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SEASIDE, [CONE DO NOVO URBANISMO. SEASIDE, ICON OF THE NEW URBANISM Adilson Costa Macedo Arquiteto pela FAUUSP (1964), mestre em Urbanismo pela Graduate School of Design da Universidade de Harvard (1977), doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP (1987), professor dos cursos de graduacao e pés-gradvagéo da FAUUSP e USIT, participante Locum Arquitetura e Urbanismo Lida, conselheiro da Fundacdo Anita Pastore D'Angelo e responsdvel por diversos projetos urbanos e de orquitetura ‘ac-macedo@terra.com.br RESUMO O estudo de caso sobre a cidade de Seaside, Florida, aponta para questées relacionadas & revis6o do urbanismo modemo. O projeto da pequena cidade, ume localidade de veraneio, € de responsabilidade do escritério dos arquitetos Andrés Duany e Elizabeth Plater-Zyberk Baseia-se na oplicacGo dos tipos dos espacos piblicos, dos tipos de edificacées e éreas verdes usuais nas cidades tradicionais americanas. Seaside se tornou uma referéncia hist6rica do movimento “novo urbanismo” (conhecido internacionalmente desde1980). Este artigo mostra ‘© processo de implantacao de Seaside com interesse especifico no relacionamento entre o empreendedor, os projetistas e os grupos de interesse. A cidade construida de forma cuidadosa, atendendo @ estratégia de criar um lugar pioneiro no desenvolvimento da costa noroeste da Flérido transformou-se em referéncia importante para a discusséo de projetos urbanos nos Estados Unidos do América. Para o controle do desenvolvimento de seu plano urbanistico foi corganizada a primeira verséo de um cédigo conhecido por smart code, que, posteriormente, {oi oprimorado como uma codificacéo geral dos componentes urbanos, para ser adaptado complementado conforme os casos especificos. As qualidades intrinsecos do empreendimento urbanistico e a valorizagio imobiliéria que Seaside trouxe para o local estimularam a construgéo de diversas novas localidades vizinhas. Palavras-chave: Novo urbanismo, desenvolvimento urbano, projeto urbano, paisagem urbana, cidades novas. ABSTRACT The town of Seaside case study brings home to questions related to the Congress for the new urbanism, founded in 1993. This town, the second designed by the architects Andres Duany e Elizabeth Plater Zyberk is based upon revising pattems ofthe traditional way to build small communities in America. Both, the urban tissues ond the building prototypes have been considered. Following the process used by the architectural firms to conceptualize, develop and implement urban design projects the plan for Seaside is analyzed. The town wos carefully programmed, designed and built. Thus, the present poper describes the interactions between the developer, the architects and the community involved, concluding that the good inleraction ‘among them is the clue for the success of any project. As @ matter of controlling the urban development a code was create in a first version. Afterwards this code is unfolded to urban design more generic elements in order to fit different situations. It is denominated smart code and up to now it reached the ninth version. The plan for Seaside emphasizes the importance of the triangle drama binding the developer, architect and community to achieve a high quality project. Being successful Seaside stimulated many other initiatives along side the Gulf of Mexico panhandle. Keywords: New urbanism, urban development, urban design, urban landscape, new cities. Pasaca AMBENTE: MOS -N,29 - Sho PaLno =», 169-188-2011 al Adilson Costa Macedo Este artigo trata de questées relacionadas & concepcao do projeto de Seaside, seus desdobramentos e © processo de implantacéo dessa pequena cidade. Faz a revisdo de conceitos, complementa dados e atualiza as figuras da versio inicial publicada pela revista IntegragGo, n. 56, de janeiro de 2009, com o titulo “Seaside, cidade icone do novo urbanismo”, retomada indispensdvel apés o autor ter visitado os municipios de Walton e Seaside. Jé se vo 30 anos do inicio de sua construgéo. E um estudo de caso baseado em fontes secundarias (livros, revistas e Internet), em visita ao local e na vivéncia pessoal do autor com outras pequenas cidades americonas. O estudo esté organizado em uma sequéncia com base nas informacées gerais do local, depois a caracterizagéo dos responséveis pelo projeto, a descrigdo do processo de projeto e seus