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ose‘) ap Opnysy ChIEpI Ie IL EPH ET TIES EL ED) DROME Rae TCLeCyE NC] PR ree eran reer ctt ROC atte nettle Sean Raat RC TeC rR e Proencny acct ene cent) erenrceietmercce tet Poet oo ect Ce eter ee ey eat Moc enean ne nrc) Peace een ytd Sr enecnise Oran id Serials) Ue FIDELIDADE PARTIDARIA IMPEACHMENT E JUSTICA ELEITORAL, (Bstudo de Caso) APRESENTACAO De um estudo anterior, surgiu a idéia deste singelo trabalho. Trata-se de um pequeno livro em que ensaio desen- volver um discurso juridico voltado a solugiio de um caso. O interesse pelo livro pode decorrer da metodologia utilizada, assim como do préprio caso, tendo em conta as varias ques- tes enfrentadas. Os contornos da autonomia partidaria, a de- limitagao do territ6rio da fidelidade partidéria, 0 contetido das diretrizes fixadas pelos partidos, 0 problema da candidatura nata, a possibilidade de eleigao de diretriz. vinculando voto em processo de impeachment, 0 cabimento de mandado de segu- ranga contra ato de dirigente de agremiagao politica, o con- trole jurisdicional da atividade partidéria, a competéncia da Justiga Eleitoral neste sitio, so todos pontos da maior impor- tancia desenvolvidos, ainda que brevemente, no texto. Para a melhor compreenséo do caso formulado, 0 texto vem acompanhado de alguns anexos: (i) artigos perti- nentes da Constituigdo Federal; (ii) Lei Organica dos Partidos Politicos; (iii) Lei Federal 9.504/97 na parte relativa & candi- datura nata; (iv) estatuto do partido; (v) resolugao que fixou a diretriz, partidaria; (vi) declaragiio de voto dos parlamentares representados e, finalmente (vii), a representagao por infideli- CLEMERSON MERLIN CLEVE dade partidéria. Com tais anexos, fica fécil a compreensio do scurso juridico construfdo com apoio em metodologia sin- gular e, por isso, distinta daquela usualmente utilizada, no Brasil, pela doutrina juridica. Tenho esperanga de que o en- saio possa merecer acolhida entre os estudantes de Direito ¢ indulgéncia entre os iniciados. Finalmente, agradego advogadas Cibele Fernandes Dias, mestranda em Direito Administrative na PUC/SP e Iva- nize Gongalves, pés-graduanda do Curso de Especializagio €m Direito Processual Civil do IBEJ, ambas integrantes da equipe do meu escrit6rio de advocacia, diante do indispens: vel trabalho de pesquisa e pelas saborosas discussées que emergiram durante a realizago deste despretensioso estudo, Curitiba, 05 de margo de 1998. Clemerson Merlin Cleve Rene 42 43 44 45 46 weaaua SUMARIO O caso em exame. 1 Metodologia da exposigao .. taducis. 15 Os partidos politicos e a Constituigao de 1988 Ww A Constituigéo de 1988 e o problema da fideli- dade partidaria, 23 Requisitos para a configuragao da infidelidade partidaria 32, O cumprimento da diretriz partidari 36 Oerxercicio regular de direito 41 A natureza do impeachment ¢ a atividade parla- mentar ., AS problema da candidatura nata .. 57 A autonomia dos partidos politicos e 0 controle judicial .. 65 Conclusées ..... 77 Respostas as questoes propostas.........0. 83 Referéneias bibliograticas 85 Anexos 89 indice alfabético ... 129 1-O caso em exame O presente estudo parte da anilise de caso, formula- do hipoteticamente, em que deputados estaduais sto repre- sentados por suposto ato de infidelidade partidéria, mediante pedido formulado pelos préprios pares, com requerimento de expulstio do partido, instaurando-se 0 procedimento respectivo junto ao 6rgao partidario competente. ‘Nas representagdes oferecidas pelos parlamentares, alega-se que o partido a que estio filiados os deputados repre- sentados estabeleceu, mediante resolugdo, como “diretriz a ser observada pela bancada junto 4 Assembléia Legislativa, 0 voto pela admissibilidade dos pedidos de impeachment con- tra 0 Governador do Estado, 0 Vice-Governador do Estado, 0 Secretdrio de Estado da Fazenda e 0 Procurador-Geral do Estado”. Pois bem, os representados ¢ os demais deputados da bancada votaram favoravelmente 4 admissibilidade dos pe- didos de impeachment, Admitidos, todavia, os pedidos, com 0 voto favoravel dos deputados em questo (primeira fase do processo), a dentincia foi rejeitada (segunda fase do processo), sendo certo que os representados contribuiram para isso na medida em que se abstiveram de votar. Nao foi alcangado, portanto, 0 mimero de votos necessérios para a decretacio da acusagio. CLEMERSON MERLIN CLEVE Entenderam os representantes que 0 atuar parla- mentar dos deputados representados acabou por implicar que- | bra de diretriz partidéria, configurando-se em ato de infidel dade partidéria passivel de censura com a aj de expulsio, ago da pena Diante do caso formulado, so as seguintes as questées demandantes de enfrentamento: (1) Eventual contencioso envolvendo a questio constituiré matéria a ser dirimida perante qual Jus- tiga (omum, estadual ou eleitoral)? (2) Ocorrente lesio ou ameaga de lesio a direito dos deputados representados, ¢ uma vez satisfeitos 0s pressupostos definidos em lei, sera cabfvel a im- petragdo de mandado de seguranga, tratando-se os partidos politicos, atualmente, de pessoas jurfdicas de direito privado? (3) Na aplicacao das penalidades previstas estatuta- tiamente, esto 0s partidos politicos vinculados ao especificado cm lei, especialmente a partidéria, ¢ na Constituigio? (4) Qual a verdadeira dimensio da autonomia par- tiddria conferida pela Constituigao? FIDELIDADE PARTIDARIA B (5) Detendo a titularidade de candidaturas natas, na forma do que prescreve a Lei 9.504/97, so os de- putados representados passfveis de expulsio? (6) Pode Comissio Executiva fixar diretriz, na me- dida em que nao substancia érgio de direcao parti- daria? (7) & cabivel a fixagdo de diretriz partidaria em matéria de julgamento de autoridade pela pratica de crime de responsabilidade? (8) A escusa de consciéncia pode ser invocada contra eventual diretriz. partidéria? 2. - Metodologia de exposicio No desenvolvimento do presente estudo, mente, cumpre desenvolver algumas consideragdes: (1) sobre a disciplina normativa dos partidos poltti- cos & luz da Lei Fundament (2) sobre o instituto da fidelidade partidéria. Na seqiiéncia, com sustentagio nas consideragoes feitas, passar-se-é (3) anélise da questo substanciadora do objeto deste estudo. Somente depois deste pico, serdo oferecidas, de modo objetivo ¢ por meio de conclusdes parciais, as respostas aos problemas formulados. A ordem de exposigiio no observard a sequiéncia de formu- lagdo das questdes. 3 - Os Partidos Politicos e a Constituicao de 1988 No Brasil, foi a Lei Fundamental de 1946 a primeira 4 cuidar do partido politico em sede constitucional. Com a “arta de 1967, os partidos tiveram seu regime estabelecido em apitulo proprio, dedicado a fixar as linhas mestras da organi- zacio, funcionamento ¢ extingdo, regime este que seria, de- pois, complementado pelo especificado em lei federal. ‘A Emenda Constitucional 1/69 (art. 152) manteve a mesma orientagao. Tratou, portanto, da matéria em capitulo proprio, consignando algumas modificagées quanto ao texto origindrio de 1967. A Constituigao de 1988, assim como a anterior, adotando a orientacdo da Lei Fundamental de Bonn, de 1949, fixa no seu texto as linhas estruturais da disciplina normativa dos partidos politicos. Trouxe, todavia, algumas novidades. 0 principio basico encontra-se plasmado no art. 17, segundo 0 qual: E livre a criagdo, fusdo, incorporagao e extingdo de partidos politicos, resguardados a soberania nacional, o regime democrdtico, o pluripartidaris- ‘mo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: CLEMERSON MERLIN CLEVE 1 - cardter nacional; 11 - proibigdo de recebimento de recursos financei- ros de entidade ou governo estrangeiros ou de bordinagao a estes; III prestagao de contas a Justiga Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a le Como se vé, 0 § 1° do art. 17 confere aos partidos autonomia para definir sua estrutura interna, organizagio ¢ funcionamento, Quanto a personalidade juridica, nos termos do § 2°, esta é adquirida na forma da lei civil, exigido o repis- tro dos estatutos no Tribunal Superior Eleitoral care quo asi 9.09905 dine o pridos pots come peeoes do drake pvad, Esta 6, unimante, poate da autin' hsprodoe ci. Ha autres, todavia, cu pone de mado dana, Chon-se por eso tle, So SERVULO DA CUNHA (A lel dos parios policae Tn VELOSO, Cares téro da Sha © ANTUNES ROCHA, Conon Lica (Coord) iret eletorl Beto Horizont: De Fy, 1990p.) Segundo Aur "No Bras os cargos poiteos nos Poderes Lapsed e Exons ss Preenchides modane oekdes, e 35 ve aarte canada medians a heat fe partie (CFB, at 14, § 2% V.Pontama om o concuo dos pate, "oh como organza edosompontar a hres stan. Na cemocraca moderna, nao pode polio, nm Estado, no a par polton, Rea Salt, data natura plea do art. Coma os partes polteos aso Personakando fra na forma oa cil (78, at. 17, 929, gun ox colonies autores, predptadarent, entenderam due aio pessoas urdeas db doe prvac, No mesmo aauvoco mcs aol 008, omaau an 1 FIDELIDADE PARTIDARIA Sustenta Celso RIBEIRO BASTOS que, ao tratar os partidos politicos, a Constituigao elege a liberdade parti- diiria como ténica da matéria”, Para 0 consagrado jurist 'E certo, todavia, que dita liberdade nao é tbso- lutamente incondicionada. Pelo contrario, oVexto Constitucional fixa principios e cria deveres e in- cidéncia obrigatéria sobre os partidos polticos. No entanto, fica nitida a maior autonomis dos partidos em dois pontos fundamentais. a) a auséncia, na Constituigdo, de requisitosmini- mos a serem satisfeitos, como acontecia no Texto anterior, que fixava cotas minimas de eleitwres a serem obtidas em diversas unidades da Fedengao; ¢b) temas como a estrutura, organizagiio e fincio- namento dos partidos politicos, que antes eram entregues a lei ordindria, hoje sto deferida aos préprios partidos politicos, que, nos seus estautos, dispordo sobre tais matérias"* Na atual Constituigio, portanto, e ao contritio do que ocorria na Constituigao anterior, possuem os partidis po- liticos liberdade de organizagio, podendo, ademais ® BASTOS, Celso Ribeiro e GANDRA MARTINS, Ives. Comentarios a¢onsti- tulgo do Brasil. Sao Paulo: Saraiva, 1988/89, p. 601 BASTOS, op. cit, p. 601. No é por outro motivo que © STF declarouncons- iclonals dispositvos constantes da Lei 8.713/93, que vinculavam tindica- ‘80 de canddatos a corto desempenho do partido poltico no plelb que a antecedeu (ADIn 958/RJ, Relator: Min. Marco Auréli). 0, CLEMERSON MERLIN CLEVE suas normas de estrutura interna e funcionamento, as quais, evidentemente, poderao variar de partido para partido. Se € certo, porém, que aos préprios partidos com- pete a defini¢fio da respectiva estrutura interna, no é menos certo que pode a lei, respeitada a autonomia conferida pela Constituigao, fixar determinadas regras para efeito de compa- tibilizar a liberdade partidéria com outros postulados constitu- cionais de observancia obrigatéria, Cumpre, entio, deixar cla- To que a autonomia do partido imuniza a agremiago da inter- feréncia indevida do legislador ordinério, mas no imuniza totalmente a agremiagao contra o atuar normativo do legisla- dor, desde que compativel com os pardmetros fixados pela Constituigao. De modo que, nao se tratando de soberania, mas antes de autonomia’, pode, com efeito, o legislador, observado sempre 0 niicleo essencial do conceito, estabelecer alguns pa- rimetros para atuagio partidaria que servirio, inclusive, de base para a elaboragao dos respectivos estatutos pelas agre- miagGes. Nao 6 outro, aliés, o camino seguido pelo legislador brasileiro com a edigao da Lei Organica dos Partidos Politicos (Lei 9.096, de 19/09/95), Pois bem, 0 estatuto residente na Constituigao e na , Tespeitada a autonomia partidaria, na liggo de Manoel ‘Segundo Celso RIBEIRO BASTOS, “Autonomia, pois, ndo é uma amplitude ‘ncondicionada ou iimitada de atuaeao na ordem juridica, mas t2o-somente @ isponibiidad sobre certas matérias, respeitados, sempre, os principias fi xados na Consttuigéo. Autonomia, destarte, & uma area de competéncia cir cunsorita pelo direto; jd a soberania ndo encontra qualquer espécie de limita- eo juridica’. BASTOS, Celso Ribeiro. Dicionétio de direito constitucional. Sao Paulo: Saraiva, 1994, p. 73, FIDELIDADE PARTIDARIA 21 GONGALVES FERREIRA FILHO, tem a finalidade, por um Jado, de: 'propiciar aos partidos condigdes melhores para que colaborem com o funcionamento das institui- (Ges democraticas, realizando a formagdo politica do povo, divulgando planos e alternativas de go- verno, selecionando candidatos Por outro, "visa a impedir que os mesmos atuem como elemento perturbador das referidas institui- ¢0es, servindo para o predominio de oligarquias, acobertando a agdo do poder econdmico. Com efeito, segundo assinala DUVERGER, ‘numa de- mocracia os partidos séo ambivalentes: de uma parte, servem para organizé-la sem que ninguém possa substitut-los, nessa fungdo; de outra parte, contém em sium certo ntimero de venenos, capazes de destrui-la ou, ao menos, de deformd-la' (Partis politiques et démocracie. Vie intelectuelle, out/1946, p. 63)."° 5 FERREIRA FILHO, Manoel Gongalves. Comentarios a Constituigo Bra leira de 1988. V. 1. Sto Paulo: Saraiva, 1990, p. 195. 4- A Constituig&o de 1988 e o problema da fidelidade partidaria Contempla a Constituigdo de 1988 o instituto da fi- delidade partidaria. Dispoe o art. 17, § 1°, que os partidos po- Iiticos devem, nos seus estatutos, estabelecer normas de fide- idade e disciplina partidérias. Por seu turno, a Lei 9.096/95 trata da matéria nos arts. 23, 24 e 25. Nos termos do art. 25, o "estatuto do partido poderd estabelecer, além das medidas disciplinares basicas de caréter partidério, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporario da bancada, suspensio do direito de voto nas reunides internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e fungdes que exerga em decorréncia da representago € da proporcao partidaria, na respectiva Casa Legislativa, a0 parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, as diretrizes legitimamente estabelecidas pelos érgiios parti- darios". Ao contrdrio, entio, da Constituigao anterior, a nova nfo prevé a possibilidade da perda do mandato em fungdo de infidelidade partidéria®, Segundo José AFONSO DA SILVA, © OVANI, Celeste Vicente © DUARTE PEREIRA, Marco Anténio. Fidolidado partdéria, Revista do TREIRS, Porto Alegre, set./dez. 1996, p. 35-29. BISPO 24 CLEMERSON MERLIN CLEVE além de nao admitir a perda do mandato em face de infidel dade partidaria, a Constitui¢do vai mais longe, estabelecendo vedacio nesse sentido. Deveras, no art. 15, a Lei Fundamen- tal, "declara vedada a cassagdo de direitos politicos, sé ad- mitidas a perda e a suspensdo deles nos estritos casos indica- dos no mesmo artigo"’. Jé a Constituigio anterior (Emenda Constitucional 1/69) nao s6 exigia que os partidos reclamas- sem disciplina de seus membros como previa a perda do man- dado do parlamentar que deixasse 0 partido pelo qual fora cleito ou descumprisse as diretrizes legitimamente estabeleci- das pela diregdo partidéria. A matéria era regulada pela Lei 5.682/71. A Emenda Constitucional 5, de 15/05/85, suprimiu SOBRINHO, José. Comentérios & Lei Organica dos Partidos Pe Brasfia: Ed) Belo Horizonte: Editora Del Rey, 1996, p. 185, ANDRADA, iroito Partidério: Comentarios & legislagao em vigor. Centro de Documentacao © Intormagéo - Coordenacio de Publicagbes. Brasi 1997, p. 39. JARDIM, Torquato. Direito eleitoral positive. Brasila: Ecitora Brasilia Juridica, 1994, p, 95. A Emenda Const ional 1, editada a 17/10/69, pela Junta Ineorporou ig80 © principio da fidelidado partdaria do seguinte erderd 0 mandato no Senado Federal, na Camara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas @ nas Camaras Municipais quem, por atitudos 0u pelo voto, so opuser as diretrizes legiimamente estabolocidas peles ér- .gli0s de direpao partidéria ou deixar 0 partido sob euja legenda foi eleito. A Perda do mandato serd decretada pela Justica Eleitoral, mediante represen. tapao do partido, assegurado o direito de ampla defesa’ SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 10* ed,, ‘So Paulo: Malhelros. 