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CCONSEAHO DE ORIENTACAO ~The Ferma, Ceo Arto Fernandes ne Somiy Gongalves Ubeatan do Couto Maui, Victor Borin Mat “Sunlego Guera Fo. SSN 0100-1981 Ano 35 # n. 186 « ago. / 2010 Coordenagio ‘Teese ARRUDA Atvi Wawinit Pubicagio oficial do Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP . i EDITORA rae REVISTA DOS TRIBUNAIS 208 REVISTA DE PROCESSO 2010 - REPRO 186 (AgRg nos EREsp 419.208/SB, rel. Min, Herman Benjamin, 1* Secdo, j. 12.09.2007, Dfe 01.09.2008) “Processual civil. Embargos de divergéncia. Paradigmas de secao nao mais competente para a materia. Stimula 158 ~ ST}. Correcdo monetdria. ativos financeiros bloqueados. 1. Segundo o entendimento deste Tribunal, cristalizado no verbete sumular 158 - ST], nao ha divergencia quando os julgados colacionados a titulo de paradigma pertencem a Secdo nio mais competemte para a causa. Na hipétese (legitimidade do Banco Central para responder pela corregao monetaria de ativos bloqueados) os paradigmas sio da terceira € quarta turmas, incompetentes para o assunto, conforme jé decidiu a Corte Especial. 2. Impende ressaltar que, na ocasido da interposicdo dos presentes embargos de divergéncia, a terceira € quarta turmas deste Tribunal ja nao eram mais competentes para o julgamento das causas relativas & correcio monetiria dos ativos bloqueados. 3. Consoante entendimento pacificado deste Tribunal, o recurso rege-se pela lei do tempo em que proferida a decisio, entendida esta como a data da sesso de julgamento em que anunciado o resultado pelo Presidente, 4, Embargos nio conhecidos.” (EREsp 166,008/SR, rel. Min. Fernando Goncalves, Corte Especial, 4. 05.09.2007, DJ 22.10.2007 p. 182) “Processual civil. Embargos de divergencia. Acérlaos confrontados em recurso especial ¢ em conflito de competencia. Descabimento (art. 29 da Lei 8.038/1990 e art. 266 do RIST]). 1—A teor do disposto no art. 29 da Lei 8.038, de 1990, combinado com o art. 266 do Regimento Interno deste STJ, s6 e possivel a interpo- sigdo de embargos de divergéncia das decisdes, em recurso especial. Il ~ Inadmissivel o recebimento de embargos de divergencia, mediante os quais so confrontados acérdios proferido em sede de recurso especial e outros prolatados em conflito de competéncia. TI — Embargos de que se nao conhece. Decisto unanime.” (EREsp 50.458/SP, rel. Min. Demécrito Reinaldo, Corte Especial, j 23.05.1995, DJ 07.08.1995 p. 23000). A Suprema Corte do Reino Unido: reflexes sobre o papel da mais alta Corte Britanica Natt ANoREWsS: Professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra ‘Anta 00 Dinero: Processual Resumo: O texto trata do relevi histérico relative a0 fato de que hoj House of tords nao é mais érgao do. Citio btanico. Em seu loga, ft eriada Us the reasons why it Suprema Conebrinica fama mesma happened and mentions pespectnes or -competéncia, em fins de 2009. the future, a Pasrusou Cone Funedo jurscional~Septagio de poderes ~ Orgio maximo do Judicié- powers — 0 britinico, Judiciary, Sumigo: 1. Introdugdo - 2. Historia da House of Lords, brevemente ‘comentada - 3. A House of Lords 1876-2009: melhores momentos € 300 _ REVISTA DE PROCESO 2010 REPRO 186 1. Intropucao'?? Neste artigo, o autor tece reflexdes sobre o contexto em que houve dda House of Loris ea criacto, em outubro de 2009, da Suprema Corte, o mais alto Tribunal Recursal do Reino Unido. 2. HisrOnia Da House OF LORDS, BREVEMENTE COMENTAOA, A historia da House of Lords, como tribunal integrante do Judicisrio britanico, pode ser dividida em dois periodos principais: da Idade Media* até 1876; € 0s 133 anos da Idade Moderna, de 1876 até 2009, data em que a corte foi extinta, Durante o século XIX, a corte assumiu o papel de 1. Esta é uma versto modificada de uma exposicao feta em 15 de janeiro de 2010 na cidade de Bologna, para celebraro 70.