Você está na página 1de 28
~ priorizar uma ou outa, mas nao € possivel ~ SCietatarcne eater) Peoreaeene it cr er ee ae oe CAPITULO 1 Historia da historia: civilizagao ocidental e sentido histérico : Metafisica e historia ‘Ao longo do iltimo milénio, os historiadores ocidentais manifes taram preocupasio constante com o destino de uma “humanidade uni versal”. Aterrorizados com as experiéncias cada vez mais freqlientes ¢ bru tais de guerras ¢ invasSes, injusicas sociais,epidemias, fomes, catéstrofes ppaturais, interrogaram-se obsessivamente sobre a hist6ria universal, sobre {seu sentido, sobre o dever ser da humanidade, sobre a perfectibilidade hhumana, que poderia se realizar na histria. Perguntas metafsicas orien- cas no Ocidente: taram as reflexes © pesquisas hi para onde vamos, “para que viemos ¢ qual seré o nosso destino?", tomo obter a salvacdo?”. Essas perguntas revelam uma angistia funda mental, a experigncia de um permanente mal-estar de ser-no-rempo. O cia ¢ procura construir uma imagem de si mesmo. A cultura ocidental se in Ocidente softe com a propia global, reconhecivel e accitavel terroge sobre a sua identidade, que generaliza como problema do homem Esse esforso obsessivo para atsibuir um sentido inteli versal, se explica pelo fato de a cultura ocidental no pos- Suir una identidade sem fisuras e de precisarisiicahseu expansionism ‘pelo mundo, Fla se esforca para se integrar, luta para se reconhecer em sua eeralidade, para poder se exspandir com a legitimasao dé um diseuso claro ¢ distinto, iexorguivel. 6 Hisromia & Troma Este capitulo pretende contribuir com uma rele critica sobre esse esforgo ocidentl, procurando reconstruir 0 percurso da sua problemé- centre o sagrado € 0 profano, entre ae ago pelo profano ¢ pelo tempo. Era ext strata € genérica de uma “humanidade fandadores da culeura 1m revelar 0 destino da iddia de evolu das ages humans ido, apolados em documentos visuais ‘quem presenciava o evento podia relaté-lo de modo confidvel. 3 ria apenas ensinava, em relacio a0 futuro, a necessidade da. me- séria, da prudéncia, da cautela, da resignacio. Eles nfo tinham uma idéia idariedade da espécie humana. A vida grega era frag 55, divididos ¢ em guerra. Suas especulagées oda vida humana eram sébrias. Nao esperavam que, no ia pudessetrazerafelicidade humana. O historiador sé podia ‘oferecer aos homens a felicidade individual, atribuindo a eles uma repu- tagfo de herdis, a fama eterna, a lembranga do seu nome ¢ dos seus feitos. Sp" Contudo, apesar de sua nova cigncia — a histéria —, cles também © procuraram dat um sentido metafisico 20 mundo. E 0 procuraram na 1)” Mcontemplagio da ordem e da beleza estiveis do universo. Os gregos no > buscavam © sentido do ser na histéria. Para pensarem o cosmo, faiam |g © abscasio da histéra, que, para cles, era ugar sublunar da mudanga, da desordem, Aboliam 0 tempo, submetendo 0 universo a uma explicagio natural e racional, o logos, a ordem, que a mudanga esconde. Seu olhar {6 sobre o mundo buseava a perfigio do movimento circular. Os gregos se % Que traravam miticamente. Acredicavam que o fucuro individual j ce eke ee evel, perceptivel na ordem fixa dos corpos celestes. que muda jé no é. O ser-que-£é alheio & mudanga, imuedvel, estavel, permanente, sempre pre- . Eles procuravam reconhecer nas mudancas humanas uma “pacureza sas é permanente aos olhos da razio. O lo passado e os homens teriam sempre as ras pulsbes © necessidadesA vida humana ve move en repericées, estagbes. Os gregos tinham uma visio ciclicae repetitiva da hisedria: crescimento e decadéncia vida ¢ morte. A ordem que existe no verso, acessivel ao pensamento, nao revela uma sucess linear eteleo- ligica, mas a estabilidade do ser. Pela contemplasio ¢ pelo discurso, es tabeleciam a ordem racional do cosmo. A mudanca nao podia ser ema da sofia. A mudanga seria da ordem do irracional, incognoscivel, incom- ‘om um pensamento que buscasse a verdade, A mudanga é “caso”, “contingéncia, “sorte-azar, “vicissirude”. Pode-se mul riqueza para a pobreza, da vitéria para a derrota, da escravidio para berdade e vice-versa. A mudanga deve ser encarada virilmente, sabiamen- ce. Na hora do triunfo, pensar na derrota. Deve-se aprender com a des- graca e ser moderado na prosperidade. O sentido nfo era procurado na ‘mudanga, na histéria, como o faria 0 historiador ocidental posterior. A histéria, que entéo nascia, nfo gozava de nenhum apreco filoséfico. Uma “filosofia da histéria” seria um contra-senso. Diante da mudanga histé- rica, os homens deveriam apenas encaré-la com coragem ¢ serenidade. O fildsofo, que queria ser feliz, s6 tinka uma esperanga: abandonar a his romnar-se uma idéia eterna ¢ jamais retornar ao tempo. Os gregos se interessavam pelo éteino) pelo que néo precisa da his- téria para ser. Seus historiadores, ao fundarem a histéra, de é ica. A histéria que fundaram nfo se aponta para o passado, que preferiam recente. Nao se interessavam his camente pelo fururo como “humanizacio", nem pelo Tonginguo pass ddado ¢ podia ser antevisto pelos oréculos. Os homens do futuro néo seriam melhores do que os passados ¢ 0: atuais. Os ordculostinham © dom de ver a vida predestinada dos individuos que as musas Ihes sopravam. Estas co- anheciam tudo: 0 passado e o futuro, Os eventos presentes ¢ passados tinham © com a conscitncia his ‘as mesmas caracter(sticas. Herddoro s6 queria evitar o esquecimento das sin- fuaridades humana. O sgafcado dos eventos lhe er implicit e no os transcendia. A narragio hist6rica n conduria a um fim, revelando apenas a0 se repetr, se compensava. Suas mur ddangastevelavam 0 equilibrio das forcas histérico-naturas. Os hi fizeram um vlo esforgo para eliminar toda lenda ou divindade, pois esas es- tavam integradas & sua cultura mitica. Em Tucidides isso se radicaliza, tam- bbém em vdo, Suas narrativas sio cheias de oréculos, adivinhagées, inter- sal nfo era ainda uulada pelos roma- 3c eferid io podiam ter comegou a ser formulada e a ser central numa cultura com os romanos. E isso representou uma ruptura ica grega © Uma fssura na cultura ocidental. O passado ¢ o futuro tornaram-se assimétricos ¢ 0 futuro passou a ‘uo de gravidade da histéria, Em Polibio, a idéia de uma “h ‘versal se confundia es gia & do Império Romano, cujo fim era a sobre o mundo. Roma era.a reun mundo. Mas, dessa comunidade “universal, os nfo-romat historiador se considera conhecedor do sentido da histéria.