1995, p. 986-387. No mesmo sentido Maria Licia F. COMPARATO: ‘para que a infidelidade paridéria fosse punida com a perda do mandato eletivo, mister se faria previsado consttucional, o que néo ocorre." COMPARATO, Maria Lucia F. Fidelidede partidéria, Revista de Direito Pu- blico, Sao Paulo, n. 96, 1990, FIDELIDADE PARTIDARIA 25 o Instituto, agora revigorado, em outras bases, pela Constitui- filo de 1988. Néo se manifesta, todavia, como adverte Celso RIBEIRO BASTOS, um "reiorno integral a antiga fidelidade f disciplina partidérias. Isto porque eram elas impostas pela Constiigao € regulamentadas na legislagao subconstitucio- jul. No momento, a Lei Maior exige simplesmente que os es- Jatutos incorporem normas de fidelidade e disciplina partidé- vias, 0 que, necessariamente, envolve a outorga de uma certa margem discriciondria para que os partidos regulem esses Institutos com maior ou menor rigor. Possibilidade inexistente no regime anterior, quando as regras eram todas heterdno- i mas". Se é certo, entretanto, que os partidos politicos con- tam com ampla margem de liberdade para a tipificagio de condutas caracterizadoras de infidelidade partidaria, nao é menos certo que @ aplicagao das penalidades previstas estatu- tariamente dependerd do respeito aos ditames fixados em lei, designadamente na Lei 9.096/95, ¢ na Constituigao, em espe- cial, no capitulo dos direitos fundamentais. Por outro lado, no se pode tolerar a desnaturago do instituto, de tal modo a permitir a emergéncia da ditadura partidéria ou do dominio dos oligopslios politicos.” Por isso, o instituto, a par de ser © BASTOS, Comentérios..., op. cit, p. 613. Bite ding urigentes partidos. REALE, Miguel. O sistema de representago Be ee | @ 0 regime presidencial brasileiro. Revista Brasileira de Estu- 26 CLEMERSON MERLIN CLEVE utilizado com moderagio, de modo temperado, nao pode des- viar-se de sua finalidade, que & a manutengo da coesio parti- daria, para permitir a persecugdo de objetivos outros que no aqueles legitimos (desvio de finalidade), Nem pode, ademais, transformar o parlamentar em mero aut6mato, em boca sem Vontade, destinado apenas a expressar, sem independéncia ¢ violentando a consciéncia e a liberdade de conviccao, as del beragdes tomadas pelos drgios partiddrios, nem sempre cons- tituidos por titulares de mandatos conferidos pelo eleitorado. Neste ponto, cumpre trazer, ainda outra ve de Celso RIBEIRO BASTOS: "A nds se nos afigura que a profunda indisciplina partiddria reinante no Brasil suscite alguns insti- tutos destinados a manter a coesdo partiddria e fa- zer com que a agremiagdo atue afinada com os seus ideais programdticos. No entanto, o fecha- Constitucional anterior, j4 advertia que a oxigénoia de disciplina partidéria nao oderia jamais gerar a indisciplina dos dirigentos do parlido e por esta rasdo © igor da legslagao ordinéria no tocante aos pressupostos para a formulagéo izagao das diretrzes. TITO COSTA, Antonia. infideldade parideria © aplicapao. Revista de Direito Publico, So Paulo, n. 19, 1972, p “Neste caso, como salionta Marcel WALINE, seria 0 “equivalente a alzer que cada Partido constiui um Estado dentro do Estado, Poder-se-ia supiimy 0 Parlamento atiibuir a cada Partido um coeticionte correspondente & por. ‘centagem de seus votes no pais. Se, num pais, por exemplo, existom, ae. gundo a titima consulta eleitoral, quatro partidos, reunindo cada qual, res ectivamente, 40%, 30%, 20%, 10% dos volos, bastaria um diretéro de qua. ‘ro pessoas deliverando uma com quatro votos, a outra com trés, a lorcone com dois e a uitima com um s6. Far-se-ia economia de um Parlamento 6 0 resultado seria o mesmo," WALINE, Marcel. Les partis contre ia répul Paris: Rousseau et Cio, 1948, p, 65-66, Apud SAMPAIO, Perda do mandato por infelidado tiva, Br ___ 1! BASTOS, Comentarios... op, vit, p. 014, FIDELIDADE PARTIDARIA 27 ‘mento da questao, em torno de determinados pon- tos, pela fixagiio de diretrizes, a serem compulso- riamente cumpridas, deve ser utilicada com muita moderacdo, é dizer, somente naqueles casos em que estejam em discussdo idéias programdticas constantes, obviamente, dos instrumentos de fun- dagéo do partido, mas também como de pleno co- nhecimento piblico. Na maior parte das vezes 0 eleitor esté na mensagem que captou tal como the {foi transmitida pelo seu escothido. Os programas partiddrios sdo praticamente desconhecidos e ao mais das vezes redigidos de forma muito abstrata e néo-comprometedora. A utilizagéo, portanto, fre- qiiente desse instituto traz consigo a séria ameaca de uma ditadura interna no partido. E normal a existéncia, dentro deste, de pressdes de grupo, que pretendem conduzi-lo mais num sentido do que noutro. O apelo para um recurso estrita- mente juridico de fidelidade partiddria, poderd, in- clusive, significar um desrespeito para com a pré- pria vontade popular, cuja captagdo espera-se seja 1 (feita pelo parlamentar’ 28 CLEMERSON MERLIN CLEVE 1988, como alids, das anteriores, a democracia brasileira, ao lado das técnicas de participagao direta da cidadania, erige-se a partir do conceito de mandato representativo (ainda que mi tigado pela exigéncia de fidelidade). Ora, como preleciona Jo- sé AFONSO DA SILVA: "0 mandato se diz politico-representativo porque constitui uma situagdo juridico-politica com base na qual alguém, designado por via eleitoral, de- sempenha uma fungao politica na democracia re- presentativa. E’ denominado mandato representati- ‘0 para distinguir-se do mandato de direito priva- do e do mandato imperative. O primeiro é um contrato pelo qual 0 outorgante confere ao outor- gado poderes para representd-lo em algum negé- cio juridico, praticando atos em seu nome, nos termos do respectivo instrumento (procuragao); nele 0 mandatdrio fica vinculado ao mandante, tendo que prestar contas a este, e seré responsdvel pelos excessos que cometer no seu exercicio, po- dendo ser revogado quando 0 mandante assim o desejar. O mandato imperativo vigorou antes da Revolugdo Francesa, de acordo com 0 qual seu ti- tular ficava vinculado a seus eleitores, cujas ins- trugdes teria que seguir nas assembléias parla- mentares; se ai surgisse fato novo, para o qual nao dispusesse de instrugdo, ficaria obrigado a obté-la dos eleitores antes de agir; estes poderiam cassar- the a representagio. At o principio da revogabili dade do mandato imperative. O mandato repre- sentativo é criagdo do Estado liberal burgués, ain- FIDELIDADE PARTIDARIA 29, da como um dos meios de manter distintos Estado € sociedade (...) . Segundo a teoria da representa ¢a0 politica, que se concretiza no mandato, 0 re- presentante nao fica vinculado aos representados, por ndo se tratar de uma relagdo contratual; é ge- ral, livre, irrevogdvel em principio, e ndo com- porta ratificagdo dos atos do mandatdrio"."” No Brasil, portanto, é possfvel afirmar que 0 exercf- tio do mandato decorre dos poderes conferidos pela Consti- {uigiio, capazes de garantir a autonomia do representante que ‘vai sujeitar-se, em principio, apenas aos ditames de sua cons- ciéncia. Daf porque o partido nao pode dispor livremente so- bre o mandato."’. O tnico condicionamento previsto na Cons- lituigao quanto ao exercicio do mandato decorre do instituto da fidelidade partidaria. Porque, nos termos da Constituigio, 0 exercicio da capacidade cleitoral passiva depende da filiagao partidéria, o controle, pelo partido politico, da obediéncia as diretrizes estabelecidas pelos Srgaos de diregao, pode implicar {1 eleicdo de determinados condicionamentos ao exercicio do mandato. Todavia, esses condicionamentos, derivados do fe- chamento de determinadas questdes pelos partidos, nao po- dem chegar ao ponto de transformar inteiramente a natureza " a vedagao do 1 SILVA, op. cit., p. 198, Para Nelson DE SOUSA SAMPAIO, a vedacdi mandato impertivo const ago eosencial do sistoma ropresentabvo mo ‘demo de carizpluralista. SAMPAIO, op. cit, p. 145. CLEMERSON MERLIN CLEVE do mandato no Brasil. Trata-se, afinal, de mandato represen- tativol, ainda, e nao de mandato imperativo, Duas conclusdes podem ser extraidas deste fato. A um, os partidos devem valer-se do instituto da fidelidade par- tidéria de maneira moderada, A utilizago desmedida do ins- tituto fere a Constituigéo compreendida sistematicamente. A dois, no pode o instituto da fidelidade servir de amparo & agressdo aos direitos fundamentais do parlamentar, especial- mente a liberdade de consciéncia. Em determinadas circuns- tancias, a liberdade de consciéncia pode e deve autorizar, a despeito da eleigao de diretriz partidéria, a abstengao do par- lamentar. Nao € possivel, afinal, que nao se dé ao represen- tante eleito sequer o direito de esquivar-se, por motivo de foro intimo, dever de consciéncia ou convicgao politica, religiosa ou filoséfica, de votar de acordo com a ordem recebida, Por isso, nao podem os estatutos permitir a definigéio de diretriz partidaria vinculante da atuacao do parlamentar, sob pena de caracterizaco de ato de infidelidade, capaz de violentar a in- dependéncia moral ¢ a liberdade de atuagio do mandatério eleito (porque forgado a votar contra sua consciéncia em ma- téria que nao conste, expressamente, do programa partidério). Apanhe-se 0 exemplo trazido por Arnaldo MALHEIROS "Se um partido fechasse questdo favoravelmente a legalizagao do aborto, ou a instituigéo plena do di- vorcio, por exemplo, um sacerdote ou mesmo um leigo catdlico seria compelido a votar contra sua doutrina religiosa e sua consciéncia pessoal? Obrigd-lo a isso seria, nao so, despersonalizar 0 ™* Embora alterado em sua configuragao tradicional em decorrsncia da fidelida- de partidaria, FIDELIDADE PARTIDARIA representante do povo, mas violentar os principios éticos e religiosos (...). Os exemplos poderiam alongar-se indefinidamente, mas servem para de- monstrar o irrealismo e 0 quanto de despotismo 0 instituto da fidelidade partidaria pode colocar nas mios dos dirigentes partidarios'® Assim, mesmo que necessério o instituto para a ma- hulengao da coesdo partidéria, ele nao pode ser utilizado até o ponto de (i) ofender a natureza da representagao, (ii) substan- lar mecanismo de violacdo aos direitos fundamentais dos mandatarios; (iii) implicar desvio de finalidade (a pretexto de manter a coesio partidéria faculta-se o controle das minorias Oligdrquicas sobre os mandatérios); (iv) permitir a cassagao dos direitos politicos dos filiados eventualmente expulsos. Ou seja, 0 territério da fidelidade partidéria nao é ilimitado, sendo eerto que suas fronteiras derivam também da incidéncia de outros dispositivos da Constituiczo Federal. Apenas uma in- terpretagao sistematica da Constituigo € capaz de ilustrar os yerdadeiros contornos do instituto. Qualquer interpretagio isolada do art. 17, § 1°, da Constituigao, portanto, ensejar emergéncia de um sentido falseado do Texto Constitucional e, nomeadamente, do regime de fidelidade no Ambito partidario. Com sustentagdo nas consideragdes acima expostas, 6 possivel ingressar, agora, nas questdes que demandam a ela- boragao do presente estudo. MALHEIROS, Amaldo, Fidelidade Partidéria Boletim Eleitoral TRE/SP, a XVI, n. 8, janJmar. 1877, p. 3 Admiti-se-ia eventualmente a fixagao de diretrz partidéria em questbes dessa nnatureza apenas na hipélese de integrarem expressamente a doutrina © 0 programa patidérios, 32 CLEMERSON MERLIN CLEVE 4.1 Requisitos para a configuracio da infideli- dade partidaria No caso em questo, os deputados representados respon- dem a procedimento por infidelidade partidéria em virtude de su- posto descumprimento da diretriz. fixada pelo partido. Com efeito, abstiveram-se de votar pela procedéncia da dentincia oferecida, p. rante a Assembléia Legislativa, contra 0 Governador do Estado ‘outras autoridades, em face da suposta pritica de crime de respon- sabilidade. Tendo votado pela admissibilidade do pedido, deixaram de votar pela decretaglo da acusagao por razdes de foro {ntimo, mas igualmente porque entenderam que os acusados niio puderam produzir as provas requeridas, 0 que implicou quebra do princfpio do devido processo Terd, eventua ente, havido ato de infidelidade partidé- ria se, e apenas se (i) o partido estabeleceu diretriz partidatia, (ii) de modo legitimo, (iii) através de érgio de diregao partidéria. Dispbe o art, 24 da Lei 9.096/95 que: "Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de par- tido deve subordinar sua agdo parlamentar aos princt- pios doutrindrios e programdticos e as diretrizes esta belecidas pelos érgdos de diregao partidérios, na for- ‘ma do estatuto". Por sua vez, 0 art. 25 autoriza o estatuto a estabelecer penalidades "ao parlamentar que se opuser, pela atimde ou pelo FIDELIDADE PARTIDARIA 3 Wie, ds diretrizes legitimamente estabelecidas pelos érgaos parti- dirios". or diretriz legitimamente estabelecida hd de se Pillender a fixagdo de uma norma de conduta, resultante da tomada We posicao oficial de um drgdo diretivo partiddrio, convocado ex- piessamente para esse fim, tendente a compatibilizar a atuagao de WS representantes com as normas programdticas ou estatutdrias Ui agremiacao, em face de determinada matéria sujeita a delibera- (ilo parlamentar"."" A verdade, porém, é que a resolugao que veicula a dire- supostamente violada, dispoe: "Art. 1° - Estabelecer como diretriz a ser observada pela bancada do partido junto a Assembiéia Legislati- va, 0 voto pela admissibilidade dos pedidos de " peachment" contra 0 Governador do Estado, 0 Vice- Governador do Estado, 0 Secretério de Estado da Fa- zenda ¢ 0 Procurador-Geral do Estado, nos termos do Parecer da Comissdo integrada pelo Presidente do Di- iretbrio Regional e do Consetho retério Nacional, do Poli ico do partido”. A diretriz, todavia, nenhuma relago guarda com as hormas programaticas ou estatutérias da agremiagio, Nao se trata de mecanismo de compatibilizagio da ago parlamentar com a doutrina partidéria, Cuida-se, apenas, do meio pelo qual a lideranea partidéria pretende manter sob controle a atuagdo dos mandatirios 17 MALHEIROS, op. cit, p. 3. 