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SANUS, Tecnu E. pyveespanli dace DP; ane (2 fee f LAC LE 1): APA. SarLBPR Se pew® 1727 AS ESCULTURAS DO MESTRE DIDI © ARCO-IRIS DO OLHAR & ‘A escultura revela-se uma forma milenar da expressdo plastica, basta vislum- brarmos as civilzagdes de outrora para observa sua presenca, Na pré-hist6ria Ja se registra a necessidade dos homens Ge organizarem esteticamente volumes, dando-hes uma forma intencional, em meteriais e técnica ao seu alcance. Muitas civiizacoes reconheciam, em elementos da natureza, como a pedra, um objeto de potencialidade estética, colocando-os em outro contexto, organizando- 0s, transformando-os em obra de arte. Neste gesto, 0 homem tornara um criador, @ essa potendialidade transforma-o em um ser de habilidade especial, um artista. Interagindo com 0 ambiente, modificando-o, criando noves elementos, o ho mem humaniza o mundo, tornando-se agente de cultura, ritualizando a arte, num Jongo percurso, que vai do barro transformado em objeto utiltario ou artistico, ao espaco sideral, onde elementos tridimensionals aproximam-se das estrelas e dos - = planetas, e teremos a intencionalidade da arte em futuros objetos que a tecnologia permitir O homem, em especial o artista, humaniza a natureza, NO sentido da sua inter- venco de carter estético, adaptando-a ao seu projeto civilzatorio, conferindo significado aos seus elementos. ‘A escultura, que nasce da intencionalidade estética do homem agindo sobre 0 material, do qual extrai um potencial plastico, contido nao sé em sua matéria, como no interior do artista, tal como ele, procura a sua real definicao; porem, ‘como conceito, permanece como uma obra em aberto. ‘A Renascenca, enxergava a escultura contida em potencial em sua materia pri- ma, bastando tirar-the os excessos; ou seja: a forma, adormecida € disponivel, aguardava a interveng2o da determinacao do artista, quando a natureza, inert, ante sua intervenco, tornar-se significante obra artistica, Evidente que ndo podemos considerar a natureza como um elemento de passi- vidade, sem as suas potencialidades e até mesmo formas, cores € arranjos este- ticamente apreciados. Esse exuberante espetaculo da natureza, espontaneo, sem intengao deliberada enquanto arte, difere da acdo do artista; este carrega no seu gesto uma intencao, uma deliberada forma de obter 0 ‘belo’, de se comunicar, de registrar emagées e pontos de vistas, de registrar 0 momento fistorico. A colo- cacdo de uma pedra em um determinado local, sujeito 4 contemplacao estética ou ritual, sem alteracdo da sua forma, cor, textura, etc, representa um ato de su- prema criagao. Nos tempos contemporéneos, muitos so os gestos criadores da forma, que 5 ‘equivalern aos nuimeros de variedades de artistas. Cada um, individualmente des- ~ Cobre a sua maneira de expresso, sua temética, sua técnica, 0 material ou su- mM ernment ae porte para a sua mensagem. Reconhecemos que 0 nosso tempo € de multiplicidade, coexisténcia e afirmacdo de individualidades e de estios, tanto quanto forem os seus criadores; portanto, € com dificuldade que podemas agrupar artistas ‘em uma determinada categoria, sem a necessidade de criar derwvacies, A interface de sistemas expressivos e a inter-relacdo cvilizatoria nos mostram que vivemos numa época do “tudo ao mesmo tempo agora’ E neste contexto que estamos abertos para descobrir as contribuices das civlizacbes que engen- draram a nossa formacao. E este é o panorama brasileiro no ambito da escultura, pois 0 nosso pais apresenta-se como o palco da simultaneidade de comunidades distintas e afirmac3o dos nossos legados mais expressivos, de maneiras de ex- pressio de fontes diversas, em especial da africana. Alguns anistas brasieros utlzar-se da escutura pare a exposigao de um ideario particular, mitol6gico, onde a expressao ‘homenn-natureza” assume um grau de sim- bolismo particular fundamentado na experiéncia cultural, milenar de um determina- do contigente da humanidade. Neste particular situamos 0 Mestre Didi Envolvida nesta multiplicidade, a obra do Mestre faz parte das diversas tendénci- as que a individualidade e visdo de mundo de determinados artistas constroem © painel da escultura brasileira, Porém, se questionassemos qual desses caminhos seria considerado, no referido campo, 0 mais autenticamente brasileiro, teriamos imensas dificuldades, por nossa realidade ser constituida de ‘miitiplas contribui- GGes imigratorias e pela convivéncia de comunidades em estagios de insercao, em graus diferentes, Diriamos que o Brasil, como identidade, € a possibilidade da construgao de um universo de cultures nao-excludentes, recalcadas © deliberadamente desprestigiadas; assim € que, na perspectiva de um ambiente artistico onde néo se caracteriza a hegemonia e o preconceito, a obra escultorica do Mestre Didi ga- nha importancia, como a afirmacao, no campo das artes, de um segmento ex pressivo de descendentes dos negros africanos, mediante a exposicdo respeitosa do seu potencial civilizatorio, atraves da ‘exposicao de recriagdes que tém, como expresso técnica e suporte, a escultura referenciando 0 universo religioso afro- brasileiro, o candomblé. ‘0 Nordeste é reconhecido pela sua vitalidade imaginaria, que busca, nas raizes populares e étnicas, sua melhor expressao, utlizando-se frequentemente de ma teriais obtidos diretamente da natureza, a exemplo da madeira, pedra, argila e ‘elementos organicos. E na expressdo de um vigor étnico, feivindicando a presen- a da contribuicdo negra, que a escultura do Mestre Didi vitaliza 0 amplo cenario das artes nacionais, pois sem essa vertente significativa da nossa interagdo com a sociedade global, toda coleténea ficaria desfalcada do que existe de auténtico na representaco da contribui¢ao africana, no sO do seu ideario estético, como ‘também de sua visio religiosa. Embora possamos classfcar as obras de recriacdo de base sacra do Mestre Did enquanto escultura, até mesmo ‘consubstanciada na realidade cultural dos povos africanos, este entendimento nem sempre se realizou, como veremos mais tarde, sem problema. No entanto para melhor entendimento do que viré, buscamos na opinio de April Kingsey, elemento basilar para uma avaliaca0 proveitosa: * de memaire ahomme, la sculpture a toujours été iconique ou décorative. Elle sous- entendait: une construction ou un embellissement, un noyau ou une surface, une force ou un enjolivement. ‘Desboli des bambara et des déesses grecques @ adam et eve de Brancusi la sculpture iconique s‘articulati autour dunemasse solide, habituellement humanoide” De fato, 0 entendimento, quase que geral, ao se re- ferir a escultura, principalmente para aqueles que no esto proximos, com frequéncia, a5 coisas da arte @ de que ela seria a reproducao naturalist Ou estiizada do corpo humano, no seu todo ou em parte. Historicamente, a escultura decorativa, as vezes em forma de relevo, valorizava @ arquitetura publica, privada, grutas e catedrais. Jano século Xil, a escultura assu- me noves funcdes, ela é separada da integracao obrigatoria @ arquitetura, a sua massa tornar-se aberta, ganado novos contomnos. “A escultura liberou-se de vin- culos e isso significou bastante para varios artistas e pdblico em geral” Evidente ‘que em tempos contemporaneos a escultura assume cada vez mais variedade de concepcao e um carater proprio dentro do ambiente das artes plasticas. Para Edward Lucie-Smith nao resta divida quanto & identificagdo de um objeto do campo da escuitura. Para ele, seria: “qualquer obra de arte executada em trés dimensées" Ao chamar atenc4o a tridimensionalidade, Edward expde uma defi- igo generalizada, que corre o risco de incluir qualquer expressao plastica que demonstre este cardter a exemplo das instalagbes, etc. Mais tarde, o mesmo alerta que com 0 advento da “arte conceptuat" nos anos setenta, © termo amplia~ se e 6 aplicado a uma grande variedade de obras de arte “Avant-Garde”, como outros experimentos decorrentes de uma maior lieraco da concepcao de es- cultura e do proprio exercicio da arte. O termo “escuitura” tomou-se designagao para quase qualquer forma de atividade artistica que nao fosse pinture. Para sermos mais precisos: entendemos como escultura a expressdo artista que, mediante intervencdo técnica deliberada, prope a geracdo, em ‘materiais di- versos, sem classificacao hierarquizada, de volumes, que fepresentam relevos Ou uma tridimensionalidade, resultando em estatuas, figuragdes ou formas abstratas, as vezes estaticas ou em movimento, integrada a um determinado contexto es- pacial, valendo-se deste para plasmar um ou mais volumes materiais, integrais Ou vazados, com texturas, relevos, cores, etc. De posse dessa definicao, nao resta vida quanto classificagao das obras do Mestre Didi na categoria de esculturas. Porém, se hoje esse conceito ganha una- nimidade, o mesmo nao ocorrera quando da realizacdo da "Primera Bienal Naci- ‘onal de Artes Plasticas’ realizada em Salvador de 28 de dezembro de 1966 a fevereiro de 1967 = Em seu catdlogo, Clarival do Prado Valladares estabelece a importancia das sbienais’, 120 como uma ideia de sales de artes, mas como 0 “empenho em cartar e refletir a estética de cada data, dinamicamente” O mesmo destdca as diversas ‘bienais’ criadas dentro de categorias e géneros das obras, como 25 173 dedicadas exclusivamente as gravuras, a0 desenho, inclusive a “Trienal de Mido", dedicada a arquitetura. Em seu programa, a | Bienal Nacional de Artes Plasticas compreendia expost- des em cinco “departamentos” 1 Pintura 2. Desenho 3. Gravura 4, Escultura 5, Artes decorativas E compunha também “salas especiais e hors concours" sendo necessario ser brasileiro ou residir no pais, no minimo a dois anos, para participar da mesma. Quanto a premiacao, instituiu-se pela Bienal Nacional: “Prémio Bienal Nacional" para artista convidado; “Prémio Bienal Nacional “ ambito estadual, conferido a ar- tista baiano ou radicado na Bahia a dois anos; “Prémio Especial de Pesquisa” con- ferido ao artista que se destacasse no campo das experiéncias plasticas, “Prémio de Pintura’, “Prémio de Escultura’, “Prémio de Gravura’ “Prémio de Desenho" e “Premio de Artes Decorativas’ Prémios significavam a nivel de valor nacional: CR$ 3.000,00 e estadual: CRS 2.000,00. A comissdo Julgadora seria ‘compos- ta de trés membros da Bahia e de dois de outros estados. Nesta Bienal, o Mestre Didi participou com trés pecas: “Ossanhin Ati Ibiri Orixirix?(sic) Tecnica: tradicional africana Dimensdes: 50x20 "Xaxarar atiAx6 Ik6"(sic) ‘Tecnica: tradicional africana Dimensdes: 50x20 "Xaxara Oxumaré" (sic) ‘Técnica: tradicional africana Dimensbes: 50x20 Observando a edi¢go do “Diario de Noticias” (Diario de Noticias sem data ou nota bibliogréfica) referente a *Primeira Biena’, notamos fatos relatives 4 premia~ Bo. Numa das reportagens, 0 chefe de reportagem do “DN" Jomalsta Jose ‘Augusto Durdo, refere-se aos leitores, dizendo que os mesmos “devern ter senti- do 0 esforco de reportagem que reorésentou a cobertura, em nossas ecicoes de contern e hoje, da Benal Nacional de Artes Pidsticas da Bahia, coroada pela &x- celente qualidade do material opresentado’ ctando reporteres e fotografos que trabalharam naquele evento. Notifica, 0 jornal, a concessdo do “Prémio Estadual de Gravura’ da Primeira Bienal Nacional de Artes Plasticas da Bahia e 0 “Prémio do Cartaz” da referida Bienal ao artista baiano, natural de Santo Amaro, Emanoe! Araujo; 0 "Grande Prémio da primeira bienal “foi concedido a Ligia Clark, pelas formas arrojadas das suas esculturas* © vencedor do Prémio de Pesquisa Norberto Odebrecht foi Walter Smetake, “que 0 conquistou pela forma dos seus instrumentos” Por suas pesquisas ambi- entais, Hélo Oiticica conquistou 0 “Prémio Bienal Nacional de Artes Plasticas’ re- ferente a pesquisa, e o “Prémio Especial Banco do Estado da Bahia” Porém, 0 que destacamos de interesse a0 nosso trabalho € a premiacdo do ‘Mestre Didi, junto com artistas expressivos da arte brasileira, em uma categoria que, no minimo, nos causa curiosidade. Transcreveremos, de forma integral a nota, pela relevancia do seu registro historico: "0 vencedor do Prémio Estadual de Arte Decorativa, Deoscoredes Maximiliano dos Santos, mais conhecido por “Didi” € talvez 0 tinico vitorioso que ainda nao tomou conhecimento do fato, pois encontra-se atualmente na Africa em bolsa de estudos que foi agraciado pelo Itamarati e pelo Centro de Estudos Afro-Orien- tais. Sua estréia como artista plastico ocorreu no ano passado em Salvador, quando realizou uma mostra em uma firma local, apresentando pela primeira vez a suas esculturas, baseadas em instrumentos dos Orixas” “Didi” realizou, no més em curso, uma exposicao de seus trabalhos na Galeria G- 4 em Copacabana, e, na mesma oportunidad, lancou o seu livro “Porque Oxald usa Ekodiidé", que foi também apresentado em nossa capital, neste mesmo més. Iniciaimente colocada na categoria de Arte Decorativa, durante a selecdo das obras de “Didi” foram colocadas na categoria de escultura, voltando mais tarde a categoria inicial, nela conquistando 0 Prémio Nacional! (Diério de Noticias, 1966, sem nota bibliogrdfica) (grifo nosso). ‘A noticia publicada no “DN" nos traz relevantes. O primeiro refere-se a estada do Mestre Didi na Africa, e ainda estabelece a sua estréia como artista plastico na ci- dade do Salvador no ano de 1965. Porém 0 fato de maior relevancia e que des- perta a atengao do ponto de vista da sua obra é a tramitacao do seu trabalho da Categoria de “Arte Decorativa’ para a de “Escuitura” e, por fim, a sua defintva lo- calizagao na primeira categoria, onde obt@m 0 prémio maximo. Conceitualmente, a categoria “Arte Decorativa’ remete-nos a perspectiva e uma producao artistica utitéria, no sentido de ornamental Frederico Morais, em” Pa- norama das Artes Plasticas ~ Séculos XIX E XX" a respeito de arte decorativa, nos remete a “Arte Déco’, ande 0 mesmo explica 0 significado do termo: “Art Déco ~ retine influéncias do Art nouveau (ver), Cubismo (ver), Futurismo (ver), Purismo (ver), Bauhaus (ver) e artes