Você está na página 1de 7
5494 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N." 202 — 1-9-1995 ASSEMBLEIA DA REPUBLICA Lei n.° 86/95 do 1 de Setembro Lei do besos do desenvolvimento agrisio A Assembleia da Repiiblica decreta, nos termos dos artigos 164.°, alinea a), 168.°, alinea n), € 169.°, n.° 3, da Constituigdo, 0 seguinte: CAPITULO 1 Principios e objectivos Artigo 1.° Asbo 1 — A presente lei dispde sobre 95 bases érit.que de- verd assentar a modernizaclo e o desenvolvimento do sector agrério, na observancia do interesse nacional. 2—Entende-se, para o efeito da presente lei, que © desenvolvimento agrario se reporta as actividades pro- dutivas © complementares associadas as exploracdes agricolas ¢ florestais, bem como as empresas agro- -industriais e agro-comerciais. Artigo 2.° Principios gerais A politica de desenvolvimento agrario obedece aos seguintes principios gerais: @) Principio da multifuncionalidade da agricultura, enquanto actividade econémica com impacte importante ao nivel social, ambiental e de ‘ocupagao do espaco rural; b) Principio da equidade nas condigdes de produ- io no interior do espago comunitério; ©) Principio da protecgdo das zonas afectadas por desvantagens naturais permanentes. Artigo 3.° Objectives dx poten agricole 1 —Na aplicagdo da presente lei deverdo ser pros- seguidos os seguintes objectivos estratégicos da politica agricola: 4) O aumento da produtividade ¢ da competitivi dade da agricultura ¢ a melhoria da situacao econémica e social da populacéo agraria; ) O racional aproveitamento dos recursos natu- rais, com preservaco da sua capacidade rege- nerativa ¢ estimulo as opebes culturais mais compativeis com as condigdes agro-climaticas com as exigéncias qualitativas dos mercados, com vista a assegurar um nivel adequado de se- guranga alimentar; ©) A preservagao dos equilibrios sécio-econémicos no mundo rural, no reconhecimento da multi- funcionalidade da actividade agricola e da sua importancia para um desenvolvimento integrado do Pais. — Para prossecugdo dos objectivos da politica agri cola, deverd promover-se, designadamente: @) A valorizagio dos recursos humanos, através da formacao profissional dos agricultores, traba- Ihadores rurais e outros agentes do sector, e do incentivo a exploragdo directa da terra ¢ a fi- xado de jovens agricultores; 4) O emparcelamento ¢ redimensionamento das exploragdes minifundiarias e o incremento das dreas irrigadas, da florestagio e da silvo- -pastoricia, no ‘sentido do melhor aproveita- mento dos solos de marcada aptidao agricola € da reconversio dos de utilidade marginal para a agricultura; ©) A organizacao dos mercados agricolas e silvi- colas € a melhoria da efi comercial, pelo apoio & modernizacdo da indiistria e do comér- ~ clo agro-alimentar e agro-florestal e & sua lo- calizagdo nas regides da produgdo, bem como pelo estimulo ao cooperativismo e ao interpro- fissionalismo, visando uma maior integragao das fileiras produtivas 4) O reforco do associativismo sécio-profissional ¢ sécio-econdmico, na perspectiva da participa- sao dos agricultores na definicéo da politica agricola e na transformagao e comercializagao das respectivas produgdes; ©) A reducdo das atribui¢des do Estado no sector agricola, com transferéncia progressiva de fun- Ges para as organizagdes agricolas e interpro- fissionais; J) O desenvolvimento da investigacao, experimen- tacdo e vulgarizacao rural, designadamente para os subsectores em que se impde uma especiali- zasao da producao nacional; 8) A valorizacao qualitativa da produgdo, pela rantia da tipicidade e genuinidade dos produ- tos regionais e pelo apoio ao controlo de qua- lidade nas empresas ¢ promogdo comercial dos produtos nacionais; ft) O apoio ao desenvolvimento de actividades complementares associadas A exploragdo agri- cola, em particular nas zonas com con: naturais mais desfavoraveis ou com ecossiste- mas especificos, na perspectiva de integracéo dos rendimentos resultantes da exploragdo € preservacao dos recursos econémicos, paisagis- ticos ¢ ambientais do espago rural. CAPITULO IL Do agricultor ¢ das organizagies agricolas SEcgAo I Do agricuitor Antigo 4.