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PROJETOS HIDRELETRICOS E POVOS INDIGENAS NA AMAZONIA* Silvio Coelho dos Santos** Aneliese Nacke** *Apresentado no 46° Congresso Internacional de Americanistas. Amsterdan, julho de 1988 Simpésio Grandes Projetos e seus Impactos sobre as Comunidades Indigenas e Camponesa na Amaz6nia Brasileira. **Professores da Universidade Federal de San ta Catarina. Depto de Ciencias Sociais. CP 476, Trindade 88.025 - Florianépolis - SC - Brasil in PROJETOS HIDRELETRICOS E POVOS INDIGENAS NA AMAZONIA‘ Silvio Coelho dos Santos Aneliese Nacke I - INTRODUCAO Ao ocorrer a crise internacional do petréleo, no ini- cio dos anos setenta, os paises avangados rapidamente procederam reorientagdes no seu relacionamento com os paises dependentes,em particular no que se referem as importacdes de matérias primas e aos empréstimos bancdrios. A conveniéncia de transferir para es- ses Gltimos paises a responsabilidade de agregar mais energia a diversos produtos primarios de exportacdo foi logo percebida. Ho je, no Brasil no minimo, cérca de 15% do total de energia elétri ca disponivel & exportada para outros paises, embutida nos mais diversos produtos. Outrossim, a necessidade de reciclar recursos decor- rentes dos chamados “petrodolares" sugeriam a conveniéncia de es timular os paises dependentes a formularem macro-projetos econé- micos, a priori rotulados como alternativas Gnicas para o alcan- ce de metas estabelecidas pelas politicas desenvolvimentistas in ternas. No Brasil, as construgées da Trangamazéni@, da Ferrovia do Aco, do Sistema de Telecomunicagées, da Usina Hidrelétrica de Itaipd, da Usina Hidrelétrica de Tucurui, do Projeto Carajas, en tre outros, foram iniciativas que estado neste contexto. Paralelamente, nos paises avancados incrementaram - se as restricdes quanto 4 utilizagio indiscriminada dos rectirsos na turais e ambientais. A legislacio ambiental tornou-se mais rigo- rosa, impondo a diversas indistrias énus que recomendavam a sua transferéncia, ou a reorientacao de seus planos de expansdo, pa- ra areas periféricas. Aproveitavam essas indiistrias também a vi- *Una versdo ampliada deste trabalho serd publicada na Revista Ethnies ,Franca. sGo corrente na maioria dos paises dependentes que nfo se pode-~ ria atingir niveis maiores de renda sem poluiga’o. Isto, em termos de Brasil, ficou explicitado pelo delegado brasileiro na Confe - réncia Internacional de Meio Ambiente (Estocolmo,1972) ao expor que as preocupagdes com a defesa ambiental mascaravam interesses imperialistas que objetivavan inpedir o crescimento dos paises en desenvolvimento.* De outra parte, o Brasil tem uma tradigao perversa em tratar com as populagdes indigenas que estao localizadas imemo - rialmente em seu territério. Desde os tempos coloniais, as prati cas de genocidio e etnocidio nao tem sido incomuns. Acriacaéo do Servico de Protegdo aos Indios (SPI), no ano de 1910, ocorreu apés uma série de dendncias em nivel internacional e nacional sobre a agressividade das re- Jagées entre brancos e indios, com consequéncias altamente negativas para es ses iiltimos. As préticas adotadas pelo SPI evitaram momentaneanente a conti~ nuidade do exterminio indigena e asseguraram a ocupacgao de largas fai xas do territério nacional, por frentes de expansio. © SPI, porém, acabou se submetendo aos interesses da sociedade dominante. Corrompeu-se enquanto érgéo de protecéo Se cristalizou sob o ponto de vista burocrético. No ano de 1967, © SPI foi substituido pela Fundagdo Nacional do Indio (FUNAL) cria da pelo governo militar como resposta 4s criticas e deniincias de genocidio e etnocidio, em nivel internacional. A FUNAI, entretan to, nfo exerceu quaisquer mudangas na politica indigenista ofi - cial. Ao contrario, tomou iniciativas que somente agravaram as relagées entre indios