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CAPITULO 2 JUVENTUDE, VIOLENCIA E POLITICAS SOCIAIS: DA CRIMINALIZACAO A EFETIVACAO DE DIREITOS HUMANOS ILaNa Lemos DE Paiva ISABEL FERNANDES DE OLIVEIRA “La desigualdad de las rentas y de las fortunas no es solamente un hecho econémico; implica una desiqualdad ante los Posibilidades. ‘de supervivencia, una desigualdad ante la muerte” (Ernest Mandel) A populacao juvenil brasileira tem estado direta ouindiretamente ligada, como aivo cucome Petpetradora, a situagbes de violéncia. Dentreas possiveis anlises, éfato que 0 Estado nao tem atuado de forma eficaz nem na Prevencao nem no enfrentamento a essas situagSes. Dados de diversas pesquisas demanstram que pessoas nessa faixa étaria compdem o grupo mais vuinerdvel da populacdo brasileira (WAISELFISZ, 2004, 2007, 2010, 2011, 2013). Diariamente, assiste-se a barbarie de um verdatieiro extermi- nio de jovens das camadas mais pobres. Quais as possibilidades reais de esses jovens Construirem vivéncias positivas em meio a toda essa Violéncia? Segundo Abramovay e Fefferman (2007), os jovens pauperizados vivem dupla- mente uma situa¢ao de risco, tendo em vista as poucas oportunidades de integragao 20 mundo do trabalho, especialmente devido.a baixa escolaridade, tornando-se mais vulneraveis ao consumo de alcool e outras drogas e a cometerem infragdes, o que coloca suas vidas em risco- Para os jovens da periferia,crescer é uma empreitada que ele deve enfrentar Sozinho, um salto no escuro. A violéncia juvenil pode corresponder, € sob formas variadas, a esforcos de afirmacdo'e de participacso em um mundo contraditéria. Nesse contesto, a: yuinerabilidatle # um aspecto que carac- teriza estes Jovens, (ABRAMOVAY. FEFFERMAN, 2007, 5. 48), SUVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL £ DIREITOS HUMANOS Vale salientar que os indices de desemprego juvenil tém genhado destaque em relacao 4 popula¢ao em geral, O relatério da Organizagio Internacional do Trabalho (OIT) “Tendéncias Mundiais do Emprego Juvenil em 2013 — Uma Geracao em Perigo” demonstra o crescimento dos indices de desemprego de jovens em todo o mundo, Segundo o relatério, apés uma pequena reducdo das taxas de desemprego juvenil, entre 2009 € 2011, No ano de 2012, esses indices voltam a subir, registrando um percentual de 12,4%, embalados pela crise econdmica. A estimativa, segundo.os dados coletados, € que cerca de 73,4 milhdes de jovens estarao desempregados noano corrente. A situ. agdo atual tem feito com que os/as jovens se tornem menos seletivos na busea por um Emprego, aceitando muitos trabalhos instaveis e temporarios, ou mesmo, desistinde de buscd-lo. Os dados apontam, ainda, que os indicadores de desemprego juvenil se apresentam aproximadamente 2,5 vezes maiores que a populago em geral. Outro indice preocupante no tocante 4 vulnerabilidade juvenil refere-se 4 taxa de jovens latinos e caribenhos que ndo estudam nem trabalham, que foi cunhada de geracao “NiNi", atingindo, 6 no ano de 2008, a taxa de 19,8% (SOUZA; PAIVA, 2012). Ao que parece, apesar de alguns avancos socials e econémicos que o Brasil ¢ alguns Paises da América Latina obtiveram nos tiltimos dez anos, a populagio juvenil no 6 atingida e continua a ser vulnerabilizada Alem disso, diante de histéricas desigualdades socials, os Investimentos governa- mentais nao tém sido suficientes para atender as necessidades minimas de garantia de seguranca e dignidade para 2 maioria da populacao brasileira. A falta de espacose recursos comunitarios de cultura e lazer, por exemplo, € um fator de vulnerabilidadee também pode contribuir para o aumento da violéncia juvenil, bem como parao consumo ®envolvimento com tréfico de drogas. A exposicao constante a violéncia ameaca no s6 a sobrevivéncia dos jovens, como prejudica seu bem-estar ¢ perspectivas futuras, deixando sérias cicatrizes fisicas, emocionais ¢ psicolégicas (AERAMOVAY, 2002; COIMBRA; NASCIMENTO, 2005; DAYRELL, 2005). Para mensurar a situa¢ao, foi desenvolvido o indice de Vulnerabilidade Juvenil a Violéncia (WV-V), que se constitui com a soma do nimero de jovens desempregados, 0s que se encontram na condi¢éo de inativos ou na informalidade, aqueles que nio estudam, além de dados relativos 4 violéncia contra jovens (homicidios e acidentes de transito), pobreza ¢ desigualdade. O dltimo estudo realizado, baseado no Censo de 2010, correspondeu ao levantamento feito em 283 localidades do Brasil que possuiam mais de 100 mil