° Agricaltor © agricultor constitui 0 suporte fundamental da mo- dernizagao do sector, devendo promover-se a sua ha- bilitagdo profissional, tendo em vista a melhoria da es- N.® 202 — 1-9-1995 trutura produtiva ¢ organizativa da actividade agricola, por meio do ensino, da formacao profissional e da vul- garizagao. Artigo 5.° Protecsto social 1 — As medidas de protecc&o social na agricultura visam a melhoria das condigées de vida da populacdo agréria, no sentido da equiparagao efectiva do seu es- tatuto a0 dos demais trabalhadores. 2 —O regime contributivo da seguranca social dos agricultores e dos trabalhadores rurais serd informado pelo principio da unidade com as outras categorias pro- fissionais. Artigo 6.° Rejuvenescimento do tecido empresaral 1 — A instalagdo de jovens agricultores, como forma privilegiada de revit do tecido empresarial agré- tio ¢ do meio rural, devera ser objecto de incentivos especificos. 2 — As medidas incentivadoras da cessagéo anteci- pada da actividade dos agricultores mais idosos visam contribuir para o ajustamento estrutural da populacao activa agrdria e para a melhoria da estrutura func ria, com rejuvenescimento do tecido empresarial da agricultura ¢ aumento da dimensdo das exploragdes agricolas nas zonas de minifiindio ou nas que se ca- racterizam por uma excessiva fragmentagdo da proprie- dade. 3 — O Governo estabelecerd as condigdes € os incen- tivos a instalacdo de jovens agricultores ¢ A cessacao antecipada da actividade agricola. Sec¢Ao IT Des orpanizagbes agrcoles Artigo 7.° ‘Associativieme séclo-econdmico ¢ sécio-profissionsl © Estado incentivara todas as formas de associati- vismo agricola que, numa perspectiva sécio-econémica € socio-profissional, promovam os objectivos consagra- dos nesta lei, no respeito fundamental pelas vocades préprias que as norteiam. Artigo 8.° Acordos de colsborssio 1 — Através de protocolos celebrados com 0 Minis- tério da Agricultura podem as organizacées agricolas, no Ambito das atribuicées que Ihes so préprias, assu- mir 0 desempenho de acgdes cometidas ao Estado. 2.— A transferéncia referida no mimero anterior far- -se-4 sem prejuizo da salvaguarda do principio da igual- dade de oportunidades e do exercicio dos poderes de autoridade que ao Estado incumbe garantir na defesa do interesse piiblico, designadamente no controlo da qualidade do desempenho e dos resultados obtidos pe- las organizagdes agricolas subscritoras dos protocolos. DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A 5495 Artigo 9.° Interprotissionelismo 1 — 0s acordos interprofissionais, que o Estado su- pletivamente pode reconhecer, promover ¢ apoiar, cons- tituem um instrumento preferencial na concertago dos interesses entre a produgdo, 0 comércio ¢ a industria. 2 — O Estado incentivard as iniciativas que tenham por objectivo o desenvolvimento de formas de contra- tualizagdo com os agentes do sector agrario. Artigo 10.° ‘Orgios consultivos Dever funcionar junto da Administragao Piiblica ér- giios de consulta, nomeadamente interprofissionais, que assegurem a parlicipagdo das organizacdes representa- tivas dos intervenientes nas actividades agrarias, na de- finigéo da politica agricola e, designadamente, na re- gulamentacio da presente lei. Artigo 11.° Acompanhamento e avallacto ‘As entidades competentes para a aplicagdo das poli- ticas € programas para o sector agrario devem elabo- rar relatérios de avaliagao anual, tendo em vista a in- formagao ¢ © acompanhamento pelos interessados das opsdes ¢ critérios de afectacdo dos recursos piiblicos postos & disposigéo do sector. CAPITULO IIL Dos recursos naturais Artigo 12.