, russos, sirios ¢ libaneses, judeus, japoneses, coreanos, para mencionar os mais importantes em termos numé- Cidades-regides ou hiperconcentrasio do desenvolvimento? 161 ricos, No presente, a cidade continua sendo um polo de atragio de imigragio, agora, sobretudo, de sul-americanos, africanos ¢ chineses, muito embora dadas as dimensoes atuais da cidade, 0 impacto destas novas ondas migra- t6rias seja menor ‘Assim, to importante quanto a acumulagio de capitais provenientes da exportagao de café — que foi um dos elementos que ajucaram a desenhar ystrializagao —, politicas imi lugar da cidade no posterior processo de in gratorias sustentadas tanto pelo Estado central quanto pelo regional induzi- ram a formagio precoce, para 0 contexto brasileiro, de um mercado de tra batho urbano livre, que foi um fator decisivo para que a cidade e a regiao se tornassem o centro de desenvolvimento de atividades em moldes capitalistas. A riqueza gerada pelo café (que chegou a representar dois tercos das receitas de exportacio do pais no inicio do século XX), ea menor depen cia da mao de obra escrava colocaram Sao Paulo no centro do poder polit odo republicano. As oligarquias regionais, cujo onia 0 quando se inicia 0 p poder se fundava na escravidao, foram marginalizadas ¢ sob a he das oligarquias cafeeiras de Sao Paulo o Estado brasileiro atuou intensamen- te para garantir a acumulagio deste setor. Como também é bem sabido, no auge da recessio mundial iniciada em 1929, 0 governo brasileiro comprow ‘ queimou quantidades astronémicas de café para manter a rentabilidade dos negécios, 0 que poderia perfeitamente ser descrito como uma fabulost transferéncia de rendas com foco regional. ‘A Revolugio de 1930, que em larga medida inventou o Brasil contem- pordneo, marca o inicio do ciclo de industrializagio por substituigdes de importagdes. Muitos dos novos investimentos foram feitos na regio de Sio Paulo (incluindo infraestrutura, como transportes, telecomunicagies e ener gia), onde se estabeleceram setores como siderurgia, refino de petréleo € petroquimica. A partir dos anos 1950, quando se inicia um longo ciclo de crescimento acelerado da economia brasileira, a étea metropolitana de Sio Paulo é escolhida pelo governo central para sediar o complexo auromobil tico, que foi um dos maiores motores deste ciclo nacional de crescimento. Outros importantes complexos industriais, como o da metal-mecanica, dos eletrocletronicos, de linha branca, de plisticos ¢ de bens de capital, por exemplo, também tenderam a se concentrar fortemente na regio, dado que ali j4 se formava um amplo setor de fornecedores especializados, mao de ‘obra qualificada para a indiistria, instituigdes financeiras ¢ a proximidade do mais importante porto brasileiro, em Santos. Assim que, entre os anos 1950 08 1970, a Regio Metropolitana de Sao Paulo respondia sozinha por mais ‘da metade do produto industrial do pais. Como 0 modelo de industrializagae 162 Alvaro Comin brasileiro (sempre capit ateagao de capital multi se transformou, pela pre palmente norte-america certamente contribui pai mais cosmopolita do qu Isso fez da cidade Para migrantes de todas cial da regio, Uma vez 1 fundidrias concentrador: em especial da Regio \ Brasil viveu sua curva det 1,3 filhos por mulher) es cidades passou de 36% | gantesca foi ainda mais ac do pais crescew trés veres dade de So Paulo cinco habitantes em 1950 para ra dos anos 1960 e 70 te tracio urbana, mas autor Liicio Kowarick (Kowari populacional na cidade e © ciclo de crescimento in 1970. A ampla disponibil vasto mercado informal ¢ dustrial hiperconcentrada A reversio do proces dade caminha para a estal buem para isso: redugio n: Outras regides de desenvol explosio dos precos da ter obra de baixa qualificacio Populagées de mais baixa do um novo tipo de segreg O que se pretende mo de de Sao Paulo é hoje um nacionalizado, onde se cor conhecimento, isso se deve muito de s energia deser Cidades-repides ow hiperconcent Jeimigragao, 1ito embora, ondas migra- provenientes ma desenhar politicas