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No amor e na adversidade Lisette Lagnado ‘Sé derrubando furiosamente poderemos erguer algo valide e palpavel: a nossa realidade —Hiitto orricica, “Posigio e programa”, 1966 As notas dos cursos ¢ seminsrio Como viver junto, de Roland Barthes," levantam mais perguntas do que respostas e estas iltimas, quando surgem, sio declarada- mente do reino da fantasia. © que nao significa que as aulas proferidas no Collé- ge de France sejam insubsistentes para balizar o seguinte debate: a xenofobia esté za ordem do dia nas relages internacionais. Da destruigio das torres gémeas em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001, aos conflitos dirios causando exilios, © mundo tem assistido ao vivo, gragas & ajuda maciga das redes tecnolégicas, ce- nas de horror e descaso com populagées civis. A 27a. Bienal aborda essa crise de representago com todas as forgas que péde conglomerar em torno de seu proje- to conceitual. Se 0 primeiro passo foi abolir as chamadas representagdes nacio- rnais—sistema que minava a possibilidade de implantar um projeto independente da autoridade de gabinetes—, os demais passos também pertencem ao esforgo determinado de conferir uma dimensio politica a uma mostra tio importante para a cidade, o Brasil eo mundo. ‘Questionar a efemeridade de uma Bienal, evento custoso porém circunscri- to a um periodo de setenta dias, por meio de um Programa de Seminérios aberto desde janeiro, foi o ponto de partida para reverter habitos tipicos da “sociedade do espetéculo”.? A aparéncia e o simulacro continuam imperando na fabricagio dos signos. Qual a veracidade possivel de ser transmitida a respeito da suposta recons- trugio do Afeganistio? Nesse sombrio panorama, que acarreta impoténcia diante de violagdes de territério e de direitos, as viagens curatoriais testemunharam, pelos encontros com artistas ¢ pensadores, blocos com distintos graus de viver-junto: a América do Sul apreensiva com o populismo, norte-americanos preocupados com sua auto-imagem para o exterior, a Europa repensando a democracia, uma Asia Dominique Gonzalez-Foerster Double terrain de ju (pavillon marquise) (Playground duplo (pavlhbo—marquisel/Double playground (pavillen—canopy] 2006, ambiente ste specific com 36 colunas de compensado [ste specific environment with 36 plywood columns] dimensées variéveis [dimensions variable] eortesia da artista [courtesy the arts] foto Juan Guerra PhotoStop scr ¢ css o20as0182"P2Kpge 1408 2007 1447 com graus dispares de liberdade de expresso e de bem-estar social. A interroga- go “como”, inserida no “viver junto”, invadiu a 27a. Bienal, com a guerra entre Israel € 0 grupo Hizbollah ("Partido de Deus"), interrompendo o ritmo de traba- tho dos artistas libaneses convidados. Sem representagio nacional, o continente mais dificil de ser desbravado foi a Africa. Esta deve ter sido a primeira vez que uma Bienal de Sao Paulo enfrentou 0 caos humanitirio do Congo. A colonizasio do continente africano recoloca em perspectiva 0 passado escravocrata do Brasil e, nesse sentido, a poderosa instalagio de Jane Alexander, Security [Seguranga], foi escolhida para fornecer o statement curatorial da mostra logo na entrada do Pavi- Ihio. © resultado desta Bienal sem representagées nacionais trouxe 4 tona ques- Ges relativas 8 diferenga entre patria e terra, nacionalidade e exilio, casa e abrigo, Em Como viver junto, nao hé alianga, pacto ou reuniao que sobreviva sem ‘um “pathos da distincia” explicito: “Como achar a justa distincia entre meu vizi- rho ¢ eu de modo que uma vida social seja aceitvel e possa ser possivel para nés todos?”