° Principios gerats 1 — O desenvolvimento sustentado dos sistemas pro- dutivos agricolas, no longo prazo, depende da salva- guarda da capacidade produtiva dos solos, da disponi- bilidade ¢ qualidade dos recursos hidricos ¢ da conservagdo da biodiversidade associada @ fauna e & flora. 2—Os métodos de produgdo agréria devem ser compativeis com uma utilizagao econémica ¢ ecologi- camente racional dos récursos naturais que Ihe servem de suporte, bem como ser baseados em tecnologias que nao induzam efeitos negativos irreversiveis sobre 0 am- biente, Secgao I Dos solos © da sun utitzarso Artigo 13.° Ordenamento 1 — Deve ser promovida a utilizagdo racional e or- denada dos solos com aptidao agricola que assegure a conservacdo da sua capacidade produtiva e uma pro- 5496 DIARIO DA REPUBLICA — 1 SERIE-A N° 202 — 1-9-1995 tecedo efectiva contra a erosdo € contra a poluicdo qui- mica ou organica. 2 — 0 ordenamento na utilizagto dos solos tem por objectivo fundamental garantir o racional aproveita- mento daqueles que revelem maiores potencialidades agricolas, pecudrias ou florestais, mediante a sua afec- tagdo Aquelas actividades, e no respeito do regime do uso, ocupacao ¢ transformagdo do solo decorrente dos instrumentos de ordenamento do territério. 3 — Para prossecuedo dos objectivos enunciados nos niimeros anteriores, incumbe ao Governo a definic&o da Reserva Agricola Nacional ¢ das normas que regu- lamentem a sua utilizacdo, tendo em vista a preserva- 80 dos solos de marcada aptiddo agricola. Artigo 14.° Propriedade ¢ uso da terra 1 — A terra, como suporte fisico fundamental da co- munidade, € valor eminentemente nacional, devendo respeitar-se a sua funcdo social, no quadro dos condi- cionalismos ecolégicos, sociais ¢ econdmicos do Pais. 2— A propriedade privada e a exploracdo directa da terra e dos recursos que Ihe estdo associados é reco- ‘nhecida como a forma mais adequada modernizacdo sustentada do sector agricola, devendo o Estado incen- tivar 0 acesso & propriedade da terra por parte dos agri- cultores, em particular quando titulares de exploragdes agricolas do tipo famili 3 — O regime do uso da terra é imperativo relati mente aos solos contidos na Reserva Agricola Nacio- nal ¢ cuja area seja superior & unidade minima de cul- tura, nos termos a fixar em legislacao prépria SECCAO IT De tgue © do seu aproveitamento Artigo 15.° Gestho integrada 1 — A utilizacdo dos recursos hidricos pela agricul- ttira, no Ambito da gestdo integrada dos recursos hi- dricos nacionais, deve orientar-se no sentido do desen- volvimento de sistemas produtivos mais bem adaptados as condicBes edafocliméticas do territério portugués € ter em conta a aptidio natural dos solos a beneficiar pela irrigacdo. 2— A actividade agricola deve prosseguir uma ¢s- tratégia de prevengdo da contaminacao € poluigao dos lengéis fredticos ¢ das Aguas superficiais, tendo em vista a manutengo da qualidade da dgua para os fins mul- tiplos a que se destina, Artigo 16.° Fomento agricola 1 — Deverd ser incentivado 0 aproveitamento das disponibilidades em recursos hidricos para a agricultura, através da concesso de apoio puiblico a empreendimen- tos hidroagricolas ou de fins miltiplos, bem como & ‘constituicdo das respectivas associagdes de regantes, no caso dos regadios colectivos. 2 — Nas zonas de montanha seré incentivada a me- Ihoria dos sistemas tradicionais de rega de cardcter co- lectivo. 3 —E obrigatéria a audicdo prévia das organizagdes, representativas dos agricultores abrangidos por obras de fomento hidroagricola de interesse nacional ou re- gional e a aprovacdo maioritéria dos agricultores abran- gidos por obras de interesse local ou particular. 4 — Os beneficiérios de cada obra de fomento hi- droagricola de interesse local ou particular suportarZo integralmente as despesas de conservacdo e ficam obri- gados ao reembolso de, pelo menos, parte do custo da obra. SecgAO IIT De fioresta Artigo 17.