Você está na página 1de 7
PENTACORNIO ANTOLOGIA DE INEDITOS DE AUTORES PORTUGUESES CONTEMPORANEOS: ORGANIZADA POR JOSE-AUGUSTO FRANGA Anduindo- EM_TORNO DO PROBLEMA Da IMpoRTANCIA. —— &, DOS FSCRITORES NA SOCIEDADE PORTUGUESA por dnionso Sergio MENSAGEM DE FINADOS poema de Jorge de Sena UM PORMA de Ruy, Cinatt, TRES POEMAS de Tomas Kim PAGINAS DO DICIONARIO de Anténio Pedro TRES POEMAS de Alberto de Lacerda, DOIS POEMAS de José Terra MEDITAGKO NA PASTELARIA, poema de dlerandre O'Neil TRES POEMAS de Fernando Margal HOMENAGEM A” FREUD por Mario Fernandes Ferro «Pana UM CONGHITO ACTUAL DE MODERSIDADE: PARA UMA CERTIDAO DE OBITO DA MODERNIDADE por Adolfo Cascis Monteiro MODERNIDADE NAO & MODA por Aitonin Quadros Perro MODERNIDADE E CLASSICIDADE por Carlos Bituardo de Soverat MODERNIDADE £ MODO por Daim Santos SENTIDO B NAO SENTIDO Do MODERNO por Hituerdo Lourenco DA MODERNIDADE E DO SEU PEREGO SOBRE MODERNISMO, por Jorge de Sena «IL FAUT ETRE ABSOLUMENT MODERNE +, RIMBAUD por Jové-augusto Franca DE REIS DE MODERNO ANTIGO por José Blane de Portugal © MODERNISMO EM PORTUGAL. por Otcar Lopes « POST-PACIO A'TODA A OBRA OU «DE PAR MA CHANDELLE VERTE > Dor dose-dugusto Franca ‘TRES DESENHOS fe Fernando Azevedo, Rernando Lemos e Vespeira CAPA de F. Lemos, VINHETAS de Vespeiva ¢ Antonio Pedro em Lithoa, 31 Dezembro. de 1956 EDIGAO DO AUTOR «:DEPOSITARIA: LIVRARIA PORTUGAL, LISBOA 0s trabaltios recolhidor esta Antologa slo da responsabilidade’dor seus autorex. Conposie © lispresse ax TIPOGRATIA ANTONIO JORGE, ravens do Conde de 56 ‘iia onde deve ser dirigida toda » cofvespondencia pars © Organizador” EM TORNO DO PROBLEMA DA IMPORTANCIA DOS ESCRITORES NA SOCIEDADE PORTUGUESA POR ANTONIO SERGIO de dfivida pelo que toca a influencia dos nossos homens de letras na Sociedade portuguesa de que fazem parte —divida que me acom- panha desde hé muitos anos © a que agora esse inguérito me revocou. Posstiem os escritores realmente um piiblico, que pese alguma coisa no agre- gado nacional? ‘Tém fora propria? Deve um sociélogo contar com eles? Existem como factor no viver da grei? O inquérito publicado no Tetracérnio leva-me a manifestar uma atitude Algures, li que nfo me lembro que escritor estrangeiro, tendo estan- ceado entre nés alguns dias, notou que os homens de letras de Portugal nao ‘escrevem realmente para o que se chama o piiblico, sendo que s6 para uma porgdo dos seus préprios confrades; e, pela mesma época, um dos nossos escritores, na pSgina literéria do Diério de Noticias, desabafava dest’arte: eDeriva de af a sensagio que ter4, segundo suponio, qualquer homem de Jetras portugués de viver completamente isolado dos seus leitores, na indi- feresga total da sociedade a que pertences. Assim &, creio eu. Pergunto-me se no seré [ito repartir os autores, no que respeita 20 problema que se tem em vista, em trés espécies sociais: * A dos que pertencem oligarquia, ou sio dnicamente os servos dela, — exercendo influéncia nessa qualidade, pois, e nJo propriamente como ho- mens de letras, pelos seus proprios méritos e pensamentos proprios. Sao os que dominam como senhores directores dos nossos periédicos de maior tira- —PENTACORNIO gem; como presidentes das instituigdes de importancia, que thes é conferida pelos oligarcas; como altos burocratas da maquina suprema; como membros dos conselhios, que sio a forga impulsora dos érgios maménicos da Sociedade. * A dos que nao pertencem a oligarquia nem tio-pouco so servos dos seus magnates, mas escrevem para os leitores de determinadas seitas, de particulares facgGes (ou politicas, on religiosas, ou artisticas, ou sociais). ‘Sao estas ‘iltimas, por via de regra, nutridas por ideias que correm mundo, chegando-nos portanto de além-fronteiras, ¢ conferem aos escritores que thes prestam servigo a importincia a aura de que desfrutam — embora as vezes muito pouco valham. Esses, ao que suponho, sio menos influidores do fluidos. Influfdos, quero eu dizer, pelas ideias da seita de que fazem que parte ou pelos interesses sectirios da mesma seita —da qual portanto porta-vozes e nada mais. Simples cisternas, e nao fontes que manam. Nao movem um pfiblico, obedecem aos chefes. Os chefes € que influem na soci dade, na medida em que a eita actua nela, * A dos de personalidade literfria auténtica e educagio de espirito hionestamente formada ¢ que mereceriam, por isso, influir de verdade, con- correr para uma positiva criagao de cultura — mas sem ptiblico suficiente que 0s compreenda bem, que esteja capacitado a medir o seu mérito, a dife- rengar entre a jéia e a missanga vil, entre a criagio efectiva ¢ 0 palavriado inane; um pablico, em suma, que distinga o péssimo do que de facto é bom, €0 sdmente bom do que jé € bonissimo. (Claro que o escritor que é s6 meio- -artista, que s6 d4 divertimento aos individuos que o léem e nao traz um contetido intelectual dele préprio, pode valer como artista e agradar mui- tissimo; mas nfo influi no modo de proceder do «ptiblico», da «Sociedade», da «Greis). A respeito destes estritores que mereceriam influir, pendo a cret que nao existe uma relacio vivaz entre tais autores e um yerdadeiro pitblico; que nao h4 um organismo cultural literario — com as acgées e reacgdes que todo 6 viver comporta — dentro da massa da populagio lusfada; e isso, em parte, Porque sio raros os portugueses com curiosidade de espfrito; porque os que Tem, aqui, ndo passam de uma porcifimenla da populagdo do Pais; porque ninguém os ensinou a coordenar ideias, a interessar-se por elas, a distinguir entre aquilo que & realmente pensado e 0 0co palanirério que de facto o no é Bis 0 que fazia dizer ao Camilo: «Havia de encher 0 men Pais de ret6- rica ¢ de alméndegas, que nunca the reconheci bojo idéneo para esmoer outra fazendar. Queixando-se da incapacidade para a coordenagio mental que caracte- riza 0 piblico da nossa terra, conta o Fialho que em ndo sei que clube, quando chegou a época das brincadeiras de Entrudo, se lembrou um gra- Gioso de divertir os s6cios, dando-Ihes a representagio de uma pega de teatro, PENTACORNIO—8 mas tendo transtornado desde ponta a ponta a sequéncia natural dos actos € das cenas. Previa um éxito de desorientagio ¢ de riso. Mas qual! Foi a le, prdpriamente, que a partida atingiu; foi ele mesmo o logrado: porque vin os espectadores muito compenetrados sérios, nio havendo um finico a quem causasse estranheza a disparatada sequéncia de tudo aquilo... Dir-

Você também pode gostar