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Colegio do NAD ‘Volumes publicados — Niicleo de anise do diseusso ‘Teorias ¢ priiticas discursivas: estudos em aniilise do discurso (1998) ‘Fundamentos ¢ dimens6es da anilise do discurso (1999) Categorias pins de end cao (2000) Anilise do discurso: fundamentos e priticas (2001) Ensaios em anilise do discurso (2002) Anilise do discurso em perspectivas (2003) a i Gnero:sefleate em nie cro (2004) As emogées no discurso Anilise do discurso literatura (2005) Movimen de un pecuno em ne do acu: mama catia do nce vol.1 andlise do discurso da fale/ufmg (2005) 10, Anillise do discurso, géneros ¢ sociedade (2006) 11. As emogies no discurso ~ vol. 1 (2007) eer aay Para maior informagbes, visite nos site: wonnletas.ofng br/nad Ida Lucia Machado & William Menzes Emilia Mendes Os (orgs) Md A LUCERNA Fo deJaneiro Pathos e discurso politico’ Patrick CHARAUDEAU (Traducéo de Emilia Mendes) CONSIDERAGOES INICIAIS Anteriormente, tratei da questio das emogées em relacio ao discurso das ‘midias, mais particularmente da televisto, quando pasticipei de um congresso scorrido em Lyon no ano 2000. Assim sendo, neste primeiro momento, me contentarei somente em retomar elguns pontos que ji desenvolvi até entio e que servirio de consideragoes no desenrolar de minha apresentagao. Tnicialmente, néo entrarei na discussio em toro da escolha dos termos ‘mais adequados a serem utilizados para se falar desta questo: pathos, emogdo, sentimenta, afeto, paixdio, Cada um destes termos € suscetivel de abarcar uma ogo especifica ¢ podemos garantir que cada uma destas nogdes depende de um ponto de vista tedrico também especifico. No que me concerne, conten to-me, simplesmente, em dizer que seria necessério diferenciar a noo de “sentimento” da nogio de “emogis”, Parece-me que a primeira seria muito ‘mais ligada a ordem da moral, enquanto que a segunda seria, sobretudo, igada 4 ordem do sensivel, No entanto, isso mereceria um longo desenvolvimento, raz pela qual, no estudo que se segue, empregarei estes termos indiferente- mente um pelo outro. ‘As emogées como representa socal jg, Lansaremos a hipdtese de que as emogées se originam de uma “racio~ ‘M@fidade subjetiva” porque ~ e isso nos ver da fenomenologia - emanam de "Nota da tradutora: td a fnalizagto da presente edigio este artigo no original em feancts no |avia sido sinda publicado, Tate-s de wna comunicago fita no coléquio “Pathos em ag! ‘0 uso das emoptes no discursc, ocorrde de 23 a 24 de setebro de 2005, em Brest (Unive: sidade da Bretanha ocidental ). pamoscnsconsoounca | 241 uum sujeito do qual se supde ser fimndado de “intencionalidade”. Séo orien: tadas em diresio a um objeto *imaginado” jé que este objeto ¢ extizpado da realidade para se tornar um “real” significante. A relagéo entre esse sujeito € esse objeto se faz, pela mediagao de representagdes. E pelo fato das emogdes se manifestarem em um sujeito “em fungio de” alguma coisa que esse sujeito se fiz representar enquanto tal. Digamos que seja por isso que essas emoges podem ser ditas representacionais. A piedade ou 0 édio que se manifesta em um sujcito nfo ¢ o simples resultado de uma pulsio, nem se mede somente como uma sensasio de excitapio, como um aumento da adrenalina. A emogio pode ser percebida na representagio de um objeto em diresio ao qual o sujeito se dirige ou busca combater. E como estes conhecimentos siorelativs no sujeito, as informagGes que ele recebeu, Ihe slo atribuidos, pode-se dizer que as emogées, ou os sentimentos, esto ligados as crengas”. Estas crengas “se apéiam sobre a observagio empirica da pritica das trocas sociais efebricam um discurso de justficago que instala um. sistema de valores erigidos em forma de norma de referéncia”®, Logo, essas crengas testemunham, ao mesmo tempo, “uma relagéo de “desejabilidade” que © grupo social empreende com sua experiéncia da cotidianidade e um tipo de comentitio de inteligibilidade que € produzido sobre o real, uma espécie de metadiscurso revelador de seu posicionamento™. I nesse sentido que se pode dizer que uma morte no vale uma morte do ponto de vista de seu efeito pa- témico, De acordo com quem a vivencia ~ médico, soldado, amigo, parente ou telespectador—a mediagao representacional varia fazendo também com que se varie 0 efeito emocional, experiéncias que ele teve e aos valores que Emogdes e efeitos possiveis Em uma perspectiva da anilise do discurso, os sentimentos néo podem ser considerados nem como uma sensaydo, nem como um experimentade, nem como um express, pois, se de um Indo, o discurso pode ser portador e desen- wsisation discursive de * Retomamos aqui aos anise descavalvide em "Une probl emotion. A propo des fete de pathémizaon ln Tsou’. In: PLANTIN oly Les nations dan er rtrction, RsifPresses Universes de Lyon, 2000, p 125-155. > Charade, Les mia information. Linpenibleraniparenes du divan, De Bowsk In, Brel, 2005. # hid, pa 242 | asemogoesnoscuRso cadeador de sentimentos ou emogées, de outro, no é nele que se encontra 2 prova de autenticidade do que se sente. Nao se pode confundir, de um lado, 0 eftito que pode produzir um discurso em relagio a0 possivel surgimento de tum sentimento e, de outro, o sentimento como emogao sentida. O que é sen- tido, por outro lado, nunca é refutivel. Uma emogio sentida, se ela € auténtica, corre como um surgimento incontivel e nenhum discurso nada pode dian- te disso. A razio nfio tem nenhum dominio sobre a emogio. Por outro lado, ‘um discurso que visa a produzir uma emosio é, por si préprio, refutivel: por exemplo, podemos replicar a alguém que tenta nos sensibilizar “voc® pode se fazer de vitima, mas vocé no vai me comover". Da mesma maneira, podemos ‘explicar ou até mesmo justificar a expressio de uma emogio que julgamos vergonhosa. ‘Tsso nos incita a tomar partido de uma “retérica dos efeitos", nogio esta jé presente em alguns ret6ricos da antiguidade, como o recorda R. Barthes, e em particular na obra de Aristételes: persuadir um auditério consiste em produzir rele sentimentos que o predispée a partilhar o ponto de vista do orador. O sentimento nao deve ser confundido com sua expressdo (mesmo se esta pu- der desempenhar um papel determinado), ser considerado como um efeito possivel que poder suscitar uma determinada ativagio do discurso junto a1um determinado piblico, em uma dada circunstancia, Ostragos semiolgins das emacies Existem tragos préprios as expressdes das emosGes que serviriam de su- porte 20 receptor para, se nfo para sle proprio experimenté-los, pelo menos especificé-los? A resposta nio é fic, pois, em se tratando da linguagem verbal, da linguagem da imagem ou de outros meios de expresslo tais como os gestos ‘ou as mimicas, o emprego das palav-as ou dos tragos icdnicos, nfo constitui~ iam necessariamente a prova da existéncia de uma emogio. Palavras como “célera’, “horror”, “angustia, “indignacio” ete. designam estados emocionais, mas nfo provocam, necessariamente, emogio, Pode acontecer que seu empre- go tenha um efeito contra-produtive: explicitar um estado emocional poderia, ser interpretado como um faz-de-conta, porque, como se diz em determinadas calturas, “a verdadeira emocio no & dita, é sentida”. Outras palavras como “vitima?, “assassinato”, “crime”, “massacre”, imagens de sangue, de destruicao, de inundagio, de desmoronamentos que so em parte Tigadas aos dramas do ‘mundo, exclamagées (Ah!, Oh! Nossa !) sio suscetiveis de expressar ou en Prmose osc pounce | 243 gendrar medos, sofrimentos, horrores, mas so somente “suscetiveis”, O se pode dizer € que estas palavra e estas imagens sfo, cada vez menos, “bens candidatos” para o desencadeamento