elementos e, finalmente, a conclusdo'. Para a descrigéo do projeto foi adotado o roteiro utilizado por m Lennertz, quando explica os “fundamentos para se fazer cidade”, no capitulo por ele escrito no livro Towns and town-making principles (DUANY; PLATER-ZYBERK, 2006) A descricao se inicia pela identificagéo dos principios de projeto, depois o plano geral, incluindo o sistema vidrio, o sistema de circulacéo de pedestres, o plano regulador (zonos integradoras de atividades), a distribuicéo dos edificios publicos, Greas livres e verdes. Como procedimento de trabalho foi utilizado 0 processo conhecido por “charrete”, no qual, trabalhando no mesmo local em até cinco dias os arquitetos (urbanistas) chegam «© propostas parciais de consenso. Sao elaborados cédigos baseados na configuracéo dos elementos do espaco urbano (diretrizes urbanisticas) como elementos fundamentais para a “implementagGo” do projeto. Depois, a implementation, ou como colocar o plano em pratica, articulando os objetivos, parceiros, prazos e os responsdveis pelas despesas. Dessa maneira, a descricéo do projeto de Seaside segue o mesmo roteiro utilizado pelos arquitetos americanos, ao trabalhar no desenvolvimento do projeto de uma pequena cidade ou de um setor urbano?, Seaside se localiza em Santa Rosa Beach, no municipio de Walton, a noroeste estado da Flérida, no Golfo do México, Estados Unidos da América. © municipio é parte de uma extensa faixa de terra que se destaca do continente como uma alca, formando «@ Choctawhatchee bay. Seaside é uma pequena cidade da regido com acesso pela rodovia litorénea 30 A entre Fort Walton beach e Panamé city. Ocupa drea de apenas 32,4 hectares ~ dimensGo de uma localidade de veraneio ou resort — com populacdo entorno de 2.000 habitantes. Sua construgéo teve inicio em 1978 e foi inaugurada em 1982. Tem cerca de 1.000 m de frente para o mar, em Santa Rosa Beach, e faz divisa com a cidade de Watercolor ao norte e a leste; ao sul, com a localidade de Seagrove beach. A vizinha Watercolor teve sua construcGo iniciada em 1997 e completou-se em 2008. Essa nova cidade se aproveitou do interesse pelo local e da valorizacéo imobi- lidria que Seaside trouxe para a orla litoranea do municipio de Walton. Sua superficie 6 de 201,9 hectares com previsdo para 15.000 habitantes. A foto aérea mostra os limites de Seaside e sua relagéo de proximidade com Watercolor? (Figura 1). Na costa noroeste do Golfo do México existiam poucas e pequenas cidades quando, ha 30 anos, o empreendedor e construtor de Miami, Robert Davis, decidiu fazer 0 que chamou, inicialmente, de uma comunidade praiana. Nela as casas teriam a forma de 172 Pasacon AMBINTE: LOS -N. 29 -SkO PaLNO =», 169-186-2011 Seaside, [cone do Novo Urbanismo 1 SEASIDE, 2 WATERCOLOR. 3 DIVERSOS PROPRIETARIOS Figura 1: Divisos dos cidades de Seaside e Watercolor Fonte: Google Earth, 2008 e or cottages — construcées de madeira usadas como casa de campo — e espacos livres com projeto inspirado nos tipos encontrados na Flérida. Davis, reconhecido empre- sério do ramo imobiliério, teve formagéo académica na érea de Histéria, depois em Gerenciamento de Negécios em Harvard. No empreendimento Seaside, cuja gleba recebeu como heranca de seu pai, a ideia de criar uma comunidade com o objetivo de reviver 0 estilo de vida e recuperar o tipo das construgées tradicionais americanas era compartilhada por Daryl Davis, esposa do empreendedor, que teve participacéo ativa na pesquisa histérica. Nesse momento, a expectativa sobre o empreendimento era modesta, voltada para a construgdo de cottages, formando um resort para férias. Com essa ideia, foram procurar 0 casal de arquitetos Andres Duany e Elizabeth Plater- -Zyberk, conhecidos em Miami por trabalhar com projetos residenciais e utilizar estilos do arquitetura tradicional do pais. Tratava-se de professores de projeto na Universidade de Miami e sécios do escritério DPZ Architects & Town Planners. Contratado o DPZ, 08 Davis, com os arquitetos, viajaram pelo estado para ampliar seus conhecimentos sobre os estilos das edificacdes e da ocupacdo dos espacos exteriores tradicionais da Florida. Observar as pequenas comunidades em situagées nas quais houvesse certa centralidade de comércio, servicos e de instituic6es acessiveis pelos moradores cami- nhando a pé. Para sua community resort, Davis imaginava que os moradores deixariam 98 carros para