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ESICOTERAPIA_PSICANALITICA preload bend Roe RRP em ARLE ote Corte SoCo fel ee OR ble Eee edgar Re ecto te Cosel Aral arom ee reme moat ae @ sempre presente fragilida- CCUM Ate ells ezes disponibilidade, em viver CCM ela CMRe te Cletel MM re me Ad te ATOM ESCM (Ca Este trabalho € precioso por fornecer algumas diregdes bdsicas quelas pessoas - Ser Maem Kor a Re experiéncia das mais dificeis, Pxlae OCR Lele a Ae CV icelelame Mae R Tis eRalt] A CRIANCA ADOTIVA NA Be ere eee era pio tackaueact F resi Seer tape cieer ene ete Gina Khafif Levinzon A CRIANGA ADOTIVA NA PSIGOTERAPIA PSICANALITICA © escuta Copyright © by Editora Escuta para a edigio em lingua portuguesa 3 edigao em setembro de 2009 EDITORES Manvel ‘losta Berlinck Maria Cristina Rios Magalhies CAPA Kdiara Rios, com exirato de “Ponte sobre o Sena”, de Chagall PRODUCAQ, Avaide Sanches Dados Internacionais de Ca «c lagagdo na Publicagds (CIP) ra do Livro, SP, Brasil! ara Bra Levinzom, Gina Khali A crianga adotiva na psicoterapia psicanalitica / Gina Khafif Levinzon, ~ Sao Paulo : Editora Escuta, 3. ed. Bibliografia 1, Adagio — Aspectos psicaligicos 2. Celangas adotadas Psicologia 3 Ps se 4. Psicd —Pratien 5. Separagio (Psicologia) 6. Transferencia (Psicologia) I. Titulo. ISBN-85 7187 LEX, Gots CDD-E8.928017 NLMW: dices para eatilogo siscematico dotivas + Psicotorapi psicanalitica + Medicina 618.928017 Faditora Fscuta Titda. Rua Dr, Homem de Mello, 446 5007-001 Sao Paulo, SP ‘Telefax: (O81) 3865.8950 / 3675-1190 / 3862-8315 email: escuta@uol.com.br www.editoreescuta,com.br Traduzir-se Uma paste de mim é todo mundo; outa parte é ninguéin: finda sem fimdo, Uina pinte de mim 6 multidio: outa parte estranheza ¢ solictio. Unis parte de min pesa, pondeva: oudeat pane: delira. Hina pate de maim amon € june outra paste Uma parte de min 6 permanente: outa prurte se sabe dle repente Uina parte de mim 6 80 vertig outra paste, linguagem. Traciuar wuna parte mi cutra parte - gue & wna questo de vidli 011 morte. seni arie? Ferreira Gullar A Ricardo ¢ Alexandre, meus filhos A Marcelo, meu mearido com mutto amor... SUMARIO Apresentagio, por Ryad Symon 11 Prefacio 15 L. O UNIVERSO DA CRIANGA ADOTIVA 17 A adogio 18 Os pais adoiantes 24 A crianga adotiva 38 A investigagio da dinamica psiquica da crianga adotiva 39 A crianca adotiva sob o referencial da teoria psicanalitica 41 Consideragdes sobre os casos clinicos ¢ a comunicagio em psicandlise 46 2, A CRIANGA ADOTIVA NO PROCESSO DE PSICOTERAPIA PSICANALITICA 51 As vicissitudes da transferéncia 51 Em busca de si mesmo através da relagio com o analista 73 O falso se/fe a crianga adotiva 73 Comportamento anti-social ¢ adogao 86 Momentos de reconstrugio 97 A angustia de separagio 115 A inibigdo da curiosidade 140 Os pais adotivos 149 Os efeitos no analista 153 3, A CONFIGURAGAO AFETIVA DA CRIANGA ADOTIVA L161 Algumas precaucdes necessirias 161 O mundo psiquico da crianga adotiva 162 A prevengao de disttirbios afetivos 171 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 173 AAPRESENTACAO Finalmente o trabalho de Gina com criangas adotivas chega @ forma de livro. Nunca se sabe quando um trabalho desses comega. Desde os meandros do nascimento como inspiragdo inconsciente que vai abrindo caminho até a consciéneia, tudo é mistério. E claro que o acaso é um parceiro evitivel nessas gestagdes imprevisiveis. Uma ou outra crianga dotiva surge no consultério e, quando se da conta, tem-se varias. O material vai se impondo, e sibito impele o sujeito nexoravelmente numa diregao irresistivel. Coineidéncia? Dressdo inescrutavel do destino? Conheci Gina assistindo 4s minhas aulas de pés- graduagéo na USP. Uma aluna interessada, participativa, dedicada. Depois procurou-me para ingressar num pequeno grupo de supervisio de psicoterapia. Fui assistindo sua evolugdo gradualmente. Ja tenho acompanhado centenas de supervisionandas. Gina se destacava pela mtuigdo, perspicacia, criatividade, Conseguia combinar bem teoria e desempenho pratico, As vezes antecipava minhas proprias interpretacdes no grupo de supervisio. Ficava impressionado com seu talento. Certo dia pediu-me para ser seu orientador no dou- torado. Aquiesci de bom grado e passamos a trabalhar per- severantemente os atendimentos de criangas adotivas em atendimento psicanalitico. Nessas caminhadas conjuntas muitas oe 7 12 A CRIANGA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSICANALITICA coisas aprendi. Algumas descobertas instigantes gostaria de comentar, Algo que pude verificar no material clinico e que me surpreendeu em todos os atendimentos foi a provavel ocor- réncia do que chamamos de “ferida narcisica”. Isto 6, a mar ca indelével da rejeigdéo do filho pela mae natural, pela recu- sa de télo consigo apés o nascimento. A recusa da materni- dade, quaisquer que sejam os motivos da mae natural, é vivi- da pelo filho como um reptidio do merecimento do amor, e