habitantes (54,8% da populagdo brasileira). Entre os municipios mais wulneraveis, merecem destaques algumas cidades do Nordeste, coma Maceié, que vem repetindo os piores indices do ranking (registrou IV) de 0,419), e municipios do estado dz Bahia: SimGes Filho (1°), Teixeira de Freitas (9°), Lauro de Freitas (8°), Paulo Afonso (7°) © Porto Seguro (4%), O que se tem, a partir desses dados, é que, embora alguns indices sociais possam tet melhorado a condig40 juvenil no nosso pais, ainda apresentamos graves JUVENT UOE, VIOLENCIA € POLITICAS sOCumeS Cesiqualdades regianaisepiora de indices relativosa mortes de ovens em muitos municipios brasileiros. As politicas de “controle da vi 1éncia”, embasadas no endurecimento. PUNITING, Pao tém consequido melhorar os altos indices de homicidios envolvenda jovens. Como tentativa de resposta a essa problemtica, a incluso dos jovensna agenda pablica vem sofrendo uma série de reconfiguragdes. A partirde 2004, comegam a ocorrer algumasacdes concretas que iniciaram a construcdoda Politica Nacional de Juventude: “Os ovens cada vez mais passam ase inserir nos movimentos socials, que reivindicam ativamente o seu reconhecimento enquanto sujeitos de direitos, definidos por suas necessidades, ndo parsuas incompletudes" (SOUZA; PAIVA; OLIVEIRA, 2013, 9:87). Nesse cendrio, fol aprovada a Proposta de Emenda Constitucional da Juventude (PEC 42/2008), chamada “PEC da Juventude", que estabelece a necessidade de cria- G40 de um Estatuto da Juventude, direcionado a garantia dos direitos dos jovens, edo Plano Nacional de Juventude, que deverd apresentar metas para'os préximos 10 anos no campo das politicas piiblicas juvenis. Com iniciativas que buscam a consolidacdo de uma Politica Nacional direcionada a jovens com idade entre 1§ € 29 anos, que sornam 50 milhGes em todo o pais, ha a expectativa de que teremos medidas no combate A violéncia juvenil. O Plano Juventude Viva, por exemplo, resultado de uma articulacio Interministerial que colocou, pela primeira vez, tema do exterminio dos Jovens negros © Pobres ¢m pauta, € visa a0 desenvolvimento de agdes de prevencdo que possam reduzir a vulnerabilidade dos jovens a situag6es de violéncia fisica e simbélica O presente capitulo objetiva realizar uma reflexdo acerca das iniciativas de enfren- tamento da violéncia na juventude, ressaltando a pobreza/destitui¢Zo como condi¢ao de vulnerabilidade a violéncia, as armas de fogo como principal instrumento da violencia, ©aatual inoperancia do Estado na implementacio de medidas eficazes de prevenc3oe Combate 4 violencia, Como possibilidade de interven¢do no contexte de contradi¢Ges, discute-se a necessidade da participacao ativa dos jovens na luta pela efetividade dos direitos humanos, promovendo aautonomia e emancipacdo. 2.4 JUVENTUDE E CRIMINALIZAGAO: MITOS € VERDADES SOBRE 0 BINGMIO JOVEM-VIOLENCIA Ap6sa sua promulgacdo, 0 Estatuto da Crianca.e do Adolescente vern sofrendo uma campanha constante de descredibilizagao, tendo como principal direcionamientoum aspecto ue est novamente em pauita:a reduczo da maioridade penal. Recorrentemente, voltamas 29foco do endurecimento punitivo para os atos nfracionais cometidos pelos adolescentes, ‘eforgado por um bombardeio midiatico sabre o aumento da viléncia, que faz coro junto JOVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL E DIREITOS HUMANOS ‘campanha leaislativa a favor da reducao da maioridade penal (VALENGA; FREITAS; PAIVA, 2014). O teor dos discursos, tanto das propostas que tramitam no congresso, quanto dos programas televisives policiais, traz, em seu bojo, a ideia construida historicamente de que juventude é naturalmente violenta, especificamente a juventude pobre (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005). E aponta-se, como tinico caminho para superar 0 complexo fend- meno da violéncia urbana, o endurecimento punitivoe o encarceramento de adolescentes. Tem-se, ento, culpabilizado e criminalizado enfaticamente os jovens pobres, ne- gros, residentes dos bairros mais periféricos das grandes cidades, pois esse € 0 perfil dos adolescentes que se encontram no sistema socioeducativo, privades de liberdade ou vitimas de “mortes matadas” (WAISELFISZ, 2013), confiqurando, como dissemos, um verdadeiro exterminio da juventude pauperizada no pais. Para se ter uma ideia desse cenario, basta observar os dados do Mapa da Violéncia; entre os jovens de 152 29 anos, houve um aumento das vitimas de homicidio, passando-se de 4.415 dbitos