imi- sional induzi- reado de tra- Pea regio se scapitalistas. nis tergos das vor dependén- » poder politi- agionais, cujo a hegemonia uintensamen- em sabido, no lcito comprou rentabilidade uma fabulosa Brasil contem- ibstituigdes de tregido de vicages € ide petréleo € longo ciclo de yolitana de S20 ‘0 automobil {e crescimento. meciinica, dos de capital, por sgido, dado que izados, mao de proximidade do reasanos 1950 ozinha por mais industrializagao Alvaro Comin brasileiro (sempre capitaneado pelo Estado central) foi muito apoiado na atragio de capital multinacional, o ambiente empresarial da cidade também grandes conglomerados industriais, princi- palmente norte-americanos, alemaes, italianos, franceses ¢ japoneses. Isso certamente contribui para dotar a cidade de um ambiente de negécios muito setransformou, pela presenga di mais cosmopolita do que 0 resto do pais. Isso fez. da cidade € de seu entorno o polo de atragao por exceléncia para migrantes de todas as partes do pais, gerando um crescimento exponen: cial da regio, Uma vez mais, o Estado brasileiro, langando mao de politicas fundisrias concentradoras, deu suporte ao adensamento da regiio Sudeste, i Metropolitana de Sio Paulo. Entre 1950 ¢ 2000, 0 Brasil viveu sua curva demografica (a taxa de fecundidade recuou de 5,9 para cm especial da R 1,3 filhos por mulher) e se tornou um pais urbano (a populagio vivendo em cidades passou de 36% para 81%) (Berqué, 2001). Esta transformagio gi- gantesca foi ainda mais acentuada na cidade. Neste meio século, a populaga do pais cresceu trés veres, a do Estado de Sao Paulo quatro vezes ¢ a da dade de So Paulo cinco veres, passando esta de pouco mais de 2 milhées de habitantes em 1950 para mais de 10 milhdes em 2000. A literatura brasilei ra dos anos 1960 ¢ 70 tendeu a acentuar o carter disfuncional da concen- tragio urbana, mas autores como Francisco de Oliveira (Oliveira, 1972) ¢ Liicio Kowarick (Kowarick, 1975) jé apontavam o quanto 0 adensamento. populacional na cidade e na regido metropolitana foram fundamentais para o ciclo de crescimento industrial acelerado vivido pelo pais na década de 1970. A ampla disponibilidade de mao de obra ¢ mesmo a existéncia de um vasto mercado informal de trabalho serviram de suporte & acumulagio in= dustrial hiperconcentrada. A reversio do processo demogréfico, no entanto, ja se deu € hoje a ci: dade caminha para a estabilizagio de sua popula buem para isso: reduga otras regides de de explosio dos pregos da terra na cidade; e a reduga Jo. Varios fatores contri 9 nos fluxos migratérios e seu redirecionamento para envolvimento mais recente; 0 elevado custo de vida ¢ a na demanda por mao de obra de baixa qualificagao. A cidade hoje cresce pouco e tend expulsar as populagdes de mais baixa renda para os municipios em seu entorno, get do um novo tipo de s \cdo espacial da pobreza. © que se pretende mostrar com esta digressao historica € que se a cida de de Sao Paulo € hoje um polo urbano razoavelmente cosmopolita ¢ inter nacionalizado, onde se concentram os setores mais intensivos em capital ¢ conhecimento, isso se d a0 fato de o pais como um todo ter canalizado muito de sua energia desenvolvimentista para a regido. Num padrao mais Cidades-regides ou hiperconcentragio do desenvolvimento? 163 ‘ou menos tipico de paises em desenvolvimento, a hiperconcentragao urbana atende ao imperativo de concentrar regionalmente os recursos nacionalmen- te escassos, como 0 capital para os investimentos produtivos, os servicgos sociais ¢ as instituigdes mais avangadas de ensino e pesquisa. Pode-se diz quea estratégia de hiperconcentracao “funcionou” na medida em que o pais conseguiu dar o salto, tornando-se uma das dex. maiores economias indus- triais do mundo. Mas ao custo de uma desigualdade regional e social que € proverbial ha décadas. Historicamente, 0 processo de concentragao tem sido tivo € se retroalimenta, como argumentamos a seguir, € assim como cumu a concentragio se deveu a politicas do Estado nacional, é dificil acreditar que as forcas de mercado