ensombrece lodos os seus relacionamentos humanos, De que modo a crianga sabe ser adotiva — ainda que ninguém o te- nha mencionado ~ um mistério indecifravel. Alegar que se trata de comunicagao inconsciente, nada esclarece. E tentar explicar © desconhecido substituindo-o por uma palavra. A pessoa sube que foi repelida ¢ esse “conhecimento” persegue- a pela vida afora. Talvez essa ferida narcisica determine outra caracteristica da crianga adoliva: a debilidade do vinculo amoroso. Essa peculiaridade s¢ manifesta invariavelmente nos periodos de separacdo prolongada. Apesar de um paulatino e cuidadoso s, contendo hos- wabalho psicolerapico, aparando are tilidades, dando compreensao ao sofrimento psiquico, wansmitindo um genuino interesse pelo paciente; tudo isso dando lugar a uma relagie mais amorosa, bastava um periade de separacao longo — férias, por exemplo — para provocar uma regressiio calastrofica, A descanfianga e édio do psicoterapeuta traidor — a reedigao da rejeigio da maternidade — se imiscuia na transferéncia, pondo a perder um Arduo trabalho que precisava ser reiniciado para recompor a sempre precaria confianga. Em tais condigdes de inseguranga perpétua, como consolidar uma identidade? O que pode subsistir per- manentemente se a base de sustentagéo da identidade ~ o amor da mae - [oi retirado desde 0 inicio? Assim, muitas veves, o trabalho inicial da psicoterapia psicanalitica consistia em, cautelosamente, desmontar uma ficlicia iden- 13 ra, aos poucos, ir consiruindo uma petsonalidade nile Vace as particularidades da crianga adotiva, Gina teve de ‘ontur com nfo poucas perplexidades. Pude acom- . pelo relato das sesses durante as supervisées, algumas livas que Gina tomava e que também me deixavam », ainda que em outro sentido. Basta um sé exemplo. 1 sessao com um pré-adolescente agressivo e imprevisivel, 1 period de hostilidade € negalivismo, enquanto 0 pa- nts permanecia calado e incomunicavel, ¢ quando as pretagdes mio o demoviam da obstinagdo silenciosa, apés ) tempo a terapeuta toma ume almofada e a atira na ie do paciente. (Ao ouvir esse relato, eu, acostumado 4 lina do psicanalista que deve aguardar passivamente a ativa do paciente, e, quando muito, permite-se a Gnica alidade de intervir com a interpretacio, sentime angustiado, inas contive meu impeto de fazer uma admoestagao de ordem Wwcnica). O paciente, surpreendide com a almofada lancada 1 sua diregio sai do imobilismo ¢ responde devolvendo o jeto, Quebrase o impasse e se restabelece o didlogo, O (o era uma interpretagdv. $6 que do tipo nao-verbal, isto uma forma de comunicagio instaatinea que s6 a intnigdo sane pe fie pe Ny de eriar. Essa era a Gina que eu apreciava e que me surpreendia, Algumas vezes, ouvindo Gina apresentar seus relatos, eeoavam longinquos em minha memdéria as palavras proféticas ce Karl Abraham dirigindo-se a Melanie Klei 1 andlise de criangas”. “O futuro esta Ryad Simon Prof, Tiular do Depto Psicologia Clinica USP. Psicanalista, Membro Efetivo da SBPSP i PREFACIO. Meu interesse pelo universo do adotivo tem sua origem hw periodo em que eu ainda tinha pouca experiéneia clinica ei Toi encaminhada, para ludoterapia, uma primeira crianga iva. Foi um trabalho intenso, muitas vezes dificil, ¢ que ine oebilizou muito em fung&io da grande ambivaléncia de imentos que a paciente apresentava, Representou minha Jo no campo da adogao, alé entao distante na minha . Esse atendimento durou anos, e me ensinou muito. Tive a oportunidade de atender em seguida outras ngas adotivas e poder me enfronhar novamente em ques- toes que jé me eram familiares. Pui percebendo que havia uma constelagio de vivéncias, sentimentos e emocGes no trabalho nn estas criangas que se destacava, em certos aspectos, da- ¢ realizado com as outras criangas ¢ adultos da minha cli- ica de modo geral. Com o passar dos anos fui procurada por um nimero maior de familias adotivas. Ao procurar substratos tedricos que pudessem enriquecer meu trabalho, descobri que havia poucos estudos sobre este tema, principalmente no que se referia a psicoterapia psicanalitica de criangas adotivas. Senti a necessidade de poder compartilhar com outros minhas experiéncias e contribuir para a abertura de horizontes amplos na anélise de criangas adotivas. 