° Proteego da foresta 1 — A conservacio e valorizacao do patriménio flo- restal nacional constitui uma base essencial do desen- volvimento agrério sustentavel, num quadro de orde- namento do territ6rio e de satisfacdo das nevessidades Presentes ¢ futuras da sociedade. 2 —O Estado incentivard e apoiard a adopeao de medidas especificas de proteccao € beneficiacao do pa- triménio florestal. Artigo 18.° Desenvolvimento florestal 1 — Tendo em conta a sua especificidade, a politica florestal nacional sera objecto de lei especial, que de- verd abranger os patriménios florestais piiblico, privado ¢ comunitério, que atenda a compatibilidade das dife- rentes fungdes da floresta e & diversidade dos sistemas florestais presentes no territério nacional ¢ que fomente a sua expansdo, designadamente pela reconversdo das reas de aptidao agricola marginal. 2 —O desenvolvimento agrario considera, para to- dos os efeitos, a silvicultura como parte integrante da agricultura, Secgao IV Outros recursos naturals Artigo 19.° Flore ¢ fauna 1 —A flora e a fauna constituem elementos a pre- servar e valorizar nos espagos envolventes da actividade agricola, quer como valores ecoldgicos e de patrimé- nio genético, quer como meios de utilizagio econémica numa base sustentavel. 2— A manutencao da diversidade bioldgica, asso- ciada a flora ¢ a fauna, deve ser fomentada no qua- dro do ordenamento do espaco rural, devendo as acti- vidades produtivas sujeitas a restricdes nos métodos ¢ técnicas de produgdo agraria beneficiar de apoios com- ensatérios dos eventuais efeitos negativos sobre 0 ren- dimento. N° 202 — 1-9-1995 Artigo 20.° ‘Outros recursos naturals 1 —O fomento, exploragao e conservagao de outros recursos naturais, designadamente cinegéticos, piscico- las € apicolas, associados ou ndo ao patriménio flo- restal, representam um contributo importante para 0 aproveitamento integrado € sustentdvel do espaco rural. 2— Sem prejuizo de regimes juridicos especificos aplicdveis a cada um dos recursos, deverdo ser promo- vidas e adoptadas as formas de gestdo que conciliem, a longo prazo, a sua utilizacdo econémica com 0s equi- Mbrios ecolégicos, no respeito do direito de propriedade da terra, CAPITULO IV Da empresa agricol Artigo 21.° Ambito 1 — Para efeitos da presente lei, integram-se no con- ceito de empresa agricola a) A empresa agricola de tipo familiar, suportada pela exploracdo agricola cujas necessidades de trabalho s4o asseguradas predominantemente pelo agregado familiar do respectivo titular, e ndo pela utilizagdo de assalariados permanentes; +) A empresa agricola de tipo patronal, suportada por exploragdes agricolas cujas necessidades de trabalho so asseguradas maioritariamente por assalariados permanentes, ¢ ndo pelo agregado familiar; ©) A empresa agricola sob a forma cooperativa. 2—A politica agraria trata com equidade os dife- rentes tipos de empresas, sem prejuizo de existirem in- centivos diferenciados a estabelecer em funcdo da con- tribuicdo destas para os grandes objectivos estabelecidos no quadro da presente lei. Artigo 22.° Moderaizagio da empresa agric 1 —Tendo em vista a modernizagéo da empresa agricola, sero prioritariamente incentivados: 4) Os investimentos orientados para conferir via- bilidade econémica e capacidade concorrencial ao potencial produtivo da exploracao agricola; b) O redimensionamento da exploracdo agricola que Ihe serve de suporte, a sua inovagao e mo- dernizagao tecnoldgica; ©) As acedes que promovam a qualidade dos pro- dutos agricolas, a adequacdo da producdo agri- cola as oportunidades do mercado e as prati- cas agricolas compativeis com o ambiente; @) O desenvolvimento de actividades conexas ou complementares & exploracéo agricola; ¢) A melhoria das condigdes de vida e de traba- Tho nas exploragées; JD) A compatibilizacao da actividade agricola pro- dutiva com a preservagao dos recursos naturais. DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A 5497 2— Nas zonas agricolas desfavorecidas 0 processo de modernizagao da empresa agricola obedecerd a um regime especifico. 