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caPiTuLO 6 ERGONOMIA, HIGIENE E | SEGURANCGA DO TRABALHO | Francisco Soares Masculo Departamento de Engenharia de Produgao Universidade Federal de Paraiba ERGONOMIA E ENGENHARIA DE PRODUGAO A proposta deste texto €introduzie 2 Ergonomia como win campo de conheci iento e mostear algumas das suas contribuigBes para a Engenharia de Produgio (EP), Esse campo cresceu bastante nest timo meio século esa dtea de abrangén- cia tornou-se bastante amp a. Este capitulo iniia-se com alguns exemplosatiulo de sensbilizagio econtextualizagto da Ergonomia na EP. Nas segées eguints,se- lo apresentadas a definigdo, 0 histérico, 0 método, as principaisabordagens para © projeto exgondmico eas éreas atuais de esto. Foram escolbidos dois t6picos ‘como propénito de aprofandar a exemplifieaczo do uso por serem t6picos de im- pportante aplicagio prétia ede enorme relevancia para o engenheito de produgio, ‘no projeto exgondmico do posto de trabalho: a Biorsecinica Ocupacional, senda. abordadosaslesGes de esforgos repettivas trabalho estatico, a postura eo levan- tamento e transporte de cargas; ea Antropometca, Diversos otros tépicos que 'merecem atengio sio apresentados e caracteizados mais adiantee, embora niose- jam profundados no texto, io contemplados na bibliografieapresentada no final. Se voce passara reparar em postos de trabalho de computador com atengio, cer- ‘tamente vai observar sieuagées como: altura do monitor muito alta ou muito baixa, ‘obrigando 0 operador a elevae ou abaixaracabega, cancando tensa no pescagoy ca iras muito baixas ou alas, causando formigamento nas coxas; altura inadequada, do teclado e monse ¢ ausénda de suportes para os bragos, obrigando a musclatura das mfose ombros a atuarem sem necessidade; auséncia de suportes para os pése pu- snhos, entre outras inadequagées. Em 29 de setembro de 2006 ocorreu o famigerado acidente em que colidiram ‘um Boeing 737, que faziac vo 1907 da empresa aérea Gol, ene as eidades de ‘Manaus Bras, e wn jato de menor porte, Legney, em que perderam a vida 154 pessoas, Os avides voavam cm sentido coutriio. Se imaginarmos a imensa quanti 103 ooughe A enseanane oF ene apie ELSEVIER, lade de “esteadas areas verticais e horizontais no espago entre aquelas duas cida- des, 0s dispositivos de conniole nos centrosem terrae os mecanismos de seguranca nas aeronaves, seria inaereitivel que tivéssemos essa ocorréncia, Mas. fato€ que ‘ocorren, ¢ a8 causas, por mais inconclusas que estejam, certamencetiveram algum componente de projeto exgondmico inadequado, Entre outras supostas poss dades, pode-se citar: ‘+O softiuare, O software foi conecbido parao plano de véo entrar na tea, in- 1@uR 827 Durago mame deur abso muscular attico om réagto orga evercida (Monod ia Kroomer & Grandjean, 2001) hhotas por dia, scm sintomas de fediga, ea forga exercida nio exceder 10%6 da forca tnéxima do mésculo envolvido, Assim, muitas vezes com um simples dinamOmetto ppode-se avaliaea MCV ea porcentagem da forca méxima de um determinado trab: Tho muscular para verifcar se havers fad Alguns exemplos de trabalho estético sto: ‘© Trabalhos que envolvema torgio do tronco pata a frente ou para os lado. ‘= Segurar coisas com as mos, ‘+ Manipalagées que requetem que o braco permanesa estcado ou elevado aci ima do nivel do ombro. * Colocar o peso do corposobre uma perna, enquanto a outraestéacionando tum pedal. Ficae de pé por um longo periodo. Empurrar e puxar objetas pesados, Inclinar a cabega para a frente e pa Blevar os ombros por longo perfodo. tis, Levantamento e Transporte de Cargas 'A Consolidagto das Leis do Trabalho em seu at, 198, estabelece: “Pde 60 kg (sessenta quilogramas) peso méximo que um empregado pode remover individual: mente ressalvadas as disposigSes especiais relativas a0 trabatho do menor e dam Ihe.” Ja Norma Regulamentadora 17, que tats de Ergonomia e tem sua redagio. ‘dada pela Portaria 3.751, de 23/11/1990, no define wm valor maximo quanitati- vo pataaquestio, Em sewart 17.2.2, sentencia: “Nao deverd ser exigido nem admi~ tido o transporte manual de cargas, por um tabalhador, cujo peso sejasuscetivel de comprometer sua sade ou sua seguranga.” 