em 1980, para 22.694 em 2010, um aumento de 414%. Como apontamos em outros estudos, o perfil segue inalterado nos Ultimos anos: jovens homens (93.9%). negros. moradores das periferias urbanas, muito embora ja se apresente o aumento dos indices da interiorizacao da violencia (VALENCA; FREITAS; PAIVA, 2014; SOUZA; PAIVA, 2013). Assim, a partir dos dados que se repetem, sem resolutividade por parte do Estado, no Brasil, a partir dos 15 anos de idade, aumentam consideravelmente as possibilidades de jovens pobres morrerem assassinados por arma de fogo. Além dos dados estarrecedores de homicidios envolvendo ajuventude pauperizada, ‘temos, por outro lado, um sistema de justica juvenil que atua com implacabilidade junto a.um perfil especifico de adolescentes que, no. contexto da pratica do ato infracional, conviviam com uma série de vulnerabilidades, como defasagem escolar, falta de refe- réncias familiares, uso de drogas, pobreza extrema, etc. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTICA, 2012). Dessa forma, fica claro que, em meio a esse debate, o endurecimento Punitivo contra os jovens figura como mais uma forma de violéncia contra esse publico. Como bem nos colocam Coimbra e Nascimento (2005, p. 346): Se no capitalismo liberal os jovens pobres foram recolhidos em espacos fechados para serem disciplinados e normatizados na expectativa de que fossem transformados em cidadaos honestos, trabalhadores exemplares mo, nao sao mais necessirios e bons pais de familia: hoje. no neoliber: ao mercado, sao supérfluos, suas vidas de nada valem, dai o exterminio. Diante desse cenério, a populagdo, em uma reacao imediata ao bombardeio televi- sivo, também passa a exigir penas mais severas e duras para os adolescentes, levandoa crerque o aumento da violéncia urbana est diretamente relacianade 4 “impunidade”, ¢ no a causas estruturais, agravadas pela falha das politicas sociais que deveriam JUVENTUDE, VIOLENCIA E POLITICAS SoceasS: PStenir c enfrentar a questao. Dados do CNI/IBOPE (201) tém apontado, inclusive, SS sseguranca piiblica, depois da sadde (52%), é a maior preocupacao dos brasileiros Se), seauida das dragas (25%) — que, juntas, colocam-se em primeito lugar (62%). #Siestio paradoxal ¢ que outras pesquisas apontam que 62% dos brasileiros acham “Se zseguranca piiblica nao piorou 0u, ainda, que esta melhor nos illtimos trés anos WRAVES, 2013). De fato, no Brasil, a desiqualdade econémica é garantida através de $e fexte aparato de sequranca privada, envolvendo homens armados e diversos dis- ‘Pestivos de protecao da propriedade privada (SINGER, 1998). ‘mesmo paradoxo parece se repetir em relacdo 20 debate sobre a violéncia en- Berendo ovens ea reducio da maioridade penal, com a difusio de mitas sobreo tema. | Sm eaumento das sequelas da “questo social”, a sociedade vivericia 0 medo, que tem See Pistoricamente utlizado como mecanismo para disciplinar e controlaras classes su- fomentando aintoleran ‘cia € © preconceito (FEFFERMAN,, 2013). Passam-seas salea¢0es, ase julgar como perigoso ede "mé-indole" os jovens pobres, especialmente S10 Que Vive nas periferias, trazendo sérias consequéncias para as conquistas EatSrias, como.a onda de "justiceiros’ e o fazer “justica com as préprias mio: Nesse contexto, um importante Ponto de discussao refere-seaomodo de execugao sca criminal, situada numa sociedade de classes, que apresenta priticas baseadas SSttividade da justica e na estigmatizacdo dos sujeitos (PAIVA; CRUZ, 20144). 0 Ses de justica juvenil tem, claramente, colocado os chamados "menores” (ado- Berets pobres negros das periferias) de um lado e os “adolescentes" (das classes : 25) do outro, reforcando a ideia de memorizagio da infancia e periculosidade ide pobre: "A sociedade escolhe um protagonista da violéncia atual, vitima ~ 2 Juventude ~ que entao corporifica 0 estigma de responsavel pelo ‘periga do’ (ABRAMOVAY; FEFFERMAN, 2007, p48). Seaundo Mandel (1978), para se consolidar a dominag3o de uma classe sobre-a Indispensavel que os produtores, ou seja, os membros da classe explorada, -manipulados para que aceitem como inevi tavel, permanente e justo’o fato de maria se apropriar do excedente social. A ideia da naturaliza¢ao da pobreza e Sesioualdade social é reforgada por varios mecanismos produtores de ideologia. = Sautor, como qual concordamos, esse é 0 motivo pelo qual o Estado no cumpre uma func2o repressiva, mas também uma fungao de integracdo ideoldgica: Detodos modos, la funcién de la