e nao-indios. Antes de tudo porque centrou suas atividades numa politica indigenista integracionista, basea da na teoria da aculturagdo/assimilagéo, bastante criticada pela moderna Antropologia. Os direitos dos povos indigenas no Brasil nao sdo,por tanto, reconhecidos. Prevalece, nas interpretagdes dos textos le gais, a nocdo que esses povos estao em transigo e que seu desti. no é a sua incorporagdo pela sociedade nacional. Ou seja, eles deverio desaparecer enquanto entidades étnica e culturalmente di ferenciadas.Isto €,simplesmente, etnocidio. Também 0 reconhecimento das ter. ras tradicionalmente ocupadas para garantir os territérios ocupados pe los povos indigenas, vem sendo sistematicamente rejeitado pelos Srgdos oficiais de protecao. Desde o ano de 1987 ¢ neste primeiro semestre de 1988, o Brasil vivencia a experiéncia de elaborar uma nova Constituigéo. Isto em decorrén - cia de um lento e dificil processo de abertura polftica. A Assembléia Nacio- nal Constituinte (ANC), porém foi convocada como extensdo de fungdes exerci- das pelo Congresso Nacional, assegurando aos eleitos o duplo papel de ..con= gressistas e constituintes. Este arranjo politico-juridico foi altamente 1i- mitativo das reais atribuicoes de uma ANC. Apesar disto, a questao indigena foi bastante discutida antes e durante este periodo, por liderancas indige- nas e entidades preocupadas com 0 destino desses povos. As reivindicacées fundanentais foram encaminhadas aos constituintes, acompanhadas de amplas. manifestagdes de apoio. Neste momento (maio/88), porém, j4 se tem como descartada a pos sibilidade de ser reconhecida no texto constitucional a condic&o pluriétnica do pais. Da mesma maneira, estd dificil assegurar o direito que os povos in- digenas deven ter quanto a terra, definida essa enquanto direito ao usufruto das riquezas do solo ¢ subsolo. Enquanto isso, e a revelia das . discusstes que sé travam na ANC, 0 governo, através de portaria ministerial regulamen - tou a exploracdo mineral em dreas indigenas. Também através de Decreto (N° 99,946 de 24/08/87) © governo discriminou as terras ocupadas pelos indigenas em duas categorias. Area Indigena, quando ocupada por silvicolas nfo acultu- rados ou em incipiente estado de aculturacao; e Colénia Indigena, quando ocu padas por indios aculturados ou em adiantado estado da aculturacao. Estabele ceu ainda que 4 FUNAT caberia fixar os critérios de avaliagao do grau de acul fesciaiihacdehesehiemsteeeabacel aee aaa Por tras dessa postura, pretende o governo diminuir o nimero de in- turagai _turagao. dios que efetivanente estarian sujeitos 4 tutela e 4 proteco_governanental ao mesno tempo que aceleraria a integragao na sociedade nacional daqueles que tem un convivio mais largo com os brancos. Ou seja, 0 governo por esse Decre- to deixa claro que no aceita qualquer reviso do conceito monoétnico de Esta do e que, assim, o Brasil continuard a ser pensado como o pais de uma dinica nagio, a nagdo dos brasileiros. — nesse contexto que durante os anos setenta comecaram a ocorrer a construgao de barragens na Amazénia. Os impactos des sas construgdes sobre diversos povos indigenas foram e seréo e normes. A imprevidéncia oficial chegou aos extremos de se proce- der o fechamento das comportas (adufas), sem que as questdes re- la ivas ao reassentamento das populagées atingidas (indios e nao indios) tivessem sido resolvidas. Tucurui e Balbina so exemplos trdgicos dessas préticas. Mas, essas duas usinas hidrelétricas so apenas as primeiras de uma centena de barragens projetadas pa ra aproveitar o potencial energético das bacias hidrdulicas da Amazénia, nos préximos anos. Uma verdadeira tragédia para os po- vos indigenas. 2, RECURSOS ENERGETICOS E PROJETOS HIDRELETRICOS A geracao de energia elétrica no Brasil ocorre no pre- sente, de maneira predominante, cerca de 85%, através de aprovei tamentos hidrelétricos. 