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898 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 7? VARA CIVEL DA COMARCA DE ARACAJU/SE 9) RAL LO 94K CULE Ref.: Processo n° 200610700407 We V JONAS LINO DE MOURA E MARIA RAIMUNDA SANTOS MOURA, por seu advogado abaixo assinado, constituido na forma do instrumento de mandato anexo, nos autos da ACAO DE INDENIZAGAO proposta contra TRANSPORTADORA JOLIVAN LTDA., processo acima epigrafado, tomando ciéncia da sentenga de fis. 296/297 e n@o concordando com os termos da mesma, vem, tempestivamente, perante V. Exa. Apresentar RECURSO DE APELACAO, mediante as razées anexas, pedindo que, preenchidas as formalidades de estilo, sejam os autos encaminhados para apreciagao pelo Colegiado “ad quem”, justificando o néo recolhimento_de_preparo em virtude do Autor ser beneficiério da justia gratuita, ‘conforme despacho de fis.'45, para seu regular processamento e julgamento. Nestes termos, Pede e espera deferimento. Aracaju/SE, 7 de janeiro de 2009. Advogado ~ OAB/SE 3495 599 CONTRA: RAZOES DA RECORRIDO RECORRENTE: JONAS LINO DE MOURA E MARIA RAIMUNDA SANTOS MOURA RECORRIDO: TRANSPORTADORA JOLIVAN LTDA. PROCESSO N° 200610700407 Honrados Julgadores, A demanda que deu origem a este recurso de apelagdo tem por objetivo vir o Apelante reparado do dano decorrente de ato ilicito cometido pelo Apelado, qual seja, ter provocado um acidente automobilistico levando a ébito 0 filho dos Apelantes em 06/10/2002 Devidamente citada, a Apelada argumentou ocorréncia de prescrigéo. Em replica a Apelante esclareceu a inocorréncia da prescrigéo tendo em vista que o fato gerador do presente pedido estava sob investigagao policial, que sé transitou em julgado em 17/06/2003, data em que tem inicio a contagem do prazo prescricional segundo discorre os termos do artigo 200 do cédigo civil brasileiro. Ocore que 0 decisério monocrético entendeu por extinguir 0 feito com resolugéo do mérito acolhendo a prescri¢ao, por entender que a regra do artigo 200 do novo cédigo ndo se aplica ao caso dos autos pela razao simples de que a responsabilidade criminal é distinta da responsabilidade civil Argumentou ainda, que afora 0 entendimento acima, considerou que a ago fora ajuizada téo somente em face da pessoa juridica, entendendo que por razées de equidade,fere o censo de Justiga fazer com que act, 2 pessoa juridica tenha que reparar o deslinde definitivo da responsabilidade a ser apurada no Juizo Criminal, mesmo porque no tipo especifico de crime noticiado os autos, no hd possibilidade de responsabilizacao criminal da pessoa juridica, de modo que era perfeitamente possivel aos autores buscar a responsabilizagao civil da empresa que independe da responsabilizagao criminal do suposto autor do fato criminoso. Data maxima venia, a decisao ora hostilizada merece ser reformada na sua integralidade, para que seja anulada a deciséo monocrética e consequentemente seja devolvido ao juizo monocratico para que o feito seja instruido finalizando com o julgamento procedente dos pedidos formulados na exoridal. E de se repudiar de logo o argumento trazido pelo magistrado a quo objetivando inutiizar ou desprezar os termos do artigo 200 do Codigo Civil brasileiro. E LOGICO E ESTA NOS PRIMORDIOS DO DIREITO QUE A RESPONSABILIZAGAO CIVEL E DISTINTA DA RESPONSABILIZACAO CRIMINAL. Tal constatagéo ndo pode ser porta de entrada para se rasgar 0 Codigo Civil Brasileiro. Se previsdo legal ha, ndo € com criag&o juridica que o mesmo deve ser desprezado. A celeuma travada sobre 2 prescrigao neste feito nao passa sob a andlise ou subjetividade do fato para reconhecimento ou nao de culpa na esfera criminal. Nesta, 0 alvedrio de apurar eventual responsabilidade relacionada a culpa para condenacdo penal é do Ministério Publico através do promotor que atua na Vara criminal onde iniciou o inquérito criminal. Tal entendimento nao gera “stimula vinculante” nem restringe o fato de particulares pleitearem seus direitos na esfera civel, demonstrando e provando o direito que tem relacionado a indenizacao pleiteada. & 00 O que interessa neste momento é uma analise do artigo 200 do cédigo Civil Brasileiro, in verbis: Art. 200 — Quando a ago se originar de fato que deva ser apurado no juizo criminal, nao correré @ prescrigao antes da respectiva sentenca definitiva. Nobres Julgadores, 0 artigo é claro e permite fazer uma interpretagéo gramatical: Se o artigo traz dispositive asseverando que ndo correré prescrigdo antes da sentenca definitiva quando a ago se originar de fato que deva ser apurado no