¢.se toma um juize sua obra. 1m defensor dos valores modernos — burgueses, europe luminista. As Luzes geraram dois tipos de conheciment 1a. Nao se percebe 0 Progresso, esse c ale tranguilo, mas como produzido pela ne tragicamente e de modo niovlinear. No en- dia vi iz O movimento pelo fim. cspirto se objetiva no tempo, s& pOe, © op com o tempo. Mas esté a salvo do tem fi, nfo evolui e nao progride. Os individuos age passam. Mas ele continua sendo 0 que sempre fo _ptesente continuo, todas as suas objerivag6es pass tum eterno retomno a si mesmo ¢ em um profundo pres ncia desse pensamento moder, filosdico ¢ cientfic, | sahist6ra legitimaria sempre os poderes atuais ou revalucionssios. A ff a sempre a servico do pods. O discurso histério estaria do- tminado pela ese moderna da tendéacia& iberdade absoluta no cro. Essa a aseqiléncia | , fundamen- ja-conhecimento torna-e eficazpolticamente — serve aos gru- pos em luta pe le moral” do sentido hi toma “cientificamente” a expresio da vontade do Estado e das insticuigées da sociedad burguesa ‘A ideologiagio do discurso cientifcsa sobre a histria & total: o# Jinteresses particulares dos Estados ¢ dos lideres nacionais tornam-se a x ‘universal Em nome da liberdade futur, codas as agbes dos Estados lideres polices europeus so leptimadas e defendidas, mesmo {quando sio violénca purse simples, mero interesse particular. © Ocidente, no século XIX, estécentficamente convencido de que é 0 portador da ver- ‘concepeio moderna da hisra teve uma Conseqiéncia poli Seabee meee anus 15 Habermas, 1985 © 1987; e Ricoeur, 1990. levou & producéo acclerada de eventos que se acreditava ido era antecipada e apriorstca- + mente conhecido. Ela levou a uma revolugio permanente do vivido, a uma a. Levou ao teror da utopia, a um mundo socal dominado pela Razio absolut rota, universal, homogénea, ranspa rente,auoconsciénca integral de si. Sob a inluéncia modemna das filosofias buscou uma explicago racional para os processos hu- para a produgéo da uropia, Essa utopia sera a realizagio ica da Razio em uma sociedade em que todos os iedade dominada ab A pés-modernidade oi a ee do outra profunda fissura na identidade ociden- racionalismo modero. Se es homem ocide omem ocide ianismo, pe moral do dever, democracia, socialismo — so sintomas de decadéncia, de uma vida que se empobrece e se apaga. Ele quer quebrar esses valores que revelam cansago de viver ¢ pér em primeito plano a vontede de poténcia, a alegria de ser. A obra de Nietzsche é um esforgo para vencer a Razio, a “frente fria” da cultura ocidental, quebs as € Fe lando uma “corrente quente”, qu fo aqueles valores € re denomina “Vida”. Ele defende um ia da Razio, 20 defende a eterni- dade do efémero contra a erernidade stemporal, 0 agora eterno contra a utopia no futuro. Para cle, deve-se esquecer © passado e reiniciar a vida, recomegat, com. cotagem ¢ alegria. Ele recusa os pilascs da culrura oci- dental, a piedade religiosa, a objetividade do cientista, o igualtarismo so- ¢ a decadéncia do Ocidente comegou com Sécrates, que teria desviado a humanidade ocidental dos seus instintos fundamentais, desvitalizando-a, tornando-a fraca ¢ submissa. Depois dele, 0 cristanismo descreveu 0 mundo como um vale de ligrimas ¢ concebeu a felicidade no além. Na perspectiva do além, 0 aqui-agora terrestre, corporal, encarnado, Jost Cantos Reis vivo, é pereebido como provisbrio, inauténtico, aparente. Para Nietasche, eo os escravos e vencidos que inventaram o além, pois ndo podem ter as alegrias deste mundo. Cultivam o édio a tudo que ¢ humano, hostilizam