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A AFRICA NA SALA DE AULA Visita a Histdéria Contemporanea Leila Leite Hernandez Dados Intemnacionais de Catalogagao na Publicasao (CIP) (Cimata Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hernandez, Leila Maria Gongalves Leite A Africa na sala de aula: visita & histéria contempor Leila Leite Hernandez. ~ Si Paulo: Selo Negto, 2008 Bibliografia, ISBN §5.87478-2 1. Attica ~Civilizago 2. Affica ~Colonizaglo 3. Attica Historia 4, Aiea Politica e govemo 1. Titula 04-7267 cpp.960 indices para catilogo sistemtico: 1. Attica: Histria 960 2. Altica: Histéria social 960 pre en asa de feceopiae. Cada el gue oot dS parr vo eeompens S28 autres fs consid a pedi al she em ‘us obs sobre 0 aso, rag 08 ets por estocar eleva até vod Tos ca eal que voe® di pela ftoetpia nto auerizada de um Livro jada aaa 2 produto tlm de epi. O “NOVO IMPERIALISMO” E A PERSPECTIVA AFRICANA DA PARTILHA Os significados de imperialismo Historicamente, cabe lembrar que entre o estabeleci- mento do protetorado francés na Tunisia (1881), a ocu- \s40 britanica do Egito (1882) ¢ a sujei¢io do Marrocos a Franga (1912) o continente africano foi quase comple- tamente dividido, ficando de fora da partilha apenas a béria, a Etiépia, parte do Egito e do Condominio Anglo-E (veja mapa 3.1) ‘anto a partilha como a ocupacio efetiva foram im- pulsionadas pela concorréncia entre varias cconomias industriais, buscando obter e preservar metcados, e pela pressio econémica de 1880 que desencadcou o expansionismo europeu. Como desses.processos assistimos a0 imperialismo que conseqiiéncia da articul agressivamente conquista dreas de influéncia, protetorados e coldnias, em parti- cular no continente afri Nio ¢ dificil compreender que esse imperialismo de fins do século XIX este- ve ligndo 20 desenvolvimento do sistema capitalista em uma fase cuja inovagio €a forma como se articula politica e economia na qual o Estado assumiu, deci- sivamente, 0 papel de parceito e interventor econémico, © termo imperialismo foi utilizado pela primeira vez na década de 1870, na Inglaterra vitoriana, dando nome a uma politica orientada para criar uma fede- ragio imperial baseada no fortalecimento da unidade dos Estados auténomos do império. Vince anos depois, em 1890, no decorrer das discussées sobre a conquista colonial, integrand a dimensio econdmica que permanece dias atuais, passou a fazer parte do vocabulitio politico e jorn Se acompanharmos as exposices sobre o tema, podemos verificar que tan- toa palavra como a idéia sio carregadas de um conjunto de quest ico. além de conter uma série de premissas ideolégicas que animam intimeras polémicas. LEILA LEITE HERNANDEZ . ‘ a. ARROCOS ESPANHOY sea . tuanoc0s ESPANNORE 3 AS Madeira® Port) 5 1s Condine (6) “ARGELIANELIBIA: i cup. brit rer enurntia ANGLO an SS NON OC DENTAL FRANCESAS2 WZ EGIPCIO iene | | AN ‘= Sp (Condominios Su 4 METAS Ne NN NIGERIA SINS 2 iMPERIO’ | senna ST SNS A ETIOPIA, ONSET ys | ABER SOURS pel LN Weezer SOO) GO Eni aN | ony Ga) Neate | roe onienTaL zanzions (| ToS FP ERE TILEAN conor Cae SF Ei Lomten eS 3 Sasa E 2 ERICANO TR crash ° Wats STEEP is BAY = OCEANO + = ‘ (Brit) (55 08 OceANO z inpico SUAZILANDIA rer beiptesl SSUFouNSA SIT O mapa Ua Africa em 15TH evidenda os poucos espacos: geopolitics independentes renee tance Fader titinico Feb ressro atemio Efren itatinne [Eleririee rina rexel cn ter dis int Ur co: Es ter oni t0e pel Juc cor te, soa SP ten side sias des des da‘ Staaianons A eee Ses tea ‘OCEANO, iNDICO espacos geopol Teeitixioespanhel Terri talon TAGE, 1978) A AFRICA NA SALA DE AULA 2B Mas é necessirio destacar que os fendmenos ligados ao termo imperialismo tém em comum o fato de se referirem a uma expansio por parte dos Estados carac- tetizada por