0 potencial hidraulico do pafs é conside ravel e assume um papel de destaque em relacdo a outras fontes. Em sendo recursos renovaveis, hd posigdes claras de especialis- tas explicitando que o pais consumiria rapidamente suas reservas energéticas ndo-renovaveis, caso pretendesse abrir mZo da explo- ragio de seus recursos hidricos. Compreende-se assim porque desde os anos sessenta as bacias hidrograficas do Brasil vem sendo estudadas, permitindo o conhecimento gradativo do potencial hidrelétrico nacional. Em fins de 1984 0 potencial inventariado era de 213.400 MW, dos quais 16,64 j4 eram explorados. Quase a _metade desse potencial hidrelétrico total esta localizado.nas regides Norte/Centro-0es~ eee ceeeceee eee te; 0 Nordeste possui apenas 7% e o restante esta dividido, qua- se na mesma proporgdo, entre as regiées Sul e Sudeste/Centro-Oes te.” A construgio de diversas usinas de grande porte, entre elas Itaipd (binacional: Brasil/Paraguai) e Tucurui, e outras que se encontram em construcdo, como Ttaparica, Xingd, Ilha Gran de, etc., associado a nocao que o pais conta com a _—capacidade instalada de 42.000 Mi, permite compreender que ocorreu a conso- lidagdo da tecnologia de geracdo de energia elétrica. Isto des- de os estudos preliminares, a elaboracdo de projetos, a constru- cio de barragens e o desenvolvimento de uma indiistria de equipa- mentos. Diversas empresas se especializaram nessas Areas e hoje concorrem inclusive em termos internacionais. Informagdes do se- tor elétrico dio conta que em Itaipu foram alcancados indices de nacionalizacdo da ordem de 85%, na fabricacdo das turbinas. hi- drdulicas e nos hidrogeradores.> Un aspecto particular desse dominio tecnolégico, refe- re-se ao problema da transmissado de energia a longas distancias, que pode ocorrer em termos de corrente alternachh (CA) ou conti nua (CC). 0 aproveitanento dos recursos energéticos disponiveis em regides distantes dos centros consumidores somente € vidvel economicamente, através do maior dominio tecnolégico na area de transmissio. Avangos tecnolégicos recentes estdo permitindo a transmissdo em ultra-alta tenso, em CA ou em CC. Ficam assim com- petitivos 0 aproveitamento de recursos energéticos em locais re- motos. Isto viabiliza, na 6tica da ELETROBRAS, a integragao dos dois grandes sistemas elétricos que permanecem isolados entre si, Norte-Nordeste e Sudeste-Centro-Sul. A partir de Itaipu di- versas linhas tronco de corrente alternada em 750 KV, ou menos, foram implantadas no pais, interligando subsistemas. Outras li- nhas estdo previstas para serem implantadas nos préximos anos. A tecnologia de transmissio de grandes blocos de energia em longas distancias est4, assim, sendo dominada. "Montantes da ordem de 10 milhdes de quilowats e distancias na faixa de 2000-2500 qui lémetros estGo sendo considerados nos estudos em andamen- to".> 0 Ministério de Minas e Energia, criado em 1962, e a ELETROBRAS, criada em 1963, € que tem formulado a politica do se tor elétrico. A ELETROBRAS desempenha o papel de "holding", con- trolendo diversas subsidiarias, entre elas a ELETRONORTE.® Nes- sa fungao, a ELETROBRAS vem formulando planos de expansdo e recu peragao do setor elétrico. Devido a longa maturagao desses pla- nos, seus horizontes sao distantes. Em 1981, a ELETROBRAS elabo- rou 0 Plano 2006. No momento (1988), ela vem sistematicamente dis cutindo as bases do que seria o Plano 2010. Em simultaneo, a ELETROBRAS vem desenvolvendo agées, como a obtencdo de créditos internacionais, para a recuperagao do setor elétrico. Trata-se do Plano de Recuperagdo do Setor de Energia Elétrica (PRS). Este plano prevé a interveniéncia do BIRD para coordenar operacies de crédito no valor global de US$ 2.400 milhdes. 