caminhar, utilizar bicicletas ou pequenos veiculos elétricos. Passeio pelos ruas ladeadas por cercas baixas de madeira, as casas tendo a tradicional varanda fron- Psat AMBaNTE: MOS -W.29 - So Patno =p, 169-188-2011 173 Adilson Costa Macedo Figure 2: Plano viério & parcelamento do solo Fonte: Map do cidade, folheto1 990 Figura 3: Orla martina, foixa Uurbanizada entre @ proia e a Rodovio 30A¢ 9 drea central indo incomplete Fonte: Google Earth, 04/12/2008 Figure 4: Sistema de circulagao principal de vefulos Fonte: DPZ. Images Library. Courtesy of Duany Plater-Zyberk Co. 174 PASACEM AMBIENTE: SACS -N. 29 -Sko Pato, 169-188-2011 Seaside, {cone do Novo Urbanismo Figura 5: Sistema de irculogéo de pedestres Fonte: DPZ. Images Library. Courtesy of Duany Plater Zyberk Co. Figuro 6: Sistema de distnbuigéo dos ediffcios insttucionais Fonte: DPZ. Images brary. Courtesy of Duany Plater-Zyberk Co. ins te, Figura 7: Locolizagéo dos edificios privodos Fonte: DPZ. Images Library. Courtesy of Duany PlaterZyberk Co. RRR Pasacana AMBENT: AOS - N29 -SKo PaLto -. 169-188-2011 75 Adilson Costa Macedo teirica. Como alternativa para a usual garagem e patio para estacionar vefculos, o que tem sido 0 padréo das casas de subirbio norte-americanas de 1950 até hoje. Fazer o espaco mais concentrado e poder ir ao centro da cidadezinha a pé. Em determinado momento, 0 sonho dos Davis passou a tomar forma de conceitos de projeto devido & Participagao dos arquitetos. Essa pequena histéria, parte da histéria de Seaside, é fundamental contar. Ela aponta para a questao que o bom entrelacamento de pontos de vista do cliente e do profissional é muito importante para o sucesso do projeto, quando seguido por procedimentos corretos para sua implantagéo. Condigao que se aplica a qualquer campo profissional, em particular, na arquitetura. Na cidade de Seaside isso deu certo: um cliente interessado, culto, com recursos financeiros e um bom escritério de arquitetura * A evolucao do projeto incorporou outros tipos construtivos. As residéncias isoladas se diversificaram desde o tipo cottage, pensado de inicio, até a casa grande e luxuosa se abrindo para a areia da praia. Nas quadras residenciais, nos fundos dos lotes opostos, foi aberia uma passagem estreita para a circulagdo de pedestres. Algo em torno de 1,20 m, sendo as cercas baixas para néo impedir a viséo dos espagos verdes laterais ou de fundo das casas. Foram introduzides tipos de uso misto, comércio e servicos no térreo, com residéncias ou escritérios nos pisos superiores. Foi estabelecida uma gradagGo dos tipos de edificagées desde as cosas unifamiliares em terrenos grandes e afastados até o adensamento maior em torno de espacos de maior centralidade, como «a Central Square, o Lyceum e 0 Ruskin Place; conforme se pode observar no plano de parcelamento exposto na Figura 2. O plano geral (master plan) segue 0 tipo das cidades americanas, caracterizando-se por um centro geometricamente marcado que irradia a rede vidria, interconectada e ajustada as condicées do sitio fisico. Os prédios institucionais foram distribuidos em pontos diversos da cidade, criando referenciais ur- banos e pequenos pontos de atracao. O tipo de vegetacdo varia desde as drvores de sombra junto dos edificios residenciais até o plantio de palmeiras na érea central, para permitir permeabilidade visual aos estabelecimentos comerciais. A orientagdo indicada No projeto de paisagismo, de responsabilidade do escritério Douglas Duany Architects, foi de evitar-se as grandes éreas gramadas, tipicas dos subtrbios americanos, e utilizar- se a vegetacdo caracteristica do litoral nos espacos piblicos distribuidos pela cidade e como diretriz também nas dreas privadas. A foto aérea da Figura 3 e os desenhos das Figuras 4, 5, 6 e 7 auxiliam 0 entendimento do plano geral. A Figura 8 mostra um trecho de edificagdes em fileira que delimita o espaco urbano do Ruskin Place e a Figura 9 se consfitui em exemplo de um pequeno espago, parte do critério de criar-se polaridades secundérias utilizando os edificios institucionais. © plano permite observar como um dos objetivos do projeto foi facilitar 0 acesso dos pessoas até a praia e foram projetadas quadras de reduzido comprimento no trecho em contato direto com o mar. Entre grupos de quatro a seis lotes aparecem passagens publicas onde o eixo é marcado por um, pequeno pavilhdo que funciona como portal de acesso & praia. Eles ficam no alto da duna e servem como mirante. A formagao sequencial desses sete pequenos pavilhées 176 Pasaco AMBIENTE: EAS 6.29 -Sko Paulo =P, 169-188-2011 Seaside, [cone do Novo Urbanismo 0 visual do Centro confere identidade a Seaside, néo s6 para quem a percorre, como para quer tem a vista desde as aguas do Golfo em diregdo 4 costa (KATZ, 1994). © Centro foi localizado para ser mostrado a quem passa pela Rodovia 30 A e sugerir um ponto de parada. Entra-se na cidade por esse ponto, como sempre acontece, em nés que unem a via litorénea com as localidades praianas. Nas figuras citadas pode- -se observar a pequena edificagio residencial, as maiores, o Centro, os pavilhdes e as ruas de acesso ao mar (DUANY; PLATER-ZYBERK, 1991). As Figuras 10, 11 e 12 mostram o menor tipo de edificagao residencial, a cottage, edificagéo para abrigar uma pousada e a residéncia isolada com o projeto assinado por Robert A. M. Stern, © que revela o fato de a cidade ter-se tornado um lugar sofisticado e caro. Exemplos do tipo de vizinhanca residencial mais comum na cidade e seu aspecto arquiteténico encontram-se nas Figuras 13 e 14. Edificagées que ladeiam o Centro formando uma loggia aparecem na Figura 13. Passagem de pedestres separando lotes residenciais & dada pela Figura 15. O tipo de via de circulacdo de pedestres em direcdo 4 praia e portal-mirante esté na Figura 16. O entusiasmo de Davis com a originalidade que a sistematizagao dos componentes das cidades tradicionais americanas poderia trazer para Seaside e outras comunidades semelhantes levou a fundagéo do The Seaside Institute (1982) a organizar semindrios, focalizando a orientacéo de projetos e discutindo a teoria e prética do novo urbanismo e do smart growth (DUTTON, 2000). Denota-se 0 zelo com o projeto da cidade e a preocupacéo com o controle de sua forma. Objetivo possivel, dada sua pequena di- mensdo e devido ds premissas sobre a morfologia urbana adotada desde o principio. Com vistas a sistematizar os fipos urbanisticos e das edificagées, foi convidado para ser consultor do projeto © arquiteto Leon Krier, natural de Luxemburgo e conhecido por seu projeto para a cidade de Poundbury, Inglaterra, onde a recuperacéo dos valores do urbanismo e da arquitetura tradicional formou a base do projeto. Em conjunto com Krier foi contratado o escritério Opticos Design Inc. de Berkeley, California, para a organizacéo do cédigo de urbanismo e da construcdo de Seaside, o smart code. O trabalho de Krier e da Opticos teve 0 objetivo de sistematizar 0 conjunto de tipos urbanisticos estabelecido por Duany e Platter-Zyberk quanto co controle formal dos edificacdes. A Opticos abriv uma filial em Seaside, que até hoje funciona, para acompanhar o desenvolvimento da cidade e elaboracéo de outros trabalhos no sul dos EUA. Em conjunto com a Opticos, Krier desenvolveu o plano para a praca central. Observe-se, na Figura 17, 0 trecho do projeto da praca que foi construido envolvendo © anfiteatro de um lado e, do outro, os lotes de frente para a Rodovia 30 A. Do lado da praca, junto do anfiteatro, tanto o hotel projetado por Steven Holl quanto o edificio comercial projetado por Machado e Silvetti ocupam terrenos na sequéncia da loggia que configura a praca. Esses projetos, criados por arquitetos de renome internacional, seguem a diretriz indicada pelo plano geral, ficando geminados com seus vizinhos. Nos extremidades da loggia, com posigéo de maior destaque ficardo os edificios que fazem parte do projeto Krier ~ Opticos® (Figuras 18 e 19). A Figura 20 mostra a proposta de Leon Krier para a configuracéo final da praga. A Figura 21 mostra a lateral do hotel Pasco AWBante: 5405 - N29 - Sho Pauio -. 169-188-2011 Ww Adilson Costa Macedo Figure 8: Ruskin Pace. Fileia de edificacées geminodos, de uso miso. Lorgura de lotes voriada Expresséo prépric de code edifcagéo. Controle urbanistic feito pelo clinhomento e gabarto dos edifcosées Fonte: DPZ. Images Ubrory. Courtesy of Duony PlaterZyberk Co, Figura 9: Ponto de interesse secundério criado pela implantagéo de edifcio institucional e pequeno praca Fonte: DPZ, Images brary. Courtesy of Duany Plater Zyberk Co. que receberd a edificagdo voltada para a rodovia 30 A, segundo o esquema de Krier. © espaco livre da praca é inteiramente gramado. O livro de Peter Katz, The new urbanism, towards an architecture of community, escrito apés dez anos da