de emopées’. Mas tudo depende do am- biente enn que essas palavras esto, do contexto, da situacdo na qual se inscre~ ‘vem, de quetn as emprega e de quem as recebe. Categorias patémicas Enfimy iltimo pont, eu havia tentado categorizar efcitos patémicos a par- tir de procedimentos de encenagio na televisio. Nao os redefinirei aqui, mas retomarei o que havia denominado “tépicas do patho”, jt que podem ser siteis no tratamento do diseuso politico: tépica da “dor” seu oposto,“o praze?"s 16= Pica da “ungusta”c seu oposto a “esperanca";tépica da antipatia e seu oposto, 4“s-simpatia". Cada uma destas topicas era definida em termos de condrioe de Figura (tristeza-sofrimento/contentamento-satisfagio; medo-terror/ec. fan s3-apelo; célera-aversio/ benevoléncia-compaixio) marcando um certo fygar {adesio/distincia) do telespectador*. @ ProposicAo Para podermos discutir as nog6es que constituem o objeto de um debate, & preciso dizer qual ¢ 0 quadro tedrico no qual o inscrevemos. O meu em uma erspectiva da anilise do discurso, o quadro da problemética da influéncia que defini em diversos escritos ¢ que me contentarei em resumir aqui muito bre- _vemente. Uma problemitica da influéncia que recai sobre quatro principios: (i) um principio de alteridade que diz, em uma filingio fenomenolégica, que a ‘consciéncia da e: -,’ncia de si depende da percepsio da existéncia do outro e de seu olhar: nfo tia “Mim sem Ti’, 0 que, trensposto para 0 dominio da lin- suagem por E, Benveniste, torna-se nfo hi “Eu sem Tu" reciprocamente; (ii) im principio de influéncia propriamente dito que diz.que 0 outro constitui uma ameaga ~ pelo menos ums interrogagio (a sindrome do Persa de Montesquieu) __~ neste caso, o sujeito falante deve tentar fazer com que 0 outro entre em seu ‘universo de discurso; (iii) um principio de regulagdo, pois podendo supor que 4 “Une problématsation discursive de Pémotion’, epi. ©" “Une probiématsation discursive de Pémotion’, epi 244 | As cnoqoesno ascNs0 este outro tem, por si proprio, um p:ojeto de inffuéncia, € preciso regular bem esse encontro a priori agonal; enfim, um (jv) principio de pertinéncia que, de acordo com Sperber et Wilson, diz.que é preciso tentar compreender 0 mundo « que, para fazé-lo, os dois parceiros do ato de linguagem recorrem a ambientes discursivos supostamente partilhades (essa ¢ também a teoria do “dialogismo” baktiniano). Estes quatro prinefpios que agem simultaneamente colocam, para 0 sujei- to falante, um determinado mimero de problemas que € preciso resolver para haver a troca com o outro. Esses problemas podem ser descritos sob a forma de uma série de questdes: como entrar em contato com 0 outro? Como impor sua pessoa de sujito falante ao outro? Como tocar o outro? Como organizar a descrigo do mundo que se propde/impée a0 outro ? Entrar em contato com 0 outro ocorre pelo viés de umn processo de enun- cago que consiste em: (a) justficar a razao pela qual se toma a palavra, pois tomar a palavra & um ato de exclusio do outro (quando um fala, 0 outro no fala) que é preciso poder legitimar ¢ (b) estabelecer um certo tipo de relagio como outro no qual se assegura a ele um lugar. Isso corresponde ao proceso de regulagdo acima mencionado. Para a realizagio deste process, o sujeito falan- te recorre aos procedimentos de emunciagio locutivos (Alocutivo, Elocutivo, Delocutivo’) que estio em vigor no grupo social ao qual pertence ¢ so consti- tuidos pelo que a ethnometodologic denomina "tituais sécio-linguageiros”. A ‘as normas sociais de comportamento, finalidade desse processo & adesi ‘A questo Como impor sua pesioa de sujeito falante ao outro respon necessidade que o sujeito falante possui de fazer com que seja reconhecido como uma pessoa digna de ser ouvida (ou lida), seja porque a consideramos credivel, seja porque podemos Ihe atribuir