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Issues Revista BRASILEIRA DE CIENCIAS CRIMINAIS no #0 106 9-018 Prsiseie sna Sao Maun Comes coercers36 isc fous ces cet eva gozam d mis al race de epi ee crs, cabendodtes = st Seaton e NTORS RESTA DOS TIBUNAI LOS, Dyes eons (sete Par {Baleu peal gor gunperme a reseso = be 11998 ‘Pat De RELACONAYENTO RF (straint, er gazes dn B38 179 Ye, on. 702-208, saeco Inslarigoamonsonreute.com 0 desta eit 20092013 — iB CRIMINOLOGIA CRITIC DIMENSOES, SIGNIFICADOS E PERSPECTIVAS ATUAIS Citic criminology current dimensions, meanings and perspectives ‘Sato pe CARVALHO Profs ears do Pata de Por aot seus Dour UFR «ese ESE an ren vo Dans Reson: A iesignie arse os Hue Secrest wore 3 Secreta begin ot fal cmiroogy sey srevte to gare pe as ees oe siren pig on ewan: maa084 posae gras 4.2.4 constante revisio conceitual, aliada a pluralidade de diregdes ea in rac2o com os movimentos sociais, impulsiona, pois, desenhar a segunda agenda da criminologia critica: agenda positva cotejando-os com a pritica’, pois "..) €na prixis que o ser humano tem que com provar a verdade, isto ¢,aeftividae eo poder, errenalidade do seu pensa FE Mery acrescentava: a contioversia care 8 re ‘mento ~isolado da praxis ~ sto inerigadas, imterdependentes. ceoria um momento necessaro da praxis (essa necsssidade nao ¢-um Inxo: € ums earacteristica que disingue a préeis dss abvidedes meramente repetitivas,cegas, mecanica, op. cit, pI Roberts tyra nologia do die Emer 1972, p 48.52) mance: 0 que ia ales, 10.8 4L. "Os fldcofos tem confers, Anyar de Cas eo, op. ell, p. 160-178; Ca 270-311; Wace, Mor ve (org ). Dire 201. p. 135-160. a ee AT 294 Resi Besuna ue Cenaas C tis 2018 # RBCCout 104 Logicamente que a perspectiva negativa se projeta como acao deslegitima- dora das praticas pumitivas. No entanto esta circunstancia nao incapacita a roposicéo de pautas positivas (construtivas) quie, em decorréncia da hetero- geneidade das perspectivas, constituem-se como projetos politicos de distintos alcances; como plataformas de curto, médio e longo prazo: ov, apenas, como utopias concretas, Conforme o nivel de agudizacao da critica, ou seja, o maior ‘ou menor grau de deslegitimacdo ao sistema punitivo, as perspectivas politico vas variam e podem ser apresentadas da seguinte forma I modelo tedrico-normativo neopasitivista, direcio nado a pritica judicial, fundamentado na defesa das regras do jogo processual penal como forma de tutela dos direitos fondamentais contra o poder pun Vo. Incorpora as pautas politico-criminais do direito penal minimo e refuta 0 abolieionismo 2.a) Direto penal minbmo: movimento pritico-teorico de critiea aos cr ios de selecto da relevancia dos bens juridicos tutelados pelo direi (politicas de descriminalizacdo}; de critica aos critéries quantitativos € quali lativos de determinacao das penas (pobiticas de despenalizacio) ¢ de critica a forma carcerizia de pena privativa de liberdade (politicas de descarcerizaca0 € de implementacio de substitutivos penais). As perspectivas do direito penal rminimo tendem entre a critica (garantismo) ¢ a defesa do abolicionismo ~ na formulacio de Zaffaroni, por exemplo, o dicito penal minimo “(..) nao [pode como passages aque este hoje pareca”** transite para o abolicionismo, por mais inaleancit 19 do dirito penal: movimento pratico-teérico, derivado do direito, que procura, a partir da atuacao dos atores jurici orar as Jacunas e as contradi ‘© garantismo penal em razao da profunda eritica ao positivismo juridico e da aproximacie epistemologica coma sociologia de direito, situagae que permite ‘explorar, de forma virtuoss, o pluralismo juridico. de experts (criminol6ges), em instituigdes geridas por partides politicos de esquerda, objetivando diminuir a seletividade, reduzir os danos da eriminali- zacao ¢ da prisionalizacto e ampliar © tol de alternativas ou substiutivos pe nats, Frojeta,igualmente,« consirucao de politicas pablieas de reforma soci como forma pragmatica de prevencao da criminalidade. & perspectiva realista €é questionada, sabretude, pelos tebricos do abolicionisme que percebem o atu ar na gestao da sistema penal como um movimento de relegitimacao do poder panitivo.* 5.2) Abolicion i: movimento pratico-teorico qu estategias para a superacdo do sistema penal, das agencias + palsies conservade- exemplo). Sobre as pers 296 Rewsia Brasisnn oe Cdwcus Chiamins 2013 © ABCC resposta estatal, enfatizando a necessidade de criagao de mecanismos de pro- teclo © tutela as viimas — quanio mais grave o deli, maior deve ser o apoio estatal as vtimas, Enfatiza a criagao de espacos de mediagao e de mecanismos alternativos para a resolugto de conflitos, através da supesacdo da logica car cerocentrica.” 