sozinhas, sem novos esforgos provenientes do governo central, venham a reverté-la, A cIpape £0 pals Retomando a citagio ao trabalho de Storper ¢ Scott feita no i te artigo, a ideia de que as cidades-regides — grandes areas metropolitanas — sao as “locomorivas” das economias nacionais contém trés aspectos que merccem detalhamento, por se associarem mais de perto ao carter das gran- des cidades de paises em desenvolvimento, Sio Paulo em particular. Sao eles: a) a importiincia da indiistria manufatureira; b) a extensio do raio de gravi taco destas cidades; ¢ c) seu papel nos processos de inovacio e ineremento produtivo. O problema das relagdes entre o regional e © nacional sera reto- mado nas conclusdes. Cidade pos-industrial? As teses p6s-industrialistas sio antigas € tem muitas verses diferentes, ‘mas basicamente convergem para a ideia de que o desenvolvimento presente, altamente intensivo em tecnologias informacionais, projeta as sociedades, para economias bascadas cada vez mais na criagao € circulagio de bens imateriais, perdendo importincia os processos manufatureiros. Esta tendén cia encontra nas grandes cidades 0 seu zénite. E claro que autores como Castells e Sassen sabem perfeitamente que o declinio das manufaturas — 4o industrial especialmente daquelas mais caracteristicas da segunda revolu — nos paises muito ricos — Europa & frente — tem como contrapartida 0 colossal processo de industrializagio vivido nas tikimas décadas pelos paises em desenvolvimento. Visto do “Sul”, que esté em curso ainda parece ser od Alvaro Comin uma vasta revolugio inde mia pés-industrial, essene nomia” no se desenvoh ‘contrério — mas ela nos reira desempenha e conti ‘mento mais recente. Ma: académico, no senso con Policy makers a associagi« rias, ou simplesmente a te: ‘man, 2004). Vejamos, en Paulo ilumina esta contro Como ja se expos na industrializagao brasileira lo XX, Em meados dos a concentrava mais de 50% 10% da populagao. A part tem inicio um proceso de lo com a expansio de novi -oeste € a0 norte do p concentra cerca de 40% « areas limitrofes & regiio n industrialmente no pais. Is ‘que a partir dos anos 1970 metropolitano, continuara maior porte, multinacionai Por isso, muitos especialiste da macrometrépole de Sao de habitantes, composta pe Paulo (Sao José dos Campe tram diversos tipos de indii Cumpre adicionar que em algumas das mais imp: para o mercado nacional e proeminé Para automéveis, energia e suco de laranja (seror em qt ia que dio a0 Br 2 Balangos recentes deste d (2009), Cidades-regides ou hiperconcentr agio urbana tacionalmen- 4, 08 servigos: Pode-se dizer 2m que o pais comias indu esocial que € agao tem sido eassim como acreditar que zs do governo no inicio des- netropolitanas s aspectos que rier das gran- cular, Sao eles: yraio de gravi- o¢incremento ional sera reto- ‘des diferentes, mento presente, 1s sociedades lagio de bens os, Esta tendén- e aurores como manufacuras — (0 industrial Alvaro Comin. uma vasta revolugao industrial, menos do que o surgimento de uma econo- o que a chamada 10 se desenvolva nestes paises — ha muitos bons ex: mia p6s-industrial, essencialmente tercidria. Na “nova eco- plos em contrario — mas ela nao substitui o papel crucial que a indistria manufatu- reira desempenha € continuara desempenhando nas nagoes de desenvolvi- mento mais recente. Mas isso ndo impediu que se disseminasse no meio académico, no senso comum e, 0 que é potencialmente mais grave, entre policy makers a associagao entre metrépoles “modernas” e atividades tercic: rias, ou simplesmente a tese da metrépole tercidria (Meyer, Grostein ¢ Bider- man, 2004), Veiamos, entio, como a trajetéria recente da cidade de Sto Paulo ilumina esta controvérs Como jd se expés na seco 2, Sao Paulo foi o epicentro do processo de desde o seu inicio, nas primeiras décadas do sécu- lo XX. Em meados dos anos 1950, a Regio Metropolitana de Sao Paulo concentrava mais de 50% da produgao industrial brasileira, com menos de 10% da populagao. A partir dos anos 1970, sob indugao do governo