confianga, seja porque ela repre~ senta um modelo carismatico. Trata-se, aqui, de um processo de identifica slo que exige do sujcito falante a construgio, por si proprio, de uma imagem que tenha um certo poder de atrario sobre o auditério, de forma que este conceda ao locutor a sua adesio de maneira quase irrcional. Ea problema~ tica do ethos, particularmente importante no discurso politico, mas que no tratarei aqui’ Ver nossa Grummaire du sate de preven, Hacheto, Pais, 1992, * Discuti e deserevi asa categoria em mou dime lio Le discours palitipue. Ler morgus dt ‘ewes, Vubert, Psi, 2005. (Nota da tadutora ~ No Bras, eee liv foi publica como: ‘Discrso Poi, Sto Palo: Context, 2096 Tradus3o: Fabiana Komesue Dilson Feseira Cran) parmeseosaxso pounce | 245 ‘A questo Como tocar o outro € o objetivo que © sujeito falante pode ter para fazer com que este outro nio faga reflexdes sobre a fala em questio e se deixe levar pelos movimentos de seus afetos. O sujeito falante entio recorre a estratégias discursivas que tendem a tocar a emogio ¢os sentimentos do inter- ocutor—ou do piiblico ~ de maneira a seduzir ou, 20 contririo, Ihe fazer medo. ‘Trata-se de um processo de dramatizagio que consiste em provocar a adesio passional do outro atingindo suas pulses emocionais. Estamos em plena pro- blemstica do patios, embora esta tiltima possa se estender s outras atitudes. E dessa problemitica que tratarei aqui a propésito do discurso politic. E por fim, a questio como organizar a descrigao do mundo que propomos/im- Pomos ao outro. Tal fato consiste em, de um lado, descrever e narrar 0s eventos do mundo e, de outro lado, em trazer explicagdes sobre 0 como e 0 porque desses eventos, Para fizer isso, 0 sujeito falante recorre a modos de organizacio discursiva seguindo uma racionalidade tanto narrativa quanto argumentativa ‘20 mesmo tempo em que langa a hipétese na qual outro poder reconhecé-los ce aderir a eles’, Trata-se de um process de racionalizagdo que evidentemente é, ‘40 mesmo tempo, marcado por varios outros; também nfo tratarei deles aqui. AA figura abaixo representa a posigio do sujeito falante colocado entre as restrigdes da situagio de comunicagio na qual se encontra ¢ © processo que operacionaliza. No debate que opde, de um lado, os partidatios do “tudo é argumentagio", deixo para caracterizar em seu interior uma atividade mais racionalizante, tendo por finalidade a verdade (onde se pode detectar paralo- qual é a situagio de comunicagdo ¢ qual é 0 dispositivo de troca? ual é 0 objetivo de persuasto que exige visadas de eredibilidade e de cap- ‘ago da parte da instancia discursiva? Tss0 nos conduz a declarar que a emogio nfo pode ser tratada da mesma ‘maneira conforme a circulagio da fala em um espaco privado ou em um espa- $0 piblico™., Este espago piiblico é susceptivel de ser por si s6 estruturado de diversas maneiras em diferentes “cenas discursivas”(cientificas, jurfdicas,reli- iosas) em meio as quais se encontra a cena politica que se diferencia, apesar do que alguns preconizam, da cena publicitiria e da cena midiética, mesmo que usufruam das vantagens umas das outras, A cena politica se caracteriza por um dispositivo que € posto a servigo de uma expectativa de poder. Esta tiltima coloca em presenga uma instin- cia politica e uma instincia cidada. A instincia politica esté toda direcionada 41 um “agir sobre 0 outro” que deve ser acompanhado de uma “exigéncia de submissio do outro", o que explica que essa tensio seja orientada em directo 8 produgio de efeitos. No entanto, levando-se em consideragio que em um regime democritico o poder resulta, a0 mesmo tempo, de um “consentimento” (Hanna Arendt), de uma “dominagio legitima” (Max Weber) ¢ de uma “orga- nizagio administrativa’ (J. Habermas), a instancia politica ¢ levada a exercer ste poder en nome de: > um