122 nrmoangio 4 enaennarin oF DoT’ eo we] ye Fis) Se a9 Fos de coupon ran do ahaa riod tt a 200) FasEViER A musculatura dascostas aque maissofre com olevantamento de pesos, devido Aestentura dacoluna vertebral. Abiomectinica nos mostea que acoluna vertebral ests sujeita ds Forgas: de compressio Figura 6.8), em que partes opostas do sso so pres- sionadas entre si, através da aco muscular, apoio de peso, gravidade ou alguma car- sg externa que tenha agfo sobre o comprimento do oss; tensvas, eralmente apli- cadas na superficie do oss, criando tendéncia ao alongamento ésse0; de csalha- ‘mento, aquelas aplicadas paralelamente & superficie de um objeto, eviando deforma- ‘fo interna em uma diregio angular; de encurvamento, constiuindo as forgas ap ‘das em ua érea que nio temsuparte dieto oferecido pela etrutura; ede torgio, as forgas rotativas, que criam estresse com cisalhamento sobre todo 0 material. Cada vértebra sustenta 0 peso de todas as partes do corpo stuades acima dela Por isso as vértebrasinferioressio maiores, Tal fato € uma evidéncia de processo cvolucionista do ser homano: 9 passar da condlgio de quadetipede para ade bipe- de, acaluna deixou de funcionar camo vigae pastow aser um pilar. Neste processo, a0 longo dos tempos, por estarsm suportando maior estresse as vértebras lomba- "es reagem e aumentam seu tamanho. Entre uma vértebra e outra existe um disco cartlaginoso, composto de uma massa gelatinosa, As Vértebras também se conee: tam entre si por ligamentos. Os movimentos da coluna vertebral tornamse possi veis pela compressio edeformacio dos discos e pelo deslizamento dos ligamentos, (Os discos ém eapacidade eleva de suportaeestresse no sentido longitudinal (er omno de 500 Ket € pouca tensto de cisalhamento, Deve-se evitar levantar cargas comas costes curvadas para nic criara componente transversal dos esforcos na co- na. Os movimentos de flexao, extensio e flexdo lateral da coluna produzem es tuesse compressivo de um lado dos discos e estresse de tragio do outto lado, en- ‘quanto. rotago da coluna crinestresteeangencial (Figura 6.9). Entretanto, acom- pressio éa forma de plicagio ce carga qual acoluna é mais comumente submieti- da durante a postura ereta, "No que se refere ao evantamento de cargas, algumas regras so de aceite ge- ral: mantera carga o mais préximo possivel do corpo e evita giar ou flexionar late ralmente« coluna durante 9 levantamento de pero, pois eta combinacio pode ex ‘sar injrias nas articulagGes apotistries e nos discos intervertebras. Dois métodos de levantamento mais comumente usados pelas pessoas si o stoop lifting (coma col na fletida} eo squat lifting (com osjoelhos ltidos) (ver Figura 6.10). Entre os dois, o ‘mézodo por abaixamento (stoop lifting) € 0 que apresenta menor gasto energético, cexplicando dessa forma por quecle & bastante usado por pessoas que nio esto tei nada em cécnieas de levancamento de peso. Quanto ao método de agachamento (cquat lifting), ele veduz a sobrecarga na coluna vertebral pela proximidade entre a nuns, mievene € secuRenge oo raanataD | 123 i porerensecotenes Peso datenee Fesiolatestdowoneo Bek pS Aletha ‘anvnaais Forgas dasenvoles noe movimentos de exo, eteneBow exo tera da ‘oluna verbal Hamil e Knuze, 1999), © 4 srax'na-310-Tipos de lventamentos de carga por sbakamento © agactemento (Hal, 20001, carga eo fuleo do disco lombossact, torando obeigo de esiténcia mis corto GMELodo recomendado pira maior preservacio da coluna, Ex contrapartidy a «lata dos membros inferior é bastante requistada, aumentando considera: lmente a agio de forgs compressivas sobre as articulagées dosjoelhos, Para evitar Ul co recomendase ergaerobjetos a partx de wm tablade