asteca e egiacia. Nasceu da Exposicao Inter- nacional de Artes Decorativas e Industrias Modernas de Paris, realizada em 1925. Foi chamado de “Style 1925", mas desenvolveu-se plenamente ao longo dos anos 30. Seu campo de atuacao vai das capas dos programas do Balé Russo € dos tecidas de Erté, a0 desnudarnento arquitetGnico de Le Corbusier Foi um es- tilo que concliou retas e curvas, arte e indiistria’ Ja Edward Lucie-Smith, assim define “arte déco" um registro decorativo, assim chamado a partir da grande “Expostion Internationale des Arts Ecoraufs et Industiels Modermes* de Paris, em 1925. Mas, de facto, é 0 sucesso direito da “Art Nouveau’, anterior a 1914 (..) este estilo deu reaice ao uso de materiais Jucuosos - laca, bronze, marfim, ébano, chagrém..” Em resumo, “Art. Déco” ca- racteriza-se por ser um movimento de “Arte Decorativa’ que surglu nos anos 20, dominando a década de 30, inspirado no cubismo, preceitos da nova arquitetura que buscava 0 equilrio na relagao dos volumes, singeleza linear adaptacao & producao industrial Se levarmos em conta as opiniGes de Frederico Moras, Edward Lucie-Smith, & nos assessorarmos da definicao contida no “Dicionario de Aurélio”, tornar-se evi- Gente a inadequaco da obra do Mestre Didi na categoria de “Arte Decoratia? Jevando em conta que na Bienal existia a categoria de “Escultura’ Provavelmen- te as caracterstcas das suas peas, mpregnadas de elementos natura, de con” tedido simbdlico do universo afro-brasileiro, provocaram dificuldades a localizacao ‘adequada, aquela época, porém, ndo resta davida da sua adequaco no ambito da categoria de “Esculturas” Seria a mais recomendada pela sua sustentacao conceitual e pela caracteristica da obra do Mestre, levando em conta volume, tridimensionalidade, etc. No periodo de 17 de marco a 4 de maio do ano de 1994, a “Galeria Prova do ‘Artista’ reapresenta as esculturas do Mestre Didi, qualificando-as como tal, em ‘uma exposico realizada no “Restaurante ‘Gidade do Salvador-Hotel Sofite”, den- tro do projeto “Artebahia” ‘alm do Mestre Didi 0 projeto realizou exposicoes com ‘outros artistas importantes, a exempio de Yéda Maria, Sante Scaldafern, Waldemnbera, Celso Cunha, Reinaldo Elkenberger, Osmundo Teieira e Floriano Tebeeira 0 "Projeto Arte Bahia” € uma iniciativa cultural conjunta do Hotel Sofitel e da Galeria Prova do Arista, langado em outubro de 1992. Esse evento ofereceu 20 puiblico em geral, e em particular 20s hospedes do Hotel, contato com a ‘obra de doze artistas, reunindo as mais diversas tendéncias artisticas: César Romero, Carlos Bostos, Muro, Carybé, José Maria Souza, Colasans Neto, Maria Adai Francisco Fontes, Jamison Pedra, Justino Marinho, Vauluizo Bezerra e Anisio Dantas. 0 sucesso dessa primeira fase do * y” exigiu a realizagao da segun- da etapa, que envolveia a obra de outros ito artistas baianos’, exPreSSN0S te presentantes da moderna producdo artistica da Bahia ‘Sao diversas as técnicas, 05 enfoques, as tematicas, mas todos mostram, ern comum, @ preocupago com sua terra, sua gente, sua cultura’ (Mestre Didi ~ Artebahia ~ Artebabia Project Ho- tel Sofitel, MarioMaio 1994). Sem*davida a ‘obra do Mestre Didi se encaixa na preocupaggo com a terra Baha, sua gente e sua culture, enfatica na sua ver- tente africana. Sabemos que 0s ensinamentos do *Candomblé" so transmitides nas praticas dos processos religiosos, € “tecnologias” sao privilégio dos homens continuadores de ferreiros, entalhadores, construtores de instrumentos musicais e pegas em nervuras de palmeira, couro, bizios, ou em metais; as mulheres encarregam-se do enfiamento de contas, confeccao de indumentarias, bordados, etc. No caso que examinamos, estamos diante de um “artista-sacerdote" 0 que exi- ge um conhecimento tecnico e litirgico. A sua produgao de objetos liturgicos para uso nos rituais do terreiro ja est imbuida do potencial de Ase que sdo inerentes ‘20 material selecionado, procedimento utilizado pelo artesdo na tecnica desen- volvida, Apos a confeccao, os objetos $30 submetidos a rituais de sacralizagao, com dendé, mel, folhas ou outras substdncias que so transmissoras de Ase. Este 6 0 fator que diferencia a peca sacra, devidamente imantada de Ase, potencializada para 0 uso ritual, das recriacdes do Mestre Did. Essa proximidade estilstica, 2s pecas sacras, porém desprovidas de forca mobiizadora, aptas 20 rto, 6 0 que permite ao Mestre Didi expor suas recriagOes em ambientes fora dos limi- tes do terreiro, como as galerias, museus, etc. (Os materiais empregados nas pecas sacras dos terreiros tém correspondéncias litargicas com as divindades, representando o discurso mitico das mesmas, sen- do-ihe caracteristicas intransferiveis. So