inauguracao de Seaside, fornece uma base referencial rica sobre o projeto e os primeiros anos da fundacéo da cidade. Katz, devido a sua formagéo em arquitetura, seu trabalho como gestor de diversos empreendimentos imobiliérios, de palestrante em diversas universidades e instituigdes norte-americanas e participagéo ativa no Congreso do Novo Urbanismo, apresenta Seaside por meio de texto e fotos que contextualizam bem o projeto. No livro, o capitulo final escrito por Vincent Scully, com otitulo “A arquitetura da comunidade” aponta para a importéncia do trabalho dos arquitetos em relagdo as inémeras localidades de subiirbio nos EUA. Realca os aspectos 178 PAsaco AMBiNTE: ENSMOS-w. 29 -Sko Pano», 169-188-2011 jie: Pacha AMAENTE: EXSNOS =, 29 = SAO PALAO =P, 169 - 188, Seaside, [cone do Novo Urbanismo Figura 10: Residéncio do tipo cottage. Esse € um tipo térreo, construgo simples. Hé exemplos, escalonados ou com dois Fonte: DPZ, Images Library. Courtesy of Duany Plater. Zyberk Co, Figura 11: Construgéo projetada para ser uma pousoda, montendo o podo das residéncios de Seaside. Pousada Inn By The Sea, de Vero Bradley Fonte: Arquiteto A, ‘Macedo - arquivo, foto de 03.07.2009 Figuro 12: Residéncio convencional de alto podréio, 430,00 m2, Robert A. M. Stern Architects, “Mistura do classicismo Sulgo de 1930 com 0 charme da arquitetura, do Século XX, relative construidas em madeira", segundo Stern Fonte: Photo Gallery, Robert A. M. Stem Architects LP Adilson Costa Macedo relativos ao combate 4 urbanizacGo dispersa, contidos nas intencées do movimento do novo urbanismo e a importéncia do desenvolvimento regional articulado com o sistema de transportes coletivo. Comenta ainda sobre os planos que procuram recuperar valores das cidades tradicionais na relagéo de proximidade moradia-trabalho, e a agao sobre os empreendedores para produzirem espacos adequados & ecologia e ao ambiente como um todo. Scully discute a questéo da retomada dos estilos tradicionais da arquitetura americana como fendmeno regional. Isso porque muitos dos arquitetos do grupo de novos urbanistas veem promovendo a revisdo desses estilos e organizando cédigos da forma urbana nos moldes dos tratados cléssicos. Podem ser assim referenciados os arquitetos da empresa Urban Design Associates, os quais jé publicaram dois livros cujo contetdo é 0 estudo e a classificagéo de padrdes de arquitetura e de tecidos urbanos*. Aretomada dos estilos tradicionais na arquitetura americana, em particular no caso do novo urbanismo, dé margem a uma forte critica de todo o movimento. De uma parte Figura 13: Conjunto de quodros, loles e edificacées projetados segundo diretrizes do plano de Seaside. Observar a vio coletora, no primeiro plano. As vias locais configurando as quadras. A passagem pelos fundos dos lotes residenciais, podréo cuja origem esti nos loteamentos tradicionais. Foto do 1985 Fonte: DPZ. Images Library. Courtesy of Dueny Pi Zyberk.Co. Figura 14: Cominho para pedestres. Pimeiro plano, passarela de acesso & proio, sobre 0 duno existente ao longo do orla martina. Continuidade do circulagéo t6 0 interior das quadras ‘com travessia pela rodovia 30A Fonte: Arquiteto A. Macedo ~ ‘arquivo, foto de 03.07.2009 180 PASACOM AMBIENTE: NSAOS -N.29 -Sko Pauto =. 169-188-2011 Seaside, {cone do Novo Urbanismo Figura 15: Passagem de pedestres entre lotes residenciais. Esse tipo de ppossagem aparece também separando fundos de lotes Fonte: Arquiteto A Macedo arquivo, foto de 03.07.2009 Figura 16: Obelisco, torre de 25,00 m de altura, portal de acesso @ proia. Projeto Leon Krier Fonte: Opticos Design Inc. Image file, 2008 Pasco AMBUNTE: ENSNOS -N 29 - SAO PaLKO =P. 169-188-2011 181 Adilson Costa Macedo 6 critica consequente relacionada 4 retomada dos tipos tradicionais em oposigé0 ao movimento moderno, como uma manifestagéo de saudosismo. De outra, a critica é apressada, originada dos defensores do estilo internacional ou proveniente dos que tém olhos para os grandes projetos urbanos de natureza pontual. Esses nao reconhe- cem, no idedrio da Carta do novo urbanismo, a presenga de uma visdo atvalizada sobre o planejamento e 0 projeto da regido, da cidade e de suas partes. Ir além nessa questéo, fora do propésito deste texto, seria esbarrar com o trato da segmentacéo do mercado de trabalho entre destacados escritérios de arquitetura. A propésito, os novos urbanistas atendem mais