a eida, A moral dos escravos é uma autotomia: reativa, ressentida, culpada. Um auro-aniqui Niccasche lamenta 0 egoismo ¢ a crueldade reinant dos, impotentes, baixos, sofredores, doentes,escravos. Os humildes. Os vencidos, O cristo, fraco ressentido, despreza forte, pois odeia a vida, a alegea, a poténcia, o sucesso, a agdo. O ressentido ¢ uina “vontade pada” inventa uma outa vida além desta que vive. Hd 2 mil anos, cle protest, os eSeravos venceram! A cultura moderna é dominada pos essa faoral do escravo, por seus ‘valores superiores™ O sentido histrico da ci- vilizagio ocidental, desde Sdcrares, é a recusa deste mundo, da histéria, ¢ ' conseqidente declinio para o além, O tikime homem, o que mais recuss «vida aqui, imagina que obterd a gléria no além. Seus valores, que re- ‘cusam 0 mundo, ele os considera representantes do bem, supe ‘que defendem a vida aqui, ele os considera representantes do mal. Apo- fo, deus da forma, da ponderagio, da medida, do conhecimento ¢ do controle de si, contemp! sm meio a um mundo de dores, Venceu Dionizo, deus do desequilibrio, da néo-serenidade, dos inscintos Vitais, Nietzsche defende uma vontade alegre, dionisface, contra a vontade linea, Para ele, € preciso desdomesticar os homens ocident E preciso libertar a vida. Os imetafisicos. Séo criagbes muito humanas ara Nierasche, 0 conhecimento hist6rico ocidental dominado pela Razfo nio é capaz de conhecera vida, que afrma querer conhecer. Blea dis- seca ¢ mata. A hist6ria cientifica é uma desvantagem para a vida. Ela quer repetir a grandeza passada, uniformizando ¢ depreciando a diferensay des- So 1 Niemache, 1983, “8 “4 Hisrona & Tronta vitalizando o vivido singular. Ela eré que pode conhecer todo 0 passado sem fore e necessidade e em sua verdade! Ela enche a cultura moderna di tros tempos alheios a ela, perguntando a eles “o que fazer”. A his cncifica cultiva a indiferenga e a neutralidade, ignorando © que hi de mis- 30 ¢ instntivo na vida. Ela reseca a vida. Trata a humanidade como se fosse uma velha ¢é hostil aroda ousadia. Ela se deixa dominar pela poténcia de uma merafisca dos fatos histéricos. Uma ‘itil A vida, 20 conerdé- rio, ftia a gencalogia dos modos ¢ valores histéricos criados pelos homens « no por forcas metafisicas. Uma historia que servisse & vida lutaria contra universal, contra oft contra a corrente 1, reducionismo, mecanicismo, destino de valores. Fla ndo representa Essa mudanca na experigncia da temporalidade es sobre a sua representagic ca. Se 0 tempo da mo- lade significara uma aceleragio do tempo histérico, apoiado nas fi- ociais, no século XX, perceberam produzidos aceleradamente no eram controléveis, pois fo se conhecia de fato 0 seu sentido. O sentido dos eventos no se dia _ tion conhecimento especulativo, A “est c" sobrea.qual se apéia a cons ‘as flosofias da pla, submissio do real complexo a idéias muito simples e a sistemas fe- H cia a todo irracionalismoinsensibilidade em relagdo inceressam mais 4 his diferensas A realidad dao, antes dese pretender alteri-la, conhecer as suas resistencias. E preciso como lia, etrutira, permanéncia, continuidade tendéncia& rtina ¢ ao repous do cotidiane. O emergem sem controle. Tornou-se impos Tomo rel pensar © sentido hi > de uma histé universal, paradoxalmente, quando se tem a sua sxpe- 5 historiadores perderam a