34 CLEMERSON MERLIN CLEVE eleitos. Daf porque a decisdo nao substancia auténtica diretriz par- tidéria capaz de adequar a ago parlamentar, em concreto, aos prin cipios doutrinérios e programéticos constantes do estatuto do parti- do. De modo que nio se identifica com verdadeira diretriz capaz de ensejar a censura em virtude de descumprimento. Mas, ainda que substanciasse auténtica diretriz, os de- mais elementos exigidos pela lei no foram respeitados. Nao se trata, antes de mais nada, de diretriz legitimamente estabelecida. Considere-se que "por legitimidade ndo se hd de entender a pura observancia formal da lei (ou do estatuto). Néo cabe ao Judici idrio, !do-s6, contar assinaturas de wma ata para verificar se houve quo- rum legal para as deliberagoes, nem conferir a publicagdo do edi tal de convocagdo, para saber se foi feita com a antecedéncia exi- gida ¢, s6 por isso, considerar legitima a diretriz estabelecida. Pode ¢ deve adentrar 0 mérito da deliberagao e julgar se o que o partido estabeleceu se afina com seus estatutos e programa, se Ihe era licito fixar a disciplina de voto para seus representantes nos termos em que fez"™. No caso em tela, niio hd verdadeira diretriz, nem ha di- retriz legitima, porque, a ora discutida contempla norma de conduta que nao se coaduna com o programa partidétio, Nos termos do seu estatuto, 0 partido exercerd as suas atividades com base no seu Programa e na Declaragio Universal dos Direitos do Homem. Por outro lado, "o programa do presente partido fundamenta-se nos principios do regime democratico, do Estado de iniciativa". Se € assim - € 0 estatuto & para ser levado a sétio - esta fora de questdo ser incabtvel erigir, como diretriz, exigéncia de * MALHEIROS, op. cit, p. FIDELIDADE PARTIDARIA 35 4 parlamentar contréria ao especificado na Declaragao Us VorNal dos Direitos do Homem ou aos postulados do Estado de Di- , Porque apenas com a defesa e a produgio de provas po- ont o julgador apreciar a necessidade ou nao da instauracéo do pioeesso de impeachment. Nao pode, em conseqiiéncia, 0 partido, esta circunstncia, sem ferir 0 estatuto e o programa, estabelecer se- Welhante diretriz, que acaso fixada, confrontard com o especificado no Ail, 25 da Lei 9.096/95 em raziio de sua flagrante ilegitimidade. Por fim, cumpre verificar que a diretriz, sobre tratar-se le legitima, deve, igualmente, ser fixada por 6rg4o competente (de itegao). E 0 que especifica o art, 24 da Lei Organica dos Partidos Politicos ao referir-se "as diretrizes estabelecidas pelos drgios de Uiregio partidérios, na forma do estatuto”. Na medida em que a diretriz supostamente violada pelos deputados representados, constitui deliberagio da Comissio Exe- eutiva do Diretério Regional, é induvidoso que foi fixada por 6rgao puartidério incompetente, motivo pelo qual é manifestamente nula. ‘Tratando-se de deputados estaduais, apenas ao Diretério Regional, Grgio de diregdo, caberia, validamente, baixar diretriz. partidéria capaz de suscitar, na hipétese de descumprimento, infidelidade parti: Portanto, a liberdade de organizagio ¢ funcionamento outorgada aos partidos politicos encontra seus limites nas disposi- Ges constitucionais ¢ nas disposigdes da Lei Organica dos Partidos Politicos, razio pela qual diretriz partidéria quando a Lei Federal expressamente confere essa Comissio Executiva nao poderia baixar 36 CLEMERSON MERLIN CLEVE atribuiggo apenas ¢ to-somente ao drgdo de direcao partidéria, de- finido no estatuto como tal. Aceite-se, entio, que a diretriz partidaria é absoluta mente nula em face destes fundamentos, sendo incapaz, em conse- qéncia, de autorizar a emergéncia de ato caracterizador de infide- lidade partidéria, 4.2 O cumprimento da diretriz partidaria © mais curioso no caso em tela é que, no sendo obrigados a cumprir (i) diretriz ilegitima, erigida, ademais (ii) Por Orgiio incompetente, daf porque nula e irrita, os deputados representados acabaram por cumpri-la fielmente Deveras, a diretriz fixada, reitere-se, ilegitimamente pela Comissio Executiva, exigia o voto pela "admissibilidade dos pedidos de impeachment". Ora, segundo 0 art. 23, § 1° da Lei Organica dos Partidos Politicos "filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punigdo por conduta que ndo esteja ti- Pificada no estatuto do partido politico". Como se vé, a Lei Federal exige a tipificagiio da conduta como garantia do filia- do contra os desmandos ou desvios dos érgios de diregio Pattidérias. O tipo, como ninguém desconhece, configura um "modelo de comportamento abstrato proibido"®. E, entio, descrigao esquemdtica de uma classe de condutas que pos- TOLEDO, Francaco de Assis, Prinipios bésicos do diel penal. Séo Paulo: Saraiva, 1986, p, 115. en FIDELIDADE PARTIDARIA Ey Wain earacteristicas danosas ou ético-socialmente reprova- Wis, a ponto de serem reputadas intolerdveis pela ordem juri- wica’”. O tipo, ao lado de desempenhar fungdo de garantia, (esempenha também auténtica fungdo seletiva, decidindo so- Wie 0 que é crime e 0 que nao é crime” e, mais, no campo do Wlieito sancionatério partidério, 0 que configuraria ou nao {nsgressao disciplinar. Assim, um fato, por mais danoso que feja, niio poderd jamais ser reputado como infragdo penal ou jinar antes de ser expressamente previsto em ato norma- Hivo adequado (lei para o tipo penal, norma estatutéria para 0 {ipo infracional partidério). Alguns tipos so definidos através de normas em bianco. A técnica das normas em branco, bastante utilizada no Campo do direito penal, nao representa tdo-s6 0 desdobra- Inento da matéria sinteticamente declarada na norma legal, ins 0 preenchimento do seu préprio objeto por outra norma. ‘Trata-se, afinal, de norma de contetido incompleto, e cujo uperfeicoamento sé é alcancado mediante o reenvio a outro diploma normativo, ja existente ou a ser futuramente edita- do”. E através dessa técnica que o estatuto do partido tipifica 45 condutas violadoras da fidelidade partidéria. Dispée 0 es- {atuto, no art. 83, §§ 2° 3° que: "§ 2° - Ocorrerd a expulsiio, com cancelamento de filiagdo, nos casos de extrema gravidade e de infi- ® TOLEDO, op. cit, p. 115. * TOLEDO, op. cit, p. 115. ® COMPARATO, Fabio Konder. Direlto Publica: estudos © pareceres. So Paulo: Saraiva, 1996, p. 269. CLEMERSON MERLIN CLEVE delidade partidéria, apurado em processo regular no qual seja assegurado ao acusado ampla defesa. §3°- A infidelidade partidaria se caracteriza pela desobediéncia aos principios doutrindrios e pro- gramdticos, as normas estatutdrias e as diretrizes estabelecidas pelos seus érgdos competentes”, (Ou seja, diante da norma em branco, o tipo definido no estatuto deve ser completado pela diretriz estabelecida pelo 6rgaio competente. Dai porque o tipo integral resultard do so- matério da norma primaria com a complementar. Esse bloco tipoldgico constitui a descrigao em abstrato da conduta puni- vel. Todavia, mesmo aqui, em virtude da garantia do tipo, descabe a interpretagao extensiva ou analdgica. Se a analogia substancia recurso indispensdvel, em face da existéncia de la- cunas aparentes no direito positivo, no direito sancionatério em geral, mas especialmente no direito penal ¢ no disciplinar partidario em face do especificado no art, 23, § 1°, da Lei Or- ganica dos Partidos Politicos, sofre ela importantes limitagdes. Com efeito, "nao é possivel aplicar analogicamente a lei para criar novas figuras de delito ou para contemplar penas ou me- didas de seguranga que nio estejam taxativamente previstas, ou para agravar a situagao do réu (analogia in malam partem). Em relagao as demais normas é necessério distinguir. A ana- logia é admissivel, em princfpio, nos casos em que beneficia o réu (analogia in bonam partem), mas nao pode ser acolhida em relacdo as normas excepcionais"”, ® FRAGOSO, Heleno Claudio. Ligdes de dlireito penal. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1886, p. 87-88. FIDELIDADE PARTIDARIA 39 Ora, a norma priméria refere-se a Grgio competente. Poijue, & luz da Lei Organica dos Partidos Politicos, a Comis- We Executiva nao € Srgio competente para baixar diretriz Pivtldéria, a eventual atuagao do parlamentar em desconfor- Wiidade com a diretriz por aquele érgao decidida é insuscetivel We fealizar o tipo. Trata-se, portanto, a questionada na repre- Wiligio por ato de infidelidade, de conduta atipica. Jé a nor- WA secundaria (a resolugdo que fixa a diretriz), exige dos de- [illudos, componentes da bancada do partido na Assembléia Legislativa, "o voto pela admissibilidade dos pedidos de im- Jtachment’. O niicleo do tipo, portanto, reside na manifesta- ilo do parlamentar pela inadmissibilidade. Nao ha possibili- Wide de interpretagio extensiva ou analégica para apanhar Outras figuras que nao "o voto pela admissibilidade" dos pedi- dos de impeachment™. Pois os deputados representados votaram pela ad- Inissibilidade dos pedidos. Sim, porque os pedidos foram con- Aiderados objeto de deliberago com os votos dos representa- los. Os representados deixaram, sim, mais tarde, por razGes jue expressaram a tempo e com toda lealdade & diregao parti- diiria, de votar (e por isso se abstiveram) a favor da procedén- Gia da acusagao, que implicaria o afastamento, ainda que tem- Pordtio, das autoridades. Ora, decretagdo da acusagdo ou a procedéncia da acusagdo sao figuras absolutamente distintas da admissibilidade da dentincia ou da admissdo da denincia Nom seria cabivel uilizar-se do artiticio de investigar a "vontade" da Comis- fo Executiva eventualmente falseada pela redacéo da diretiz. O tipo, en- Quanto mecanismo de selegéo e garantia, encontra sua expresso no pro- {Grama normativo, Ora, a expresséo linghistica substancia limite para qualquer Sorte de interpretacdo voltada & descoberta de suposia iniengdo do legislador ‘no traduzida no texto, mormente em materia sancionatéria, 40 CLEMERSON MERLIN CLEVE como objeto de deliberagdo. Se os representados votaram pela aceitagfo da dentincia como objeto de deliberagio, eles aten- deram a diretriz, partidéria, ainda que ilegitima, daf porque nao cometeram infragao disciplinar de nenhuma ordem. O fato, entretanto, de no votarem a favor da decretaciio da acu- sagiio, tendo ambos preferido a abstencao, niio implica realizacio do tipo, consistindo, por isso mesmo, em condu- ta absolutamente estrangeira ao direito sancionatério par- tidério. Nao pode o partido, através de interpretacao exten- siva, maliciosa ¢ clastecida da norma secunddria (a diretriz) pretender que "voiar pela admissibilidade" tenha o sentido de votar pela procedéncia da acusaéo” ou pela "decretagao da dentincia". Semelhante comportamento estaria em descom- Passo com o Estado de Direito, princfpio este orientador da atividade do partido, segundo define o seu préprio estatuto (art. 1°, § 2°), agredindo, ao mesmo tempo, 0 especificado no 1°, da Lei Organica dos Partidos Politicos”’, Desca- ® Lembra COMPARATO (op. cit, p. 267) que "Na verdad, 0 principio da sux promacia da lei, no Estado de Direito, sempre teve um enderaco corto: ele so diige contra o Poder Executiva, que monopoliza a coereao logal contra os artculares. Por isso mesmo, como matéria de principio, nenhuma norma femanada da Administragdo Publica sobrepoe-se ao ditado legislativo, am se tratando das relagdes entre o Estado 0 o indlviduo, E toda vez que se trata Ge determinar ou autonzar uma ingeréncia direta do Poder Publico na esfora da liberdade pessoal ou da autonomia patrimonial dos partculares, 0 principio do primado da lei apresenta-se como reserva absoluta de le? Mais tarde, Ma, 0 autor em questio: "O princjpio do primado da lel, como se percebo, ‘acha:so intimamente relacionado com 0 outro dos componentes essenciais do Estado de Diretto, qual seja, 0 conjunto dos direitos e iberdades indi. duais, constitucionalmente declarados". Porque os partidos p. Toito Brasileiro, exercem © monopélio das candidaturas (nao ha exercicio da ‘Sapacidade polltica passiva sendo alraves dos partidos), as relagoes entre a ‘agremiagao © seus filados também devem ser orientadas a luz das coorde Nadas estabelecidas pelo Estado de Dirsito, inclusive, embora respeltada a ‘autonomia partidéria, 0 principio da supremacia da lel. O que so afiima em FIDELIDADE PARTIDARIA 4 I, em conseqiiéncia, sob este fundamento (infidelidade parti- Wiiria), em virtude da atipicidade da conduta questionada, a Willeagio de qualquer sorte de penalidade aos deputados re- prove dos. 4,3 O exercicio regular de direito” No caso proposto para o presente estudo, os deputa- los representados, através de documento assinado e entregue \ Presidéncia da Assembléia Legislativa, explicaram, com {oda lealdade, 0 motivo pelo qual se absteriam de votar na §essiio que apreciou a decretagio da dendncia contra o Gover- judor do Estado, Entenderam que nao foi observado o prinef- pio do devido processo legal com todos os seus consectério: daf porque "aprovada a admissibilidade das dentincias, com os Yotos favoraveis de todos os deputados do Partido, a Comis- filo passou a conduzir o processo com absoluta falta de res- peito a principios constitucionais fundamentais, fato este que macula indelevelmente o procedimento e o torna nulo de ple- no direito”. Segundo o documento referido, "as ofensas prati- eadas pela Comissto Especial contra a Constituigéo da Re- piiblica séo de extrema gravidade e tentam transformar 0 plendrio desta Casa em verdadeiro tribunal de excegdo". Por im, os ilustres deputados comunicaram que "para nao trair face da relagdo Administragao-administrado é perfeitamente transplantével para o universo da relago partido-fiiado. ® A presento exprossiio nfo esté sendo ullizada no sentido proprio oferecido pelo direito penal 2 CLEMERSON MERLIN CLEVE nem violar a Constituigéo ¢ 0 programa do Partido a que estavam filiados, e por nao ter sido respeitado 0 direito | constitucional des acusados ao contraditério e & ampla defe- sa, decidimos nos abster de votar".” Deixaram de votar por motivo de conviceao intima, fazendo uso da liberdade de consciéncia garantida pela Lei Fundamental da Republica, Exercitaram, concorde-se, um di reito fundamental da pessoa humana em defesa de outro di reito fundamental (contraditério e ampla defesa) garantido na Constituigao e referido nos estatutos do partido politico. \ Aparente conflito entre prinefpios plasmados na \ Constitui¢ao, todos incidentes sobre a questéo objeto do pre- sente estudo, precisa ser resolvido pelo intérprete. Esta-se a referir aos principios do (i) mandato representativo, (ii) da fi- delidade partiddria e (iii) da