elevado om rmunilos ccom alga ‘ima equagfo amplamentewtlizade para determinar a carga nana ser leva sada cium posto de taba, no plano sagital, 6a desenvolvida pelo NIOSH (Natio~ ra euitate for Occupational Safety and Health), Esa equacSo pare de wm valor ma aim de cargade 28 kgem con digbesieais. Carga maxima = 23 kg x CM x CH Maye CE x GD x CA, onde os coeficentes so: ce manusco, horizontal, vertical, de fnequtncia de deslocarenta vertical ede assimeti,respectivamente (ver ger 124 jwrgnougha 4 eucennanis 08 ho SEVIER, ‘cos ens Dul & Weexdmeester,2004). A medida que as condigées se tornam mais des- favoriveis, os coeficientes redazem, pois variam de zero a urn. Quanto pior aconcl- ‘lon posto de trabalho, menor sex4 ocoeficiente, oquereduzirs a carga maxima om peso-limite recomendivel Posturas de Trabalho [A postura pode ser definila como ferdmeno da organizagio dos diversos seg- mentos corporais ne espaco, Para um projeto ov adequagio ergondmica deum posto ide trabalho, um dos pontos fundamentals a serem avaliados €a postura,Inacequs- ‘goes to posto de teabalho cevidas ao método de trabalho, ao leiaute 4 nio- onsideragio das dimensoesantropomeétricaslevam o trabalhador a posturas inade~ ‘quadas, que forgam e prejudicarm sua esteutura corporal. A manutengso dessss pos- fttas inadequadas por urn loago perfodo de tempo pode provacar desde dores no conjunto de misculossolicitados em sua manutengio até o surgimento de doengas do trabalho, como escoliose,lordosee o agravamenco cas LER. Dispoem-se de vi- riosmérodose técnica para oregistroeandlise das poscuras. Eles podem set descrti- +708, fotograficos,filmicos, por rgistroseletomiogriticos (atividadeelétrica muscu- lac) ow por observagia in loco. Dentee eles pode-se citar o sistema OWAS (Ouiako Working Posture Analysing System), jd mencionado anteriotmente, desenvolvido na Finlindia por Kachu, Kensie Kuorinks, pelo qual, a partir de andlisesfotogrtica, foram colecionadas 72 posturastipicas que ocorcem em wmainddstria pesada, sss posturas sio resultantes de diferentes combinagBes de posturastipicas do dorso {quatro), dos bragos (ts) e das pernas (gts). Com base na observagio da tare, € construido wm modelo por eédigos que seré posteriormente classificado em quatto lasses distntas, por wi grupo de operadores experimentados naquela tatefa € ot ‘entados pelo ergonomista. Ess classes vio variar do nivel 1 de gravidade considers «do nio-patol6gico até o nivel 4 quando providéncias imediatas devem ser tomadas, pois haveria sétios riscos de lesio ao trabalhadot. Foi criado um sofeware, © ‘Win QWAS, pela Tampere University of Technology, Occupational Safety Enginee- ting, onde todos os procedimentos de anlise dos das siorealizados, Este, assimn como seu respectivo manual, pode ser encontrado em inglés no enderego hitplltur wa.mne.tit filowas. Exemplo Iustrativo: Antropometria no Posto de Trabalho ‘Aantropomettia gum campo da antropologa isica queresne os conhecimentos scusnuladas sobre as dimeneéee do corpo humano, movimento dos membros. can: primento dos miscules Dois tipos de dimensses antropométricas so encontrados freqlentemente en problemas priticos de Ergonomia: medidas esitias ¢ dinimicas, 'A antropometria estitia relaciona-se com as dimensbes inercisis dos seg ments corpotais do ser huriano, Jé aantropomettia dinimica considera os limi- tes a movimentagio das diversas partes do corpo quando solicitadas para deter- da atividade. | r = wsonoun, maveye © seaonnnga 00 reAmALA® | 125 ‘O ser humano passa por um processo de crescimento até ating dade ada um ddo momento de se vida, em nenses corporis finda alto ow ico, a obese peas caso comida, dds pegs longs so €impor mag gra Eegonomis, poisos objeto, wtnsis instruments ferraments 5p ‘erettbalha eo pedpio fot detrabalh dever ter dimenses compat com os Sed coo qu etramem contate com ces. Noenano, exe uma igo a ade nas dmensbis coxporas des indviduos ia, geno dade si alguns