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Epgrafe
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
Veio o mau gnio da vida,
Rompeu em meu corao,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furaco,
Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razo nem d
Ah, que dor!
Magoado e s,
S! meu corao ardeu:
Ardeu em gritos dementes
Na sua paixo sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
Esta pouca cinza fria...
1917
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Desencanto
Eu fao versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
No tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso sangue. Volpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vo...
Di-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do corao.
E nestes versos de angstia rouca
Assim dos lbios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu fao versos como quem morre.
Terespolis, 1912
Ruo
Muda e sem trgua
Galopa a nvoa, galopa a nvoa.
Minha janela desmantelada
D para o vale do desalento.
Sombrio vale! No vejo nada
Seno a nvoa que toca o vento.
L vo os dias de minha infncia
Imagens rotas que se desmancham:
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Chama e fumo
Amor chama, e, depois, fumaa...
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...
Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor chama, e, depois, fumaa...
Tanto ele queima! e, por desgraa,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...
Paixo purssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor chama, e, depois, fumaa...
A CINZA DAS HORAS
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Cartas de meu av
A tarde cai, por demais
Erma, mida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e s,
As cartas que meu av
Escrevia a minha av.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era j frio.
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Imagem
s como um lrio alvo e franzino,
Nascido ao pr do sol, beira dgua,
Numa paisagem erma onde cantava um sino
A de nascer inconsolvel mgoa...
A vida amarga. O amor, um pobre gozo...
Hs de amar e sofrer incompreendido,
Triste lrio franzino, inquieto, ansioso,
Frgil e dolorido...
O intil luar
noite. A Lua, ardente e terna,
Verte na solido sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia...
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um rudo vem de seda
Que se amarfanha...
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