liberdade de convicedo ¢ cons- ciéncia que, se interpretados isoladamente, poderao conduzir a solugGes aniquiladoras uns dos outros. Dai a necessidade de | uma interpretagdo ajustadora, sistematica, capaz de permitir solugdo harmonizadora, Tratando-se de principios ¢ nfo de | Preceitos, no se aplica a ldgica do tudo ou nada’. Ao contra- ro, cumpre aqui aplicar a metodologia da "concordancia pré- * Gumpre, neste sitio, lombrar que a : Far que a partir do momento em que a Assembiéia Sy, Rimitu a dentincia como objeto de deliberagdo, 0 Governador paseou a os GN tentar @ condigéo de acusado. Dai, porque, na forma do que espectiea 0 art 4", LV, da Lei Fundamental ("aos itigantes, em processo judicial ou adminis faiho, © 208 acusados em geral sdo assegurados 0 contiadtono e ampla fesa, com 08 meios © recursos a ela inerentes') apenas observado, om to FIDELIDADE PARTIDARIA 43 Wea!” ou da harmonizagdo. E que os princtpios "ao constitut- Tn exigéncias de optimizagao, permitem o balanceamento de Wilores ¢ interesses (ndo obedecem, como as regras, a légica We tudo ou nada), consoantes o seu peso e a ponderagao de Wliros principios eventualmente conflitantes". Por isso Wesmo, adverte CANOTILHO "em caso de conflito entre Pincipios, estes podem ser objecto de ponderagdo, de har- Monizagao, pois eles contém apenas exigéncias ou standards : : eae Reeerst le, em primeira linha (prima facie), devem ser realizados". Apanhe-se, ainda outra vez, a ligiio de CANOTILHO: ‘0 facto de a Constituigao constituir um sistema aberto de principios insinua jd que podem existir fendmenos de tensdo, entre os varios principios estruturantes ou entre os restantes princtpios constitucionais, gerais e especiais, Considerar a Constituigdo como uma ordem ou sistema de orde- nagdo totalmente fechado e harmonizante signifi caria esquecer, desde logo, que ela é, muitas vezes, © resultado de wm compromisso, entre varios acto- res sociais, transportadores de idéias, aspiragdes e interesses substancialmente diferenciados e até antagonicos e contraditérios. O consenso funda- mental quanto a principios e normas positivo- constitucionalmente plasmados ndo pode apagary ® CANOTILNO, José Jouaiim Gomes. Dieto Conaiiconal. Coiba: Aime. Sa es © CANOTILHO, op. cit, p. 174 Nee ® CANOTILHO, op. cit, p. 174. S a yt # CLEMERSON MERLIN CLEVE como €é dbvio, 0 pluralismo e antagonismo de idéias subjacentes ao pacto fundador. A pretensao de validade absoluta de certos princt- pios com sacrificio de outros originaria a criagéo de principios reciprocamente incompativeis, com 4 conseqiiente destruigéo da tendencial unidade axiolégico-normativa da lei fundamental. Dai o reconhecimento de momentos de tensdo ow anta- gonismo entre os varios principios e a necessida- de, atras exposta, de aceitar que os principios nao obedecem, em caso de conflito, a uma légica do tudo ou nada, antes podem ser objecto de ponde- ragao e concordancia pritica, consoante o seu peso eas circunstéincias do caso. Assim, por ex., se 0 principio democratico obtém concretizagéo através do principio maioritario, isso ndo signifi- ca desprezo da proteceao das minorias (...)'"*. Que se aceite, entéio, que nenhum dos princfpios constitucionais referidos, em tensdo, € superior aos outros, de- safiando aplicagao com desmerecimento da normatividade dos demais. Ao contrério, em idéntica circunstancia, cumpre ao intérprete buscar uma solugao harmonizadora capaz de conci liar, até onde for possivel, os territérios conceituais decorren- tes dos principios em tela, prestigiando todos, simultanea- mente, através da técnica da composigdo, cedéncia e concor- dancia dos respectivos sentidos normativos, 0 que implica conciliagao e harmonizacio. CANOTILHO, op. cit, 196 FIDELIDADE PARTIDARIA 45 Pretendem os que formularam a hipotética repre- Senlacdo, em exame, prestigiar, dogmaticamente, o principio (onstitucional da fidelidade partidaria mas, ao mesmo tempo, Uesconsiderar os demais principios constitucionais em relacio ile tens: ou seja, pretendem aplicar a légica do tudo ou nada {jue 6, absolutamente, inadmissfvel no caso em questo. ‘A conduta dos parlamentares, neste sitio examinada, dlesmerece censura, Diante do dilema vivenciado, em face do uadro de tensio relacional que envolve (i) a natureza do Mmandato (princ{pio da democracia representativa), (ii) a liber- dade de consciéneia e de expresso do pensamento (direito fundamental)” ¢, finalmente, (iii) 0 principio da fidelidade partidéria, apenas uma atitude leal e corajosa, como a tomada pelos deputados, representados, seria capaz de harmonizar os {ermos em conflito, Convencidos de que aos acusados da pré- fica de crime de responsabilidade nao foi garantido o contra- (Gtio ¢ a ampla defesa, consectérios do principio constitu- cional do devido processo legal, e tendo em conta a gravidade do afastamento do Chefe do Executivo do exercicio de seu cargo sem a produgdo das provas por ele requeridas, foram apanhados pela convicgdo intima de nao disporem de ele- Imentos bastantes para anuéncia da decretagio da acusagdo. Preferiram, portanto, (i) em homenagem ao principio da fide- idade partidéria, néo votar pela improcedéncia da acusagio e, 8 As normas tipficadoras de direitos fundamentals possuem natureza princi= piolégica, segundo @ doutrina constitucional. Cf., por exemplo, VIEIRA DE ANDRADE, José Carlos. Os direitos fundamentais na Constituieso Portu- guesa de 1976, Coimbra: Almedina, 1987. Também: FARIAS, Edilsom Perei- fa de. Colisdo de direitos. Porto Aiagre: Sergio Antonio Fabris Ecitor, 1996, Anda: STUMM, Raquel Denize. Princ fade no direlto constitucional brasileiro, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1995, 46 CLEMERSON MERLIN CLEVE em (ii) homenagem a liberdade de consciéncia, abster-se de yotar. A abstencao configura conduta, entio, que simulta- neamente prestigia a fidelidade partidaria, a liberdade de consciéncia e a natureza do mandato (representatiyo e niio imperativo, como vimos), E, por isso mesmo, ocorrente hi- potese de legitimidade da diretriz. fixada e de tipicidade (que ndo se realizam no presente caso, como vimos), conduta in- suscetivel de sangio, especialmente aquela mais grave exi- gente da expulsio com o conseqiiente cancelamento da filia- ao partidaria, Se a conduta questionada (a abstengao) nfo ofendeu a doutrina partidaria e © programa partiddrio, tratando-se, ademais, da tinica medida capaz de harmonizar os dispositivos constitucionais incidentes sobre o caso e definidores da rela- 0 tensionada, nao ha divida de que, sobre ser absolutamente egitima, desautoriza a emergéncia de qualquer sorte de provi- déncia sancionatéria, E curial, portanto, que 0 manejo de um constitucionalismo adequado e a gravidade da punigZo comi nada para o infrator da regra da fidelidade partidéria dio bem a medida da seriedade e 0 cardter de excepcionalidade com que os partidos devem utilizar o recurso extremo. Por isso mesmo, "ndo podem, nem devem, valer-se dessa medida para Satisfagdo de rasteiros interesses de politicagem local e pro- vinciana, passando a usd-la como meio de pressdo ¢ cons- trangimento contra a liberdade de que devem gozar os repre- sentantes do povo no exercicio de seus mandatos"™. MALHEIROS, op. cit. p. 4 FIDELIDADE PARTIDARIA 47 ee SUDEUDADE AAT ARIAG ‘ Poder-se-ia, eventualmente, com uma. superlativa lose de boa vontade, aceitar ocorréncia de infidelidade parti- “liria se os parlamentares procurassem esquivar-se, por moti- Wo de foro fntimo, dever de consciéncia ou convicgao politica, Isligiosa ou filoséfica, de votar em matéria constante expres- Mimente do programa partidério. Nao é, todavia, 0 que ocorre Wil Situagio sob comento, A matéria (votar favoravelmente & Wlmissibilidade do pedido de impeachment) nao consta (nem Poderia constar) do programa partidério, configurando mera Ukeiso politica determinada pelo arranjo de forgas manifesta- ilo naquele contexto partidario. Nem se afirme que o estatuto Permite a fixacHo, pelo Grgdo competente, de diretriz. partidé- Hi. Ora, a diretriz substancia norma de conduta concretizado- fu do programa e doutrina partidérios. De modo que pode, perfeitamente, o partido fechar questio, estabelecendo diretriz partidéria, a respeito do modo como deve o parlamentar votar ¢m projeto de lei que disponha sobre a liberdade de iniciativa, por exemplo. Como a liberdade de iniciativa encontra-se entre {0s postulados constantes do programa partidério, nio esté au- {orizado, em principio, o parlamentar, fixada a diretriz, por Grgio competente, a esquivar-se de votar naquele sentido. Tanto, porém, ndo se manifesta no presente caso. Tratando-se, ‘final, de proceso de impeachment, 0 programa partidério nada diz a respeito, a ndo ser que os postulados do Estado de Direito, ¢ os direitos da pessoa humana devem ser respeitados. Nessas circunstancias, porque a diretriz partiddria no subs- tancia concretizagao do programa ou da doutrina partidéria, iio hé divida de que o parlamentar pode deixar de segui-la, sem que isso signifique infidelidade partidaria, na medida em {que sua conduta esteja de acordo com o programa da agremia- gio". E, precisamente, isso que ocorreu no presente caso. % Lembra Torquato JARDIM (op. cil, p. 88) que "A le! ndo prevé escusa de or- 48 CLEMERSON MERLIN CLEVE 4.4 A natureza do impeachment e a atividade parlamentar A doutrina brasileira controverte a respeito da natu- reza jurfdica do impeachment™. Ha aqueles que entendem tratar-se de um instituto de natureza politica. E 0 caso de Mi chel TEMER™, por exemplo. PONTES DE MIRANDA, nos seus Comentérios, todavia, sustentou que 0 processo de impeachment possui natureza penal. A posig&o de José Frede- tico MARQUES € no sentido de que © impeachment possui natureza mista (politica e penal)"*, O STF, em liminar, ao sus- pender a execucio de dispositivos da Constituigio Catarinen- se, com 0 argumento de que apenas a Unido dispée de com- peténcia para legislar a respeito, parece adotar 0 entendimento segundo 0 qual o impeachment possui natureza penal”, E perfeitamente defensavel a tese segundo a qual 0 Senado Federal exerce fungdo jurisdicional quando julga o Presidente da Reptblica pela pratica de crime de responsal ite puerten oenipeliaanl ease ea rece a eos ce core ina Tata ae de wo fatten abit tat n° ea peerage ceria aaa a ee lien oc ae pact ‘So Paulo: Atlas, 1997, p, is veer Michel. Constituigao e politica. S40 Paulo: Malheiros, 1994, p. 41- “* MARQUES, José Frederico. Da competéncia em matéria penal. Sa Saraiva, 1953, p. 154, r ane Poe ADIn, 1.628/SC. Relator: Ministro Nelson Jobim. FIDELIDADE PARTIDARIA 49 Wide. Alias, encontra-se aqui possivel excegio ao monopdlio Wi atividade jurisdicional pelo Poder Judicirio, em nosso pills”. E exatamente esse tipo de atividade que exerce a As- fembléia Legislativa quando julga 0 Governador do Estado ela pritica de crime de responsabilidade. No plano federal Gompete ao Senado Federal, em face da autorizagao da Cama- fu dos Deputados, instaurar 0 processo. Apenas a partir deste {nomento, sera o Presidente afastado do exercicio de suas fun- ‘bes (CF/88, art. 85, § 1°, II), No plano estadual, e tendo em Gonta 0 especificado na ADIn 1628/SC (Relator: Mi Nelson Jobim), se 0 julgamento compete ao Tribunal Misto a ue se refere a Lei Federal 1.079/50, a propria Assembléia eompete (i) fazer jutzo de admissibilidade da dentincia e, ups, (ii) decretar a acusago com o conseqiiente afastamento do Chefe do Poder Executivo, Ora, a atividade do parlamen- ur, seja atuando no Tribunal Misto, seja exercendo jutzo de procedéncia ou improcedéncia da acusacao, constitui fungao de julgamento identificada Aquela exercitada pelo Judicisrio. Compete, portanto, aos parlamentares que formam o colegia- do de julgamento, decidir a respeito da acusaedo, observado 0 devido proceso legal, de acordo com as provas coligidas, € ‘com sustentagdo na liberdade de convicgao. O principio da berdade de convicgao é essencial ao exercicio da fungio de julgar. Por isso que, nesta sorte de atividade parlamentar, niio ha lugar para a fixagio de diretriz, ensejadora de ex- pulsio por ato de infidelidade partidaria. #© 0 que tivemos ocasido do afirmar om outro lugar (CLEVE, Clemerson Merlin, Temas de direlto constitucional. S40 Paulo: Académica, 1993, p. 37), CLEMERSON MERLIN CLEVE Imagine-se a fixagio de diretriz. partidéria no sentido de que os deputados integrantes do Tribunal Misto e filiados a0 partido deverdo necessariamente votar pela absolvicao ou pela condenagio do acusado. Concorde-se que medida deste naipe desvirtua completamente a natureza do proceso de impeachment, implicando séria ofensa a liberdade de convic 40 dos membros julgadores, daf porque, & luz da ordem juri ica brasileira, afigura-se absolutamente intoleravel. A mesma situagdo manifesta-se por ocasidio da formagéo do jufzo a res peito da decretacio ou da nao decretagio da acusagdo contra 0 Governador (nos crimes de responsabilidade) exercida pelos membros da Assembléia Legislativa apés terse admitido a dentincia como objeto de deliberagao. A circunstancia de que algumas matérias, embora situadas no ambito da atividade parlamentar, esto a salvo da incidéncia de diretriz. partidéria, nao 6 desconhecida do direito brasileiro, Deveras, 0 Colendo Tribunal Superior Eleitoral decidiu que: "Colégio Eleitoral. Fidelidade Partidaria, Diretriz Partiddria. Validade de Voto. 1. Nao prevalecem, para 0 Colégio Eleitoral, de que tratam os arts. 74 75 da Constituigao, as disposigées relativas a fidelidade partidéria, pre- “*" Resolugdo 12.017, de 27/11/84. Processo 6.988 - Classe 10* - Distrito Federal (Brasiia) : FIDELIDADE PARTIDARIA ee FIDELIDADE PATIO“ _ vistas no art. 152, §§ 5° e 6°, da Constituigéio, arts. 72. a 74, da Lei Organica dos Partidos Politicos, ¢ arts. 132 e 134, da Resolugao 10.785, de 15/02/80 (Resolugdo 11.985, de 06/11/84). 2, Nao pode Partido Politico fixar, como diretriz partidéria, a ser observada por parlamentar a ele filiado, membro do Colégio Eleitoral, a obrigagao de voto em favor de determinado candidato. 