°aniversério de um respeitado 1, Federico Ca Change under New Labour (Londres, 2007 6, D. Morgan (coord ), Constitutional Imovation: The Creation ofa Supreme Cour forthe United Kingdom (Londres, 2004); D. Oliver, Constitutional Reform in the UK (Oxford, 2003), ion (Hart, Oxford, 2002), 1 House of Lords as Judicial )T. Bingham, The Old Order Changeth (2006) Bingham, The Evolving Constitution [2002] EHRLR 1; B. File, A Supreme Judicial Leader, em M. Andenas e . Fairgieve, Tom Bingham ‘and the Transformation ofthe Law: A Liber Amicorum (Oxford University Press, 2009) p. 209; B. Hale, A New Supreme Court for the United Kingdom (2004) 24 1536,R. Cooke, The Law Lords: An Endangered Species (2003) 119LQR49,). ‘Steyn, The Case fora Supreme Court (2002) 118 LOR 382, D. Neuberger, The Supreme Cour: Is the House of Lords “Losing Part of itself” (2 de dezembro de 2009; disponivel on line: lwwwjudiciarygouul/publiations_media/speeches! index htm) A.D. Neuberger, op. cit., em [7], seguindo os ramos da corte até o Reinado de Eduardo I, consolidada pela Let 15, sob Eduardo IL Beven, The Appellate Jurisdiction of the House of Lords 155, €357), CONFERENCIAS 301 julgar recursos extremos,® sendo as manifestagdes orais conduzidas por juizes muitissimo qualificados. No comeco do século XIX, acentuou-se © problema da morosidade dos processos, especialmente na época de Lord Eldon L. C. Surgiu necessidade de reforma, que culminow no fim dramatico da 1¢40 da corte.* Antes disso, em 1876, a corte havia sido condenada a morte. Prematuramente, todavia, Depois disso, houve episédios dignos de nota neste “resto de vida”. Em 1934, oacesso a House of Lords deixou de ser direto da parte. Em vez disso, o recorrente passou a precisar de uma permissdo para interpor 0 recurso final, obtida ou no juizo a quo ou na propria House of Lords.” Em 1966, a House of Lords declarou seu poder no sentido de modificar suas proprias decisées.° Em 12 partido trabalhista, anunciou, sem aviso prévio,’ seu plano de abolir a antiga funcao do Lord Chancellor, inutilizar a House of Lords, e de trans- ferir sua funcio para uma nova Suprema Corte. Em 2005, fot publicada ‘uma Emenda Constitucional” que conduziua extingao da House of Lords. 5. Que seriam os equivalentes aos nossos recursos especias €extraordinatios. 6. Supreme Court of Judicature Act 1873, s 20; que nao deveria entrar em vigor seria em novembro de 1874; neste intervalo, 0 Governo de iekson, G. Drewry House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, -kson, G. Drewry (coords. op. cit. p. 65 6, 1); embora Lord Bingham tenha defendido a mudanca: Bingham, The Evolving Const 72002] EHRLR 1; ¢ Lord Steyn chegou a favorecer ‘esta mudanca, The Case for a Supreme Court (2002) 118 LQR 382. 10, Reforma! Reforma! Nao me fale sobre isso. Sera que as coisas ja ndo vio suficientemente mal?, per Astbury J., como noticiado por D. Neuberger, “The Supreme Court: Is the House of Lords “Losing Part of lisel™ (2 de dezembro de 2009), 6 302 REVISTA DE PROCESS 2010~ REPRO 186 Em 28 de julho de 2009, houve o que dizia respeito a questo do si 10 julgamento na House of Lords, io assistido.” Em 1.° de outubro se pela primeira vez: ar da mudanga, os Law Londs desabrocham snus renasceu de suas préprias cinzas, como “Tendo-se sacrificado no agora para a vida, como Supreme Court Justices”, 3. A Houst oF Loros 1876-2009: MELHORES MOMENTOS E PERIODOS DE DESEMPENHO PIFIO Houve altos e baixos. Quanto aos primeiros, € necessério que se consi- deremos valiosos e duradouros tesouros outorgados a Nagao Britanica pelos 110 membros da House of Lords, entre 1876 ¢ 2009. Decisbes proferidas pela House of Lords indubitavelmente geraram relevantes mudangas na doutrina icionais fundamentais, Julgamentos da House of Lords rel “Atkin (1922-44), Reid (1948-75), Wilberforce (1964-82), Diplock (1968-85),!* Bingham (1996-2008), 11, D. Neuberger, op. cit, em [2] 12. D. Neuberger, The Supreme Court Is the House of Lords *Losing Part of Itself” (2 de dezembro de 2009), em [2]. 13, James Atkin: 1867-1944; tornado barrister em 1891; indicagdes para ‘ccupar cargos no Judicistio: High Court, 1913; Court of Appeal, 1919; Howse of Lords, 1928; Geoffiey Lewis, Lord Atkin (Hart, Oxford, 1999), 14. L, Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), The Judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), capttulo 14. 