clientes com glebas isoladas para urbanizar do que fazem planos regionais. Sao duramente criticados por contribuir com a urbanizagéo dispersa, contrariando os princfpios da Carta! (MACEDO, 2007). Relembrando que o roteiro utilizado — dos fundamentos para se fazer cidades — realca a legibilidade da organizacGo fisica de Seaside. Isso se observa pela andlise de sua planta (Figura 2) cuja base é a diversificagdo de usos e a proximidade das pessoas em pontos de centralidade da vida urbana, estratégia para evitar a concentragdo de atividades institucionais em um sé lugar, implantagao de atividades de uso misto na Central Square e diversidade dos tipos de residéncias e dos espacos de uso piblico. A partir do trabalho de Seaside e em projetos subsequentes, a DPZ desenvolveu um dia- grama relacionando o uso e a ocupagao do solo urbano com padrées de apropriagéo do espago, ou seja, o parcelamento de dreas e os tipos de edificagées. Os cddigos desenvolvidos para a cidade de Seaside (comentados anteriormente) foram organizados ‘em fungdo desse diagrama por faixas do tertitério: 0 transect diagram, criado pelos arquitetos da DPZ (DUANY, 2006). Em Seaside, para fazer emergir as ideias preliminares do projeto foi utilizado o processo “charrete”. Segundo Lennertz, esse processo, aplicado para se desenvolver 0 projeto preliminar de uma cidade, em uma semana, comegou em Seaside. © objetivo era 0 de idealizar-se uma cidade completa nos 32,5 ha de terra, propriedade de Robert Davis ¢ néo um empreendimento monofuncional fechado do tipo usual na Flérida. Figura 17: Seaside ~ Central Square: 6 esquerdo, 0 Amphiteather; 8 direita, 0 ediicios comerciis; 00 fundo, torre projetada por Leon Krier Architects Fonte: Opticos Design Inc. Image file, 2008 182 ASA AMBIENTE: SAS ~ N29 -Sko Paulo ~P, 169-188 -2011 Seaside, {cone do Novo Urbanism Figura 18: Central Squore: 8 esquerda, a rodovia 30 ‘A, com 0 pequeno edifcio dos correios. O gramado do Anphiteother e os prédios comerciais a0 fundo, formando um one! Fonte: Arquiteto A. ‘Macedo ~ arquivo, foto de 03.07.2009 Figura 19: Central Squore Fonte: Arquiteto A. ‘Macedo — arquivo, foto de 03.07.2009 Figura 20: Oprojeto de Leon Kier ~ Opticos, para @ Cental Square, oinde ndo consrulda, demons como ser6 0 proge quand esther 4 complete 2Z~ Fonte: Opticas Design Ie a Image file, 2005 | Perseguindo esse objetivo de fazer cidade, a charrete proporcionaria a oportunidade de todos estarem juntos durante uma semana: técnicos, representantes da municipalidade de Walton e cidadaos interessados. Dessa forma, o processo de discussdo, reunindo até 20 individuos proporcionaria a educagdo de participantes com menor experiéncia, seria aberto para incorporar suas contribuicées, verificar decis6es e diminuir o risco de surgirem contratempos no decorrer dos procedimentos subsequentes. A charrete se realiza junto do sitio onde seré implantado o projeto. Em Seaside participaram dois profissionais da DPZ de maior experiéncia auxiliados por outros de menor experiéncia, trabalhando com técnicos de Walton, arquitetos paisagistas, historiadores, engenheiros, ecologistas, economistas e especialistos em mercado imobiliério. “A charrete comega | LA CITTA SEASIDE sic AMBIENTE: PSAOS - N29 - Sto Pato 169-188 - 2011 183 Adilson Costa Macedo Figura 21: © Dreamland Heights Hotel pela visual posterior Ocupa o segundo lote em relagéo & Rodovia 30A do conjunto que contomo @ Cental Square Fonte: Steven Holl Architects com um dia de visitas ao local da futura cidade e as cidades vizinhas que possam servir de exemplo e com a apresentagdo para os participantes dos principios de planejamento € projet. Nos dias seguintes, a equipe, incluindo o cliente, trabalha durante o dia e 0 noite, encontrando-se com frequéncia com os representantes das entidades publicas © 0s grupos independentes de defesa dos interesses locais, fazendo desenhos explo- ratérios de tudo, do plano geral as edificagées tipicas, do cédigo e de dreas abertas especificas.” (LENNERTZ in DUANY, 1991) E ldgico que se tratando do projeto de uma nova comunidade nao existiam grupos especificos do local como mencionado por Lennertz, referindo-se a um caso genérico. Seguindo-se esse processo, os pro- fissionais do escritério encarregado pelo plano da cidade trabalharam intensamente, utilizando as informagées e esquemas fisicos obtidos na charrete. O desenho de autor se mesclou com