0 PRS também de monstra uma vontade de reorientacdo quanto as praticas tradicio- nais do setor, ao reequacionar prioridades e tentar conciliar a questdo do impacto ambiental. O PRS, portanto, representa uma selegao de obras a serem iniciadas até 1989. Tanto na formulagao do Plano 2000, como nos estudos que levarao a sua revisao pela formulagdo do Plano 2010, fica claro, porém, que a ELETROBRAS esta considerando o desenvolvimen to do sistema através do aumento progressivo do suprimento de energia da Amazénia para as demais regides do pais. Em outras pa lavras, em termos de definicdo politica tudo indica que caberd a ELETRONORTE a parcela poderavel de geragao e transmissao de energia para atender as demandas dos grandes centros consumido- res. A ELETRONORTE (Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A.) foi constituida em 1973 (Lei 5.899, de 05/07/73). Sua frea de atuacgao inclui hoje os estados do Amazonas, Para, Acre, MaranhZo, Mato Grosso, parte de Goids, e os territérios de Ama- pa, Roraima e Rondénia, correspondendo a $8 do territério na- cional. 3. A CONSTRUGAO DE HIDRELETRICAS E SEUS IMPACTOS PARA OS POVOS INDIGENAS Na definigdo de politicas para o setor elétrico e to- mada de decisdo sobre obras a serem, executadas, hd que conside- rar todo um contexto ideolégico dominante no Brasil, que sinte - tizamos na frase consensual: "energia € progresso". A tradigdo cartesiana tanto de nossas escolas de engenharia, como as de formagio de militares é outro ponto relevante. Na prdtica, essa Visdo ideolégica tem servido como fundamento para miltiplas deci sées. Decisdes que nao necessitaram de justificagées mais am- oo plas’, nem tampouco a aprovagio do Congresso Nacional. A constru cdo de Tucurui, por exemplo, integrou o conjunto de decisdes to- madas em torno do chamado Projeto Carajaés, um macro projeto eco- némico de interesse dos paises centrais. As tarifas subsidiadas para as empresas processadoras de metais ndo-ferrosos, particu - larmente o aluminio, foram decididas pelo governo e, tudo indi- ca, sem a interveniéncia da ELETROBRAS. Num contexto mais do Ambito da ELETROBRAS e de suas isubsididrias é de se compreender também que os critérios para to mada de decisdo e localizacdo de UHEs so estabelecidos pela re- lac&o custo/beneficio, associados a definicio técnica do voten - cial energético a aproveitar. 0 equacionamento das questdes am- bientais e, em particular, dos impactos sociais somente muito recentemente comegaram a ser considerados ¢, mesmo assim, como ee pee 7 7 forma de minimizar situagées concretas existentes. As relagdes entre os povos indigenas e o Estado brasi- leito estao também dentré deste contexto. Numa visdo positivis- ta, que tem permeado o pensamento militar brasileiro desde as Gltimas décadas do século passado, associada a aceitagao da teo- ria do evolucionismo cultural unilinear, aos indigenas nio resta outro destino sendo a sua integracdo na sociedade nacional. Dai decorrem as nogées de "integralidade" do territério nacional e de Estado uni-nacional. A burocracia respons4vel pela execu¢o da politica indigenista oficial aceita sem discussées tais posicio- namentos ideolégicos, o que € também coonestado pelo sistema ju- ridico existente no pais. A missdo, pois, deste aparato € eminen temente civilizatéria. E a missdo de transformar indios em ndo- indios. Ou seja, o objetivo é a homogeneizacdo de todos os con - tingentes indfgenas que sobrevivem no territério brasileiro través da sua diluicgdo na sociedade nacional. Isto nega por in- teiro 0 direito a diferenga. A proposta integracionista que fundamenta, portanto, a politica indigenista brasileira é perversa, pois sistematicamen te vem aniquilando formas sécio-organizativas e culturais que representam importantes experiéncias civilizatérias alternas da humanidade. 