15, Richard Orme Wilberforce: 1907-2003; tornado barrister, 1931; indicado para a High Court, Chancery Division, 1961; nao chegou a se tornar juiz na ‘Court of Appeal, pois foi promovido diretamente para a House of Lords, 1964. LL Blom-Cooper e G. Drewry, Towards a System of Administrative Law: The Reid and Wilberforce Era, 1945-82, em L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), The Judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), capitulo 14, L, Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewy (coords.), op. cit, especialmente 463-4, 473-4, 531-2, 690-1, 722-3, 725-6, ‘Thomas Bingham: nascido em Londres, 1933: Sedbergh Sch College, Oxford; Gray’ Inn, Tornado barrister, 1959; QC, para a High Court, 1980; para a Court of Appeal, 1986; Master of the Rols, 1992-6; Lord Chief Justice, 1996-2000; Senior Law Lond, 2000-2008. Work of homage: M. Andenas e D. Fairgrieve, Tom Bingham and the Transformation of the Law: A Liber Amicorum (Oxford University Press, 2009). A obra 5 CONFERENCAS 303, ¢ Hoffmann (1995-2009)"* (os anos referidos dizem respeito a0 periodo ‘em que foram membros da House of Lords) construtram imensas obras de direito, criado pela jurisprudencia, durante o ultimo século. Mudancas fundamentals ocortidas neste periodo e operadas pela House of Lords, consistiram, por exemplo, na expansao da responsabilidade contratual por negligencia,” ¢ aumento da importancia da judicial review2™ Dentre as grandes figuras, é hoje possivel considerarem-se expoentes (para mencio- narem-se somente jé falecidos) Lords Reid e Wilberforce, reconhecidos como jizes lideres. Quanto as eriticas que se fizeram & House of Lords, pelo menos em alguns periodos, um advogado ingles, que depois passou a ser um Law Lord, no comeco dos anos 90, chegou a dizer a este autor, fazendo uma ‘observagio pessoal, que a House of Lords dos anos 50, quando ele se tornou um barrister,” era “intelectualmente moribunda”. A atuacdo da House of Lords, modernamente, nao agradou a todos. Em 2009, Arthur Marriott disse que a House of Lords era “distante” ¢ doutrinaria de Bingham inclui: The Business of Judging (Oxford University Press, 2000). B Dickson, A Hard Act to Follow: the Bingham Court, 2000- 8, em L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), capitulo 16. 18. L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), op. 153, princi- palmente; Lord Hoflmann nasceu na Africa d African College School; University of Cape Town; Queen's I Gray’ Inn; ele foi professor de Direito em Oxford (University College, Oxford, 1961-73), nomeado para a High Court, 1985, para a Court of Appeal, 1992, e para a House of Lords, 1995, tendo-se aposentado em 2009. 19. Donoghue v Stevenson Drewry (coords), op. legislativos ¢ da legalidade dos Atos judiciais. 56 os dois primeiros s4o importantes do ponto de vista comparado. Principal meio pela qual a High Court exerce stipervisto sobre decisoes legais, publicas, de acordo com a teoria de 4 21. B Craig, Administrative Law, em L. Blom-Cooper, B, Dickson, G. Drewry (coords.), The Judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 200 lo 29, 22. N. I: Barrister advogado que atua fundamentalmente nos tribunais hierar- ‘Quicamente superiores & primeira instancia, 304. REVISTA DE PROCESSO 2010 RFPRO 185 “enraizada em outros tempos”. E observou também que nos anos 80 ¢ 90, os seus membros “retiraram-se para dentro de si mesmos”. Em Law Reform Now (1963), dois futuros Lord Chancellors, Gerald Gardiner QC ¢ Elwyn Jones QC, reagindo particularmente a uma desas- trosa decisio proferida no campo penal, propés a seguinte sentenca de condenagao a morte para a House of Lords: “deve-se pensar em abolir a competéncia recursal da House of Lords, outorgando esta competéncia a uma Corte de Apelacdo de cinco juizes, para poder reformar qualquer decisio anterior da propria