3 — Sdo igualmente medidas incentivadoras da acti- vidade das empresas agricolas a criagdo de condigdes de competitividade dos custos dos factores de produ- do ¢ de um regime de seguro adaptado as particulari- dades da actividade agricola, bem como a criaglo de estimulos que evitem a fragmentacdo de empresas agr!- colas bem dimensionadas. Artigo 23.° Gestho 1 —A gestéo da empresa agricola deve apoiar-se num sistema de informagao contabilistica. 2— Ao Estado cabe incentivar a melhoria da ges- to das empresas agricolas. Artigo 24.° Cooperasio entre empresas agricolas 1 —O associativismo agricola € reconhecido como instrumento privilegiado no desenvolvimento agrério. 2— Para 0 efeito do ntimero anterior, na sua ver- tente econdmica, sao consideradas: @) As cooperativas agricolas ¢ suas estruturas de grau superiors b) As caixas de crédito agricola mituo ¢ suas ¢s- truturas de grau superior; ©) As sociedades de agricultura de grupo ¢ suas estruturas de grau superior; 4d) Os agrupamentos complementares de empresas agricolas; €) Os centros de gestdo; A) Os demais tipos de organizagdes de agriculto- res ou constituidas predominantemente, em nti- mero de aderentes ¢ em capital, por’ agricul- tores. Artigo 25.° Incentives no sector sgrério © Estado promoverd a regulamentagdo, necesséria a0 estabelecimento de incentivos especificos ao sector agré- rio, nomeadamente no que respeita ao regime de ins- talacdo de jovens agricultores, as organizacSes de agri- cultores € as acpdes que visem ganhos de produtividade acréscimos de competitividade. CAPITULO V Dos mercados agricolas Artigo 26.° Organizacio dos ereados agricolas No contexto do mercado interno, 0 funcionamento dos mercados agricolas rege-se pelas regras gerais da economia de mercado, sem prejuizo dos mecanismos de regularizacdo previstos nas respectivas or; comuns de mercado ¢ das medidas estruturais de apoio & melhoria da fluidez e da transparéncia dos circuitos de comercializacao. 5498 DIARIO DA REPUBLICA ~ 1 SERIE-A N.2 202 — 1-9-1995 Artigo 27.° rizagdo comercial dos produtos 1—Como contributo para a melhoria do rendi- ‘mento em cada fileira agro-alimentar, ser& prosseguida ‘uma orientacdo no sentido da valorizagdo comercial dos produtos.agricolas, através de apoios & modernizacdo das estruturas de transformacdo ¢ comercializacdo ¢ a acgbes promocionais visando a acreditagao dos produ- tos alimentares junto do consumidor. 2.— Estado poderd apoiar a criagao de um fundo de promogdo agro-alimentar, com a participacéo das organizagées da produgio ¢ do comércio agro- imentar, com 0 objectivo genérico de promogéo da imagem dos produtos portugueses ¢ de pesquisa de oportunidades no mercado, designadamente dos pro dutos que, pela sua qualidade reconhecida ¢ adaptabi- lidade as condicdes agro-climaticas, revelem maiores po- tencialidades de desenvolvimento. Artigo 28.° Comercilizacio directa ¢ interprofissio 1 — Pela concesso de incentivos e de ajudas apro- priadas, o Estado promoverd a organizacao dos pro- dutores para a comercializacdo dos seus produtos, apoiando a reestruturagdo do sector cooperativo ¢ a constituico de outros agrupamentos de produtores. 2—O Estado apoiaré igualmente a celebragao de acordos interprofissionais, de natureza vertical, visando ‘a orientagdo da produco agricola para o mercado, de- signadamente pela melhoria da qualidade, pela promo- do comercial e pela inovacao. 3 — As condigdes em que o normativo dos acordos interprofissionais poderd ser extensivo a globalidade dos agentes da respectiva fileira agro-alimentar ou agro- -florestal serdo estabelecidas por lei propria. Artigo 29.° Garnatia agricole ‘Ao Estado compete a gestdo rigorosa dos fluxos fi- nanceiros comunitérios € nacionais destinados ao fun- cionamento das organizardes comuns de mercado, po- dendo para tanto recorrer ao apoio operacional do sistema bancério. Astigo 30.