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21 3 261 308 383 381 413 439 an 491 Cariruto 8 Historicismo e nacionalismo Captruto 9 O esgotamento do modelo académico (1918-1939) Cavtruto 10 A hist6ria econdmica e social Captruto 11 (Os marxismos Captruto 12 ‘As guerras da historia Caetruto 13 A reviravolta cultural CAPITULO 14 A crise de 1989 CaPtruto 15 Por uma historia de todos Caviruto 16 Em busca de novos caminhos INDICE ONOMASTICO INTRODUGAO Ahistoria de um grupo humano € sua meméria coletiva,e a seu res- peito, cumpre a mesma fungao que a meméria pessoal em-relagao a um in- dividuo: dar-Ihe um sentido de identidade que o faz ser ele mesmio e nao outro. Entretanto, compreendemos mal a natureza de nossa memdria pes- soal. Geralmente a consideramos como um simples depésito de imagens dda realidade passada quando, ao contrério, os cientistas estabeleceram que nto se trata de uma faculdade unitéria, mas de “uma variedade de proces- 08 psicolégicos diversos” e que a produgao de uma lembranga é um pro- ‘cesso muito complexo. Isso explica, talvez, que a mesma incompreensio se estenda a nossa consideragao da histéria, Desde inclusive nas manifestagdes mais elementares, a histéria teve, como meméria col das quais a mais importante foi a de legitimar a ordem politica e social gente, mas cumpriu, também, a de preservar as esperangas coletivas dos ‘oprimidos pela ordem estabelecida. Convém rejeitar a idéia de que houve tempos em que a narrativa histérica estava mais préxima da ficgdo, en- quanto que, no presente, a veracidade e a objetividade definem 0 que se pode considerar “hist6rico’, Os estilos mudaram, como o fizeram os tos, mas a histéria continua associada as concepgdes sociis e aos precon- , certas fungdes socizis, 1 KAGAN, Jerome. Thee seductive ideas, Cambridge, MA: Harvard University Pres, 1998, p63, jw bg 4 rage ceitos dos historiadores € do seu pablico, ainda que uns e outros tendam a acreditar, como o faziam os homens do pasiado, que seus mitos e precon- ceitos sao verdades indiscutivei corpo de tradigdes orais das sociedades que no conhecem a es- «rita foi elaborado para justificar e transmitir 0 que se considerava im- portante para elas. Todos os elementos dessa tradigao ~ genealogias, poe- mas, formulas rituais, provérbios... ~ tinham uma finalidade determina- da ¢, reciprocamente, “cada instituigdo e cada grupo social possuem uma identidade propria que é acompanhada de um passado inscrito nas repre- sentagdes coletivas de uma tradigdo que os explica e justifica”. Nada pare- ce mais objetivo do que uma genealogia, porém certas regras de descen- déncia flexiveis foram usadas, geralmente para legitimar os que tomaram © poder, de modo que se pode dizer que as genealogias “constituem o fun- damento da ideologia dominante” Isto fica evidente, inclusive, nos textos ‘mais antigos do género, como as relagdes dos reis do Egito e da Mesopo- a nio é tdo diferente da invengio das “genealogias nacionais’, das velhas tradigbes que faziam, por exemplo, os franceses descendentes dos troia- nos, até as mais elaboradas dos historiadores modernos que, a partir do romantismo, reconstroem a histéria das coletividades humanas de acor- do com a conveniéncia dos estados-nagoes atuais que, desta maneira, se projetam no passado.’ Nas origens, a histéria teve, em muitos casos, a fungio de servir de que foram manipuladas para legitimar 0 soberano reinante, O que testemunho da alianga entre um povo e seus deuses, com a mediagao dos seus reis sacerdotes. Laicizou-se entre os gregos e os romanos, mas tor- nou a ser interpretada numa dtica religiosa com 0 advento do cristianis- 2 VANSINA, J. La tradition orale et sa meéthodologe. In: Histoire guneral de Pfr que. Paris: UNESCO, 1980, 1, Methodologi et prehistire afrcaine, p. 167-1905 ita {Ho textual da p. 173 e “Towatds history of lost corners in the work em Ezono- ‘mic history review, XXXN, p, 165-178, 1982, Sobre o uso da genesloga em socied- {des pastoris para justiticat direitos sobre ater, HUMPHREY, Caroline. The ses of genealogy: historical study ofthe nomadic and sedentarsed Buryat. in: Past ral production