Corte de Apelacéo... Um recurso seria suficiente se esta Corte tivesse forga suficiente, igual & que a Corte de ‘Apelagao teria se combinasse a forga de ambos os tribunais" Entretanto, nfo houve apoio para o modelo de sistema recursal proposto por Gardiner/ ElwynsJones, Contra esta sugestdo ¢ em favor da existencia de sucessivos recursos esta 0 fato de que cerca de 55% das decisoes, de que se recorreu para a House of Lords, durante o periodo de 2002 a 2007, foram reformadas.” Outro ponto que deve ser considerado € que a Court of Appeal € extremamente congestionada. SO no ambito civil, a corte julgot 1.059 recursos no ano de 2004 (no mesmo ano, a House of Lords julgou 77 recursos).* A Court of Appeal € um aeroporto movimentado: a House of Lords € a sua sucessora, a Suprema Corte, € ‘um aeroporto menor, reservado para viajantes exclusivos. Finalmente, € oportuno observar-se que tanto a House of Lords quanto a atual Suprema Corte tem competéncia para julgar recursos finais de causas que prove- ham da Inglaterra, da Escécia e da Irlanda do Notte. A Court of Appeal em Londres, ao contrario, s6 tem competéncia para julgar recursos inter- ppostos em processos ingleses. 4, RAZOES PARA A CRIAGAO DA SUPREMA CORTE ‘A principal razao da mudanca foi a necessidade constatada de que se desmembrassem as trés fungées/responsabilidades do Lord Chancellor, ‘a “reunio universal” de poderes, por assim dizer, da Constituigdo Brita- 23. L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords), The Judicial House of Tords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), p. 422 (coords.), Law Reform Now (Londres, 1963), p. 25, L. Blom-Cooper, B. Dickson, G, Drewry (coords), op. cit, p. 50. 26. ibid. CONFERENCIAS 305 nica.” Combinavam-se poderes tipicos do Executivo (com responsabili- dade tipica dos ministros do departamento de Estado, entéo conhecida como Gabinete do Lord Chancellor, agora Ministerio da Justica); ele era também uma espécie de presidente da assembleia, legislativa, e também era um juiz, que participava e presidia 0 de recursos interpostos perante a House of Lords eo Privy Council* Além disso, havia 0 desejo dos puristas, no sentido de destacar ou desatrelar 1a House of Lords judicial da House of Lords legislative, de modo que (i) 0s Lords ficariam fisicamente separados do Legis Gi) nao teriam mais competencia para participar de debates legislativos.” Como Lord Neuberger observou, com uma nota de agnosticismo: “concorde-se ou ‘do com isto”, depois da Lei de 1998 sobre direitos humanos, 0 fato de tenba historicamente remanescido formalmente “parte estava fadado a ser visto como uma “impropriedade cons- nal, pelo menos pelos juristas mais literais e puristas de direito Modernamente, Lord Chancellors continuaram a tomar parte das sessdes na Corte” (embora a pesquisa de Lord Bingham’ revele que, no periodo de 1945 2 2003, 0 Lond Chancellor paricipou de julgamentos 27. A Le Sueur, From Appellate Committee to Supreme Court: A Narrative, erm L, Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords ), op. cit.,p. 65-70. 28.N. T: Privy Council: uma espécie de conselheiro da Conte ou do Executivo. 29. On the Law Lords’ roles, R. Comes, McGonnel v UK, the Lord Chancellor and the Law Lords (2000) PL 166, p.174; D. Woodhouse, The ‘Chancellor: time to abandon the judicial role ~ the rest will follow (2002) 22 LS 128, p. 141 ess. 30. Law Lords nto Parlamento, respel dualmente no ipar : para detalhes, L Blom-Cooper, B Dickson, G Drewry (coords), op cit, p. 269, e ibid, David Hope, capitulo 11, especialmente p. 175 ess. 31. D. Neuberger, The Supreme Court: Is the House of Lords “Losing Part of Itself" (2 de dezembro de 2009), em (171. 32. Lord Hailsham patticipou de uma sessio na House of Lords 81 dias durante ‘seus dois pertodos neste oficio: e Lord Mackay durante 60 dias: HL Deb 17 de fevereiro de 1999, vol. 597, col. 738; L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (@oords.), The judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), p. 232. de participar de debat no 306 REVISTA DE PROCESSO 2010 - REPRO 186 de recursos somente oito dias por ano, o que se constitui na 15.