43 A pluralidade de perspectivas, em alguns pontos mitidamente coniltiva (questio relativa a0 abolicionismo versus gra taculiza, porém, a construcao de uma agenda poltico-criminal alternativa de base direcionada 4 contacao do sistema punitive. Nesse aspecto, entendios 1 estratégia ou como fim, 0 garantismo e o diteto penal minimo parecem Configurar discursos ¢ ferramentas relaivamente consensual no pensamento critico. Por outro lado, a vinculagao de determinadas tendencias tesrico- com os movimentes socias organizades produziu, em certo sentido al contradicbes aparentes, como a demanda de criminalizagae de certas condutas a partir da afrmacso da necessidade do uso simbelico do diteito penal contra as sag0es lesivas praticadas pelos agentes piblicos ou agentes contra a coisa palica E imeressamte perceber, inclusive, que nas primeiras elaboragdes do pen- samento eriminologico eritico se afirmava a inversao da seletividade do diteito penal, através da criminalizacdo das condutas consideradas altamente danosas, tas detentores dos poderes politico e econdmico. sar as perspectivas da c al em relagao 4 criminglo- 10 no pensamenio ortodoxo (greves,dissidéncia pol tas daquelas que importam 4 cntica ( perialismo, exploracio, genocidio, d ico, por exemplo). Assi Criminologia Radical inverte a equacao: relagdes saciais danosasieime, com- preendenda a exploracao imperialista, as violagdes da autodete povos, do Jhadores 20 controle ¢ adm produzida, os abusos de pod definidos como ‘crimes sistémicos 297 Baraita admite que, em certos eas0s, a fungio (meramente) simbelica do, direito penal pode representar um “significado politico importante em wma de~ terminada fase de Iotas pela afirmacao dos direitos humanos, conduzidas pelos seus movimentos representativas”.*® Dentre outros exemplos, cita 0 caso das lutas do movimento feminista contra a violencia de genero ¢ dos movimentos, de direitos humanos pela punicao das agentes puiblicos responsaveis por gra ves delitos (mortes, sequestros, 1orturas e desaparecimentos), sob a justificati- vva da repressio aos erimes politicos, durante 05 regimes autoritérios. Percebe 0 autor, contudo, que esta opcae pela diveito penal simbolico, em muitos casos, € contraproducente, pois acaba, inclusive, por obstacubicar a efetiva tutela d direitos em jogo. 5. CONSIDERACOES FINAIS: A CRIMINOLOGIA CRITICA COMO CRIMINOLOGIA DOS DIREITOS HUMANOS 5.1 A sintonia da pavta politico-criminal com os movimentos sociais de defesa dos direitos humanos ~ aliada ao amadurecimento teérico derivado das crises que atingiram o pensamento critico ém geral nas uhtimas décadas, nota damente a partir da queda do Muro de Berlin ~ permite redefinir o horizonte de projecae da criminol a. A prop afirmagao dos direitos hu ‘manos ¢ a negacso da matriz criminologica positivita possibilitam que imuime- ras correntes de pensamento, mals ou menos auténomas em relag3o & maiz radical, sejam imtegradas no ro] das eriminologlas erfticas ~ por exemplo, «1 minologia feminista, criminologia cultural, eriminologia queer, criminologia racial, criminologia ambiental (green criminology), criminologia pos-moderna, de “empresitios Elena, La herencia de ntlade dos podeeses 8 wa. Raton 3-4 298 Resta Baasurie of Cttcis Catania 2013 # RBCCRay 104 da nio-violencia (peacemaking crimmology), criminologia condenada (convict criminology), newsmaking criminology, criminologia marginal, alémn das ines gotaveis possibilidades de interagao decorrentes, como, por exemplo, a crimal- nologia feminista negra (black feminist crintinology).* Nesse sentido, o postulado de Baratta de os dizeitos humanos serem encata dos como objeto e limite do diteito penal parece ganhar indise ¢ fornecer um inesgotavel campo de investigacao e uma urgente area de vencio: “0 conceito de direitos humanos assume, neste caso, uma dupla fur ‘¢a0. Em primeiro lugar, uma funcdo negativa relativa aos limites de interven- ‘cao penal. Em segundo lugar, una funeao positiva, direcionada @ definicao do de tutela por meio do direito penal conceito tos humanos oferece, em ambas as fungses, © instrumento teorico mais adequado para a estratégia da maxima contencao da violencia punitiva, que atualmente constitui a agenda prioritéria de uma politica alternativa de controle social." Na agenda dos direitos humanos, a criminologia critica parece reencontrar tum rumo bastante definido, babil, inclusive, para excluir deerminadas ten- dencias utilitaristas com forte