direito do qual hé uma parte que é constituida pela legitimidade atri~ bbuida pelo jogo da sepresentatividade, da delegaco do poder pelo povo ¢, ‘hd uma outra parte que ¢ adquirida por estratégias discursivas de legitima- ‘do operacionalizadas pelo sujeito politico. > um saber e um saber-fazer através dos quais o sujeito politico teré recurso estratégias de construsio de imagens de si mesmo, de maneira @ se tornar ctedivel aos olhos dainstancia cidadi (eros de ctedibilidade) c atrativo (ethos de identficagio)". O etbas de identifcagio coloca o problema da fronteira com os efeitos do pathos, jf que este busca tocar o afeto do cidadao, Evidentemente, seria convenient aprofandar essa duns noses. Exes dais tipos de ethar do politico so descritos em Le aroun politipue. Les masque du pau vir opt. 248 | As enogoesno DECIR » valores, valores comuns, que & instincia politica e a instncia cidada supos- tamente compartilham para se fundir em um certo ideal de “viver junto”. ‘Aqui ainda colocamos o problema da fronteira, dessa vez entre logor e pa- thos, j& que podemos aderir emocionalmente a valores superiores. Verse que o discurso politico é um lugar de uma verdade de mos atadas, de faz-de-conta, ja que 0 que é considerado nio é tanto a verdade desta fala Jangada publicamente, mas sua forga de “veracidade”. Aencenacdo do pathos no discus populsta ‘Numerosos escritos se dedicaram a tentar definiro fendmeno politico que denominamos “populismo”. Nao Ihe daremos uma nova definigo, mas é con -veniente resumir algumas caracterfsticas recorrentes para explicar o que esti na base desse tipo de discurso. ‘© populismo éum movimento de massa que nasce em uma situagio de cri- se social. A massa é uma agregagio de individuos em torno de um inconsciente coletivo dizendo que esta agregagio tem a pretensfo de representar o povo na sua soberania popular, O movimento é orientado contra as elites, consideradas responsiveis pela situagio de crise, slo impotentes para trazer uma solugio reparadora ¢ até mesmo consideradas suspeitas de proteger seus privilégios de classe dominante. Mas este movimento mais ou menos insurgente, em si ‘mesmo nio organizado (nfo é um movimento de partido nem sindicato), tem necessidade de se manifestar ¢ constituir uma forga de contra-poder, de se reunir sob a conduta de um lider que seja suficientemente carismitico para constituir um suporte de identificasio para que esta agregacio de individuos possa se amalgamar em um Eu ideal, representante transcendental de uma nova, porém iluséria, entidade coletiva. ‘Assim, a reagio emocional da massa face a uma crise, o julgamento das clites vistas como responsiveis e a spariglo de um lider permitem que seja cencenada uma dramaturgia discursiva que consiste em: > denunciar uma situayao de decinis da qual 0 povo € vitima, jogando com a ‘t6pica da ‘angristia’: “um milhio de imigrantes, umm milhio de desempre- sgados" proferia, sem rodeios, Jean-Marie Le Pen, ha alguns anos. Quanto _mais as formulas sio simples, essencializantes e ameagadoras, mais o efeito ‘emocional visado tera chances de ter impacto; een ae Perwos coscunsorounco | 249 > designar a fonte do mal sob a figura de um culpado que nfo deve estar determinado de forma precisa ¢ deve deixar parar a impressio de que age ‘na surdina; deve, também, classificar as questdes em categorias especificas (a classe politica’, “as elites fiiase caleulistas” ou o ééablissement, como diz Le Pen para niio empregat 0 termo consagrado establishment), de once a ossibilidade de jogar com a existéncia de complos: (0 Gabtstement, que € preciso decrubar por uma revolusdo de satide piblica, de~ signa classe dirigente que impée hoje o seu poder. Os direitos do homem sto as ‘buss da Lei. Ele tem seus evangelhos segundo Sto Freud e So Mary, tem sea lero, eu arquiteto e seus pedieitos, O