federal, tem inicio um processo de desconcentracao relativa da industria, em parale- o.com a expansao de novas fronteiras de desenvolvimento rumo ao centro- -oeste e a0 norte do pais. Mesmo assim, hoje 0 Estado de Sao Paulo ainda industrializagao bras’ concentra cerca de 40% da produgao industrial brasileira. Isso porque as {reas limitrofes & regiio metropolitana esto entre as que mais avangaram industrialmente no pais. Isso revela que os novos investimentos industriais, que a partir dos anos 1970 comegam a evitar a ci metropolitano, continuaram atraidos por ela, onde muitas das empresas de lade © mesmo seu entorno maior porte, multinacionais especialmente, mantém suas sedes corporativas. Por isso, muitos especialistas brasileiros vém ha tempos falando na formagao da macrometrépole de Sao Paulo, uma conurbagao de perto de 30 milhoes de habitantes, composta por quatro reas metropolitanas limitrofes a de Sto Paulo (Sao José dos Campos, Campinas, Santos e Sorocaba) onde se concen- tram diversos tipos de indiistria, das mais tradicionais s mais inovadoras.? Cumpre adicionar que o Estado de S20 Paulo tem grande peso també em algumas das mais importantes cadeias de produgdo de bens primarios para o mercado nacional e internacional; trés delas merecem destaque pela proeminéncia que dao ao Brasil: 0 complexo da cana-de-agticar (combustivel para automéveis, energia elétrica, a o animal, entre outros usos}; suco de laranja (setor em que o Brasil é lider mundial) ¢ carnes (idem), seto- ar, ra 2 Balangos recentes deste debate podem ser encontrados em Abdal (2009) ¢ Matteo (2009) Cidades-regides ou hiperconcenteagio do desenvolvimento? 6s res em que o pais conta hoje com multinacionais de grande porte. Nao ha diivida que a riqueza gerada por estes setores (que esto entre os que mais cresceram nos iltimos anos no pais) converge de variadas formas para a cidade de So Paulo, O mesmo se deve esperar das novas fronteiras maritimas de exploracio de petréleo (parte delas localizadas no litoral do estado}, que deverio reforcat 0 peso das cadeias quimica e petroquimica, ja ha muito um setor de peso na regido (a maior refinaria de petrdleo do pais esta localizada no municipio de Paulinia, na regidio de Campinas, ¢ em torno dela se aglo- meram grandes multinacionais dos setores de quimica fina) Apesar do encolhimento relativo da indiistria manufatureira na cidade em sua area mettopolitana, esta continua sendo extremamente importante tanto para a economia local quanto para a nacional. Sobretudo ao longo dos anos 1980 ¢ 90, esta indiist ticas: a utilizagdo de espagos menores, o crescente recurso a subcontrataga de servigos (de baixa ou de alta complexidade) e a manutengaio na cidade de sedes ¢ centros de P&D, enquanto suas plantas se mudam para outras re ides, especialmente para o entorno da cidade. A manufatura representa 22% do valor adicionado do municipio’ e cerca de 16% do total do empre se reestruturou, adquirindo novas caracteris- go da cidade, cifra bastante relevante (ver Tabela 1). Tabela 1 ESTABELECIMENTO, EMPREGO E MASSA SALARIAL SEGUNDO GRANDES SETORFS FCONOMICOS, Municipio de Sio Paulo, 1997 e 2005 Lor 2005 Setoes de Estabeleimento mprego MS Fstaelecimento Emprego MS atividade © % w % % e% o % % Indira de transformagio. 74286 140 549.050. 224 Soa 118 459761 166 40,7 1STRATS Serio 9241 $12 1280324 S10 578 Coméecio 6.020 80,6 A7OGII 192 1A SORLET 4436.83 Constr ul 22463 42 17947L 73 $2 21H89 M374 Sk 38 Tora 532.010 1000 2.449.536 10040 100,0 | 681.916 100,0 2.823247 100,0 1000 “Fm reais de 12/2006, Inflaror: INPC/IBGE, Fonte: RaiyMTE, Elaboragiio Cebrap. al 2007. > Fundasio Seade, PIB Muni 166 Alvaro Comin Mesmo setores tradic valorizando partes de me design e a moda. £ inter: como esta, mesmo com a deslocamento de plantas de, a despeito das forgas (Kontic, 2007). No que « surgiram. Por um lado, hi setores como seguranga, « tabilidade. E.a exposigao iversificagio da pauta de muitas novas atividades fc contratagdes, como é 0 cas de informatica, do finance servigos juridicos e