juizo criminal, por interpretacdo légica, se 0 fato em exame envolve morte por acidente, légico que tal fato gera apuragéo no juizo criminal, portanto sé comegara a correr o prazo prescricional quando 0 juizo criminal exara sentenca definitiva. A sentenga definitiva foi exarada em 17/06/2003. O prazo prescricional de trés anos se encerrou, portanto em 17/06/2006. Como a ago foi proposta em 13/06/2006 e distribuido no mesmo dia, n&o ocorreu a prescrigdo, estando regular o direito da Apelante vir a Justica pleitear “Justica’. Nao ha, Exceléncias, que se falar em prescricdo. Em processo semelhante, em face da mesma apelada @ no mesmo evento, que tramita na Comarca de Itaporanga (processo n° 200671020688) 0 juizo monocrético foi bastante feliz 20 proferir deciséo nado acolhendo a preliminar de prescrig&o, in verbis: Q 304 “A ag&o indenizatoria em desfavor da Transportadora Jolivan Ltda. foi ajuizada em 13 de junho de 2006, conforme recebido exarado as fis. 02. Se a questo esta sendo discutida na esfera criminal, mas ndo chegou a ser ajuizada ‘a competente ago penal, o termo a quo da prescrigaéo da ago indenizatéria 6 a data do arquivamento do inquérito policial, a saber 17 de junho de 2003. Portanto, considerando 0 prazo prescricional de 3 (trés) anos, apenas em 17 de junho de 2006 a possibilidade do ajuizamento da ago expirar-se-ia.” De forma contundente e conclusiva, Nobres Julgadores, 0 mesmo magistrado transcreveu acérdéo do Superior Tribunal de Justiga que encerra scussées, in verbis: ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. POLICIAL MILITAR MORTO EM SERVICO. AGAO DE INDENIZACAO. PRESCRICAO. TERMO INICIAL. 1. A coisa julgada na insténcia penal constitui o termo inicial da contagem do prazo de prescrigéo da ago de indenizagéo em face do Estado. 2. Precedentes da Corte: AERESP n° 302.165/MS, Primeira Segéio, Rel. Min. Pecanha Martins, DJ 10/06/2002; AGA 441.273/RJ, 29 T., Rel. Min. Joao Otavio de Noronha, DJ 19/04/2004; REsp 254.167/PI, 2° T., Rel. Min. Eliana Galmon, DJ 1/02/2002; REsp 442.286/RS, 2° T., Rel. Min. Gy 5 Franciulli Netto, DJ 04/08/2003; AGREsp 347.918/MA, 1°T., Rel. Min. Francisco Falcéo, DJ 21/10/2002. 3. A regra nesses casos 6 a de que 0 termo a quo seja Oo transito em julgado da sentenga condenatoria penal, porquanto a reparagéo do dano ex delicto é conseqdente. Enquanto pende a incerteza quento & condenagéo, néo se pode aduzir & prescrigéo, posto instituto vinculado a inagéo, inocorrente quando em curso inquérito policial militar para apurar responsabilidade de militar pela morte de outro colega de corporacao. 4. Aliés, 6 precedente da Corte que "se 0 ato ou fato danoso esté sendo apurado na esfera criminal, com ilicito, em nome da seguranga juridica aconselha-se a finalizagéo, para sé entéo ter partida o prazo prescricional, pelo principio da actio nata." (Resp 254. 167/PI). 5. In casu, versa hipétese em que @ questao estava sendo discutida na esfera criminal, mas no chegou a ser ajuizada a competente acao penal, motivo pelo qual © termo a quo da prescricao da a¢éo indenizatoria é a data do arquivamento do inquérito policial militar.” (grifo nosso) Melhor sorte nao tem a sentenciante ao argumentar a no aplicagao do artigo 200 motivado pela impossibilidade de responsabilizacao criminal da pessoa juridica. Ora, Nobres Julgadores, analisando 0 artigo 200, percebe-se que o mesmo nao faz restrigbes nem ponderagées. Ele € direito e claro, no havendo necessidade de responsabilizaco criminal da pessoa juridica. E nesse sentido que segue duas decisées do Superior Tribunal de Justiga em feitos movidos em face de pessoa juridica de direito piiblico: & RECURSO ESPECIAL - ALINEA "A" - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - ACAO INDENIZATORIA - PRESCRIGAO - TERMO INICIAL - TRANSITO EM JULGADO DA SENTENCA CRIMINAL - ART. 1° DO DLN. 20.910/32. © prazo prescricional da agao de indenizagao proposta contra pessoa juridica de direito publico é de cinco anos (art. 1° do Decreto n. 20.910/32). O termo inicial do quinqUénio, na hipétese de ajuizamento de agdo penal, sera o transito em julgado da sentenga nesta agdo, e nao a data do evento danoso, ja que seu resultado podera interferir na reparagao civil do dano, caso constatada a inexisténcia do fato ou a negativa de sua autoria Recurso conhecido e provido. (RESP n° 351867 SP; Relator Min Francisco Peganha Martins, T2, DJ 13/02/2006, p. 721) PROCESSUAL CIVIL. VIOLACAO DO ART. 535 DO CPC.INOCORRENCIA. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISAO ILEGAL. AGAO DE INDENIZAGAO. PRESCRIGAO. TERMO INICIAL. & 304 RECURSO ESPECIAL - ALINEA "A" RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - ACAO INDENIZATORIA - PRESCRIGAO - TERMO INICIAL - TRANSITO EM JULGADO DA SENTENCA CRIMINAL - ART. 1° DO DLN. 20.910/32 © prazo prescricional da agdo de indenizagao proposta contra pessoa juridica de direito piiblico é de cinco anos (art. 1° do Decreto n. 20.910/32). O termo inicial do quinqlénio, na hipdtese de ajuizamento de agao penal, serd o trénsito em julgado da sentenga nesta acdo, e ndo a data do evento danoso, ja que seu resultado poderd interferir na reparagao civil do dano, caso constatada a inexisténcia do fato ou a negativa de sua autoria Recurso conhecido e provido, (RESP n° 351867 SP; Relator Min Francisco Peganha Martins, T2, DJ 13/02/2006, p. 721) PROCESSUAL CIVIL. VIOLACAO DO ART. 535 DO CPC.INOCORRENCIA. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISAO ILEGAL. AGAO DE INDENIZACGAO. PRESCRICAO. TERMO INICIAL. & B04 3. Funda-se a jurisprudéncia no fato de que nesses casos 0 termo a quo é 0 transito em julgado da sentenca condenatéria penal, porquanto a reparagao do dano ex delicto € consequente, por isso que, enquanto pende a incerteza quanto a condenacao, no se pode aduzir 4 prescri¢ao, posto instituto vinculado a inagao. 4. Isto porque "se o ato ou fato danoso esté sendo apurado na esfera criminal, com ilicito, em nome da seguranga juridica aconselha-se a finalizacdo, para sé entéo ter partida o prazo prescricional, pelo principio da actio nata.” (REsp 254.167/Pl). 5. In casu, versa hipétese de arquivamento de inquérito policial, por isso que o autor alegou ter sido preso ilegalmente, indiciado, mas nao chegou a ser ajuizada a competente agao penal. 6. Nesta hipétese, 0 termo a quo da prescrigao da pretenséo indenizatéria moral conta-se da data do arquivamento do inquérito policial, inaplicando-se, como evidente, 0 Cédigo Civil com eficacia retroativa a fatos ocorrides antes de sua entrada em vigor. 7. Ademais, é diversa a hipétese da agao de indenizagao calcada em reparacao de dano ex delito e agao de dano moral pela veiculaco de representagao penal arquivada. 8. Recurso especial a que se nega provimento. (Resp 618934/SC, Rel. Min, Luiz Fux, DJ 13, 12.2004\4) Por fim, hd de se analisar a argumentago derradeira co juizo monocratico sobre a possibilidade de suspensao indefinida do andamento do processo criminal nos casos da situagéo em que o réu, citado por edital, nao comparece nem constitui advogado, 0 que prejudicaria a pessoa juridica quanto ao prazo de prescricao. Argumenta que ndo se coadunaria com a prescricional de 20 anos para 3 anos. itensdo do legisiador em reduzir 0 prazo Ora, Nobres Julgadores, prejuizo nenhum recai sobre quem quer que seja na esfera civel. Primeiro porque o fato de n&o reconhecer a prescrig&o, no quer dizer que 0 Requerente tem direito a demanda. Segundo se culpabilidade hd, necessario uma reparagio. Terceiro, que muito embora tenha havido redugio do prazo prescricional, 0 artigo 200 foi trazido como a novidade no que se refere a prescricao, como caso de interrupgo e ressalva alguma ha quanto a sua aplicacio. Se € criacéo doutrinal que o sentenciante monocratico pretende, mais justo e respeitador com a legislacdo vigente, seria adequar esta nova realidade com a hipétese apresentada, o que nao seria dificil, podendo muito bem o juizo que atua na esfera civel, em vindo a ocorrer a situagdo em andlise, fixar a data inicial para correr a prescrigo, respeitando a intengao do legislador, o que poderia ser a partir do fim do prazo da publicacao do edital citado pelo magistrado. Portanto, nao ha razoabilidade a decis4o monocratica que acolheu a prescrigéo, sendo, pois, data maxima venia, uma deciséo injusta e que no atende as normas legais vigentes no pals. % 306 Pelo exposto, espera os Apelantes que seja conhecido e provido o presente apelo, para que seja reformado na integralidade 0 decisério a quo, no sentido de anular a decis4o monocratica, determinando o prosseguimento do feito com a sua instrugdo e conseqiiente julgamento procedente dos pedidos formulados na exordial. Requer ainda que condenando o Apelada a arcar com as custas e os honordrios advocaticios, a ser fixado em 20% do valor dado a causa. Registre-se que nao houve recolhimento de preparo tendo em vista que o Apelante é beneficidrio da justiga gratuita. Nestes termos, pede e espera deferimento. Aracaju/SE, 7 aw de,2009 ke Vong os p26 PAndido Garced dia Racha ivogado ~ OAB/SE 3495 10

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