* parte dds carga horaria de um Law Lords de 120 dias por ano). Por um curto periodo de tempo, tentou-se uma solucdo intermediaria:™ aceitou-se que 0 Lond Chancellor nao participaria de julgamentos de casos criminais, 86 civeis,e assim mesmo se o Governo nao tivesse interesse direto ou indireto no resultado do processo.® No entanto, considerou-se que isto ndo seria suficiente. A Reforma Constitucional de 2005” retirou a fungdo judicial do Lord Chancellor. Ele, assim, deixou de ser juiz. Em lugar disso, passou a ser um mero representante do Executivo, um Ministro do Executivo. Além disso, desde a Reforma Constitucional de 2005, o Lord Chancellor nao precisa mais ter formago juridica. ‘Tendo sido 0 Lord Chancellor rebaixado para um plano nao juris- dicional, 0 terreno estava limpo para se criar a Suprema Corte. Como explicou Lord Bingham:" “Tendo o Lord Chancellor deixado de parti- cipar de sessdes em que se decidem processos, ¢ tendo seu centro de sgravitacdo profissional se transferindo para a base, passou a haver pouico ‘ou nada que justificasse a presenca de Law Lords em atividades legis- lativas para as quais, no fundo, contribuiram relativamente pouico nos ultimos tempos". 33. T. Bingham, The Old Order Changeth (2006) 122 LQR 211, p. 217. 34. Em debates parlamentares sobre a separacio de poderes, HL Deb 17 de fevereiro de 1999, vol. 597, cols. 710-39; ex Lords Chancellors negaram que houvesse um problema: Lord Hailsham, The Office of Lord Chancellor and the Separation of Powers (1989) 8 CJQ 308; Lord Mackay, The Lord Chancellor in the 1990s (1991) 44 CLP 241; para uma abordagem critica, D. Woodhouse, The Office of Lord Chané rd Chancellor, the Jud (1999) PL I; C. Munro, Stu 328, 331 736 HL Deb 2 de marco de 2000 Carmichael (coords.) The House of Lo Roles (1998). 36. Antecipando a Reforma Constitucional de 2005, Lord Steyn (agora aposentado como Lord of Appeal), no texto que escreveu em 2002 All Souls College, Neill Lecture, citicou o papel multiplo exercido pelo Lord Chancellor: Steyn, The Case fora Supreme Court (2002) 118 LOR 382. 37. T. Bingham, The Old Order Changeth (2006) 122 LQR 211, p. 221-2. ventary and Judicial CONFERENCIAS 307. 5. A COMPOSIGAO E A ORGANIZACAO DA SUPREMA CORTE. ‘A Suprema Corte foi criada pela Reforma Constitucional de 2005. E a mais alta corte recursal do Reino Unido. A sua criagio tornou realidade a separacéo dos poderes exercidos pelo Judiciario e a “casa superior” do Parlamento no Unido. Reuniu-se, pela primeira vez, em outubro de 2009, substituindo 0 érgio com competéncia para julgar recursos da House of Lords. A Suprema Corte também assumiu a competéncia do Judicial Committee do Privy Council. A Suprema Corte € 4 mais alta corte recursal para os processos na esfera civil, no Reino Unido. E também o érgio maximo para julgar casos criminais oriundos da Inglaterra, do Pais de Gales ¢ da Irlanda do Norte. A High Court of Justiciary da Escocia continua a ter competéncia sobre casos criminais da Escocia, Mas nao se pretende que a Suprema Corte tenha poderes diferentes do que tinha a House of Lords. Como diz Lord Neuberger, “nao houve intengdo de se criar uma Corte Constitucional; isto 6, uma Corte que se desincumbiria de proceder a judicial review de atos do legislativo, em contraposigdo a atos do executivo. Assim, néo se pretende que a nova Corte invalide leis por considerd-las inconstitu- A Suprema Corte se situa ¢ se reume no ex Middlesex Gui lado oeste do Parliament Square, em frente as Casas do Parla incluindo o Presidente que, presentemente, ¢ juizes foram os Law Lords que compunham © rgio fracionario da House of Lords, que julgava recursos, em julho de 2009. Os membros, agora, nao esto qualificados para se manifestar em discussdes parlamentares da House of Lords. Nomeasoes so feitas pela Rainha, de acordo com uma série de recomendagses. As qualificacdes formais sao as de que os nomeados tenham exercido, “num momento qualquer de suas vidas, a funcao de julgar por pelo menos 2 anos ou tenha sido um advogado de alto nivel durante, pelo menos, 15 anos” (sesso 25(1), Lei de 2005) 38. D. Neuberger, The Supreme Court: Is the House of Lords “Losing Part of Itself (2-de dezembro de 2009), em [19] 39. A Le Sueur, From Appellate Committee to Supreme Court: A Narrative, em L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), The Judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), p. 89-92. 