publicic novas demandas, seja dos potenciado pela concentra mente de escala. Como s¢ divisio social do trabalho nesse sentido, a concentra: dade regional tende a ser ¢ ‘Go nos setores de servigos prescreve o debate sobre a piricas dos paises europeu: Markusen e Schrock ( norte-americanas, utilizam toro de duas definigées especializadas sto aquelas dades (que podem ser tant inddstria automobilistica; | setvigos, como o cinema, a sides da California). Regi ccados que esto além de su: diversificadas sio aquelas + * 0 conecito de exportagi Cializadas em servigos de educs estes tém que consumir © prod Gidades-regies ou hiperconcent rte, Nao ha os que mais rmas para a as maritimas estado), que ha muito um, ti localizada del la se aglo- ira na cidade ¢ importante a0 longo dos as caracteris- beontrataga yna cidade de ara outras re~ ra representa rral do empre- Enmprego | MS 9761 163 184 aa7s 55,9 614 Ls 100,0 10040 ‘gio Cebrap. Alvaro Comin Mesmo setores tradicionais, como téxtil e confes salorizando partes de maior valor agregado na cadeia produtiva, como 0 design e a moda, F inter es, se requalificaram, ssante perceber como uma indiistria tradicional -ompetigao de produtos importados da China ¢ deslocamento de plantas para o Nordeste brasileiro, continua forte na cida~ ‘como esta, mesmo corm de, a despeito das forcas de repulsio previstas pelas teorias aglomerativas (Kontic, 2007}. No que concerne aos servigos, algumas atividad renovaram e outras surgiram. Por um lado, houve, de fato, um impulso com a terceirizagao em setores como seguranga, alimentagao, limpeza, parte da informs tabilidade. E a exposigao dindmica concorrencial do mercado forgou uma diversificagio da pauta de servigos ofertados e dos clientes. Por outro lado, ae con- muitas novas atividades foram criadas, gerando uma complexa teia de sub- contratagdes, como ica, do financeiro ¢ de consultorias especializadas (em gestao, servigos jurdicos e publicidade). O surgimento de novos servigos a arenderem, o caso de certos nichos das telecomunicagoes, do setor de inform novas demandas, seja dos setores produtivos jd existentes, seja do consumo potenciado pela concentragao de familias com elevada renda, depende igual: mente de escala, Como se sabe desde Adam Smith, 0 aprofundamento da divisio social do trabalho depende direramer nesse sentido, a concentracao regional em dade regional tende a ser cumulativa. Por isso a cidade ganha em participa- go nos setores de servigos sem deixar de ser industrial, a0 contririo do que fe da escala dos mercados ¢, contexto de elevada desigual- prescreve o debate sobre as megacidades (muito inspirado em situagoes piricas dos paises europ Markusen e Schrock (2006), em estudos sobre as éreas mectopolitanas norte-ameri torno de duas definigdes polares: especializacao ¢ diversificagao. Res cspecializadas so aquelas em que ;nas, utilizam um sistema de classificagao que se organiza em gides destaca um conjunto limitado de ativi- dades (que podem ser tanto industriais, caso de Detroit nos anos dureos da indistria automobilis financeiras e comerciais, como Nova York; ou de indiistria de software e a inchistria bélica em re~ sides da California). Regities especializadas tipicamente produzem para mer servigos, como o cinema, cados que estao além de suas fronteiras ¢ por isso sao exportadoras.* Regides diversificadas so aquelas em que os diversos tipos de atividades se combi- * 0 conceito de exportagio pode ser apenas figurativo. Cidades turisticas ou espe ciaizadas em servigos de educagio e medicina, por exemplo, produzem para outros, mas estes tim que consumir © produto localmente. Cidades regi cou hiperconcentragio do desenvolvimento? 