° Qualidede alimentar 1—A promosio, a qualificagdo ¢ 0 controlo da qualidade dos produtos alimentares sao reconhecidos como uma opeo estratégica para o desenvolvimento agricola ¢ para a methoria dos rendimentos no sector, tendo por objectivos: 4) A valorizacdo das potencialidades econdmicas da agricultura; 6) A salvaguarda dos valores culturais subjacen- tes aos géneros alimenticios com particular ex- pressdo tradicional e regional; ©) A proteccdo do consumidor em matéria de saiide e de seguranca; @) A proteccdo do ambiente € dos recursos natu- ais. 2 — A qualificagdo dos produtos, bem como dos ser- vigos e das empresas agro-alimentares, compreende a cettificagdo dos produtos com especificidades proprias ices particulares de produgdo ¢ o reconhecimento dos sistemas de gestéo da qualidade das 3 —O controlo da produsfo e a certificagao da qua- lidade dos produtos agricolas géneros alimentares de- verdo ser exercidos por entidades privadas devidamente reconhecidas, de natureza profissional ou interprofis- sional, em obediéncia aos critérios gerais do sistema na- cional da qualidade. 4 — 0 controlo oficial da qualidade tem como ob- jectivos basicos: @) A verificagdo da qualidade dos produtos ali- mentares ¢ das exigéncias tecnolégicas do seu fabrico; b) A salvaguarda da saide publica; ©) A prevengdo e repressio das infracedes antie- conémicas e a garantia da leal concorréncia, Artigo 31.° Defesa da snide piblica A defesa da satide publica no dominio alimentar ser prosseguida pelo rigoroso controlo da observancia da regulamentagdo especifica dos produtos alimentares ¢ pelo estabelecimento de sangdes dissuasoras da utiliza- so de produtos, de aditivos ou de praticas interditas pela lei. Artigo 32.° ‘Autoridade © acrio supletiva do Estado 1 — No Ambito dos mercados agricolas, compete a0 Estado 0 exercicio da fungdo de controlo e de fiscali- zacao do cumprimento da regulamentacao, de modo a assegurar © respeito pelas regras de concorréncia, a qualidade dos produtos ¢ a defesa da saide piblica. 2— Supletivamente & iniciativa privada, o Estado poderd promover ou dinamizar projectos empresariais de importancia estratégica para o desenvolvimento do sector agro-alimentar, preferencialmente pela participa- 40 com capital de risco, bem como facultar a infor- magio de conjuntura sobre mercados agricolas. CAPITULO VI Politica de modernizacio e racionalizagio Objective 1 — 0 objectivo da politica de modernizacao ¢ ra- cionalizagio das estruturas é 0 de criar capacidade com- petitiva a todos os niveis do complexo agricola ¢ agro- industrial, nomeadamente através de: 4) Incentivo a realizagdo de investimentos de mo- dernizagdo e racionalizacéo infra-estrutural € tecnolégica; b) Fomento da inovacdo e diversificagao agricola © agro-industrial; N.° 202 — 1-9-1995 DIARIO DA REPUBLICA ~ I SERIE-A 5499 ©) Promogao de maior mobilidade do factor terra €, por essa via, melhor redimensionamento das estruturas fundidrias; 4) Rejuvenescimento do tecido empresarial agri- cola; ©) Reforgo da capacidade de intervengao do asso- ciativismo agricola sécio-econémico e sécio- -profissional; Jf) Aumento do grau de transformagao dos pro- dutos agricolas; #8) Maior intervencio e eficiéncia do sector comer- cial. 2 — As acgdes a desenvolver sao as que derivam da aplicagao a Portugal da regulamentacao comunitaria, ‘bem como das medidas nacionais subsididrias e que se- jam compativeis com o direito comunitdrio. Artigo 34.