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Presidente da República:

Fernando Henrique Cardoso


Ministro da Educação e do Desporto:
Paulo Renato de Souza
Secretário executivo:
Luciano Oliva Patrício
MEC
Secretário de Educação Fundamental:
Iara Glória Areias Prado
Diretor do Departamento de Política da Educação Fundamental:
Walter Kiyoshi Takemoto
Coordenadora Geral de Apoio às Escolas indígenas:
Ivete Maria Barbosa Madeira Campos
MEC/SEF/DPEF
Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas
Esplanada dos Ministérios, Bloco "L". Sala (52(5
CEP: 70.047-900 - Brasília/ DF
Tel.: (61) 410 8 6 3 0 / 321 5323, Fax: ((51) 32 1 5864
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor:
Prof. Dr. Jacques Marcovitch
Diretora da. Faculdade de Educação
Profa. Dra. Myriam Krasilchik
LAPECH - FEUSP

CENTRO DE TRABALHO 1ND1GENISTA - CTI


Presidente:
Profa. Dra. Sylvia C. Novaes
Coordenadora do Programa Educação Escolar Indígena
Profa. Maria Elisa Ladeira

GOVERNO POPULAR DO MATO GROSSO DO SUL


Secretário Estadual de Educação:
Prof. Pedro Kemp
Núcleo de Educação Indígena

Bittencourt, Circe Maria.


A história do povo Terena. / Circe Maria Bittencourt,
Maria Elisa Ladeira. - Brasília : MEC, 2000.
156p. : ir.

1.Educação Escola Indígena 2.Cultura Indígena


I.Maria Elisa Ladeira.

CDU 37(=081:81)
Circe Maria Bittencourt
Maria Elisa Ladeira

A Historia
do Povo Terena

M E C - S E F - USP

Maio / 2000
REALIZAÇÃO:

CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA - CTI


FACULDADE DE EDUCAÇÃO - USP

Produção:
Programa de Educação Escolar Indígena/CTl

Coordenação e elaboração:
Circe Maria Bittencourt
Maria Elisa Ladeira

Pesquisa:
Rogério Alves de Rezende
Adriane Costa da Silva
Professores Terena de Miranda: Severiano Pascoal, Genésio de Farias, Josefina Muchacho
Henrique, Nilza Júlio Raimundo, Aríete Bonifácio, Ruy Sebastião, Eulogia de Albuquerque,
Elizeu Sebastião, Anésio Pinto, Luzinete Raimundo, Nilo Delfino, Elcio de Albuquerque,
Aronaldo Júlio. Paulo Bonifácio.
Alunos do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Ciências Humanas/USP/Lapech

Consultoria:
Nidia Pontusck
Gilberto Azanha
Aryon Dall'lgna Rodrigues

Programação Visual:
Sônia Lorenz

Diagramação, mapas e tratamento das imagens:


Antônio Kehl

Revisão:
Maria Regina Figueiredo Horta

APOIO INSTITUCIONAL:

Rainforest Foundation - Noruega


Centro de Trabalho lndigenista
Universidade de São Paulo
Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul

CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA - CTI


Rua Fidalga. 548 - sala 13
Vila Madalena - São Paulo - SP
O5432-000
Tel.: (11) 813-3450
e-mail: cti@dialdata. com. br
APRESENTAÇÃO

Este livro de História tem muitos autores. Muitas p e s s o a s


participaram, de diferentes formas, de sua criação e confecção. Ele
nasceu de um encontro de professores Terena realizado pelo Centro de
Trabalho Indigenista, em 1994, na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo.
Os livros de História escrevem pouco sobre as populações
indígenas, omitindo muito da participação destes povos na história de
toda a nação brasileira. Este livro nasceu, assim, da vontade de deixar
uma história escrita de um povo que vive há centenas de anos no território
brasileiro, possuidor de um passado de lutas e de conquistas cuja
memória histórica precisa ser conhecida, discutida, repensada.
Para que e s s e livro p u d e s s e ser escrito foram feitas muitas
pesquisas. Os professores Terena pesquisaram com os mais velhos e
registraram muitas histórias de um passado que começa no Êxiva, na
região do Chaco. Alunos do curso de Prática de Ensino de História da
Universidade de São Paulo e a equipe do Projeto de Educação do CTI
fizeram levantamento de livros e documentos escritos, pesquisando
sobre brasileiros, portugueses e espanhóis que, desde o século XVI,
deixaram relatos e desenhos sobre os Terena. Muitas outras pesssoas
do CTI e da USP ajudaram a redigir e organizar os diversos capítulos
que fazem parte do livro. Especialistas em computação auxiliaram com
sua arte a organizar os mapas, as ilustrações do livro. E ainda é
importante destacar que esse livro não terminou, porque as crianças e
jovens Terena irão completar muitas histórias, fazendo pesquisas junto
com seus professores e escrevendo nos espaços reservados para que
a história continue sendo escrita, por mais autores.
Na trajetória de construir este livro foram enfrentados muitos
desafios e dificuldades, mas também foi muito gratificante participar
desse trabalho. As muitas pessoas que se envolveram na sua elaboração
criaram laços de respeito e de amizade. Agradecemos a todos que
colaboraram direta ou indiretamente para que este livro se tornasse uma
realidade.
Todos nós, que participamos da elaboração desse livro, esperamos
que ele possa contribuir para aumentar os laços de solidariedade entre
os Terena, e que ele ajude a reafirmar a identidade histórica de um povo
que tem lutado para ser reconhecido como construtor da nação brasileira,
sem perder sua autonomia cultural e política, seu modo próprio de ser e
sua dignidade.

Circe Maria Bittencourt Maria Elisa Ladeira


Universidade de São Paulo Centro de Trabalho Indigenista
SUMARIO

Capítulo I - Começa uma História 9


1. Os Aruák 12
2. Povos Aruák no Brasil 14
3. Povos indígenas no Brasil 18
4. Histórias da origem do povo Terena 22
5. Momentos da história do povo Terena 25
Capítulo II - Tempos Antigos 33
1. Os Guaná no Êxiva 35
2. Contatos entre Guaná e brancos 37
3. Os Terena em Miranda e Aquidauana 38
4. Os Terena na época do Império brasileiro 42
Capítulo III - Os Terena e a Guerra do Paraguai 53
1. A Guerra do Paraguai 55
2. Histórias da Guerra: relatos de Taunay 57
3. Histórias da guerra: Relatos dos Terena 63
Capítulo IV - Tempos da Servidão 73
1. A Lei de Terras de 1850 e os povos indígenas 75
2. Os Terena depois da Guerra do Paraguai 76
3. O governo republicano e os povos indígenas 79
4. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil 82
Capítulo V - O Território dos Terena 91
1. O Serviço de Proteção aos Índios. 93
2. A criação das áreas Terena. 96
3. Os Terena e os problemas com o SPI 97
4. A FUNAI e a situação atual. 98
Capítulo VI - Cotidiano nas aldeias: ontem e hoje 105
1. Vestuário 108
2. Moradia l13
3. As artes: cerâmica, cestaria e tecelagem 119
4. Culinária 131
5. Roças, pesca, coleta, caça e criação 134
6. Festas e cerimônias 140
Créditos Fotográficos 153
BIBLIOGRAFIA 1 55
A história do povo Terena é longa e está ligada às histórias de vários
povos indígenas, dos europeus, dos africanos e seus descendentes. O
povo Terena, juntamente com os Laiana e os Kinikinau, faz parte da
história de grupos indígenas que vivem em várias regiões e países da
América.
Para se conhecer a história dos Terena é preciso recorrer a várias
fontes de informação. Podemos conhecer o passado dos Terena pelos
produtos da cultura material, como objetos de cerâmica, de tecelagem,
instrumentos musicais, que revelam muito dos hábitos e costumes
antigos e que atualmente nem sempre existem mais. Pode-se também
recorrer aos textos escritos, desenhos, pinturas, fotografias feitos por
brancos que estabeleceram contatos em diversos momentos com os
Terena.
E ainda, para sabermos sobre a vida passada dos Terena, é muito
importante ouvir os relatos orais dos mais velhos. A tradição oral revela
os momentos mais significativos da história dos povos indígenas. A
língua falada pelos Terena é a mais importante fonte que se tem para se
conhecer parte da história mais recente e também do passado mais
distante.
A lingua falada pelos Terena conserva elementos em comum com
a língua usada pelos Laiana e pelos Kinikinau e que, embora com
algumas diferenças, permite reconhecer que ele pertence a uma língua
de origem comum denominada Aruák. A identificação dessa língua
comum é importante porque, por intermédio dela, podemos saber um
pouco sobre a origem dos Terena e localizar o lugar onde vivem e
viveram em outros tempos.
Pode-se conhecer o lugar de origem das pessoas porque as línguas
têm elementos comuns e pode-se perceber que cada povo recebe várias
influências no contato com outras populações. Com a convivência são
acrescentadas novas palavras, alterando constantemente a língua
original. Quando uma comunidade se separa, a convivência entre as
pessoas diminui e, em conseqüência, aumentam as diferenças na fala
dos habitantes desses lugares. Quando esses grupos mudam-se para
outros lugares distantes, perdem todo o contato entre si e não existe a
possibilidade de incorporar palavras novas.
Desta forma, apesar da língua ser a m e s m a , os Terena de
Cachoeirinha, por exemplo, falam de um modo diferente dos Terena de
Taunay e, da mesma forma, a língua portuguesa falada pelos gaúchos
é diferente da língua portuguesa falada pelos pernambucanos ou pelos
habitantes de Portugal. Podemos saber, então, pela fala, o lugar de origem
daquela pessoa. Podemos também identificar se um Terena é de
Cachoeirinha, de Ipegue, de Bananal ou de outras aldeias.

1. Os Aruák
O nome Aruák vem de povos que habitavam principalmente as
Guianas, região próxima ao norte do Brasil e algumas ilhas da América
Central, na região das Antilhas. Quando os europeus começaram a
dominar a região, os Aruák dividiam e disputavam o mesmo espaço
com outro povo indígena, os Karib. E foi com estes dois povos que os
europeus tiveram seus primeiros contatos. Tal como aconteceu com o
nome Karib, que passou a designar aquela região, o Caribe, também o
nome Aruák veio a ser usado pelos europeus para identificar um conjunto
de línguas encontradas no interior do continente sul-americano.
Observe com atenção o mapa para localizar a ampla região onde
são faladas as línguas de origem Aruák.
Podemos observar que se fala o Aruák na região norte da América
do Sul, com povos que habitam a área dos rios Orinoco, Negro e
s e u s afluentes, principalmente o rio Içana. E existem povos que
habitam lugares próximos aos rios Japurá e Solimões, Purus e Juruá
até chegar às nascentes do rio Ucaiáli. Os povos que falam a língua
de origem Aruák, conforme pode-se verificar pelo mapa, não habitam
em um único país.
Outros grupos que se utilizam da língua de origem Aruák vivem
mais ao sul do continente. Existem povos que vivem na região
amazônica da Bolívia, no estado do Mato Grosso e na região do rio
Xingu, no Brasil. O povo de língua Aruák que mora mais ao sul do
continente americano são os Terena.

2. Povos Aruák no Brasil


Podemos agrupar os povos indígenas que falam a língua Aruák no
Brasil de acordo com a região em que habitam. O rio Amazonas delimita
as áreas dessas populações.
Os grupos Aruák situados ao norte do rio Amazonas são vários.
Ao ler sobre eles, procure no mapa a localização de cada um.
Os Boníwa do Rio Içana. afluente do Rio Negro, compreendem
um grande número de pequenos grupos distribuídos ao longo de todo o
curso do rio e de alguns outros rios próximos. Cada um destes grupos
fala dialeto próprio, mas com poucas diferenças entre si.
Não muito distante vivem os Warekana. que compreendem alguns
grupos situados em outro afluente do rio Negro, o rio Xié, e cuja língua
difere muito pouco da de seus vizinhos, os Baníwa.
Tariána é um outro grupo Aruák, mas que hoje pouco fala seu idioma
de origem, porque ao se mudarem do rio Içana para a região do rio
Uapés, o povo Tariána adotou a língua de seus novos vizinhos, os
Tukano. Parece que apenas o grupo chamado íuemi continua mantendo
a língua Tariána, que é também muito próxima da língua dos Baníwa do
rio Içana.
Moça Palikur
Os grupos que vivem próximo
ao rio Negro, Baré. Mondawáka e
Yabaáno não têm mantido a língua
de origem Aruák, s e n d o que a
maioria d e l e s fala s o m e n t e o
português.
Há também os Wapixana que
vivem no estado de Roraima, às
margens do rio Branco, e os Palikur.
situados no estado do Amapá, na
bacia do rio Oiapoque, que se
utilizam de uma língua falada muito
próxima, embora com algumas
diferenças, da língua usada pelos
povos Baniwa.
Os grupos Aruák que vivem
ao sul do rio Amazonas podem
ser agrupados de acordo com as
áreas que ocupam. Existem quatro
áreas importantes que podem ser
observadas pelo mapa.
A primeira dessas áreas está
situada no sudoeste do estado do
Acre e nelas vivem os Apurínã (ou
Ipurinã). com aldeias ao longo do
rio Purus: os Kámpa no alto rio
Juruá; os Maxinérí e Manitenérí (a
língua Piro) no rio Iaco, um afluente
do rio Juruá.
Uma segunda área fica a oeste
do estado do Mato Grosso, na
região d o s formadores do rio
Juruena, que é um afluente do rio
Tapajós, onde vivem os Paresi e os
Salumã.
Em uma terceira área, no alto
do rio Xingu, são faladas línguas
da família Aruák, muito semelhantes entre si. Estes grupos são
denominados como Mehináku. Waura e Yawalapití.
E, a quarta e última área é a que corresponde aos grupos que vivem
na região mais meridional da família Aruák no Brasil. É o povo Terena.
que habita na região dos rios Aquidauana e Miranda, afluentes do rio
Paraguai, no estado do Mato Grosso do Sul. Na década de 30 um grupo
de Terena foi transferido para o estado de São Paulo, numa área onde
vivem os Kaingang e Nhandeva (Guarani), na região de Bauru. Em
conseqüência desta migração, há meio século que a língua Terena
também é falada nesta região.
Existe um grupo na Bolívia, os Moxo. que ainda mantém a língua
de origem Aruák; e outro denominado Choné, mas este povo atualmente
só fala espanhol. No Paraguai há também os Guaná. que aparentemente
não falam mais a língua.
Todos estes grupos indígenas que falam a língua Aruák têm
diferenças entre si, mas possuem uma mesma língua de origem. Além
desta proximidade que indica uma origem comum, estes grupos têm
semelhanças na forma de sua organização social. Todos esses grupos
possuem ou possuíram formas de organização internas características,
sendo tradicionalmente agricultores e conhecedores das técnicas de
tecelagem e cerâmica.