forte assimetria e violenta dominagio que se manifesta de formas diversas, como nas relagées de preponderiincia das metrépoles sobre as areas de influéncia, protetorados ¢ colénias, ou como no pés-1945, entre os Estados Unidos da América, ¢ a Unido Sovigtica e os Estados integrantes dos dois blo- cos hegeménicos liderados por essas poténcias, ou, ainda, nas diversas facetas da politica de dominagao e exploragio praticada em diferentes proporgoes pelos stados pobres menos procurou-se identificar 0 feixe de condigies Estados ricos em relagio aos Para explicar esses fer econdmicas, politicas ¢ ideolégicas segundo as quais surgiu 0 expansionismo lo XIX. Dafa origem de teorias sobre esse fenémeno que ttazem consigo uma série de ques- tes acerca de sua natureza, causas ¢ extensiio, bem como propostas para sua su- peragao, Do primeiro grupo fazem parte as teorias de inspiragio marxista, predomi- nantemente econdmicas, que se dividem em clissicas, tendo como representan- tes Lénin e Rosa Luxemburgo, e as formuladas no pés-Segunda Guerra Mun- dial, desenvolvidas por Baran, Sweezy, Gunder Frank e Samir Amin. Elaborada durante a Primeira Guerra Mundial, 2 teoria de V. 1. Lénin ba- seia-se na tese central do primado do econémico, tendo como fundamental 0 pressuposto de que o imperialismo decorre da tendéncia & queda das taxas de lucto explicada, grosso modo, como conseqiiéncia do constante aumento da alistas. Para superar esse desafio haveria um crescen- territorial como elemento bésico do imperialismo de fins do concorréncia entre os cay te, concentrado e continuo investimento em maquinaria cada vez mais aperfei- goada, e que em curto espaco de tempo torna-se obsoleta. Os monopélios financeizos, resultados da fusdo entre capital industrial ¢ capital banciirio, excedem os limites de um Estado. Para o referido autor, na tentativa de garantir 0 lucro os Estados nos quais o sistema capicalista ¢ con- siderado mais desenvolvido voltam-se para assegurar 0 controle de maré- rias-primas, partindo pata a conquista de novos mercados do “mundo sub- desenvolvido” dividindo entre si Areas de influéncia, o que inclui a obrengio de coldnias. ‘Com pequenas modificagdes, a analise de Lénin foi aplicada no pés-Segun- da Guerra Mundial pelas liderancas intelectuais ¢ politicas afticanas tanto para explicar 0 colonialismo como o neocolonialismo, isto é, as relagoes entre os pai- ses formalmente independentes e os Estados que continuaram a exploré-los, em grande parte das vezes as proprias ex-metr6poles européias, LEILA LEITE HERNANDEZ 44 Rosa Luxemburg explica, basicamente, que @ imperialismo se insere um pensamento mais amplo, a teoria do subconsumo, Ein resuriey Luxem- burgo considera que, devido a0 baixo poder aquisitivo da classe trabalhadora € 4 miserabilidade do seu nivel de vida, a produsio corrente do mundo capita- cer absorvida, Assim, como conseqtiéncia das “leis objetivas .o um mundo nao-capitalista que ento ccondmico lista nfo pod da acumulagio capitalista”, faz-se necesséri bsorva grande parte do que foi produzido para que o cresci dos externos io obtidos com a conquista no seja intetrompido. Esses mercat de coldnias Por sua vet, 0s economistas americanos Baran ¢ Sweexy, diante dos fatos istérieossurgidos no pés-Segunda Guerra, buscam superar a teoias deni ade Rows Luxemburgo consttuindo um modelo teérico capaz de identificar os Jaramente configurada como monopéli- elementos préprios de uma economia cl scicular «a considerada o principal fator de estimulo para o imperialismo, ¢m dor nessa teoria é a hipétese rclativa & existén- © clissico da mais-valia) referente a © norte-americano. O mais inovac cia de um surplus (conceito que substituiria despesas em pesquisa ¢ desenvolvimento tccnoldgico no setor militar, tleten considerada