. Viver-junto, isto 6, viver “bem” em companhia de outrem, trata de uma distancia, e, mais enigmitico ainda, de uma “justa distincia”. Sem ela, nio se ca~ minha para a cobicada tese do “nés todos”, to esvaziada na boca dos dirigentes que tomam a palavra. Embora a reflexio acerca da comunidade, sua lei e seu fun- damento, esteja presente desde a origem de nossa tradigao filos6fica —é o arrimo de Jacques Rancigre — no é tampouco a justiga que vai reequilibrar a balanga das perdas e dos ganhos dos individuos que vivem junto.* “De quem sou contemporineo? Com quem estou vivendo?” A essas duas perguntas formuladas na apresentagio de seu curso, Barthes, apés uma tentativa de definir 0 viver-junto por meio de uma temporalidade comum, vai nos preparan- do para dizer que “o calendério nao responde muito bem”. Quem leu este trecho ino 0 esquece mais: “Por exemplo, posso dizer, sem mentir, que Marx, Mallarmé, Nictasche e Freud viveram vinte e sete anos juntos”. Se nem o espago, nem a con- comitincia, podem desenhar uma vida em comum, qual 0 elo capaz de agrupar sujeitos? Nao é de estranhar a atmosfera niilista que envolve as mais diversas for- mas de terrorismo—coneretas e simbélicas. Barthes caminhava no sentido de um topos possivel, mas os acontecimentos da conjuntura politica recente atropelaram a interpretagao do contedido das aulas. Ranciére é um dos filésofos em atividade que toma o bastio da “vida em comum". © artificio que usaré consiste em “falar do politico ¢ nao da politica”, ou seja: “tratar de principios da lei, do poder e da comunidade e nao da cozinha governamental”: “A politica tem a0 menos 0 mérito de designar uma atividade. 0 politico, por sua vez, tem como objeto a instincia | PhotoStop,g — srcoor rs cssre_o2oasctb0p P35pge 14.08.2007 1448 da vida comum” Essa diferenga aumenta o teor crtico das praticas artisticas que devem articular simultaneamente o trauma de existéncias lesadas, um cotidiano a ser vivificado a cada instante, fazendo frente a promessas esvaziadas, Seria trair Barthes ler Como viver junto & maneira de um manual de instrusdes capaz de dou- rar nossa posigio no mundo. Hoje, paradoxalmente, é a distancia que nos leva a romancear o espirito revolu- cionario dos anos 1960 1970. O Brasil da ditadura militar s6 conheceu o oniris- mo fora dos limites da conseincia. Lygia Clark esereve para Hélio Oiticiea que “a crise é geral ¢ terrivel”.S Oiticiea foi escolhido como paradigma conceitual da 27a Bienal com o objetivo de cumprir dois desafios: demonstrar que é possivel ativar seu repertério sem passar pelo “artista” ¢ sim pelo “propositor”; demonstrar que a experimentalidade brasileira pretendia ir além do horizonte “interativo”, fomen- tando as transformagies visiveis na arte feita agora.‘ Assim como o “Manifesto antropéfago” de Oswald de Andrade de 1928 serviu de dispositivo para a 4a. Bienal,’invertendo a mao das influéncias, os milhares de manuscritos de Oiticica ganham estatuto de documentos tedrico-préticos, patamar de estranha atualida- de para acompanhar os fenémenos da cultura, abrangendo poesia, teatro, misica, danga, performance, cinema ¢ televisio. Oiticica estava procurando reunir uma série de elementos para dar sentido a sua mais importante investida: liquidar a re- presentagio para superar o modelo de exposigdes. E por isso que, desde 0 inicio, a estratégia de Marcel Broodthaers, inventor do Musée d'Art Moderne, Département des Aigles (Museu de Arte Moderna, Departamento das Aguias}, nao poderia ficar ausente desse debate Oiticica formulou as bases para a explosio da “moldura” (entendida