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O PAPELZINHO

por Telnio Coimbra


Hoje faz seis meses que nos falamos pela ltima vez.
Ainda lembro de maneira vvida a primeira vez que samos. Ela estava linda, com aque
le sorriso contido, meio sem jeito, sem saber onde enfiar as mos ou o que dizer.
No. Ela sempre sabia o que dizer. E assim me desconcertava, com aquele ar de cont
rariedade.
O telefone dela tocou. A voz de Chet sussurrava "I fall in love too easily..." M
au agouro. Dos dois, eu tinha o corao mais fraco. Eu fiquei apaixonado. Ela no. Fim
da histria. No precisaria escrever mais nada. banal.
Mas vivemos bons momentos. Ficvamos em hotis baratos do centro. Ela se divertia co
mo uma criana. Eu ficava acabrunhado por ela no me querer como eu a queria. At que
um dia ela no quis mais, aquilo que nunca tinha sido um querer.
A ltima mensagem foi dela. Respondia, num domingo noite, aos meus votos de tima no
ite e tima semana com um lacnico "boa noite."
Com um ponto final. Se fosse somente o boa noite, talvez fosse somente mais uma
das tantas indiferenas dela. Afinal, ela parecia mesmo viver em um mundo parte, f
lutuando imperceptveis milmetros acima do cho. Ela flutuava. Eu ficava cada vez mai
s pesado. "I fall in love too fast..."
Aquele maldito ponto final...
Tudo que restou foi o nmero dela anotado em um papelzinho recortado por uma daque
las tesouras dentadas.
Fica no fundo da gaveta. O contato j foi deletado da agenda do celular h muitos me
ses. Volta e meia abro a gaveta, pego o papelzinho - sem olhar muito para no corr
er o risco de decorar o nmero - e adiciono novamente. S para ver se ela est on-line
no whats ou a ltima vez que visualizou suas mensagens.
"I fall in love too terribly hard..."

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