ideologia dominante es incontestablemente una funclon estabilizadora de la sociedad tal como est, es decir, con la dominacion de clase, El derecho protege y justifica la forma predominante de la propiedad. La familia juega el mismo papel. La religion enseiia a los explotados aaceptar su destino. Las ideas politicasy morales predorninantes intentan justificar el reino de la clase dominante con ayuda de sofismas 0 de medias verdades. (MANDEL, 1978, p. 15) JUVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL EDIREITOS HUMANOS. Logo, nio se pode pensar no aumento da violéncia urbana, assim como no envol- vimento de adolescentes em atos infracionais, a partir de um prisma individual, tendo em vista as desigualdades estruturais, e as consequéncias que marcama nossa forma de sociabilidade nos marcos do sistema capitalista. O projeto neoliberal esta refletido nas respostas penais oferecidas pelasociedade diante de situacdes de desordem e criminalidade, que tém sido essencialmente punitivas e voltadas para as classes subalternas. Tal paradigma legitimou interesses, desvincu- lando o fenémeno da criminalidade dos processos de desigualdade e pauperiza¢ao, agravadas por medidas neoliberais em escala global, concentrando-se nos efeitos nao nas casas do aumento da violéncia ([TURRALDE, 2012). £ preciso lembrar que, enquanto o discurso da periculosidade naturalizada, do endurecimento punitive e da reducao da maioridade penal se fortalecem, aumenta 2 cada dia o ndimero de jovens mortos, vitimas de armas de fogo. Como sao considerados os mataveis, por nao terem fun¢do dentro do sisterna socioecondmico €| perturbarema ordem estabelecida, nao ha indignagao nem pedidos por justica diante das suas mortes, a0 contrario, seu noticiamento, geralmente, vem acompanhado de um comentario do tipo: “mas, ele (o adolescente) era envolvido com drogas”. Outro aspecta importante, que ven reforgando e justificando praticas racistas € classistas, baseadas nos principios ultrapassados do Codigo de Menores, refere-se ao mito da impunidade. Diante dos clamores pelo endurecimento punitivo, fica evidente aprecaria formagao em direitos humanos e o desconhecimento da legisiacaa em vigor. Primeiramente, com base no artigo 193 do ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita come crime ou contraven¢ao penal. Logo, tudo o que € proibido para ‘ouniversoadulto, em termos penais, também 0 para adolescentes. A diferenga estana resposta do Estado em relacao a pritica de um crime e um ato infracional, quando, no Uiltimo caso, aplica-se uma medida socioeducativa, na forma do artigo 12, do Estatuto. Assim, nao ha necessidade em se falar em punigao para o adolescente. Ele ja é responsabilizado, ¢a severidade da medida é estabelecida de acordo com a gravidade do.ato infracional cometido. Vamos entender um pouco melhor essa questao. A partir da Convengao dos Direitos da Crianca;' foi introduzida uma nova visao, em termos de resposta do Estado a pratica de ato infracional, partindo de uma perspectiva que rompeu com 0 modelo anterior de incapacidade do adolescente (FRASSETO, 2007). Avisdo que anteriormente persistia era a de que 0 Estado reservava a esse ado- lescente, quando da pratica de um ato considerado criminoso ou equivalente, alguma + AConvengio due Direltos da Cranes, aprovada na Resolucio 44/25 da Assembleia Geral das Nagoes Unidas, em 20 d= novembra de 198, entende por crianca todo ser humano menor de 18 anos de idade. JUVENTUDE, VIOLENCIA E POLITICAS SOCIAIS medida fora do ambito da responsabilizag3o, muito embors. a institucionalizagao de Jevens considerados “delinquentes" tenha sido a solucao historicamente encontrada pelo Estado para lidar com a problematica (RIZZINI, 2011). Aideia cunhada, a partir da construcao do direito penal, é que, para que qualquer sujeito seja responsabilizado, ele deveria ter condigées de entender 0 carater ilicito daquilo que cometeu e, dealouma forma, conseguir se conduzir conforme esse entendimento. Nao estando incluidas Resa concep¢ao, ent’o, criangas e adolescentes. Assim, antes do advento da Convencao e do Estatuto, os adolescentes estavam sujeitos a um sisterna semelhante acs adultos inimputaveis em razao de deficiéncia ou doenca mental e nao poderiam estar sujeitos 20 mesmo sistema de controle do direito penal classico, que é a aplicacdo de pena em resposta 3 praticade uma conduta delituosa, Esse sistema paralelo ~ que quase equiparava o adolescente ao considerado louco — perdeu