0 genocfdio e o etnocidio tem sido praticas frequen- tes. O pais, tem uma terrivel tradigo de dominacfo e aviltamen to das populacdés indigenas, herdada do perfodo colonial. A resisténcia indigena, embora pouco conhecida, nao tem sido pequena. Diversos movimentos tem ocorrido. Nos fltimos anos as experiéncies individuais e coletivas tem sido comparti - lhadas, através de encontros e assembléias indigenas, que objeti vam uma crescente obtengao de reconhecimento de direitos e con- quistas de espaco politico. Ou seja, trava-se uma luta que objeti va 0 reconhecimento das populagdes indigenas como povos diferen- ciados, sujeitos a protegéo do Estado. No que se.referem.especificamente as consequéncias da construgdo de UHEs para os povos indigenas, hd a considerar os efeitos diretos e indiretos de tais projetos. A perda de _ ter- 10 ras, a migragdo forcada, a depopulacdo, a desmotivacao de vida, a desorganizagdo social, a impossibilidade de prosseguir utili - zando as técnicas tradicionais, a destruigao dos estoques de ca- cae pesca, etc. estao fartamente ilustrados em Tucurui, Balbi- na e outros projetos que estao em vias de implantacdo na Amazé- nia. Essas consequéncias negativas se iniciaram muito antes do inicio das obras fisicas da barragem. A fase de inventario ja trds consequéncias bastante negativas, pela presenca de técni - cos, méquinas, helicopteros, avides, barcos, explosées no subso lo, etc. De outra parte, as questdes sociais e ambientais | nao tem sido tomadas como fundamentais no conjunto dos projetos hi- drelétricos. Elas hoje, em decorréncia inclusive de pressdes dos agentes financeiros externos e aos desastres ecolégicos ocorri- dos em diversas partes do mundo, sdo consideradas importantes.Po rém, sem a menor possibilidade de reorientar ou, muito menos, im pedir a concretizagao de uma UHE. ‘A FUNAI, outrossim, nao tem condigdes técnicas e admi- nistrativas para visualizar a complexidade da problematica em questdo. A irresponsabilidade e a incompeténcia ten sido a téni ca desse Srgdéo. Assim, o convénio firmado entre a FUNAI e a ELE- TROBRAS, em decorréncia do Plano Diretor para a Protecgao e Melho ria do Meio Ambiente nas Obras e Servigos do Setor £1étrico (1986), foi recebido pela FUNAI mais como oportunidade para ob- tengdo de recursos financeiros do que efetivamente assuinir com- promissos para adquirir competéncia técnica sobre a questio e definir estratégias para o seu adequado enfrentamento. Veja-se, por exemplo, o texto divulgado pela FUNAT, em fungao de tal con- ii vénio, sobre os Waimiri-Atroari E nessas condigées que a convergéncia de _—interesses econdmicos ¢ ideolégicos, assumidos objetivamente por empresas construtoras e consultoras, acabam por tornar certas possibilida des de aproveitamento hidrelétrico em decisées acabadas. Os cus- tos sociais e anbientais séo assim minimizados, escanoteados e/ou, na melhor das hipéteses, adiados seu enfrentamento para apés a implanta - cio das obras da barragem e consequente criagao de uma situagao inevitavel. A partir dessa 6tica, sio enormes os prejuizos que so- frem e sofrerdo os povos indigenas da Amazénia em decorréncia da construgio de hidrelétricas. Por isso, a seguir focalizamos as UHEs j4 construidas ou previstas para construgdo no PRS: a) UHE Tucurui (PA) Construida no Rio Tocantins, esta UHE comegou a ope- rar em 1984, Hoje esta com a poténcia instalada de 3.960 MW , que devera ser ampliada até atingir 7.960 MW. Sua construcgao pro vocou 0 alagamento de cerca de 250.000 ha., atingindo os povos indigenas Gavido e Parakand. Suas linhas de transmisso, outros- sim, atingiram o grupo indfgena Guajajara. ¢ Kazaa b) UHE Balbina (AM) Localizada no Rio Uatum&, esta UNE devera entrar em opetacao em 1989. Sua poténcia instalada & pequena, cerca de 250 MW. Entretanto, provocard o alagamento de 234.600 ha., atin- gindo os Waimiri-Atroari. Provavelmente, também provocara conse- sELETRONORTE AREA 0€ ATUAGKO & UHES aro ehosso A-UNE constrido ov sremiees 12 quéncias sérias para os grupos isolados Piriatiti e Tiquirié (sub-grupos Waimiri/Atroari) e os Karefawyana. ¢) UHE Paredo/Mucujai (RR) Esta hidrelétrica, localizada no Rio Mucujai, devera ser iniciada em 1988. Tem uma poténcia prevista para 27 MW e pro vocard o alagamento de $58 ha. Atingira direta e indiretamente os Yanomami, os Makuxi e os Wapixana. 