3. Povos indígenas no Brasil


As populações indígenas do Brasil não são um só povo: são
constituídos por muitos grupos, diferentes entre si e do conjunto de
populações descendentes dos colonizadores europeus, portugueses,
dos escravos africanos e dos imigrantes que aqui chegaram em
diferentes épocas, como os italianos, árabes, espanhóis, alemães,
japoneses, entre outros. A nação brasileira é, assim, constituída por estes
povos e o conjunto de diferentes povos indígenas.
Os povos indígenas foram as primeiras populações que ocuparam
o território que foi denominado Brasil pelos portugueses, mas os
m o m e n t o s e a forma d e s s a o c u p a ç ã o ocorreram de maneiras
diferentes. Para ocupar o território foram feitas guerras, realizaram-se
acordos com autoridades, alianças entre vários grupos, houve a
catequese de missionários, estabelecendo-se contatos diversos, às
vezes de forma pacífica e em outras situações de maneira violenta. É
importante destacar que esta situação ocorreu no passado, mas ainda
acontece atualmente.
A história da ocupação do território pelos grupos indígenas,
anterior à chegada dos europeus também foi realizada de diferentes
formas e m o m e n t o s . A o c u p a ç ã o do território foi s e n d o feita
lentamente, durante muito tempo, por migrações de populações
indígenas diferentes que estabeleceram contatos entre si, trocaram
experiências, realizando alianças que enriqueceram suas heranças
culturais ou, então, fizeram guerras para dominar áreas mais férteis
ou de fácil comunicação.
Desta forma, a população indígena no Brasil é constituída por
diversos povos, diferentes entre si, com usos, costumes e crenças
próprias, e que falam línguas diferentes. O direito a esta diferença,
mantendo a língua e costumes tradicionais é atualmente garantido pela
Constituição Brasileira de 1988 pelo Artigo 231:

"São reconhecidos aos índios sua organização social


costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens."

T a m b é m está garantido por lei constitucional o direito de


preservação e e s t u d o d a s línguas indígenas n a s e s c o l a s , pelo
Artigo 2 10:

"O ensino fundamental regular será ministrado em língua


portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem."

Existem aproximadamente 200 povos indígenas no Brasil que


falam 170 línguas. Esta população corresponde, segundo estimativas,
a 250 mil pessoas. Observe no mapa a seguir, a distribuição das
populações indígenas no território brasileiro.
É provável que na época da
chegada dos portugueses, há 500
a n o s , o n ú m e r o d a s línguas
indígenas fosse maior do que é
hoje. É t a m b é m difícil saber o
número de habitantes indígenas na
época da chegada dos europeus.
O desaparecimento de muitas
línguas indígenas foi maior nas
regiões colonizadas mais
intensamente e há mais tempo
pelos portugueses, como a região
sudeste, nordeste e sul do Brasil.
As línguas indígenas
existentes no Brasil p o d e m ser
agrupadas, de um modo geral,
em grandes grupos denominados
como "famílias lingüísticas" que,
em alguns casos, têm falantes
também em outros países. Estas
"famílias" s ã o Tupi-Guaroni,
Korib, Pono, Aruák e Jê.
Existem também, além dessas
grandes "famílias", outras "famílias"
menores como Guaikuru, Tukano,
Moku e Yanomami. E ainda existem
a s línguas q u e o s e s t u d i o s o s
classificam como "línguas
isoladas". Por "língua isolada"
queremos dizer que os lingüistas,
que são os estudiosos das línguas,
não sabem a que "família" original
esta língua pertence.
4. Histórias da origem do povo Terena
Saber a origem dos povos é muito difícil. Em geral, cada povo cria
mitos e lendas para explicar sua origem. O mito sobre como os Terena
foram criados pode ser contado de várias maneiras. As diferenças entre
as versões narradas estão ligadas ao momento e à situação vivida pelo
povo quando contam essa parte da sua história. Os brancos também
contam a sua história de vários jeitos, dependendo do tempo, das
circunstâncias e d o s grupos que e s t a v a m no poder q u a n d o a
escreveram. Por isso, a história de muitos personagens brancos que
aparecem nos livros, também tem várias versões.
Cada povo tem a sua própria maneira de contar sobre a criação do
mundo e de como surgiram enquanto povo. Os povos de tradição
judaico-cristã, por exemplo, têm o mito de Adão e Eva. Os Desana, que
é um povo de língua Tukano que mora com outros povos de língua
Aruák e Maku na região do rio Negro, no estado do Amazonas, contam
sobre o Umuri ñhku, o "Avô do Universo". E assim, cada povo tem a sua
própria tradição e visão do mundo.
Segundo a tradição dos Terena, os professores da aldeia de
Cachoeirinha, em 1995, resumiram assim a criação de seu povo:

"A criação do povo Terena

Havia um homem chamado Oreka Yuvakae. Este homem


ninguém sabia da sua origem, não tinha pai e nem mãe, era
um homem que não era conhecido de ninguém. Ele andava
caminhando no mundo. Andando num caminho, ouviu grito
de passarinho olhando como que com medo para o chão. Este
passarinho era o bem-te-vi.
Este homem, por curiosidade, começou chegar perto. Viu
um feixe de capim, e embaixo era um buraco e nele havia uma
multidão, eram os povos terenas. Estes homens não se
comunicavam e ficavam trêmulos. Aí Oreka Yuvakae, segurando
em suas mãos tirou eles todos do buraco.
Oreka Yuvakae, preocupado, queria comunicar-se com eles e
ele não conseguia. Pensando, ele resolveu convocar vários animais
para tentar fazer essas pessoas falarem e ele não conseguia.
Finalmente ele convidou o sapo para fazer apresentação na
sua frente, o sapo teve sucesso pois todos esses povos deram
gargalhada, a partir daí eles começaram a se comunicar e falaram
para Oreka Yuuakae que estavam com muito frio."

Um estudioso do povo Terena, o antropólogo Herbert Baldus, depois


de conversar com os Terena, durante as visitas que fez aos postos
indígenas do estado de São Paulo em 1947, transcreveu a seguinte
versão:

"Diz que antigamente não havia gente. Bem-te-vi, uítuka,


descobriu onde havia gente debaixo do brejo. Bem-te-vi marcou
o lugar aos Orekajuuakái que eram dois homens e estes tiraram
a gente do buraco
Antigamente, Orekajuuakái era um só e quando moço a
sua mãe ficou brava, pois Orekajuuakái não queria ir junto com
ela à roça, foi à roça, tirou foice e cortou com ela Orekajuuakái
em dois pedaços. O pedaço da cintura para cima ficou gente, e
a outra metade também.
Antes de tirar a gente do buraco, Orekajuuakái mandaram
tirar fogo, iukú. Pensaram quem uai tirar fogo. Foi o tico-tico,
xauokóg. Ele foi e não achou fogo. Depois foi o coelho, kanóu,
e tomou o fogo dos seus donos, os Tokeóre.
O konóu chegou onde estava os Orekajuuakái e foram
fazendo grande fogueira. Gente leuantou os braços e Orekajuuakái
tirou do buraco. Toda gente era nu e tinha frio e Orekajuuakái
chamaram para ficar perto do fogo. Era gente de toda raça.
Orekajuuakái sempre pensaram como fazer falar esta gente.
Mandaram-na entrar em fileira um atrás do outro. Orekajuuakái
chamaram lobinho, okué, pra fazer rir a gente. Lobinho fez
macacada, mordeu no próprio rabo, mas não conseguiu fazer
rir. Orekajuuakái chamaram sapinho, aquele vermelho, kalaláke.
Este andou como sempre anda e a gente começou a dar risada.
Sapinho passou ida e volta ao longo da fila três vezes. Aí a
gente começou a falar e dar risada.
Orekajuuakái ouviram que cada um da gente falou diferente
do outro. Aí separaram cada um a um lado. Eram gente de
toda roça. Como o mundo era pequeno, Orekojuuokái aumentou
o mundo para o pessoal caber.
Orekajuuakái deu uns carocinhos de feijão e milho e deu
mandioca também e ensinou como se planta. Deu também
semente de algodão e ensinou como tecer faixa. Ensinou fazer
arco e flecha, ranchinho, roçar e plantar, "(relato oral de Antônio
Lulu Kaliketé, traduzido para o português por Ladislau Haháoti)

Linha do Tempo dos Terena


Chegada dos
Portugueses
ao Brasil
5. Momentos da história do povo Terena
Cada povo tem m o m e n t o s importantes m a r c a d o s por
acontecimentos que levam a mudanças na vida de toda a comunidade.
Esses momentos surgem entrelaçados a vários acontecimentos e
permanecem na memória de todos. Relembrar esses momentos e buscar
entendê-los é importante para que se possa perceber os acontecimentos
presentes e como eles estão ligados a esse passado. Para os Terena,
têm sido relembrados três grandes momentos em sua história.
O primeiro deles foi a saída do Êxiva, transpondo o rio Paraguai, e a
ocupação da região do atual estado de Mato-Grosso do Sul. Este período
foi longo, durando muitos anos, com migrações que foram feitas em
todo o decorrer do século XVIII. Foi um período em que os Terena
ocuparam um território vasto, dedicando-se à agricultura e estabeleceram
alianças importantes com os Guaicuru e com os portugueses.
Este foi o período dos Tempos Antigos.
Em seguida, um acontecimento importante afetaria a vida dos
Terena, a Guerra do Paraguai. O momento mais significativo da vida
dos Terena foi a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esta guerra, na qual
participaram muitos países - Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai -
envolveu também os escravos de origem africana e povos indígenas
habitantes das regiões próximas ao rio Paraguai. Os Terena e Guaicuru
aliaram-se aos brasileiros e lutaram para preservar seu território.
Após a Guerra do Paraguai, muitas mudanças aconteceram na
região e, para os Terena, ela significou a perda da maior parte do seu
território, que passou a ser disputado pelos proprietários de terras
brancos, que chegavam cada vez mais para plantar e criar gado.
Este foi o período denominado Tempos da Servidão.
E o terceiro momento correspondeu à delimitação das Reservas
Terena, iniciado com a chegada da Comissão Construtora das Linhas
Telegráficas chefiadas por Rondon, e continua até o presente. Essa
época, do começo deste século até os dias de hoje, é marcada por uma
maior proximidade com a população branca, os purutuyé, com
m u d a n ç a s nos hábitos e costumes terenas. Os Terena têm sido
obrigados a se submeter a trabalhos para os proprietários de terras
particulares. Este momento ainda está sendo vivido pelos Terena, que
estão fazendo sua história, buscando maior autonomia enquanto povo,
e mais direitos como cidadãos brasileiros. Este período não possui ainda
um título. Cada criança ou jovem Terena pode denominá-lo como desejar.
Depois de ler este livro, dê um título a este terceiro momento da
história dos Terena:

Tempos
ATIVIDADES

l . O s Aruák

Escreva uma relação das fontes para se conhecer a história do povo


Terena:

Por que a língua falada pelos Terena é diferente da língua falada dos
Salumã, se as duas línguas são da "família" Aruák?
Observando o mapa 1, escreva:
o nome dos países da América onde vivem povos de origem Aruák.

o nome de três povos Aruák

2. Povos Aruák no Brasil

Escreva uma característica comum a todos os povos de língua Aruák.

Observando o mapa 2, relacione:


o nome dos estados brasileiros onde vivem povos de língua Aruák
nome de alguns dos rios importantes para os Aruák

3. populações indígenas no Brasil


Leia com atenção os Artigos 231 e 210 da Constituição Brasileira de
1988 e escreva com suas palavras os direitos de todos os povos
indígenas do Brasil.

Observe o mapa 3 e escolha dois estados brasileiros com um número


expressivo de povos indígenas

Quais os povos indígenas com quem os Terena mantêm contato?


Escreva o nome de outros povos de quem você já teve notícias

4. A História da origem do povo Terena


Faça um desenho inspirado pelo mito de Orekajuvakái
Converse com outras pessoas (pais, avós, etc.) sobre a origem dos
Terena. Depois compare as versões, e escreva as diferenças.

Procure saber junto aos mais velhos outros mitos Terena. Escreva nas
linhas abaixo. Depois leia para seus colegas.
5. Momentos da História do povo Terena

Observe a Linha do Tempo e calcule há quantos séculos os Terena têm


contato com os purutuyé.

Explique o que é um século.

Qual o século em que ocorreu a Guerra do Paraguai?

Faça uma Linha do Tempo da história da sua aldeia, localizando:


- época em que foi criada
- acontecimentos mais importantes
Mulher levando carga em
bolsa de Garaguatá

Mulher Lengua tirando água


da planta Garaguatá
1. Os Guaná no Êxiva
Os avós contam que os Terena viviam antigamente no Êxiva, lugar
conhecido pelos purutuyé como Chaco.
As tribos que falavam a língua Aruák eram chamadas, na época
em que os europeus chegaram ao Êxiva, de Guaná. Há relatos escritos
pelos espanhóis descrevendo os Guaná.
Sanches Lavrador escreveu um relato sobre sua viagem pela região
do Êxiva, em 1767, e afirmou que:

"Em vários partes do Paraguai católico se tem notícia da


nação chamada Guaná. Nome que engloba todos os subgrupos.
Estes subgrupos usam nomes para se distinguirem entre si.

Francisco Aguirre, que percorreu a região em 1793, contou que:

"Os Guaná, em seu idioma "Chané", isto é, "muita gente",


habitam o Chaco paraguaio... das margens do rio Paraguai até
os confins do Peru. É a nação mais numerosa... As nações
Guaná que se conhecem nesta parte oriental são 5. Layana,
Etelenoe ou Etelena, Equiniquinao ou Equiliquinao, Neguecatemi
e Hechoaladi"

Atualmente todos estas nações que compunham os Guaná estão


agrupadas sob a denominação de Terena (Efeienoe), apesar de muitos
dos velhos saberem se são descendentes dos Layana ou Kinikinaua
(Equiniquinao).

A história dos Terena no Êxiva ainda é relembrada pelos mais velhos


das aldeias:

"Meu sogro, pai de minha mulher... ele contou a história do


Êxiva, de onde eles vieram fugindo. Meu sogro também veio de
lá. Eles não sabiam falar o português, só falavam o Terena e
não sabiam ler nem escrever... não sabiam nada, mas sabiam
o tempo em que as árvores floresciam todos os anos. No mês
de agosto começavam a derrubar o mato para plantar.
Plantavam só um pedacinho de terra mas dava uma produção
grande, com fartura... Não faltava nada para o índio comer.
Tinha bastante peixe e caça. E muita mandioca para comer."
(João Martins - 'Menootó' - aldeia Cachoeirinha)

Os Guaná não eram a única nação que habitava o Chaco. Lá viviam


também os Mbaya Guaicuru e os Guarani, com quem os Guaná
estabeleceram vários tipos de contato. Os contatos entre os Guaná e
os Guarani nunca foram amistosos, havendo muitas histórias de
conflitos.
A relação entre os Guaná e os Mbaya Guaicuru foi de aliança. A
história das duas nações mostra que as alianças feitas entre elas foram
muito importantes nas lutas contra tribos inimigas e contra espanhóis e
portugueses.
A aliança entre Guaná e Guaicuru foi possível por serem povos
com um modo de vida diferente. Os Guanás eram hábeis agricultores
que viviam das roças próximas às suas aldeias e os Guaicuru, vivendo
da caça e da pesca, controlavam vastos territórios. Atualmente o único
grupo de origem Mbaya Guaicuru no Brasil é o Kadiwéu, que vive ao sul
do pantanal do Mato-Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Alguns
relatos dos Kadiwéu mostram que essas diferentes maneiras de viver
sempre existiram:

"Quando Deus (Aneotedroni) terminou de fazer cada tribo,


ensinou o que eles poderiam fazer: deu enxada para os terena,
foice para os brancos e para os Kadiwéu deu a terra, porque
para Kadiwéu deu a terra, porque não pode roçar, não sabe roçar"
(Basílio Kadiwéu, l989)

As diferenças entre os Guaná e os Guaicuru facilitaram as relações


de troca. Os Guaicuru aprenderam a utilizar cavalos trazidos da Europa
para fazer guerra e protegiam as aldeias aliadas dos ataques dos inimigos
Guarani e dos espanhóis. Os Guaicuru forneciam para os Guaná facas e
machados que eram utilizados na agricultura. Os Guaná forneciam aos
Guaicuru produtos que cultivavam nas roças, roupas de algodão e
cobertores. Para consolidar estas alianças, os Guaná e os Guaicuru
realizavam casamentos entre si.

