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INCOMPETENCIA ABSOLUTA DA JUSTIGA DO TRABALHO PARA JULGAR RECLAMAGOES TRABALHISTAS DE SERVIDORES PUBLICOS CIVIS DA UNIAO ANTES DE 05.10.88 E APOS 11.12.90 — ARTIGO 87 DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL Ursulino Santos Filho”) Bastante atual 6 0 tema que se refere & competéncia da Justiga do Traba- tho para julgar as reclamagées trabathistas de interesse de servidores publicos ci- vis da Unido, tendo em vista as modificagées havidas com a norma do ait. 114 da Carta da Repiiblica, da Lei 8.112, de 11.12.90 e 0 julgamento da ADIn n, 4.921, pe- lo Supremo Tribunal Federal. Julgo oportuna a meditagao mais profunda sobre a matéria e oferego o meu entendimento. A partir da Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, a com- peténcia para julgar dissidios individuais em que fosse parte a Unido, autarquia e empresa publica federal, passou para a Justica Federal, embora fosse indicada, genericamente, a Justiga do Trabalho como competente para conciliar e julgar os litigios entre empregado e empregador, inclusive os coletivos (arts. 125, |e 142 da CF). Daf por que, a Lei 5.638, de 03.12.70, determinar que os processos de dis- sidios individuais em que fossem partes a Unido, autarquias e empresas pilblicas federais, em andamento na Justiga do Trabalho a 30.10.69 deveriam ser remetidos a Justiga Federal, salvo os que jd estivessem com instrugdo iniciada (art. 2°, caput). Com a promulgagao da atual Carta de 05.10.88, tudo levava a crer que a competéncia tivesse voltado para a Justica do Trabalho face & amplitude do art. 114, caput (compete & Justiga do Trabalho conciliar ¢ julgar 0s dissidios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito PUiblico externo e da administragao pilblica direta ¢ indireta dos Municipios, do Dis- trito Federal, dos Estados e da Unido, ¢, na forma da lei, etc.) Quando foi sancionada a Lei 8,112, de 11,12.90, que dispée sobre o regime juridico dos servidores piblicos civis da Unido, o Presidente da Repitblica vetou as letras “‘d' @ “e", do art. 240, porque entendeu que eram inconstitucionais. O veto foi derrubado pelo Congresso Nacional e as alineas foram incorpo- radas ao texto da lei. (*) © autor é Ministro Togado no Tribunal Superior do Trabalho. 104 Todavia, o Supremo Tribunal Federal julgando a ADIn n. 4.921 acolheu o pe- dido da Procuradoria Geral da Repiblica e declarou a inconstitucionalidade das letras ‘“d" e “e" do art. 240 da Lei 8.112, de 11.12,90, que autorizava ao servidor piblico civil o direito & negociagao coletiva e ao ajuizamento de dissidio individual ou coletivamente perante a Justiga do Trabalho. E evidente que o Augusto Supremo nao poderia, como nao fez, declarar a inconstitucionalidade de texto da propria Carta Federal. Somente tratou do dispo- sitivo de lei federal como retromencionado. Entendemos nés que esta decisdo sé se aplica a partir da Lei 8.112, de 11.12.90, com vigéncia a partir da sua publicagao no DOU de 12.12.90, nao atin- gindo as reclamagées que tenham sido ajuizadas no period de 05.10.88 a 11.12.90, cujos fundamentos eram as regras insculpidas no art. 114, combinadas com as do art. 109 da Constituigdo da Republica. O art. 114 ao incluir genericamente os trabalhadores e empregadores abran- gidos os entes de direito publico externo e da administragao publica, direta e indi- reta dos Municipios, do Distrito Federal, dos Estados e da Unido, nao foi atingide por aquele julgamento. Assim, entendo que a Justiga competente para julgar as reclamagées traba- Ihistas propostas contra a Unido Federal, suas autarquias ¢ fundagées piblicas de- ve ser vista sempre levando-se em conta a data de seu ajuizamento (art. 87 do CPC). Vejamos: 142 Hipétese - Reclamagées ajuizadas a partir da Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, até dia 4 de outubro de 1988. A competéncia é da Justiga Federal como reiteradamente tem se pronuncia- do o colendo Supremo Tribunal Federal nos processos indicados a seguir. Nestes julgamentos, a titulo de amostragem, o STF, por ter considerado que as fundagées publicas sdo “espécie do