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Frutas do Cerrado

As três maiores bacias hidrográficas da América do Sul banham o Cerrado, com sua
vegetação exótica e extensa, na região central do País. Mas não é esse o grande mérito do
Cerrado, e, sim, sua biodiversidade. Apesar de ser visto por muito tempo como “patinho feio”,
por causa das terras pouco férteis quando comparadas com a gigante Amazônia, nele existe
uma variedade enorme de plantas rasteiras e árvores, com destaque para as frutíferas, que
exibem claramente a sua heterogeneidade vegetal. As frutas típicas dessa vegetação são ricas
em vitaminas do complexo B, se equivalendo ou superando as tradicionais frutas que são
fontes desses nutrientes, como a banana e o abacate. Gabiroba, buriti, pequi, jatobá, cagaita e
araticum podem parecer palavras estranhas, mas estão cada vez mais conhecidas, com
aceitação crescente da população.

Os índios foram os primeiros a aproveitar a variedade de frutas e nutrientes que o


Cerrado produz. Mas o consumo dessas frutas foi de grande importância para a sobrevivência
dos desbravadores das matas da região e seus colonizadores. O beneficiamento permitiu um
aproveitamento maior das frutas e a elaboração de uma gama de preparações típicas, como
bolos, sucos, doces, geléias, licores e sorvetes. Atualmente, as frutas atraem não apenas
donas de casa e agricultores, mas comerciantes, cooperativas, indústrias, estabelecimentos de
alimentação e, até, universidades, que se dedicam a pesquisá-las.

Casca espinhenta é o significado de pequi na língua indígena do Cerrado. Ele é um fruto


verde-amarelado, do tamanho de uma laranja pequena.
Quando maduro, amolece e cai das árvores, sem mudar a
cor. Ao partir a casca do pequi, que representa cerca de
80% do peso, encontra-se de uma até quatro amêndoas,
envolvidas por uma polpa amarela, branca ou rosada.
Atenção: cuidado ao chupar a polpa, pois apresenta
pequenos espinhos que ficam no meio do caroço. A boa
notícia é que ela contém 14% de fibras e 76% de óleo.
Conhecidos são os doces à base de pequi, mas a grande
fama vem do licor desta fruta. Além disso, algumas
preparações são bem interessantes, como pequi
combinado com arroz, frango e feijão. Não à toa, é
conhecido como a carne do Cerrado. Por fim, o fruto apresenta altos teores de vitamina A,
além de proteínas e carboidratos.

Foram também os índios que


identificaram e deram nome à mangaba, cujo
significado é “coisa boa de comer”. Trata-se
de uma fruta de cor amarelo-avermelhado,
delicada e viscosa. Sua polpa branca e fibrosa
recobre as sementes arredondadas. Deve ser

consumida somente após cair das árvores (mesmo que na árvore


pareça madura), sob o risco de causar problemas de saúde. O
fruto apresenta cheiro apreciável e um sabor exótico. Tem boa
aceitação mercadológica para consumo in natura e para uso da
indústria na elaboração de doces, sucos, licores e sorvetes,
auxiliando no sustento informal de muitas pessoas. Traz, ainda,
grandes quantidades de vitaminas A, B1, B2, bem como ferro,
fósforo, cálcio, em poucas calorias (43 kcal/100g). Seu teor de
vitamina C permite considerada fonte desse nutriente.
Enquanto isso, o gosto parecido ao do amendoim leva as pessoas a
atribuírem propriedades afrodisíacas também às amêndoas do baru, como
maior número de gravidez de outubro a março, justamente a época da
fruta. Antes de consumi-la, é preciso fazer um teste: primeiro, deve-se
sacudir a fruta para ouvir o balanço da amêndoa. Em seguida, retire a polpa
com auxílio de uma faca e quebre-o com um martelo. A amêndoa pode ser
consumida crua ou torrada, podendo, neste último caso, substituir a
castanha de caju. Também é indicada para elaboração de paçoquinha,
rapadura e pé-de-moleque. Além disso, é rica em cálcio, fósforo e
manganês, com cerca de 40% de lipídios e 23% de proteínas, em
560kcal/100g. A polpa possui grandes quantidade de carboidratos, potássio,
cobre e ferro.

Já o nome cagaita refere-se ao sintoma provocado


pelo consumo excessivo dessa pequena fruta amarelada e
arredondada. Exposta ao sol, ela sofre fermentação, que
pode estimular excessivamente a função intestinal e causar
uma sensação parecida à embriaguez. Por isso, é
recomendada moderação ao saboreá-la. É uma fruta de
sabor agradavelmente ácido e refrescante devido a seu teor
de aproximadamente 90% de suco. Para suprir o desconforto
do consumo in natura, ela pode ser preparada como doce,
suco, geléia, sorvete e licor.

Há, ainda, o araticum, que


significa “fruto mole”, justamente o
aspecto que essa fruta de casca escamosa apresenta após
amadurecer. No seu interior há uma polpa mole, com cerca de 52
kcal/100g, que envolve várias sementes marrom escuras. É a polpa
que define a qualidade: a rosada é mais doce e macia, enquanto a
amarelada é mais firme e um pouco ácida. Pode ser consumida in
natura ou como doces, batidas, licores, sorvetes, geléias. Ela exala
um aroma característico forte ao cair das árvores, podendo denunciar
a presença da fruta a certa distância. Estudos têm sido conduzidos
para aproveitamento da semente (parte geralmente desprezada) para
produção de óleo, já que ela contém 84% de ácidos graxos
insaturados, sendo 50% de ácido oléico e 34% de linoléico.

Do topo de altas árvores são retiradas pencas de buriti, um


coquinho de cor marrom com escamas duras e que, ao
amadurecer, escurecem. Para retirar a polpa é necessário
amolecer as escamas imergindo em água ou abafando em sacos
plásticos. Ela representa em torno de 30% do peso do fruto seco e
contém 23% de óleo. Possui, ainda, grandes quantidades de
ácidos graxos insaturados e é rica em pró-vitamina A. A polpa
amarelo-ouro pode ser consumida in natura ou usada na
preparação de óleo, compotas, sorvetes e, especialmente, na
forma de doce, bem conhecido na região.

Por fim, o jatobá é uma fruta de rígida


casca marrom, tendo em seu interior uma polpa
branca amarelada e farinácea envolvendo poucas
sementas. Para obtê-la, é necessário utilizar
um martelo ou pedra para quebrar o fruto.
Raspando a semente, é obtida uma farinha
granulada adocicada e de sabor
característico e forte, que, após ser
peneirada, pode ser usada na preparação de pães,
bolos, biscoitos, geléias e licores.

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