inspiracio punitivista que procuram sustentar (legitiman), desde um discurso aparentemente critio, a intervencde punitiva € a preponderancia dos poderes em detrimento dos direitos ~ algumas (re)in- terpretagdes (criminalizadoras) do pensamento garantista operim exatamente nese sentido, Assim, alera de um campo teerico revitalizado e aberto aos mo: vimentos sociais, a criminologia critica como eriminolagia dos driv huma nos, nos termos propestos por Lola Anyar de Castro, abre espaco, igualmente, para incervengdes j tzando esta necessidade visceral die contato com a realidade socal (eriminologia da prix) precisa ao demonstrar 0 movimento lsicos que se deslocam do extrema > A reversibilidade do discus: manos parece depender, em grande A proposito, Lola Anyar de Castro pendular dos distintos discursos crim Cie e Sansone 289 medida, da sua maior ou menor adesio as razdes do poder punitive ou, em ‘ultima analise, a ra280 de Estado (punitivo).* ‘4 “vocagio antiautoritatia da criminologia critica” permite, portanto, “(..) com a sua observagao permanente do exercicio do poder, e concentrada na justica social e em toda acaa de democracia emaneipatoria generalizada, incor ‘porar nao apenas estes direitos humanos [liberdade e igualdade], mas todos os lireltos humanos, para todas as pessoas’ * Anyar de Castto adere & perspec- tiva de Baratta de os direitos humanos representarem os limites € o objeto do dircito penal: agrega, contudo, uma funcao de contenido que orienta um saber ica externa a0 dircito penal, pols “a criminolo- aos poderes. Assim, deve ter sob a sua obser- ceriminologico que exerce a c gla dos direitos humanos con ‘vacio permanente os movimentos de toda a relagao fatiea de poder ‘Alem disso, a propasiclo de uma criminologia dos direitos buroanos ad- ‘quire uma capacidade critica poencislizada se a interpretacao do conteutdo, @ enuncia das violagoes ¢ a acaia de tutela dos direitos forem projeladas a partir de uma perspectiva marginal, nos termos propostos por Zaffaront (realist marginal), Marginal ndo apenas por demarcar um Jocal periférico na geopol tica mundial (norte versus sul), mas, sobretud, por identificar elacoes de de- rpendencia com os poderes centrais e nominar aqueles sujeitos que sao objetos e violeneias extremas perpetradas pelo sistema penal.” 54 Nesse semido,¢ fundamental ue se adote uma postara critica em telco ao propio 33 56 cnminalogs dos di n eriminsloge 300 Rest, Brasusea ne Cees Crisnns 2013 # RBCCH 104 5.2 Conforme leciona Vera Malaguti Batista, o neotiberalismo trouxe o sis- tema penal para o epicentro da atuagao politica nas tltimas décadas, conju gando a prisao com novas tecnologias de controle, de vigilancia e de exclusio social. Desta forma, apesar das suas crises, a criminologia critica, no atual ccenario de densiicacao dos processos de criminalizagao seletiva, que resulta no encarceramento massivo de pessoas ¢ grupos volnerdveis, segue fomecendo rumentos sofisticados para a compreensao das violencias. Violéncias que sto inerentes as estruturas dos poderes politico ¢ econdmico € as instituicoes de controle social que as sustentam ¢ as legitimam, © reencontro com o pensamento critico em criminologia é, portant, muito ‘mais do que justficado; é urgente e necessirio.& perspectiva macrocrimninols- ica permite atu a das violencias produsidas pela Iogica de gover- nnanga do capitalismo contemporaneo (violencia estrutural) e problematizar @ fancionalidade das instituig6es do sistema punitive (violencia institucional), sobretudo da prisio, neste cenatio de hiperpunitividade. A otttica ao fendmena do grande encarceramento, bem como as praticas ¢ 908 diiscursos fundamentadores, configura um dos problemas centrais de um pen- samento criminolégico que tenha como horizonte a efetividade dos direitos humanos. odavia as preocupacees macro do clidem a necessidade de redimensionar ‘perspectivas microcriminologicas, desde que entendidas como projets crimi- nologicos de matiz cstica que produzam investgagoes eujo enfoque esteja direcionado aos processos de vulnerabilade & criminalizagio ea vitimizagao ue atingem individuos, coletivos ou grupos sovias concreios, Nesse aspecto, as tendéncias contemporaneas da criminologia critica (ou pos-ritica) refer das acrescentam importantes elementos para a desconstrucio e a resistencia 08 assujellamentos produuzidas pelas estruturas do poder palitico € econdmi- coepel ides do poder punitive Bartsn, Vera, Introdugao eri p99. Cine Socios 307 6. REFERENCIAS BIBLIOBRAFICAS, ‘Aanur, Dat ica restaurativae abo

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