1 + 16° A CRIANGA ADOTIVA NA PSTCOTERAPIA PSICANALITICA O wabalho que sera apresentado a seguir é fruto de observagées clinicas realizadas no decorrer de anos de pratica psicanalitica e representa a concretizagio de um projeto que foi nascendo dentro da sala de atendimento, a partir do contato com as criangas. Este livro baseiase na tese de doutorado que apresentei ao Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo, para obtengio do titulo de Doutor em Psicologia Clinica. Os relatos clinicos descritos neste trabalho foram transformados a ponto de evitar a identificagio das pessoas atendidas, Procurei dar apenas as informagées indispensiveis para o entendimento da dindmica psiquica das criangas ¢ de suas familias, com. 0 intuito de preservar o sigilo profissional. O livro destina-se a psicélogos ¢ profissionais afins e se refere mais especificumente 4 crianga adotiva alendida em psicoterapia psicanalitica. O UNIVERSO DA CRIANCA ADOTIVA iixaminando a literatura a respeito da questao da aclogio, ou do estudo de criangas adotivas, pude observar a «z de trabalhos publicados nesta area, principalmente no que se refere & pesquisa cientifica brasileira. Como afirma Wieder (1977a}, & surpreendente que os estudos psicanaliticos ielerentes 4 adogdo sejam tao esparsos na literatura. No enilanto, tenho notado na minha experiéncia profissional uma iflucneia freqtiente de criangas adotivas encaminhadas paca pricodiagnéstico e psicoterapia, sem que a questdo da adogao necessariamente o problema emergente que leva os pais a procurarem ajuda. Freqtientemente as queixas iniciais zidas como elementos motivadores para um trabalho psicoterapico so dificuldades de aprendizagem, problemas no cionamento interpessoal e até comportamentos anti-sociais eomo furtos ou dificuldade de controle da agressividade. O abalho com estas criangas mostrou-me que ha algumas ca- acteristicas semelhantes e especificas, que esto ligadas A sua condigio de adotivas, e que podem ser detectadas tanto na vealizagéo do psicodiagnéstico quanto na posterior psi- cotcrapia, Observei que ha varias questées a serem res- pondidas e dificuldades no atendimento clinico destas criangas « suas familias que merecem um estudo mais aprofundado. A seguir examinarei o universo da crianga adotiva segundo a visio de alguns autores e minhas préprias observacées. 7 _ e + ‘ 7 I 4 18 A CRIANGA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSICANALITICA A ADOCAO Smith e Miroff (1987), num guia para pais {Youre our Child: The Adoption Experience}, definem adogio como uma invengio social que permite o estabelecimento de relagdes do tipo pais-filhos entre pessoas que nfo estdo ligadas bio- logicamente. Para esses autores, a adogiio, se bem conduzida, proporciona 4 crianga imagens parentais com quem pode se identificar. A crianga, recebendo todos os ingredientes necessarios para o desenvolvimento da personalidade, pode crescer normalmente. O amor e a aceitagio dos pais adotivos formariio a base para a estabilidade ¢ produtividade na sua vida. futura. A crianga pode ser adotada pouco depois do nascimento, ou muitos anos apés, e isto parece ter bastante ressonancia no desenvolvimento de sua personalidade e no estabele- cimento de suas relagdes objetais. De modo geral, recomenda- se que se adote uma crianga o mais nova possivel, de modo a tentar evitar maiores problemas no seu desenvolvimento. A meu ver, o intervalo de tempo e as experiéncias vi- vidas entre 0 momento da separagio da mie natural € 0 acolhimento da crianga pela familia adotiva podem ser fatores mareantes no desenvolvimento da personalidade da crianga. Muitas vezes a crianea passa por varias pessoas intermediirias ou é internada em institnigdes até ser adotada, o que contribui para © aparecimento de intensas sensagdes de desamparo ¢ inseguranga, Na maioria das vezes a adogéo refere-se ao vinculo entre uma crianga que foi abandonada por seus pais naturais e um casal que nao péde ter filhos biolégicos, por apresentar problemas de esterilidade. Este vinculo pretende que a crianga tenha o papel de filho, e este casal o papel de pais dessa crianga. O tema da adogio pode ainda ser descrito como constituido pelo encontro entre um casal que tentou e nio conseguiu conceber um filho (ruptura vincular biolégica com © UNIVERSO DA CRIANGA ADOTIVA 19 descendéncia) e com o filho de um casal que 0 concebeu e 400 criou (ruptura vincular biolégica com a ascendéncia} (chejtman, 1990). Para este autor, a adogio determina a cdo de um espaco vincular fundante de um encontro que tine desencontros biologicos, auséncia de vinculos de onsangiinidade e contetidos relacionados com abandono do ado e com o filho nao concebido do casal esiéril. Estes esencontros qualificariam histobiograficamente a dinamica vineular do encontro. Pode-se dizer que a adogio envolve situagdes muito dolorosas para a crianga e para os pais. Brinich (1980) alirma que a adogio de uma crianga é, em termos humanos, sempre um evento doloroso e potencialmente traumatico, Na nossa cultura, a adogio aconte importante falhou: um ou os dois pais morreram, ou nao (inham condigées de cuidar do filho que conceberam. Do lado «los pais adotivos, a deciséo de adotar uma crianga lreqtientemente se segue a anos de fracassos nas suas tentativas de conceber a sua propria crianga. Estes fracassos podem estar huseados em unomalias fisiolégicas ou conflitos psicolégicos, © os pais tém que consideréos para optar pelo caminho da logdo. A adogdo foi descrita por alguns autores (Peder, 1974; MacDonnell, 1981) como um trauma que marca a vida da familia que adota e da erianga, considerando