aqui no sentido mais amplo do que o arremate do quadro)*, e esse estatuto de “propositor” Ihe valeu um ostracismo,’ Figura de proa, a presenca de Ana Mendieta mostra sua atualidade em paralelo ao Programa Ambiental de Oiticica. Ambos experimenta- ram 0 exilio da década de 1970 por terem questionado, entre outros t6picos, a face sexista do modernismo; cada um & sua maneira promoveu o encontro entre poli- tica e geografia—a 27a. Bienal levou a0 Estado do Acre artistas-residentes para pensar um conjunto de fatores, tais como populagao indigena, floresta, industria- lizagao, biopoder. Deixando sua obra (muito) aberta, Mendieta e Oiticica aposta- ram na intervengio do Outro e no desaparecimento gradual da figura do artista | PhotoStop,g — srcoor bh esse o2oasctb0P P36 poe 14.08.2007 1448 Nao fizeram a sintese estética e optaram pela sincope da vida. f um desapareci- mento antes em consonincia com nogio de “morte do autor” do que com a de ““fusio” (Fragmentos do discurso amoroso)", ambas de Barthes. Descentralizado dos paradigmas eurocéntricos, Oiticica estava trabalhando para reunir todas as expe- rigncias produzidas em Nova York em uma espécie de “livro enciclopédico”, que se chamaria Newyorkaises. Esse projeto, que ficou inconcluso, seria dividido em varios capitulos (“blocos-secdes”), com excertos de autores em diferentes linguas, imagens, apontamentos pessoais. Algumas indicagées graficas sinalizam que a par- ticipagio do leitor estava prevista. Os dois capitulos mais definidos so “Mundo abrigo” e “Bodywise”. Na discussio em torno do estatuto da imagem, Jack Smi- the Jean-Luc Godard foram seus modelos." Nas “festas loucas" do underground nova-iorquino, Oiticica assiste a uma longa sessio de slides promovida por Jack Smith que 0 impressiona a tal ponto (“é uma espécie de Artaud do cinema”)", que cunha termo Quase-cinema."* A 27a. Bienal encontrou, afora Oiticica, artistas criando situagdes de abri- go ¢ ampliando essa nogio para o playground (sem o sentido de alienagio que encontramos nos parques teméticos e shopping centers). O lazer seria vivido li- vee de horirios preestabelecidos, multiplicando possibilidades de indeterminagio e levando expectativas a serem rompidas gragas a uma dimensio lidica. “Mundo- abrigo” tem origem em Gimme shelter, miisica dos Rolling Stones (1969). Sendo tum conceito que indica um campo de “experimentalidade livre ¢ coletiva", Dan Graham, também fi da mtisica rock, concebeu em 1967 0 fundamental “Homes for America”, e passou a construir pavilhdes, marcados pela transparéncia ¢ pela refle- xio da imagem do sujeito. £ lamentavel que a definigao de Parangolé tena sido diluida por muitos co- mentadores, a ponto de designar apenas uma de suas acepgbes possiveis, a capa. Desde o inicio, entretanto, tinha a finalidade de iluminar a natureza do “territ6- rio transitério”. A palavra Parangolé foi “achada” na rua, no caminho entre 0 Museu Nacional (onde Oiticica trabalhou com seu pai) ea Praga da Bandeira, no Rio de Janeiro: Era um terreno baldio, com um matinho, e tinha essa clarei que o cara estacou « botou as paredes feitas de fio de barbante de cima a baixo. Bem feitissimo. E havia um pedago de aniagem pregado num desses barbantes que dizia ‘aqui €. ‘eaiinica coisa que eu entendi, que estava escrito, foi a palavra ‘Parangolé’. Ai eu isse: é essa a palavra. No dia seguinte jé havia desaparecido. " | PhotoStop,g — srcoor bh cssra_o2oasetb0P P87 pgs 14.08.2007 1448 Anos depois, em 1969, Parangolé é citado como conceito de base para a formula- fo de seu projeto de fundar uma comunidade no Rio de Janeiro, chamada Barra- cio, Parangolé e Programa Ambiental so sinénimos, tornando-se um programa politico de apropriagio de espacos coletivos e puiblicos (“ruas, terrenos baldios, campos”). & na seqiiéncia desse pensamento que Oiticica se refere a “coisas que indo seriam transportaveis mas para as quais eu chamaria o piblico & participagio”; é dentro dessa logica interna que ele concebe o “golpe fatal ao conceito de museu, galeria de arte etc., € a0 proprio conceito de exposigio—ou nés 0 modificamos ou continuamos na mesma. Museu é o mundo”."