eles: ferro, prata, ouro, cobre, lato dou- rado, folhas de fiandres e de outros metais, madeira, barro, fibras naturals, como buriti, palha da costa, nacional ou importada, algodao, caroa, buizios, couro, peles, chifres, nervuras de palmeira, contas, corais. Outros materiais interam o repert6rio de elementos aplicados em bases diversas, como paeté, lantejoulas, vidrithos, etc (Os objetos produzidos por esses materiais vao habitar os espacos sagrados dos terteiros, os barracdes das festas piblicas ou so reservados a0 Pej ou outros lo- cais secretos. Foi nesse repertorio de materiais sacralizados que o Mestre Didi seletou a matéria-prima do seu trabalho, que tem basicamente nervures de pat- meiras, couro, biizios, contas, rafia, ferro, Esta selegéo mantém a proximidade das pecas referencias, originals sacras, transmitindo, as suas recriagoes, a solenidade do sagrado, e 0 potencial estético dessas pecas. 0 objeto sacro tem seu limite e lugar e faz parte do complexo litargico do can- domblé. Estaré em pleno desempenho se associado ao som, a coreografia, 20 ito apropriado, em maos adequadas, para cuidar portar imantar de Ase. ‘Ai esta a separacdo definitiva entre as pecas sacras, limitadas aos espacos litargicos dos “terreiros", 8 manipulago de mos adequadas e a visualizacao limi- ‘ado ao piblico, somente em ocasides especiais, nas festas pUblicas, e as obras escultoricas do Mestre Didi, expostas em ambientes que permitem 0 acesso, a manipulacdo, a contemplacdo e inclusive a aquisicao. ‘Assim, ternos de modo claro a pega de “arte sacra afro-brasilra’ devidamente *sacralizada'’, produzida pelo artesdo especializado, inviolavel, intocavel e a escul- tura do Mestre Didi, que remete a “pega sacra” porém nq, limite do permitido, desprovida de preceitos, exposta livremente nos espagos pablicos, em especial galerias, museus, acervos particulares, instituigOes etc, carregada de significagao itologica e estética do universo atro-brasilero de vinculagao Nago. A semelhan- ca que vincula ambas, enquanto expresso de arte, € 0 seu valor representado 177 enquanto beleza plastica, exercicio criativo @ respeito a tradicao. roduzir 0 objeto, “a ferramenta’ 0 “emblerna” ou a “recriago" é fazer nas suas decisivas proporcdes e limitacdes. € alimentar um legado fundamental para © exercicio religioso, afimar um referencial estético e valorizar uma visdo de mundo particular que integra, de forma valiosa, a pluralidade étnica nacional Eo exercicio saudvel da integracao e ruptura, da dualidade, onde vistumbramos mo- delos milenares e solugdes pos-modernas. Na exposico do “Projeto Arte Bahia’, o Mestre Didi nos apresentou treze pecas {que sintetizam 05 estagjos de sua producdo, as quais registramos fotograficamen- te, além de realizar uma observacao detalhada dos seus elementos: formas, co- res, materials e técnica construtiva. Consideramos um acervo que traduz a matu= ridade técnica e conceitual do seu trabalho, nun apuro estlistico que incorpore inclusive materiais recolhidos diretamente da natureza, como no caso dos galhos de uma érvore resignadamentee seca, transformada em obra de arte. Pelo exposto até aqui, nao resta divida de que Mestre Dici é um escultor de uma longa e bem fundamentada experiéncia e fama internacional. Um dos mais antigos e respeitados sacerdotes, possuindo titulagdes diversas, relatvas 8 sua atuacdo relgiosa dentro do cuito affo-brasieio, 0 candomblé; dentre esses ttt los, destacamos 0 de *Assogba’, por sua relagao estreita com 0 fazer artistco € sacerdotal. "Assogba’ grau hierérquico de sacerdote nos cults jeje-Nagds, € um terrno de rivado do Yorubano “Asohgb~", ue, traduzidoliteralmente, significa “aquele que € que esmerou-se na preparaclo de pegas sacras do uriverso afro-braslero, como O ssasdra” emblema de ObalGayé, e 0 “Ibi” emblema de Nand, confeccionados fem materials, apuro técrico e indicagbes rituals compativels com os atributos € testizagSo dos mesmos, levando em conta aspectos formas e cromatcos deter tores de determinados conceitos que traduzem uma visdo de mundo, e tambem as convicgbes religiosas tradicionais de base africana. Incorpora-se, nesse elenco do dominio do Mestre, 0 emblema de Osimaré, “a cobra’ completando a trilgia da "sacra fornia’ formada por Nand, Obaluaye e Portanto, para melhor entendimento, notificamos que *Sasard’, 0 “thin” e 0 “Dan” (a cobra) emblemas da arte sacra afo-brasera de concepo efe-nago, 80 05 ments referencias béscos de onde rsultaram as obras reriadas do este Did, que passa aidenificar com “obras de rspraro de ate sacra after man- tendo a proxmidade com os emiblemas sacs (Sasdrt Ir, Dan), porém dferenco- dos profundamente destas, separando-se 0 sagrado