espaco, justamente, a partir de uma redetinicao da concep¢aa de adolescéncia, Oadolescente deixa de ser considerado, entao, como alquém absolutamente incapaz de entender 0 carter ilicite do que faz e de se conduzir conforme esse entendimento (FRASSETO, 2007). A partir da ideia de crianga e adolescente como pessoas em condi¢ao peculiar de desenvolvimento — presente nos novos documentos legislativos ~ passamos ater aideia de que o adolescente, diferentemente da crianga, ja é capaz de entender o que faz ¢, Por isso, capaz de ser responsabilizado pelos atos infracionais cometidos. Obviamente que. justamente pelo fato de ele ser considerado pessoa em desenvolvimento, a res- ponsabilizacao torna-se significativamente diferente da reservada aos adultos, mas ‘Nao ha impunidade.* £ pensado, entao, um sistema de responsabilizagao especifico para essa faixa etaria que se difere do sistema penal dos adultos. Em suma, a responsabilizacao do adolescente que comete atos infracionais existe, sendo muitas vezes mais severa do que o necessério, pois'a privacdo de liberdade de- Veria ser pensada apenas em carater de excepcionalidade, para atos graves cometidos. Podemos observar, por exemplo, que os equipamentos de restrigao de liberdade de adolescentes sao muitos semelhantes aos equipamentos de restri¢ao de liberdade dos adultos, constantemente 0 adolescente recebe uma medida de privacao de liberdade sem ter cometido grave ameaga 4 pessoa €, nao raro, passa mais tempo no sistema Socioeducativo do que um adulto no sistema penal, por delito equivalente. A Convencao estabelece que nenhumaz crianga seré respensabilizads por atos jnfracionais cometi- #0 porque, a partir da Convengéo ¢ do Estatisto, cria-se urna presuncie de que até certa idade ndoé Possivel responsabilizar, pols ainda nao ha entendimento sobre os atosilicitos. Aquina Brasiiseectabeleceu ‘8'marco dos 12 anos para a responzabilizacio, coincidindo coma definicio legal desdolescente. Sabemos ‘que, em alguns paises, essé marco é acima de 12 anos, ou seja, aidade de responsabilizaco € bem maior. 48 JUVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL £ DIREITOS HUMANOS. No entanto, diante da fragilidade na execugao das politicas sociais, ainda persistea pergunta: por que nao 0 sistema penal como alternativa ao enfrentamento a violéncia envolvendo a juventude? Ora, justamente pelos aspectos relacionados a fase de de- senvolvimento em que os adolescentes entre 12 e718 anos se encontram, em condigao peculiar. Em que se sustenta essa tese, em termes psicolégicos? Poderiamos nos valer aqui de estudos da Psicologia de diferentes areas, evertentes teoricas, para sustenttar essa tese. No campo da ciéncia comportamental, por exemplo, ressalta-se que a melhor maneira de se desenvol ver comportamentos chamadis “pré- ~sociais", ou de se inverter as “tendéncias” ou praticas infratoras estaem implementar Programas educativos que envolvam os pais e os préprios adolescentes, o que seria inviavel no sistema prisional (CUNHA; ROPELATO; ALVES, 2006). Além disso, diversos pesquisadores brasileiras, nas décadas de 1980 ¢ 1990, demons- traram o fracasso das instituicgdes totais, assim como daquelas voltadas ao cumprimento de medidas socioeducativas. Os principais resultados, nesses estudos, mostraram que ainstituig4o incrementa uma chamada “identidade infratora", propiciao conhecimento da rede criminal, aumenta a estigmatizagao, diminui as possibilidades de inser¢o no mercado detrabalho ena escola, etc. (CUNHA; ROPEL ATO; ALVES, 2006). Isso porque o simples aprisionamento nao possui carater educative e nao é medida capaz de evitar que 0 adolescente pratique outros atos infracionais. Embora a sociedade deseje a puni¢aodaquele que comete infragées, também espera que, ao sair da prisio, ele deixe de cometer tals atas. Se o sistema penal atende 3 primeira necessidade social, nado atende a segunda. O investimento ¢ reestruturacao das instituiges criadas para executar as medidas socioeducativas do ECA poderao ser um caminho mais eficiente para. as duas demandas sotiais. No entanto, para que haja qualquer possibi de vida para os adolescentes envolvidos em atos infracionais, ¢ preciso desmistificara ideia de periculosidade da juventude pobre. Analisando os Gitimos nlimeros estatisticos da pratica de ato infracional no Brasil, ide de construgao de novos ptojetos verificamos que frente.ao universe de 25 milhdes de brasileiras entre 12 €18 anos iden- tificados pelo IBGE no anode 