Panteon republicano € seu lugar de clio, tem seus ritos. Ele prega a moral! Encontramos aqui a t6pica da “antipatia” como orientagZo do afeto contra ‘um agressor ou simplesmente contra um inimigo. > Instaurar-se como sa/vador construindo para si uma imagem de poténcia através de um comportamento oratério feito de “dentincias” (is veves até ‘mesmo de “gestos de indignacao”) ¢ do langamento de frases de efeito ou ‘@ manutengfo da ironia. Trata-se de uma categoria humoristica dificil de ‘mangjar no campo politico porque a ironia, tendo sempre um efeito des- ‘ruidor, pode ser contra-producente, a nfo ser, especificamente no caso em. que sejao fndicio de uma posigto de forga, que seja provocadora (permitir~ s¢ ocupar a posiglo do cinico), As ditas derrapagens verbais de Jean Marie Le Pen nio tem outra finalidade senio a de construir para si esse ethos de poténcia para incitar seu auditdrio a aliae-se a ele (pathos). Trata-se de um «thos corn finalidades patémicas: bem evidente que, partir de 1974, enraram em nosso pals inclusive ofcial- -mente, vtios milhBes de estrangeros, Mas ¢ também verdade que, todos s ans, sistemas de naturtiayio automaica enrziam ests entidade extrangeira de Pessoa sobre as quis vieram nos dizer: ‘Bem, sm, mae nto se trata mais de imigrants, agora slo faneeses. Séo estes fanceses do tpo Yaka Miam Mise que stornousecretiro do Esta da Tntegrasao" ® Jean-Marie Le Pen, Inti, jancizo, 1990 Discurso de Jean-Marie Le Pen & Saint-Fran Préent, 21 € 22 outubro de 1991, p21. 250 | as ewocoesNooscunso Mas instaurar-se como salvador, ndo ¢ somente invectivar 0 mundo, é também exaltar valores e se fazer de porta-voz dees. Valores comunitirios, jé aque se trata de passar do ressentimento™ a re-apropriagio de uma identidade crigindvia: ‘sim, nds somos a favor da preferéncia nacional porque nds somos pela vida contra a morte, pela liberdade contra a escravidio, pela existéncia contra o extingio"®. Valores comunitirios estes que se apdiam sobre discursos ‘exultando outros valores como aqueles que remetem & natureza a tudo 0 que € original: [Nés somos craturas viva. [..] Nis fazemos parte de ntureza, nds obedesemot as suas lei As grande eis das expécies governam também os homens, apesar de sun inteligencia cs vezes, de su vidade. Se n6svilarmos estas leis natu, a ‘naturere no tardard a pedir a sua revanche contra nbs, Nos temos necessdade de seguranga.E, por isso, ns temosnecesidade, asim como os anima, de um ‘errtério que a goranta para née." Exaltagéo igualmente de valores de filiagiio ¢ de hereditariedade: “Nos acreditamos que a Franga ocupa um lugar singular na Europa e no Mundo, porque nosso povo sesulta de uma fusio tinica das virtudes romanas, germani- case celtas."”” Ow ainda: Que se trate aqui, com certeza, de nossa tera, de nossas paisagens exatamente ‘como foram dadas pelo Criador. mas também exatamente como foram defen didas, conservadas e embelezadis por aqueles que povoatam este tertitsrio ba smilénios e dos quais somos os fils." De fato, encontramos essa estratégia discursiva dramatizante em Ce Aideres politicos sem que se levadaetaisextremos, Neste caso, pode-se dizer que esta estratégia discursiva de tendéncia populista€ constitutiva da demo- ip ca nog eae non cli (Nod Tar Pata em 0 aon ee md b« de enbode20S,em Bet Oven see Say conta dee hog Ss Zetia Pde aio de BP p15 Danse Me Le en pond fv os Bl ccoes in Prt ee eee aoe es Se en ae ae ne aac pammosenscso roms | 251 cracia na medida em que posicionamento da instincia politica a conduz a se opor a um adversitio, a se colocar como lider incontestivel ¢ a exaltar valores de ideatidade social. O securso 205 efeitos patémicos ¢ constitutive do discurso politico, ‘Mas para terminar com uma nota mais positiva desses efeitos patémicos,

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