ambigéo de a histria global e pensam em termos de descontinuidades ¢estuturas, de rupturas e fragmentagio, em plese processo de globalizacao. Néo se ‘dentificar mais pri te presente nas ios tnicos, um espirito substancial universalmen- fereanae ferentes formas que o realizam, 3 Dowe, 1995; « Fey, 1988, 2 Reis, 1994 e 2000, Jost Cantos Ret ‘A temporalidade histrica se alterou profundamente nas iltimas “Adcadas, O presente no dialoga mais com o passado ¢ com 0 fururo como as e valores. Auro-suficente, ele parece se con- rece que vivemos a novidade de uma época pés- co individual, 0 0, 0 homogéneo, 0 glo- tem? Qu: fo? A meu ver, estes tempos pdr-modernos se thouve uma aceleragio ral — € relativamente aurSnoma — pa esfera de C&T que alterou com violencia a esfera cul sem que ela tivesse tempo ¢ meios de se reconhecer ¢extruturat. Ela reage, se acomods, pro- ‘cura se atualizar, buscando se dar conta (to realize) do que ocor laram porque sofre a viol “A cultura vive a pés-modernidade, mas alimenta-se onisicamente ‘e ainda da grande narrativa moderna. Quando se suvem exposigdes sobre o que vive o atual, quando se lé Derrida, Fou: cault, Lyotard, Jameson, aimpressio é a0 mesmo tempo de reconhecimento ¢ de surpresa ¢ perplexidade. ritmo extremamente acelerado do desenvolvimento na exfera da itncia e da técnica tem levado a mudangas profundas nas outras esferas dda sociedade. As esfers religios, politica, social, fs Citar algumas apenas, tém nio s6 se beneficado com as ficas e tecnoldgicas, mas também se adaptado ot © seu ritmo e com sua especificidade, Como na primeira moder 10 de desdobramento € no se nidade, cada esfera tem seu prép ina pelo das outras, Mas as mudangas que ocor~ rapidamente, exigem ruturagio. Ap6s a deixa dominar ou de fem em uma, sobretudo quando esta se move m das outras uma reaglo, ume reformulagso ¢ uma re TI Guerra, a esfera da ciéncia da técnica vem mudando tio accleradar mente que estélevando as demais& crise profunds: 0s valor as repetigbes, a lighes, 08 {dos extio em xeque. A religio no é mais a mesma, cual ou Se- nem a familia, nem a arte, nem o trabalho, nem a vida int 1em os momentos solitirios intimos. O co- 3 Nusronia & Teonta 1960, Cada esfera tem seu modo préprio de reagir, sua linguagem, seus préprias. Néo seria uma radicalizagio da moderni- 7 dade renascenti ‘A sociedade vive uma “revolugio canservadora”, sem sujcito e sem. discurso — passa por mudangas vertiginosas, que nfo consegue compreen- der e articular em linguagem formal e clara. E talvez nem desee! O inima- banalidade: imagens nitidas € minuciosas do espago re- motissimo, 0 controle dos segredos genéticos, a comunicagao global pela Internet e outros meios. Por um lado, um dominio em avango continuo da natureza ¢ da sociedade, Por outro, perplexidade, contra-informagéo, blo- deseruigio do meio ambiente e dos vinculos soiais. de outro modo: 0 retomo do indivduo, com suas preferéncias, sentimentos, a, estratégias, modos de fazer e agit proprios, em.um contexto de mas sificagio das preferéncias, dos sentimentos, das leituras e dos modos de fazer agir. Enfim, a clissica tensio enece o particular e o universal, entre 0 in- dividual ¢ © social ganhou, no final do século XX, um contorno especifico «uma expressio orginal. Edgar Morin expe esse “novo espirito hist6rico”, cmergente no