Você está na página 1de 17
once Mowavs Baton li (rg), Geamatcae Ens das Lngnas. Ci, Ames, 1999 REFLEXOES SOBRE 0 ENSINO DA LINGUA Salvador Guriéestez ORDONEZ Universidad de Leén troducio [No inicio da minha intervengio desejo manifestar a indiscritvel emogao que cexperimento por me sentir citcundado por estes muros consagrados século aps séeulo pelo sgrado unguento da sabedora, por assumir a palavrano lugar onde ensi- raram tantos mesies, onde se formaram tants geraydes, a partir de unde 0 conhe: «imento tudo iluminou com a sua luz (Omnia profurdet luce), A todas exsas geragies de mestres dedico esta humilde ligdo, como testemunho da minha admiragio e tes peite perante Universidade de Coimbra, Desejo, do mestno modo, expressar o meu sincero agradecimento a0 Prof. Doutor Jorge Morais Barbosa, Presidente da Comissio Organizadora deste Col6quio «, sobretudo, investigador eimpulsionador da Linguistica Funcional por todos os can tes deste lindo © sedutor pais irmio. O seu convite permitiu-me ndo 36 regressar Coimbra, mas também encontar-me com colegas que jt sio amigos do eoragio: ‘© meu muito obrigado. 1, Teoria e aplicagio (s estudiosos que reflectem sobee a Teoria da Ciéncia coincidem na ideia de ‘que.em toda a dseiplina existem duas orientagdes, duas tendéncias:atedrica e 2 apl: cada. A investigusdo teérica, denominada também investigagio bdsica, estula © objecto numa perspectiva imanente, enquanto merecedor de ser eonhecido em si © porsi mesmo, enquanto Ambito apetecivel a capacidade cognisctiva humana. Nesta indagagio, neste esforgo em chegat a conhecimentos eada vex mais novos, mais pro fundos, mais explicalivos ("Citus, alius, fortis aco € a pura curiosidade cientiiea, Pelo contro, na iavestigacdo aplicada,o que a Metodotogia da Cigncia deno- a “yeenologlas", pretende-se um rendimento prético dos conbecimentos a que cchegou a disciplina. A Quimica descreve a composigio do deido sulfirico, a suas propriedades, as suas transformagées, as formas da sua obtengi...Nadimensio ap ‘cada estudam-se as aplicagdes que esse dcida tem na indisiri, as tecnologias mais sMlequadas para o conseguit. © interesse que move a invest 47 Conirarimente ao que podem pensar algumas mentesingénuas canvas te rico eo eamiat aplicado nao slo vias paralels. Os cietistas puros (pelo menos mis hhumanidades) mantiveran-se afastados das aplicagBes ¢ lharam com cert ments. reco os que se orientavam por objectives relavionados coin o vil metal, com Ainbeir, Pelo cuntiio, durante algun tempo 08 yovernos © a instiugbes, mais pe upados com resolver os problemas quotdianos do que com interessey abstractos, ddavam primazia aos que se dedicavam a procurar descoberias de onde pudesscin deriva resultados reméveis, Tanto una como outra visio mostaram ser initadas. A investigagio bisica & fundamental para gular e orcntar a investiga aplicada Est dtm proporciona tum confecimento mis reat do meio, & um banco de ensaivs ds teocas por ut lado, no raras vezes, consti o ponto de parila de descobertas tevticas espe clare. Investigago pura einvestigago patie revelanrse, hoje mais que nunc ‘etvidadesirremediavelmente complemeniares ‘No estudo da linguagem sempre conviveram teotae pritic, embora a linguis tia 6 tenha aleangado autonomiaeieniica no nosso xéculo. Oestude 0 ensino da Hingua © da sua gramsiticarealizavamese por motivos relgiosos (antiga fn, exelan 4rabes..), por motivos priticos (como axilar da tetrica no ensino do “rect dicen fectegue sribendi, Temos conhecimento da existencia de tadusies, de trautores « intérpretes desde 0s mais remotos tempos. Confecemos a existéncia de dicionsiios desde a peca dos Sumérios. Aida que enh cxstdo sempre aplicagdes da lingustica, a Linguistica Apli= cada nasceu como disiplina na segunda metade do nosso século. Criou-se 0 nome fos anos 50 ¢ nessa mesma década publicaram-se os primeirostrabalhos. A pate de endo tEm-se realizado congresses, simpdsios, iémse