do projano. Conhecedor do fazer sagrado e das implicagdes da sua guarda, siglo respeto, © Mestre Didi Alapini-Assogba conhece os limites do seu exercicio criativo, e as ‘suas recriacBes estabelecem a distancia exata entre a pea sacra de adora¢ao contemplativa e mobilizadora de fé e a obra profana, contemplativa, porém mobilzadora de outras emogdes; em ambas faz-se a beleza, a informacao. Essas “recriagéés de inspiracto sacra afro-brasieira” demonstram a complexidade do Universo mitico e simbélico dos Orixas do Pantedo da terra: Nand, Obdldaiyé, Demonstrando genialidade, dominio absoluto e autenticidade, 0 Mestre Didi re- vela a contemporaneidade de sua obra, que enriquece 0 cenario das artes, parti- cularizando-a. Elaborada sob uma perspectiva etnogréfica, a observagao das trés matrizes ba- sicas geradoras da estrutura formal, pict6rica, estistica das esculturas do Mestre Didi, vejamos agora, do ponto de vista etnoldgico, o discurso mitico justificador das posturas formals e simbdlicas dessas obras sacras referenciais. Como ja observamos, Nand, Nana Buruki, NG Burukti ou NG Bukd, localiza-se no grupo de Orisa genitores da esquerda e esta estreitamente vinculada ao elemen- to terra, as 4guas e a unido dessas duas substancias: a lama. Nana esta associada 2 ctiacdo nos seus primbrdios. Seus emblemas, objetos rituals, cénticos e sauda- ‘Bes, além dos mitos, destacam-se trés elementos que 0s caracterizam: gua, lama e morte, que associam-se &s suas cores simbOlicas: azul-marinho e branco. 'Na confecco do ibir, seu emiblema, as nervures das palmas, devidamente uni- das, representam 0s ancestrais e constituemn-se 0 tronco basico, onde sao fixados ‘as elementos complementares a sua significago. Esse feixe de nervuras no sO constitui elemento basico do emblema de Nand, como também 0 Sdsdrd de Obaliaiyé, que traduz a vinculacdo filial. "Nana se caracteriza, quando se manifesta em sua sacerdotisa, por carregar 0 Ibiri na mao direita. Esse Opa ¢ a representago mais importante de Nana. Se- gundo um de seus mitos de fundamento, “ela nasceu com ele, ndo Ihe for dado ‘por ninguém’ Foi chamado Ibiri, que significa “meu descendente o encontrou e trouxe-o de volta para mim” Quando ela nasceu, a placenta continha o Opa. Uma ver nascido, uma das extremidades do Opa se enrolou e cobriu-se de cauris e de finos omamentos. Entao eles 0 separaram da placenta e 0 colocaram na terra. O Ibir, como Sasard, sendo confeccionado por mos competentes, deve conter, em seu interior, elementos que constituemn 0 seu Ase © abundante uso de cauris vincula-se aos Oké-orun-descendentes e & fertiida- de; portanto, os cauris que decoram o Ibiri, como também o Sasaré, esto carre- gados de significagdes, inclusive com caracteristicas similares as nervuras da pal- ma - Igidpe. Deste modo, o conjunto de elementos que constitul no sO 0 tronco basico - feixe de nervuras de palma - como também o caurs, cores, etc. e510 submetidos a um discurso justificador, que faz com que todos esse elementos se- jam manipulados por mos competentes e preparadas. Logo, a forma, 0 estilo, 0s ‘elementos, traduzem o mito e revelam a divindade, particularizando-a. Para Juana Elbein dos Santos, o Ibi nasceu junto com Nand. Informa a tradicao a RE Ve EI 179 que fazia parte da sua placenta. Nand representa o ciclo da vida € morte, a morte reside no mago da vidal A figura angustiante de Nand expressa esse misterio: ‘cada mae, ao dar a luz, cria um ser prometido morte. Os filhas monstruosos de Nand apenas toram manifesta a estranheza do ser no mundo... preciso cons tantemente apaziguar Nand, a avo, a terra dos mortes e dos gréos. ‘Obdlizaiyé & 0 filho mitico de Nand e esta vinculacao é facilmente visualizada se compararmas os emblemas de ambos, 0 Ibiri e o Sasdrd, formalmente construidos a partir do feixe de nervuras de palmeira, simbologia coletiva dos e5- piritos ancestrais. Obaldalyé esté intimamente relacionado @ terra, toncos © 2° mas das &rvores, tendo como cores simbolicas o azul, preto, marrom, vermnelho € branco. ‘Semelhante a Nand, Obaltaiyé carecteriza-se pelo uso abundante de cauris nos seus elementos de representacao, sendo 0 patrono dos mesmos. Esse Orisa dis- tingue-se dos demais por utilizar, em suas manifestagdes, vestimenta confeccio- ada em réfia (palha da costa), de origem africana, conhecida nos cuts affo- brasileiros pelo nome de Iko. Citando ainda Juana Elbein dos Santos, o iko 6 um material especial, devido 20 seu significado. NZo encontrando similar no Brasil, o mesmo ainda € importado da Arica e esta associado 20s ritos ligados @ morte. A sua presenca é indispensé- vel junto a qualquer rito associado ao sobrenatural, quando cuidados devemn