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NOVOS CAMINHOS DA CRITICA LITERARIA NA RANGA, Acredito que ha duas espécies de critica: a erftica de langamento, que se expressa em jomnais e revistas, com a incumbéncia de informar o leitor sobre o valor do li- vvro que ele deve ou nfo comprar ~ é uma critica que expressa os interesses do leitor, que garante © que se poderia chamar de higiene, uma policia econémica das letras — e existe a critica estrucural, que se expressa em ‘obras, trabalhos, versando freqiientemente sobre obras do passado ¢ constituindo uma verdadeira interroga- ‘fo literatura. J4 nao se trata de perguntar ao escritor “ Quanto voce vale?”, mas “Quem é vocé?” e, de maneita mais geral e também mais inquietante, “No findo, o que 6 literarura?™. 36 a ssa critica estrutural consiste sempre em restabe- lecer uma relagio entre a obra literdria e um além-da- ‘obra, motivo pelo qual também poderia ser chamada de nie | siderivel de material colhido nos poetas de virias na- cs, ele reconstituiu grandes redes de temas, todas as cadcias de imagens por meio das quais o poeta trans- forma a sensagio original que tem de uma das grandes substincias do universo: o fogo, 0 ar, a terra © a dgua. ( principio de Bachelard & que a imaginagio poética é tum poder que desfaz as imagens, ¢ 0 que ele estuda no sio metéforas fechadas, iméveis, prontas, poder-s dizer, mas verdadeiras trajetrias de imagens; numa: de livros dedicados aos quatro elementos, Bachclard descreveu a dinamica dos grandes temas poéticos: por cexemplo, o do labirinto, do vo, da ascensio, da queda tc € nisso a critica de Bachelard ¢ generosa, pois aju- daa produzir na interioridade do proprio corpo o mo- vimento mesmo da imaginagio poética, que é um movi- ‘mento essencialmentelibertador. E nesse mesmo clima, ainda que com diferencas individuais considcriveis, que trabalham outtos criticos franceses como G. Poulet ¢ J-B Richard, que analisou de forma brilhante, com um metodo analitico desse tipo, os nossos grandes escrito- res do século XIX (Podsie et profondeur, Litténature et sensation). E uma belissima critica, mas, por sua ver, assim ‘como a critica histérica, & ncompleta; apresenta-nos de forma admirivel a unidade da obra, sua qualidade de ob- jeto estético, mas nada nos diz de sua significagao his- 0 trica. Assim, estamos diante de duplo malogro: ou a critica da conta da Histéria, mas ideologizando a obra a irrealiza, ou da conta da obra, mas substantificando-a irrealiza a Historia, Estou pessoalmente convencido de que esse duplo malogro é temporirio; ademais, ele € sau- dlivel, uma ver que o préprio dilema (Histéria ou Pybhé) definea literatura. De fato, o que € uma obra aristica se- ‘nfo a0 mesmo tempo produto de uma Historia e resis téncia a essa Histéria? Ai eseé sua natureza dialética, ea propria grandeza da literacura & sua ambigiidade: ela ‘vem do tempo ea cle se opée; a obra €a0 mesmo tempo uma estrutura © um movimento, uma estrutura em mo- vimento, ¢ por isso sua andlise &tantas vezes dificil. Es tou convencido de que a tarefa tual da critica & reconci- liar numa sintese eal, viva, os segmentos ainda esparsos dessa critica total, cujas exigéncias correspondem tio bbem as atuais tarefas da explicasio cientifica. POLITIQUE pd, mas de 1959 a

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