and society. Cambridge: Cambridge University Press, 1979. p. 235 260, Sobre o sentido das genealogias medievais eas mudangas que experimenta- R Ee = ase mo. A era feudal, em que a historia se transformou em crdnicas dos prin- cipes e, principalmente,o renascimento, deram-lhe uma nova entidade ci vil. A ilustragao, por sua vez, lhe forneceu uma dimensao critica, ao mes- mmo tempo que se produzia um acontecimento novo ¢ transcendente que determinaria sua importancia futura: 0s historiadores escreveriam, a par- tir daf, para um pablico amplo, nao somente para principes,letrados e clé tigos, contribuindo para configurar o fendmeno moderno que € 0 surgi mento da “opiniao publica’ (Os novos estados nacionais, interessados em usar o ensino e a dif sto da histéria como vefculo de criagio da consciéncia coletiva e como al mento do patriotismo, promoveram 0 trabalho dos intelectuais que, em. seu projeto para construir uma histéria da sociedade civil que substitutsse a velha, dos soberanos e dos senhores feudais, logo descobriram que os “fa- {0s hist6ricos’, longe de serem realidades definidas que o historiador “des- cobria’’ eram polivalentes e podiam encaixar-se numa pluralidade de in- terpretagdes diferenciadas. Ninguém disse isso com mais clarividencia do que Frangois Guizot, num texto que nao recebeu a merecida atengao: Os fatos abordados pela histéria nao ganham nem perder, atra- vessando as idades; tudo 0 que se tem visto, tudo 0 que se poderd ver, ne= les estava contido desde o dia em que ocorrerams porém, eles nunca se dei xam capturar plenamente, nem se penetrar em toda sua extensdo; pos- suem, por assim dizer, inumerdveis segredos que deles sto extrafdos ape- ram, GENICOT, L.Lés géndalagics, Tamhout:Brepol, 1975. p. 38-44 (Typologie des sources ds moyen dge ocidentl, fac, 15). Sobre as gencalogiasnacionais hi uma amp bibliografia, que va de estos interesantes como o de BEAUNE, Collet. [Naisance de a nation France. Pris: Gallimard, 1985, ou da obra coletiva organiza da por Eric |. Hobshawm e Terence Ranger sobre a inven da taco" a6 pro- ‘dos fundamentalists como a" Reflexiones sre el ser de Fspurada Academia de historia, ou inconsistentes, como os de Juarsi 3 BADINTER, Flsabeth, Les passions inteletucles, Paris: Fayard, 1999. 1, sis de lone (1735-1751). ZARET, Davi Origins of democratic culture Printing, petitions, tind the public sphere in early moderns England. Princeton: Princeton University Press, 2000, 4 Sobre a “invengio” do “ato histric’, ver SHAPIRO, Barbara J. culture of ft. England, 1550-1720. Ithaca: Cornell University Pres, 2000. p. 34-82. B tie nas lentamente € quando © homem se encontra em situagao de reconhe- cé-los. E, como tudo muda no homem € no seu ambiente: como ponto de vista do qual analisa os fatos e 0 animo com que realiza sua pesquisa va- riam incessantemente, dit-se-ia que 0 passado muda com o presente; ele- ‘mentos nao percebidos se revelam nos fatos antigos; outras idéias, outros sentimentos sio estimulados pelos mesmos nomes, pelos mesmos relatos; 0 homem percebe que, no espaco infinito aberto ao conhecimento, tudo permanece constantemente inesgotivel e novo para a inteligéncia, sempre ativa e sempre limitada.”* Esse foi o primeiro passo para 0 descobrimento da teoria da “cons- trusao social” da historia que Marx e Engels formulariam de modo mais claro. Ao analisi-la em termos de lutas de classes, a levaram além da visd0 bburguesa das primeiras hist6rias nacionais, integrando nela o conjunto da sociedade, como convinha a seu projeto revolucionério. Dariam inicio en- tao a uma nova hist6ria que comegou reivindicando os de baixo, muito em especial os trabalhadores,esforgando-se para libertar-se do “estipido act: mulo de mentiras, disfarces hipécritase falsas dedugdes que se denomina historia burguesa’" Esse modo de ver, que teria sua continuagao na “histéria econd- mica e social” do século XX, ndo era ainda uma histéria que pudesse ser considerada legitimamente de todos. Falava-se também dos trabalhado- res, além de se ocupar de reis, governantes e burgueses, mostrava, 20 contrario, pouco interesse a respeito dos