Vários relatos escritos dos espanhóis comprovam essas trocas. Eis


um desses relatos:

"Os Guaicuru recebiam dos Guaná algum grão para viagem,


um bolo de Nibadana com que pintam de vermelho, e alguma
manta de algodão, seja branca ou listrada de várias cores, que
com gosto tecem os Guaná."
(Sanches Labrador, 1 767)

2. Contatos entre Guaná e brancos


Os brancos chegaram ao Êxiva navegando pelo rio Paraguai, vindos
do porto de Buenos Aires. Vieram atraídos pelas lendas sobre a riqueza
das minas de ouro e prata na região dos Andes, onde a mais rica das
minas de prata era Potosi, no atual país chamado Bolívia. Esse era o
caminho mais curto para chegar até a região das minas. Sabendo disso,
eles organizaram muitas expedições para lá. Assim, a partir do século
XVI, começou a história do contato entre os povos indígenas, primeiros
habitantes e senhores dessas terras, e os europeus.
Schimdel, um escritor europeu que passou pelo Êxiva naquela
época, descreveu a vida dos Guaná:

"Neste caminho achamos roças cultivadas com milho,


raízes e outros frutos (...) Quando eles colhem um roçado, outro
já está amadurecendo e quando este está maduro, já se plantou
num terceiro, para que em todo se tivesse alimento novo nas
roças e nas casas".

Nem sempre as relações entre os europeus, os Guaná e seus aliados


foram de amizade. Houve muitos conflitos, porque os brancos queriam
conquistar as terras próximas ao rio Prata, interessados no ouro e prata.
Para os europeus, esses metais tornaram-se produtos muito cobiçados,
porque transformavam-se em dinheiro, tornando as pessoas ricas e isso
gerou muitas brigas e confrontos. Havia disputas entre os próprios
europeus, lutando portugueses contra espanhóis para dominar as regiões
com riquezas minerais e havia as guerras contra as populações indígenas
que procuravam resistir à conquista de seus territórios.

Os espanhóis foram os primeiros a chegar. Logo depois, vieram os


portugueses. Construíram vilas para morar. Trouxeram instrumentos de
ferro para plantar (machados e facões), alimentos (cana-de-açúcar,
manga, café) e animais diferentes (vacas, carneiros, cabritos, cachorros,
galinhas e cavalos). A presença dos brancos provocou muitas mudanças
na vida dos índios. Vieram os padres missionários, que criaram aldeias
para os índios aprenderem a religião cristã e a língua dos estrangeiros.

3. Os Terena em Miranda e Aquidauana


A região do Êxiva ficava próxima das minas de metais preciosos e
os colonizadores europeus disputavam esse território. Espanhóis e
portugueses faziam guerras para decidir quem ficaria com essas terras.
AS várias tribos da região foram envolvidas por essas lutas. Para defender
seu povo e suas terras, os Guaná procuraram fazer aliança com os
portugueses. Já os Guarani, procuraram unir forças com os espanhóis
contra seus antigos inimigos, os Guaicuru.
Durante essas guerras muitas aldeias foram destruídas. Os Guaná,
vieram se deslocando acompanhando os seus aliados Mbayá-Guaicuru
para o Mato Grosso do Sul, no século XVIII. Os Terena, os Kinikinau, os
Laiana reconstruíram suas aldeias perto do forte Coimbra e das vilas
das Serras do Albuquerque, entre os rios Paraguai e Miranda. Os Kadiwéu
e outras tribos Guaicuru se estabeleceram nas redondezas da Serra de
Maracaju.
Alguns relatos dos mais velhos contam porque os Terena saíram
do Êxiva e como eles atravessaram o rio Paraguai:

"Meu pai cresceu lá mesmo no Êxiva. Meu pai fugiu de lá


porque lá havia os índios ('kopenoti') bravos. Eles atravessaram
as morrarias atrás de Porto Esperança. Na água quando nadou,
amarrou um carandá seco na cintura como jangada."
(Antônio Muchacho - aldeia Cachoeirinha)

"Minha avó, meu avô são do Êxiva. Eles usaram uma taquara
bem grande para atravessar o rio... pelo nome 'taquaruçu' ela é
conhecida pelos purutuyé. Eles trançavam com cipó (humomó)
para fazer uma canoa para atravessar o rio Paraguai
(huveonokaxionó - 'rio dos paraguaios'), quando vieram para
a Cachoeirinha."
(João Martins - 'Menootó' - aldeia Cachoeirinha)

O trabalho dos Terena nas plantações foi assim lembrado:

"... Quando a gente fazia roça, não tinha enxada. A enxada


não era como a de hoje: era de cerne pontudo... era um cerne
de árvore que não dava para quebrar. Plantavam melancia,
moranga, abóbora, milho, feijão de corda. As árvores eram
derrubadas com fogo... não havia ferramentas de metal para
fazer esses serviços... instrumentos de ferro são coisas
recentes..."
(João Martins - 'Menootó' - aldeia Cachoeirinha)
4. A OCUPAÇÃO DE MATO G R O S S O
Na época em que os Terena deixaram o Êxiva, a região de Miranda
era desabitada. Eles foram os primeiros a ocupar a área. A ocupação da
região pelos portugueses começou depois da descoberta de ouro na
região de Cuiabá e em Mato Grosso, no século XVIII. várias povoações
foram fundadas pelos portugueses n e s s a época: Cuiabá (1727);
Albuquerque e Vila Maria (1778).
preocupados em defender s u a s fronteiras dos espanhóis, os
portugueses também construíram vários fortes: Forte de Coimbra (1775),
Forte Dourado e Presídio de Miranda (1778). Observe no mapa a
localização estratégica de alguns destes fortes.
Assim, enquanto os espanhóis queriam instalar fazendas de gado
para efetivar a posse na região e expulsar as populações nativas, os
portugueses procuraram garantir o domínio da região através da
construção de fortes e acordos com os índios. Já nessa época os Guaná
vendiam no Forte de Coimbra redes e panos, batatas, galinhas e porcos
e, em troca recebiam objetos de metais e tecidos.
Para dominar a região, os purutuyé precisavam da amizade dos
grupos indígenas que aí viviam. Era importante ter gente para garantir a
posse das terras e para morar nas novas vilas e cidades. Também
precisavam de trabalhadores para as minas e para as fazendas que
surgiam, onde plantavam cana-de-açúcar e criavam gado. Para a região
foram enviados soldados para vigiarem as fronteiras.
Os portugueses fizeram uma lei que proibia a escravização dos
indígenas, mas eles eram obrigados a morar em aldeias dirigidas por
chefes brancos. Aí, os índios deveriam aprender a viver e a trabalhar de
acordo com os costumes do homem branco. Mas os Guaná continuaram
levando uma vida independente dos brancos. Graças à aliança com os
Guaicuru, conseguiram manter o domínio da região entre os rios Apa e
Miranda. Observe no mapa 4 esta região de domínio dos índios.
Os colonizadores brancos tentaram de várias maneiras conquistar
a amizade dos índios, especialmente dos Guaicuru, pois queriam
colonizar a região. Para isso, faziam comércio, distribuíam presentes e
davam aos chefes das tribos aliadas patentes do exército.
Os "Cavaleiros" (como os purutuyé chamavam os Guaicuru) eram temidos
tanto pelos portugueses, como pelos espanhóis. Montados em cavalos,
utilizavam sua boiada para atacar os inimigos. Destruíam suas povoações,
roubavam seus cavalos e seu gado, e arruinavam suas plantações.
Os Guaicuru, depois de muitos confrontos, tiveram interesse em
estabelecer um acordo com os portugueses. Daí foi assinado um tratado
entre eles no Real Presídio de Coimbra, em 1791. Esse tratado,
assegurava a proteção da coroa portuguesa e transformava os Mbayá-
Guaicuru em súditos da rainha de Portugal.
Depois do Tratado de 1791, a aliança entre os Guaicuru e os Guaná
começou a se enfraquecer. Os Guaná não necessitavam mais da "proteção"
dos Guaicuru e ampliaram o contato com os brancos, principalmente depois
da independência do Brasil em relação a Portugal (1822).

4. Os Terena na época
do Império brasileiro
Depois que os brasileiros se libertaram de Portugal, o governo
estabelecido foi de uma monarquia, sob o poder de um imperador, D.
Pedro I, e depois do seu filho, D. Pedro II. Este é o período do Império
(1822-1889).
Logo depois da independência, o governo permitiu a presença de
viajantes e estudiosos estrangeiros em várias partes do país. Uma das
expedições estrangeiras que visitou a região de Mato Grosso foi a
Expedição Langsdorff, nos anos 1825 a 1829, para estudar os animais
e as plantas brasileiras.
O desenhista que acompanhava a expedição chamava-se Hercule
Florence e ele passou também a escrever sobre as populações indígenas
que iam conhecendo na viagem.
Sobre os Guaná ele deixou a seguinte descrição:

"Os Guanás moram na margem oeste do rio Paraguai, um


pouco acima da vila de Miranda: acham-se todos juntos e
aldeados numa espécie de grande povoação. Usam de uma
língua própria, mas em geral sabem alguma coisa de português,
que falam à maneira de quase todos os índios ou dos negros
nascidos na costa d'África. De quanta tribo tem o Paraguai, é
esta que mais em contato está com os brasileiros. Lavradores,
cultivam o milho, o aipim e mandioca, a cana-de-açúcar o
algodão, o tabaco e outras plantas do país.Fabricantes,
possuem alguns engenhos de moer cana, e fazem grandes
peças de pano de algodão com que se vestem, além de redes
e cintas industriais, vão, em canoas suas ou nas dos brasileiros,
até Cuiabá para venderem suas peças de roupa, cintas,
suspensórios, cilhas de selim e tabaco."
(Hercule Florence, 1825-1829)

E deixou desenhos, registrando costumes da época:

Moça Guaná e Guanitá, chefe dos Guanás.


Duas pirogas cie Guanás, 182 7

Um outro viajante chamado Francis Castelnau visitou a região em


1845 e escreveu que os Terena viviam mais isolados que os outros
Guaná (os Kinikinaua e os Layana).

"A 5 de abril fomos visitar o aldeamento dos terenos, índios


que pertencem à mesma nação dos precedentes Guanás, mas
que até aqui têm tido muitas poucas relações com os brancos.
É uma nação guerreira que conserva em toda integridade os
costumes de seus antepassados.
O aldeamento que íamos visitar fica, em linha reta, duas
léguas e um terço a nordeste de Miranda... Compõem-se o
aldeamento de umas cento e dez casas, unidas umas às outras.
Estas formam um imenso rancho coberto de folhas de palmeira
e estão dispostas em círculo, à volta de uma grande praça
central. Toda a população, constituída de mil e quinhentos a
mil e oitocentos habitantes, ocupava-se ativamente na
preparação de uma festa"
ATIVIDADES

l. Os Guaná no Êxiva
Quem foram os Guaná?

Localize no mapa 4 a região do Êxiva.


Por que, no relato de João Martins, na época em que os Terena viviam
no Êxiva havia fartura?
Escreva o nome de outros povos que habitavam a região do Chaco.

Por que os Guaná fizeram alianças com os Guaicuru?

Pergunte para os avós alguma história sobre os antigos conflitos entre


os Terena e os Guarani e depois escreva nas linhas abaixo.

Escreva o que você conhece da vida dos Kadiwéu (pergunte para os


pais, avós ou outras pessoas da aldeia)
pedir para os antigos (avós) contarem histórias da vida dos Terena no
Êxiva e escreva nas linhas abaixo. Depois faça um desenho.

47
Agora faça um desenho sobre essas histórias.
2 contatos entre Guaná e brancos

por que os metais preciosos eram importantes para os europeus?

Escreva sobre as mudanças que ocorreram na vida dos Terena depois


da chegada dos europeus.

3. Os Terena em Miranda e Aquidauana

Por que os Guaná saíram do Êxiva?

Faça uma comparação entre os tipos de alimentos que os Guaná


plantavam no Êxiva e os que são plantados hoje.
Observe no mapa 4 os fortes construídos pelos portugueses e explique,
com suas palavras, por que foram construídos.

Por que foi assinado o Tratado de 1791 entre portugueses e Guaicuru e


quais as conseqüências para os Terena?
4. os Terena na época do Império brasileiro
pelo desenho de Hercule Florence, como eram as vestimentas das
mulheres Guaná daquela época? Você sabe o nome dessa vestimenta ?
(Pergunte às avós)

Como era realizado o comércio entre os brancos e os Guaná ? Compare


com os dias atuais.

Qual o transporte utilizado nesse comércio ? Ainda existe essa forma de


transporte na região em que você mora?
Desenhe a aldeia descrita por Castelnau.
A Retirada da Laguna.
l. A Guerra do Paraguai
Na América do Sul, a região dominada pelos portugueses manteve-
;e unida após a Independência em 1822, formando um só país, o
Brasil.
Com as colônias espanholas não aconteceu o mesmo. As regiões
dominadas pelos espanhóis, ao se libertarem, formaram vários países
independentes. Foi o que ocorreu com o Vice-Reinado do Prata, do qual
fazia parte a região do rio Paraguai. Após a expulsão dos espanhóis,
esse Vice-Reinado deu origem a quatro países: Argentina, Uruguai,
Paraguai e Bolívia.
Depois da independência houve vários conflitos entre os países da
região do rio Paraguai e do rio da Prata para delimitar as fronteiras e
organizar seus territórios. Havia também discordâncias entre eles por
causa do direito de navegar no rio Paraguai, no rio Paraná e no rio da
Prata. A liberdade de navegação era importante para que os países
pudessem realizar seu comércio.
O Paraguai era um dos países mais poderosos da região naquela
época. Não possuía território perto do mar, mas controlava a navegação
no rio Paraguai. O desejo dos governantes do Paraguai era obter território
junto ao oceano Atlântico para exportar e importar produtos. Os
paraguaios começaram a ter vários problemas com os países vizinhos,
principalmente com o Brasil e a Argentina.
Os problemas com o Brasil estavam relacionados ao controle sobre
a navegação no rio Paraguai, pois o rio Paraguai era o principal caminho
que ligava a província de Mato Grosso ao litoral brasileiro.
A guerra começou quando o exército de Solano Lopez, o governante
paraguaio, invadiu Mato Grosso em dezembro de 1864. Solano Lopez
usou como pretexto para a invasão, o fato do governo de D. Pedro II ter
ajudado a destituir o presidente do Uruguai que era aliado do Paraguai.
Ao mesmo tempo, Solano Lopez tentava conquistar territórios para
chegar ao mar.
A invasão do território brasileiro pelo exército paraguaio foi feita por
dois grupos de soldados. Um atravessou o rio Paraguai em direção ao
forte Coimbra e Corumbá, que foram facilmente ocupados. O outro grupo
atravessou o rio Apa, em Bela Vista, e avançou em direção de
Aquidauana e Miranda. O exército paraguaio também invadiu o território
argentino, na província de Comentes, para alcançar a província brasileira
do Rio Grande do Sul.
O Brasil, a Argentina e o Uruguai uniram-se e formaram a Tríplice
Aliança para combater os paraguaios. A Tríplice Aliança recebeu armas
dos ingleses, que desejavam ter negócios no Paraguai depois que Solano
Lopez fosse vencido.
Durante a guerra, parte das tropas brasileiras era formada por
escravos negros. A e s s e s escravos o imperador D. Pedro II havia
prometido a liberdade quando a guerra acabasse.
O governo brasileiro também chamou índios de Mato Grosso para
combaterem os paraguaios. Os Guaicuru lutaram ao lado do exército
brasileiro, enquanto os Terena, que sempre foram grandes agricultores,
além de enfrentar o exército paraguaio, também participaram da guerra
fornecendo alimentos para os combatentes.
Os exércitos da Tríplice Aliança entraram em Assunción, a capital
do Paraguai, em janeiro de 1869, m a s os últimos combatentes
paraguaios só foram derrotados em 1870.
Após quase cinco anos de luta, o Paraguai estava totalmente
arrasado. A maior parte de sua população masculina estava morta ou
mutilada. No início da guerra a população paraguaia era de 800. 000
peesoas, mas em 1870, quando a guerra terminou, essa população era
de apenas 194. 000 pessoas.
O Brasil pôde então dominar a navegação do rio Paraguai e demarcar
suas fronteiras da maneira que achou melhor, tomando partes do território
paraguaio. A Inglaterra, por sua vez, também pôde explorar as riquezas
do Paraguai.