fundamental no mbito de um mundo bipolarizado com 0 do pos-1945 entre Estados Unidos e Unido Sovitica © com a presensa politi co-militar destes no “Tercciro Mundo”. No que se rofere & questio do imperial ses atrasados, mesmo conquistando as indepe rados, como conseqiiéncia do expansionismo i crescente por parte dos pafses desenvolvidos ¢ pel fo sistema capitalista gera grandes dese- m proceso de pobreza crescente caracte- smo, essa teoria sustenta que os pal- ndéncias, continuam a ser explo- :mpulsionado pela busca de lucro Jas grandes empresas multicon- tinentais, Além disso, organicamente, quilibrios territoriais ¢ socizis, acarrerando ut nos paises perifrcos, Para o “captalismo monopdlico” de Baran ce Sweeny, essa Giruagio 36 poderia ser alterada por uma guerra revolucionéria que implemen- tasse uma economia socialista as analises marxistas estabelecem uma cone 5 século XIX € inicio do XX ¢ 0 capitalismo em Jar. Consideram que © imperialismo tem raizes entre 0 espectfica Vale observar que entre o imperialismo de fins do geral ou uma etapa sus partic stabelece relacées assimétricas de domina ddas zonas “atrasadas” em beneficio dos paises econdmicas fundament: os paises que implicam exploracéo capitalistas “desenvolvidos”. Do segundo grupo, composto pelos representantes ch “interpreta socialde- smocritica do imperialismo", destaca-se o texto bésico de Hobson que nia é rmarxista, a despeito de set predominantemente econdmico ¢ fer como central a idéia de qu dos extern papel da capitalisme rio para el tentes no? econdmice Ihadores € producio, Incluc Hilferding que 0 im apenas ur ‘uma colat trar o sub: ca admit exploracae 0s paises Supe: introdugi 6 crescim paises “at as profun conilitos Noc pretagio principal uma and) tradigio dade, cor producac psicoldgi volvimer sobre ¢ ismo se insere ssumo, Luxem- trabalhadora ¢ mundo capita “eis objetivas -capitalista que into econdmico om a conquista diante dos fatos teorias de Lénin de identifica os como monopéli- yo, em particular cclativa sala) referente @ + militar, caracte- existén- olarizado como 0 a presenca politi istenta que 0s pate rnuam a ser explo- rela busca de luero presas multicon- gera grandes dese- pobreza crescente aran ¢ Sweezy, ess sia que implemen- tconexdo especifica ¢ 0 capitalismo em arialismo tem raizes de dominagio entre beneficio dos patses atexpretagio socialde- Hobson, que nfo eter como central a A APRICA NA SALA DE AULA 5 idéia de que o subconsumo das classes populares impulsiona a busca por merea- dos externos. Além pape da “politica de poder”,' negando a existéncia de um nexo orginico entre 10, associa os elementos econémicos a um importante capitalism e imperialismo e, portanto,« necesidade de um proceso revolucions- tio para eliminé-los. De outro lado, afirma que as tendéncias imperialists ex tentes no Ambito do sistema capitalista podem ser suprimidas mediante reformas ‘econbmico-sociais ¢ democriticas eficazes para o aumento de consumo dos tabs thadores ¢, por conseqiéncia, favorecer 0 crescimento ¢ regular a absorgio da producio, rompendo com a necessidade do expansionismo imperialist. Tmeluem-se nessa tendéncia outros escritos tedricos como os de Kautsky € Hilferding que, embora de variada orientagio politica, desenvolvem a idéia de aque 0 imperialismo nio é uma fase necessiria do capitalismo, constituindo-se apenas uma de suas politieas, podendo ser substituida por outra que institua as capitalistas, no sentido de adminis- uma colaboracéo pacifica entre as potén tar o subconsumo no ambito de um mercado mundial organizado. Isso signifi ca admitir palses até entdo dele excluidos, o que, no entanto, no eliminaria cxploragio estrutural nem mesmo a assimetsia entre as poséncias capitalists ¢ os pafses atrasados, sobrerado os produtores de