o rela- ‘ionamento familiar e sua inser¢Zo no macrocosmo social. Segunde este ponto de vista as vicissitudes do tiangulo adotivo fazem com que as dores da adogao sejam mais fortes ly que “as do trabalho de parto”, Penso, no entanto, que seria mais apropriado falar em trauma quando nos referimos aos motives que determinam a adogio: 0 abandono da crianga pelos progenitores, devido sua impossibilidade de manté- la, eo drama de um casal que nao consegue gerar um filho. > apenas quando alguma coisa A adogao em si € uma solucéio que proporciona a ambos os ludos possibilidades de superar essas dificuldades ¢ encontrar siluagées de vida mais satisfatérias. = ear os 20 A CRIANGA ADOTIVA NA ESICOTERAPIA PSICANALITICA Observam-se os mais variados tipos de atitudes e julgamentos em relagao a criangas e pais adotivos. Como alinma Piccini e Marqués de Sa (1984): Bem sabemos que 0 adotado nao deixa indiferentes as pessoas: algumas o sentirao dotado de certo fascinio pelo seu misterioso pasado; outras o julgario merecedor de amparo suspeitando antigas desprotegdes; outras, mais preconceituosas, © julgarao inevitavelmente marcado por caracteristicas negativas... Quanto aos adotantes, eles também terdo, as vezes, de suportar chavées do tipo “a verdadeira mae é sé quem botou no mundo”, chavao este que se tem incontestavel confirmagio no plano bioldgico, nem sempre o tera dentro de uma viséo mais ampla que inclua fatores educativos, psicologicos, afetivos ¢ interpessoais. (p. 2} Nos Estados Unidos, uma série de guias para pais adotivos procuram responder a questdes e ditvidas comumente levantadas pelos pais. (Smith e Miroff, 1987; Melina, 1986; Schaffer e Lindstrom, 1989; Arms, 1996). Na Argentina, encontramos alguns como os de Ferreyra (1988) e Kweller (1991). Estes trabalhos se referem a adogio como uma experiéncia gratificante, para pais e filhos, mas ressaltam a necessidade de os pais adotivos poderem considerar que exisiem diferengas significativas entre uma familia adotiva e uma familia biolégica. Para Melina (1986), a principal di- ferenga @ que a crianga tem outro casal de pais, 0 que nao é tipico na nossa cultura, e as vezes € dificil ela entender isso. Em geral, as criangas crescem considerando que a maioria das criangas moram com os pais que as conceberam, e, os pais, por sua vez, também cresceram imaginando que viveriam com criangas “nascidas deles”. A maioria das pessoas, tanto ferteis quanto inférteis, nio inclui em suas representagées e fantasias de familia o tema adogado. Assim, a familia adotiva se vé exercendo um papel inesperado. Considerar as diferencas entre a familia adotiva e a bioldgica, inchtindo as “dores” envolvidas, permite que os pais possam estar mais sensiveis aos sentimentos de suas criangus, mais abertos as suas questdes © UNIVERSO DA CRIANGA ADOTIVA 21 e, ronsegiientemente, mais aptos para perceber suas fire essidades. Surge aqui uma questao polémica: teria a crianga adlaliva, por sua condigéo, maior tendéncia a apresentar mas psicolégicos ou de inadaptagaio social, escolar ou ‘, comparada a criangas nao adotivas? As opinides clas na literatura psicanalitica sio divergentes, como «ia seguir, Segundo Nickman (1985), a literatura em psiquiatria, preandlise © trabalho social nos tltimos 40 anos atesta que hi dilerengas entre a experiéncia de vida de pessoas adotivas « a cle oulras pessoas, e que estas diferengas freqlientemente sr imanifestam sob alguma forma de psicopatologia. Este autor acicdila que os adotados sio mais vulneraveis, embora a Mteratura atual sobre adogdo seja confusa: alguns trabalhos izam a patologia na familia, outros o trauma inerente 4 , enquanto outros ainda falam de pressées sociais sobre jias adotivas, A vulnerabilidade das pessoas adotivas a blemas emocionais é também apontada por Wieder }, que cita pesquisas que revelam uma incidéncia de 15 ¢ cento de adotados na populacio psiquiatrica, o que os dois por cento de incidéncia apontados pelo censo Brinich (1980) acredita que a adogdo provoca danos especilicos ao desenvolvimento da crianga, 0 que pode ser sumprovado pelo fato de que as criangas adotivas sao nhadas para tratamento psicolégico duas a cinco vezes raca isis do que as nio adotivas, em paises diversos como a Inglaterra, Israel, Polonia, Suécia e Estados Unidos. Além «disso, parece haver uma tendéncia consistente na sinto- ogia das criangas adotivas que sio encaminhadas para umento. Na grande maioria dos estudos, os sintomas apresentados se referem a comportamentos impulsivos, provocatives, agressivos ¢ anti-sociais. Brinich acrescenta que nao ha unanimidade na associagdo entre adogio e de- nenvolvimento psicopatologico e que, apesar de todas as = | 22 A CRIANCA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSICANALITICA dificuldades, a adogao € de grande valor fisico, social e psicolégico, para todas as partes incluidas, A adocao, neste sentido, @ uma solugao social dtima para a crianga