3. Em decorréncia da liberdade do sufragio, € va- lido 0 voto de membro do Colégio Eleitoral dado a candidato registrado por outro Partido Politico". Por ocasiio do julgamento do feito acima referido, 0 eminente Rel. Min, Néri da Silveira, assim se manifestou: 'E que, em realidade, constitui 0 Colégio definido nos arts, 74 e 75, da Constituigao, corpo de eleito- res destinado a, por seu intermédio, eleger um dos candidatos previamente registrados, na forma da lei de regéncia, mediante voto nominal, em sessdo ptblica. Nao é possivel retirar do sufrdgio 0 ca- réter de livre manifestacao do eleitor. A mingua de norma expressa, néio é admissivel entender que 0s eleitores do Colégio, constituido para escolher 0 Presidente e Vice-Presidente da Reptiblica, ndo gozem de liberdade na eleig&éo do Chefe do Poder Executivo, entre os candidatos registrados pelos Partidos Politicos. Embora indireto o processo de 5 CLEMERSON MERLIN CLEVE eleigao, a liberdade do sufrdgio é da indole do sistema democratico de escotha de titulares de cargos eletivos. Inexiste, dessa maneira, regra constitucional ou sequer legislativa, a permitir enquadrar, entre as hipdteses de descumprimento de diretrizes estabelecidas legitimamente pelos ér- géos partidérios, 0 voto, no Colégio Eleitoral refe- rido, de parlamentar, federal ou estadual (este delegado da Assembléia Legislativa), em candi- dato registrado por outro Partido. Em artigo publicado em "O Estado de Séo Pau- lo", edigdo de 31/10/84, p. 4, 0 ilustre jurista, pro- fessor Miguel REALE, a esse respeito escreveu: ‘De mais a mais, 0 problema das candidaturas a Presidéncia da Repiblica nao se enquadra entre as ‘diretrizes legitimamente estabelecidas pelos Grgaos de diregao partiddria’, conforme se acha enunciado no art, 152, § 5°, da Constituigao. Se essa inclusao fosse feita, qual seria o resultado? A eleigao do Presidente da Reptblica, através de elos sucessivos de fidelidade, seria, em sltima andllise, feita nao pelo Colégio Eleitoral - mas pelos érgdos de diregao partidéria, Nao se poderia conceber maior exemplo de ditadura partidéria, ‘ficando reduzida a mero simulacro a escotha dos delegados das Assembléias Legislativas, assim como a reunido do Colégio Eleitoral instituida pela Carta de 1969'. FIDELIDADE PARTIDARIA a Releva, de outra parte, observar que, em realidade, «a infidelidade partidéria do parlamentar, no que concerne ao voto, como previsia no art. 152, § 5% da Constituigdo, pressupse, ~ na Casa Legislativa 4 que pertenga, no exercicio do mandato, - se opo- nha, ao participar de deliberacao, da diretriz legi- timamente estabelecida pelos drgdos partiddrios competentes, acerca de determinada matéria, su- jfragando solugdo contriria aquela definida pelo Partido Politico, a que filiado. Se 0 drgdo partidé: rio competente estabelece, como diretriz, de forma legttima, a aprovacdo ou rejeigdo de certo projet de lei, ou de resolugdo, ad exemplum, 0 voto do parlamentar, em descumprimento a essa orienta- ao, configuraria, em principio, hipdtese enqua- Sndvel no art. 152, § 5°, da Constituigdo. Diferente & todavia, a situagdo, quando vota, nao como in- tegrante de sua Casa Legislativa e nela deliberan- do, mas como membro do Congreso Nacional ou Assembléia Legislativa, na condi¢ao de eleitor de ium Colégio especial, para escother, dentre os can- didatos registrados pelos Partidos Politicos, 0 Pre- sidente e o Vice-Presidente da Reptiblica. O Colé- io Eleitoral (CF/88, arts. 74 € 75) € éredo, a evi- dencia, distinso do Senado Federal, da Camara dos Deputados e das Assembléias Legislativas dos Es- tados-membros. Certo é compor-se de todos os Se- nadores e Deputados Federais ¢ ainda de seis De- puiados Estaduais, por Assembléia Legislativa, desta Delegados. Esse Colégio resine-se com a fi- nalidade tinica de eleger 0 Presidente e o Vice- CLEMERSON MERLIN CLEVE Mesa do Senado Federal, perante quem os Parti dos Politicos registram os candidatos a serem submetidos ao sufrdgio livre dos eleitores, aos quais a Constituigao atribui a alta responsabilida de de, em nome da Nagao, preceder a eleigao en referéncia. Cresce de ponto, outrossim, essa quali dade de eleitores, com liberdade de sufrdgio, quanto é exato que a Constituigdo contempla, nos §§ 1° e 2% do seu art. 75, a possibilidade de variar © ntimero de votos, atribuidos aos candidatos, de um para outro escrutinio [...]. Esta Corte, na linha de tal entendimento, na Re. solugdo 11.985, de 06/11/84, jd proclamou: "Nao existe norma constitucional ou legal que restrinja o livre exerctcio do sufrdgio dos membros do Congresso Nacional ¢ dos Delegados das As- sembléias Legislativas dos Estado no Colégio Eleitoral, de que tratam os arts. 74 ¢ 75, da Cons- tituicdo, ou que Ihe prescreva a nulidade por vio- lagao da fidelidade partidéria" [...]. Nao logra dessa maneira, fundamento constitucio- nal ou legal a deliberacao de Partido Politico, que fixe, para efeitos do art. 152, §§ 5° ¢ 6°, da Lei Maior, como diretriz partidéria, a ser observada por parlamentares a ele filiados, membros do Co- légio Eleitoral, a obrigagao de voto ou de apoio Presidente da Reptblica, sendo presidido pela FIDELIDADE PARTIDARIA 35 exclusivo, por atitudes em favor de determinado candidato a Presidente e Vice-President da Repti- blica”. © precedente, embora envolvendo figura distinta légio Eleitoral no contexto do regime constitucional ante- ), € inteiramente aplicdvel ao caso em andlise™. Sim, por- ie a liberdade de convicgao ¢ intrinseca 2 atividade de julgar. Jemais, quando a Assembléia julga autoridade em face de jsacio de prética de crime de responsabilidade, ela conver- Sse em tribunal especial (mas nfo de excegio)", Pela pratica ile crimes de responsabilidade algumas autoridades sao julga- iis perante o Judiciério (Ministros de Estado, por exemplo, fin relagio aos crimes nao conexos aos praticados pelo Chefe ™ Lembra o sempre festejado Paulo BONAVIDES (A decadéncia dos partidos ae acta ee cet ma se oe ee ee ei ceo opera am RRS OR oe ste ara a cae tiaed ome eaters eae rai eraser eee ee rere ee ee se Sle A evelyn eer ie cen ee uae ey pa rn acer at sg aelteec ber nase oe ae © ‘Nao se est, aqui, @ referir ao Tribunal Misto provisto na Lei 1.079/60, mas & Sota Assembléa Legilava enquanto trbtnal especial, proviso consti lnaimonte, gto ao au neuro () admit 3 denincl camo objeto de delberacto e (i) decretar a acusapao (com 0 conseqdentesfastamento tem: poririo da autordace), restando r0 Tribunal Mist, depois (i) ebsolver ou ondanar Governador do Estado 56 CLEMERSON MERLIN CLEVE do Executivo, a teor do art. 102, I, “c”, so julgados pe STF), jd outras serio julgadas perante o Poder Legislative, to a icio de outra fungao que néo a tipicamente gislativa. Em ambos 0s casos, ocorra o juulgamento perante 0 Judicisrio ou perante o Legislativo, a fungdo estatal exercitada € a mesma, Dai porque nfo hé lugar para a fixagio de diretez Pattidéria nesse campo, nem a inobservancia da diretriz, por isso mesmo, ha de implicar infidelidade partidéria. ; : A compreender-se como possivel a fixagao de dire- triz partidétia nesse campo, o julgamento ou a decretagio da dentincia oferecida contra © Governador deixaria de ser atti- buigto do Tribunal formado pelos ilustres Deputados Esta- duais, sendo, antes, definida, como disse Miguel REALE a propésito de diretriz. partidaria vinculante do voto dos parla- mentares integrantes do antigo Colégio Eleitoral, através de sucessivos elos, ¢ diante do fechamento de questo pela agre- miagdo, pelas proprias diregdes partidérias. O proceso, o contradit6rio, a ampla defesa, constituiriam apenas pegas or- namentais despidas de funcionalidade. Concorde-se que se- melhante interpretagio nao se coaduna com a natureza intrin- seca do instituto, daf porque podem e devem os deputados de- cidir, nfo de acordo com eventual diretriz partidéria (que neste particular, ¢ pela razdo exposta, sera sempre nula), mas sim conforme as provas constantes dos autos ¢ a eonvicedo livremente formada com esses elementos. : ___ Por esta raziio, igualmente, estio os parlamentares imunes a qualquer sorte de sangao por terem se abstido de votar conforme preconizara a Comissiio Executiva do partido, FIDELIDADE PARTIDARIA 0 problema da candidatura nata Viu-se, até este ponto, que a diretriz. partidéria em no presente caso (i) no substancia coneretizagio do Juma ou doutrina partidérias (daf porque nao é verdadeira Iiiy, tratando-se, ademais, de norma de conduta ilegitima); jem foi decidida pelo tinico érgéo competente, o Diret6rio onal (daf porque é nula). Viu-se, mais, do quanto foi ex- {o, que (iii), em face da diretriz, estavam os parlamentares Hpurtido compelidos a votar unicamente "pela admissibili- le do pedido de impeachment’, nada referindo quanto & elacdo da acusacio ou da condenagio do Governador. sido os parlamentares votado a favor da admissibilidade do Wolido, abstiveram-se de votar, mais tarde, por ocasido da “pteciagdo da decretagdo da acusagto. A abstencio dos par- “Jimnentares, por esse motivo, configura conduta atfpica. Nao é (ensurdvel porque nao contemplada em abstrato no tipo (for- Mido, tratando-se de norma disciplinar em branco, pela com- “ Ppsiglio da norma primdria - estatuto - com 0 complemento ~ Witetriz fixada pelo partido), sendo certo que o art. 23, § 1°, da [ici Organica dos Partidos Politicos autoriza a cominagiio de Penalidade apenas aos filiados que venham a praticar condutas " iipicas (principio da tipicidade) previstas no estatuto. Se 0 tipo Ilo se realizou, nao ha tipicidade, nem sera possivel, sob pena We ofensa aos postulados do Estado de Direito e a lei federal, o iso do expediente malicioso da interpretago extensiva ou {naldgica para caracterizar a conduta dos parlamentares repre~ Nentados como infrago disciplinar. Conclui-se, ainda, do quanto foi até aqui exposto, que, (iy) prevendo, a Constitui- Glo, princfpios em relagio de tensfio (principio do mandato fepresentativo, da liberdade de consciéncia € de conviegio, ¢ 38 CLEMERSON MERLIN CLEVE da fidelidade partidéria), nenhum deles pode ser aplicado e) detrimento dos demais. Cumpre ao intérprete, através da pon deragdo de valores e de metodologia adequada (cedéncia rect proca ¢ concordancia prética), harmonizar os termos da reli co. Por isso, 0 principio da fidelidade partidéria nao pode se aplicado a qualquer custo (a légica do tudo ou nada), com emergente vulneragao dos demais princfpios. Convencidos que 0 processo de impeachment nao foi conduzido da manci mais adequada, manifestando-se ofensa aos consectérios do devido processo legal preconizado pela Constituigao, inclusi ve para salyaguardar o programa do partido ao qual estio fili ados, preferiram abster-se de votar. A solugo encontrada por estes parlamentares para manter a integridade de suas convic goes, sem agredir a diretriz partidaria, encontra-se absoluta mente amparada pelo direito. Por fim, do que foi até aqui tra tado, tem-se como certo (v) que o instituto da fidelidade parti daria no € capaz de aleangar todas as atividades desenvolvi das pelo parlamentar. Assim como os parlamentares_ inte grantes do Colégio Eleitoral, previsto no regime anterior para a escola do Presidente e Vice-Presidente da Reptblica, nao podiam ser atingidos pela incidéncia de diretriz.partidéria obrigando-se a votacao em determinado nome, em face da li- berdade de sufrdgio, conforme entendeu o Tribunal Superior Eleitoral, também os deputados no exercicio da tarefa de apreciar demincia oferecida contra 0 Governador do Estado pela prética de crime de responsabilidade esto a salvo da in- cidéncia de diretriz. partidaria, porque atuam como verdadei- ros magistrados, sendo esséncia da atividade 0 decidir de acordo com a conviceao (liberdade de convicgao) formada a partir dos elementos constantes dos autos do processo e das FIDELIDADE PARTIDARIA produzidas de conformidade com a legislagio de re- Diante disso, ainda que a diretriz fosse legitima (¢ ainda que tivesse sido editada por érgio competen- fo foi), ainda que as condutas dos parlamentares ainda que nfo pudessem deixar ‘qumprir a diretriz invocando a liberdade de Ease fem), ainda assim, nenhuma punicio seria aplicével entares pelo simples fato de que nenhuma dire- pode alcangé-los no exereicio da fungio de julgador, pena de agressio ao (i) prinefpio do juiz natural ‘a diretriz, quem decide sio os dirigentes partidarios iilio a Assembléia) e (li) ao principio do devido processo 1 (que implica tomada de decistio a partir dos elemen- atérios produzidos no curso do proceso). parlam i prob: Como se vé, nao ha fundamento para a aplicagao de ilquer sorte de penalidade aos parlamentares pela ae lagio nesta sede examinada, Mas ndo so estes os rinicos ygumentos que podem ser levantados. Hé ainda um dltimo: jidatura nata, Mo pit SD havord jut ou tunel de excepfo’ e ine. LIV — ‘ninguém ser Metal do uur bene som 9 cov process eae Co oe sicando oo pine po om sede de processo adminsravo,con- aioe ante nets once RUS fnew fiuelcnels do proceso administrative disciplinar. Séo Paul nad, 1998. sd 60 CLEMERSON MERLIN CLEVE ee OU MERSON MEDLIN Cy ai eeanatn Como se sabe, 0 art. 8°, § 1°, da Lei Federal 9.504/97 restabelece a figura da candidatura nata. Dispde referido arti go que: "aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual, ou Distrital, ou de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer pertodo da legislatura que estiver em curso, é assegurado 0 registro de candidatura para o mesmo cargo pelo Partido a que estejam filiados”. Ou seja, aqueles que exerceram ou exergam mandato parlamentar durante a legislatura em curso possuem direito subjetivo ao registro da candidatura, para 0 mesmo cargo, € para a legislatura subseqiiente. Deste fato, duas conseqiiéncias podem ser extraidas. Em uma, ndo pode a agremiagao impedir © exercicio de referido direito subjetive por qualquer manda- tério. Eventual medida tomada com idéntica finalidade confi- guraré agressao a lei federal. Nesse sentido, eventual aplica- ¢Ho de penalidade de expulsao, com o consegiiente cancela- mento da filiagdo, substanciaré medida inaplicdvel aqueles que foram amparados pela previsio legislativa. Na hipétese, portanto, de pratica de ato apontado como de infidelidade partidéria, poder 0 parlamentar sofrer eventual penalidade, desde que prevista estatutariamente, mas jamais aquela con- sistente na expulsio do partido, especialmente no perfodo consignado no art. 18 da Lei Organica dos Partidos Politicos, Em outra, ainda que cominada penalidade de expulsao, esta serd ineficaz, por isso o parlamentar poderd, diretamente, re- querer o registro de sua candidatura perante 0 érgio compe- tente da Justica Eleitoral, uma vez que a previsio legal 6 sufi FIDELIDADE PARTIDARIA Inte para que 0 juiz eleitoral deixe de proceder & anotagao cancelamento no controle de filiagdo partidaria do candi- ‘As convengoes partidérias para a escolha dos candi- los ¢ a deliberaco sobre coligagdes que, na forma do art. | caput, da Lei 9,504/97, serao realizadas, nao considerario Js nomes dos parlamentares que ostentam o direito subjetivo & \didatura nata. E que estes nomes nao precisam passar pelo iyo da convengao. Sao candidaturas determinadas ex lege. Por isso, 0 registro de referidos nomes seré necessariamente providenciado pelos partidos perante a Justiga Eleitoral. Na MW ipsese, entretanto, de omissio do partido, nfo estar o inte ‘essado impedido de providenciar, diretamente, o registro de guia candidatura. eedente. Se é certo que se trata de precedente anterior & nova cos, nfio ~ Grmenos certo que, 2 luz do que dispde a Lei 9.504/97, € per- " Ieitamente aplicavel ao caso em questo. Decidiu 0 Colendo Tribunal Superior Eleitoral" que "candidato nato a Deputado & ; Cumpre trazer, nesta oportunidade, importante pre- Constituigo e & nova Lei Organica dos Partidos Pol Bstadual, nos termos da Lei 6.534, de 26/05/78, art. 7°, § 2°, é tonsiderado, automaticamente, escolhido pelo partido que 0 legen”. O art. 8, § 1°, da Lei 9.504/97, reproduz, embora com outra redaedo, o comando anteriormente plasmado no art, 4% pcdrddo 6.529. Recurso 6.118. Classe V. Parana ( seesto de 20/10/78 © no BE. 922/261. tba), publicado em ASON MERLIN oLEvE J ei ee 7, § 2, da Lei 6534/78. Paf Pore 0 precedente substanci importante paradigma par@ © C450 ©m andlise, 6 i Importa transere~*T © SSBUINIE excerty do julgado: "Previu-se, por Fe, We, do fato juridic de rey sido eleito por delerminado partidy politico, sulta, a partir 4 visencia da regra iuridica, ser 9 Deputado Fede! % Estadual candidat. nato automaticament@ escolhido pelo Parg elo pando que o ele- peu (Lei 6.534, B€ 1978. a7 7°¢ § 2 combinados), re: S.A partir de 29/0/76. data da publicaedo da Lei 6.534, de 26/05/78, We Uispas sobre a excoahy , registro de candidatos. PASsou 0 impygnadg Pi} a candidato escothido Ho partido, por presuneaig jue ris et de jure, ames Portanto, da instalacéo da convengao partid Aria. si 6. Dessa escotha, fato presumido no § 20 ay arp, da Lei 6.534, de 1978 resultou, senio.the efeing juridico, enjo titular € © candidaro naao, 6 router regisiro de sua candidatura, juridico de requere" No caso, vale lembrar, 0 Deputado [1 prercey eave poder, Presto Ii &M COnseqiioncsy Cre ¢a Eleitoral, o ato determinativo do revising de sug candidatura, objet? 