matérias-primas. Superar essa situagao implicaria um conjunto de reformas socialists com a introdugao de um controle politico do desenvolvimento econdmico orientando © crescimento para o interesse geral, tanto dos paises “capitalistas” como dos paises “atrasados’. Esse “ulra-imperialismo”, portanto, ordenaria ¢ administraria as profundas diferencas que garantem a dominagao ¢ a exploragio entre os ps Ses € a reparti¢io dos tcrritérios transformados em coldnias, eliminando os conflitos das poténcias capitalistas entre si, a corrida armamentista ¢ 2 guer"a. No que se refere a0 rrceito grupo, seus integrantes claboraram uma nter- pretagio liberal do imperialismo”. Significa dizer que J. A: Schumpeter seu principal representante, apresenta um ensdio, datado de 1919, que propse 8 fuma andlise sociol6gica do imperialismo, cujas idéias sfo totalmente opostas 2 tradigao marxista. Analisando com erudigéo os imperialismos desde a Antig dade, conclui que o imperialisme moderno nao decorre do modo capitalista de produgio: ¢ 0 resultado de condisSes econémicas, sociais,politias, culturais ¢ pricolégicas proprias do pré-capitalismo, portanto, fora do dominio do desen- Nolvimento eapitaista. Assim, o que leva 3 expansio imperalista so atitudes 1. DORRIO, Norberto; MATTELCCI, Nicola ¢ PASQUINO, Gianftanen (orgs). Disionirio de polii- ne 2 ed. Brasilia: Editora da UNB, 1986. Vale destacar que esse € um texto de leicura obrigat6ria sobre o tema do imperialism. LEILA LEITE HERNANDEZ psicolégicas e culturais , segundo cle, de anente que permeia undo & competigao tentos democriticos talistas centrais. imo Otto Hintzer e tilismo bascada na > imperialismo deri- ig6es internacionais, ) desigual de poder sobre os mais fracos, rica de uns sobre os eria da superacao do tuigio Federal Mun- nae defender juridi- nia, nas perspectivas le ordem politica, sa capazes de encampar ado imprescindivel. tialismo nas concep- histéricas especificas 20 pesquisador esta- 1ese inserem, pressu- tise na qual analisa a ato de fatores histéri- > tem uma dimensio dos aglutinantes ideo- A AFRICA NA SALA DE AULA 7 Feita essa observacio, é necessdrio ter clareza sobre a conexfo intrinseca entre o expansionismo ¢ a conquista do mundo nio ocidental, reconhecendo a dimensio econdmica desse processo. Nesse sentido, ¢ importante registrar os elementos proprios de um nftido quadro de crescimento econdmico come ates- tam alguns indicadores. Como é sabido, entre 1870 ¢ 1914 as exportagées eu ropéias duplicaram; a navegagio mercante mundial passou de 16 para 32 mi- Ihoes de toneladas ¢ a rede ferrovidria mundial aumentou de 200 mil para 1 milhio de quilémetros as vésperas da Primeira Guetra Mundial 2 ‘Também é importante observar o crescimento de uma rede cada vex mais densa de transagées econdmicas ¢ comunicagbes, alm do movimento de bens, dinheiro e pessoas, ligando nao s6 os paises desenvolvidos entre si como estes 20 mundo nao desenvolvido, por exemplo, & bacia do rio Congo ¢ & regito do Cabo, na Africa do Sul. Fase nitido quadro de crescimento econdmico cria possibilidades, 20 mesmo tempo que gera novas necessidades que levam a0 expansionismo territo- tial. A economia internacional caracteriza-se pela concorréncia entre virias eco- nomias industriais, todas apoiadas em um desenvolvimento tecnolégico que necessita de matérias-primas como o petrbleo e a borracha, encontrados fora do continente europeu. Basta lembrar que o petréleo que vinha predominante- mente dos Estados Unidos e da Ruissia passa a ser buscado nos campos petro- feros do Oriente Médio, regio que se torna cada vez mais objeto de intenso confronto ¢ conchavo diplomédtico. Quanto a borracha, produto exclusiva- mente tropical, era extraida com uma exploragéo atroz de nativos nas florestas do Congo ¢ da Amazinia