* Em sua experiéncia norte-ame- ricana, Oiticiea se aproxima de Gordon Matta-Clark, artista formado em arqui- tetura, que procurou revitalizar espagos piblicos sem uso, compreendidos como “sobras do desenho de um arquiteto”. Oiticica discutiu a nogio de propriedade, proporcionando uma visio eritica do urbanismo, combinando cortes de edificios, (a residéncia da familia suburbana!) com fotografia, escultura e performance. De volta a0 Rio de Janeiro, Oiticica reinventa os Acontecimentos poético-urbanos, contra o espago “ideal” de exposigao, usando seu banheiro no apartamento da rua Carlos Géis, no Leblon, para instalar e fotografar pedacos de asfalto encontrados nos escombros da construgio de metré (Manhattan brusalista, 1978). Sem serem uma nova categoria formal, mas uma territorializagSo do individuo em Areas abertas, 0s projetos ambientais de Oiticica colocam um problema quando so reconstrudos, porque acabam negligenciando mudangas comportamentais. Se 6s tempos slo outros, é preciso reconhecer a artifcialidade de aplicar, hoje, propo- sigdes de vida inauguradas com Eden (Whitechapel, Londres, 1969). Cabe dis- cutir agora a evolusio de outro vetor do Programa Ambiental, chamado Crelazer, que comesa a ser conceituado pelo artista em Londres, em janeiro de 1969, ¢ que, segundo ele, permitiria a construgio do sonho comunitério."" O concerto de Bob Dylan na Ilha de Wight é descrito sob o ponto de vista de um “show ambiental”: Tudo o que se possa imaginar acontecia: todo mundo com cobertores, sacos de dormir, vestidos de tudo que é jeito ou despidos conforme o caso (o elima li é ‘mais quente que a drea londrina, o que permite, nessa época, tirar a roupa, 0 que muita gente fez) [...}” ‘Um lugar que propicie engajamentos sociais? Fala-se de melhorar a qualidade de vida. Os semindrios da 27a, Bienal debateram essas questbes, mas sera a arte um campo apto a transformar contextos? Nessa dificil fronteira atuam muitos artistas | PhotoStop,g — srcoor rs cesra_o20ase1b0P P38 pgs 14.08.2007 1448 convidados para a 27a. Bienal, com projetos que pretendem ir além do que vem sendo chamado de “arena de trocas” ¢ “espago de encontros”. Envolvem comu- nidades socialmente desfavorecidas, que vivem a violéncia urbana, Os resultados surgem em pequena escala, mas sio efetivos na saida do estado de menoridade ggracas a uma ativagio do imaginério pelo trabalho. Alguns tém conseguido aliar as lutas sociais e a economia informal & construgio de imagens diferenciadas que cir- culam por meio de publicagSes, camisetas e estandartes usados em passeatas. A me- Ihor ressondncia para o conceito de “troca” ainda é a formulagio de Lévi-Strauss, cuja passagem no Brasil foi determinante para mudat os rumos da antropologia Rirkrit Tiravanija iniciou, em 1998, um projeto comunittio in progress inti- tulado The land, a vinte minutos de carro de Chiang Mai, Tailindia. Junto com ele, a dupla Superflex vem desenvolvendo o Supergas—um sistema que utiliza a bio- ‘massa, excrementos por exemplo, para produzir gas—, ¢ esto usando The land como laborat6rio para essa pesquisa de energia. Superflex