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O sistema da arte mais além de sua simples prdtica’ Maria Amelia Bulhdes Contribuigdes conceituais para o estudo do sistema da arte A maior parte dos estudos sobre artes visuais centra sua anilise na figura do artista, considerado como responsivel individualmente pelas caracteristicas e a repercussio social de seu trabalho. Parte-se, aqui, a0 contrério da ideia de que 0 trabalho ico 6 um fendmeno puramente individual, que se possa isolar da sociedade. Para compreender as artes visuais, é preciso do artista, investigando individuos e instituigdes que -0s, marchands, museus, sal6es, galerias, revistas de nfo age de forma auténoma; obras e eventos artist sua difusio ¢ seu consumo, esto as condig6es econdmicas, sociais que atuam, isto é, com o processo histérico do qual participa de ‘maneira especifica e no qual se transformam. . Para a andlise dessas relagdes, utiliza-se 0 conceito sistema da arte? “conjunto de individuos.¢ instituigdes responséveis pela producdo, difusdo ¢ consumo de objetos ¢ eventos por eles mesmos rotulados como artisticos ¢ responsaveis também pela definicgo dos padres e limites da arte para toda uma sociedade, ao longo de Brasil anes 1960/70, defendida pela autora na US la na integra. Para este texto alguma nomenclt 16 | Asnovas regia do jogs sistema da arte no Bras um perfodo histérico”.” Com essa definigao é possivel aprender a complexidade das estruturas ¢ 0 dinamismo destes processos, em uma visio sinerénica das variaveis que interferem na producao e na difusdo das artes visuais e do seu papel nos contextos histéricos. sua estrutura, seu funcionamento ¢ as suas transformagées a0 longo deste perfodo. Destacam-se suas relagdes com as condigdes as ¢ sociais do Pais nestas duas décadas que as na estruturagio das condig6es em que se vive ‘© conceito de campo, definido por ele da seguinte ampo & um espago de jogo, um campo de relacdes fas entre individuos © tores da atividade social, quais sejam: o religioso, politico e cultural Dentro do campo cultural, aborda mais detalhadamente o campo de produgao ert co. E te destacar que ele nido descreve o funcionamento dos campos, mas busca descobrir ¢ evidenciar as forcas im responsdveis por este funcionamento, levantancio seus principios basicos de existéncia. Para ele, o campo tem uma estrutura ¢ regras de funcionamento que podem ser analisadas independemtemente das caracterfsticas pessoais dos individuos nele atuantes, sendo fundamental 0 estudo do campo € no 0 dos individuos, como tradicionalmente se faz em artes visuais. Ainda que usando uma nomenclatura diferente, Bourdieu apresenta uma forma aproximada de compreender as mesmas questdes abordadas sob a designagio de sistema da arte. Pode-se, 2 Esta defini fi estabelecidae enunciada na tese de dourorado da autora, p17. ava Amaia Bothoes | 17 assim, utilizar suas contribuicdes reflexivas e interpretativas nesta anilise. De acordo com Pierre Bourdieu (1983, p. 165), “o sujeito da_ obra nfo € nem o artista singular, causa aparente, nem um grupo _ social [...], mas 0 campo da produgao artistica em. seu conjunto [..]". Para compreender do que se trata campo (1983, p. 89), explica que “os campos se apresentam & apreensio sincrénica como espacos estruturados de posicées (ou de postos) cujas propriedades dependem das posigdes nestes espacos, podendo ser analisadas independentemente das carac ss de seus ocupantes”, sendo que em cada campo hi leis préprias de funcionamento que regem suas especificidades e a atuacdo de seus agentes. “Quanto mais uma atividade ¢ mediada por uma rede estruturada de posig6es, ‘goes, de atores, mais ela tende & autonomia de suas des: a consisténcia da mediagZo depende do giau de (HEINICH, 2008, p. 102). Campos podem dos em diversas épocas ¢ sociedades. comenta que, para entrar na disputa do “jogo”, & necessirio respeitar a sua estruturae conheceras suas tegras, mesmo. que jogador_nao concorde com elas. E por meio daqueles que | 0s de produciode-bes culturais, como no caso da arte, existe ainda orisco de se acabar com o préprio jogo, quando as transformagSes visam uma busca pela verdade tornando as origens, que fundamentam a , Tesultando em revolugées totais no campo (BOURDIEU, 1983). Para esse autor, as lutas no campo ar 18 que podem ser objtivam ‘objetivos de seus autores sem terem sido expressamente concebidas ‘conjunto de creneas, tdcnicas e referencias, 18 | Asnovas gras do jogo sists da arte no Bras existem_tés diferenciadas categorias de capitais: 0 econdmico, € 0 cultural. A propriedade destes diferentes capitais fundamental na tuta pelo poder politico. As diversas fracdes da classe d ce nao detém as mesmas proporgées das diferentes espécies de capital, mas a propriedade de um determinado capital pode determinar uma disposigio particular em relacéo ao sistema da arte As observagdes de Bourdieu sobre as regras ¢ 0s principios de funcionamento dos campos permitem afirmar que, para ele, os elementos estruturadores so a Iuta pelo poder e a crenga no universo mégico da arte, Em sua teoria, ndo hé nenhum sistema que ndo funcione, pelo menos em parte, devido a crengas, sejam elas quais forem. A eficacia de seu trabalho esté em desvendar as crengas que sustentam os mecanismos que fundam 0 mundo social e, dentro deste, o campo artistico. O autor chega mesmo a afirmar que a sociologia da cultura é a sociologia da religido de nossa época. Com uma perspectiva desmascaradora e dessacralizante, 0 autor afirma que 0 que faz com que 0 campo funcione é a crenga Letiva nos valores nele estabelecidos. © que cria a magia ¢ o val tico” dos objetos é a trama de todos 08 agentes que part dele ¢ sua crenga nas tradicdes e na estrutura jé estabelecida, Os valores se estabelecem nesta rede de relagées ¢ nela se constréi também o proprio conceito de “arte”, uma vez que o valor da obra 0 valor da propria arte esto intimamente ligados. © poder do__ sistema da arte € maior na medida em que a trama que 0 | encontra-se mais oculta, tanto aos que nele esti envolvidos quanto aos que dele esto excluidos. A forga do sistema esta ligada a sua estrutura, a suas instituigdes, ao peso de sua histéria. institucionaliza¢io mantém e renova os rituais, estabelecendo jerarquizagoes dentro do variado universo das Maria Ami 1a atividades artisticas. As estruturas de poder mascaram-se por meio da crenga na magia do criador e na individualidade autdnoma das produgdes, na sabedoria despolitizada dos criticos e na devoséo abnegada dos consumidores. Pode se, ainda, afirmar que o sistema da arte surgiu como um mecanismo de dominacao, na medida em que seus integrantes impuseram 20 conjunto da sociedade padroes que eram de uma minoria; no caso do mundo colonial, essa imposigio ocorreu por parte dos colonizadores sobre os povos colonizados. Ao apresentar jos particulares como definidores dos produtos ¢ _ superior as demais produgdes plisticas, designadas artesanaco ou artes menores. Dessa forma, o sistema da arte impés uma hierarquizagao que legitimava simbolicamente o poder pol econémico de seus integrantes. A ordem resultante da daqueles que tinham acesso ao sistema da arte passou a impor uma dominagio simbélica sobre os demais, excluidos desta participagao. wva-se, assim, a elaboragdo_simbélica dos_extratos is nfo integrados ao sistema, estabelecendo-se mecanismos de ingo que legitimavam a dominagao social preexistente, da qual o sistema era também resultante, Essa distinglo passou a funciona, desde entlo, como estratégia de poder politico dentro da sociedade: uma estrat que se torna mais eficiente, na medida em que é mais mascarada, aparecendo como _legitima. Assim, 0 conceito sistema da arte e a realidade por ele explicada devem ser pensados como historicamente_datadgs)> negando, portanto, orientagées que pretendem considerar a arte como um fendmeno universal permanente. Esta afirmacdo nao deve conduzir a uma negagao da humana, nem das necessidades de realizagio de icas. O fendmeno da elaboragao simbélica enquanto 20 | As nova regis dogo: ssema da arte no Bras atividade psfquica humana ¢ universal e atemporal, No entanto, a apropriagao pelas elites das mais eficientes ¢ adequadas produgses sob a designacdo de arte, este sim, € um processo recente na hi da humanidade, que se realiza, na sociedade moderna, (0 desse conjunto de relagSes denominado sistema da arte. ‘A partir dessas consideragSes nos propomos a observar 0 desenvolvimento do sistema da arte no Brasil, nos anos 1960/70, identificando suas estruturas e seus desdobramentos. Museus, escolas de arte, saldes, galerias e espacos especificos de arte nos meios de comunicagéo de massa podem ser considerados suas principais instituigées. Dentro delas, individuos desempenham fungdes que determinam sua posigdo € poder no sistema, Como este 6 um periodo em que o sistema moclerno ainda esté se consolidando, conta com poucas insticuigGes ¢ 08 individuos interatuam em diversas fung6es. amente produzirem suas obras, si0 professores de artes em universidades e cursos piblicos ou privados, como Carlos Fajardo e Fayga Ostrower, ou, ainda, produzem eventos, como Proposta 65, organizada por Waldemar Cordeiro ¢ “Angelo Aquino. Criticos, como Olivio Tavares, Frederico Moraes ou \ém de comentarem obras, desempenbam docéncia de teoriae histéria da arte ¢ atuam como administradores na diregio de museus e outras instituicées. A atividade do marchand, que & basicamente a comercializacao, também se estende & organizacio de ‘eventos, como ocorteu com Jean Boghici e Ceres Franco, em relagao 4 importante mostra Opinido 65, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, Como se pode observar, os individuos que atuavam nesse circuito, faziam-no dentro de instituiges que davam respaldo a suas priticas e legitimavam suas ages. Os mesmos individuos realizavam varias e diferenciadas atividades, 0 que res bastante as possibilidades de entrada de outros, evidenciando a Mai al boa pouca profissionalizagio desse sistema que se apresentava bastante fechado. Em tomo dessa estrutura se articula tudo que pode ou aspire set considerado arte dentro dessa sociedade, nesse momento. Os individuos nela inseridos so os responsaveis por um processo de legitimago que pode ser mais bem analisado utiizando a teoria da > rotulagio a que se refere Howard Becker (1977). O ponto central de sua teoria éa constatagio de que a rotulacao se organiza a partir da criagao de regras por um determinado grupo. Aplicada & arte, 0 artista € aquele rotulado com sucesso como tal (rotulagdo aceita socialmente), ¢ © comportamento artistico em uma sociedade € estabelecido por um corpo de conveng6es. Assim, _para_o. funclonamento do sistema da are necessério que seus intagrantes |" cobtenham da sociedade o poder de rotular como arte determinadas produgdes e como artistas determinadas pessoas. Um_processo complexo em que a aceita¢ao dos pares é fundamental. © poder rotulador das instituigGes. Por outro lado, é definido pelo peso de: sua histéria, por suas articulagSes com as dem: icdes do sistema e pelas atividades que sedia. ‘© Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, por exemplo, além da atividade especifica, de sediar mostras, manteve, durante proprio, & outros, 1ma espécie de sele¢o anual, nacional, dos melhores em cada area (pintura, desenho, gravura e escultura). Estes museus, publicos ou privados, indistintamente, se articulavam_e interagiam.com.o Circuito comercial de galerias. Uma mesma mostra, como a do grupo de artistas argentinos da Nova Figuragto, foi exposta no MAM do Rio de Janeiro e na Galeria Bonino. O Museu de Arte de Sao Paulo 22 | Asnosas gre do jogos o sistema da steno Basil promoveu, conjuntamente com a galeria Arte Aplicada, a exposigéo © Mével e Objeto Inusitado, Como.a arte era apresentada A populagdo_em_geral via os eis de comunicagio de massa, um espaco especificode divulgacao das artes visuais dentro de jornais, revistas, em ridios ou TV, pode dar aquele que é seu responsdvel uma posicao de poder dentro do sistema da arte. Assim, por exemplo, varios periodistas, jornalistas que se especializaram no tema, como Olivio Tavares, Olney Cruse, ‘ou Harry Lauss, passaram a dispor de um poder de rovulagio proporcional 4 penetragio dos periédicos em que atuavam. Os meios de comunica¢do, como um todo, néo fazem parte do sistema da arte, mas 0s espagos especificos dedicados As artes se tornam segmentos dele. Um bom exemplo disso, no periodo estudado, so as colunas de arte em jornais e revistas de ampla circulagéo destinadas ao grande piblico. Em ger izavam uma quantidade de adjetivos superior & das demais matérias, referenciavam a presenga de personalidacles nos eventos e as cifras astrondmicas que fas pecas alcangavam. Além disso, estabeleciam sempre uma relaco, da arte com a distingao ¢ a sofisticagdo de gosto, utilizando-a, inclusive, como chamada em antincios publi . A impor desses meios de comunicagio estava ligada ao fato de que cles divulgavam uma imagem sofisticada e erudita da arte ao. grande smo e 0 signo de distincao dese sistema. piiblico, reforgando 0 ‘As matérias sobre artes visuais ocupavam um espaco dentro das piginas de