indesejada, Uma visio bem pessimista dos resultados da adogao é apresentada por Feder (1974), para quem “a adocgdo é sempre um problema”, Este autor aponta manifestacdes sintornaticas comuns no adotado: impulsos e distirbios de carater e afirma. que “os adotados representam uma parte significativa da populagao das clinicas psiquiatricas, reformatarios, pe- nitencidrias, hospitais psiquiatricos € pessoas que tentam o suicidio” (p. 493), Aqui novamente me parece que o “problema” nao é a adogao, mas a separagdo entre pais & filhos, numa época precoce da vida destes, e a impossibilidade de alguns casais de se realizarem no plano normal biolégico. Creio que as feridas narcisicas decorrentes desies inforttmios & que sio responsaveis pelos disttirbios observados. Garma et al. (1985b} citam observagées que mostram um jncremento na atividade sexual e agressiva em criancas adotivas, miliiplas colocagées da crianga em ambientes distintos e descobrimento do status de adotive tardiamente na infancia. Estas observagSes concordam com Sorosky et al. (1975) que concluiram a partir de suas pesquisas que os adolados sio mais vulneraveis a conilitos de identidade na adolescéncia ¢ idade adulta do que a populagéo em geral. Uma outra corrente de pesquisa do universo da crianga adotiva nao enconira diferengas significativas na freqiiéncia de patologias encontradas. Stein e Hoopes (1985) estudaram um grupo de adotados comparando-o com outro de nao adotados, e ndo encontraram diferengas significativas nos escores de identidade. Da mesma maneira, Smith ¢ Miroff (1987) alertam os pesquisadores quanto a generalizagdes sobre os adotados provindos de uma populagao clinica. Para Diniz (1993), a crianga recebe de seus*pais, tas como o resultado de separagdes precoces, adotivos ou nao, cuidados, protegio e afeto. A relagio se organiza a partir da fungio parental e nessa interagéo tém peso as atitudes O UNIVERSO DA CRIANGA ADOTIVA ag e fan izs profundas dos pais, sobretudo da mae, nos ftiueinos anos. Entretanto, isto nao é especifico da adogio e " irmar de maneira genérica em todos os casos. Assim, ar adotivos vive a adogio, nos seus varios aspectos, forma perturbada, a relagao com o filho podera ajnescalar turbuléncias, o que pode suceder com quaisquer taiios pais que n&o sejam adotivos. Assim, os filhos adotivos 10 problemas se os pais adotivos no os tiverem, ou, “os maus pais adotivos seriam também, provavelmente, is naturais”, ic de ua abil, Creio que uma questio importante a ser enfatizada, é nin attibuir todos os problemas observados numa crianga a » da adogao. A situagio de adogia fica como pano de tindo sobre o qual ha intrincadas relagées pessoais e familiares aur, ds vezes, delterminam patologia. E mais preciso afirmar fantasias relativas 4 adocio se entrelagam com os xos meandros do psiquismo. Ajuriaguerra (5/d) afirma que a maioria dos autores que panharam longitudinalmente a evolucio intelectual de 1s adotivas, concordam que se desenvolvem nor- malmente @ que esta depende, na verdade, da atitude dos pais ivos, das solicitagdes culturais ¢ do clima familiar no qual a crimga cresceu, O seu desenvolvimento psicossocial ¢ afetivo nde de multiplos fatores, entre os quais se destacam, subretudo, a atitude dos pais adotivos - quase sempre per- leccionistas ¢ ansiosos quanto ao seu futuro — e também a siltiagae da crianga em si, enquanto adotada. Nao me parece ~ considerando os resultados de pescpiisas ri (odo o mundo — que baja confirmagées conclusivas quanto ® maior incidéncia de problemas psiquiatricos na populagio tlox udotados. Do mesmo modo, igualar adogdo a patologia representa uma concluséo grosseira e precipitada. Importa sher em que condigées se deu a adocSo, e os recursos in- teinos que a crianga e sua familia apresentam para lidar com a vicissitudes de todo este processo e com as frustragdes e de- nencontcos de modo geral. Minha experiéncia clinica sugere spe dey 24 A CRIANGA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSICANALITICA, que ha uma tendéncia para determinadas caracteristicas comuns de personalidade nos adotados, como mostrarei mais adiante neste livro, mas isto ndo representa necessariamente desequilibrio mental. Os PAIS ADOTANTES A adogio tem como finalidade responder as necessidades da crianga e dos pais, permitindo que ela encontre uma nova familia, um ambiente afetivo satisfatério ¢ ao mesmo tempo formativo. A adogio, por sua vez, representa uma pos- sibilidade para pais que nao podem ter filhos e que desta maneira tém a possibilidade de exercer este papel. Como nos informa Ajuriaguerra (s/d), na maioria das vezes tratase de casais estéreis e sua motivagao pode ser, em numerosos casos, 0 equivalente ao desejo normal de ter filhos. Esta demonstrado, entretanto, que as vezes a esterilidade ¢ de origem funcional e pode entdo cessar com a adogio. Neste caso, a esterilidade pode corresponder ao fato de a mulher buscar, inconscientemente, relagées