308 REVISTA DE PROCESSO 2010 ~ REPRO 186 E, portanto, possivel, que um juiz da Suprema Corte seja escolhido dentre barristers® ou solicitors." Baroness Hale, mencionou, num artigo publicado em 2004, que nao haveria razdo para exigir-se de tum juiz da Suprema Corte que tivesse gasto tempo na linha de frente como juiz de audiéncias,"?e sustentou que a escolha se desse a partir de uma maior amostragem que a Court of Appeal ou a High Court, porque estes indicados poderiam contribuir de forma mais arapla com um estilo de raciocinio mais acessivel aos julgamentos da Suprema Corte. A nova Suprema Corte tem um Presidente, Lord Phillips of Worth Matravers. 6. CONTROLE DA CARGA DE TRABALHO DA SUPREMA CORTE [Nao existe o direito de se interpor um recurso perante a Suprema Corte, Desde 1934, de fato, a House of Lords passou a empregar um método de autoprotecdo: a necessidade de que o recorrente obtenha uma licenga para recorrer, hoje chamada de permissao.” A pritica sobrevive. E entio, muito provavelmente, a Suprema Corte, como a sua anteces- sora, a House of Lords, nao julgardo mais que 80 recursos por ano. A. Suprema Corte normalmente decide quais casos pretende julgar, a nao ser que 0 Tribunal a quo haja concedido a permissio. Todos os pedidos de permissio sio recebidos e avaliados, se feitos por escrito. Mas pode haver um momento oral. A permissto pode ser limitada a questées especificas.* Se a permissto nao é concedida, dao-se razdes meramente formais.* 40. N. T: Barrister: advogado que atua fandsmentalmente nos tribunais hierar- quicamente superiores a primeira instancia 41, N.T: Solicitor: advogado cuja funcio é de, fundamentalmente, representar ‘a parte para mover a agio e contestar. 42. B. Hele, A New Supreme Court for the United Kingdom (2004) 24 LS 36, pal 43, Ibid., p. 53 € ss; veja também 52-3; 255; e sobre recursos per saltum ‘ocasionais da High Court para a House of Lords, p. 57 ess. 44, The Supreme Court Rules 2009 (St 2009/1603), rule 10. 45, James Vallance White, “na opiniio do Committee, a peticio nio tocou adequadamente numa questio de diteito que deveria sert apreciada pela House of Lords", em L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords), op. it, p. CONFERENCIAS 309 7. O ESTILO DAS DECISOES DAS CORTES SUPERIORES NA INGLATERRAY Neste ponto, é provavel que haja continuidade entre o que fazia a House of Lords e 0 que vira a fazer a Suprema Corte. O habito era ode que 05 juizes proferissem seus votos por escrito e em separado (speeches), mas hoje, ja, felizmente, ndo os leem em voz alta, por extenso. Eles s40 redigidos pelos juizes, com base em pesquisa feita pelos seus assessores. ‘A matéria-prima para estes julgamentos sto as pecas redigidas pelos advogados e as sustentacdes orais, mesmo jé no nivel de um Tribunal Superior."? Nos julgamentos da Suprema Corte, expdem-se as questdes de direito a exaustéo, discutem-se com veeméncia os pontos e principios ‘em que a decisio do caso se baseia (inglesa, escocesa ou estrangeira ~ se for 0 caso, cita-se direito comparado), ou se exploram as razdes que levaram o legislador a criar uma regra base para aquele caso. Além disso, na House of Lords, votos vencides nao eram incomuns. De fato, muitos ficaram famosos.