final do século XX, em varios de seus livos. Entre eles, dese racase Lsprit du temps 1. Névose, onde afirma: humana (..) qualquer molécula dear transporta mensagens que um apar comam imediatamente audiveis ¢ ago, que é a da alma, progridem ao longo do século XX. Ocorre um progresso ininterrupro da técnica voltada nfo mais para 0 mundo exte- 2 Weber, 1974. Jose CARLOS REIS 1 do homem ¢ langando nele ‘ea vida privada foram inclufdas icarath. A obra as ¢filoséficas pioneira nesse tema. ipos pés-modern por Lyotard (1979) ¢ Habermas contéveis. Todas elas visam um mesmo ol fe vive atualmente, apreender em algumas tescs a direcdo e o significado, representaro desenho, a figura, das mudancas aceleradasvividas em todas as esferas da sociedade, de modo descontinuo ¢ nio-articulado, mobiliza- ddas pela revolugio (conservadora) aparentemente inesgotivel da esfera da CAT. A dificuldade maior, quando se vive uma época de aceleragio cem- =r reconhect-la ¢ dizé-la em linguagem compres jcldade se aentua porgue alingsagem. af haves de jo e noo ima siruagio de perplexidade e de agar aio se refere a nada, mas foge... A perplexidade é uma atitude mundo, rica, produtiva, pois admirativs, surpreendida, dora. O melhor as vezes € 0 silencio, a contemplagio, o ll tenso, como quem vé um filme novo ¢ fascinante ¢ nfo 4 comenté-lo ou perder tempo com conversas ou afetos paralelos. Um bom filme, um bom jogo, uma boa leitura, como a vida, s6 podem ser comen- tados quando cerminados. Na culeura pés-moderna, 0 “sentido histérico”, nos termos da tradicio judeo-cristé-iluminista, deixou de ser um_proble- sma cultural. Voltar a lo seria colocar-se em uma tradigdo contra a qual o atual se posiciona, ¢ colocar 0 problema nos cermos tradicionais seria inadequado para se pensar 0 atu. por um lado, enquanto contemplamos as mudan: enso, por outro, quando soi mas das mudangas, 0 melhor é procurar diz endé-las, enquanto é tempo para agi ereagis, ou d modo, adequando-se, negociando, circulando, resistindo, apropriando-se, ‘cada um em sua escala individual ou de grupo. Morin (1962) afirma que co prazer, a educagio, o género enquanto tas, 5) Nesse sentido, a esféra é efeito, reflexo, io se deixam olocados por um pensa jf prontas, Eles «6 podem imento, Aparece uma nova saida da imprensa, do cine- epifendmeno de ese sais. Como as 0 ‘uma autono! nos préprios, ling jubtio proprio de desdobramento —, mas nfo é, produsida segundo as normas mas- das outas esferas. Se uma esfera tem # sso repercute nas outras ¢ forca, nfo de modo mecinico ¢ de- ro, enim, cule cura. Se a esfera cultural é “interior” a info seria a versio pés-moderna da senvolve ao lado das culeur a sociologia americana devecta, reconhece 2 t sivas da fabricagio indus mas de modo q ‘A alteracio da esfera cultural leva 0 conhecimento histérico, um de seus componentes essenciais, a mudangas profundas. Tudo o que se soube até aqui parece todas as outa Fé da Razio? Afinal, mesmo reconhecendo a multipicidade © he ‘cultura, presente em codas elas, as redine, a5 feintegra, centrazando-as, estruturando-as, assim como se fosse face | P tam a ser im i péemoderna de Deus ou do Espirito Universal.” a portantes interlocutoras, todas elas sem excegio, mas nio se referem a0 ‘O desdgbramento acclerado da C&T repercute fortemente sobre «que se vive nas ltimas décadas. Vivemos