incomoda mais 0 mun- do globalizado do que a apropriagio de logotipos comerciais que a pop art fez nos anos 1960, na seqiiéncia da colagem cubista. Essa vizinhanga da arte com o comér- cio sofreu de fraqueza ideologica. Claes Oldenburg, que ja havia mencionado a IBM, usou, como Jasper Johns, a bandeira norte-americana em plena Guerra Fria ‘Tom Wesselmann converteu a cerveja Budweiser e 0 cigarro Pall Mall em nature- za-morta, como quem continua dentro de um debate pictural. A pop art tinha um tom mais apologético do que eritico (Richard Hamilton ¢ sua Homage to Chrysler Corp., 1957), embora seja ainda ambigua a interpretagio das séries de 6leos e silk- sereen de Andy Warhol (as eaixas de sabio Brillo, de 1964, ou os potes de sopa Campbells, 1965). mpar mesmo, Cildo Meireles nao deixou o capital financeiro (com suas cédulas de dinheiro carimbadas) nem a Coca-Cola em paz. Nos anos 1970, a ambiglo de descondicionar comportamentos era alimenta- da pelas leituras de Herbert Marcuse. Nesse sentido, “Bodywise” éo capitulo mais radical e mais desconhecido do piblico: pretendia abordar temas relativos a des- coberta do corpo —como o rock n voile a transexualidade. Como estar no mundo como homem livre e total?, éa pergunta que atravessa a parédia do “travestir-se”. “O rock no é um género musical”, afirma Oiticica, “é poesis, powersis” —isto 6 reniincia da mediagio do intérprete. Rock é. Além de selecionar fotografias de Jimmi Hendrix ¢ Alice Cooper, Oiticica menciona Lygia Clark (Nostalgia do cor 0, 1965-88), Antonio Manuel (Corpo-obra, 1970) € Vito Acconci (Rubbing piece, 1970). Sao os espetculos dos Rolling Stones que conduzem Oiticiea a elaborar sua critica & performance, tirando partido da imagem da drag queen na subcultura | PhotoStop,g — srcoor bh cssre_o2oasctb0 P30 pge 14.08.2007 1448 gay de Nova York, sintonizada com a imagindria sexual de Andy Warhol (Blowjob, 1963; The Chelsea girls, 1966-67, ¢ outros filmes). O sarcasmo de Oiticica contra 6s intelectuais 0 levou para margens-limite: “Adeus, 6 esteticismo, loucura das passadas burguesias, dos fregueses sequiosos de espasmos estéticos, do detalhe ¢ da cor de um mestre, do tema ou do lema”.2" Quando define a “partilha do sensivel”, Ranciére nao est disposto a defender a comunidade pelo viés da concordancia: Denomino partilha do sensfvel o sistema de evidéncias sensiveis que revela, 20 ‘mesmo tempo, a existéncia de um comum e dos recortes que nele definem luga- res e partes respectivas. Uma partilha do sensivel fixa portanto, a0 mesmo tempo, ‘um comum partilhado e partes exclusivas. Essa repartigio das partes e dos luga- res se funda numa pantlha de espacos, tempos e tipos de atividades que determi- na propriamente a maneira como um comum se presta& patticipagio e como uns € outros tomam parte nessa partilha”.”" + Nao ha democracia sem disputa, friegdo, divergéncia. Assim, “conjunto comum” no significa fusdo, mas certa separagao. Nio obstante, a recorréncia de barreiras ¢ de arames farpados na obra dos ar- tistas da 27a, Bienal reflete a realidade onde vivem ¢ trabalham. Seguindo 0 racioci- nio de Ranciére, a pergunta a seguir seria investigar se essas imagens pertencem ao “regime ético” ou ao “regime poiesis/mimesis”.” Feitas as contas, so poucos aque- les que acreditam que seja possivel viver junto. Os parceiros de Rio Bonito (1954), tese de doutorado de Antonio Candido, é um dos cinones para compreender a tradicdo especifica do pensamento brasileiro: de como, no interior de Sao Paulo, a partir de um “minimo social” e um “minimo vital”, 0 “mutirio” @ uma forma de organizagio espontinea