2. Histórias da Guerra: relatos de Taunay


Para conhecermos o envolvimento dos Terena e outros povos
indígenas na Guerra do Paraguai existem fontes escritas e orais. A fonte
escrita mais importante para a história do povo terena é o conjuntos de
textos escritos por Alfredo Taunay.

Relatos de Taunay

Alfredo de Taunay (pronuncia-se


"Toné") foi um escritor e engenheiro que
participou da Guerra do Paraguai. Entre
os escritos que ele deixou, encontra-se
a descrição de Miranda durante a Guerra
e o livro contando da Retirada da Laguna.
Pelo livro "Retirada da Laguna"
sabemos que os Terena participaram
como soldados na campanha da guerra,
junto com os demais soldados, sofrendo
as calamidades da guerra. Taunay conta
que no caminho para Nioac, tentando
proteger a vila de outro s a q u e dos
paraguaios, a coluna de soldados foi
atacada pela epidemia da cólera que
matou muito soldados. Um dos primeiros Alfredo-Escragnolle Taunay
a morrer pela doença foi um Terena:
"...Pouco depois morrem, com um dia de moléstia apenas,
um índio terena recebido na enfermaria de Bella Vista".

E depois, continuou Taunay, outros Terena também morreram:

"Neste dia fez o cólera nove ultimas. Assinalaram-se vinte


casos novos: o chefe dos Terenas, Francisco das Chagas,
chegou moribundo numa rede que sua gente carregava.
Estavam estes índios no auge do terror; mas não podiam mais
abandonar a coluna, ocupado como se achava todo o campo
por um inimigo (os paraguaios), que, quando os apanhava,
jamais deixava de os fazer parecer nos mais horríveis suplícios".

Nessa época podemos saber como viviam os Terena pelos escritos


de Taunay em outro livro onde descreveu a região de Miranda.
A população indígena do distrito de Miranda na época da Guerra,
escreveu Taunay, era formada por duas grandes nações: a Guaicuru e a
Chané, que era o outro nome com que eram conhecidos os Guaná.
Faziam parte da nação Guaicuru os Kadiwéu e os Beaquieu, que
viviam juntos perto dos rios Paraguai e Nabileque, e um grupo que
Taunay chamou apenas de "guaycuru", que vivia em Lalima e perto
de Nioaque.
A nação Chané (Guaná) dividia-se em quatro grupos: os Terena,
os Kinikinau, os Layana e os Chooronó (que Taunay, às vezes chamava
apenas de "guanás"). No tempo da invasão paraguaia, os Terena
moravam no Naxedaxe, no Ipegue, na Cachoeirinha e em uma aldeia
chamada "Grande". Os Kinikinau vivam no Euagaxigo (Agaxi) e no
Laiuad.

Taunay descreveu assim os Terena que encontrou:

"O Terena é ágil e ativo: o seu todo exprime mobilidade (...)


e conserva arraigados os usos e tradições de sua raça, graças
talvez a um espírito mais firme de liberdade.
São as mulheres geralmente baixas, têm cara larga, lábios
finos, cabelos grossos e compridos (...) e expressão de inteligência.
Trazem comumente parte do busto descoberto e uma julata, tanga
ou avental de algodão, cinto abaixo dos seios, com uma das
pontas passadas entre as coxas e segura à cintura.
Raras dentre elas sabem falar o português: todas porém o
compreendem bem, apesar de fingirem não o entenderem."

Taunay na aldeia de Naxadaxe


Em março de 1866, ainda durante a guerra, Alfredo de Taunay, o
capitão-engenheiro Antônio do Lago e alguns soldados tentavam escapar
dos paraguaios. Perto de um córrego chamado Piranhinha, eles
chegaram a uma estrada onde parecia haver passado muita gente. Mais
adiante Taunay começou a ouvir barulho:

"Na realidade numa volta além, achava-se a aldeia, cujos


ruídos cada vez mais íntimos, denunciavam a vida e a animação
do trabalho."

Taunay e seus companheiros haviam chegado à aldeia de Naxedaxe,


onde um grande número de Terena havia se refugiado.

"Ouvimos grande vozerio, algazarra contínua, e quando


ante de nós surgiram as primeiras palhoças, uma chusma
(grande quantidade) de gente armada se atirou ao nosso
encontro. (...) Chegaram alguns de tais indivíduos a apontar-
nos espingardas..."

Pensando que os visitantes brancos pudessem ser paraguaios, os


Terena do Naxedaxe foram recebê-los de armas em punho. Mas quando
reconheceram alguns dos soldados, festejaram a visita. O povo do
Naxedaxe, então, levou os soldados até a casa do capitão da aldeia,
que chamava-se José Pedro e sabia ler e escrever.
Os Terena do Naxedaxe estavam pintados com urucum e jenipapo
e carregavam lanças e espingardas. As espingardas, Taunay ficou
sabendo depois, haviam sido tiradas do depósito de armas de Miranda,
quando os índios se armaram por conta própria para se defender dos
Paraguaios.
O povo do Naxedaxe deu galinha cozida com arroz para Taunay e
seus companheiros, que assim mataram a fome que vinham passando
em sua marcha.
No dia seguinte, Taunay ganhou milho, farinha de mandioca, mel e
rapadura dos Terena, que estavam preparando a aldeia para uma festa.
Vários curadores cantavam para que o mel fermentasse depressa para
fazer a bebida para a festa.
Depois de visitar essa aldeia, Taunay escreveu que, apesar do longo
contato com o branco, o povo Terena ainda mantinha sua tradição.

Taunay e os koixomuneti

Naquela mesma época, durante os anos de guerra contra o Paraguai,


o escritor Alfredo de Taunay pôde observar muitas vezes os koixomuneti
Terena em ação.
No relato que escreveu, Taunay nos conta que, nos dias em que
esteve na aldeia Terena, os koixomuneti cantavam o tempo todo, pelos
mais variados motivos:

"cantavam para as colheitas, para a chuva parar, para a


chuva cair, para o milho pendoar. Cantavam a noite inteira,
fazendo previsões e conversando com o macauã".

Taunay chamava os koixomuneti de "padre índio":

"O padre, para suas vigílias, veste-se de uma julata ornada


de lantejoulas e presa à cintura por uma espécie de lalim de
contas. Pinta o tórax, braços e cara com jenipapo e urucum.
Estende um couro diante da porta de sua choupana e nele
caminha, lenta e compassadamente, avançando e recuando a
cantar, ora estrondosamente, ora em voz baixa e monótona,
com o acompanhamento de um chocalho, que agita à mão
direita. À esquerda empunha um espanador de penas de ema,
bordado com desenhos caprichosos."
O curador ia cantando pela madrugada afora e então parava por
um longo tempo. De repente ouvia-se, bem longe, o grito do macauã,
que era respondido pelo curador. Os pios do pássaro iam se aproximando
rada vez mais e no final o koixomuneti começava a fazer as previsões.
Taunay confessou ter ficado muito impressionado com a conversa entre
o koixomuneti e o macauã e desenhou um deles:

Cerimonia religiosa dos Índios Guanás, 1866.

Uma história sobre Pacalalá


Um outro relato de Taunay foi sobre Pacalalá. Taunay escreveu que
encontrou, na serra de Maracaju, uma mulher Kinikinau que chorava dia
e noite a morte de seu filho. Era a mãe de Pacalalá, um jovem que havia
liderado a luta dos índios de Miranda contra os paraguaios. Taunay, então,
registrou a história de Pacalalá.
No início da Guerra do Paraguai, o Agaxi ainda era território indígena
habitado pelos Kinikinau, parentes dos Terena. Quando os soldados
sobreviventes do segundo corpo de cavalaria de Nioaque passaram pela
aldeia, deixaram os Kinikinau preocupados com a notícia de que os
paraguaios estavam se aproximando.
Nessa época o capitão dos Kinikinau de Agaxi era um velho
chamado Flávio Botelho que não estava fazendo certo com o povo.
Revoltado, o povo do Agaxi destituiu o capitão e colocou Pacalalá em
seu lugar. Segundo Taunay, Pacalalá:

"Era rapaz de pouco mais de vinte anos; tipo soberbo de


robustez, índio de raça pura, como lhe denunciavam a cor de
cobre vermelho, as feições angulosos, os molares salientes, os
dentes acerados e magníficos. Os olhos pequenos e vivíssimos,
e o queixo acentuado denunciavam-lhe a inteligência e a energia."

Mais recentemente outros estudiosos dos povos indígenas da região,


recolheram relatos sobre o período da Guerra do Paraguai e contam
que, mesmo antes de ser eleito capitão, Pacalalá denunciava os abusos
dos brancos de Miranda contra seu povo. Ele sempre dizia:

"Cuidado com os purutuyé. Não somos seus escravos. Eles


são nossos iguais e não nossos senhores. Nesta terra não deve
haver duas espécies de gente: uma que manda e outra que
trabalhe. Todos devem trabalhar e receber a paga justa de seu
trabalho."

A primeira coisa que Pacalalá fez depois de eleito capitão foi pedir
que seu povo abandonasse a aldeia em busca de refúgio. Enquanto
velhos, mulheres e crianças carregavam o que era possível para as matas
da serra de Maracaju, Pacalalá foi com trinta rapazes até Miranda pedir
armas às autoridades brancas, para enfrentar os paraguaios que se
aproximavam.
Chegando em Miranda, Pacalalá e seus companheiros perceberam
que ninguém na cidade tinha intenção de resistir aos paraguaios e as
autoridades se recusaram a entregar armas aos índios.
Alguns dias depois, todos os brancos fugiram de Miranda, deixando
o arsenal da cidade cheio de armas e munições. Os Kinikinau, juntamente
com os Terena, Layana, entraram no arsenal e se armaram sozinhos,
antes que os paraguaios chegassem e foram para a serra de Maracaju.
Quando os índios chegaram à serra, os brancos também tinham
se refugiado lá e estavam passando fome. Logo os Kinikinau e os
Terena começaram a fazer suas roças e em pouco tempo havia comida
para todos.
Os paraguaios haviam ocupado toda a região entre o rio Apa e o rio
Paraguai. A serra de Maracaju, no entanto, continuava a ser um abrigo
seguro contra os p a r a g u a i o s . De lá d e s c i a m Pacalalá e s e u s
companheiros para roubar o gado dos paraguaios e assim abastecer os
refugiados com carne.
Certa vez, e n q u a n t o tocavam os bois para a serra, foram
surpreendidos por uma patrulha paraguaia. Pacalalá, então, organizou
uma emboscada, matando o comandante da patrulha e levando seu
cavalo como troféu.
Em 1866, quando as tropas brasileiras ainda estavam muito longe
de Miranda, Pacalalá foi com seis Kinikinau e dez Terena até um canavial
na margem direita do rio Aquidauana, para fazer rapadura. Passaram lá
alguns dias, sem ver nenhum sinal dos paraguaios. Isso fez com que se
descuidassem um pouco da vigilância. Mas, foram vistos por uma
patrulha inimiga que chamou reforços e foram cercados por quase
duzentos soldados paraguaios.
Pacalalá animou seus companheiros a enfrentar os inimigos com
coragem, e logo nos primeiros disparos os índios mataram uns doze
paraguaios e abrigaram-se, então, em uma mata próxima, de onde fizeram
os soldados inimigos retroceder. Porém, quando o inimigo já ia batendo
em retirada assustado, Pacalalá foi atingido por uma bala certeira.
Quando a notícia da morte de Pacalalá chegou à serra, todos
choraram. As moças cortaram os cabelos na altura das orelhas e tiraram
seus enfeites, em sinal de luto.

3. Histórias da guerra: Relatos dos Terena


Existem as fontes orais que são os relatos dos Terena presentes na
memória da população.
Os Terena contam que:

"antes da Guerra do Paraguai já habitavam na região de


Miranda e mantinham relações com o povoado de Miranda.
Quando a cidade de Miranda foi invadida, as aldeias que estavam
situadas nessa região também foram atacadas. Os Terena se
organizaram para fazer frente, utilizando as táticas próprias dos
índios, como por exemplo, ataque noturno. Os Terena
investigavam onde ficava o acampamento dos paraguaios e
cercavam no momento em que os inimigos não percebiam,
geralmente à noite. Já os paraguaios atacavam só de dia.
Foram feitos vários enfrentamentos onde morriam índios
Terena e também paraguaios. Conta-se que na aldeia Babaçu,
os paraguaios mataram um Terena, pendurando-o num pé de
árvore.
Os Terena se escondiam nos matos e outros fugiam para a
região de Bananal e Limão Verde. Durante a guerra é que foi
fundada a aldeia de Limão Verde. Na área de Cachoeirinha existia
um povoado chamado "Pulóvo'uti" e esta localidade servia de
esconderijo durante a guerra porque era de difícil acesso por ser
cercada de mata muito fechada."

Em outro relato ficamos sabendo que:

"Na aldeia Bananal, no município de Aquidauana, os Terena


fizeram confronto com a tropa paraguaia, que resultou na morte
de vários soldados e de indígenas. O episódio aconteceu no
momento em que a tropa estava passando em frente da aldeia,
precisamente ao norte. As tropas se dirigiam para a Serra do
Maracajá, para conquistá-la e lá seria o fim do fronteiriço, caso
os paraguaios vencessem a guerra.
Os terena se organizaram convocando os homens
corajosos para fazer parte na defessa do território brasileiro,
armados simplesmente de flechas em obediência de seu líder.
No lugar onde as tropas inimigas iam cruzar havia
vegetação chamada "bacuri", muito fechada, justamente um
lugar escolhido pelos Terena para fazer confronto utilizando a
tática de guerra própria do índio. Os Terena se organizaram nas
matas, cuidadosamente camuflados. Sendo bons de manejo
com flechas, acertavam mortalmente os adversários.
Os paraguaios reagiram ao ataque e foram infelizes, porque
quando tentavam entrar na mata para atacar os indígenas
facilitovam os lances certeiros das flechas. Os Terena não
dispondo de muitas flechas, em obediência ao cacique
desapareceram nas matas.
Cessado o ataque os paraguaios tomaram providências
para enterrar seus mortos. No local fizeram uma enorme valeta
onde enterraram todos os cadáveres juntos. Nesse local os
antigos terena da aldeia Bananal acharam por bem usar como
cemitério da comunidade (relato de Olímpio Serra da aldeia de
Argola)."