sexuais fora dos dias onde lem o sentimento de estar fértil. Depois de ter realizado a adogio, esta precaugiio nao seria mais respeitada. Entretanto, mesmo se considerando que esta esterilidade funcional corresponda ao desejo inconsciente de nao ter filhos, nao foi demonstrado nesses casos que a adogao nao possa evoluir, mais tarde, de modo favoravel. Muilas vezes a verificagdo de uma esterilidade sem remédio provoca uma ferida narcisica que nao é facil de ultrapassar, e que é acompanhada de alteragdes do sentimento de identidade, exigindo a renincia definitiva de um projeto pessoal de vida e, portanto, uma modificagio do Ideal do Ego (Diniz, 1993). Além disso, 0 individuo pode ficar privado de uma importante defesa utilizada na sua luta contra a morte e o filho, no fundo, nunca deixa de representar, 4 medida que promove a continuagio de um nome, uma casa, uma familia... O UNIVERSO DA CRIANCA ADOTIVA 25 sinbém por vezes a adogio responde a procura de uma tring como substituta de um filho morto. Nesse caso, a crian- iva pode ser, para os pais, um simbolo da existéncia arecido ¢ sua relagéo com eles scra inconscientemente fvetil, Mas mesmo nestes casos pesquisas demonstram que a alocan pode evoluir com sucesso, segundo Ajuriaguerra. rinich (1980) ressalta que o fato de a mae adotiva ter um bebé”, mas nao ter “tido um bebé”, tem im- 's implicagées na representagdo mental de si mesma e ile sia crianga adotiva. O autor acredita que estas repre- sealices estarao refletidas nas relagdes enire a mae e a crianga adetiva, Por exemplo, enquanto a mae biologica pensa na friangu como “parte dela mesma”, a made adotiva sabe que a ttianga era “parte” de alguma outra pessoa. E normal a mae hiologiea “catexizar” a sua crianga com uma grande carga de libido narcisica, mas isto representa um grande problema para a imac adotiva, pois a crianga adotiva faz lembrar a sua ‘itilidade. Segundo Brinich, esie problema de catexia é encontrado as vezes na inabilidade da mae adotiva em aceitar w. expresses mais instintivas da crianga adotiva (sujeira, ‘iuiosidade sexual, agressio dirigida aos pais adotivos etc.). A inc adotiva pode ver esses comportamentos instintivos » reflexos do “mau sangue” da crianga. Nessas situacées, representagdes internas da mie adotiva em relagdo a sua “it podem consistir em duas partes desconectadas: uma accilavel e a outra inaceitavel. Esta divisto na mie vai baal ptovavelmente influenciar o desenvolvimento da crianga. Este 1 nota que uma porgio significativa dos pais adotantes tem tontlitos psicolégicos sobre sexualidade, reproducio e pa alguns pais adotivos sentem como se tivessem “roubado” a trianiga, fantasia esta que parece estar relacionada com conflitos rdipicos nao resolvidos. Alguns pais adotivos tém medo de » seus filhos os deixem para ficar com outras pessoas. Em Inngio disso, tém dificuldades em permitir a suas criancas as experiéncias normais de separagao, caracteristicas de cada fase. nidade, e comenta que muitos autores notaram que a — 26 A ORIANGA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA ANALITICA Também Wieder (1978) se refere ao medo comum de pais adotivos — as vezes muitos anos depois da adogao — de perder sua crianga. E como se eles sentissem continuamente que a sua relagio corre perigo. A fantasia de perder os filhos pode se refletir no comportamento da mae adotiva, que pode ter medo de dar limites 4 crianga. Ela pode hesitar em disciplindla e correr o risco de ser odiada. Estes medos es- tariam associados a sentimentos inconscientes de culpa, fantasias de roubo ¢ medo de retaliag&o: (1) a crianga seria retirada da mae por té1a roubado; (2) a crianca a odiaria abandonaria para precurar seus pais biologicos que seriam “inerentemente preferidos”. Pode-se notar que as referéncias a “fantasias de roubo” dos pais adotantes so citadas por varios autores (Wieder, 1978; Gana et al., 1985a; MacDonell, 1981; Grinberg, 1982). Para Giberti (1992), 0 “roubo da crianga”, como fantasia subjacente nos pais adotanies, adquire matizes distintos segundo o funcionamento do complexo de Edipo de cada um. Tanto a fantasia como a vivéncia de roubo se expressam através de seu oposto: 6 temor a conduta relaliativa dos pais biolégicos que poderiam exigir a devolugdo da crianga e podeziam aparecer a qualquer momento. Este temor corresponde ao mundo fantasmatico dos pais adotivos e também se apoia em alguns fatos reais — casos de mées biolégicas “arrependidas” que querem seus filhos de volia, Na minha experiéncia clinica com pais adotivos, depareime fregiientemente com fantasias deste tipo, o que pode ser bem exemplificado pelo relato de uma mie adotiva, contando que durante o primeira ano de vida da filha tinha muito medo de sair com ela para passear, imaginando que “alguém” poderia vir reivindicala, Outra mae adotiva, ao me contar o quanio sua filha era “especial, linda, amorosa, querida”, chorava copiusamente ao se referir A