camponeses, menos ainda dos 5 GUIZOT, Frangois. Histoire des origines du gouvernement repesenatf Pati: Di- der, 1856.1, p.2 (textos de seus cursos de 1820-1822). Um século mais tarde, Co lingwood expressara a mesma idea, drivando-a em parte de Croce, com menos sutileza que Guizot: “Cada presente tem um passado proprio e toda reconstrugio Imagindeia do passado aspieareconstejeo passado deste presente, do presente em ‘que se estd produzindo este ato de imaginar, tal como é percebido aqui e agora (COLLINGWOOD, R. G. The idea of history. Oxford: Oxford University Press, 1983. p.247) 6 “The dul gulf of les, hypocrital conceulments, and false deductions, which is called bourgeois history” MORRIS, Wiliam. Why we celebrate the Commune of Paris, Commonweal, 3, 9.62, p.88-90, 19 Ma. 1887, reproduide em Political writings E. Nicholas Salmon. Bristo: Thoemmes Press, 1994 p. 282-235, “4 {grupos marginais e quase nada das mulheres.’ E, além disso, era vitima de outra limitagao. Filha de seu tempo, estava estreitamente condiciona- y= da pelas perspectivas da cultura européia, 0 que a levava a apresentar 0) curso da evolugao das sociedades humanas numa visao linear, na qual o desenvolvimento econémico e a tecnologia eram considerados motores, (t:1" essenciais de um tipo de progresso universal que conduzia necessaria-|—” mente a um 86 ¢ tinico ponto de chegada: a civilizagao moderna dos eu-| > ropeus e seus descendentes. Essa visio viu-se reforgada por uma con: cepgao determinista da ciéncia e pela transposicao desta ao terreno hu- mano, que levou a procura de “leis” aplicaveis& sociedade, que s6 teriam sentido se fossem vilidas para o conjunto da humanidade. O objetivo da ciencia historica haveria de ser, precisamente, o de chegar a um conhe- cimento perfeito do mundo social, como defendia o anarquista francés Charles Malato, que queria uma histéria capaz de “deduzir com preci- sio matemética as causas dos movimentos profundos que agitam as moléculas humianas”* Isso nao condicionava somente a interpretagio do passado, mas criava a ilusio de que, uma ver conhecidas as “leis historicas’, poderiamos | prever o futuro: um futuro que, de acordo com a experiencia do progres s0,n0s petmitria esperar que o crescimento.econdmico se generalizaria a0 |’°f ‘mundo subdesenvolvido e que as sociedades desenvolvidas eliminariam a! ,, pobreza de seu seio. — (© término da Segunda Guerra Mundial, com a derrota do fascismo eas perspectivas de crescimento econémico indefinido que pareciam se abrir, reforgou essas esperancas. Esta atitude reflete-se em trés livros que ‘muito influenciaram minha gerag2o: Apologia por la historia (1949), de Mare Bloch (1886-1944) uma voz de esperanga que nos chegava da pré- 7 Camo tentarei explicar no fnal no livro isto nao significa apenas que nao se ct java destes grupos mas, sobretudo, que nao rfltia sua visto de mundo: sta pr priaconscienca da historia 5 HACKING, lan. The taming of chance, Cambridge: Cambridge University Press, 1990; MALATO, Carlos, Revolucdnstiata y revolucén sci Barcelona: Atlante, «a 1908. p. VIE, nota 15 ep pria noite do fascismo, Que sucedis en la historia (1942) de Gordon Chil- de (1892-1957), que explicava a genealogia do progresso, ¢ Qué es la his- toria? (1961), de Edward Halett Carr (1892-1982) que renovava a visio do pprogresso a partir de uma dtica avangada, levando o autor a proclamar: “Declaro minha fé no futuro da sociedade e no futuro da historia’? esses anos otimistas do crescimento de pés-guerra a historiografia estava dominada por correntes que, apesar de se enfrentarem ideologicamen- te, compartilhavam a crenga basica na existéncia de um-curso tinico e pro- gressivo que marcava a ascensio do homem no transcurso do tempo. A par- tirde meados dos anos setenta, a0 contrério, pode-se ver que as profecias nao se realizavam e que, em vez de experimentar o crescimento universal preys to, apareciam novas manifestagdes cicicas de crises nos paises desenvolvidos € aumentava cada vez. mais a distancia que separava os paises ricos dos po- bres. Assim, descobrimos que as velhas ilusdes nao tinham fundamento. A causa essencial do