* Num sistema em que ha acérdios densos ¢ fartamente funda- mentados, saber o que € 0 dircito, € tarefa ardua. Pois o dirett enquanto fruto de decisées da Court of Appeal e da House of Lords, pode ser encontrado ou identificado, se o for por um barrister muito dedicado ¢ inteligente, apoiado numa equipe de estagidrios ¢ todos teriam de ter dias para fazé-lo." A necessidade de economia, brevidade e clareza € evidente. Um Presidente da Suprema Corte que fosse realmente inspirado deveria ver nestes objetivos sua prioridade, pois ha muito mais ‘espaco para se chegar a um meio termo entre o conciso ¢ estandartizado 46.1. Blom-Cooper, Style of Judgments, em L. Blom-Cooper, B, Dickson, 6. Drewry (cords.), op. ct., capitulo 10; Lord Rodger, The Form and Language cof Judicial Opinions (2002) 118 LQR 226, p. 246-7. 47. Sobre a questo da . "Andrews, English Civil Procedure (Oxford University Press, 2003),5.22 ¢ s8~ J. D-Heydon, Limits to the Powers of Ultimate Appellate Courts (2006) 122 LQR 399, p. #21 € 55. 48. Eg., o magnifico voto vencido proferido por Lord Atkin em Liversidge ¥ ‘Anderson {1942} AC 206, que diz respeito a0 papel do Poder Executivo em tempos de guerra: L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), op. cit, p. 203 e ss T. Bingham, The Business of Judging (Oxford University Press, 2000), cap REV Heuston (1970) 86 LOR 33; Geoffrey Lewis, Lord Atkin (Hart, Oxford, 1999). 49. R. Goode, Removing the Obstacles to Commercial Law Reform (2007) 123 LQR 602-17. 310 REVISTA DE PROCESSO 2010 - REPRO 186 estilo de julgamento francés” (e os razoavelmente curtos acérdios da Corte Europeia de Justica), e 0 super detathado método de se redigirem condos na Inglaterra, em que cada juiz acrescenta imensidao de palavras que ja constam, outras relativas a interpretagao (com muitas citagdes) de imameros casos anteriores. 8. O pover 04 Suprema CORTE DE MOLDAR (= CRIAR) © DIREHTO ‘A Suprema Corte, como sua predecessora, a House of Lords, tem poder de declarar qual € 0 direito, de forma vinculante para os demais, rgios do Judiciario ingles e gales e, no que diz respeito a algumas maté- ras, para todo o Reino Unido. Na Inglaterra, as decisdes da Suprema Corte serio vinculantes para todos os outros tribunais ‘A Suprema Corte continuara a decidir em conformidade com as decisdes da House of Lords ou suas préprias. Mas, desde 1966, ha uma valvula de escape," que permite a mais alta Corte alterar a sua propria Jurisprudéncia, se tiver havido uma significativa mudanca na percepcio do que seja correto decidir acerca de determinado ponto. De acordo com Louis Blom-Coopers, entre 1966 e 2009, pelo menos 21 posicées da House of Lords foram alteradas ou desconsideradas, de acordo com regras ‘excepcionais que autorizam o afastamento de precedentes.® ‘A Suprema Corte nao tem poderes para invalidar um ato do Parla- mento.” Isso parece positivo, pois protege o Judiciério britanico da retensiosa suposicao de que eles seriam os “guardides do povo”, mais, do que o Parlamento eleito. Mas os Tribunais podem, sim, dizer que uma determinada lei esta em desacordo com a Lei dos Direitos Humanos de Pour wne motivation plus explicite des décisions de les de la Cour de cassation (1974) Rev. ur. dr. civ. 487 51. L, Blom-Cooper, 1966 and All That: The Story of the Practice Statement, veja em 143-4; ibid, em 271-2; B. Harris, Final Appellate 1g Their Own “Wrong” Precedents: The Ongoing Search 2002) 118 LR 408; J. W. Harris, Towards Principles of 1990),10 OJLS 135, 53. Jackson v Attorney General [2005] UKHL 19], per Lord Bingham: “a pedra de toque da Cons supremacta da Coroa no Parlamento [que pogel. qualquer lei que deseje" CCriar on extinguir CONFERENCIAS 311 1098 (e, depois, € tarefa do Governo a de tomar providencias para reti- ficar 0s dispositivos apontadcs).™ Em A v Secretary of State for the Home Department (2005) uma House of Lords composta de 9 juizes considerou (50.000 palaveas, 240 paragrifos) que dispositivo da Let de 2001, sobre medidas Anti-terrorismo, Crume e Seguranca, que deu a Secretaria de ‘Seguranca poder para deter suspeitos de terrorismo sem acusagao ou julgamento, era incompativel com os Convention rights.” 