cultura, © que as colocava no espaco magico a que se refere Pierre Bourdieu (1983). © papel do Estado no sistema da arte, no Brasil, € muito grande, tendo desempenhado ages mais diretas, como o mecenato, inaugurado com a vinda da familia real portuguesa ¢ @ criacio wossa sociedad F Na pigina 155, Bourdiew afirma que o equivalente da m jou Le Monde, expecialmence na pagina I Mari Ami Bhs | 23 da Academia Real de Belas Artes, ¢ continua com a manutengao de instituig6es pablicas como museus e escolas de arte. Ou, favorecem o desenvolvimento de determinadas estruturas ou correntes de arte e reprimem outras. Apesar de forte essa presenca, ela € pouco reconhecida pelos integrantes do defendem sua autonomia, © mecenatofavoreceu a manuteneto de priticas artisticas de consumo restrito e a conservagao de objetos ¢ monumentos que testemunham um passado heroico de sua elite, O Estado assumiu 0 compromisso de manter viva a meméria nacional (documentos e obras que preservam glérias e pod -ando-a na construgéo de uma identidade. Desempenha assim a tarefa de unificador simbélico (ideia de nacdo), que os diversos segmentos de classe dominante nao conseguem realizar isoladamente, mas que é fundamental em termos de controle popular na sociedade moderna € contemporinea, Anos 1960: a emergéncia do mercado moderno, mobilizacées e disputas simbélicas Em termos gerais, no Brasil, pode-se considerar a ‘ a importante etapa_da_modernizacao internacionalizante que se_processava desde o inicio da década anterior. Esta modernizagio se expressa no si orientado pela légica de i desenvolvime: substituigdo de importagoes e a integracao da econom ‘uma condicéo mais avangada do capi 2g | As nova regis dojogoro sistema da arte no Breil que propunham outras alternativas de desenvolvimento, menos atreladas ao capital internacional e mais identificadas com 0 ‘modelo nacionalista ¢ populista da era Vargas. Essa mobilizacdo, popular ativou uma dinamica cultural mais politizada_e voltada para os interesses das classes trabalhadoras. Alguns setores da intelectualidade brasileira inauguravam um novo modelo de atuacao, artistica, comprometendo seu fazer com as lutas sociais que estavam ‘se desenvolvendo. No ambito de priticas artisticas, como 0 teatro, a imiisica e o cinema, surgiram tendéncias democratizantes, alterando sua produgdo e suas formas de difusio. Nese momento, as artes visuais se mantiveram, praticamente, & margem das mobilizagbes. (© sistema seguia o seu curso de atualizaco_formal internacionalizante, com predor jodas tendéncias abstracionistas, que vinham se impondo desde a década de 1950, alcancando seu apogeu com o concretismo © neoconcretismo. As renovages se desenvolviam sem maiores alteragdes na estrutura do sistema ¢, principalmente, sem que as disputas sociais, que conflitavam fa sociedade, o atingisse. Pelo contrario, as artes visuais foram apresentadas como sinénimo de estabilidade ¢ valor_garantido, Nesse periodo, 0 mercado de arte apresentou um novo perfil, com a criagio de galerias empresariais, demonstrando que a crise que envolvia muitos setores da sociedade brasileira nao o atingia. Pode- se observar, em matérias publicadas em jornais e revistas, que as artes visuais eram vistas como um investimento seguro ¢ em. ascenséo. Um espaco digno de confianga para as elites depositarem seus ganhos e auferirem um status social. A arte era vista em ‘médulos publicitérios como um signo da modernidade que as elites implantavam desde a década de 1950, com o fortalecimento de um parque industrial de bens de consumo duraveis. Desenvolvimentismo e moderidade artistica foram signos dos novos tempos que esas clites se propunham construir. Os Maria Amta Bulhdes | 25 questionamentos sociais nao atingiram as artes visuals, cujo piblico, restrito e sofisticado, permaneceu identificado como. projet. de modernizacio que os setores intelectuais médios questionayam. AAs artes visuais mantiveram, nesse momento de crise, seu espago permanente dentro dos meios de comunicacao social, sem que se percebessem questionamentos sociais mais profundos ou grandes antagonismos. Pelo contrério, uma arte mais tradicional, figurativa, de inspiragao modernista, seguia 20 lado da abstracéo que se dividia ‘em duas vertentes: uma mais informal e intimista ¢ outra mais geométrica e racional, Eram tendéncias estilisticas diferenciadas {que se identificavam com visOes