as ideias geradas pelos participantes da charrete. Finalizando © processo, foi feita uma apresentagéo publica dos resultados na Ultima noite, com cerca de 40 pranchas de desenho. No final, grande parte das diretrizes passa a ser consenso, segundo Lennertz. © amplo proceso inicial de discussdo de como poderia ser a cidade serviv para estimular 0 sentido de comunidade desde o principio. O plano de Seaside seguiu os preceitos do que se chama comunidade planejada, articulando padrées do espaco fisico com sua capacidade de gestéo. Como em Walton County néo existia nenhuma lei de zoneamento, néo houve dificuldades para se instituir 0 cédigo de ordenacéo urbana, como proposto pelo DPZ e consultores. Em outros lugares - 0 DPZ passou pela experiéncia de haver um plano anterior como na cidade de Charleston, Virginia (projeto da Grea Charleston Place). Ali, 0 confronto com o zoneamento existente se- parador das funcées urbanas fez com que a drea de projeto, segundo os parémetros do novo urbanismo, fosse considerada pelas autoridades municipais como um distrito especial (special district). Distrito, entendido como um segmento urbano caracterizado 184 Pasacio AMBHNTE: INSAOS-N.29 = Sko PaLtor-», 169-188 - 2011 Seaside, [cone do Novo Urbanismo por um elemento caracteristico principal, no caso 0 préprio projeto diferenciado por sua forma de conceber 0 espaco urbano e as edificagdes. Nos EUA essa é uma forma de contornar-se a rigidez do zoneamento tradicional e é conhecida como Traditional Neighborhood District Ordinance. Em Seaside isso foi parte do processo de “imple- mentagao” do projeto. Outra opcao feita pela comunidade e o empreendedor Robert Davis, por intermédio do The Seaside Institute, foi que a cidade se mantivesse como “ndo incorporada” (unincorporated community). Isso significa ndo ter um governo préprio @ manter-se como parte de uma divisdo territorial maior, no caso, o Walton County. Nos EUA, dependendo da legislagéo estadual, existem vilarejos, cidades pequenos e mesmo outras de populacéo maior, que ficam no padrao de unincorporated, sendo administradas como parte de um territério maior, evitando, assim, os encargos da constituigéo de um governo local. Existe apenas um conselho de representantes na defesa dos interesses da comunidade, E interessante observar que o Centro de Seaside ainda nao ficou completo, apés 26 anos da inauguracéo da cidade. Isso, apesar de sua facil acessibilidade pela Ro- dovia 30 A. A causa mais provével dessa situagéo é devido ao padréo alto exigido pela comunidade em relagGo as instalacées fisicas dos estabelecimentos da Central Square. © prego dos lotes torna-se cada vez mais elevado em decorréncia do clima de sofisticagdo que envolve o lugar. Seaside foi reconhecida pela revista Time como “best of decade”, foi objeto de reportagens do U. S. News & World Report, Smithsonian, Travel & Leisure, People and The Atlantic (KATZ, 1994). Em 1996 realizou-se, em Seaside, Congresso do Novo Urbanismo. O empreendimento, que comecou da ideia simples de ser um refigio de lazer para a classe média (resort community) evolui para ter a estrutura de uma pequena cidade. Seaside foi projetada como uma cidadezinha. O controle de sua forma urbana serviu para acentuar certo cardter de cendrio decorrente da retomada dos estilos teméticos. Em qualquer lugar, seja pela razGo da arquitetura, seja pelo desenho dos espacos abertos, todo novo coniunto edificado possui aparéncia de cendrio. Vai se modificando até sua ocupagéo mais intensa, quando as pessoas comecam a deixar as marcas de sua presenca. Coincidiu que 0 aspecto de cendrio emanado de Seaside - da pequena parte da cidade entéo terminada — fosse considerado como a locagéo adequada para 1a filmagens da pelicula © show de Truman, do diretor Peter Weir. Como cenério do extraordindrio filme, Seaside ganhou a grande midia. Foi duramente criticada como parte das observacées que 0 filme faz sobre a cultura e a sociedade americanas. Foi criticada por muitos arquitetos e defendida por outros. Aplica-se, af, 0 ditado “falem mal, mas falem de mim”, somado ds inegdveis qualidades de projeto que langou Seaside como marco de referéncia do novo urbanismo nos EUA. Vale lembrar outras cidades novas, como Brasilia, a nova capital do Brasil, que, nos primeiros anos da fundacao, parecia um enorme cendrio. Chandigarh, capital do Punjab, é outro exemplo. Duas novas cidades