° Apolos & modernizagio agricola 1 — As politicas de modernizagao ¢ racionalizagao das estruturas traduzem-se, fundamentalmente, na con- cessio de incentivos a empresas agricolas, agro- -industriais e agro-comerciais e & criagdo de infra- -estruturas colectivas, com especial destaque para as que contribuam para a valorizag4o do patriménio fundid- rio e para a fixacdo da populagdo rural, 2— A modernizagao das estruturas de transforma- so comercializacdo serd orientada para a melhor da competitividade dos produtos no quadro da Unido Europeia, privilegiando a concentracdo de capacidade J existente e a integraco vertical em cada fileira agro- alimentar, tendo em vista: a) A modernizagao tecnoldgica e a protec¢ao am- biental; 2) O reforgo da capacidade técnica e organizativa das cooperativas agricolas; ©) A inovagdo e a generalizacao da fungdo quali- dade. 3 — Os apoios & modernizagao sero apreciados me- diante a elaboragdo de projectos aos quais seja reco- nhecida a viabilidade econémica, podendo ser diferen- ciados, regional ou sectorialmente, em termos a regulamentar pelo Governo. Artigo 35.° Extruturasio fundidria 1 —A estruturagdo fundidria tem por objectivo a melhoria da dimensao fisica e da configuracéo das ex- ploragdes agricolas, por forma a criar as condigdes ne- cessérias para um mais racional aproveitamento dos re- cursos naturais. 2—Constituem acgdes de estruturacdo fundiaria: a) As acgdes de emparcelamento ¢ medidas cone- xas de valorizagao fundidria; ) A existéncia de um regime juridico dissuasor do fraccionamento de prédios risticos, quando dele resultarem unidades de area inferior & minima definida por lei ©) A existéncia de bancos de terras. Artigo 36.° Emparcelamento 1 — Nas regides onde a estrutura fundiérla se apre- sentar fragmentada e dispersa, em termos dé impedir 1 viabilizago econémica do aproveitamentd’agricola dos recursos naturais, devem ser desenvolvidas acces de emparcelamento, prioritariamente quando 0s respec- tivos solos integrarem a Reserva Agricola Nacional 2.— As acgdes de emparcelamento podem ser da ini- ciativa dos particulares, das organizagdes agricolas, das autarquias locais ou do Estado, nos termos definidos por lei. 3 — O Governo regulamentard os incentivos & reali- zago das acgdes de emparcelamento, quando destes re- sultarem exploragdes com uma érea minima a fixar por lei. 4 — 0 regime juridico referido no numero anterior sera igualmente aplicdvel & aquisicao de terrenos con- tiguos que permitam o redimensionamento da explo- ragdo agricola, bem como & aquisigdo de quotas ideais nos casos de compropriedade ou comunhao de bens, quando dessas operagdes resultarem dreas contiguas mi- nimas susceptiveis de comportarem uma exploracdo agricola economicamente viavel. Artigo 37.° Banco de terras Nas zonas submetidas a medidas de estruturacdo fun- didria o Estado pode adquirir, pelas formas previstas na lei, terrenos destinados a constituico de bancos de terras para utilizagdo nas referidas acgdes. Artigo 38.° Arrendamento rural 1 —O regime de arrendamento rural deve garantir ‘a0 proprietério a rentabilidade do capital fundiario & assegurar ao rendeiro a estabilidade necesséria a0 exer cicio da actividade agricola. 2 — Com vista a um mais facil acesso dos arrenda- tarios a propriedade da terra, deverdo ser criados in- centivos especificos. CAPITULO VIL Quadro de acgdes especificas Artigo 39.° Ambito © quadro de acgdes especificas de desenvolvimento agrario € constituido pelas acgdes que se integram nas seguintes politicas: ) Politica de apoio aos rendimentos; ) Politica de intervengdo nas zonas desfavore- cidas; ©) Politica de investigacdo agraria. 5500 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N.° 202 — 1-9-1995 Artigo 40.° ‘Apolo 0s rendimentos 1 —A politica de apoio aos rendimentos tem por odjectivo a promocao do equilfbrio ¢ vitalidade do te- cido sécio-econémico das zonas rurais, mormente das mais desfavorecidas, pelo apoio directo aos rendimen- tos dos produtores agricolas ¢ pela criagdo de condi- Ges de dignificagdo da vida das populagdes rurais. 2—A politica de apoio aos rendimentos com- preende, nomeadamente, a remunera¢do dos agriculto- res pela prestacdo de servigos que visem a conservagdo de recursos e a preservacdo da paisagem no espaco ru- ral, com base na adopcdo de tecnologias, sistemas actividades produtivas compativeis com aqueles objec- tivos. 