ser i ‘Soservados, O iko é uma fra natural obtida de palmas novas da “raphia vinfera? ou ‘igi Ogore” ‘A sua presenca traduz que algo deve se manter oculto, e © mere - cedor de respeito e cautela redobrados, e que so pode ser compartihhado ou ma- ripulado por iniciado voltado para esse rito especifico. Dentro do seu aspecto cromatico, o vermelho, além de assocar Obaliiayé as doencas que manifestam-se revelando-se pela febre, torna-se irmdo de Sango, sendo seU ifmao mitico mais velho, O Sasdré & a sua simbologia maxima, seu temblema por exceléncia; com ele; Obdluayyé promove a proflaxia das doencas, fivrando a humanidade da peste, impurezas ou males sobrenaturals. baliaiayé, Obatoi ~Aié ‘Rei de todos as espintos do mundo” € o detentor do poder sobre os espitas e ancestral, e ocuit, Sob a ‘pha da cost’ 0s ms trios da morte e do renascimento, varrendo com o Sasard, de poder magico, 05 males do mundo. suméré @ 0 venerado Piton mitico que estabelece a unio, através do arco-iris, entre a terra € 0 firmamento. ‘A-sua sintese mitologica esta associada a um par de cobras, produzidas em ferro. Dentro do repertorio formal dos emblemas afro-bra- silei, é filho de Oloja Orum, cujo significado ‘aquele que possuii o “sangue ver- Tnelho” ligado & tera, esta, a grande transmissora de Ase. Osumdre € a ‘mobilida- de, 0 movimento, o poder mobilizador da existéncia. - Osumaré ego ti | somo Oloia oruru. > Osurnare, sobio descendente de quem possui faba vermelha? Esclarece, Juana, a particularidade da expressao “Orury’, que na lingua de lla € © vermelho. Nos ~ ternpos dos ‘terréos’ de candombé 2 toga: Nand, Obatiaye e Osumere,res- Oe oe pectivamente mae e irméos, so agrupados no mesmo espago, porém em “as- sentamentos" separados. ‘Assim como Nand e Obdiliaiyé, Osamaré, contém, como elemento simbalico, os bizios, nos brdjd e no colar, conhecido como Lagiaigba. A presenca dos bizios € pecas no Lagidigbd representam sua relagao com os contetidos da terra e 0s an- cestrais. * Qbaldaiyé e Osamaré estao relacionados com “transcurso”, com o destino; en- quanto 0 primeiro € patrono do Erindilégdn, o ségundo é considerado como um grande “Babaléwo" ‘A esse respeito, reporta-nos um mito: “E devido a suas performances inesquec- vels como Babalawo, nos alvores da criacdo, em relagdo com Olékun (Patrona dos mares), e com 0 proprio OléatimGré, que ele fora retido no Orun; a seu peal do, € Ihe permitido vottar ao Aiyé de trés em trés anos. Em sintese, Osumaré 0 grande arco iris, a fabulosa cobra que envolve a terra projetando-se ao infinito, retornando mesma, assegurando o principio de unida- de e renovaco. Enquanto filho da terra, encarrega-se de transportar, a0 ceU, ‘gua, elemento vital para a sobrevivéncia das espécies na terra, fazendo-a retornar em forma de chuva revitalizadora do solo, alimentadora das aguas, ele- mento associado a sua mae Nand, lavando, profilaticamente, os cantos da terre, em auxiio a0 seu irmao Oballaiyé. Apresentando a diversidade das cores prismaticas, ele manifesta a pluralidade nna unidade, pertencendo simultaneamente ao céu e a terra, a agua e a luz; € a epresentacdo da dualidade, do duplo, essencialmente diferentes, porém com- plementares, sintese da natureza masculina e feminina, Como simbolo do espa- co-tempo, relemibra o ciclo vital, e, como a aparicéo eventual do arco-iis, estabe- lece o estar e 0 ndo estar, a vida e a morte: a metamorfose do existir ‘Alguns elementos devern ser lembrados antes que facamos uma analise indivi- dual das esculturas do Mestre Didi: 12 - a tematica geral das suas pecas obede- cem ao repertério iconografico e iconolégico que constituem 0 universo ritolOgi- co, visdo de mundo particular do culto afro-brasileiro, de evidente influéncia rnagé, que se identifica, no Brasi, através do que convencionaimente se chama de ‘nagdo jeje-nago” ou “jeie-etu’ 22 - a sua formacao, compreendendo, particular- mente, de conhecimentos da linguagem estética e ritual, permite-Ihe transitar com seguranga nos limites necessérios das suas recriagdes, mantendo 0 compro- misso ritual de absoluto respeito aos dogmas religiosos do universo litirgico affo- brasileiro; 3° - em decorréncia do seu conhecimento enquanto artista-sacerdote e dos compromissos liturgicos, as suas esculturas, baseada no mito e na estilistica ‘Nago , expostas nos espagos de galerias, museus, etc, sd0 consideradas “recria- Ges" ou “obras escultéricas de inspiracao sacra afro-brasilera’, estabelecendo a diferenciacao indispensavel do que é sagrado e cultuado com ritos, em espacos apropriados, e 0 que é “profano”, embora esta expresso nao signifique uma es- pécie de liberacao amp, irestrita, pois, por se basear no universo