Rondon, muitos anos depois de terminada a Guerra do Paraguai,


no ano de 1904, ao demarcar as áreas Terena de Ipegue e Cachoeirinha,
reforça o sofrimento do povo Terena na época da Guerra ao apontar em
seu relatório a localização da aldeia de Ipegue destruída pelos paraguaios:

"...depois (a linha divisória da área de Ipegue cortou um


capão com taquara, entrou novamente no cerrado, até uma
lagoa seca onde começam os Campos do Ipégue, vendo-se à
esquerda 1.000 m., a tapera do Ipégue, antiga Aldeia destruída
pelos Paraguaios"...

Uma história sobre Kali Siini

Os Terena também contam as histórias dos heróis de suas aldeias


que lutaram na Guerra do Paraguai. Entre esses heróis está Kali Siiní:

"Não havia mais líder e o povo começou a fugir. Então Kali


Siiní, da aldeia Cachoeirinha, Kali Hoopenó, da aldeia Passarinho
e uhaaká, da aldeia Moreira, se juntaram. Os três eram
koixomuneti. Eles foram para Cuiabá. Os três queriam ser
capitães de suas aldeias: de Passarinho, de Cachoeirinha e de
Moreira.
Eles haviam fugido do Ângelo Rebuá, o purutuyé bravo de
Miranda. E como o Ângelo era bravo, não esperou que os
paraguaios chegassem a Miranda: ele fugiu logo... Ângelo Rebuá
era bravo só no meio das pessoas...
O pego de Uhaaká era o piê e o peyó de Kali Hoopenó era
o gavião. A função de Kalí Siini era cuidar para que ninguém os
atacasse pelo fundo do barco onde viajavam. Eu não sei qual
era o peyó do Kali Siiní.
Eles voltaram de Cuiabá com uma carta. Kali Hoopenó,
Uhaaká e Kali Siini, todos os três já eram capitães e chegaram
todos vestidos de naatí.
(relato de Antônio Muchacho, de Cachoeirinha)

Kali Siiní, enquanto lutava contra os paraguaios,


preocupava-se com o futuro do povo Terena:
Em uma tarde Kali Siiní pegou uma onça. A onça atacou
quando Kali Siiní estava brigando sozinho contra os paraguaios.
Ele brigava com flecha e lança e é por isso que nós temos esse
pedaço de terra.
Kali Siiní matou a onça, coureou, fez um manto com o couro
e assim chegou à aldeia. Quando ele matou essa onça, fizeram
uma festa grande e assaram muita batata e muita mandioca.
Quando acabou a guerra, Kali Siini recomendou que a gente
não deveria se casar com purutugé, nem falar o português, nem
trazer purutugé para a aldeia. Ser sempre Terena e não deixar a
meninada sair da aldeia para não perdermos a terra.
Todos os anciões se reuniram para o povo não se misturar
com o purutgé, para que ninguém saísse.
Kali Siini era nosso avô. Ele era baixinho e era koixomuneti.
Para seguir a recomendação de Kali Siini todos devem tomar
conta da aldeia, não dependendo dos purutugé".
(relato de Dona Maravilha, de Cachoeirinha)
ATIVIDADES
1. A Guerra do Paraguai

Sublinhe com lápis, no mapa l, os países que participaram da Guerra


do Paraguai.
Por que aconteceu a Guerra do Paraguai?
Escreva uma conseqüência da Guerra do Paraguai.

2. Histórias da Guerra: relatos de Taunay

Quem foi Taunay e por que ele foi ajudado pelos Terena da aldeia de
Naxedaxe? Pergunte e localize no mapa 4 onde ficava a aldeia de
Naxedaxe.
Desenhe, com as informações do texto, como teria sido a aldeia de
Naxedaxe.
Por que os koixomuneti são chamados por Taunay de "padres índios"?

3. Histórias da guerra: relatos dos Terena


Como os índios que se refugiaram na serra de Maracaju lutavam contra
os paraguaios ? Desenhe uma cena de combate.
Procure saber com seus avós outras histórias sobre a participação dos
Terena na Guerra do Paraguai. Escreva no espaço abaixo e conte para
seus colegas.
l. A Lei de Terras de 1850
e os povos indígenas
Até 1850 as terras no Brasil eram doadas pelo governo às pessoas
de sua confiança. Em 1850 foi decretada a "Lei de Terras" e, a partir
desta data, ficou determinado que as terras poderiam ser compradas e
vendidas sem precisar de aprovação do governo. As terras tornaram-
se. então, mais valiosas, porque por intermédio da compra e venda
elas poderiam ser transformadas em dinheiro. As terras passaram a dar
lucro a seus proprietários, independentemente das benfeitorias nelas
existentes.
A Lei de Terras tinha como finalidade forçar a colonização de mais
ferras e autorizava o governo a vender, por leilão, as terras devolutos,
isto é, terras que não possuíam registro de propriedade. Apenas um
mês depois da aprovação da Lei de Terras, o Ministério do Império
Mandava incorporar como terras devolutas as terras dos índios que já
não viviam em aldeamentos.
Muitas terras de posse dos índios foram assim tomadas e vendidas
em leilão; justamente daqueles índios que não eram mais "selvagens" e
viviam pacificamente com os chamados "civilizados". Esta era uma nova
situação da história da propriedade da terra no Brasil e afetou muito a
vida dos grupos indígenas.
Pela primeira vez o governo do Império estabelecia em lei a
diferença entre "índio bravo - índio manso". O "índio bravo" era
selvagem porque defendia através das armas a sua terra, e nesse caso
o governo reconhecia sua posse. Agora, o "índio manso" não brigava I
mais, então podia ser expropriado de sua terra. E esta era a condição I
do povo Terena.

2. Os Terena depois da
Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai marcou profundamente a história dos Guaná. I
Como vimos, um dos palcos do conflito foi justamente em território deste
povo, que aliado dos brasileiros, sofreram ataques e represálias por parte
das tropas paraguaias. É quase certo que todas as aldeias então existentes
na região dos rios Miranda e Aquidauana desapareceram, com seus
habitantes buscando refúgio nas serras de Maracajá e Bodoquena.
Quando a Guerra do Paraguai chegou ao fim, em 1870, os Terena
começaram a voltar para suas antigas aldeias, destruídas durante os
combates. Muitas aldeias haviam sido completamente aniquiladas e
nunca mais foram reconstruídas ou recuperadas. O antigo território das
aldeias já era disputado por novos "proprietários", em geral oficiais
desmobilizados do exército brasileiro e comerciantes que lucraram com
a guerra e que permaneceriam na região.
Os Terena haviam lutado na Guerra para garantirem os territórios
que ocupavam, mas este direito não foi garantido pelo governo brasileiro
e a vida do povo Terena seria, a partir daí, bem diferente.
Depois de ganhar a guerra contra os paraguaios, o governo brasileiro
começou a incentivar a ida de purutuyés de outras regiões do país para
Mato Grosso. Assim, o governo poderia controlar melhor a região,
guardando a fronteira com fazendas de gado e plantações.
Aqui dois índios Terena que combateram na guerra, com uniformes de oficiais em
desuso.

As fazendas começaram a se multiplicar. Na região do Mato Grosso,


os Terena viram-se cada vez mais cercados pelas fazendas de gado.
Os r e b a n h o s d a s fazendas e s t a v a m s e m p r e destruindo as
Plantações dos Terena. A vida nas aldeias ficou muito difícil e boa parte
dos Terena foi obrigada a se empregar como trabalhadores nas fazendas.
É por isso que muitos avós que hoje moram nas aldeias nasceram nas
fazendas. Os Terena que não queriam se submeter acabavam por sair
da região e se refugiaram em lugares mais distantes. Os fazendeiros
conseguiam, então, se apossar de mais terras do povo Terena.
Os conflitos entre os Terena e os fazendeiros eram constantes. Havia
muita exploração dos proprietários brancos sobre o trabalho dos Terena.
Um exemplo dos conflitos foi o que ocorreu por volta de 1890. Dois
fazendeiros brigavam entre si na região de Miranda. A fazenda Santana,
que era disputada pelos dois fazendeiros foi saqueada por um deles,
m a s o proprietário resolveu por a culpa nos Terena da região de
Cachoeirinha. Por causa dessa acusação, os Terena foram obrigados a
trabalhar de graça para o dono da fazenda. O povo de Cachoeirinha se
revoltou contra esse fazendeiro e muitas famílias deixaram a aldeia,
buscando refúgio em Bananal e na serra do Maracaju.
Este período da história do povo Terena é conhecido como os
Tempos da Servidão.
Os tempos da servidão dos Terena ainda é lembrado nos relatos
do povo das aldeias:

"Naquela época os Terena se encontravam fora de sua


aldeia, trabalhando nas fazendas em condições de quase
escravidão. Trabalhavam quase sem remuneração e muitas
vezes os fazendeiros simulavam o acerto de contas e diziam,
aproveitando-se dos índios: você ainda está devendo, portanto
tem que trabalhar mais um ano. E a cada acerto de contas eles
repetiam o mesmo." (Genésio Farias)

"O pessoal daquela época tinha medo porque ainda se


lembrava do patrão que os chicoteava na fazenda. Quem se
atrasava para tomar chá de manhã era surrado... foi o finado
meu avô quem me contou. Como castigo o pessoal tinha que
arrancar o mato com as próprias mãos. Quando a comida
estava pronta, eles mediam toda a sua tarefa. Eram quinze
braças de tarefa e, mesmo não terminando a tarefa do dia, de
manhã mediam outra tarefa, que acumulava." (João Menootó'
Martins)
"Meu pai, Belizário Rondon, da aldeia Passarinho, foi cativo
da fazenda Sucuri. Para marcar o tempo, era orientado peia lua
nova e para acertar a conta com o patrão ele fazia traços na
bainha do facão, marcando os dias do mês." (Honorato Rondon
da aldeia Passarinho)

3. O govêrno republicano
e os povos indígenas
Muitas mudanças aconteceram no país depois da Guerra do Paraguai.
Algumas cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, cresceram
rapidamente e surgiram as primeiras fábricas no Brasil. Em 1888, o
governo pôs fim ao trabalho escravo e começou a incentivar a vinda de
imigrantes da Europa para trabalhar principalmente nas fazendas de café.
O café havia se transformado no principal produto de exportação do Brasil.
O café era transportado através de estradas de ferro até o porto de
Santos, de onde era exportado para outros países. Com parte dos lucros
da venda do café, foi possível desenvolver n o v a s técnicas e
aperfeiçoamentos nos meios de comunicação. O Governo do imperador
D. Pedro II havia também iniciado uma política de instalação de linhas
telegráficas.
Em 1889, enquanto o povo Terena ainda vivia no tempo da servidão,
o imperador D. Pedro II foi tirado do poder por um grupo de militares
apoiados por grupos sociais que desejavam mudanças nas leis e na
organização econômica do país. O Brasil, então, deixou de ser uma
monarquia e se tornou uma república, governada por um presidente.
O governo republicano ampliou a política de construção de estradas
de ferro e de linhas telegráficas para melhorar a comunicação e o
transporte entre o litoral e o interior do país e fortalecer seu controle
sobre todo o território brasileiro. As estradas de ferro facilitavam também
o transporte de produtos para os portos do Oceano Atlântico, de onde
eles seriam exportados para países distantes.
A instalação de linhas de telégrafo, ligando o litoral ao interior do
país, fazia parte das grandes transformações promovidas pelo governo.
O telégrafo era o meio de comunicação à distância mais rápido e
moderno que existia naquela época.
Em 1888, um ano antes da República ser proclamada, o imperador
D. Pedro II criou a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas. o
objetivo dessa Comissão era instalar linhas de telégrafo por todo o interior
do Brasil e sua primeira missão foi levantar os postes telegráficos da
cidade paulista de Franca até a cidade de Cuiabá no Mato Grosso.

O governo republicano continuou a instalar os postes telegráficos


na região do Mato Grosso. Em 1900 foi organizada uma Comissão para
ligar o trecho do telégrafo de Cuiabá até a fronteira com a Bolívia e o
Paraguai. Essa Comissão foi liderada por Cândido Mariano da Silva
Rondon, que já havia participado de outros trabalhos de construção da
linha telegráfica.
A construção desse ramal do telégrafo exigia muita mão-de-obra e
Rondon passou a convencer os índios para ajudar nos trabalhos de
instalação da linha.

"O poste telegráfico vai abrindo caminho à civilização. E. neste caso, duplamente, os
operários que o erguem são quase todos recrutados entre os indígenas locais."
Os primeiros índios que participaram dos trabalhos da comissão
foram os Bororó. Quando a linha telegráfica chegou à margem do rio
Taquari, os Bororo não quiseram mais continuar seu trabalho. Dali para
frente, disseram eles, estava o território dos Guaicuru e dos Terena. E,
a partir daquele momento, o trabalho dos Bororo foi substituído pelo
dos Terena, que participaram das atividades da Comissão até o final.
Essa época ainda faz parte da memória dos mais velhos das aldeias:

"Quando o finado Marechal Rondon passou por aqui, meu


tio mais velho foi com ele. Meu tio se chamava José Henrique. E
tinha outro tio meu que acompanhou o Marechal Rondon
quando ele passou na terra de Cachoeirinha. Ele se chamava
José Marques e era cozinheiro lá onde eles acampavam.
Eles passavam na região de Cáceres, Barra dos Bugres,
pra lá de Cuiabá, onde meu tio passou acompanhando a
medição da terra. Esse era o serviço de meu tio. Rondon gostava
muito de andar com José Henrique, meu tio mais velho, porque
ele trabalhava muito bem..."
(relato do sr. Félix da aldeia de Cachoeirinha)

Nas palavras de Rondon, esse tempo de pós-guerra, o tempo da


servidão, é assim descrito:

"Os Terena são comumente explorados pelos fazendeiros. É


difícil encontrar um camarada Terena que não deva ao seu patrão
os cabelos da cabeça... Nenhum "camarada de conta" poderá
deixar o seu patrão sem que o novo senhor se responsabilize. E,
se tem ousadia de fugir, corre quase sempre o perigo de sofrer
vexames, pancadas e não raras vezes a morte, em tudo figurando
a polícia como co-participante em tais atentados"
4. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
Depois da Guerra do Paraguai, dois fatos significativos marcariam a
história dos Terena, a criação do Serviço de Proteção aos índios/SPi e a
construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, esta última responsável
direta pelo aumento da população da região sulmatogrossense. O número
de habitantes cresceu cinco vezes mais em poucos anos.
Em 1904, quando a linha telegráfica até a fronteira com a Bolívia
ainda estava sendo construída, foi fundada a Companhia Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil.
Essa Companhia, que foi criada com dinheiro brasileiro, francês el
belga, tinha o objetivo de construir uma estrada de ferro ligando a cidade
de Bauru, no estado de São Paulo, à cidade de Corumbá, em Mato
Grosso.
A cidade de Corumbá foi escolhida por estar na fronteira com a
Bolívia. O governo brasileiro ainda estava levando adiante o projeto de
fortalecer as fronteiras no sul de Mato Grosso. Depois de pronta, essa
ferrovia seria ligada a outra estrada de ferro que já estava sendo
construída e ligava a cidade de Bauru ao porto de Santos. Com a Estrada
de Ferro Noroeste, o sul do Mato Grosso teria um caminho seguro até o
mar. O trem também levaria com rapidez os produtos de Mato Grosso
para o litoral. Isso faria com que mais purutuyés fossem para a região
da fronteira com o Paraguai e Bolívia criando fazendas e cidades.
Em 1905 começou a construção da Estrada de Ferro Noroeste. Seus
trilhos eram instalados ao mesmo tempo em Mato Grosso e em São
Paulo, e se encontrariam no meio do caminho. De Corumbá, a estrada
de ferro passaria por Porto Esperança, Miranda, Aquidauana, Campo
Grande, Três Lagoas, Araçatuba, Penápolis, até chegar a Bauru.
Os Terena que já haviam participado da instalação da linha
telegráfica, trabalharam na construção do trecho Mato Grosso da ferrovia,
juntamente com os purutuyé pobres. No trecho paulista os trabalhos
tiveram que ser suspensos por um bom tempo por causa da resistência
do povo Kaingang contra a invasão de seu território.
Os Kaingang já estavam em guerra contra os fazendeiros de café
quando a ferrovia começou a ser construída. Fazendeiros que queriam
plantar café nas terras dos Kaingang estavam invadindo o território desse
povo.
A construção da estrada de
ferro fez esse conflito ficar mais
violento porque os trilhos da
estrada d e ferro p a s s a v a m
dentro do território Kaingang. Os
Kaingang começaram a atacar
os trabalhadores da ferrovia,
que t a m b é m m a t a v a m o s
Kaingang sempre que tinham a
oportunidade.
Funcionários do SPI foram mandados para o território dos Kaingang
tentar fazer um acordo de paz. Em 1912 um primeiro grupo de Kaingang
liderado pelo cacique Vauhin, fez a paz com o pessoal do SPI. Depois
dele, outros grupos começaram a depor suas armas.
Com o tratado de paz, os Kaingang foram aldeados em reservas
muito pequenas, perdendo a maior parte de s u a s terras para os
fazendeiros. Nos anos seguintes, a maior parte desse povo morreu de
doenças transmitidas pelos brancos.
Com o fim da resistência dos Kaingang, a ferrovia seguiu em direção
a Mato Grosso, encontrando-se, em 1917, com o trecho construído, com
a participação dos Terena, a partir de Porto Esperança. Muitos dos Terena
que trabalharam na construção da Estrada de Ferro Noroeste ficaram na
memória dos mais velhos:

"Os trabalhos da ferrovia foram feitos praticamente pelos


índios. Muitos morreram pelos vários acidentes que aconteceram
no período de construção da estrada de ferro. Da aldeia
Cachoeirinha participaram José Benedito, Elias Antônio, Félix
Candeia e muitos outros.
Segundo eles foi um trabalho difícil, arriscando a própria
vida na região do Pantanal, onde existem muitos animais
selvagens.
Félix Antônio, Úli Terena, lembra que participou da
construção da ponte do rio Paraguai e quando chegou na cidade
de Corumbá, foi realizada uma festa, comemorando a realização
do trabalho."
ATIVIDADES
1. A Lei de Terras de 1850 e as terras indígenas

Explique com suas palavras o que foi a Lei de Terras de 1850 e escreva
nas linhas abaixo.
Por que as populações indígenas foram prejudicadas pela Lei de Terras
de 1850?

2. Os Terena depois da Guerra do Paraguai


Por que o governo incentivou a ida dos purutuyé para Mato -Grosso?

Quais a mudanças que ocorreram com os Terena depois da Guerra do


Paraguai?

Escreva sobre algum tipo de conflito entre os Terena e os fazendeiros.


por que este período da história do povo Terena é lembrado como
Tempos da Servidão?

3. O governo republicano e os povos indígenas

Qual a diferença entre Monarquia e República?


Quando o Brasil tornou-se uma República?

Qual a importância da construção das ferrovias e das linhas de telégrafo


no final do século XIX e início do século XX para o Brasil?

Escreva sobre o tipo de participação dos Terena na construção das linhas


de telégrafo.
4. estrada de ferro Noroeste do Brasil
por que nove conflitos entre o governo e os Kaigangs na época da
construção da Noroeste do Brasil?

Escreva um benefício que a ferrovia Noroeste do Brasil trouxe para os


Terena.
Capítulo V
O Território dos Terena
Esta é a foto da
1ª entrada de Rondon
no sertão. 1890
1. O Serviço de Proteção aos Índios.
No início do século XX o governo republicano foi obrigado a se
ocupar dos problemas das populações indígenas. Vários povos indígenas
se recusavam a ser dominados pelos brancos. E houve muitos
confrontos. Muitos grupos indígenas foram exterminados na luta para
manter sua independência.
Nessa época alguns dos choques entre índios e invasores de seus
territórios começaram a ser denunciados pelos jornais, principalmente
devido à atuação dos "bugreiros", matadores profissionais de "bugres",
como eram chamados os índios por essas pessoas. Os matadores de
índios eram contratados por agências para "limpar o terreno" para facilitar
a posse das terras por fazendeiros e para a especulação da terra. Esses
conflitos começaram a aparecer nos jornais das capitais do país e
também no noticiário internacional.
Os Bugreiros

Essas notícias provocaram, até 1910, muitos debates em torno da I


"questão do índio", envolvendo intelectuais (advogados, militares, I
engenheiros, cientistas), políticos e religiosos que apoiavam muitas vezes
os interesses das populações indígenas.
Como a situação se agravava, o governo da República precisava
criar uma política para resolver os problemas com os índios. A primeira
Constituição da República, de 1891, não trazia nenhuma referência aos
grupos indígenas, mas a ocupação mais intensa dos purutuyé nos
estados de Mato-Grosso e os da região Amazônica obrigava o governo
a pensar em novas formas de relação com os diferentes grupos
indígenas. O governo precisava criar uma política para resolver o
"problema indígena".
Era difícil estabelecer uma política que fosse aceita por todos. Havia
pessoas que queriam simplesmente exterminar os grupos indígenas
rebeldes à presença do purutuyé. Outros achavam que os índios
deveriam ser transformados em trabalhadores, substituindo a mão-de-
obra escrava nos trabalhos com as lavouras e criação de gado.
Havia também discordâncias em relação à educação e controle
das populações indígenas. Uns defendiam que a educação deveria ser
realizada pelos missionários religiosos. Mas, havia outros que achavam
melhor que o governo criasse um órgão especial, sem ligações com a
Igreja, para tratar dos assuntos relacionados aos índios.
O problema maior do governo era estabelecer o direito dos índios
ao seu território. Ficou decidido que os índios teriam suas "reservas"
delimitadas e controladas por funcionários do governo. Essas reservas
quase sempre foram menores que os territórios anteriormente ocupados
por cada nação indígena. E os índios não podiam opinar.
Essa proposta de política em relação aos índios começou a ser
praticada a partir de 1910, com a criação do Serviço de Proteção aos
índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPI-LTN). Rondon foi
escolhido para fundar e dirigir o futuro SPI devido a seu trabalho na
Comissão das Linhas Telegráficas. Nesta condição, Rondon, usando de
meios não violentos, havia conseguido que muitos povos indígenas que
contatou durante os trabalhos de ligação telegráfica permitissem a
passagem da linha em seus territórios.
Rondon impôs ao SPI as seguintes linhas de atuação:

• "pacificar" o índio arredio e hostil, para permitir o avanço dos


purutuyé nas zonas pioneiras, isto é, recém abertas para a
colonização.
• demarcar suas terras, criando "reservas indígenas", lotes de terra
sempre inferiores aos territórios anteriormente ocupados pelos
índios. A justificativa é que "pacificados" não precisavam mais
"correr de um lado para outro".
• educar os índios, ensinando a eles técnicas de agricultura, noções
de higiene, as primeiras letras e ofícios mecânicos e manuais
para que pudessem sair da condição de índio bravo e serem
transformados em trabalhadores nacionais.
• proteger os índios e assisti-los em suas doenças.
2. A criação cias áreas Terena. I
Os Terena nunca aceitaram a servidão nas fazendas e chegaram
algumas vezes a se rebelar contra os fazendeiros. Mesmo vivendo fora
das aldeias, espalhados pelas fazendas, os antigos nunca se esqueceram
que eram Terena, continuando a falar a língua e a sonhar em voltar para
suas terras.
Algumas poucas famílias Terena conseguiram se manter em
pequenos núcleos próximos às fazendas que aumentavam cada vez I
mais em Mato Grosso. Foram estes núcleos que os integrantes da
Comissão das Linhas Telegráficas, chefiada por Cândido Rondon,
encontraram em 1904. Os Terena aproveitaram o trabalho junto a
Rondon, quando da instalação das linhas telegráficas, para solicitar-lhe
que o governo lhes garantisse a posse de suas terras. Por meio de
acordos com os fazendeiros que tinham ocupado terras de forma ilegal,
Rondon conseguiu que o governo de Mato Grosso, por meio de decretos,
"reservasse" aos índios glebas de terra.
Tendo Rondon como intermediário, algumas comunidades, como
Cachoeirinha e Bananal/Ipegue, tiveram suas terras demarcadas em
1905 e mais tarde, em 1911, foram reconhecidas pelo SP1.
A história da criação destas primeiras reservas é assim lembrada:

"Meu pai foi pra lá de Nioaque. Meu pai morou lá e eu e


meus irmãos nascemos lá. Eu tinha seis irmãos e três irmãs.
Então chegou a notícia do Marechal Rondon. O gerente da
fazenda lá de Nioaque avisou meu pai que tinha notícia de que
Rondon iria juntar os índios e o fazendeiro tinha que perdoar
quem estivesse com dívidas.
Era para juntar porque tinha um pedaço de terra para a gente.
E então viemos para cá e moramos aqui. Eu tinha dez anos quando
chegamos aqui e os outros que vieram comigo eram adultos."
(Relato de Antônio Muchacho, aldeia Cachoeirinha)

Quase todas as demais áreas Terena, foram delimitadas no tempo


do SPI.
O tamanho das áreas demarcadas pelo antigo SPI era muito menor
do que era o território ocupado pelos Terena antes da Guerra do Paraguai
por isso os índios continuaram a trabalhar nas fazendas como mão de
obra. Não foi respeitada a idéia de território. A forma de organizar o
território pelos Terena, ou seja, a organização do espaço das moradias,
das plantações, das cerimônias e demais atividades, não foi respeitada
pelos administradores do SPI.

3. Os Terena e os problemas com o SPI


O SPI instalou um posto em Cachoerinha em 1918, com o propósito
de proporcionar aos Terena um apoio conforme o que pretendia Rondon.
Mas logo essa "proteção" foi sendo transformada em perda de direitos e
de autonomia política dos Terena.
Rondon pretendia que cada povo indígena tivesse um representante
que pudesse ser o interlocutor legítimo para os assuntos externos à
aldeia e nomeou com o título honorífico de "capitão" o chefe Terena que
comandava Cachoeirinha naquela época, Benedito Polidoro. Porém,
passados alguns anos, o funcionário chefe do posto do SPI passou a
interferir na escolha do "capitão".
O "encarregado do posto", em pouco tempo, passou a interferir em
praticamente todos os aspectos da vida Terena: da mediação de conflitos
internos entre famílias, guarda dos registros das ocorrências civis
(nascimento, casamento e óbitos) e até dos contratos de trabalho. O
encarregado do posto criou até uma "guarda indígena" para a manutenção
da "ordem", para que os Terena não pudessem fazer protestos. O SPI
mostrava para os Terena, que ali, nas reservas indígenas, eles viviam por
concessão, como se o governo estivesse fazendo um favor.
E, assim o futuro do povo Terena, passou a ser orientado por um
purutuyé. Os Terena passaram a ser considerados importantes apenas
como mão-de-obra para as empresas agropecuárias da região e o chefe
de posto do SPI era quem organizava o trabalho para os fazendeiros.
Na década de 50 os dados colhidos por um antropólogo chamado
Roberto Cardoso de Oliveira, em Cachoeirinha mostraram que das 127
famílias que constituíam a aldeia em 1957, apenas 19 famílias (17%)
viviam exclusivamente da agricultura interna e artesanato, enquanto 58
famílias (46%) viviam exclusivamente do trabalho externo, e outras 50
famílias (37%) combinavam o trabalho em suas roças com o trabalho
esporádico externo.
Muitos Terena começaram a ir para as cidades em crescimento a
partir do final dos anos 50. A saída dos Terena de suas aldeias para as
cidades acontecia porque havia um crescimento da população nas
reservas e a falta de "futuro" nelas. Em 1960, Roberto Cardoso de Oliveira
constatou que haviam 418 Terena morando em Campo Grande.

4. A FUNAI e a situação atual.


O espaço das "Reservas" era insuficiente porque para o SPI o futuro
dos Terena, assim como para os demais grupos indígenas, era
abandonar sua cultura para trabalhar como mão-de-obra nas lavouras e
fazendas dos grandes proprietários ou ainda mudar-se para as cidades,
integrando-se ao modo de vida do purutuyé, abandonando sua língua,
costumes e tradições.
O SPI não estava preocupado em criar condições para favorecer o
desenvolvimento das áreas dos Terena, nem incentivar e favorecer o
aumento de suas plantações, para que pudessem ter produtos para
realizar comércio, obter autonomia financeira e ter condições de ficar
mais independentes dos "favores" dos brancos.
No período da ditadura militar, que teve início com o golpe de Estado
de 31 de março de 1964, o SPI encerrou suas atividades, havendo na
época várias denúncias de corrupção, inclusive de venda ilegal de terras
indígenas. O SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI,
criada em 1967.
O chefe do posto da FUNAI herdou do seu antecessor do SPI o
mesmo poder. Contudo, com o aumento da procura da mão-de-obra
para as usinas de cana, o chefe do posto, com a concordância do
"capitão", passou a cobrar uma taxa dos intermediários das usinas (os
chamados "gatos") para cada índio contratado. O dinheiro assim
arrecadado era para ser utilizado na "manutenção" de algumas das
necessidades do posto.
A administração da "changa" (como é chamado regionalmente o
trabalho temporário nas fazendas e usinas de açúcar) passou a ser um
dos principais - senão o principal - papel desempenhado pelo núcleo
de poder na reserva (chefe PI, capitão e membros privilegiados do
Conselho).
Mas a "changa" não é s o m e n t e uma fonte de renda para
determinados membros da aldeia; hoje ela se tornou importante para
resolver o problema da sobrepopulação nas reservas - sobretudo para
a imensa maioria dos jovens.
Estes jovens, que integram 90 % dos "changueiros", se encontram
em um momento difícil. Eles sabem que a changa é o único destino
que lhes é reservado, caso queiram construir suas vidas nas aldeias.
Sabem também que, com pouca escolarização, estarão competindo
em condições de extrema inferioridade num mercado de trabalho nas
cidades. A possibilidade de sobrevivência, como atestam muitos dos
Terena que saíram das reservas Bananal/Ipegue e Buriti e foram para a
cidades, é como prestadores de serviços, trabalhando como empregados
domésticos, empregados de comerciantes ou como mão-de-obra para
serviços gerais.

Veja o que pensam, em 1999, alguns jovens da aldeia Cachoeirinha


quando interrogados sobre o futuro:

"- Você tem vontade de trabalhar na cidade?


- Eu tenho vontade de trabalhar foro.
- E por que você quer ir trabalhar fora?
- Quero fazer minha vida. Construir minha vida."
(Salmir de Albuquerque/18 anos)

"- Você já saiu para trabalhar fora ?


