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Arte egipcia: um estudo de suas caracteristicas fundamentais Cito Flamarion Cardoso (CEIA-UFF) 1. Arte contemporénea @ arte do antigo Egito: um confronto no tocante ao status social dos artistas 1.1. Hoje: crise dos critérios para definir a arte e para falar dela, [estes iltimos tempos, no relativo as artes plisticas, tem-se a impress de uma crise aguda ~ cuja saida no esté a vista ~ dos eritérios de inclusBovexclusio de objetos em categorias reconhecidas com algum consenso como integradas por “objetes de arte”. Diante disto, & bom recordar que nem sempre foi assim. Até o século XVII, nas sociedades aristocréticas europtias, 0 rei, os nobres ¢ os principes da igreja, ao dominarem mediante o ‘mecenato a encomenda tanto das obras monumentsis (“piblicas”) quanto daquelas destinadas 4 colegdes (“privadas”), impunham em alguma medida as regras do gosto ¢ do sentido nos diversos dominios das artes plésticas. Uma reorganizagio interveio a sepuir, com 0 museu, © ‘mercado de ate © a demande estatal de obras monumentais atuando doravantc na sustentagio cecondimica dos diversos setores artisticos. E, no século XIX, o Romantismo iniciow, mediante certas nogtes e reivindicagdes criticas, processos que desembocaram depois nas idéias de “arte de vanguarda” e “arte moderna”, Apesar desta transformagdes, por muito tempo nfo se ‘questionou a pertingncia daquela distingo entre arte piblica (monumental) e arte privada (estinada a colegdes) como elemento definidor do mercado e das encomendas ou aquisigées ‘que 0 configuram. Em funglo disto, pdde formar-se, ao longo de muitas décadas, toda uma sélida tradiedo que poderiamos chamar “de Belas Artes", teorizadora da hierarquia entre artes maiores © artes menores (incluindo estas as “artes aplicadas"), a qual mantinha tagos indubitaveis com o poder dos Estados burgueses contemporiineos e suas polit artes; uma tradigfo cujo status hegeménico era ainda muito forte em meados do século XX. ‘Ao longo da segunda metade do século passado, entretanto, vemos esse stars perder forga aos poucos sob o embate de fatores variados, alguns ja bem atuantes desde o séeulo XIX, como ¢ 0 caso do impacto da reproduyio industrial das obras artisticas, do comércio de as relativas as cstampas e de miniaturas de esculturas, até desembocar, em meados do séeulo XX, em coisas ‘como 0 desafio de Andy Warhol ap cariter “nico” da obra de arte na era da reproducéo fii € de alta qualidade ~ que, de Warhol até hoje, algumas décadas mais tarde, aperfeigoou-se ainda muitissimo mais: a nossa ¢ a época das imagens transmitidas por fax ou pela Internet ¢ impressas facilmente (¢ com resolugao satisfatéria) a domi i. Nio podemos desenvolver aqui tudo © que contribuiu para a crise do paradigma que teve tanto sucesso antcriommente na classificagdo das artes plisticas. Para dar alguns exemplos; uma mutaglo da concepydo govemnamental acerca dos espagos publicos, desvineulando-os de certas formas de produgiio monumental comemorativa e abrindo-os as artes vivas do espetdculo, ou a “arte da rua”, de iconografia diferentes das tradicionais (publicidade, desenho industrial, historia em sucesso crescente das instalagdes e de formas quadrinhos, cartazes, painéis murais, ete), cujos canais de produgo, teorizago e consumo, ¢ cujos critgrios de inclusto/exclusio estética, ou nfo se perocbem claramente, ou sio incipientes ¢ extremamente debatidos, no contando com qualquer consenso, além de em certos casos se tratar de objetos marcados por um cariter intrinsecamente ef@mero e descartivel, tipico da chamada “arte de massa”; 0 surgimento da “arte de empresa” em diversos dominios, competindo com o artista individual tradicional no Ocidente ou integrando-o em suas coletividades ¢ equipes.' Entre 03 resultados da crise ~ perceptivel por mais que as instituigSes tradicionais tentem adapiar-se as novas tendéncias (os museus, por exemplo, abrem-se a formas artisticas que seriam impenséveis neles ha algumas décadas) — temos este existe um lugar (..) onde a descrigéto da eritica, mesmo quando quer se exercer, fracassa, ruidosamente: este lugar é 0 da arte tecnolégica contempordnea. (..) ..08 objetos artisticos producidos pelas novas tecnologias sdo impenetriveis d critica na medida em que obedecem a regras de producdo que até agora nao tinham curso na esfera da arte* Torna-se dificil, hoje em dia, sentio impossivel, portanto, até mesmo falar acerca de certas formas de arte com algum rigor ¢ preciso: as grades de “leitura” disponiveis ~ semidtica artistica, iconologia, hermenéutica de obras de arte, etc. ~ foram todas pensadas ara a arte figurativa ¢ nao tém como aplicar-se a outras modalidades de imagens. Outras formas de abordagem possiveis, como a psicanalitica ou a que parte da teoria da percep, no obtém 0 mesmo grau de formalizagdo quanto aos resultados obtidos. Se ¢ assim, como, entio, continuar decidindo acerca da inclusdo/exclusto de objetos nas esferas do que é ou no “attistico”? Este estado de coisas explica certos fendmenos como, por exemplo, o “escdndalo de Arles”, em julho de 1995, A selegao dos fot6grafos que se dirigiram aquela cidade francesa para um encontro sobre fotografia, diante do que muitos viram como um nivel baixissimo das obras acolhidas, provocou um protesto violento dos criticos ¢ desembocou num debate inconclusivo acerca do status artistico da fotografia e de a quem deve caber pronunciar-se sobre as fotos: a0s criticos de arte (que julgam a partir de critérios retirados da “foto plistica” ou artistica ja consagrada, aquela dos professionais bem estabelecidos), ou aos fot6grafos umerosos que pretendem protagonizar pesquisas que no aceitam os limites daquela “foto plastica” e reivindicam, contra os artistas j& bem reconhecidos do setor, 0 direito de também terem acesso ao status de artista, a0 mercado da fotografia e as exposigdes? Alguns notaram a semelhanga com o saldo alternative que organizaram, em 1863, os artistas no selecionados para participar do Saldo de Paris,” Situagdes como esta facilitam, no relativo as artes plisticas ~ nas quais hd o artista e 4 0 piblico, mas no 0 intérprete —, uma reivindicagdo “democratizante” radical no sentido de que, onde niio houver critérios com um grau suficiente de consenso sobre a inclusio/exclusto de objetos entre aqueles que serio classificados como artisticos, todo objeto que seu autor pretender que é artistico deverd ser assim considerado; e, por conseguinte, todos 5 que se apresentem como “artistas” (uma quantidade de gente nada desprezivel e mesmo crescente num pais com os problemas de desemprego da Franga, por exemplo) 0 sdo de fato. Niio parece, entretanto, que 0 Estado-mecenas, ou mesmo os compradores privados, se

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