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XXI ENANGRAD

Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho (GPT)

FATORES QUE INFLUENCIAM A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIENCIA NO MECADO DE


TRABALHO: PERSPECTIVA DE EMPREGADORES E DE INSTITUIÇÕES FORMADORAS

Felipe Albuquerque Buhler

Marco Antonio Coelho Dias

Pedro Henrique Teixeira Nogueira

Renato Kinaip Faria Neto

Brasília, 2010
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FATORES QUE INFLUENCIAM A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIENCIA


NO MECADO DE TRABALHO: PERSPECTIVA DE EMPREGADORES E DE
INSTITUIÇÕES FORMADORAS
Área temática: Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho – GPT
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RESUMO
A preocupação com o processo de inclusão laboral da pessoa com deficiência
ganha destaque nomeio empresarial brasileiro, desde o ano 2000, quando da
aprovação da Lei no 8.213/91, a lei orgânica da assistência social. A inclusão e um
processo bilateral que requer mobilização por parte tanto dos empregadores quanto
dos PCD‟s e das instituições educacionais que atuam como intermediarias. A fim de
desvendar fatores que facilitam e dificultam a inclusão da pessoa com deficiência no
mercado de trabalho, realizou-se pesquisa exploratória qualitativa. O estudo é
composto por cinco partes sendo a primeira a introdução, seguido pelo referencial
teórico onde conceitua-se o termo inclusão e pessoa com deficiência e disserta
sobre legislações nacionais e internacionais, em seguida a parte referente a
metodologia utilizada no estudo seguida pela apresentação dos dados coletados,
posteriormente a discussão e por fim as conclusões do estudo onde verificou-se que
os objetivos específicos foram atingidos com êxito após o confronto de opiniões de
empregadores (literatura) e as instituições entrevistadas.

Palavras-chave: inclusão laboral; pessoa com deficiência; instituições formadoras.


ABSTRACT
The concern with the process of inclusion in the job market of handicapped
individuals is in the spotlight of the Brazilian business environment since 2000, when
Law 8.213/91, the law institutioning social welfare, was approved and sanctioned.
The inclusion is a bi-lateral process that requires the mobilization of the employers,
the disabled individuals and the educational institutions that act as intermediaries.
With the objective of unveiling the factors that can make the inclusion easier or
harder in the job market, qualitative fact-finding research was made. This study is
composed of five sections, being the first the introduction, followed by theoretical
references where the term inclusion and disabled individual is defined, and discusses
about national and international Laws, succeeded by the section referring to
methodology used in the study followed by the presentation of the collected data, the
later discussion and finally the conclusions of the study where was verified that the
specific objectives were successfully achieved after the confrontations between the
opinions of the employers (literature) and the interviewed institutions.
Keywords: Labor inclusion, handicapped people, training institutions
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1. INTRODUÇÃO
O tema escolhido para esta pesquisa foi inclusão social, a justificativa para
escolha deste tema para pesquisa em três âmbitos. Primeiramente, no que tange o
âmbito acadêmico/científico a partir de busca nos sites Scielo e Google acadêmico,
por meio das palavras-chave deficiente, trabalho e inclusão, observou-se que se
trata de um tema com escassa bibliografia nacional. No âmbito gerencial, por meio
de revisão bibliográfica baseada em artigos brasileiros (ex: CARNEIRO; RIBEIRO,
2008), verificou-se que há dificuldade dos gestores para adaptação à lei das cotas.
Por fim, no âmbito social, Aloisi (1999) sugere que novos trabalhos são necessários
para a compreensão do processo de inclusão laboral de pessoas com deficiência. A
autora sugere também que novos estudos podem servir como estímulo para
empregadores e agentes reabilitadores.
O objetivo geral do presente estudo é Identificar fatores que influenciam o
processo de contratação de pessoas com deficiência. Para melhor entendimento do
tema proposto, delimitou-se como objetivos específicos, primeiramente, discutir a
evolução dos conceitos inclusivistas e as implicações das principais legislações
nacionais e internacionais para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de
trabalho. Em seqüência, vem o objetivo de analisar a visão dos empregadores sobre
o processo de inclusão de portadores de deficiência a partir de resultados de
estudos anteriores. Logo após vem o objetivo de levantar a visão de instituições
relacionadas as pessoas com deficiência sobre os fatores que facilitam e dificultam o
processo de inclusão. Por fim, vem o objetivo de fazer uma analise comparativa
entre os discursos dos empregadores (literatura) e instituições educacionais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
Para compreensão do tema, deve-se primeiro entender o conceito de inclusão
que, segundo Sassaki (1999), é um processo no qual a sociedade se adapta para
receber pessoas com deficiência (PCD‟s) em seus sistemas, e essas pessoas, por
sua vez, se preparam para assumir seus papéis na sociedade. Por isso a inclusão é
um processo bilateral que requer mobilização por parte tanto dos empregadores
quanto dos PCD‟s, sem deixar de lado o papel das instituições educacionais que
atuam como intermediadoras desse processo.
A preocupação com o processo de inclusão laboral da pessoa com deficiência
é um tema que veio ganhando relevância no meio empresarial brasileiro desde o
ano 2000, quando a Lei nº 8.213/91, a lei orgânica da assistência social no Brasil,
começou a ser aplicada. Para Carneiro e Ribeiro (2008), internacionalmente as
políticas de inclusão se estruturaram em concepções da ONU e OIT, sendo a mais
recente a convenção internacional da pessoa com deficiência em 2008, onde
convencionou-se o termo PCD (Pessoa com deficiência), substituindo o termo
anterior “pessoa portadora de deficiência”.
Na revisão bibliográfica identificou-se, em pesquisas realizadas junto a
organizações empregadoras, fatores que influenciam no processo de inclusão da
PCD no mercado de trabalho. Em síntese, os fatores identificados foram político-
legais, relação instituição-empresa, acessibilidade, acompanhamento do processo
de inclusão, programas de profissionalização e conhecimento da real capacidade de
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trabalho dos PCD‟s, tendo estes grande influencia no processo de inclusão dos
PCD‟s (CARNEIRO; RIBEIRO, 2008; TANAKA; MANZINI, 2005; ALOISI, 1999;
ARAUJO; SCHMIDT, 2002).
Na bibliografia pesquisada, analisando a visão dos empregadores,
evidenciou-se a grande quantidade de dificultadores do processo de inclusão
quando comparados aos facilitadores.