4) UHE Ji-Parand (RB) Esta UHE estd em, fase de inventdrio. A sua construgdo deverd ser iniciada breve, tendo uma poténcia prevista para 512 MW. Provocara o alagamento de cerca de 95.700 ha., atingindo 0 Al Igarapé Lourdes, aldeias dos grupos Gavido e Arara. Ha possi~ Dilidades, também, de serem atingidos os Tenharim, do AI Igarapé Preto, e grupos isolados. e) UHE Cachoeira/Porteira (PA) Localizada no médio Trombetas e tendo uma poténcia pre vista para 700 MW, esta UHE provocard o alagamento de 107.900 ha. Afetara diretamente os indios das aldeias Mapuera (Wai-Wai, Ka- tuena, Tiryé e outros), Cassaud (Kamarayana, Mawayama, Katuena, Wai-Wai, etc.) e a aldeia Porteira (Kaxuyana). Atingira ainda di versos grupos isolados. £) UHE Avila (RO) Esta UHE encontra-se em construgdo, no Rio Avila, de- vendo entrar em operacdo em 1990. Tem uma poténcia prevista pa- 13 ra 28 MW e provocara o alagamento de uma area de 1000 ha, atin - gindo a AI Tubarao-Latundé. g) UNE Samuel (RO) Esta UHE deverd ser localizada no Rio S4Met e tera uma poténcia de 250.MW. Provocara o alagamento de cerca de 60.700 ha. Nao ha informagées seguras sobre os povos indigenas que serao afetados. Préximos, entretanto, estaéo localizados os Uru-eu-Wau-Wau e trés grupos isolados (Kariliana, Urupa-in e Miguelenos). CONCLUSOES As UHEs constantes do PRS estado causando diversos im- pactos As populacées indigenas da Amazénia. Hé impactos visi- veis, diretos, tais como a perda de terras; de territérios de ca ga; de aldeias; de mananciais de pesca e de outros recursos na- turais. Ha efeitos de outra ordem, também negativos, como desor- ganizacdo social; transferéncia de habitat; prostituigdo; doen - cas venéreas; desnutrigio; epidemias; depopulagao. Outras consequéncias indiretas também se fazem presen tes, atingindo tanto os grupos diretamente afetados, como outros grupos localizados fora da area imediata de influéncia da . UHE, como por exemplo, a alterag&o da circulacgao de cardumes a jusan- te e, ou, a montante da barragem; a inadequagdo das aguas repre- sadas para consumo; a maior incidéncia de vetores de doencas en- démicas; a.alteraco de rotas de comunicacao, de exploracgao e de 14 circulagao de bens; a diminuicZo dos estoques de caca e pesca; a presenga crescente de no-indios nas imediagdes da barrage, associada ao incremento da competigao na exploracio dos recur- sos naturais. A quantificacdo desses efeitos diretos e indiretos so- mente pode ser realizada caso a caso, a partir de efetiva pesqui sa de campo. Os dados obtidos em fontes secunddrias, entretanto, permite-nos assegurar que os efeitos negativos da construgao de UHEs sdo enormes e altamente prejudiciais para os povos indige- nas. Outrossim, € necessdrio considerar que os Planos 2000 e 2010 estado prevendo uma centena de possibilidades para a cons trugdo de UHEs na Amazénia. 0 potencial energético dos rios des- sa regido, que € estimado em 100.000 MN, est& em maioria inventa tiado. Somente as tarefas de pesquisa realizadas para levantar este potencial, devem ter criado as mais variadas consequéncias negativas para os povos indfgenas que ali sobrevivem. Nao sé em decorréncia do contato direto entre técnicos e trabalhadores, en carregados desses levantamentos, com os indigenas. Também de for ma indireta, na medida que tais levantamentos implicaram em mil- tiplas tarefas que incluiram desde explosdes do subsolo, até cen tenas de horas de sobrevéo em helicépteros. Por outro lado, ha que se considerar as questées rela- cionadas a tomada de decisdes para a construgdo de uma UHEe a necessdria, mas nem sempre efetivada, avaliacéo de impactos pa- ra as populacoes indigenas. 