o> Tee tye influencam ess dimensbes, também denominads varies antropomesr {ores fem ding, a evtaturs média da populagio mundial ests asmentando devido 3 ce enizago das pessoas pata melhores piticasalimentareseatvidedesfiscas. “hs diferengas nas dimerstes das pestoas repercutem no trabalho, Um equipamen- tofselmente manipuvel or um individuo alto pode se de dif operagio pare it (ime as vezes ambos so usttios do mesmo equipamento Iso acabase taduzindo par taprovisnges, como extados de madeira colocads juntos x msquinas, oud ror ntgdes que os wabalhadores so obrigalos fazer em diversas circunstincis, TExistem também repercussbes sobre as politicas dos produtos industiis, Os ja meses bviatn motociets de viriostamanhos, conforine els se destinem sop renee os europea eamerieano ot ao mercado do Sudest asitico, © mesmo ocorre has roupas confeccionadas io Oriente para os ocidentas, asim por diante Dados Antropométricos Estdticos rExiseem tabelns de medidas antropométicas baseadas em populagées de diver- sos patses do mundo. Nos os trabalhos anda estio poucos desenvolvidos, mas je porsivelconseguic alguns resultados, Caso estes nfo seam disponiveis, podem see ada as medidas dos povos mediterraneos, que se asemeham As nossa, de Siho A forte predominducia das correntes migratéras desses povos para o Brasil Unna base de dados antropométricas foi desenvolvida pela Divisio de Desenho TLuluselal do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), denominado Brgokit. Fle Cmts de dacios antropomeirieos obtidos das seguintes populagbes: populagio eco- comets monte ava, Exeiito, Teles) eSerpro-OINT (wiow.int.gov-br) dsponibiliza vans erste de demonstiagdo com 12 varivels antropométricas estiticas trarendo livereos percent, médis, desvio-padroenmero de sujitosna.amosta, resaltany {do que essas medias foram realizadas hs algom tempo. ‘Os dados ou varidves antropométicas sho varidveisaleatorias que seguem una dis tripnigio normal de prabilidade, As tbelas geralmentetrazem os valores em ercse Tro falor que Po da populago tinge. Conhecendo-se a mia (8) 0 desvio-pl:fo {Gh acutva normal fie caracterizada e qualquer percent pode se caeulado, Os mai a ast a media, 508, 596 (K~ 1465 XS) ¢ 9590 (+ 1,65 x S), Como exerplo de dae dados antropomitrcos temos a Tabela 6.1, adaptada de Couto (2002), onde ee cranm os enitados om 400 trabalhadores masculinos em fbricas e100 trabalha Kons de escritrio na regio do ABC pauls. Vale resale que, quando os peroentis qe caleulados a pati de ados empicos, € posivel que os valores no coincidam exa- mente com as frmules apresentadas, devido a0 tamanho da amostea. ‘op seuopeUee ODP AP SEPPENL. SET Asegitéapresentado um exemplo de uso de medidas ov vaiaveisantropomé- trcas para dimensionamento do posto de trabalho com uso de computador. Figura 6.11 mostra um operador de computador em se posto de trabalho, FIOURNGIT Operader com monitor de vido. Para un dimensionamenso adequado do posto ¢ preciso determinar a altura do sssento, saltuca do encosto da cadeira, a ahura da mesa, o espago entre o assentoca mesa, altura do monitor, altura do teclado edo motse, osuporteparatextoe ost. porte para os bragos, Os parimettos que nos fornecerio essas medidas sao as seguin- tes variveis antropomséticas 1 Altura popite (yjeito sentado com os pésapoiados no piso e Angulo dojoe- Iho a 90%} altura do sssento, ‘+ Altsa lomibar (media do piso até o ponto de inflexso da coluna, entre a tet= tira ea quinta vértebsa lombar, com o sujeito sentado na posigio poplites). encosto da cadeira, * Alts do cotovelo (medida da distancia do catovelo, com o sueito sentado 1a posigéo poplitea ao piso: altura da mesa. ‘Altura da coxa (parte superior da coxa ao piso) espaso entre 0 assento € a snes. Se, ajustando a mesa na altura do cotovelo ea altura do assento na lea. 8 poplites, nfo for possiel acomodar o suet, deve-se usar 6 bom senso ¢

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