descrédito da historia consiste no fato de que ‘as profecias que se baseavam nessa concepcao linear do progresso falha- ram. “Um dos maiores perigos de tirar ligoes da histéria — afirmou-se ~ é que estas ligdes resultam ilus6rias, ou inteiramente equivocadas, quando aplicadas a novas e diferentes circunstancias. Fsta opiniao adquire espe cial valor porque procede de um homem que fala, nao a partir da teoriza- «20 livresca dos professores universitérios e sim,a partir da experiéncia de «uma insttuigdo tao dedicada a tentar modificar o curso da histéria como a CIA." Eugénio Montale o disse melhor: “Que o futuro ha de ser, indis- cctivelmente, melhor que o paséado ¢ o presente é uma opiniio que atra- vvessout incélume a ilustragdo, 0 positivismo, o historicismo idealista € 0 marxismo (...).A histéria nao o demonstra’ Os historiadores académicos reagiram mal ante o desencanto. Em lugar de analisar criticamente seu modo de operar para descobrir onde ha- 9 De Bloch e de Childe, ser flado em detalhes mais adiante, Sobre Carr, HASLAM, Jonathan, The vices of integsity. EH. Carr, 1892-1982, London: Verso, 1998. 10 J. Kenneth McDonald, “chet historian’ da CIA, em CULLATHER, Nick. Sere his tory: The CIA's classified account of ts operation in Guatemala, 1952-1954, Stanford: ‘Standford University Pres, 1999. p 6. 11 MONTALE, Eugenio, Tentadue vuriazion. Milan: Libri Schetwiller, 1987. p49. 16 viam falhado, limitaram-se a encurralar as interpretagdes que tinham ser vido para construir essa prospectiva, as declararam falsas e decidiram, em conseqiténcia, que 0 conhecimento do passado era socialmente init (an el). Posteriormente, refu- | | + tes de dar um passo a mais e declaré-lo impos giaram-se no circulo fechado das propriastribos, dedicando-se a jogos en- _genhosos irrelevantes ou a remoer velhos problemas epistemolégicos inso hiveis, isolando-se definitivamente da vida real em que a historia conti- j nuava transcorrendo cada dia, apesar das ilusdes daqueles que quiseram deté-la, enquanto o passado, melhor ou pior conhecido, marcava as agdes cotidianas dos homens e das mulheres, conformava suas expectativas e Ihes servia de pretexto para justifcar atos de tanta transcendéncia como 0 voto ou a guerra." a 1s80 ocorria ao mesmo tempo em que aqueles a quem definiramos como “subdesenvolvidos” descobriam a armaditha que havia na denomi- nnagdo, denunciavam o esquema histérico eurocéntrico em que se baseava © equivoco e propunham inaugurar um novo tipo de histria que fosse vi- lida para todos os povos da terra e que, a0 mesmo tempo, realizasse 0 pro- jeto,frustrado de fazer que 0 fosse também para todos os grupos da socie- ddade: para todos os homens e todas as mulheres. ; abandono, por parte dos historiadores académicos, de suas fun- |!" es como orientadores da opiniao publica ocorreu no momento eM |. ue paradoxalmente, as pedprias iéncias natura descbrira impor: |. | tincia da dimensao histérica:“O passado € a chave do presente, disse-nos 17°” um bidlogo. Depreende-se disto que os organismos ndo podem antever /*"™, ‘Um historiador de Haiti analisou 0 processo pelo qual os hstoriadores profsio: nais dos pases desenvolvidos abandonaram gradualmente a preocupacio de co :municar-se con 0 publica e foram construindo o passido como tim mando eile rent estranho, que s eles podiamhabitar. Enos alert, a0 mesi0 tempo, Fs peito dos limites deste jogo: "Na medida em que as diferentes crises de nosso tem po removem identidades, que areditivamos firmemente estabeevidas ou que per rmatieciam silenciosas, nos aproximamos de wim tempo em que os historiadores profissionais trio de comprometer-se mais claamente com o presente, s¢ni0 ‘serem que os politicos, os magnatas ou os lider étnicos escrevam a historia em sev lugar” TROUILLOT, Michell Rolph, Silencing the past. Power and he protuctin of history. Boston: Beacon Press, 1995. . 