sagrado e ern func da sua qualificago pessoal, as suas obras preservam 0 respeito & a digni- dade devotada ao culto; 4° - em sua estrutura formal basica, as esculturas do Mestre Didi, referem-se aos emblemas dos Orisa: Nand, Obaliiaiyé e Osumaré, seus acessorios; 52 - a estrutura cromatica e material das suas esculturas obede- ‘cem aos codigos de relevancia do universo mitico desses Orisd. Em resumo: Deoscoredes M. dos Santos, nasceu no berco espléndido da chamada cultura ‘nago* na Bahia. Desde a vivéncia uterina, experimentava 0 Mestre, as vibracSes energéticas e saudaveis do ambiente dos Orixés. Deste modo, registra-se 0 pre- ‘maturo comprometimento do ilustre Mestre com a divulgacao e preservacao, Pro- movendo a linha evolutiva das artes sacras afro-brasileiras. Desde cedo, conduzindo por maos competentes de farnosas lalorixas, aperfel- Goou 0s seus conhecimentos no universo religiso affo-braslero, Mas tarde, ‘acrescenta ao seu aprendizado uma visita a0 aos seus “ancestras", na Africa, onstruindo um patrimonio particular de conhecimentos no campo das ritos rel- giosos africanos, consubstanciado num conhecimento profundo das narratvas mitol6gicas daquele universo e ainda produzindo um repertorio signficatvo de pecas artisticas que refletem este universo. Deoscoredes M. dos Santos, tornou- se Mestre de uma academia onde poucos so 0s que podem ostentar essa tiulacSo, que € 0 conhecimento e o verdadeiro dominio da TRADIGAO AFRICA NA NO BRASIL. Levando em conta as titulacdes hierarquizadas do ambiente académico, chamar de ‘Mestre’, o Mestre, @ deveras muito pouco, cabe-the “como uma luva", a titulagdo de PhD, num campo no qual Didi tem gerado co- nhecimentos impulsionadores de uma auténtica estética affo-brasileira 0s orixG do Pantego da terra so os que nos alimentam e nas gjudam a man- ter a vide. Os meus trabaihos esto inspirados na natureza, na Mae Terra-Lamna, representada pelo ori Nand, patrona da agricutura” afirma 0 “Mestre” Didi. No ambito das artes plasticas nacional e internacional, 0 “Mestre” Didi inaugura uma forma de expressdo de caracteristicas afro-brasileiras onde seu pionerismo, qualidade estética e contribuico conceitual, estabelecem os parametros Primor” dais para uma auténtica expressdo de arte, de base referencial africana, atraves das suas famosas “recriacbes* Constroi a sua produgio a partir de trés elementos basicos: a narrative mitolog- a, onde denota-se um profundo conhecimento dos meandros complexos da ritualistica do “Candomblé"; dominio absoluto e inquestionavel dos codigos sim- bélicos, cromaticos e formas, etc. da “gramtica” da linguagem estética afro-bra- sleira e, por ditimo, uma admiravel capacidade de realizacdo tecnica, uma postr fa de acabamento, hablidade e dominio, t20 a0'gosto das divindades sacras do Pantedo dos Orixas. Didi estabelece o limite possivel entre um objeto esteticamente produZdo para as pratcas da rtualsicas e objeto recriado que embora rio tendo conectaco ems os parémetos para 0 exerci ritual, possui uma simiaridade respetosae rectiaca da + perdade que a arte permite para alcancar, assim como na primer, © BELO. “Mestre” Didi domina os dois terrtorios: 0 sagrado e o recriado, nao negando aos ‘que observam a sua importante-obra,informacdo, impacto visual e estética especial Foi inspirado na obra do “Mestre”, que construi, mediante 0 nosso trabalho de Dissertacdo de Mestrado: “A influéncia da religido afro-brasieira na obra escuitérica do Mestre Didi’, parametros para compreensao do universo estético- religioso affo-brasileiro e compreensao do universo estético africano, além do referencial analitico das suas obras no campo formal, conceitual e técnico, como ‘também, a construgdo de um conceito de “Arte Sacra Afro-Brasileira” e, a intro~ ‘ducdo na temtica das artes plasticas afro-brasileira do legado ancestral afticano, sen- do esta, entre, a contribuic3o artistca e historica da obra do “Mestre” (PhD) Didi. Baseado na sua ,’Evoluir sem perder a esséncia’, a sua obra pressupde a coexis- +téncia do tradicional e do “BELO” na contemporaneidade, garantindo o seu vigor e importéncia. A obra de Didi é uma contribuigo, do ponto de vista da garantia da pluralidade no campo das artes e uma afirmacao do potencial humano. Ainda le- vando em conta a hierarquia do ambiente académico, melhor the caberia a titulagdo de: DEOSCOREDES M. DOS SANTOS - Didi - OJE KORIKOWE OLUKOTUN, ALAPINI, ASOGBA, BABA LOSSANIN, BALE XANGO, BABA MOGBA ONI XANGO, e com justeza DOUTOR HONORIS CAUSA. Parabéns ao “Mestre” AXE! Jaime Sodré Prof. Universitario da UNEB (Ceteba) e do CEFET-BA Mestre em Teoria e Historia da Arte 183

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