criado cétedas, sociedades, ‘evista... Por outo lado, a Linguistica Aplicada, que de inicio se eircunverevia quae exclusivamente ao dimbito do ensino de linguas nfo maternas, alargou o seu camp de estado tem hoje, como suas, actividades mae diversas! eosin da fn tern, patlogias reeducaso da inguagem, lingufstica automitica iter pretat, Planifieasio linguistics, (© ensino das linguas&,portanto, um dos objectos fundamentais desta nova dis: siplina que denominans Linguistica Aplicada, As ditcettizes do Coléquio em quc nos encontramos colocam interogagées de grande interesse: a relag3o que peso (ou deve existir entre as descobertas da lingufsticaterica e as possbildaes e eam ‘venignci da sua apicagi0 ao ensino das Hinguas “A gramitca ive ser, necessariament, tadcional? O seu ensno pode con finuar a ser hoje sensivelmente o que era hi $0 ou 100 anos? E verdads que wa escrigdo gramatiest dos nossos dias no tm aplicabilidade ao ensino? Se tem, como presentéla?™ is 2. Objectos e objectives no no da ling 2 As questaes retéricas Quando nes confrontamos com a tarefa de construir uma mensagem que cum pra no si as rogras da gramaticaidade, mas todas as condicionantes dos valores da mensagem pragmatica, & aconselhvel que, ma configuragio da mensagem, tespondamas is chissieas questes retdricas Quis? Quid? Cui, Cur?, Ubi? Quomodo?, Quando’, Quibus auxiis? 2.2 QUID? Lingua materna e linguas nao maternas Qualquer escudo que se interrogue sobre © modo como se deve ensinar uma lingua como o portugués, o francés, 0 castelhano ou qualquer outro instrument de io tem de partir de uma divisio que se configura como uma premissa que ‘ai condicionar o ebjecto, os objectivos, o desenvolvimento e as préprias conclusbes Fangs iugintves | Refer cura igure Tontands em consideragdo os Aimbitos que fixam as novas disciplinas, repre sentienos (Gutigerez, 1996) a competéncia comunicativa subdividindo-a em dife- renes partes. topalagicamente eolocadas em trés nivel = Conipetéacia central ou competéneia linguistic, ‘Competéncia peritéria: socilingufstca, cultural, conversacional Conypeteneia global: pragmstien e semiies. ee ————— COMPETNCIA PRAGMATICA CcomPETENctA SoctOLINGUISTICA compertxca ‘CULTURAL ccomrerincia rsicoLiNcuifsticA comPETENcIA seMmorICA 129 PRAGMATICN FONOLOGIA “Lrexiuat lLexicovocia 5 co huise \CONVERSACIONAL ae sramorica 8, O desenvolvimento da Singuistca e a sua aplicagao ao ensino 8.1 Novas questaes Que o ensino deve reflectr os progresses do conhecimento de uma disciplins € pono indiscutivel. quase umn cuisme, Nao obstante, teams por esclarecor muitos problemas relativos is questdes retdricas: que aspectos se deve incorpaie, coma tem lugar a incorporagio dos avangos da uma diseiplina no easino?, coma deveria realizar-se2, ete, ete, ete 8.2 A minha experidncia universiiria © muita estreita com © easing édio através do contacto prolongado em numerosos cursos, confertncias,et., per mitesme concluic que incorporasao natural dos avangos de uma disciplina na dacen- cia € muito lena. O professor de lingua, salvo honeosts excepgdes, a fang dos seus anos de trabalho docente, nio costuma abandonar o ebmoxlo habiticulo que consis no perfodo de formago nas aulas da Universidade, Pode incarporar novas notes © opinibes sempre © quando ndo modifiquem as estrutuas bisicas do aprendido, Ainda que a Universidade seja mais permevel & difusai dis novidades atraves ds professores que se encontrar actualizados no seu campo de investigaga, a engscnagen dos planos de estudo é lenta. Sio muitas as universidades espanholas, por exemple, ‘onde ainda ndo se estudarndisciplinas como a praginica, a sociolinguisica, «psic- linguistics ‘Tomemos como ponto de referéncia a data de uma descobertarelavante, ei ‘maga a figorar nos futuros programas da disciplina. Passario uns vinte anow antes que (0 seu estudo se integre nos programas universiirios. Sé.com 0 acessa generalize 0 ‘universidade tal