2004, somente 0,2%, pauco mais de 39 mil adolescentes estavam no sistema socioeducativo, Além disso, dados apontam que menos de 1% dos crimes de latrocinio ¢ homicidio é cometido por adolescentes. Dados da Organizacao das Nacdes Unidas apontam que, num universo de $7 pal- ses, em apenas 17% a idade minima pata puni¢do se situa no limite inferior aos 18 anos (NOGUEIRA NETO, 2007, p. 41): Alguma coisa esses numeros ensinam, apesar das manipulagdes em torno deles que a grande midia promove, falseanco os dados (confundindo-os com a idade minima para'a privagao de liberdade, coisa diversa). Ajudam, JUVENTUDE, VIOLENCIA E POLITICAS SOCIAIS porexemplo, na compreensde de que no tem muito amparo internacional as posi¢des daqueles que — de lege ferenda — postulam a redu¢ao da idade penal para 16 anos, no Brasil, Mais ainda, permitem entender que as incer- tezas ligadas ao tema enfraquecem os inconformados com a definicao do legistador que estabeleceu na Constituigao (art. 228), no Codigo Penal (art. 27) eno Estatute multicitade (art. 104) 0518 anos coma limite da imputagao. Enfim, apesar dos avancos obsetvados, a realidade dos adolescentes que cumprem “adidas sotioeducativas continua marcada pela auséncia de politicas eficazes ¢ pela _ Ssividade, afetando direitos arduamente conquistados. O debate sobre a reducao da “Gese penal nao se apoia sendono resgate dessas praticas, com vistas alimpeza sociale _ Secontrole dos mais pobres (FREITAS; VALENGA; PAIVA, 2014). Nao da para entender oda tedu¢io da maioridade penal deslocado dessa questo. Em tempos das consequéncias do desmantelamento do Estado, promovido por “SeSites neoliberais, o campo das politics publicas juvenis apresenta enormes desa~ Giante da desiqualdade estrutural que term promovido uma crescente politica de alizacio. SOCIAIS JUVENIS E ENFRENTAMENTO DA VIOLENCIA: £5 E POSSIBILIDADES __Embora Seja possivel falar da politica social sob diferentes vertentes, assumimos nao € possivel adjetivar o termo sem discutir o substantivo. Dal concebemos 2 segundo a perspectiva defendida por Abranches (1985) de que “politica” écon~ de interesses; de classes; de poder. Politica social, portanto, é conflito na aloca¢ao as € na distribuicSo de valores. Como conflito e luta entre interesses opostos, Sea social é cenario de escolhas tragicas segundo uma determinada perspectiva Stiga ¢ de igualdade (SANTOS, 1987). “emamoto ¢ Oliveira (2010) apontam que as politicas sociais tém sido estudadas jas estatais para a resolucao de problemas sociais particularizados. Contudo, == n2 politica social nos marcos do modo de produgao capitalista requer a discussao ‘Questdo de fundo que nos remete a problernatizacao da “questo social”. “Wetto (2007) define "questao social” como 0 conjunto de problemas sociais ¢ ss postos pela emergéncia da sociedade capitalista. Em suma, ¢ a represen- ‘vida cotidiana da contradigao capital-trabalho. Sendo assim, € uma condigao do desenvolvimento do modo de producao e, como tal, nao cessa até que ismo se extinga. “BP questio social” se manifesta de diferentes formas. No campo social, fenémenos .da pobreza sao 05 mais conhecidos, tais como marginalidade, trabalho infantil, 42 JUVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL E DIREITOS HUMANOS desemprego, entre outros. Quando tais fenémenos passam 2 ameacar a reprodugdo 2 sociedade capitalista, atingindo os padrdes de desenvolvimento da sociedade bur- Sussa:entra'o Estado como suporte a manutencdo dos niveis de reproducao do capital. Portanto; a politica social ern si é campo de contradicdes, Ela existe para minimizar as Sequelas da "questo social", ou seja, ela se converte em concessées e financiamento oul incentivo por parte do Estado para a melhoria das condigdes de vida da populacao trabalhadora oui fora do mercado de trabalho. Satide, educacao, habitagao, assistén— Gia social sao algumas delas. Por outro lado, sendo a polltica social uma estratégia do capitalismo para que o mesmo possa se desenvolver, ela nao visaa eliminacao de um sistema societério que tem na exploracio do trabalho ena desigualdade no acesso a riqueza material sua base de sustentacao. Mesmo considerando seu carter contraditorio, é fato que'o desenvolvimento de alguns setores da politica social configurou um avanco significative na garantia de direitos a parcelas da sociedade que anteriormente nao conseguia acess4-los. Eo caso Gas criancas € jovens. Tratemos disso mais proximamente. © ano de 2004 pode ser considerado