género autarquia’’, declarou competente a Justiga Federal “Competéncia. Causa trabalhista ajuizada na vigéncia da Constituigao de 1967 (EC n. 1/69), perante a Justiga do Trabalho, contra Fundagao Pabli- ca, espécie do género autarquia (FUNABEM). Permanece sujeita & compe- téncia residual da Justiga Federal a ago que ja 0 era, na ordem constitu- cional precedente (art. 125, !), mesmo que, erroneamente, houvesse ingres- sado na Justiga do Trabalho (CF de 1988, art. 114 ¢ ADCT, art. 27, § 10). (STF-CJ 6.816.6-DF ~ Ac. TP, 15.2.89 - Rel. Min. Sydney Sanches). LTr 53-5/562". “Reclamagdo trabalhista proposta contra a FUNAI. Contflito de juris- digdo, negativo, entre a Justiga Trabalhista ¢ a Federal comum. Competén- cia da Justiga Federal, por forga do art. 27, § 10 do Ato das Disposigdes Constitucionais Transitérias de 1988 (STF-CJ 6.882.8-DF — Ac. TP, 7.12.88 ~ Rel. Min. Francisco Rezek). LTr 53-6/669". “Causa trabalhista ajuizada na vigéncia da Constituigao de 1967 (EC n. 1/69), perante a Justiga do Trabalho contra fundagao publica, espécie do género autarquia (Fundagao das Pioneiras Sociais)". 105 Ora, qualquer precedente anterior a data da EC n. 3, 18.03.93, nao pode ser- vir dé apoio para exigir que o tema esteja prequestionado no recurso, porque j& superado pela norma constitucional e legal. Nao creio, data venia, que a nova redagao dada ao artigo 102, retromencio- nado, traga norma vinculativa apenas quando a decisdo proferida seja no sentido da constitucionalidade da lei ou ato normativo, ndo abrangendo aquela que der pe- la inconstitucionalidade do texto. Toda norma constitucional ou legal, segundo os doutos, tem a sua razdo, de ser, 0 que 6 denominado como espirito da lei. Aqui também ocorre. A motivagao que levou o legislador a aprovar esta emenda comentada foi de evitar decisées dispares entre a Suprema Corte e as demais instancias, em sede de tema constitucional, De fato, ndo 6 salutar & Justiga ou ao jurisdicionado que, apés 0 transito em julgado de declarag&o de constitucionalidade ou nao pelo Supremo Tribunal, de lei ou ato normativo seja dado decisao em sentido contrario, por Juiz ou Tribunal hierarquicamente inferior & Corte Constitucional, Assim, entendo que a vinculagéo se prende & decisdo que da tanto pela constitucionalidade como em sentido con- trario, até porque o julgador parte, sempre, da presungao de que a lei é constitu- cional. Finalmente, de acordo com o art. 243, da Lei 8.112, de 11.12.90, ficam sub- metidos ao regime juridico instituido nesta lei, na qualidade de servidores publi- cos dos Poderes da Unido, os servidores da Unido, autarquias, fundagées publi- cas regidos pela Lei 1.711, de 28.10.52 ou pelo Decreto-Lei 5.452, de 19.05.43, Es- tatuto dos Funcionarios Publicos Civis da Unido ¢ Consolidagdo das Leis do Tra- balho, respectivamente. A partir de sua vigéncia todos os funcionérios e empregados dos érgdos dos Poderes da Unido passaram a ser servidores piblicos e como tal subordinados ao “Regime dos Servidores Civis da Unido" que tinham assegurado entre outros di- reitos 0 de “ajuizamento, individual ¢ coletivamente, frente & Justiga do Trabalho, nos termos da Constituigéo” — art. 240, letra “e” da Lei 8.112/90, que o Supremo Tribunal julgou inconstitucional. Digno de nota que 0 art. 114 da Carta Magna Federal d& competéncia pa- taa Justiga do Trabalho para julgar os dissidios individuais e coletivos entre tra- balhadores e empregadores e na forma da lei outras controvérsias decorrentes da relagdo do trabalho. Assim sendo, o servidor piblico - por nao estar inclufdo mais no termo “Tra- balhador"’ do texto constitucional, e a inconstitucionalidade do art. 240, letra “e”, da Lei 8.112/90, declarado pelo Supremo Tribunal, os servidores piblicos perde- ram 0 direito de ajuizamento na Justiga do Trabalho agdes com suas pretensées. Evidente que néo ficaram impedidos de ir a juizo, como assegurado pelo art. 5°, XXV, da Constituigéo Federal, para buscar seus direitos, porque terao 0 abri- go da Justiga Federal como previsto no art. 109, |, da mesma Constituigao. 106

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