capitais, cendrios iniciais que divulgaram a manifestagéo maior do ur- banismo moderno: o projeto da cidade por inteiro. Todas elas, hoje, sio simplesmente cidades, denunciando o passar de diferentes pessoas. Pasac AMBIENTE: XSNOS N29 -SkO PaLNO ~P, 169-188-2011 185 Adilson Costa Macedo Seaside foi e tem sido construida com muito rigor nos detalhes. E pequena, contro- lada nos pormenores de sua implantagGo. Foi concebida segundo a estratégia utilizada por Davis de criar um lugar agradével em uma regido que, na época, ainda era pouco procurada pelo turismo regional. Obter uma alta qualidade do espaco construido fez parte da estratégia de Davis como empreendedor. Com certeza, um processo alimen- tado por Duany e Plater-Zyberk. Davis concretizou seu sonho de exceléncia construin- do um lugar Gnico no brago de terra em forma de alca (panhandle) ao noroeste da Florida (DUTTON, 2000). Pode-se concluir do velho aforismo “Deus esté presente nos detalhes” que Seaside, por sua exceléncia e o charme da populacao burguesa, cocupa, hoje, posicéo de referéncia, como qualidade de cidade ou resort. Nao s6 para 08 loteadores da costa do Golfo do México, como para os projetistas de urbanismo em diversos lugares do mundo. Notas (1) Oestudo sobre Seaside ora apresentado serve como releréncia pore entendimento do novo urbanismo. Mo- vvimento organizado por profissionois de diversas éreas por meio do Congresso poro 0 novo Urbanismo (CNU)}, fundado em 1993 nos EUA e que se realza anualmente até hoje. Em artigos anteriores 0 autor ratou do disso ddo novo urbanismo nos EUA e na Europa. No texto presente, procuro-se entender a aplicagéo dos conceitos ‘ossociados a0 plano e & construcdo de Seaside e sua estratégia de implantagéo. Entendimento que poderd ser elemento de interesse para a revisd0 ou criagéo de processos de planejamento urbano em realidades ovtras que «© norte-omericana, inclindo o Bras (2) © texto de William Lennertz tem o titulo Town moking fundamentals. Lennertz & diretor do Notional Chorrete Institute, NCI, cujafinalidade é ojvdar pessoas « aprender a trabolhar com comunidades para que essas desen- volvam sua capacidade de colaboracéo pora criar planos saudéveis. Como arquiteto,é sécio da firma Lennertz Coyle Associates, sedioda em Portland, Oregon, EUA. Seu sécio 6 Steve Coyle. A palavea “implementagio" na lingua portuguesa, 6 um neologismo, usado com relativa frequéncia em textos tcnicos, (3) Os dados quantitativos utiizados séo fornecidos pelo Urban Land Institule ~ Development Cose Studies (UU), instivigéo nacional americana. (4) A aproximagéo de Dovis com Duony 6 apresentada no texto Seaside, Flérdo, no portal Everyhing2, de 27/05/2002, No texto Desenrolando o projeto € comentado, com detalhes, 0 tipo de relagéo intrinseco que deve existr entre cliente e arquiteto (MACEDO, 2002). Torna-se importante solientor que Seoside, com seus 32,4 ha e 2.000 habitantes, em uma classificagéo morfolégice segundo padrées norte-omericanos, seri vill 498, no maximo town. Exislem definigbes para homlet (povoado), village (ila), town (pequena cidade) e city (ci dade média ov grande). A palovro resort se refere a um local de lazer, fora 0 tamanho do aglomerado urbono. A resort-community de Davis, com 0 uso e ocupacée do solo diversficado, tem adminisracéo prépria. Pode ser considerada como umo pequena cidade. Em portugues, estamos referindo-nos a Seaside como pequena cidode ou cidede. (5) (Quanto 8 formulagio da forma de controle do espace constuido de Seaside revniv-se o DPZ, Leon Krier € 0 ‘Opticos (arquitetos Daniel Parolek, Karen Parolek e Stefan Pellegrini), todos preocupades em relomor e rever ciitérios de projeto e controle formal dos estilos cléssicos. Nesso époco, a DPZ produziv « primeira versio do smart code (1982), atvalmente (2008) o cédigo se encontra na oitova verséo. Posteriormente, Leon Krier lancou o livre Architecture choice or faith: Travel size series (1998) e os arquitelos da Opticos (Firma conhecida nos EUA pela elaboragdo de cédigos) langaram o livto Form-based codes, 0 guide for planners, urban designers, muni polities and developers (2008) (6) Urban Design Associates (UDA) & um escritério que tem se responsabilizado por diversos trabalhos no Grea de desenho urbano, seja pora cidades de sub0rbio, sela pora projetos de setores urbanos. Raymond (Ray) L. Gin-

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