de mundo conflitantes, mas que se harmonizavam na manutengao da logica de distingao no sistema da arte local. A grande novidade desse perfodo se deve & dinamizagio do mercado de arte, ligada ao surgimento de um novo tipo de empreendimento, que foi bastante decisivo nos rumos do sistema da arte: a galeria de arte com padrao empresarial. O surgimento desse ipo da galeria, impulsionando a realizagao de vernissages, como um evento cultural e social, se implementow a partir do Rio de Janeiro, no inicio dos anos 1960. © mercado de arte que conhecemos hoje, que desempenha um papel fundamental na comercializac4o, na determinagao de valores artisticos € na consolidacio do trabalho de artistas vivos ¢ atuantes, inaugurou-se dentro desse contexto, por meio da aco de alguns inovadores marchands, no Rio de Janeiro e em Sao Paulo, Bles instalaram galerias que dinamizaram e modificaram o panorama de um mercado em que, até nto, a arte cconeds jzada juntamente com antiguidades ¢ outros objetos le luxo. © casal Bonino, de marckands argentinos, criou, em 1960, no Rio de Janeiro, a Galeria Bonino, que introduziu no meio artistico local, ainda incipiente, a experiéncia que traziam da cosmopolita 26 | Aso egras do jogs sistem dete no Bal Buenos Aires. Eles abriram suas portas com uma perspectiva de articulagdo com mercados externos, 0 que se evidenciou na exposicio de inauguracao: uma mostra coletivade artistas brasileiros ¢ argentinos, muito bem recebida pela critica especializada e pelo ico em geral. O prestigio ¢ a influéncia dessa galeria foram enormes ao longo das décadas de 1960 ¢ 1970. Em importantes ‘eventos do meio artistico, como o “Destaque JB” ~ selegio anu das melhores mostras feita por votagao dos criticos de mais renome -, ou a Bienal Internacional de Sao Paulo, pode ser observada a presenga permanente de suas exposigdes ¢ dos seus artistas Franco Terranova, uma das personalidades mais atuantes nessa década, adquiriu em 1954 a Petite Galerie, no Rio de Janeiro, que dinamizou 0 meio de arte, organizando importantes eventos, dentre os quais se pode destacar a Exposigio de Caixas, mostra decisiva na consagracio de uma categoria artistica emergente: 6 objeto. Jean Boghici inaugurou em 1960, no Rio de Janeiro, a Galeria Relevo, onde desenvolveu uma agao destacada na difusdo das novas tendéncias estéticas, principalmente pelo apoio dado 0s jovens da vanguarda carioca. Ele foi o articulador da relagio de artistas locais com o grupo francés Nouveau Réalisme, promovendo, \dusive, a vinda 20 Brasil do critico Pierre Restany, principal tedrico desse movimento, e organizando, juntamente com Franco (marchand brasileira em Paris), a mostra Opinio 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, marca decisiva da producao artistica brasileira. S40 Paulo, nos anos 1960, possuia um mercado de arte menos ativo, ¢ nele a maior atividade se dava nos leil6es, nos quais se destacava, como organizador, 0 marchand Giuseppe Baccaro. De sua experiéncia com leil6es, ele partiu para a inauguracdo de uma galeria em 1962, a Selearte, em sociedade com Biagio Motta. Entre 1s galerias de arte em Sao Paulo, no inicio da década, se destacavam Mara Ami Bulbies | 27 a Atrium, sob a diregdo de Emi Bonfim, a Ambiente, diigida por Radha Abramo, € a Seta, onde atuava 0 marchand Antonio Maluf. Franco Terranova inaugurou, em 1962, uma filial da Petite Galerie em Sio Paulo. Esse novo empreendimento ficou sob a diregio de Raquel Babenco, que se iniciara nas artes visuais com Pietro Maria retor do Museu de Arte de Séo Paulo, muito influente naquela época. # importante destacar, aqui, o surgimento, no sistema da arte fa figura de marchand de tableaux. sua atuacio nessas galerias local . Essas galerias saldes etc, apenas como revendedores ou intermedidrios na comercializacio. Eles interferiam na determinagao de padres de arte © na criagéo de valor para a obra a partir de sua circulagio, O trabalho desses marchands foi de certa forma desbravador, criando um novo estilo de relagées no sistema da arte, mais modero e correspondente 4s transformagdes que oco ira_que se modernizava rapidamente, Observa-se que varios deles (como ocasal Bonino, Franco Terranova, Jean Boghici, Giuseppe Baccaro, Pietro Maria Bardi) eram estrangeiros, o que permite duas consideragées. A primeira relaciona-se com o papel que

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