3 — A titulo de compensagdo por desvantagens na- turais permanentes ou de eventuais desequilfbrios do mercado, poderd o Governo constituir um fundo de compensagdo agricola ¢ desenvolvimento rural. Artigo 41.° Intervengio nas zonas agricolas destavoreckias 1 — Nas zonas agricolas desfavorecidas pode 0 Go- verno determinar a realizagdo de programas especiais de desenvolvimento rural 2 — Os programas especiais de desenvolvimento ru- ral seréo definidos em func&o da especificidade que cada zona abrangida venha a apresentar ¢ englobard um conjunto alargado de medidas, designadamente: a) Defini¢do do quadro especifico de prioridades, derrogacdo de exigéncias e de majoragio de apoios nos programas de incentivos dos mini trios com intervencdo na actividade econémi 1b) Defini¢do de quadro especifico de prioridades nos programas de investimentos piiblicos em matéria de ensino, formacdo profissional, satide piiblica, rede vidria, electrificacdo ¢ telecomu- nicagdes. Artigo 42.° Investgagio sprite 1 — 0 Estado reconhece o papel fundamental da in- vestigacdo agréria, como elemento imprescindivel do desenvolvimento agrério. 2 — A investigagdo agrdria deve ter em conta as ne- cessidades do mercado ¢ dos agricultores, designada- mente as tendéncias de desenvolvimento da indistr agro-alimentar ¢ dos hébitos de consumo, ¢ dirigir-se especialmente para os sectores produtivos mais bem adaptados as condigdes naturais do territério nacional. 3 — A investigagdo agrdria deve ser orientada para a resolugdo dos problemas concretos da actividade agré- ria, de tal forma que esta possa ser: 2) Compativel com a utilizagdo sustentével dos re- cursos naturais ¢ a defesa do ambiente; b) Inovadora compet ©) Fonte de rendimentos equipardveis aos outros sectores da economic 4— Para far os objectivos anteriores, a inves- tigagdo agréria deve promover: 2) O desenvolvimento dos conhecimentos cientifi- cos em contacto préximo com a investigaco fundamental ¢ aplicada, 0 desenvolvimento ex- perimental ¢ as empresas ¢ organizagdes agré- rias; 4) Uma informagao cientifica agréria eficaz, vi- rada para o exterior, em particular para os téc- nicos € agentes econémicos do sector agrdrio. — 0s agricultores e suas organizag6es devem par- ticipar nas tomadas de deciséo, acompanhamento avaliacéo dos organismos de investigagdo agrat CAPITULO VIII Disposigdes finais © transitérias Artigo 43.° Desenvolvimento di lel © Governo fard publicar a legislacdo complementar necessdria para o desenvolvimento da presente lei. Artigo 44.° Areas exproprindas ¢ sacionalizadas 1— As areas expropriadas e nacionalizadas 20 abrigo das leis que regularam o redimensionamento das unidades de exploracdo, efectuadas na zona de inter- vencdo da reforma agréria, poderdo ser revertidas, atra vés de portaria conjunta do Primeiro-Ministro e do Mi- nistro da Agricultura, desde que se comprove que regressaram & posse dos anteriores titulares ou & dos respectivos herdeiros. 2— A reversdo poderd ainda ter lugar nos casos em que as dreas referidas no mimero anterior se encontrem a ser exploradas por rendeiros ¢ estes declarem no que- rer exercer 0 direito que Ihes € conferido pelo Decreto- -Lei n.° 341/91, de 19 de Setembro, devendo contudo 08 seus direitos como arrendatérios ficar expressamente salvaguardados. Artigo 45.° Norma revogatéria E revogada a Lei n.° 109/88, de 26 de Setembro, com a redaccéo introduzida pela Lei n.° 46/90, de 22 de Agosto, mantendo-se, no entanto, em vigor os Decretos-Leis n.°* 158/91, de 26 de Abril, e 349/91, de 19 de Setembro. Aprovada em 8 de Junho de 1995. Presidente da Assembleia da Republica, Antdnio Moreira Barbosa de Melo. Promulgada em 8 de Agosto de 1995. Publique-se. Presidente da Repiiblica, MARIO SOARES. Referendada em 11 de Agosto de 1995. Pelo Primeiro-Ministro, Manuel Dias Loureiro, Mi- nistro da Administracao Interna,

Você também pode gostar