e, mais tarde, extensamente cultivada na equator Malsia. Também € preciso ter em con res precisavam de cobre, sendo seus maiores produrores paises 20s quais se con- vencionou chamar no final de 1950 “Terceiro Mundo”, como Zaire, Zimbia, Chile ¢ Peru. Por sua vez, 0s metais preciosos como 0 ouro e os diamantes pas- sam a set explorados na Africa do Sul Em contrapartida, como € sabido, algumas tcorias sobre 0 imperialismo apdiam-se no pressuposto do subconsumo. No entanto, o que se verifica empi- ricamente € que proprio desenvolvimento desigual do sistema capitalista pro~ ndo um mercado em répida que as novas indiistrias elétrica ¢ de moto- piciou um consumo de massas nas metrépoles, cr expansfo para os “bens coloniais”, isto é, produros alimenticios como ché, café, 12, HORSBAWDM, Exic, J. A era dos impérios: 1875-1914, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, Cap. 3 “A era dos impérios”, pp. 87-124. A leitura cuidadosa desse capitulo € esencial para o necesstio aprofundamento das idéias aqui apresentadas. LEILA LEITE HERNANDEZ comnaram disponiveis geagas 38 agficar, cacaa e derivados e éleos vegeta des técnicas de conservacéo € & as plantations e os comerciantes € mnsportes. Como conseqiencia, maior rapidez nos fnancistas tornaram-se importantes pilares das economias imperiais. Por sua vez, também 0 pressupos tdveis fora do territério europ* Em outras palavras, é verdadeiro jonas. Mas no € menos verda- Conside- co genético da presséo do capital por in vestimentos mais ren Jeu merece reparos quando ‘onsideradas algumas particularidades histéric: Gque houve um fluxo de capital apicado nas co" devo que cle se concentrou apenas em alguns ferreoriog ultramarinos. plo, o que ocorreu com a Gri-Bretanha que destinou a ‘as de povoamento branco ¢ com & Nova Zelindia e, no caso do remos, por exemy maior parte do seu montante de capital 8s col6n pido desenvolvimento como Canad Australia te africano, a Africa do Sul contine “umpre observar, no entanto, mentos econdmicos considerados set 1 foi que certo mimero de economias que se fizermos uma avaliagio relativa 20 possfvel reconhecer que o conjunto de elen ponto crucial da stuagio econdmice globs eenvolvidas se dew conta, simulrancamentes da necessidade de Mos obtendo algumas “portas abertas” no mundo subdesenvolvido, ou proct: ory dominat teritérios que garantissem as economias nacionais enropéias uma posigfo monopolista 0, 20 menos: TANRABST bastante subs- vrecish, E evidente que estas foram fortes razOes para q¥e $¢ P das regides nao ocupadas do “Tercciro Mundo”, process 9) feaneamente reforsado por tum conjunto de politiess Pro o tepresentavan noves merca rando conquista omovesse a Te sobretudo jonistas, apés 187: ‘As colénias nesse context mo as Afficas ocidental ¢ central, Jsmicos passaram a opera amente voltadas para 0 recorte do mapa da ABica, ioe de forte significado simbélico que, jusificando © Mdominacio curopéias, poe em curso 0 glorioso © exéticas habitadas por gentes se m pontos estratégicos em espasos sdrios para a penetragio geopoliticos, £0 1 articulados @ Fato, 08 interesses econ’ européia. De f .caes politicas coneret ‘Ambos integram um proj legitimando a exploragio e @ hherdico empreendimento de con a, carentes de civilizagio. Jemonstraram. que © uistar terra, vagens, de pele ne} ‘As experiéncias historicas efetivas 4 smo dispunha de mecanismos ideoldgicos como 28 exposigées unive deiras “vitrines do progresso” se identificar com 0 Estado ea nacio imperiais, conferindo justficacao ¢ reconhecendo legitimidade péia na Alfica “novo” imperialis sais, verda- que levavam as massas @ a missio civilizatéria euro} 4. HOUSBAWM, Eric J. A ee des impérion op. cts pp: 10S Hot roniveis gracas &s 10 conseqiiéncia, iportantes pilares Jo capital por in- reparos