uma fase em que se elabora mais 4 0 conhecimento histérico. Nao s6 porque novas téenicas, principalmente rapassado ou insuficiente. As chamadas escolas as, que Se apresencaram cada 1a a0 seu turno como novas his- cas — fuze geneidade das esferas 58 Histon & TEORIA ese Cantos BE 9 yost Cantos Res luma “nova histéria”; como serd ela? Qual ser 0 discurso histérico ade- ‘a informatica, permitem manipular e controlar novos vestigios ¢ reelabo- quado ao presente e que revelard um novo passado? Se cada presente se re- | rat vestigios + Fiona, mas eobresudo porque aparece Sealer presenta ecolhendo e recusando passados dererminados, em fungio de Fa- | vencacto da temporlidade que altera a percepcio do ral. © que €0 real turos selecionados e recusados, quais serdo os passados ¢ os futuros deste 3 ‘em um mundo dominado pelo virtual? O que é fato concreto em um presente qual a linguagem e as tess dessa nova histria? Como esse pre- “ussap ap [enre oiuawou © “Bmey eAou eumn 2p epuztadsa e spde opSexuasordas ens B 794 urn seus I ap fepuszod spures3 woo epure 9 soprd sobueae sojed epeoyrpow U2 “epungord ‘jeiuappoo wimjno y greuns02sop apod 28 omany anb 9 20821 pod 2s opessed anb ‘saxsiosop 2 rasoyuores epure ostoaud 9 an ‘— jemae fo — aiwenu assop onfe op J ene, 07 amb O zjemae opd seprain sep -unyosd sebuepnur sess opberapisuoo we optress] omnany op 2 opessed op savaurepenbope sje owoc gurexeuruzopaid oonod Fy epure anb soxoyes > soupitn so sopor erase anb “euspxorde 2s anb aise p odusei anb ‘ure82y> anb ssp ogs sore anb o2uipiny ‘soumrewunSied sou ‘samy ‘sourszmp> ° iistonta & Teonia HUTCHEON, L. A pottia do pémademo. Rio de Janeiro: Imago, 1991, JAMESON, F. As sementes do sempo. io Paulo: Atia, 1997. -madernom or the cultural logic of late capitalism. London: Verso, 1995. 10 € a sociedade de consumo. In: KAPLAN, A. O mal-etar «¢priviea Ria de Janeiro: Jorge Zahar, 1993, In; HOLLANDA, H. B. de. Pérmadernizmo e po- ia. Rio de Janeiro: Roceo, 1982. KAPLAN, AO mater nprmadeios: nave pias Ri ei: age Zahar, 1993. a i ee KHUN, T. A exrtura dar revo KOSELLECK, R. Le fisur pad co Paris: EHESS, 1990 Le re dela ertigue. 2 eA, Pats: Minuit, 1979. KOYRE, A. Bitdor de histiria do pemament centfico. Rio de Janeiro: Forense, 1991 des dhisire del pend cemfique Pats: Gallimard, 1973 ientfcas. Sho Paulo: Perspetiva, 1987. tion 3 le wimantigue des temps hisoriques LADRIERE, Jean Filosofia ¢ pris cientfce, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. LAKATOS, I. & MUSGRAVE, A. (orgs). A etica ¢ 0 desenvolvimento do conheci- ‘mento, Sao Paulo: Cultsx, 1979. LANDES, D, Prometen deacorrentado, Rio de Janeiro: Nova Frontera, 1995, LASCH, Ch. A cultura do nario, A vide americana na era de eperanras em de- clini, Rio de Janeiro: Imago, 1983, LE CHARTELIER, H. Ciencia y indueria. Buenos Aires: Espasz-Calpe, 1947, LE GOFF, J. Tempe de pis ec temps du marchand. Annales ESC. Pati, A. Colin @), marsavt 1960, LOSANO, MG, Hirer de autdmaro: de Griiaclisica Belle Epoque. Sto Paulo: Cia. das Letras, 1992, LOWITH, K. El sentido de la binora, Madsid: Aguilar, 1968. LYOTARD, J-F. La condition por-modere. Pris: Minuit, 1979. tio lo Jost Cantos REIS 65 MOMIGLIANO, A. Probleme: dhioriographie ancienne et moderne, Pati sad, 1983, MORIN, E. Leprit du semps 1. Neorse. Pa Grasse, 1962, (Collection Poi