152. a patita da mudanga evolutiva: somente podem responder as contingén- « Gias do presente. E, como todos os organismos vivos esta simultanea e \ continuamente respondendo a essas contingéncias e, a0 fazé-lo, mudam ‘0 meio em que vivem, para eles e para os demais, a mudanga evolutiva ® nao pode fazer outra coisa além de seguir um objetivo em continua ntransformagao ¢ inerentemente imprevisivel (...). Nada na biologia faz “sentido, exceto a luz da historia”, Disso, deduzem-se conseqiiéncias im- # portantes: “Assim, para os humanos, como para todos os outros organis mos viventes, 0 futuro é radicalmente imprevisivel, Isto significa que te- mos a capacidade de construir nesso proprio futuro, mas em circunstan- sigue ndo podemos escolher.” Virar a costas para a hist6ria nesse momento é uma atitude suicida. | Queiramos ou nao, a histéria esté presente em nosso contexto e é uma das fontes mais eficazes de convicgao, de formagao de opinido em matérias re- lativas& sociedade. As legitimagoes historicas estao por tras de grande par- te dos contfitos politicos atuais, e nao somente dos conflitos entre paises, povos ¢ etnias, mas daqueles que se produzem no préprio interior das so- ciedades de cada pais (0 racismo, por exemplo, tem muito mais a ver com _ ahistoria do que coma biologia).. Nao podemos nos despreocupar da fungao social da histéria, por- ‘que 0 que esti em jogo é demasiado transcendental. Ese € verdade que os velhos métodos falharam e que a confusio eclética que os substituiu pou- co nos serve, nossa resposta nio pode ser a de abandonar o campo, ¢, sim, a de nos esforgarmos para recuperar fundamentos tedricos e metodologi- cos sélidos que po com os problemas reais dos homens e mulheres do nosso mundo. E que nos levarao, conseqiientemente, a reiniciar 0 projeto, até hoje nao realiza- do, de construir uma hist6ria de todos, capaz de combater com as armas ide que dominam nossa socieda ibilitem ao nosso trabalho nos recolocar em contato da razao os preconceitos e a irracionali de, Uma histéria que nos devolva a vontade de planejar e construir o futu- 43. ROSE, Seven, Lifelines. Biology beyond determiniom, New York: Oxford Univesity : \ Pres, 1998, p 309, Palaras que evocam 9 que, quase cent ecingenta anos anes, “Mars tina afiemado a partir do campo da histéria, 18 avai +0, agora que sabemos que é necessério participar ativamente na tarefa que no esta determinada e depende de nés. Frangois Jacob afirmou: “Somos uma terrivel mescla de dcidos nu- gicos e de recordagdes, de desejos e proteinas. O século que termina ocu- pou-se muito de dcidos nucléicos, proteinas. O que chega centrar-se-d nas lembrangas e nos desejos. Sabera resolver estas questoes?”"" Que o consiga ‘ou nao, dependeré em grande parte dos historiadores. Eles si0 os tinicos ‘que podem se ocupar da ciéncia das recordagdes, desde que consigam es tar a altura da tarefa, deixando de ladoras estéreis liturgias académicas pondo-se a criar as novas ferramentas tebricas, necessérias para analisar 0s problemas de uma realidade que ndo se encaixa nos velhos esquuemas em que foram educados e que nao tém nada a ver com os sortilégios verbais com que se tem pretendido substitui-los.. Algumas palavras finais a respeito deste livro, Na sua origem esta Hist6ria: andlise do pasado e projeto social, escrito ha quase vinte anos. Faz muito tempo que queria melhord-lo e corri ses anos aprendi o suficiente para enriquecer sua base erudita, mas porque, nesse interim, o mundo mudot e, também, nossas perspectivas. Ao tentar ssa revisio, descobri que tinha de fazer um livro inteiramente novo, que conservaria muito pouco do velho. A intengao deste é semelhante & do an- terior, porém o contetido’é diferente e as propostas tentam apresentar os problemas novamente, numa perspectiva que corresponda ao presente in certo em que vivemos. Convém compreender, no entanto,-que nao escrevi este livro, que vai contra a corrente das modas deste tempo, para manter vivas as idéias do passado, mas para ajudar a construir as do futuro. O titulo, A historia dos homens, expressa 0 ponto de partida; sua aspiragio é ajudar na cons trugao do que um dia haverd de se chamar, mais apropriadamente, A his- t6ria de todos. J o, ndo somente porque nes- Josep Fontana 1 JACOB, Frango. El ati, la moscyol hombre. Barcelona: Critica 1998. p. 195,

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