167 nam de maneira equilibrada (isto é, reproduzem a estrutura produtiva pre- dominante nas areas metropolitanas do pais como um todo), destinando sua producao principalmente ao consumo local. Cidades especializadas tendem a ter elevada produtividade em setores especificos, por forga dos ganhos de escala (as economias aglomerativas marshaliantas), mas so muito mai neraveis aos ciclos de produtos; quando um produto perde importancia ou € conquistado por novas regides mais produtivas, as regides nele especiali- zadas podem entrar em declinio (foi exatamente o caso de Detroit, quando a indistria automobilistica se desenvolveu em paises como 0 Japao). Regides diversificadas gozam da multiplicidade de competéncias produtivas (as van- tagens de tipo jacobianas) e podem ser mais flexiveis para se reestruturar em face de mudangas globais. Usilizando estes conceitos (ainda que com recursos metodol6y rentes), Abdal realiza um exercicio de caracterizagio das principais regi metropolitanas brasileiras e conclui que a Regido Metropolitana de Sio Paulo — e somente cla — se caracteriza por ser a0 mesmo tempo especit zada ¢ diversificada. Utilizando uma classificagdo de atividades produtivas baseada em intensidade tecnol6gica, a regido apresenta concentragées acima ‘da média em quase todas as atividades de maior contetido tecnoligico, sejam clas industriais ou de servigos. Entre as atividades mais intensivas em tecno- logia ¢ conhecimento destacam-se: microeletrénica, automagao industrial, fabricagdo de equipamentos dpticos, equipamentos de informatica, equipa- mentos médico-hospitalares, odontolégicos e farmacos, desenvolvimento de software ¢ consultoria em sistemas, telecomunicagdes, engenharia, publici- lc, pesquisa, atividades financeiras, atividades de midia, de educagio e de satide (Abdal, 2010), Regides metropolitanas como Curitiba e Campinas se destacam pela elevada concentragao de indtistrias mais modernas; 0 Rio de Janciro em servigos intensivos em conhecimento (como servigos sociais, publicidade e midia)s ¢ as regides metropolitanas de Recife ¢ Salvador se destacam espe cialmente pela concentragao de atividades tipicas do setor pablico. No caso de Sao Paulo, os setores de servigos mais modernos so espe- cialmente importantes e tendem a se destacar da indistria manufatureira, no sentido de que nao sio meros desdobramentos ou suportes desta. Concen- -0s dife- tramse na cidade setores como 0 financeiro (bancos, corretoras ¢ servigos relacionados), consultorias diversas (direito e gestao), a tecnologia da infor magio e, ainda, atividades de midia ou da chamada economia eriativa, como cinema, radio, TV, jornalismo, publicidade, games ¢ cultura (Torres-Freite, 2010). a Alvaro Comin a EMPREGO, INDUSTRIAS DE ALTA E ESERVICOS INTE Sa0 Paulo, Porto Alegre lar Mar ster EMS or MS or Ms Sto Paulo 107 124 7 180 255 Rio de Jan 21 36 120 16 Belo Horizonte 08 06 10 06 63 52 Porto Agee 1010 Recite 03°02 06 04 16 14 Salvador OI Or 02 02 19 16 2 Custis MOORS 19 19 39 35 2 Basil 100100 100 100 100 100 16 Ee 80 formal (%) MS = Massa slarial em RS de 122008 (6 Obs. Exclusive administasso pli, TAIT = tndsriae de ales ntensidade cok tos, veiculosautomotores IMAIT = Indistias de médias intense SIC-T = SIGs tecnologiceninformdtic, le arguiteeura en ios de materia, SIG-P = SICS profisionis:aividades juriie aulo: Companhia sessment”. Regio ‘sido Merropolita- siratura ocupacio ‘Adalberto; ELIAS, nidades:reestritu- laterna ¢ no Brasil IMlusion: Economic ER, Simon; VOLK- lobalizing Cites in ‘onal Urban Specia~ 70. os de injluéncia das ces sociais". Tese de riea Latina. Rio de Divergent Patterns 1.43, n° 8, Summer, Doutorado, IE-Uni o Paulo: metrépole tio dualista”. Novos 5° Regional Studies, Alvaro Comin SASSEN, Saskia (2006), Cities in a World Economy. Londres: Sag SEGBERS, Klaus; RAISER, Simon; VOLKMANN, Krister (2007). The Making of Global City Regions: Joharmesburg, Mumbai/Bombay, Sao Paulo, and Shavrebai. Baltimo- 10: The Johns Hopkins University Press. SP TURIS (2008). Indicadores e Pesquisas do Turismo: Cidade de Sto Paulo. STORPER, Ms SCOTT, A. (2003). “Regions, Globalization, Des Studies, wol. 37, n° 6:7, pp. 579-93, ago-out. STORPER, M.; VENABLES, A. J. (2004), “Buzz: Face to Face Contact and the Urban Economy”. Journal of Economic Geography, vol. 4, a" 4, Oxford, Oxford Unive opment". 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