um marco no qué se diz respeito as agdes efetivas voltadas para o publico jovem, iniciando-se um processo participativo entre Severno € movimentos sociais sobre os rumos de uma nova politica. Alguns destaques importantes nesse periodo sio a realizagao da Conferéncia Nacional de Juventude: a crlagao do Grupo Interministerial igado a Secretaria Geral da Presidéncia da Repiiblica (SGPR); a realizacao do Projeta Juventude, do Instituto Cidadania: 0 encaminhamen- to de Projeto de Lei (PL) propondo a criagao do Estatuto de Dircitos da Juventude, recentemente aprovada no Senado (Lei n, 12.852/2013); o encaminhamento de PL versando sobre o Plano Nacianal de Juventude (PL n. 4.530/2004). Grupo Interministerial, criado em 2004, mapeou a existéncia de 45 programas executados por 18 Ministérios ou Secretarias de Estado, dos quais 19 sao especificos Para 0 pblico joven do grupo etario de 15 a 24 anos. Em 200s, & criada a Secretaria Nacional de juventude (SN}) com objetivo de formular e coordenar politicas para aju- ventude. Além disso, é criado o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), 6rgao de Articulagao entre o governo ea sociedade civil, consultivo e Propositivo; eo Programa Nacional de Inclusdo de Jovens (Projovem), voltado para jovens entre 1824 anos que estavam fora da escolae do mercado de trabalho. Esse novo desenho institucional busca colocar em pratica a proposta de uma nova agenda que leva em conta; a especificidade © pluralidade da condi¢ao juvenil; a criagao de espacos para'a participagao ¢ influéncia direta dos jovens; © a associagio de aspectos de protecdo com os de promocao de oportunidades e desenvolvimento. ‘Todas essas iniciativas tém como objetivo retirar os jovens das diversas situagdes de vulnerabilidade. Partindo da constatacao de que as condigées de vulnerabilidade, como aquelas descritas no inicio desse Capitulo, sdo parte importante dos determinan- JUVENTUDE, VIOLENCIA £ POLITICAS sOCEaES tesa violéncia a que estao submetidos os jovens (como vitimas ou. perpetradores), as Politicas para a juventude tém direcionado seu foco para as acdes que minimizem tais SendigSes. Trabalho eemprego, educacao (formal eparao trabalho), saide eassisténca Secial sao os principais campos de investimento para esse publico. ‘Considerando a relagao entre a pobreza juvenil, a consequente vulnerabilidade ea molencia como desdobramento desse quadro, a assisténcia social, comidestaque para ‘@Sistema Unico de Assisténcia Social (SUAS), em articulacZo com a SN) © CONJUVE woltam-se, essencialmente, para o combate a pobreza, entendendo-a como uma das Seauclas da“ questo social” que maisimpacta nas condigées de vida dos jovens. Sendo sim, todas essas instancias preveem programas e projetos dirigides aos jovense, em ‘Se pese seus limites ¢ objetivos, sdo importantes estratégias de protagonismo dessa Populacda. Programas como o Estagao Juventude, 0 Plano de Prevencio 4 Violéncia Sentra a Juventude Negra, 0 Juventude Viva, o Observatério Participativo da Juventude, = Programa Juventude Rural (todos esses sob responsabilidade da SNI) € 0 Prolovem, =m suas diferentes modalidades (0 adolescente sob responsabilidad do SUAS), s30 gumas das principals iniciativas desses érgaos em defesa dos direitos dos jovens. ‘Embora possamos afirmar que existe um avanco importante por parte de Estado Pistitucionalizacao de politicas para ajuventude, é necessario afirmar que osjovens ‘@eacessam tais politicas sao uma parte pequena do contingente total desse publicoe Sem sempre aquela em maior situacao de vulnerabilidade, Nao é exagero afirmar que ‘tos jovens “acessam” o Estado pela primeira vez por meio das medidas punitivas, Sea¢a0 em que a vulnerabilidade ja fez suas vitimas, Mesmo entre aqueles que nao ‘shegam por essa via, os servicos acessados ainda sio extremamente pontuais, frag- Tentados € ndo interferem nas condicdes estruturais que geram a pobreza (sendo Sad0s como estratégia capitalista, nem poderiam), Assim, por mais que as politicas $212 juventude caminhem numa dire¢da emancipatoria, elas nao sero mais do que Sicativas de cunho progressista, jamais revolucionarias 23 CONSIDERACGES FINAIS: JUVENTUDE E DIREITOS HUMANOS: Sabemos que a luta pela efetivacao dos direitos humanos tem se dado de modo Seiadoem relacioa populacao em geral, que reproduzem aimagem de “defensores de Sandidos", e nao se identificam com o conjunto das suas reinvindicagSes. Evidentemente, ‘© precario entendimento do campo dos direitos