3. METODOLOGIA
A presente pesquisa teve caráter exploratório com abordagem dos dados de
forma qualitativa onde buscou-se elucidar conceitos sobre a inclusão de PCD‟s no
mercado de trabalho e a articulação de opiniões de instituições educacionais e
empregadores. Foram três instituições participantes da pesquisa, sendo uma
organização publica, uma organização filantrópica (sem fins lucrativos) e por fim uma
organização da sociedade civil de interesse publico (OSCIP, que não possuía fins
econômicos), todas atuantes no Distrito Federal a pelo menos dez anos e que foram
selecionadas por conveniência.
Quanto a coleta de dados, salienta-se que foi por meio de entrevista semi-
estruturada, o instrumento foi um roteiro composto por onze perguntas. Em relação
aos procedimentos empíricos, as entrevistas foram todas presenciais e registradas
por meio de gravação para que, por fim, pudesse ser feita a analise dos dados
utilizando a técnica de analise temática, com identificação das categorias de
resposta. As categorias foram formuladas a partir da seleção dos principais fatores
que influenciam, facilitando ou dificultando a inclusão de pessoas com deficiência de
acordo com as pesquisas de Aloisi (1999), Carneiro e Ribeiro (2008), Tanaka e
Manzini (2002), Araujo e Schmidt (2006).

4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS


Os dados coletados nesta pesquisa, tanto na parte de revisão bibliográfica
referente a visão dos empregadores que contratam PCD‟s, tanto a parte de campo,
que corresponde as entrevistas a instituições formadoras que trabalham com PCD‟s,
foram dispostos em dois quadros, sendo que no quadro 01 estão dispostas as
visões de empregadores e no quadro 02 a visão das instituições entrevistadas em
relação a fatores que facilitam e dificultam o processo de inclusão das PCD‟s no
mercado de trabalho. O quadro 01, que representa a visão dos empregadores, foi
confeccionado pelos autores do preste estudo, feito com base nos estudos de
Tanaka e Manzini (2002), Aloisi (1999) e Araujo e Schimidt (2006):
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Visão de empregadores
Tema
Facilitador Dificultador
As instituições não oferecem
qualificação adequada. (TANAKA;
Programas de
- MANZINI, 2002; ALOISI, 1999;
profissionalização
ARAUJO; SCHIMIDT, 2006).