mae biolégica, como se tivesse usurpado desta a possibilidade de ter essa importante vivéneia com a menina. Wieder (1978) fala de outras fantasias comuns de maes adotivas: “... o lago de sangue é@ geralmente visto ou fantasiado OI EOC O TNIVERSG DA CRIANGA ADOTIVA 27 come tendo uma forga que determina a preferéncia de amor inca pela mae biolégica, via uma ligacio em relagio a rl, ¢ motivara a sua procura se ambas sfio separadas” (p. 804). Neste caso, a mae bioldgica fica sendo considerada a mae + j8 que se refere 4 “mde de sangue”. Este tipo de fantasia : vezes enfatizado quando nfo ha quaisquer semelhancas Inga com os pais adotivos. “Nas familias de sangue, a magio da mutualidade biolégica é reforgada diariamente. ulias adotivas n&o tém esta experiéncia. Pelo contrario, sao Iembradas o tempo todo da auséncia de mutualidade Inwloxica” (p. 805). Penso que esta questo remonta, em tiltima neia, a questées narcisicas: “reencontrar-se” no filho, ongar sua existéncia biolégica através dele. A este respeito, live 2 oportunidade de atender em psicodiagnéstico uma que adotou duas criangas. A primeira era loira, com as azuis, com uma beleza que orgulhava a familia, A segunda crianga, adotada recém-nascida, revelou-se bem escura pele, muito diferente da irma ¢ da familia adotante, e isto provocaya sentimentos ambivalentes, carregados de intensas wensagdes de culpa por parte dos pais, com conseqtiéncias importantes na maneira como educavam os filhos. 0s pais amavam a segunda crianga, mas no seu intimo havia um lunento pela diferenga de cor de pele, que denotava ‘lursunente a nfo filiagéio biolégica existente entre eles, Senliam-se culpados por estes sentimentos e em fungio disso fim extremamente permissivos na educagdo desta crianca, que se ressentia da falta de limites. As vezes os pais adotantes desenvolvem defesas, produ- indo “fantasias compensatérias”. Freqiientemente afirmam: “Nos somos a familia natural”, mostrando seus desejos de ne- gor a adogdo e se imaginar com lacos de sangue. Pode tam- hen: haver uma hostilidade velada em relagio 4 mie que deu « filho, ou uma exagerada desvalorizagfo da importancia da biologica, como se ela pudesse ser totalmente esquecida. Em entrevistas de orientacdo com pais adotantes, vbservei a expressdo de criticas velacas, acompanhadas de : 28 A CRIANGA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSIGANALITICA muila raiva, em relagao a mae biologica, que teria su- postamente “maltratado” a crianga, nfo se alimentando ade- quadamenie duranie a gestagio, ou que teria tentado se livrar dela fazendo abortos etc. Nestes momentos, parece que existe um grande sentimento de revolta e magoa por alguém que teria infligido 4 crianga que amam tanto sofrimento. Levanta-se aqui uma questio: que influéncia teriam esses sentimentos dos pais naquilo que & transmitido a crianga? Sabemos que a conliguragio psiquica de uma crianga faz parte de um todo maior que inclui sua relagéo com as figuras pa- rentais, Garma (1985a, 1985b) afirma que na relagio de objeto entre os pais adolantes e a crianga adotiva, esta tltima adquire uma conotagio de fetiche para o psiquismo dos pais, quase come um monumento recordatério da castragéo e da imortalidade negada. Para a mie adotiva, a impossibilidade de procriago é sentida inconscientemente como a morte do filho, como a submissio 4 imago de uma mae que castra, que a impede de ter filhos, a nao ser que os “roube”. Garma assinala que 0 pivd da problemitica da adogio passa pelo pivd de um luto patolégico pela esterilidade e suas vicissitudes. Alguns estudos tém sido publicados abordando o tema da esterilidade, ¢ entre eles Faure e Pragier (1987) mostram como a esterilidade feminina pode estar relacionada a fatores psicogénicos que envolvem diversas fantasias incestuosas, destrutivas ¢ edipicas, e que podem estar ligadas a toda uma cadeia psicossomatica. A este respeito, MacDonell (1981) afirma que, quando apenas um integrante do casal é estéril, pode surgir ne outro, fértil, um 6dio pelo cdnjuge e pela crianga, sobrevindo como defesa uma formagao reativa, com superprotegao, falta de limites com conseqiiéncias danosas para a crianga. Segundo Tulha (1984a}, a incapacidade de gerar filhos atinge muito violentamente a pessoa e o casal que a enfrenta. Representa um ataque 4 auto-imagem, uma afronta narcisica que os levam a reviver de maneira muito intensa a angistia ~~ © UNIVERSO DA CRIANCA ADOTIVA 29 da castragio, configurando uma situag’o de crise dos cénjuges « individuos e como casal. A autora ressalta (1984b) a necessidade dos pais poderem identificar suas angustias vas a essa questao, de modo a abrir espago em sua mente yuva poder observar melhor seu filho ¢ poder exercer a juncipal fungio parental, que é a funcio “continente”. Steck (1991) resume as dificuldades que os pais adotivos lem encontrar: «ntimento de privagao devido ao fato de no poderem pro- . Pouca experiéncia com outras situagdes