descoberta poders ating a maioria dos estudantes, Passariam, por ‘Sua vez, outros vile anos até que esta geragdo de estudantes constitusse uma antustea soviologicamente rlevante entre os professores do ensino méio. (© processo natural & muito lento, No obstant, exisiem catalizadores que po- dram acelerara sua implantagio. A iniciativa da eriagdo destes catalizadores tem de vir quase sempre de cima, iso é, das insttuigdes (em Espanha 0 Ministtio da Edu- ceagdo e da Cultura, as comunidades autGnomas, et.) Alguns destes factores de reno- vagio podem ser: 44) Maior Nexibilidade na modificagio dos programas universittios 'b) Roformas dos programas de ensino médio, ealizadas por parte do Minisério 6) Reforma dos programas de concursos para os corpos docentes: «d) Cursos de fermagio, quer obrigat6ros, quer inceativados; 2) Reforma de programas das livros de textos [Em todo o processo de aceleragdo encontram-se petigas evidentes que convém cevitar pelo senso comum 1). Nao convém introdurie metodologias abstrusas ¢ dificeis de compreender tanto pelos professores como pelos estudantes; 2) Nao convém que cheguem & docEncia modelos teéricos que no se tenham bhaseado na investigagio, O ensino deve incoeporae as deseabectas que tenhaim um forte suporte sociolégica na seio da comunidade de linguists. Existem experiéncias negativas com a incorporagio no ensino de alguns modelos geratvistas; 3) Deve-se procurar que terminologia na doctncia soja uniforme, mesmo cor- rendo o risco de se perderem algumas nuances importantes para o investigadcr. 4) Deverse procurar que 0s novos conteidos se adequem as capacidades de ccompreensio do aluno, 4.3 Reforma LOGSE em Bspanka Em Espanha iniciou-se durante 0s governos socialists uma reforma do ensino. Primeizo afectou a Universidade (L.R.Uz lei de Reforma Universtiria) e, posterior- ment, aplicou-se aos niveispré-universitérios: ensina primaio ¢ ensina secundério. Cristalizou-se numa lei orginica (LOGSE), que se aplicou primeiro de forma expe- imental ¢ gradual emt alguns centzos e que, na aetuaidade, se exceptuarmos 0s dti> mas niveis, se encontra praticamente generalizada, De facto, & hé alguns anos nos ‘chegam & Universidade alunos deste nova «bacilleraton, Qual a minha opinito global? Confesso que partilho de grande nimero de prinefpios gerais. Nao obstante, ereio que contém uma romantica inadequagio entre a teoria ¢ & pritica, Sem cheyar ao catastrofismo de muitos, ou de muitissimos, minha opinido € negativa. Baixaram de forma preocupante 0s niveis de exigencia, (Os lungs chegam mais mal preparados em todos 0s aspectos. Introduziram-se muitas, disciplinas secuedirias que subtraem horas is disciplinas bésicas. Lingua Espantola e Literatura Espanhola, que devem ser duas diseiplinas diferentes, foram reduzidas ‘um $6, Reduziram-se, do mesmo niodo, as horas de docéncia semanal. Como ey resultado, os alunos sabem menos gramtica e possuers um dominio instrumental ds lingua mais baixo: 30 redigem bem, nem pontuam ber, nem possuem Iéxico, come {em muitos eros de ortograia ‘ALOGSE realiza uma aposta claa em algumas opgdes do ensino }) Conteidsididltica. Inelina-se para esta stima componente, Considera que © nivel dos contetidos que se vinham leecionandy no ensino médio era exeessivn € desnecessério. Pelo contravio, o ensino falhava na fornia de os transmit. Como consequtacia, as cursos de actualizagio dos professores estdo cheias dedi ‘idéctica e mais diddctica. Bles proprios rolamam cursos de actual 2) Conhecimento interno da lingua/doninia instrumental da lagu, Consider Que 0 que o professor Ue lingua deve ensinar prioritatiamente & 0 dominio insu ‘mental: ensinar a falar € a eserever, Da cigncia lingufstica $6 Ihe interessain agucles discipfinas que podem ajudar nesta tarefa 3) Nivel de exigéncia. Os niveis de exigencia diminvitam consideravelmente. (© aluno pode passar de ano com duas dseiplinas em atraso, 4) Gramética/Novasdiseiplinas. Aqui