humanos no esta dissociado da nossa $eemagao histérica brasileira nem de um contexto global de emergéncia de um nove tipo :éstado, penal e policial, em detrimento do Estado providéncia (WACQUANT, 1996). Como vimos, 0 Estado penal tem disparado um processo de criminalizacao da ‘@istria, € a juventude tem sido protagonista nesse cendrlo, A desiqualdade econémi- 2 g2rante privilégios em todas as esferas da vida social, inclusive no acesso 3 justics, 52 JUVENTUDE, MARGINALIDADE SOCIAL E DIREITOS HUMANOS: refletindo-se na punic3o apenas dos mais pobres. A mao repressiva do Estado tem se valido de dois importantes mecanismos: a transforma¢ao dos servicos sociais em instrumentos de controle e vigilancia, ¢ 0 encarceramento massivo. Enquanto isso, as ideias de reabilitacdo vao enfraquecendo eas de repressao. ganham apoio generalizado (SINGER, 1998). Paraonde caminham os defensores de direitos humanos nesse contexto? Marx (2010/1843) j apontava que existe uma contradicao fundamental entre ‘0s chamados “direitos do homem’ ea realidade da sociedade capitalista. Isso por que 0 projeto liberal de sociedade defende de maneira abstrata tais direitos, ao mesmo tempo em que defende a posse exclusiva ea alienabilidade universal. Como bem nos coloca Meszaros (2008, p. 207): Os direitos humanos de liberdade, fraternidade e igualdade sao, portanto, problematicos, dé acordo com Marx, no por si préprios, mas em fungao do contexto em que se originam, enquanto postulados ideals abstratos ¢ itrealizaveis contrapostos 4 realidade desconcertante da sociedade de individuos egoistas — sociedade regida pelas forcas desumanas da compe- tigdo afttagdnica e do ganho implacavel aliados a concentragao de riqueza € poder em um numero cada vez menor de maos. Assim, segundo Meszaros (2008), com o qual concordamos, nao ha uma oposi¢a0 aprioristica entre 0 marxismo e os direitos humanos, pois ha, ern Marx, a defesa do desenvolvimento livre das individualidades, que sd seria possivel em uma sociedade de individuos associados e nao antagonicamente opostos. Nesse sentido, os defensores dos direitos humanos deveriam, no limite, atuar em direcao de um outro projeto de sociedade, em que haja aplicacdo de um padrao igual para a totalidade dos individuos. No entanto, "enquanto estamos onde estamos e enquanto 0 livre desenvolvimento das individuali- dades estiver tao distante como esta” (MESZAROS, 2008, p. 217), cabe-nos atuar na construcdo de uma cultura de direitos humanos, assim como na Sua garantia e defesa. Devemos lembrar, ainda, que 0 atual Plano Nacional de Direitos Humanos—PNDH3 — consolida 2 afirmacao da indivisibilidade da interdependéncia entre os direitos civis, politicos, sociais, culturais e ambientais. Dessa forma, as politicas publicas devemn ser articuladas intersetorialmente, para que as condi¢des minimas de vida digna sejam garantidas. Com relacao 2 juventude, as iniciativas do Estado e sociedade civil ora centram-se no combate a violencia, ora na prepara¢ao para o mercado de trabalho, com todos os limites relacionados 2 baixa escolaridade e 4 falta de oportunidades. Além disso, diante de indices de vulnerabilidade que crescem, cabe perguntar, as ages voltadas para esse piblico tém sido efetivas, conseguem de fato dialogar com os jovens? IUVENTUDE, VIOLENCIA E POLITICAS soctAIS. Para avancarmos no campo das politicas pliblicas juvenis ena garantia de diréitos humanos, é preciso de fato conhecer a juventude, ivrando-se de concepcées estere- otipadas e preconceituosas ¢ identificando areas estratégicas que contribuam paraa Sonstrugao de redes de vida para os jovens, que os retirem das redes de morte que 95 estao capturando cotidianamente, E isso sé é possivel coma sua Participagdo ativa, através de acdes emancipatirias que considerem os ovens como sujeitos da sua historia REFERENCIAS ABRAMOVAY, M. Juventude, violencia e vulnerabilidade social na América latina: desafios Para politicas publicas. Brasilia: UNESCO, BID, 2002. i FEFFERMAN, M, Se ficar o bicho come, se corer o bicho pega: juventude e sacie~ assumem a dura realidade da exclusao social ou da inclus4o marginal. Revista Sociologia, Ciencia e Vida, Sao Paulo, v.1, n. 2, p..46-55, 2007. ABRANCHES, S. H. Os despossuidos: ‘crescimento e pabreza no Pais do Milagre. 2. ed. Rio de Janeiro: jorge Zahar, 1985, BRASIL. Secretaria Nacional de Juventude. Politicas Publicas de Juventude. Brasilia, 2013. Disponivel em:

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