familiares que pos- im servir de modelo. . Inexisténcia da gravidez que serve de preparacao emocio- nal e de apoio de amigos e familiares com relagio ao seu Iuturo papel de pais. ‘slado de dependéncia face ds determinagées legais. adotivos sao, geralmente, mais velhos e viveram mui- + Pai los anos sem criangas. - © periodo de espera cria sentimentos de incerteza e de in- suranga. « Incxisténcia de ceriménia tradicional ou religiosa que dis- tingue a chegada de um novo membro da familia, = Os pais ea familia do casal adotivo, assim como a comuni- cle, nem sempre dio o apoio necessario e podem se mos- bar pouco compreensives e, as vezes, cruéis nessa situagao. . :\ revelagao da adogio a crianca é dificil para a maioria dos pais adotivos. » As circunsténcias de um nascimento ilegitimo da crianga pode representar um conilito para as atiludes morais, assim eomo para a educagao da sexualidade e da reprodugado que os pais darao 4 crianga. - As lembrangas dos pais biolégicos por parte da crianga sfio sentidas como ameagadoras para os pais adotivos (pp. 132- 3). As instituigdes encarregadas dos processos de adogio nnitas vezes entrevistam os pais dispostos a adotar, procwan- 30 A CRIANCA ADOTIVA NA PSICOTERAPIA PSICANALITICA do determinar se estes tém realmente condi¢des para isto, ou se a procura por uma crianga tem 0 objetivo de ser uma “val- vula de escape” para. conflitos neuréticos (substituigao por um filho morto; desejo de adotar deficientes como corresponden- do a tentativas de reparagéio maniaca; fantasias salvacionistas ou messidnicas eic.). Muitas vezes, entretanto, a adogao nao é realizada através de instituigées, o que permite que ela nao se dé em condigdes adequadas para os pais e para a crianga. Na verdade, cles freqilentemente estio despreparados para ter uma crianga, 4 medida que nao tém que esperar nove meses, periodo que dura uma gestagdo normal, e que normalmente prepara os pais para a sua nova condicio. Steinhauer (1992) enumera as qualidades geralmente procuradas nos provaveis pais adotivos pelas instituigées responsiveis por adogées: 1) Boa satide fisica. Ajustamento emocional e social sélido. Maturidade emocional. Uma relag&o conjugal estavel. Sentimentos positives com relagio a criangas. Auséncia de angtstia continua com relagio A sua propria incapacidade de ter filhos. 7) Motivagao apropriada para a adogdo. 8) Reconhecimento genuino de que nenhuma previsio pode ser feita sobre quanto e como uma crianga mudara. 9) Capacidade de aceitar uma crianga como ela é, mesmo que ela nao melhore, 2 39 10) Capacidade de permanecer comprometido com uma crian- ¢a que nao parece estar se beneficiando do seu cuidado. 11) Capacidade de buscar e aceitar ajuda externa quando sur gir necessidade. 12) Reconhecimento honesto do fato de que somente pela graga de Deus eles poderiam estar aos pés dos pais bielégicos ou do adotado. 13) Certeza de que encararam todas as areas de sua propria vulnerabilidade sexual. (p. 365) © ENIVERSO DA CRIANGA ADOTIVA 31 Obviamnente, Lemos claro que todas estas caracteristicas diftedn le sero encontradas em um mesmo casal. (O item # esclarecido pelo autor). . visio mais otimista deste quadro nos € apontada (h e Miroff (1987) que afirmam que, para pais que i resolver seus sentimentos de inadequacao bioldgica, te podem falar sobre adogio Wangtiilamente, que amam e aeriGun a sua crianga, independentemente da maneira como ela ve lornou parte da familia, estas fantasias tem pouca ou nia conseqiléncia. intendo que a possibilidade dos pais adotivos exa- liinwem seus senlimentos fanlasias em relago a adocao ¢ ‘pel do seu filho na sua familia, promove uma pro- jmbuilidade maior de boa adaptagéo mitua. Falar a respeito e alos com a crianga permite que os problemas possam sri Galados com maior tranqitilidade, Como veremos mais le, as siluagSes em que a adogao e as angtstias ligadas tornam um assunto tabu sio geradoras por exceléncia le dlistiirbios emocionais e adaptativos. an Um dos aspectos mais dificeis para os pais adotivos é quando contar 4 crianga que ela é adotiva. Aqui também w. opinides so controvertidas Schechter (1964) acredila que a descoberta da adogao deve ser cuidadosamente adequada 4 prontidao da crianga jura receber a “revelagdo”. Wieder (1977b, 1978) observou clinicamente diferengas bratais nas criangas depois da ilescoberta da adogio que atribui 4 imaturidade da crianga que nao lem condigées de apreender o que representa a adogdo » pode ficar confusa. Sugere que a descoberta nos primeiros anos de vida pode atrapalhar o desenvolvimento do ego, com eleilos traumaticos e deteriorantes que vao influenciar o senvolvimento da crianga, suas relagdes de objeto, fungées jnitivas e a sua vida de fantasia. Wieder recomenda que se conte a realidade da sua origem durante ou depois do periodo laténcia, de modo a nfo criar dificuldades na elaboragao tas questées edipicas.

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