Falta de contato das instituições


com as empresas para
Relação instituições conhecerem suas reais
-
empresas necessidades de qualificação.
(TANAKA; MANZINI, 2002),

Barreiras arquitetônicas
existentes dentro e fora do local
de trabalho dificultam o processo
de inserção, sendo necessário
Acessibilidade -
investir estrutura um empecilho
para contratação. (TANAKA ;
MANZINI, 2002).

O principal motivo de As empresas criticam a falta de


contratação é a lei de cotas incentivo fiscal para realizarem
Fatores político-
(ARAÚJO E SCHIMIDT, adaptações ergonômicas
legais
2006). (TANAKA; MANZINI, 2002).

As instituições deveriam prestar


auxilio para as empresas no
Acompanhamento momento da integração das
do processo de - PCD‟s no seu quadro de
inclusão funcionários. (TANAKA;
MANZINI, 2002)

Os empregadores
Conhecimento sobre desconhecem as reais
a capacidade das capacidades de trabalho -
PCD‟s das PCD‟s. (ALOISI, 1999)

Quadro 01 – Visão de empregadores


Fonte: Aloisi (1999), Araujo e Schimidt (2006), Tanaka e Manzini (2006)

O quadro 02 que evidencia a visão das instituições formadoras, foi feito com
base em trechos de relatos obtidos nas entrevistas semi-estruturadas realizadas
com três instituições formadoras do Distrito Federal. As instituições foram
identificadas no quadro pelas letras A, B e C.
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Visão das instituições


Tema
Facilitador Dificultador
“Muitas vezes instituições como
essa aqui não tem condições de
Programas de montar oficinas que simulem
-
profissionalização todas as situações de emprego aí
fora” (B)

“Para poder promover


qualificação estratégica (...) eu
Relação instituições vou na secretária do trabalho (...) -
empresas e pergunto: „o que estão mais
contratando hoje?‟” (C)

“Como que um cego vai “Acessibilidade é


trabalhar em computador? (...) importantíssima, diria que é o
se ele colocar um DOSVOX” (C) carro chefe para todo esse
problema do de inclusão (...) a
Acessibilidade “No Brasil inclusive existe duas própria empresa as vezes não
línguas oficiais (...) Libras para tem a rampa, (...) as vezes não
os surdos e português para nós.” tem acesso.” (A)
(C)
“Eles recebem aquele BPC que é
“A lei de cotas foi importante
pago pelo INSS (...) quando tem,
para a questão da inclusão das
as vezes, ele não quer trabalhar,
Fatores político-legais PCD‟s no mercado de trabalho”
ele prefere ficar com o beneficio”
(C)
(A)

“Um aprendiz (...), esta na


primeira semana, então o “Agente queria acompanhar pelo
pessoal vai lá uma vez por menos os seis primeiros meses,
Acompanhamento do semana na empresa, depois (...) agente precisaria fazer isso,
processo de inclusão quando começa a se adaptar, mas não fazemos porque não
começa a ir uma vez por mês temos condições.” (C)
(...) (B)

“Não são só essas barreiras


Conhecimento sobre a físicas que atrapalham, são as
capacidade das - atitudinais, é o preconceito, de
PCD‟s não acreditar,” (A)

Quadro 02 – Visão das instituições formadoras entrevistadas


Fonte: Entrevistas semiestruturadas com instituições formadoras no DF

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Tanto para as instituições quanto para as empresas, a legislação vigente é o
fator preponderante de estímulo à inclusão de PCD‟s no mercado de trabalho. As
instituições nem sempre conseguem acompanhar o processo de inclusão e mesmo
demonstrando empenho ao tentar qualificar os PCD‟s de acordo com as
necessidades das empresas, esbarram na falta de recursos que limitam sua
capacidade de profissionalização.
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As instituições alegam também que as empresas exageram nas exigências


para contratação de profissionais PCD‟s, não se preocupando em investir em
acessibilidade e treinamento para recebê-los, deixando a tarefa a cargo do governo
e instituições. O desconhecimento das reais capacidades das PCD‟s também foi um
fator dificultador de alta relevância encontrado tanto na revisão bibliográfica quanto
nas entrevistas.
Para empregadores e instituições as ações governamentais no quesito
acessibilidade são claramente falhas. Segundo ambos os lados faltam ações mais
concretas e direcionadas para investimento em estrutura. As empresas alegam falta
de subsídios para adaptarem o espaço físico para receber os PCD‟s, Alem disso,
questionam o fornecimento do subsidio BPC (Benefício de prestação continuada),
que desestimula muitos deficientes que optam pela segurança do benefício em
detrimento do trabalho.