40PT°SeNe recurso ordindrio, FIDELIDADE PARTIDARIA 8 7. A expulsato do partido ndo se considera perfeita e acabada, enquanto nao desfeito pela Justiga Eleitoral, 0 ato inscricional filiativo partidério, que a ficha de filiacdo documenta e prova. Légico. Se a filiagdo partidéria é efeito oriundo do fato ju- ridico complexo, que se consuma com o respectivo isto! do Juiz Eleitoral na ficha de filiagdo, claro, Portanto, que somente se extingue esse efeito, por ato declarativo da Justiga Eleitoral". ‘A idéia de que a filiagdo partidaria substancia ato mmplexo que apenas se consuma com a manifestagao da Jus- fa Eleitoral’, 6 encontrada também em outro julgado”, feriu-se, agora no contexto da nova ordem constitucional, $m sede de mandado de seguranga impetrado pelo Senador Roberto Requidio, liminar que susta anotagao da expulsio na Justiga Eleitoral, © Colendo Tribunal Superior Eleitoral, no (iso, determinou, liminarmente, a sustagiio do cancelamento da filiagao partidéria, na Justica Eleitoral, para o fim de a {elar o impetrante do risco imediato da perda do status de membro do partido, com todos os direitos daf decorrentes. 1 Quer-se, com os julgados trazidos & colagdo, demons- {rar que diante da candidatura nata nao pode o partido valer-se W Estabelece 0 art. 19, da Lei 8.096/95, que "Na primeira semana dos meses de Imaio e dezembro de cada ano, o partido enva, aos Juizes Eleitoras, para ar- quivamento, publicagao © cumprimento dos prazos do filapao partidéria para feito de candidatura a cargos eletivos, a relagso dos nomes de todos os seus fiiados, da qual constard 0 nimero dos tiulos eleitorais © das sepdes ‘em que sao inscritos’. "7 Mandado de Seguranga 1.534. Classe 2*, Agravo Regimental. Curitiba, Para- 1nd, no qual figurou como Relator 0 Ministro Hugo Gueiros. 6 GLEMERSON MERLIN CLEVE do mecanismo da expulsio para fraudar a vontade da lei Quer-se, também, com os precedentes, demonstrar que na hi- Potese em que isto venha a ocorrer, a referida expulsio cons- tituiré ato ineficaz, podendo o interessado socorrer-se di Prestagio jurisdicional para impedir a anotagio do cancela- mento da filiagdo partidéria. Alids, esta interpretagdo, especialmente no presente momento, e tendo em conta o especificado no art. 18 da Lei 9.096/95"*, é a tinica compativel com a previsdo do art. 15 d: Constituigdo Federal. Deveras, nos termos do apontado dis- Positivo, "é vedada a cassacao dos direitos politicos, cuja perda ou suspensio" s6 se dard nos casos exaustivamente (umerus clausus) ali previstos. Entre estes casos, no se en- Contra a hipdtese de cancelamento de filiagao partidéria decor- tente de expulsio no periodo de um ano antes da data fixada para: as eleigdes. A expulsio do mandatédrio, detentor de di- Teito subjetivo ao registro da candidatura nata, no periodo de um ano que antecede a data fixada para as cleigées, nao é ca- Paz de gerar efeitos, (i) seja porque implica vulnerago de dis- Positivo constante de Lei Federal (art. 8°, § 1°, da Lei 9. 504/97), Seja, ainda, (ii) porque substancia fraude ao especificado no art. 15, da Lei Fundamental da Repitiblica que nfo admite a cere de direitos politicos (¢ a expulsao do periodo em questo implica inexorayelmente cassago de direito politico) Salvo nas hipéteses contempladas em numerus clausus. ‘Att 18: “Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverd esta filado a0 res Pectivo partido pelo menos um ano ant < Ne par pelo menoe tes da data fixada para as eleipées, FIDELIDADE PARTIDARIA A autonomia dos partidos politicos e 0 controle judicial 5 Trés premissas precisam ser imediatamente defini- lis. A um, os partidos, como foi demonstrado, dispdem de Wutonomia, mas ndo de imunidade. Significa dizer que nio Killio A margem da ordem juridica, encontrando-se, antes, in- Aetidos nela. Por isso suas atividades podem ser disciplinadas, jesguardado o nticleo autondmico essencial, pelo legislador. A “Mois, 0 Judiciério, nos termos do que especifica o art. 5°, KXXV, do Texto Constitucional, devidamente provocado, Sempre se pronunciara ocorrente hipdtese de lesdio ou ameaga "We lesto a direito. Trata-se do princfpio da inafastabilidade da ‘preciagao judicial a envolver, por evidente, também o con- Ijole da atividade do partido politico quando agrida direito in- ” dlividual do filiado. A trés, ¢ finalmente, cumpre lembrar que ; 0s direitos fundamentais previstos na Constituicio protegem {odas as pessoas e s4o oponiveis nao apenas contra o Estado, ~ gomo também contra os demais particulares, inclusive, pessoas © Juridicas de direito privado, entre elas, 0 partido politico. Afi- Thal, como ensina Karl LARENZ, a "Constituigao, ao definir © ps direitos fundamentais ndo protege o individuo apenas em face do poder estatal, também estabelece - pela adesdo implt- tita a valores irrenuncidveis - um critério de comportamento Yos individuos uns com os outros, que é vdlido para a inter- ipretagéio do Direito Privado™. ® LARENZ, Kar. Metodologia da ciéncia do direlto. Lisboa: Fundagao Ka- Jousie Gulbenkian, 1978, p, 488. A bibliografia estrangeira sobre a matéria 6 texiense. Sobre a problemética, consular princpaimente: VIEIRA DE ANDRADE (Os Direitos.., op. ct, p. 270-274) que, ao comentar a regra constitucional portuguesa sobre a forga juridica dos preceitos relativos aos direitos, liberda- {des © garantias dos cidadéos vincularem (também) entidades privadas, retira CLEMERSON MERLIN CLEVE FIDELIDADE PARTIDARIA 61 iio, © uma vez realizados os pressupostos constitucionais, javés da impetracdo do writ of mandamus esta cuas diregdes concorrentes: () a aplicablidade dos tals a toda a ordem jurea 6 porate ne rt (G40 do individuo nao som exercem ou esto em co ie perio Estado, man porrt @bes do oxorcervrdadelos padres, '. ALEXY, Robert (Teorla de los derechos fundamantales i 2 Consiucinales, 1993, p. 30752 20 das nermas juslundamentas sobre 0 stoma ios fundamentais. A partir desta disting cconrentes doutrindrias a respe fundamentals influem na relagao cidada ago das entidades pri ‘980 Académica da Faculdade de Torquato JAROIM om important passagem a espe 38 tornourse, desta, mais esi, © apenas pars gue go Isto ndo exc, por exempl, 0 lea sistipa Ettore para tn Ge prover os mois do que necssta 0 udlario pata 0 erence de sud peténcia jurisdicional e administrat er nly abeaye registro dos airotéros partidérios pe (TSE, Ac. 12,208, Dil Nao se trata, nesses casos, de expandir a competéncia ra praxis alien. Mesmo em aca Ge imagdo da autonomia dos partidos para a intema, orparizagao @ tunconament i exoress80 do. poder pl ‘onto a Constvigs, numba, como esta oa Sam prin jlonals postos nos capituos IV'e V do Til {lo (aris, 14 a 17), Eo minimo que se pode permit & J fila se espera o desempenio edequado de sua dem constituconal de repartigao de competéncias et dontes © primeira, nao tenha nesse mesmo pacto o ordenamento maior © 0 pressu- posto fundamental de todas as demeis normas, © segundo, nao contenha um fagente institucional, criado no prépria ordenamento maior, e com a finalidade do assegurar a prépria autoridade, que declare nulo ato’ou fato contrario & Constituiga escrita. Essa é, afinal, a esséncia da jucicial review. ire @ erlackio, a fuséo, a incorporacao e a extingdo dos partidos po- ssde que observados os principios postos na Constituieao, ¢ embora civil (CF/88, art. 17, ca- i, para se tornarem partido tuclonal, quando do re- (CF/BB, art. 17, § 28, in Embo Iticos, ‘adquitam eles personalidade juridica na forma da put e § 29, 66 doixam de ser mera associagao io, no plano do dcidiu o TSE (Ac. 12.209, Rel. Min. Sepiilveda Per: fence, DJU 27/04/92). A doutrina, todavia, mantém controvérsia a respeito. que sustentary posigéo contréria. Mesmo no Tri- 80 encontraveis dec'sOes com orientagéo ( fato de a Lei 9.259/06 haver excluido da Le! 1.593/51 a expresso partidos 108 no € capaz de impedir que venha o partido poltico, através do a residir no polo passivo de eventu legimagdo passiva do partido para mandado de seguranga tem imediata na Constiuigdo. E se os partidos pe vada, desempenriam um munus publico para perseguir a autenticidade do smeis pressupostes desta aco constitucior ‘do 6 autoridade publica, seus drigentos podem s: sdida om que so ‘agentes de pessoa juridica no exercicio de ioulgBes do Poder Publico’ (art. 5%, LXIX, da CF/@8) (CLEMERSON MERLIN CLEVE Nesse sentido, alias, j4 teve ocasifio de se pronunciar 0 Tribunal Regional Eleitoral do Parané: cabimento de mandado de seguranca contra re- presentantes de partidos politicos. Partido Politico através de seus representantes é parte legitima passiva em mandado de seguranca, a despeito de configurar pessoa juridica de direito privado, quando 0 ato reputado lesivo de direito liquido for praticado no exercicio das fungdes institucional- mente conferidas a Partido Politico. E que as fun- 0es institucionais so emanagées do Poder Piibli- C0, posto que aos partidos politicos cabe viabilizar a representagao democratica (pardgrafo tinico do art, 1° da CF/88), assumindo o nus de assegurar, no interesse do regime democritico, a autenticidade do sistema representativo (art. 1° da Lei 9.096/95)"**. No mesmo diapasio vem opinando a douta Procura- doria-Geral Eleitoral, Nos Recursos Especiais 12.876/RN, 13,096/RN, 12.873/RN e 13.21 1/RN, e no Mandado de Segu- ranga 2.472, teve 0 notdvel processualista Alcides Alberto MUNHOZ DA CUNHA, ilustre Sub-Procurador-Geral da Repiblica, ocasido de opinar no sentido de que a Justiga Eleitoral ¢ competente para dirimir conflitos partidarios ou inter-organicos com repercussio na legitimidade da represen- tagio partidéria e na autenticidade do sistema eleitoral. Nos pareceres em questo, 0 Ministério Ptiblico Eleitoral demons- ‘Aoordao 20.897. Recureo Eleitoral 2.239 - Classe 2. Recorrente: Comisséo Executiva do Partido Verde - PV. Recorrido: José Ritt Filno. Rol. (Desig.) Dr. Eduardo Fagut FIDELIDADE PARTIDARIA je {rou tratar-se, a autonomia conferida aos partidos politicos, de medida visando proporcionar maior liberdade para sua criagio € funcionamento, tendo em vista os princfpios norteadores de uma sociedade pluralista. Nem por isso, todavia, esta autono- Inia exclui os partidos da rbita de atuagao e fiscalizagao da Justica Eleitoral, A Justiga Eleitoral, afinal, reside na condicao de instituigdo destinada a assegurar a autenticidade do sistema fepresentativo partidério, informador do regime democritico brasileiro. Na fungdo de assegurar a legitimidade dos eleito- tes, dos partidos, dos candidatos e dos eleitos, a Justiga Eleito- ral encontra a sua propria raziio de existéncia. A esta fungdo corresponde a sua competéncia institucional, definida ou ex- plicitada em lei complementar, conforme a prépria previsio constitucional. Se a autenticidade do sistema representativo corres- ~ ponde a um valor méximo para a democracia”, um valor de ordem piiblica e indisponivel, e se os partidos politicos influ- em decisivamente para o atendimento deste valor (art. 1° da Lei 9.096/95), nao ¢ legitimo confundir autonomia com imu- nidade, sendo certo que sobre esta matéria ha de incidir, ne- cessariamente, a competéncia da Justiga Eleitoral. Alids, semelhante orientagao é encontrével no v. ‘Acérdio proferido pelo Egrégio Tribunal Superior Eleitoral no AI 160/RO™. Trata-se, este, de leading case que se presta, ® Para Miguel REALE, os valores mals importantes a serem garantidos através do sistema eleitoral sfo @ autenticidade - enquanto correspondéncia rigorosa lente a representagao @ a massa do oleitorado tendo em vista as opinides e Interesses 0 a eficdcia do govemo, a partir de uma correlagao funcional REALE, op. cit, p. 10 8! Relator: Ministro Marco Aurélio. DJU de 24/05/96, p. 17.459. CLEMERSON MERLIN CLEVE M0 _CLEMERSONMERLINGLEVE admiravelmente, para ilustrar o caminho que pode ser seguid para a defesa dos direitos subjetivos dos parlamentares quan do venham a ser, de forma ilegitima, representados por ato infidelidade partidaria com pena de expulsio**, Por essa mesma vereda circula a ligfo de Joaqui MUNHOZ DE MELLO, professor da Faculdade de Direito da UFPr, que, mercé de sua incensurdvel qualidade, deve ser transcrita por inteiro™: |. A Constituigdo Federal de 1988 afirma ser li- vre a criagdo, fusdo, incorporagéo e extingdo de partidos politicos, observados os principios enun- ciados em seu art. 17, assim como assegura aos partidos politicos autonomia para definir sua es trutura interna, organizagdo e funcionamento, te do com isto sepultado a sistemética da Carta de 1967, emendada em 1969, que tolhia a vida politi- co-partidéria submetendo-a a amarras que acaba- ram incorporadas @ Lei Organica dos Partidos Politicos editada em 1971. A nova sistemdtica constitucional, contudo, 56 veio a se consolidar com 0 advento da Lei 9.096, de 19/09/95, que re- © Tribunal Superior Eleitoral decidiu do mesmo modo no MS 1.534 (Acérdéio 18.484, publicado no OJU de 26/08/93, p, 16.808), verbs: “Eleitoral, Partido Politico. Mandado de Seguranga. Sango disciplinar con: sistonto na expulsdo do partido. Cabimento da soguranca, Recurso fempest!. vo: seu processamento, |- Atingindo a sangao discipinar o status do filaco por isso, sua condipao de elegibilidade, a este deve ser assequrada a oa ‘antia consttucional do mandado de seguranga e a jurisdigao da Justiga elo oral “MELLO, Joaquim Munhoz de. A autonomia dos partidos polices e a nova le oloitora. Revista Parana Eleitoral, Curitiba, n. 26, p. 17-18, julider. 