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O desgaste e a ressaca, em suma, a frustrao com a boemia, no grande

coisa. S comea a ser grande na medida em que aumenta sua frequncia,


questo de estatstica.
Uma coisa eu chegar em casa e encontrar algum, uma pessoa
preocupada comigo. Outra coisa chegar em casa e no encontrar
ningum, e acordar sozinho e lidar com o aborrecimento e desapontamento
para comigo mesmo. Decepo. O que me levou questo: por que eu fao
isso? Mas, ao pensar o sintoma, outra resposta veio antes, no sobre o
modo, o comportamento em si, mas a quantidade: eu fao isso h, pelo
menos 17 anos. Esse modo de vida fragmentado de encarar o dia e a noite,
e que se manifesta, descontinuamente e sem nenhuma periodicidade, em
certas situaes ou pequenas rotinas, e que envolve as qualidades do trash
e do junk: o escatolgico. Esse modo delinquente e decididamente marginal
de descolar-se de um ritmo normal e estabelecido, e ir at o limite numa
rpida srie de decises que vo se desdobrando numa pequena epopia
tragicmica, mas que pode, eventualmente, se tornar fatal. A corda pode
quebrar internamente, a noite cheia de terrores, e as pessoas ficam
simplesmente loucas, no mais diverso sentido da palavra. Umas mais e
outras menos.
Tais eventos ocorrem como um turbilho, percebo depois, e sair deles
como sair de uma tempestade. um grande alvio. Mas isso no responde a
pergunta de por que eu fao isso, uma vez que algo que se repete. Algo
que ocorre diferentemente, como um modo especfico de amizade e como
uma forma especfica de solido. Compartilhar essa trashera com algum da
minha confiana tem algo de cumplicidade, um circuito diferenciado e
exclusivo, um camarote ou zona temporria autnoma. Sozinho, por outro
lado, perde-se o contato com o outro de confiana, e a fome assume o
comando. E eu que era agente me torno refm da mais completa
inutilidade. Um vazio entupido, por onde o ar no passa e areja. Slido como
terra dura. Mole como uma gua indigesta.

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