NIETZSCHE, F. Da utilidade ¢ desvancagem da hiséra para a vida. In: Nietche ‘Sto Paulo: Abril Culcurl, 1983. (Os Pensadores) PATTARO, G. A concepsio ris do tempo. In: RICOEUR, P, (org) As cwuras 0 tempo, Petrépolis: Vores, PECHEUX, M. & FICHANT, M. Sobre a 1971 POINCARE, H. La valeur de la sient. Pats: Flammarion, POPPER, K. A lipice da perquisa cientfice. Sto Paulo: C PRIECE, Derek de Splla A ciéncia drde a Babildnia. Belo Horizonce: Iaiaa, 1981 PRIGOGINE, I. O fim das certeaas Sio Paulo: Unesp, 1996. QUILLIOT, R. Un nouvel age dela culture. Le Déba.P sve. 1989, CC. Bicol dos Annales, inouaso em histdia. Sto Paulo: Pa ¢ Terra, 2000, Nouvelle histoire ¢ tempo hieiric: a contribuigto de Febvre, Bloch ¢ Braudel [RIOUX, J-P. & SIRINELLL, J-F. Pour une hitivecuturelle, Pais: Sel, 1997, ROSENBERG, C. E. No other gad: om science and American socal thought. Baltic ‘more: Johns Hopkins University Pres, 1997. ROSSI, P. Os fils € at méguinas. So Paulo: Cia. das Leras, 1989. ROUANET, S. P.A verdade ea ilusio do pés-moderna In: As reser do uminiomes{ Sho Paulo: Cia, das Lets, 1987. SERRES, M. Hermes, uma flecofia das ciéncias. Rio de Janeto: Graal, 1990. SIMONDON, P. Du monde devittence des objets techniques Pais: Auber, 1969. SINGER, C. H. Historia dela cieneia, México: Fondo de Cultura Eeonémica, 1945. THOMAS Je, W. Man’ role in changing she face ofthe Earsh, Chicago: Univesiy of Chicago Press, 1956. = Hisrosia & 7) | THORNTON, J Ser and cet change Watingon, D.C: Brockngs nai ceeim cz Gl: tion, 1939. VATTIMO, G. La fin de le modernite. Pats S VOVELLE, M. Ideolaiar¢ mentabidadet, So Paso: B Da histéria global a histéria em migalhas: rasiliense, 0 que se ganha, 0 que se perde? WEBER, M. Rejeigéesreliiosas do mundo e suas dregbes (1920). In: Weber.Sio eo” Paulo: tural, 1974. (Os Pensadores) WHITE, H. Meta-histéria, Sio Paulo: Edusp, 1992. WHITEHEAD, A. Science and the modern world. New York: Free Press, 1967. A transigéo da “histéria global ou tot tema recorrente 6 incontornivel em toda discussio tedrico atual sobre a hist6ria, no é de abordagem teoricamente mente serena. Como aprender essa mudanga e como av finir o que era ¢ em que se tornou a histéria, se os préprios conceitos de histéria global e de hiséria em migalhas so impreci ‘Neste capftulo tenta-se compreender essa mudanca, definindo os conceitos envolvidos no debate e considerando as diversas possbilidades ide avaliagio dessa transigio. A estratégia adorada consistiu em abordar © tema através de tés entradas possiveis, mas que nfo sf0 as inicas. A pri- mnstruir a passagem vivida Ga histéria a uma visio estruturalista e pés-estruturalista-fragmentada ou pésemoderna”. Essa transigfo é geralmente descrita como uma ida do i global & fragmentagio. A segunda entrada ¢ histovigrdfce: discus a8 | feses de Francois Dosse, autor que difundiu essas expresses, entre 0s his- toriadores, sobre as geragées da escola dos Annales, que ele formulou em i termos de uma descontinuidade entre a primeira ¢ a segunda geragoes, aque faziam ainda ou desejavam fazer uma histéria global, © a reresira ge- taglo, que teria renunciado a ela ¢ optado por uma histéria em migalhas. ‘A terecira abordagem é conceitual: diseute-se 0 conccito de “ciéncia his- térica” das erés geragbes dos Annales © procura-se entender 0 que cada

Você também pode gostar