se ouve 0 yrito dos novos prolessores ce latim: Detenda est grammatica. A sintaxe de nada scrve, A tese tradicional de que esta ajudava a expressar-se com correcgio éfalsa,Pelo contin, difunde-se a ideia, também falsa, de que a pragmaticae a linguistic do text (espacialmenteairavcs das nogées de coesio e de coeréncia)servirdo ao aluno para aprender a ced. 3) Linguagem normativa/Linguagem cologuial. © desenvalvimento dos estu os sobre o espanol coloquial assim como a crenga de que o jovem deve coahecer 8 Ningua que fala, so a causa que leva aque os professores¢ programadoces dos eure 0s fiquem obcecados com a linguagem coloquial, esquecendo a pritica da linguager escrta © a expressdo culta. O erro & gravissimo. A escola deve ensinar as esr ‘ecessdras para os alunos desenvolverem uma atividade sociale profissional digna, estratgias que a rianga ndo 6 eapaz de incorporar na furilia, no grupo. 6) Afastamento da Universidade. Critica-se facto de a formagao universiiia ler assentado excessivamente em contedides. Os curses de professores (CEPS) pede poueas vezes ajuda a professores universititios. E uma consequéncia da sua rticén cia perante a renovagdo e actualizagio cientitica, Como no caso da alnea I, 0 erro também imenso. 14 ndo confego nenhum professor que tena sido tum verdadsiro ‘mestre, que tena feito com que 0s alunos se apaixonassem, sem ser umn verdadeiro © apaixonado da sua matéria, BIBLIOGRAFIA ,Atgscos crac Grama de lengua epala, Maid, RAF, Espasa Calpe, 194, YM. Avance Menoez (ed), Teoria ue yen del ler Mea. Ab, 1987 5 aust Haw ve do ings wit words Tr. sop, Palabras ywcioen Banos Att Pa, 1962 Biatrsron Communication strategies. Pryholgca aa of tcond trea we, Oxf. ‘Blac, 1990 eM BUILES, Man delinguitque deserpiv, Le pointe re functors Nat Unis, 198 M. Casaus. M-Swans "Thortl tsi cnunanisatveapashes te ss ange Kh esting". Aid Linge, 1,180, pp. rey |A.Casrastoa Casto, Process de toc y prdecas grams comarca (def rl jv enespael om engusexanjer), Tei Decor, Univesad de Gran, $0. Conn. vr ats and inerdanuage, Oxo, Onford Univer Pas, 1982 1 Conoie uring applied linguini, Hsoodswort Penguin Election, 197, (Tea. spa: Tana ana a Lngaten tpi, Mesa Lies, 1992) 5. Gunter Quod "Never eins aa Ligsica Aspects dl compete eoauictva NT Matinee}. Scanned a eu 9 erat A Ta, 1996 Guns Owa0cr nto te emt fuinal, Madi, Sines, 198. S Gum Oni Laon finer, Mad, Aacafbos, 997 S. Gurennez Onno. Present dea pragatca, Uiveidad de Len 1996, S$ Guntwn:zOnnoi. Props de sai fnconal, Mai, Arcos, 197 1 Hrsnas*On cannons sonytene" J Pride € J. Hoes es) Readings scitnguste, Lond inyuia Hooks, 972, 15D. Kans Prins and practi in see guage agin, Oxf, Pergaon Pes 1982 5 0 Kesse The pt hypothesis sue nd gp eatin, Lone, Longin. 1985. Lavo Lines ars suture, Aan Atbor, Unies of Michigan Press. Tad i: Leagan y ‘ultra, Pain, 195) 11M. Licens "And abo: pega y cess cog otno panda angus In etre corre df nga ear nn, 88, pp 472-08 [A-Monnnr Syiue Renae Pai, Arand Cob, 1983 stata Boe" buh dew promt ars comunicar, Cable, 1 988, pp. 3628. FF Mareeon Grane comntatna del pf Hl, Nada, E,Difsin, 1988. 1 One Ouvants Crate y omnis" I rns internacional de eal con lengua rnapern, Maio, Mintona de Cli, 1934, p. 19-19. 1 Suan“ Spoceh Ace” (Tra. exp: "Aees de faba indicts" Torema, Vb 1978 2453) 1 Sonat pee as. An ess ine piano tangue, Cambridge, Cambie University Press, 1960 CT esp: eos cde habla, Madd, Cee, 1980) Sino, Un nel wal, Estabargn, Cargo de Ewopa, 179. Ps stacren “La ensetann de asus”, Congres den lngus expat, Sev, 1992, lito (Crater, 954, pp $0311 1. Vay Ex Te eld ee, Eurasbrgn, Coe of Eure, 1978 1. Wiccns Aon slbares, Ont, for Unversity Ps, 1976 1 Zax "aig y sts dea gas ena aoc isha y ence (I, Coble, 21988. p. 4-2. 4. aso "Psiclngsicn y iia de at eagus: ue atoimacion Hsien y cooepta Cab, 3 1989p. 22.2 as enel esto de a abcd dl esate, ‘Sela, 199, lsitao Cer 133

Você também pode gostar