0 caso do rio Xingi, € um exemplo. Inicialmente, as tarefas cometidas 3s empresas consultoras eram apenas pertinentes ao inventdrio do potencial energético daque- 15 le rio. Assim, os aproveitamentos do Xingu ndo entraram no rol das UHEs priorizadas no PRS.Contudo, decisées tomadas posteriomen te em Brasilia, a revelia da ELETROBRAS, pretenderan viabilizar um conjunto de berragens, denominado complexo de Altamira (Usi nas Babaquara I, Babaquara III, Kararaé e Jurud). No caso, tudo indica que a tomada de decisdo ocorreu visando assegurar vanta - gens para empresas ligadas ao setor de construcio de barragens. De outra parte, o que se tem visto € a pratica do ca- so consumado. Isto €, decide-se construir uma UHE, ao final da obra determina-se a data para o fechamento das adufas e sé en- to resolve-se questionar os impactos ambientais/sociais. Ha, diga-se, uma certa disposigao da ELETROBRAS para alterar este quadro. A criagdo do Comité Assessor de Meio Ambiente e a aprova ¢3o do Plano Diretor para a Protegdo e Melhoria do Meio Ambien- te, sio exemplos disto. As disposigdes legais impostas pelo CO- NAMA, .obrigando inclusive o licenciamento das UHE pelos rgaos estaduais de meio ambiente,-também traduzem uma inteng&o governa mental de reorientar as praticas correntes, altamente predato - rias e desconectadas de qualquer preocupacao ambiental. Mas, con cretamente, 0 que se testemunha sao situacées bastante negati - vas. No que se refere aos povos indigenas, outrossim, nao tem havido por parte do setor elétrico, nem pela prépria FUNAI, compreensdo para o entendimento da complexidade das questées que aye tais povos. Primeiro, nao se tem percebido a variedade sé cio-cultural e lingufstica que os povos indigenas apresentam. Em decorréncia, nado se tem compreendido a especificidade que cada 16 um desses povos representa, em termos de patriménio da humanida de. Ao contrario, a ténica tem sido a interpretacao simplista de ver os povos indigenas como necessitados de cristi- nizacio, de civilizacio e de progresso. Em segundo lugar, ndo se tem considerado a diversidade apresentada pelos povos indigenas de forma positiva, assegurando lhes condigdes para o pleno exercicio da diferenca. Isto 6, nao se tem garantido, nem tampouco criado, condigdes para a necessa- ria reprodugdo desses sistemas culturais diferenciados. En terceiro lugar, as terras indigenas continuam a me eenee ser vistas como areas desocupadas e livres para abrigar os mais —sser e_—=—S=S—eaeee diversos projetos de interesse exclusivo de certos segmentos da sociedade dominante. Assim sendo, 0 tradicional exercicio de custo/benefi - cio, que os projetos hidrelétricos obrigatoriamente incluem, no ‘tem contemplado satisfatoriamente os custos ambientais e, nes- ses, 0S custos sociais, em particular quando envolvem povos indi genas. Objetivamente, pois, concluimos: a) que a politica indigenista praticada pela FUNAI es- ta baseada na integragao dos povos indigenas e centrada na teo- ria da aculturacao/assimilagio, Esta politica é etnocida e tem sido condenada por indigenas, antropélogos, igrejas e defensores dos direitos humanos; b) que além do significado dram&tico das perdas dos niveis sécio-organizativos e culturais, as populagdes indfgenas atingidas pelas UHEs acabam por ficar sem condigdes de reprodu- 17 tir suas culturas e organizacgao sécio-econdmicas, comprometendo definitivamente a existéncia dessas experiéncias civilizatérias alternas; c) que a politica indigenista precisa ser revista quan to a seus objetivos e priticas, a partir do reconhecimento da