- Já. Cortando cana.
- Quantas vezes você já fez changa? Você achou ruim?
- Já fui 2 vezes e achei bom, é bom trabalhar.
- Você tem vontade de sair fora da aldeia?
- Tenho, falta trabalho aqui. Aqui não tem trabalho não. É por isso
e eu quero cair fora.
- E por que você não vai?
- Tem a mãe e eu não tenho estudo. Só fiz até a sétima série."
(Nivaldo Albuquerque/23 anos)
Embora existam muitas explicações que podem justificar a saída
dos Terena de suas reservas, é importante reconhecer que existe falta
de uma área suficiente para a população.
Atualmente os Terena aldeados vivem em pequenas "ilhas" de terra
e s p a l h a d a s em municípios s u l - m a t o g r o s s e n s e s c o m o Miranda,
Aquidauana, Anastácio, Sidrolândia, Dois Irmãos do Buriti e Nioaque
também há famílias Terena vivendo em aldeias no estado de São Paulo,
para onde foram levadas pelo extinto SPI. Cercadas por fazendas de
gado, as áreas Terena podem ser caracterizadas como reservas de mão-
de-obra para fazendas e usinas, uma vez que a falta de terras cultiváveis
obriga o Terena, tradicionalmente um excelente agricultor, a empregar
sua força de trabalho em atividades fora da área indígena.
Nos últimos anos, importantes segmentos das comunidades Terena
vêm se mostrando preocupados em reverter essa situação.
Quando os Terena solicitaram a demarcação do território, não
estavam pedindo um presente do governo ou de Rondon. O povo Terena
havia enfrentado o exército paraguaio para proteger suas terras. A
demarcação das áreas Terena foi a confirmação de um direito muitas
vezes conquistado no decorrer da sua história.
É sobre esse direito que falam os mais velhos:

"Por que nós temos essa terra? Porque nós salvamos o tal
da cidade. Por isso nós ganhamos essa terra, quando nós
ganhamos a guerra contra os paraguaios. Eu não alcancei essa
época, mas eu sei porque ouvi dos finados meus avós."
"Esse vermelho do Bate-Pau é o sangue de nossos avós,
dizia meu avô. Por isso nós temos essa Cachoeirinha: por causa
do sangue de nossos avós."

"Os nossos avós combateram na guerra contra os


paraguaios. Os paraguaios queriam tomar esse nosso lugar,
mas não conseguiram porque aqueles nossos avós de
antigamente se armaram com arco e flecha."

E por esse direito as terras reconhecidas deveriam ter sido muito


maiores. A própria FUNAI reconhece esse direito. Desde 1984 há uma
portaria da FUNAI que elege todas as áreas Terena, com exceção de
Buritizinho, Limão Verde e Nioaque, como passíveis de ampliação de
área.
Desta forma, a FUNAI também não resolveu o problema mais
importante da vida dos Terena: o direito à terra para que toda a população
possa viver com dignidade. E autonomia.
Atualmente a busca de soluções para os problemas enfrentados
pelo povo Terena é uma constante preocupação das autoridades Terena
que têm consciência da necessidade de se buscar novas alternativas
no relacionamento com a sociedade nacional e no usufruto pleno de
seus territórios.
ATIVIDADES
Por que o governo republicano criou o SPI?

Escreva um dos objetivos do SPI


por que e quando o SPI foi fechado?

Quais as mudanças que aconteceram com a criação da FUNAI?

por que os jovens Terena têm que trabalhar na "changa"?

Escreva sobre os direitos do povo Terena.


Capítulo VI
Cotidiano
nas aldeias:
ontem e hoje
A história cio povo Terena tem sido de mudanças no seu modo de
viver. Os diferentes contatos que estabeleceram no decorrer de sua
história com povos diversos como os Guaicuru, portugueses e brasileiros
fez com que muitos costumes e hábitos de vida tenham se transformado.
O trabalho e as relações com a terra e seus produtos, as construções
das casas, as vestimentas, os alimentos e muitos outros hábitos do
cotidiano têm mudado. Mas existem características de vida que são
mantidas e permanecem, comprovando a resistência dos Terena em
manter sua identidade como povo. A língua, festas, relações familiares
e políticas, o artesanato, entre outras manifestações da cultura, são
exemplos da manutenção das características dos Terena. Conhecer e
refletir sobre as diferentes manifestações culturais da vida cotidiana é
importante para o estudo da história do povo Terena. Uma história que
tem sido marcada por permanências e mudanças.
índios Guaná. Hércules Florence. 1827.

1. Vestuário
Fernando Altenfelder, um antropólogo que visitou as aldeias Terena
por volta de 1940, estudou os relatos escritos dos purutuyé do século
passado e recolheu depoimentos de informantes Terena. Baseado
nesses documentos, Altenfelder comentou que entre os antigos Terena,

"O vestuário mais comum era o xiripá. um saiote que ia da


cintura até os joelhos. Em tempo cie guerra usavam um xiripá
bem curto, de cor preta. Ainda era assim em 1845. O cabelo era
puxado para cima e amarrado atrás da cabeça. Usavam
alpercatas de couro com uma tira que descansava no peito do
pé. Costumavam depilar inteiramente o corpo, excepção do
Mulheres Terena na década de quarenta.

crâneo, e esta operação estava ligada a crenças mágicas.


Durante o inverno protegiam-se do frio com camisas sem
mangas repenoti). tecidas de algodão... Usavam colores.
pulseiras, e enfeites para a perna. Esses adornos eram feitos
pela ligação de sementes, contas ou dentes e ossos de animais,
com fios de algodão; os braceletes eram, às vezes, de ouro e
prata, possivelmente obtidos dos Mbayá. Nas festas usavam
diademas de penas vermelhas e saiotes de plumas de ema. As
penas de papagaio, amarelas, somente os chefes podiam usar,
pois o papagaio era considerado um "chefe"; o uso da pena de
papagaio significava que um inimigo havia sido morto em
combate. Na guerra, o chefe de guerra (chuná acheti), vestia
uma capa de pele de onça."
Ainda segundo Altenfelder, a pintura do corpo era indispensável
nas danças e festas. Pintavam o corpo com riscas, em branco e preto e
utilizavam-se do jenipapo e do carvão vegetal. Um dos viajantes que
visitou os Terena no século passado, descreveu assim a pintura dos
Terena:

"Os desenhos são feitos de uma excessivo fineza e


apresentam uma harmonia e uma delicadeza que é impossível
de se descrever"

Sobre o cuidado com o corpo e as roupas Taunay fez a seguinte


descrição:

"É também comum à todos os índios do distrito o hábito


da mais apurada limpeza: lavam o corpo três ou quatro vezes
por dia; quer faça calor ou frio ou haja bom ou mau tempo. As
mulheres cuidam muito da alvura dos panos e procuram sempre
andar muito limpas..."

E ele também escreveu que:

"É geral, a todos os índios aguçarem os dentes, em finas


pontas"

Descreva como são os Terena hoje. Em que os Terena diferem na


aparência, no modo de vestir e de se comportar, dos purutuyé?
Desenhe baseado nas informações acima, as vestimentas dos Terena
de antigamente.
Você leu sobre Kali Siini na parte que trata da Guerra do Paraguai. Os
mais velhos contam que ele chegou com uma pele de onça nos ombros
Ele seria um "chefe de guerra"?

Desenhe alguns dos motivos que são usados nas pinturas do corpo &
dos enfeites da dança do bate-pau. Que tinta é usada nestas pinturas?
2. Moradia

Esta é uma fotografia de 1942 de uma casa Terena da aldeia de


Cachoeirinha. A foto mostra os materiais que eram utilizados na
construção das moradias e as técnicas de construção.
Altenfelder escreveu que os antigos Terena moravam em casas
que, em geral, eram longas e de teto arqueado. Eles construíam casas
com telhados de duas águas, os quais desciam até as proximidades do
solo, descansando sobre paredes de cerca de l, 60 cm de altura; no
centro e nos extremos, três postes sustentavam uma viga central sobre
a qual se apoiavam caibros e ripas. A cobertura era feita de sapé ou
folhas de acurí.
As casas eram de forma retangular, e as paredes da frente e dos
fundos se apresentavam inclinadas para o interior, no alto. Segundo
afirmam alguns informantes, as portas eram simples aberturas, sem
outra proteção. As roças, cované, eram feitas por detrás das casas.
Em cada casa viviam várias famílias obedecendo a um chefe. Os
Terena habitavam aldeias, oneo, onde as casas se distribuíam em círculo
ao redor de uma praça central none-ovocuti. Não havia distinção especial
no tocante à casa do chefe da aldeia, nem parece ter havido distribuição
especial com referência à localização das metades tribais (Xumonó e
Sukirikiano). A aldeia constituía uma unidade política, mas a unidade
econômica era a família (a qual abrangia pais, filhos, genros e escravos);
a posse de escravos, os Kauti, significava auxílio na guerra e no preparo
das plantações.

Você sabe o nome dos materiais utilizados na construção da casa da


fotografia de 1942 da aldeia de Cachoeirinha?

Compare agora as casas da sua aldeia com as casas de antigamente,


de acordo com uma descrição feita por Altenfelder, de como moravam
os antigos Terena.
Desenhe, com as informações dadas pelo texto acima, como seria uma
antiga aldeia Terena e compare com a que você mora. Procure construir,
em miniatura, uma casa tradicional.
Antigamente "as portas eram simples aberturas, sem outra proteção",E
hoje, esta afirmação continua sendo verdadeira? Por que os Terena
necessitam de portas trancadas?

Por que o autor afirma que a "unidade econômica" era a família? A família
Terena ainda permanece organizada desta forma?

Pergunte aos mais velhos se eles concordam com a afirmação de


Altenfelder sobre os Terena utilizarem-se do trabalho dos Kauti no preparo
das plantações e na guerra.

Leia em outros livros e compare a escravidão dos brancos sobre os


índios e negros com o sistema de cativos dos Terena.
Leia agora sobre o interior das casas dos antigos Terena:

Os Terena dormiam sobre jiraus. A plataforma era recoberta com


trançados de bambu e couro. Sobre essa armação estendiam-se peles de
animais. Não possuíam mesas e nem bancos. No passado eles sentavam-
se em esteiras de piri, hiturí. Tapetes de pele, panketi, eram usados no
passado. Por esse tempo, embora possuíssem o algodão e conhecessem
a técnica de tecer, não usavam redes que só adquiririam mais tarde. Os
recipientes variavam das cabaças e potes de barro aos trançados de fibras
vegetais e cestaria. Os alimentos pendiam do teto ou das paredes; cabaças
cortadas ao meio, de vários tamanhos, serviam para guardar água e mel;
potes de barro, cestos e bolsas de fibras, pendentes das paredes,
completavam o mobiliário. No interior das casas os antigos Terena
guardavam ainda peles de animais, armas (arco, flecha, lança, clava e o
arco de duas cordas, o bodoque), utensílios (foice, machado - inicialmente
de pedra, bastão de cavar), fusos, material para fiar, bem como presas de
guerra, enfeites de plumas e material para pintura.
O fogo era produzido pela fricção de duas varetas e a maioria dos
alimentos era cozida.

Moças Terena descansando em cima do jirait.


Descreva o interior de uma casa Terena atual. Quais são os objetos
móveis e utensílios encontrados no seu interior?

Identifique os objetos que aparecem no texto acima e que ainda são


utilizados nos dias atuais.

Compare o uso da água e do fogo antes e agora.


3. As artes: cerâmica,
cestaria e tecelagem
Nas casas dos antigos Terena, conforme o relato e a foto anterior,
havia muitos objetos de cerâmica e cestaria. A fabricação dos vários
objetos era feita pelos homens e pelas mulheres.
No mito dos gêmeos Yurikoyuvakái, o herói civilizador dá aos
homens as armas e os instrumentos agrícolas, e, às mulheres, o fuso,
justificando assim a divisão do trabalho masculino e feminino. Se a
limpeza da roça e o preparo da terra eram tarefas masculinas, às
mulheres cabiam as tarefas de fiação, a cerâmica e cuidados caseiros.
Na fiação, tarefa feminina, empregavam-se fibras de algodão, de
palmeiras e de um arbusto denominado yuhi. Para fiar o algodão,
deixavam-no por alguns dias mergulhado na água. Com esse tratamento

Mulher Terena fiando algodão nativo.


as fibras de yuhi, eram facilmente separadas e depois de secas eram
fiadas com o auxílio do uosso-copeti. Com as fibras de yuhi faziam dois
tipos de bolsas; uma pequena, uerii, para guardar frutas, pequenas
cabaças e outros objetos; e outra maior, nimaquê, para o transporte de
mandioca e outros produtos da roça para as moradias. Faixas de algodão,
denominadas héo-eti, eram utilizadas para prender os xiripá, amarradas
à cintura.

Moça Terena preparando seu enxoval 1957.

Na página ao lado, mulher Terena


tecendo rede para dormir.
Folhas cie Carandá expostas ao sol para secar, empregadas na confecção cie chapéus
de palha e abonos.

Há relatos também sobre a fabricação de cestos e abanicos de


carandá ou de piri ou ainda de bambu. Os cestos eram utilizados para
guardar e transportar alimentos. Cestos especiais eram feitos para
transporte de crianças. Estes últimos eram adaptados às costas das
mulheres e presos à cabeça por meio de faixas de algodão.

E as mulheres Terena de sua aldeia continuam tecendo? Por que a


tecelagem é uma atividade quase em desuso na maioria das aldeias?
Antes, as mulheres Terena, como descreve o texto, carregavam os filhos
nas costas, aconchegados em um cesto próprio. E hoje, como as
mulheres carregam seus filhos?Continua existindo uma maneira Terena,
diferente da maneira dos purutuyé, de carregar os filhos? Faça um
desenho.

Antigamente os homens faziam seus arcos, flechas, lanças, instrumentos


agrícolas, de pesca, faziam cestos e abanicos, etc... , e hoje, quais são
os artefatos produzidos pelos homens Terena?
índia Terena fazendo pote de barro.
As mulheres Terena, segundo vários relatos, sempre conheceram
e empregaram o processo de espirais de argila para fabricação de potes
e panelas. Um cientista, de nome Richard Rohde, que dirigiu uma missão
científica no Brasil no ano de 1883-84, contou que, quando a peça estava
pronta, os Terena faziam incisões no barro ainda mole com uma corda,
formando o motivo, e a peça era deixada depois para secar ao sol por
uns dias e depois cozida. Depois a louça era retirada e pintava-se o
modelo com a resina do pau-santo, com a peça ainda em brasa. Mais
tarde com a louça já fria, o desenho era terminado com as cores vermelho
e branco.

Mulher Terena pintando peças de cerâmica.


Um outro purutuyé, Kalervo Oberg, que esteve entre os Terena em 1949
escreveu que os potes Terena, depois de queimados, eram decorados
com a cor preta para a qual era usada a resina de jatobá.

Queimando cerâmica.
Queimando peças de cerâmica depois de pintadas.

A cerâmica continua sendo uma atividade realizada somente pelas


mulheres?

Na sua aldeia as mulheres ainda continuam fabricando a cerâmica?


As peças fabricadas são vendidas ? Onde? Por quem?
As fotos apresentando a cerâmica são de épocas diferentes; que
mudanças você pode observar nas peças? Por que, no decorrer do
tempo, as ceramistas mudam o formato e o tamanho das peças?
para a fabricação da cerâmica, as mulheres continuam utilizando a
mesma técnica que suas antepassadas?

Quais são as principais dificuldades que as mulheres Terena enfrentam


para fabricar a cerâmica ? E para a sua comercialização?

Que outras atividades são realizadas pelas mulheres, além destas


atividades femininas tradicionais, que são a tecelagem e a cerâmica?
Desenhe alguns dos motivos usados pelas mulheres para enfeitar a
cerâmica.
4. Culinária

Observando a foto, você saberia dizer o que estas mulheres estão


preparando?
O texto abaixo, baseado nas informações de Altenfelder, conta um pouco
sobre as comidas dos antigos Terena e o modo de prepará-las. Leia.