1997, FIDELIDADE PARTIDARIA vogou a mencionada Lei Organica dos Partidos Politicos e dispds sobre a nova disciplina legal para os partidos politicos nacionais. Até entao, convivia 0 estatuto intervencionista de 1971 com as normas constitucionais de 1988, liberadoras dos partidos politicos, gerando grandes dificuldades ao exegeta para conciliar suas discrepancias. Com o advento da Lei 9.096/95, calcada na auto- nomia assegurada pelo Constituinte de 1988, diivi- das tém sido suscitadas a respeito da competéncia da Justiga Eleitoral para conhecer de questies por ela disciplinadas, parecendo a alguns que a preco- nizada autonomia impediria que a Justiga Eleitoral examinasse temas como filiagdo partiddria e cons- tituigdo de diretérios, os quais, ao ver de outros, quando muito deveriam ser submetidos ao crivo da Justiga comum na hipétese de surgimento de con- flito de interesses. E de fundamental importancia, assim, a definigao de critérios para a sistematizagdo das quesides que, em sede de relagdes intra-partidarias, ainda permanecem na competéncia da Justiga Eleitoral, seja através de contribuigdo da doutrina, seja através da jurisprudéncia. Parece induvidoso, de inicio, que a autonomia as- segurada pela Lei 9.096/95, nao significa imuni- dade dos partidos politicos ao crivo do Poder Ju- CLEMERSON MERLIN CLEVE dicidrio em relagao aos atos que pratiquem, pois Sempre que se caracterizar leséo ou ameaga de le siio a direito, 0 acesso ao Judiciério estard assegu rado pelo inc. XXXV do art. 5° da Constituigao deral. Doutra parte, tal autonomia também nao significa que os partidos politicos estejam imunes ao con trole da Justiga Eleitoral, bastando lembrar que préprio nascimento do partido politico esta condi cionado ao registro de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. Antes disso, ainda que tenh adquirido personalidade juridica na forma da lei civil, 0 partido néo poderd participar do proceso eleitoral, receber recursos do Fundo Partidério ¢ ter acesso gratuito ao rédio e a televisdo (art. 7°, § 2°, da Lei 9.096/95). E 0 TSE também pode deter- minar 0 cancelamento do seu registro civil (art. 28). Se ndo bastasse, o partido deve arquivar, no Cartério Eleitoral de cada municipio em que se organize, a relagdo de seus filiados (art, 19), deve apresentar & Justica Eleitoral o seu balango con- ‘abil anual (art. 32), e estd sujeito a fiscalizagao das despesas de campanha (art. 34) da propa- ganda partidaria (art. 45). 2. Mas se é assim, no que consiste, afinal, a auto- nomia dos partidos politicos? Consiste, pura e simplesmente, na atribuicdo, que agora thes foi outorgada, para ‘definir' sua estrutura interna, or- ganizacio e funcionamento, ao contrario do que FIDELIDADE PARTIDARIA B ocorria no regime anterior (CF/67, art. 152), em que tais quesiées deviam ser reguladas por lei fe- deral, a Lei Organica dos Partidos Politicos. Libe- raram-se os partidos politicos, portanto, do mo- delo padronizado e obrigatorio da lei para a sua organizagdo e funcionamento, cabendo-lhe hoje a escolha da estrutura interna que melhor Ihes con- venha, com a definigéo dos drgdos que devam compé-la, sua organizagao e funcionamento, e das normas de fidelidade e disciplina partiddrias (CFA8, art. 17, § 1°). Para tanto, os partidos politicos devem elaborar os seus estatutos e submeté-los a registro perante 0 Tribunal Superior Eleitoral para que alcancem efi- cacia ¢ estabilidade. Os estatutos, portanto, pas- sam a assumir papel normativo para as diferentes relagdes intra-partiddrias que regulem, substituin- do-se @ antiga Lei Organica neste mister. Através deles, doutra parte, os partidos estardo normatizando a sua auto-disciplina, De conse- giiéncia, eventual violagdo que 0 partido cometa em relagdo as regras de seus préprios estatutos, por certo sao passtveis do controle jurisdicional, sempre que violado, ou ameacado de violagao algum direito. Até porque os estatutos partidarios estardo regulando, em grande parte, 0 exercicio de direitos politicos, que nao podem ficar desprotegi- dos da tutela jurisdicional. CLEMERSON MERLIN CLEVE E esta tutela ha de ser prestada pela Justiga Elei- toral, no seu papel institucional de Justiga espe cializada, pois dela se espera muito mais do que a mera administracdo do pleito, tarefa que hoje, pe los avancos da informdtica, poderia até ser tercei- rigada. Cabe @ Justica Eleitoral, como lembra TORQUATO JARDIM, controlar minimamente 0 partido politico no cumprimento dos principios constitucionais enunciados pelos arts. 14 a 17 da Carta Federal, relativos ao exercicio dos direitos politicos, que necessariamente passa pela ativida- de dos partidos politicos, bastando lembrar que é hoje condigdo constitucional de elegibilidade a fi liagéo partiddria (CF/88, art. 14, § 3°, V), cabendo aos partidos politicos a missao institucional de servir de "canais por onde se realiza a representa- ¢do politica do pove", para usar as palavras de JOSE AFONSO DA SILVA. Sendo assim, todo ci: dadao interessado em se apresentar como candi- dato no proceso de representagéo popular tem o direito de se filiar a partido politico, observadas as regras dos respectivos estatutos, "Dat ser inafastdvel a tutela da Justica Eleitoral sempre que em jogo estiver ato de partido politico que atente contra o direito a filiagéo partidéria (recusa, suspensdo ou expulsdo), condi¢do para o exereteio de direitos politicos inerentes & propria cidadania;| FIDELIDADE PARTIDARIA 15 Escusar-se a Justica Eleitoral dessa tutela seria negar a sua missao constitucional de Justica es- pecializada", Como se percebe, nao obstante manifestarem-se, ainda, rcela da doutrina e determinados Tribunais em sentido con- rio, vai se afirmando, inclusive no seio do Tribunal Superior Jeitoral, a competéncia da Justiga Eleitoral nas matérias rela- ivas ao controle da autenticidade do sistema representativo Wa atividade partidéria, 5 - Conclusées Do que foi exposto até este ponto, é possivel con- luir que: 1. A autonomia concedida aos partidos politicos ‘Pela nova ordem constitucional nao implica imunizé-los, res- Peitado o nticleo do conceito, contra a atividade de. conforma- gio normativa do Legislador, ou contra a atividade de controle propria do Poder Judicistio. 2. Ocorrente lesio ou ameaga de lesio a direito, mesmo no Ambito partidério, pode o titular do interesse acaso fagredido socorrer-se da prestagdo jurisdicional, fazendo uso, se realizados os pressupostos de impetragio, inclusive do writ ‘of mandamus. 3, Em idénticas situagdes, com 0 tempo, vai-se afir- mando a competéncia da Justica Eleitoral, ramo especializado fo qual incumbe, entre outras relevantes atribuigdes, 0 con- {role da autenticidade do sistema representativo. 4, Trata-se, a diretriz, de norma de conduta concre- tizadora do programa ou da doutrina partiddrias. Apenas a auténtica diretriz, partidéria, conforme acima definida, pode BBLIOTECA DO Td 8 CLEMERSON MERLIN CLEVE FIDELIDADE PARTIDARIA 19 autorizar a emergéncia, ocorrente descumprimento, de ato de jos o programa ¢ a doutrina partidérias, esté o parlamentar infidelidade partidaria, florizado a abster-se de votar sempre que a diretriz partidéria tha a significar violéncia A sua esfera de intimidade e de inviego, Em semelhante situagao 0 parlamentar (i) nao se jolenta seguindo diretriz. que, sobre nao aceitar, pouco diz tabelecida por drgdo de dire ym 0 programa ou a doutrina partidarias, (ii) nem constrange rete 2 aoe ea j partido com manifestagéo de voto contririo & discutivel di- configurou concretizacdo do programa ou doutrina pariidd itriz fixada pela agremiagdo. Por comportamento deste naipe ris, tratando-se, antes, de questiondvel meio de controle pode © parlamentar sofrer punigio, especialmente quando atividade parlamentar (nao se trata de auténtica diretriz); (ii envolvendo lealdade para com seus pares, assina docu- nGo foi legitimamente estabelecida (problema de diretriz vin nto explicativo da posigdo assumida e comunica, previa~ culante do voto de parlamentar no exercicio da fungio de jul inte, A dirego do partido a decisio que pretende manifestar. gar), (iii) tendo sido definida por érgio desprovido de com peténcia para tanto (decisio da Comissio Executiva, érgi manifestamente incompetente, j4 que nao substancia, segund © Estatuto do Partido, érgao de dirego). O seu descumpri mento, por isso mesmo, no pode autorizar a censura dos parlamentares desviantes. 5. Nos termos da Lei Organica dos Partidos Poli cos, a infidelidade partidaria decorre do incumprimento de di retriz partidéria legitimamente do. No caso em estudo, (i) a 7, Embora nao prevista, expressamente, no sistema onstitucional brasileiro, é certo que a escusa de consciéncia we ser levantada para eximir 0 parlamentar da observancia diretriz partidaria, especialmente quando ela no constitua wo desdobramento dos postulados doutrindrios e programé- 10s da agremiagao. 6. O prinefpio constitucional da fidelidade partidér deve ser compatibilizado com os demais prinefpios constitucio nais, designadamente, o princfpio do mandato representativo ¢ © principio da liberdade de consciéncia, de pensamento e de convicgao (0s direitos fundamentais possuem natureza princi: piol6gica). A fidelidade partidéria no pode chegar ao ponto de transformar mandato representative em mandato imperati- vo, € 0 parlamentar em autémato guiado pelas cdpulas parti darias. Nao pode, também, chegar a ponto, observados a dou trina ¢ o programas partidérios, de violentar a consciéncia liberdade de convicgo © de pensamento do parlamentai Ocorrente situagdo de conflito, e desde que nao sejam macu 8. S6 ha configuragio do ato infracional caracteriza- de infidelidade partidéria na hipétese de plena realizagao tipo. A Lei Organica dos Partidos Politicos exige que as fracdes passiveis de san¢do no universo partidério sejam ti- icadas nos respectivos estatutos, A interpretagdo extensiva, sim como a analégica, nfo podem ser utilizadas para 0 jto de clastecer, maliciosamente, as fronteiras da previsio fatutaria, com quebra da funcionalidade do tipo (seleeao de yndutas censurdveis e garantia do acusado). Tendo a diretriz, daria vinculado os seus parlamentares ao voto pela "ad- sibilidade do pedido de impeachment" (tratando-se de CLEMERSON MERLIN CLEVE FIDELIDADE PARTIDARIA 81 norma em branco a resolugdo que plasma a diretriz comple menta a norma priméria contemplada no estatuto) nao pode: 05 parlamentares tidos como desviantes sofrer punigtio porque (i tendo votado pela admissibilidade do pedido de impeachm: (primeira deliberacdo da Assembléia Legislativa), mais tarde, por razes de foro intimo perfeitamente justificadas, (ii) dei | __xaram de yotar (preferiram a abstengao) pela procedéncia da acusagdo ou pela decretagio da dentincia (segunda delibera- gio da Assembléia Legislativa). As condutas questionadas pelo partido, so, a toda evidéncia, atipicas e, bem por isso, no desafiam qualquer sorte de sang&o disciplinar, 10, O detentor de candidatura nata, na forma como iefinida da legislagao de regéncia, possui direito subjetivo ao Tegistro da respectiva candidatura ao mesmo cargo eletivo, [para a proxima legislatura, pelo partido ao qual esté filiado. la hipétese de omissdo do partido, o interessado pode provi- nciar, diretamente, o registro pela Justica Eleitoral. Consi- wrando que as hipsteses de cassacao, perda, ¢ suspensio dos teitos politicos encontram-se previstas em numerus clausus art, 15 da Constituigao, a expulsio do partido, com 0 con- Aeqiiente cancelamento da filiaga0, no perfodo de um ano an- les das cleigdes, tendo em vista o disposto no art. 18 da Lei Orginica dos Partidos Politicos, pode importar manifesta do a direito individual tutelado constitucionalmente. 9. No processo de impeachment, o parlamentar de- sempenha fungao de julgador. Por isso deveré decidir apoiad na liberdade de conviccao e, mais, com fundamento nas pro vas realizadas, observado 0 principio do devido processo le gal. A admitir-se a fixagio de diretriz. partidéria em seme Ihante caso, ter-se-4 como conseqtiéncia a violagao do princi pio do juiz, natural (consectério do devido processo legal) diante do fato de que, antes da Assembléia Legislativa, con- forme definido pela Constituigao, a fungao de deliberar seré de modo reflexo, exercida pelos érgios partidérios e, também em face da circunstancia de que os acusados nao serio julga- dos de acordo com o devido processo legal (inclusive através de decisao fundamentada nas provas e nos elementos de con- vicgo constantes do processado), mas, sim, conforme a orienta- gio formalizada dos partidos. Ora, a liberdade deciséria é in sita & fungio de julgar, nao sendo Iicita a fixagao de diretriz partidéria neste particular, sendo qualquer espécie de ensaio com idéntica diregao apanhada pelo vicio da nulidade. 6 - Respostas as questdes propostas Com as conclusdes acima, cabe apresentar respo: objetivamente e na respectiva ordem de formulago, as ques- {Ocs enfrentadas no presente estudo: A (i) primeira questo, cumpre responder perante -a Eleitoral. A (ii) segunda questiio, responde-se sim, 6 cabivel a impetragio de mandado de seguranga contra ato de dirigente partidério. A (ii) tereeira questo, responde-se sim, 08 partidos politicos vinculam-se & lei e 4 Constituigdo na aplicago de penalidades estatutdrias. A (iv) quarta questo é satisfeita com a afirmacio de que a autonomia partidéria nao implica, respeitado o micleo essencial do conceito autonémi- 0, imunidade em face do legislador ou do Judiciério. A (v) quinta questiio, responde-se nao (no perfodo definido no art. 18 da Lei Organica dos Partidos Politicos, porque seme- Thante medida traduz-se em cassagdo dos direitos politicos dos mandatarios). A (vi) sexta questiio, responde-se niio, em face do contido no estatuto do partido em exame. A (vii) sétima questiie, responde-se, igualmente, no (a diretriz partidéria esté vedada a matéria relativa a julgamento de autoridade pela prética de crime de responsabilidade). E, finalmente, a (viii) ditava ¢ tiltima questo, responde-se sim (a escusa de cons- ciéncia pode ser invocada contra eventual diretriz partidéria). 7 - Referéncias Bibliograficas direitos fundamentals, Lisboa: Associagio Acadés reito de Lisboa, 1990. ALEXY, Robert. Teorla de los derechos fundamentales, Madrid:Centro de Estudios Ci Jonales, 1993. ANDRADA, Bonificio de. Direito Partidéri ‘em vigor. Brasilia: Centro de Documentagio ¢ Informagao - Coordenagio de Publicagdes, 1997 Comentarios legislagio ANDRADE, José Carlos. 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Lei 9.504/97 - Lei das Bleigbes - arts. 8°, 103, 104, 105, 106 e 107, 4, Estatuto do Partido. 5, Resolucio que fixou a diretriz parti 6. Declaragao de voto dos parlamentares representados ... 7. Representagio por infidelidade partidéria .. 