quando wwaas, éverdadeiro ‘9 é menos verda- narinos, Conside- destinou a maior branco e com ra- dia e, no caso do aliagio relativa a0 I reconhecer que 0 aero de economias e de novos merca- volvido, ou procu- conomias nacionais ens bastante subs- ¢ promovesse 2 re rrocesso, sobretudo icas protecionistas. tégicos em espagos s para a penetragio iperar articulados @ 9 mapa da Africa que, justificando & curso 0 glorioso e tadas por gentes sel- > “novo” imperialis- tes universais, verda- e identificar com © recendo legitimidade ‘A AFRICA NA SALA DE AULA 9 Se A Exposicio Universal de 1889 em Pati, \to- postal da Brasserie d’Arcucil, Paris Contudo, essas consideragées referem-se ao protagonismo europeu no im- petialismo do final do século XIX, colocando em relevo os temas da partilha da conquista. Mas ignoram o protagonismo afticano do inicio de um dos perlo- dos mais violentos da historia recente, Impde-se portanto re; ‘strat a perspectiva africana, uma perspectiva que entreolha a curopéia, mas dela esté certamente separada pelas acenruadas diferencas de suas posigées politico-ideolégicas. A partilha ea conquista na perspectiva africana © pensamento afficano sobre a partilha e a conquista apresenta uma composigéo de idéias fiel & pritica politica de negar a do- minagio da civilizagao branca, ocidental, sobre 0 mundo ne- £0, 0 “inferno tenebroso”, isto é, a Africa. Ciosas de seu prota- gonismo na histéria, se por um lado as elites culeurais africanas aceitam 0 Conjunto de elementos econdmicos como cixo impulsionador do expansionis- ‘mo tertitorial curopeu, acrescentam a esse iscurso dois elementos fundamen- tais, a exftica a0 etnocentrismo europeu da resisténcia african: ao racismo ¢, por outro lado, 0 tema ‘Assumindo um “racismo anti-racista’," estudiosos afticanos como 0 nige- riano Godfrey N. Uzoigwe séo responsiveis pela hisroriografia mais recente 4. Acapreso “racsmo anti-racita” foi cunhada por Jean-Paul Saree em Rejlete sobre recone, ‘So Paulo: Difusio Europtia do Livro, 1960, p. 111 80 LEILA LEITE HERNANDEZ sobre a partilha ¢ 2 conquista, comprometides com a preocupasto &m nao se deixarem levar pelas representagées construldas pelos ocidentais.” Nesse quadro de discussdo ¢ fundamental resaltar a importancia histdria da postura de criti eidental, pot descentraliza- de reagir con re-se 0 fato de ram organiza- os ibos, verem erra de guerti ilicar que este- jonalidade do 1a supremacia ilitar dos dife- missiondrios ¢ sndo drogas de am, vol, 1973, A AFRICA NA SALA DE AULA uso profilético contra varias doengas como a m: riais, sobretudo bélicos financeiros. iia; © 08 seus recursos mate- Vale a pena apresentar um sumirio com alguns exemplos que conferem contetido histérico a esas afirmagées destacando a alterndncia dos tipos de resisténcia, ora com os africanos utilizando-se da diplomacia, ora respondendo com luta armada & invasio militar, ou reagindo com a combinacao de ambas as estratégias, 0 que, alids, caracterizou a grande maioria das resisténcias no conti- niente, Sob a forca das circunstan: as, a diplomacia foi um tipo de resistencia pouco encontrado na sua forma pera Um dos raros exemplos ocorreu no oeste do Quénia onde o rei dos wangas, Munia, para se fortalecer no conflito com os povos vizinhos, itesos e luos, fez. um acordo diplomédtico com os ingleses. Como resultado 0s povos africanos foram divididos possibilitando que os europeus alargassem a sua influéncia em toda a regio, criando as condiges necessérias para o estabelecimento de seu poder colonial em Uganda. De um ponto de vista comparativo, parece haver poucos motivos para du- vidar da hipétese de que foram em muito maior ntimero as conquistas que deram ensejo a uma “luta militar efetiva”, em particular no nordeste do conti- nente onde sudaneses, egipeios ¢ somalis morreram em grande niimero em san- grentas lutas contra tropas coloniais brita nicas.Islamizados, 05 povos dessa re gio lutavam ao mesmo tempo pela soberania de seus territérios e pela sua Fé, j4 que acreditavam ser inaceitavel que mugulmanos se submetessem politicamente auma poténcia crista, ‘Também a ocupacio dos espagos geopoliticos da Africa ocidental, entre os anos 1880 © 1900, foi marcada por lutas sangrentas destacando-se tanto as campanhas francesas no Sudo ocidental (hoje, Mali), na Costa do Marfim (contra os batile) ¢ no Daomé, atual Benin (contra os fons), como as campa- nhas britinicas no Ashanti (atual Gana), na regido do delta do Nilo (atual Ni éria) ¢ no norte da Nigéria, entre 1895 ¢ 1903. E possivel afirmar que, no geral, houve uma tendéncia de a reagio africana contra a Franga ser mais violenta, uma vez que esse pais europeu optou por conquistar tertitérios predominantemente pela forca. A esta faceta militar asso- ciava-se 0 fato de as regides ocidental e equatorial afticanas terem softido pro- cesso de islamizagio rejeitando fortemente o dominio branco dos “infigis", con: siderando-o uma imposigfo intolerivel. © exemplo mais clissico de resisténcia armada 4 Franga foi o da Senegimbia. Os afticanos do império unificado man- dinga, sob a lideranga de Samori Touré, em 1882, contavam com um poderoso exéscito cuja homogeneidade ¢ coesio permitiram que ganhasse um cardter LEILA LEITE HERNANDEZ onal, Era também um exército bem equipado, dentro dos Pisldes enropeus, com armas modernas adquiridas com a venda de marfim € odo sul da Costa do Marfim, e de cavalos, obtidos pela troca de escravos 28 regiio do Sael, Mas o poderio frances extingit 2 [ura quando capturou, em 1892, Samori Touré, deportando-o para 0 Gabio. Dessa forma, pés fim 2 resis- téncix armada conhecida como a mais duradoura das campanhas contra um saretno adversério, em toda a histéria da conquista do Sudao ocidental Tor comtaste com of franceses, € consensual que 2 aslo bricinica nao fei ro seu conjunto, basicamente militarizada. Os seus processos ce conquists mero considerével, foram advindos de negociagio paclfica, da “, julgado e de- particularidade delta do Niger was. am uma oposi- Srio. Foi a mais eestendendo de traigociramente ‘A AFRICA NA SALA DE AULA 89 assassinado. Enfraquecida, a resistencia dos nandis acabou vencida apés quinze anos de encarnigada luta que reuniu diversos clas divididos em unidades territo- riais, aproximando-os da organizacao de um exército regular europeu Por sua vez, no Tanganica, a reago contra a conquista alema contou com 1 emprego da forca de aliangas diplomaticas com varios povos tanto no interior quanto no litoral. J4 no Congo, na regido fronteitiga com Angola, entre outros povos, 0s combativas chokwes, até sucumbirem 20 dominio belga, resistiram ‘com tenacidade, por cerca de vinte anos, isto é de 1890 a 1910, infligindo pe- sadas perdas & Force Public. Quanto 2o sul de Angola, os macuas, os luandas e 60s diversos grupos da regiéo de Gambo aperfeicoaram suas técnicas de guerrilla, utilizando-as com freqiiéncia ¢ vigor contra 0 colonizador portugués. De certo modo, esses embates assemelham-se a0 que havido sucedido mais de dois séculos antes da Conferéncia de Berlim na Africa do Sul, onde desde 1652 jé havia sido fundada a Colénia do Cabo pela Companhia Holandesa das Indias Orientais, visando estabelecer na regido uma estacio de reabastecimento para os seus navios. No século XVII, os béeres (migrantes holandeses) adentra- ram o interior cagando ¢ comerciando gado com os hotentores e por vezes tor- nando-se eles préprios criadores de gado. Scus descendentes vieram a aurode- signar-se afticanderes. Nos seus deslocamentos para leste em direco & zona de maior pluviosidade onde fundaram