"Das principais plantas cultivadas pelos antigos Terena cabe


mencionar como mais importantes o milho, a mandioca, o fumo,
a batata doce, o algodão, o cará e várias espécies de abóboras.
Os Terena conheciam diversas variedades de milho: o milho
amarelo, huanketi'soboró; o milho branco, heopuiti-soboró; o
milho de grãos mistos, cuati soboró. Uma outra variedade, de
"espiga longa e grão muito macio", era denominada de soboró,
simplesmente.
Peneirando farinha de mandioca.
As espigas eram colhidas ainda verdes e tostadas ao fogo,
ferventadas ou ainda esmagadas para o preparo de pequenos
bolos denominados chipa. O milho era ainda utilizado no preparo
de bebidas fermentadas.
Embora desconhecessem o processo de fabricação da
farinha de mandioca, que só mais tarde vieram a dominar, os
antigos terena teriam cultivado a mandioca brava, suáiti-tchupú,
a par com as variedades não venenosas, echoti-tchupú. A
mandioca mansa era comida cozida ou assada. As variedades
venenosas eram utilizadas na fabricação de bolinhos,
denominados hihi, ou de bolos maiores, hapape. Depois de
raspada a casca da mandioca brava com facas de madeira,
peritau, esmigalhavam o miolo em raladores de madeira. A massa
assim obtida era envolvida em tecidos de algodão, que eram
retorcidos com o auxílio de varetas de madeira. Libertada do caldo
venenoso a massa era cozida em panelas de barro até perder o
sabor amargoso. A mandioca mansa era muitas vezes cozida
de mistura com pedaços de carne ou peixe moqueado."

A batata doce, coé, era cultivada no Êxiva pelos Terena, que


afirmavam haverem conhecido as seguintes variedades: branca,
heopuiti-coé; amarela, huanketí-coé; roxa, haraiti-coé. A batata era comida
assada diretamente nas cinzas ou ferventada. Havia ainda uma terceira
maneira de prepará-la. O processo consistia em fazer um buraco no
solo, enchê-lo de lenha e atear fogo; lançava-se a batata sobre o braseiro
e recobria-se o buraco com terra, deixando-o assim por um dia ou mais.
O forno subterrâneo era chamado de xuiupu-peno-uti-coé.

Os Terena hoje continuam preparando estas comidas?


Quais as comidas dos antigos que ainda são feitas nas aldeias?
Qual é a alimentação básica dos Terena hoje?

Quais são as diferenças entre o que se come hoje nas aldeias e o que
os purutuyé comem?

Quais seriam os alimentos que os purutuyé aprenderam a comer com


os Terena?

5. Roça, pesca, coleta, caça e criação


. •

A agricultura continua sendo a atividade econômica mais importante


para os Terena? Quais são as plantas mais cultivadas hoje pelos Terena?
Homens Terena colhendo feijão, 1998.

Terena marcando gado, derrubando bezeni


Em que época os Terena começaram a lidar com o gado?

Hoje em dia a criação de gado é uma atividade importante para os


Terena? Na sua aldeia existem muitos criadores de gado?

Os Terena mais velhos contam que, quando ainda no Êxiva,


costumavam caçar, entre outros, a onça, o veado do campo, o veado
mateiro, a anta e o jaó.
A carne da caça era tostada diretamente no braseiro ou moqueada,
o que faziam também com o peixe. Mencionam ainda os Terena uma
cobra d'água, denominada tié, bem como caramujos d'água, coeió, os
quais constituíam parte de sua dieta.

Os Terena ainda caçam? Como? Quais são os animais que ainda são
encontrados dentro da área?

Por que a caça diminuiu?


Escreva alguma história sobre animais que são contadas em sua aldeia.

E a pesca é ainda uma atividade importante para os Terena? Quais os


lugares em que as pessoas de sua aldeia pescam? Quais os peixes
mais apreciados pelos Terena de hoje?
A coleta era tarefa tanto masculina como feminina, e abrangia a
apanha de frutas e mel silvestre, bem como de ovos de ema, de tartaruga,
palmitos e raízes medicinais. As matas que bordejam o rio Paraguai são
abundantes em plantas de valor alimentício, como a algaroba, mee; o
evê, fruta semelhante ao jambo; o uaápú, fruto de características
semelhantes às da jabuticaba, embora menor. Os antigos Terena
apreciavam muito a flor de capim do brejo, lapoienu e a bocaiúva, ecaié.
O mel não era só utilizado como alimento, mas também no preparo de
bebidas alcóolicas.

A coleta é uma atividade importante para os Terena de hoje? Quem são


os principais responsáveis por ela, as mulheres? As crianças? Quais
são os frutos nativos que ainda existem na sua área?
Terena tomando mate chimarrão.
6. Festas e cerimônias
A relação entre pais e filhos era de muito respeito e afeição. O
casamento era uma decisão familiar. Taunay escreveu que

"A afeição materna, ou o interesse de um pai pela prole, a


amizade que une os irmãos, são entre eles edificantes e até em
extremo comovedoras. Verdadeira fraternidade envolve aquelas
almas simples levando-as a dedicações extremadas em matéria
de solidariedade. Com todo o devotamento servem os pais aos

Índia Terena com seu filho.


filhos que cegamente lhes obedecem... Sujeita-se a moça à
imposição paterna, aceitando sem murmurar o esposo que lhe
apresentem, ou desprezando aquele cuja separação aconselharam.
No casamento regular, escolhe o noivo a futura esposa
quando ainda criança. Dela cuida, veste-a, concorre para a
alimentação dos pais, por quem é considerado filho. Aos dez
anos, mal lhe apontam os peitos, ainda não núbil, é a
rapariguinha noiva entregue ao futuro marido. Com ele a enrolam
em uma esteira, ao redor do qual dançam os pais, parentes e
convidados, cantando, bebendo e comendo os presentes..."

Casal descansando após o Trabalho.


Faça uma pesquisa sobre como eram os casamentos. Quais eram as
obrigações do noivo e da noiva e de suas famílias? Como era a festa
que tornava público o casamento? Compare com a situação atual.

Pelo parentesco tradicional Terena, são chamados também de irmãos


tanto os filhos dos irmãos de seu pai, como os filhos dos irmãos de sua
mãe, e com todos estes que os purutuyé chamam de primos, o
casamento era proibido. Esta é uma regra que ainda continua valendo
para os Terena de hoje?
A união familiar podia ser percebida também por ocasião do
falecimento de um membro da família. Taunay relatou que, na época da
guerra do Paraguai, perto de seu rancho de palha, nos Morros (Serra
Maracaju)

"habitava pobre índia velha que noite e dia lastimava a


morte do filho único (que era o Pakalalá), morto em combate
pelos paraguaios, no mês de maio de 1866. O seu soluçar
mostrava a dor profunda em que jazia... Ora enumerava a
pobre mãe as virtudes do filho; ora rogava à lua que lhe
recebesse a alma; ora ao sol que aquecesse o lugar em que
fora prostrado."

Este escritor que participou de perto da guerra do Paraguai, contou


ainda como a perda de uma pessoa da família era compartilhada pelo
restante da aldeia:

"A casa do morto é invadida, e nela prorrompem gemidos


e gritos agudíssimos, soltos pelo mulherio e pelas crianças...
Fica o cadáver em casa apenas duas ou três horas, é logo
amarrado em uma rede enfiada num varapau que vai carregada
por dois parentes. Dirige-se o enterro ao cemitério, acompanhado
por todas as pessoas das casas, defronte das quais vai
passando. Ergue-se assim uma gritaria cada vez mais intensa,
todos se lamentam...
No ato de se entregar o cadáver à terra, junto à cova matam-
se os animais mais queridos do morto, que é sepultado com
todos os objetos outrora de sua maior afeição. Se neste ato
alguém se apresenta pedindo qualquer animal ou objeto obtem-
no logo, sem dificuldade nem paga, ficando desde aí, o cobiçado
móvel propriedade sua. Desta arte cedem os parentes rezes,
manadas de éguas, etc... etc... , procurando desfazer-se de tudo
o que pertencera ao defunto.
De volta do cemitério, é o rancho abandonado: toda a família
se muda; entretanto durante muito tempo conservam-se nas
palhoças, desocupadas, água, fogo e cigarros para que a alma
do morto beba, aqueça-se e fume...
Quando uma mulher morre, cie volta do enterro, quebram-
se todos os potes, pratos etc... É o seu rancho, também,
completamente desmanchado.
Meses depois do falecimento de um parente qualquer
recordação provoca violentas explosões de dor, logo
acompanhadas por todas as velhas da aldeia. A duração do
luto varia conforme o grau do parentesco..."

Os Terena mantêm ainda hoje esta cerimônia quando enterram os seus


mortos?

Qual o ponto principal que diferencia, segundo a descrição acima, a


relação do purutuyé e do Terena com os seus mortos?

Aponte as diferenças, entre os Terena e os purutuyé, em relação à


herança deixada pelos mortos.
Flagrante da assistência e do Pajé cantando, evocando os espíritos. O culto começa
de noite e termina com o raiar do sol, revezando o Pajé com a sua mulher.

Antigamente havia grandes koixomoneti. Ainda hoje os koixomoneti


mantêm um grande poder. Os Terena sempre mantiveram respeito por
estes homens que conseguem entrar em contato com os espíritos e
desse modo proteger melhor o seu povo.

"Dois koixomoneti estavam se insultando, cada um dizendo


que o outro não sabia nada. Um deles para mostrar que sabia
mais que o outro, deu um jeito para virar a ema que está no
céu. Aí veiou uma tempestade, escureceu muito e começaram
a descer do céu, no meio da chuva, passarinhos de duas
cabeças, patos de duas cabeças, gansos de duas cabeças,
carão de duas cabeças. Estava a nuvem tão baixa que a gente
ouvia a fala de criança em meio desta nuvem.
Quando o outro koixomoneti viu que não podia com ele, o
mais forte sacudiu o chocalho de cabaça, itakaná, e aí parou a
chuva, os pássaros foram embora e limpou o tempo. A ema
ficou no céu como o koixomoneti mais forte a tinha virado"
(Antônio Lulu Kaliketé, 1947, Araribá, SP)

Desenhe a estória contada por Kaliketé.


Culto religioso dos Terena em Cachoeirinha.

Conte outro feito de um grande Koixomoneti.


Acima, dois índios Terena con) sua indumentária da dança do "Bate-Pau". Abaixo, em
coluna de dois. as lanças de bambu levantadas, batendo na lança do companheiro
ao lado. marcando sempre a cadência.
"E naquele tempo, quando terminou a guerra do Paraguai,
as pessoas que começaram a se juntar de novo ficaram alegres
e este é o Bate-Paú, vermelho contra azul. E este azul começou
a se manifestar de alegria. Por isso criaram a bandeira azul dos
purutuyé. E esse vermelho é o sangue de nossos avós, dizia
meu avô. Por isso nós ganhamos nossa terra, por causa dos
sangue de nossos avós. Então por isso que os dois cabeças do
Bate-Pau se perguntam: e daí... nós vamos brigar? "e
respondem: Não, nós vamos brincar e começar a ficar alegres!,
disseram os lados azul e vermelho"
(João Martins Menootó)

Faça uma pesquisa e escreva um texto sobre o bate-pau. Pergunte aos


mais velhos e discuta com seus professores e colegas. No espaço abaixo
você vai fazer o seu relato.
Agora faça um desenho sobre a dança do "Bate-Pau".
Para finalizar este livro, em que vocês também são os autores, escreva
sobre os problemas atuais de sua comunidade e como você pensa o
futuro de seu povo.
Círculo riscado no chão tendo no centro um machado, com a lâmina enterrada, o que
significa: Pedido para que o temporal passe logo.

Créditos Fotográficos

Os desenhos das aberturas de capítulo e atividades são motivos das pinturas da cerâmica
Terena.

As fotografias da Coleção Harald Schultz, 1942, foram gentilmente cedidas pelo Museu do
índio - RJ - FUNAI, Setor de Antropologia Visual. Os negativos foram ampliados e
retocados por Sérgio Burghi.
As fotografias desta coleção aparecem nas páginas: 10, 109, l13, 117. 119, 121, 122,
124, 125, 126, 127, 131, 132. foto inferior da 135, 139, 140, 141. 145. as duas fotos da
147. idem na 148. 151 e 153.

Página 15. foto de Vincent Carelli. Instituto Sócio Ambiental ISA.

Página 34. Lamina 62: Mujer transportando la carga en una bolsa de


caraguatá (Chaco). Col. Museo, dia. 166.
Lamina 23: Mujer Lengua sacando água de la planta "caraguatá". Grubb B.
(1): pág. 193. Los Aborígenes del Paraguay IV Cultura Material. Branislava
Susnik. Museo Etnográfico Andres Barbero", Asunción Paraguay, 1982.
Página 43, Guanitá, chefe dos guanás. Albuquerque, c. de 1826, aquarela, 28,7 x 25,1 na
pg. 44. A Descoberta da Amazônia. Os Diários do Naturalista Hercules Florence.
Editora Marca D'Agua. São Paulo, 1995.

Página 44, Duas pirogas de Guanás. 1827. nanquim aguado. 19,9 x 30.7 na pg. 43. A
Descoberta da Amazônia. Os Diários do Naturalista Hercules Florence. Editora
Marca D'Agua. São Paulo, 1995.

Página 54, A Retirada da Laguna - Composição de Álvaro Marins ( Seth ) na p g . 2 5 l . A


Retirada da Laguna. Alfredo d'Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay. Editora
Comp. Melhoramentos de S. Paulo, 1935.

Página 57. Alfredo D' Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, Rio de Janeiro • 22 de
Fevereiro de 1843 - 25 de Janeiro de 1899. A Retirada da Laguna. Alfredo
d'Escragnolle Taunay. Editora Comp. Melhoramentos de S. Paulo, 1935.

Página 6 1 , Cerimônia religiosa dos índios Guanás (30 de Março de 1866). Entre os nossos
índios: Chanés. Terenas. Guanás, Laianas. Cuatós, Guaycurus. Caingangs. São
Paulo, Museu Paulista, 1931.

Página 77, Aqui dois Terena que combateram na guerra, com uniformes de oficiais em
desuso, pg 470, História dos índios no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras
/ SE Municipal de São Paulo, / FAPESP, 1992

Página 80, Na pg. 65 da revista O CRUZEIRO, 15 de junho de 1957.

Página 8 3 . Fotos de Gilberto Azanha, Centro de Trabalho Indigenista. 1981.

Página 92, Na pg. 61 da revista O CRUZEIRO, 15 de junho de 1957.

Página 94, 10. Bugreiros e s u a s vítimas II . Acervo SCS. na pg 4 1 . Os índios Xokleng.

Memória Visual, Sílvio Coelho dos Santos. Editora da UFSC - Univali, 1997.

Páginas 100 e 101, Foto I de Gilberto Azanha, 1986. As demais de Rogério Alves de
Rezende, 1997. Centro de Trabalho Indigenista.

Página 108, Índios Guaná, Hércules Florence, na pg. 329, aquarela de novembro de 1827,
da povoação de Albuquerque (atual Corumbá) . Expedição Langsdorf -
Rugendas. Taunay, Florence (1821 - 1829), Rio de Janeiro, Alumbramento.
1998.

Página 120, Moça Terena preparando seu enxoval. 1957 na pg.80. Do índio ao Bugre,
Roberto Cardoso de Oliveira. Francisco Alves, 1976.

Páginas 128 e 129, Acima, fotos de Murilo Santos, 1989. Abaixo, de Rogério Alves de
Rezende, 1997. Centro de Trabalho Indigenista.

Página 135, Foto superior de Rogério Alves de Rezende, 1997. Centro de Trabalho
Indigenista.

Página 138, Desenhos de frutas feitos por alunos Terena.


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