8 - Anexos 91 95 115 17 124, 125 127 (Gece CONSTITUICAO FEDERAL TITULO TL DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, 8) Art. 5°.) VI- 6 invioldvel a liberdade de Wonsciéncia e de crenga, sendo assegu- Tudo o livre exercicio dos cultos reli- losos e garantida, na forma da lei, a Aiteitos por ‘ou de conviegao filosética ou p falvo se as invocar para eximir-se Dbrigagao legal a todos imposta e re- feusar-se a cumprir prestagao alternati- Ya, fixada em leis @) XXXV - a lei no excluird da apreciagio do Poder Judicisrio lesd0 ou ameaga a diteito; XXXVIT - ndo haverd Jufzo ou tribunal de excegdo; ea LILL- ninguém sera processado nem sentencindo seno pela autorida- de competente; LIV - ninguém seré privado da liberdade ou de seus bens sem 0 devi- do processo legals LLY - aos litigantes, em proces- so judicial ow administrativo, © aos acusados em geral so assegurados 0 ccontraditério © ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; soa) CAPITULO TV DOS DIREITOS POLETICOS Art. 44, A soberania popular Distrital, Preeito, Viee-Prefeito ¢ Juiz serd exercida pelo suftdigio universal e 4° Paz; pelo voto direto ¢ seer Art. 17. livre criagdo, fu. Jo, incorporagio e extnglo de parti- com valor ‘igual para todos, e, nos termos da lei, mediante 2) 4) dezoito anos para Vereador Art. 15. & vedada a cassacii de direitos politicos, cuja perda suspensio 56 se dar os 0s sequins precetos: § 3° - Sto condigécs de clegi- is 1 casos de: I-caréter nacional; T- cancelamento da naturaliza -ga transitada em julgac TL-incapacidade civil absoluta; II - condenagio criminal sitada em julgado, enquanto durare seus ef IIL - prestagio de contas a Jus- figa Eleitoral; IV - recusa de cumprir obriga todos imposta ou prestagao fiva, nos termos do art. 5°, v- far de acordo com a let uncionamento parlamen- ‘YVI- a idade minima de: § 1° - E assegurada aos partidos Politicos autonomia para definir sua fstrutura interna, organizagio e funci V ~ improbidade administra vva, nos termos do art. 37, § 4% 8) trinta e cinco anos para Pre- sidente © Vice-Presidente da Repl cae Senador, ©) ) trinta anos para € Vice-Governador de Distrito Federal 0s partidos politicos, lupds adquirirem personalidade juridi ©) vinte e um anos para Depu- tado Federal, Deputado Estadual ou CONSTITUIGAO FEDERAL CONSTITUIGAO FEDERAL CAPITULO V DOS PARTIDOS POLiTICOS seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral, § 3° - Os partidos politicos tém Art, 86, Admitida a acusagio contra o Presidente da Repablica, por dois tercos da Cémara dos Deputados, serd ele submetido a julgamento pe- ‘Tribunal Federal, nas 's penals comuns, ou perante 0 Senado Federal, nos crimes de respon- sabilidade, § 1° - 0 Presidente ficaré sus- penso de suas fungaes: ©) IL nos crimes de responsabili- dade, apés a instauragio do. processo pelo Senado Federal. cH ‘Art, 102, Compete ao Supremo T- processar ¢ julgar, origina: amente: ‘missio diplomAtica de cs nente; () se a ass0Hrar no interesse do re- Hime democritco, a autentcidade do fistema representativo e a defender os cos fundamentais definidos na Gonstituieto Federal Art. B livre a criago, fsto, Incorporagie © extingto. de partidos politicos evios prosramas respeitem a Noberania sacional, o regime demo. fritico, o plripartiarismo e os di. assegurada 20 p Politico, autonomia para defnir sua ra interna, organizagdo fun- {ionamento [Art- 4" Os filados de um partido Politico tm iguai se deveres, Art. 5° A agio do partido tem Hardter nacional e 6 exercida de acon LEI 9.096, DE 19 DE SETEMBRO DE 1995 (LEI ORGANICA DOS PARTIDOS POLITICOS) pe sobre partidos 17e 14, 83°, inc. V, da Constituigdo Federal. com s bordinagio a entidades © governos estrangeiros. pol para a mesina natureza e adotar uniforme para seus membros, Tos fundementais da pesson humana, _‘e0he eater nacional, considerando- dente a, pelo menos, meio por cento dos votos dados na gltima eleiglo ge- ral para a Camara dos Deputados, computados os votos em nulos, distribuides por um tergo, {que haja votado em cada um doles. 08, regulamenta 08 arts, estatuto © programa, sem si Art. 6 E vedado a0 partido ico ministrar instrugdo militar ou , utilizar-se de organizagio Art. 7" O partido politico, apés faquele que comprove 0 96 § 2° - $6 0 partido que cenha registrado seu estaruto no Tribunal Superior Eleitoral pode partieipar do processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidério e ter acesso gratuito ao rédio ¢ televisao, nos termos fi- xados nesta Lei. $ 3° - Somente © registro do do partido no Tribunal Supe- yal assegura. a exchus idade dda sua denominagdo, sigla e simbolos, vedada a ago, por outros part dos, de variagdes que venham a indu- Zit a erro ou confusio. TiTULOT DA ORGANIZACAO EDO REGISTRO DOS PARTIDOS PoLfticos. Capitulo 1 DA CRIACKO EDO RE DOS PARTIDOS POL{TICOS jeas, da Capital Fo- eral, deve set subscrito pelos seus fundadores, em nimero nunea inferior a cento € um, com domi Lei 9.096, de 19/09/05 (integra) ‘em, no mfnimo, um tergo dos Esta «ser acompanhado de: Art. 9° Feita a constituigo © § 3° do artigo | através de requerimento acompa- cial que publicou, no seu inti Miso de: © programa o estatuto; I - exemplar autenticado do IIT - relagdo de todos os teor do programa e do estatuto dores com o nome completo, nat Pessoa jurfdica, a que se refere 0 § 2° artigo anterior; fissio e enderego da residéncia; $1" - 0 requerimento IIT - certidées dos. cartérios itorais que comprovem ter o partido {biido o apoiamento mfnimo de eleito- aque se refere 0 § 1° do att. 7° § 1° - A prova do apoiamento Tninimo de eleitores € feita por meio deste artigo, 0 Of vil efet © registro no ppondente, expedin ro teor. cert $3" - Adquirida a personal -a na forma deste artig partido promove a obtengio Wsinaturas © © mimero dos ilestados pelo Eserivao Eleitoral mo de eleitores @ que se rofere 0 § I" do art 7° realiza § 2° - 0 Excrivio Eleitoral dé Milas, lara 0 seu atestado, devolvend W0 inceressado. Le 9.096, do 1909195 (intr) § 3° - Protovolado 0 pedido de ibunal Superior Elcito- registro no ral, 0 provesso respective, no prazo de quarenta ¢ oito horas, & ‘um Relator, que ouvida a Procuradoria, Ge determina, igual prazo, diligéncias para sanar ‘eventuais falhas do processo. do a em dez i em 1 determinar, ou apés 0 seu atendi- ‘Tribunal Superior Eleitoral registra 0 estatuto do part de trinta dias, Se nilo houver diligéncias Art. 10, As alteragbes progra- miéticas ou estatutarias, ap6s registra- das no Oficio Civil competente, de- vem ser eneaminhadas, para o mesmo fim, a0 Tribunal Superior Eleitoral. Art. 11. 0 partido com registro ‘no Tribunal Superior Eleitoral pode credenciar, respectivamente: I~ deleg: Eleitoral os perante 0 Juiz II- delegados perante 0 Tribu- tor nal Regional IIT - delegados perante 0 Tri- ‘bunal Superior Eleitoral Pardgrafo dinieo. Os delega- dos credenciados pelo érgfo de dire- 98 Le 9.006, de 19/00/05 (integra) ¢2o nacional representam o partido perante quaisquer Tribunais ou Juizes Bleitorais; os eredenciados pelos 6r- perante 0 Tri- rll e os Tuszes tito Federal ou Tervt6rio Federal; © 08 credenciados pelo rato munici- pal, perante 0 Juiz Eleitoral da respec jurisdigho. Capitulo 11 DO FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR Art. 12. 0 partido politico fun- ciona, nas Casas Legi termédio de vas, por in na bancada, que deve constituir suas Liderangas de acordo com 0 estatuto do partido, as disposi- ees regimentais das rospectivas Casas as normas desta L Art. 13, Te namento parlamentar, em todas as Casas Legislativas para as quais tenba elegido representante, o partido que, fem cada eleigdo para a Camara dos Deputados obienha © apoio de, no Jireito a funcio- ‘minimo, cinco por cento dos votos apurados, nfo computados os brancos ibuidos em, pelo me- nos, um tergo dos Estados, com um mfnimo de dois por cento do total de cada um deles. Capitulo 111 DO PROGRAMA EDO ESTATUTO Art. 14. Observadas as dispo: sig@es constitucionais e as desta partido é livre para fixar, em seu pr ‘gramna, seus objetivos politicos e em seu est estrutura interna, organizagio © fun: estab to, a cionamento, Art. 15. O Estatuto do part ‘deve conter, entre outras, normas sobre: 1 nome, denominasio abrevie rento da sede na Ca TT filiagdo e desligamento de seus membros; III - dircitos © deveres dos fi- IV - modo como se organiza e administra, com a definieao de sua cestrutura geral ¢ identificagao, compo- clas dos Srgdos parti is municipal, estadual e La 9.096, de 1910995 (integra) 99, nacional, duragao dos mandatos e pro- {603308 de elei¢do dos seus membros; V - fidelidade e discip fidirias, processo para apuragio das idades, 1 par infragaes e aplicago das pen assogurado amplo direito de defesa; VI - condigdes © forma de es- ccotha de seus candidatos a cargos FungGes eletivas; VIL - finangas ¢ contabilidade, estabelecendo, 1 habilitem lusive, normas que purar as quantias que fs seus candidatos possam despender com a prpria eleigdo, que fixem os ites das contribuighes dos definam as diversas fontes de receita ad do partido, além daguelas previstas nesta Lei; VII - eritérios de distribuigio dos recursos do Fundo Partidério entre 10s drgios de lenacional que co IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto. Capitulo 1V DA FILIACAO PARTIDARIA Art. 16. $6 pode filiar-se a a filiagdo parti- imento. das regras ‘estatutérias do partido, Paragrafo nico, Deferida a filiagdo do eleitor, seré entregue com- provante ao interessado, no modelo adotado pelo partido. Art, 18, Para concorrer a cargo letivo, 0 eleitor deverd estar filiado 1 respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixa para as elei- Ges, majoritérias ou proporcionais. Art, 19. Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ‘ano, o partido, por seus drgiios de di- reso municipais, regionais ow nac nal, dover remeter, aos Ju(zes Eleito- rais, para arquivamento, publicacio © imprimento dos prazos de filiagdo partidaria para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relagio dos nomes de todos os seus filiados, da qual constard a data da filiagio, 0 niimero los eleitorais e das segdes em dos i ‘que esti inscritos.. Alterado pelo art. 103, da Lei 9.504/97. Se Lel 9.096, de 19/09/95 (nora) §1°- Se a relagio nao ¢ reme- tida nos prazos mencionados. neste artigo, permanece inalterada a filiagio de todos os cleitores, constante da = Os prejudicados por de- sidia ou mé-f6 poderdo requerer, dite- tamente & Justiga Eleitoral, a obser- vincia do que presereve o caput deste artigo. ‘Art, 20. facultado a0 partido polfico estabelecer, em seu estauo, 0 particriasuperiores 408 previstos nesta Lei, com vistas @ do partido, com vistas a candi o podem ser altera- Para desligar-se do do faz comunicagio escrita ao drgio de diregio caoh al da Zona em que for Pardgrafo tinico. Decorridos dois dias da data da entrega da comu- nieagdo, 0 vinculo torna-se extinto, tados 0s efeitos, Art. 22. O cancelamento ime diato da filiagio partidéria ver nos casos des 1- mone; IL- perda dos direitos IIL -expulsao: TV - outras formas prev comunicagao obrigats 20 atingido no prazo de quarenta e oi horas da decisdo. Pardgrafo tinico, Quem se iro partido deve fazer comus sideradas nulas para todos 0s efeitos. DA FIDELIDADE E DA DISCIPLINA PARTIDARIAS, Art. 23. A responsabilidade por violagdo dos deveres partidatios deve ser apurada e punida pelo competente rgio, na conformidade do que dispo- nha o estatuto de cada partido. Lol 9.006, de 19/00/05 (ntogra) 1 algum pode so- eonduta que nilo esteja ‘estatuto do partido politico, Art, 24, Na Casa Legislativa, 0 fntegrante da bancada de partido deve ‘gubordinar sua ago parlamentar aos prinefpios doutringrios © programsti {605 © as diretrizes estabelecidas pelos Grefos de diregio partidérios, na for- sma do estatuto Art. 25. 0 estatuto do partido além das medidas fgdes que exerga em decorséacia da tepresentacio ¢ da proporco partidé- tia, na respectiva Casa Legislativa, a0 [parlamentar que se opuser, pela ati de ou pelo voto, as diretrizes Ie mamente estabelecidas pelos partidlrios. Art, 26. Perde automatica- mente a fungdo ou cargo que exerga, ma respectiva Casa Legislativa, em virtnde da proporedo partidéria, 0 parlamentar que deixar o partido sob ceuja legenda tena sido e! wpitulo VI DA FUSAO, INCORPORACKO E EXTINCAO DOS PARTIDOS PoL{ricos Art, 27, Fica cancelado, junto 0 Oficio Civil e a0 Tribunal Superior Eleitoral, 0 registro do partido que, na forma de sou estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro. decisSo, determina o cancelamento do © do estatuto do partido contra o qual fique provado: 1 - ter recebido ou estar rece: endo recursos financeiros de proce- ‘dencia estrangeira; uw subordinado a entida- de ou governo estrangeitos; + nfo ter prestado, nos ter- mos desta Lei, as devidas contas & Justiga Eleitoral; TV ~ que mantém organizagdo Lal 9.096, de 1909195 (nog) pla defesa, § 2° - 0 processo de cancela- mento ¢ iniciado pelo Tribunal & vista de dentincia de qualquer eleiter, de representante de partido, ou de repre- Art. 29. Por decisto de seus rgiios nacionais de deliberagio, dois ‘ou mais partidos poderio fundirse ‘num 36 ou incorporar-se um ao outro. §1°- No ‘var-se-Ho as seguintes 1 - 0s 6rgios de urtidos elaborariio pr de estatuto e programa; Mos raBios nacionais de de- 8 projetos, © elegerio 0 érgiio de diregao nacional que promoveri 0 registro do novo maioria absoluta de votos, em seu 6r- %0 nacional de deliberagio, sobre a adogio do estatuto © do programa de contra agremiagio. § 3° - Adotados eo programa do partido incorporador, realizar-se-4, em reunido conjunta dos rgaos nacionais de deliberacdo, io do novo érgio de diregao na- ional ipdtese de fusdo, a ncia legal do novo partide tem 19 Offeio Civil competente da Capital Federal, do estatuto e do programa, eujo requeri ‘mento deve ser acompanhado das atas das deci § 5° No caso de incorporacio, 6 instrumento respective deve ser vvado a0 Oficio Civil competente, q deve, entio, cancelar 0 registro do par orado a outro, § 6" - Havendo fusio ou incor- poraglo de partidos, os votos obtidos por cles, na dltima eleigdo geral para a Camara dos Deputados, devem ser somados para efeito do funcionamento parlamentar, nos termos do art. 13, da istribuigio dos recursos do Fi Partidério do acesso gt dig e& televisio to a0 Lei 9.096, de 19/09/05 (integra) § 7° ~ O novo estatuto ou ins: incorporagio TITULO HI DAS FINANGAS E CONTABILIDADE DOS PARTIDOS Capitulo 1 DA PRESTACAO DE CONTAS Art, 30. © partido polftico, através de seus Grgaios nacionais, regio- nais ¢ municipais, deve manter escritur ‘ecitase a destinagiio de suas despesas. ‘Art. 31, B vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contrib pecuniério ou estimével dente de: I- entidade ou governo estran- geiros; no art. 385, a - jas, empresas pi mndrias de servigos 98, sociedad de economia mista fundagées institufdas em virtude de Jei © para cujos recursos concorram

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