6. CONCLUSÕES
Após realizado um paralelo entre a visão dos empregadores e instituições,
observaram-se fatores que facilitam ou dificultam o processo de inclusão, sendo
eles: programas de profissionalização, relação entre a instituição formadora e a
empresa , acessibilidade (no âmbito interno e externo à organização), fatores
políticos e legais, acompanhamento no processo de inclusão e conhecimento da real
capacidade de trabalho das PCD . Observou-se grande número de dificultadores no
processo em relação aos facilitadores.
O trabalho obteve êxito na medida em que todos os objetivos específicos
foram demonstrados. No âmbito da discussão dos conceitos inclusivistas, observou-
se tanto em âmbito nacional como internacional, que as legislações vem sendo
adaptadas em função nas necessidades da sociedade que vem se esforçando em
se tornar cada vez mais inclusiva. Quanto a análise da visão dos empregadores a
partir da teoria ficou notório que estes vêem no tema muito mais dificultadores do
que facilitadores da inclusão laboral da PCD. Na até a analise comparativa dos
discursos de empregadores e instituições educacionais, verificou-se que existem
divergências nos discursos, as instituições alegam falta de recursos para investir
para que possam fazer um trabalho melhor, mas que buscam fazer qualificação
estratégica e enxergam no processo muito mais oportunidades do que empecilhos,
já os empregadores, como já salientado, vêem no processo muito mais empecilhos
do que facilitadores como se pode observar no quadro de discussão dos dados,
observou-se também que muitas empresas ainda são preconceituosas ou receosas
em contratar PCD‟s por não conhecerem sua real capacidade, mas que esse quadro
tende a mudar com empresas cada vez mais inclusivas e que levantam a bandeira
da responsabilidade social corporativa, concluiu-se por tanto nesse objetivo
específico que existem opiniões pouco convergentes entre empresas e instituições
formadoras.
Evidenciou-se a importância da lei das cotas no processo inclusivo das PCD e
que tanto empresas como sociedade devem melhor adaptar seus sistemas de
acessibilidade e educação para recebê-los. Destacou-se também, a partir dos
relatos obtidos, a ausência do governo com relação a melhor estruturação das
políticas voltadas para o processo de inclusão dos PCD.
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Como limitações o presente estudo teve principalmente o número de


instituições pesquisadas e a abordagem apenas bibliográficas das empresas,
sugere-se que novas pesquisas investiguem um leque maior de instituições,
inclusive abordando a visão das PCD‟s quanto ao processo de inclusão laboral.
O trabalho contribuiu para o debate sobre o tema em âmbito local, que até
então é pouco explorado pela literatura cientifica, e evidenciou aspectos que
poderão contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e menos
preconceituosa.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, J. P.; SCHMIDT, A. A inclusão de pessoas com necessidades
especiais no trabalho: a visão de empresas e de instituições educacionais
especiais na cidade de Curitiba. Rev. bras. educ. espec.[online]. 2006, vol.12, n.2,
p. 241-254. ISSN 1413-6538.

CARNEIRO, R.; RIBEIRO, M. A. A inclusão indesejada: as empresas brasileiras


face à Lei de Cotas para pessoas com deficiência. In: XXXII EnANPAD, 2008, Rio
de Janeiro, 2008.

ALOISI, H. M. O empregado com deficiência segundo conceito do empregador


da pequena, média e grande empresa cidade de Campinas. 1999. Tese
(Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

TANAKA, E. D. O.; MANZINI, E. J. O que os empregadores pensam sobre o


trabalho da pessoa com deficiência?. Rev. bras. educ. Espec., Marília, v. 11, n.
2, p. 273-294, maio/ago 2005.

SASSAKI, R. K. Inclusão – Construindo uma sociedade para todos. Rio de


Janeiro: WVA, 1999

ONU. Convenção sobre os direitos da pessoa com deficiência. Nova York, 2007.

BRASIL. Lei nº 8.213, Lei orgânica da assistência social. Brasília: Diário oficial da
união, 1991.

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