9. O Futuro Eu gostaria de concluir mencionando tres pontos a respeito dos quais tenho esperanga, no que concerne a nova Suprema Corte. Primeiro, espera-se que o sistema legal britanico seja poupado de espeticulos de celebridades e de juizes inspirados basicamente pelo seu préprio ego (Lord Denning, é extremamente capaz, mas € também alguém que sabe se autopromover, talvez 0 mais curioso exemplo dos tempos modernos).»* Segundo, deve-se esperar também que nao cocorta a politizagao do Judiciario. Como disse Lord Neuberger: “uma das grandes forcas do Judicidrio britanico foi, historicamente, a sua auséncia de coloracao politica e sua distancia da arena de ‘discricio- nariedade e politizaco”.*" A esperanca final € a de que os juizes da Suprema Corte, ja que terdo que julgar recursos de ultima instancia, que criem um equilibrio entre recursos criminais, de direito publico € (principalmente para que se mantenha a vitalidade do direito inglés), 54, $4, Human Rights Act 1998; tratado por D. Feldman, Human Rights, em 1. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), op. cit., p. 558-9. 55. [2004] UKHL 56; [2005] 2 AC 68, HL. 56. Lord Denning, O. M. Alfred Thompson, Tom, Denning; 1899-1999; Andover Grammar School; Magdalen College, Oxford; Lincoln’ indicado como juiz da High Court, 1944; Court of ,, 1957; em 1962 foi nomeado Master of the Biography, 2. ed., Londres, 1997); the Judge and the Law (Londres, (coord), New Oxford Companion to Law (Oxford University Press, 2008), p. 306. 57. D. Neuberger;"The Supreme Court: Is the House of Lords “Losing Part of tsell (2 de dezembro de 2009), em (31 312_ REVISTA DE PROCESSO 2010 - REPRO 186 controversias extraidas do seio do direito contratual, responsabilidade, direito comerci Estes sto 0s trés pontos a respeito dos quais tenho esperanca. Mas tudo pode dar horrivelmente errado. Particularmente, ha o real perigo de que esta Corte se concentre cada vez mais em assuntos de dieito publico (especialmente porque uma parte substancial jos ¢ financiada pelo Estado). De fato, Drewry € Blom-Cooper concluiram que, durante ‘década, a House of Lords jé estava “especializando- cialmente, em direito pabli parece provavel, a Suprema Corte se tornara, de fato titucional, mesmo sem poder para tornar sem efe ‘papel constitucional pode bem levar sua pol |juizes da Suprema Corte podem autoatribuir-se ‘sto significaria um real rompimento com a tradicao do Judiciatio inglés, ‘a uma certa impessoalidade. Tradicionalmente, jogadores de futebol importantes, DJs e chefes de cozinha “estrelados” sempre foram ‘mais “ceélebres” do que Lords of Appeal in Ordinary, ou Lords Chief Justice fe Masters of the Rolls. Diversas opinides ha sobre o mérito da ousada decisto de eriar a Suprema Corte ¢extinguir a House of Lords, como érgio Judiciario. Tenia ‘ot ndo havido necessidade de se interferir nas tradicdes sedimentadas da House of Lords, pode-se afirmar que a nova corte esta agora manifes- ne separada e livre de qualquer contaminacio vinda da atividade -gislativa: nenhum de seus juizes tem, agora, envolvimento no processo legislativo, ou nas praticas do governo. Em um curto prazo, ndo haverd ‘mudangas significativas sob este novo teto.”” Todavia, é bem possivel que hhaja uma metamorfose, uma vez que se aposente esta primeira gera¢do de juizes. 58, L. Blom-Cooper, B. Dickson, G. Drewry (coords.), The Judicial House of Lords: 1876-2009 (Oxford University Press, 2009), p. 53. aventureira) Apontamentos sobre o cumprimento de sentenga condenatéria ao pagamento de quantia certa no Cédigo de Processo Civil Junio PINHEIRO FARO HOMEM DE SIQUERA ‘Secretirie-Goral da Academia Bras ‘Advogade, ira de Direitos Humanos. Ansa 00 Dituro: Processual Resumo: © breve trabalho tz alguns Asstmct: Thi roo © breve, table, tae a : This short article brings some amount, the completion of sentence, with some short. reflections on the ing periods the incidence of 10% fine, expropriation executive techni detort objection and the prsbliy of Seeley iets eres eens Pataverscuave: Reforma do Cédigo de ecm et wees teal atl Roeesed fe de 10%. eee

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