que consegue complementar o trabalho familiar com a ajuda de vizinhos. Esse regime “nistico” é, segundo o autor, mais dindmico do que a comunidade. A cultura capitalista e industrial eliminou um tipo de parceria que ressurge, entretanto, em épocas de guerra. Mas as eatéstrofes sio também os maio- res indices de saques praticados em grupos. Como viver junto nao tem resposta, Viver-junto nao é uma utopia, mas um exilio da propria humanidade, O “mal-estar da civilizagao” de Freud continua sendo o que nos une, no amor e na adversidade | PhotoStop,g — srcoor bh ossre_o2oasetb2 P40 pgs 14.08.2007 1448 Notas Roland Barthes, Como siver junto, Aula eremindrior no College de France (261977), ea Leyla Perrone-Moisés, Sio Paulo, Martins Fontes, 3903 2 Guy Debord, sciedade do expetcule, Rio de Jancto, Conteaponto Editors, 1997, 18. Edi- ‘30 publicada em francés em 1967. Pata marcato encerramento da 27a, Bienal, © grupo Konono no. foi convidado a toca, respondendo & vontade curstoral de lembrar que 0s “es peticuloe” que mas intrestavam Hclio Oiticieaeram os de msia ede reconhecer a infsén- «a mais expressva da cultura afieana sobre o Brasil 45, Jacques Ranciéze, Odeventendimenta: politica flo, tra. Angela Leite Lopes, Sio Paulo, Editors 34,1996 ; 4 Jacques Rance, Aux bord du politique, Pats, La Fabriquectditions, 1998. § Cf. Lygia Clarke Helio Oitices, Cartas .9sy—urr, Luciano Figueiredo (org.), Rio de Jane 70, UFR), 1996, P34 6 CI. Doutorado defendido pela autora em 2003 na Faculdade de Filosofi, Letras e Ciéncias Humanas da Universidade de Si Paulo, Nio publiada Paulo Heskenkof,curador-geral da 24a Binal de Sio Palo, rabalhow com a nogio de “ex nibalismo cultural” e dspensou o "pés-moderno” de Lyotard. Outro estudo poderia desen- volver relagio entre o “como viver junto” ea metifora da ingest do estrangeiza, 8. Cf, Manusertos diversos de HO diteutindo a “pintura agio” de Pollock, notadamente as anotagies de 16 de Fevereiro derg6. 9. Os atstas-propositores de hoje sabem age na dimensio socal, mas sabem também que sua insezgio no mercado é wna condigio ser enfrentada sem ingenuidade. Para uma crea 3 a telacional” de Nicolae Bourriaud, remo ao artigo "Antagonism and relational aes- thetis", de Chie Bishop, October, a 110, Outono de 3004 pp §t=Bo. to Roland Barthes, Fragments d'un discoursamourewx, Pais, Editions ds Sel, 1977 1 Autores presentes na Quinzena de Filmes. 12 CartaparaLygia Clark, Babylonests, Nova York, 14 de maio de 1971 1k: Leonardo Figueired, op. it, pang 13, Arquivo HO, cana para Waly Salome, Nova York a5 de margo de 197 4 . Programa Helio Oiticiea 15 CL. HO, "Posisio e programa”, Rio de Janeiro, lho de 1966. O nicleo rexervado a Marcel Broodthaers, na 372. Bienal de S30 Paul, tem o objetivo de evar esta dccateio pars outros horizons. 6 Cf, . Programa Helio Oia 17. Eden 0 primeira Parangolé-irea no Programa Ambiental de HO. 1 Crelazer€ uma proposigio que se torna enereta com a ralizagio de Bélide-cama e Paran- olé-irea ambos coneebidos em i967, segundo escreve HO em texto publicado na revista de caltra Voges em 6 de agorto de 1976, intitalado “As possblidades do Crelazer, jo origi nal data de 10 de maio de 1969, 1 Cf. HO, “Antigo para Nelson Mota", Londres, 1°, de setembro de 1969. 20, C£HO, "Crelazer", Londres, 4 de janeiro de 1969. a1 Jacques Rancidve, A partith do sensivel. Bnéicae plltic, trad. Ménica Costa Netto, Sto Paulo, xo experimental (org), Edlitora 34,2005, p5 2 Bid, pe 274 BIENAL DE £40 PAULO COMO VIVER JUNTO rs | PhotoStop,g — srcoor hb 08418_020882162P-P41,pgs 14.08.2007 14:48

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