Natal, entraram em confronto com povos afticanos locais expulsando os boschimanes, dominando ou dispersando os ho- tentotes ¢, em 1779, guerteando com os bantos nas conhecidas “guerras caftes”, assim chamadas porque, pela jurisprudéncia islimica, os bantos eram conside- rados pagios, néo tendo direitos em um “Estado” islamico Entre 1793 € 1815, durante as guerras anglo-francesas, a Cidade do Cabo, apreciada por sta posicio estratégica de entrada para 0 oceano Indico, passou do dominio holandés para o inglés (1795). Esse acontecimento marcou o inicio de uma série de embates violentos entre béeres ¢ ingleses ¢ béeres ¢ povos affi- kis, os sans, os xhosas, os upondos, os tembus ¢ os mfen- anos, como 0s gus ¢, mais tarde, os aulus. Em 1852 ¢ 1854 a Inglaterra reconheceu duas colénias de povoamento branco de lingua holandesa, a Republica Sul-Afticana e o Estado Livre de Orange, como independentes. Mas, pouco mais tarde, com a descoberta do ouro ¢ dos diamantes, os britinicos impuseram o seu dominio com uma polit ca de confronto, tanto aos africanderes como aos ulus, ndebeles, bembas ¢ yaos, até 1947, quando ocorreu a independéncia da Africa do Sul. Concluindo, é possivel afirmar que todos esses exemplos, embora em pe- queno mimero, s4o suficientes para indicar que tanto a violencia como as 90 LEILA LEITE HERNANDEZ formas de resistencia diante da perda de soberania, independéncia ¢ liberdade desvendam 0 protagonismo afticano perante a partilha € a conquista. Mas os exemplos evidenciam também a impoténcia bélica dos africanos ante a supre- macia européia. Como bem resumiu o poeta inglés Hilaire Belloc: “Acontega 0 o que acontecer, nés temos a metralhadora, ¢ eles no ‘A dominagio fundada no cexercicio da violencia fisia. [Arce afio-portuguest encontrada no Benin, no século XVI 10, Apud BOAHEN, A. Adu (coord), ap. cit, p. 30. pre lisr pre os rial roc filé eco aic bas dor dan ize liberdade tista, Mas os ante a supre- “Acontesa 0 fundada 20 jolencia Fisica Benin, no “CIMLIZADOS?’ E “PRIMITIVOS” NA CONSTITUICAO DO SISTEMA COLONIAL AFRICANO Notas sobre o “imperialismo colonial” sultante da concorrén Em “Imperialismo” a autora identifica trés aspectos fundam prefiguracGes dos fendmenos toralitérios do século XX, quais sejam: 0 na 0 stalinismo. a idéia central do imperialismo “conté suporte base ilimitada de poder cu talitarimo, Sao Paulo: Companhia das Lets, 1989, pp. 146-338. 2. Ibidem, pp. 146-87. A partilha deu inicio & conquista, processo por meio do qual se acelerou a violencia geogrifica, com a exploracio ge- neralizada dos diversos espagos geopoliticos do continente africano, A essa fase inicial de perda da soberania dos affica- nos seguitt-se o perfodo da estruturagio do sistema colonial Embora seja hoje consenso que 0 colonialismo foi re- econdmica ¢ do expansionismo dos paises europeus, vale a pena incorporar como dimensio propria desses processos algumas consideragGes apresentadas pot Hannah Arendt. ais do “imperia- lismo colonial” europeu na sua fase de 1884 a 1914, apresentando-os como 'A novidade da argumentagio de Arendt reside em afirmar que o “impe sialismo colonial” apresenta como tragos fundamentais expansionismo, a bu- rocracia colonial ¢ 0 racismo. Segundo a autora, uma das mais importantes filésofas do século XX, a compreensio do expansionismo transcende a esfera ndmica por ser um “objetivo permanente e supremo da politica”, portanto, uma esfera politica traduzida por uma a forca politica presente na vocagio para a dominacio global”. Daf que o modelo arendtiano, apresentando uma discor~ dncia explicita da famosa idéia de Lénin de que o imperialismo é o tiltimo esté- 1, ARENDT, Hannah, “Impetialismo”. Ine Origens do totaliterimo: ant-semition, imperiaiono, to

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