realidade pluriétnica que caracteriza o pais, da valorizagao das culturas dos povos tribais e da promocio de projetos de etnode - senvolvimento, definidos pela manifestagdo auténoma de cada po- vo. Nesse sentido, 0 etnoconhecimento e as ecotécnicas, de domi- nio das populagées atingidas por projetos hidrelétricos, consti- tuem um importante articulador cultural entre o homeme o seu meio e que dificilmente se reproduzirdo em outros espagos geogra ficos; 4) que o modelo energético do pais esta submetido aos interesses urbano/industrial, além dos interesses externos, em detrimento das populacdes rurais e urbanas marginalizadas, e das minorias étnicas; e) que ha interesses, além dos empresariais, na defini go e execugdo de projetos hidrelétricos por parte de uma buro - cracia estatal e privada, preocupada com sua prépria auto-repro- dugao; £) que é fundamental garantir a discussao no ambito do Congresso Nacional, e nos diversos segmentos da sociedade civil, a polftica energética nacional.? NOTAS AyroLa, Eduardo, 1987:2. 2yTYAMOTO et alli, 1987:8. 3yaem, passim. p. 13. Segundo a ELETROBRAS, os cinco maiores fa- bricantes nacionais de turbinas e/ou geradores para hidrelétri- cas (Voith-Bardella, Mecanica Pesada, Vigesa, Coensa e Siemens) tém uma capacidade de produgdo da ordem de 9000 MW por ano, cin co vezes maior que as necessidades geradas pela expansdo do sis tema nos préximos 10 anos. Brito, Sérgio, 1987:58. 4VIAN, Angelo, 1987:42-45.. Smorissy, Carlos Almir, 1987:48, Através da Portaria 1617 de 23/11/82 0 Ministério de Minas e Energia criou o Grupo Coordena dor do Planejamento dos Sistemas Elétricos - GCPS, de ambito nacional, sob a coordenac&o da ELETROBRAS. Sas outras empresas que integram a "holding" ELETROBRAS sio as seguintes: Companhia Hidro, Elétrica do Sao Francisco (CHESF); Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A., (ELETROSUL); Espfri- to Santo Centrais Elétricas S.A., (ESCELSA); FURNAS - Centrais Elétricas $.A.; LIGHT, Servigos de Eletrecidade S.A. Integram ainda o sistema da "holding" diversas outras empresas coliga- das, concessiondrias de servicgo piiblico de énergia elétrica. 7, Resolugdo n? 001 de 23/01/86 do Conselho Nacional de Meio An- biente (CONAMA), criado em 1981 determina a elaboragao de rela- tério de Impacto Ambiental (RIMA) para obras hidraulicas (barra gens) acima de 10f MW e Linhas de Transmissao de energia elétri ca, acima de 230 KV. Também obriga ao licenciamento pelo érgio estadual competente de tais empreendimentos. Também a Lei n? 7.347, de 24/07/85 faculta o recurso a justiga contra danos cau sados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patriménio social. A ELETROBRAS, em maio/85, elaborou um Manual de Estudos de Efei- 19 tos Ambientais dos Sistemas Elétricos. Por Gltimo, de forma mais especifica, a ELETROBRAS criou nos finais de 1986 e — fez instalar em 1987 um Comité Consultivo de Meio Ambiente, integra do por especialistas de diversas areas do conhecimento e tendo suficiente independéncia para avaliar as questdes de impacto ambiental decorrente da construgdo de grandes usinas. Strata-se de uma publicagdo elaborada com a finalidade de dar pu blicidade ao Programa Waimiri-Atroari, decorrente de convénio firmado entre a FUNAI e a ELETRONORTE. Uma publicagio de alto custo financeiro, rica em fotos coloridas e em recursos grafi cos sofisticados. 0 texto, porém, nfo resiste a qualquer criti- ca antropolégica. E simplesmente mediocre. Um acinte 4 popula- gGo Waimiri-Atroari e ao drama que vive em decorréncia da cons- trugdo de Balbina, da estrada Manaus-Boa Vista e entrada de em- presas mineradoras na regido. Sursc/PPGCS, 1986, passim. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, M.H. de P. Eleico e delimitacdo dos Pis Nhamundd Mapuera (AMAPA). 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