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“Novo” ou “SeGuNDO” TEsTAMENTO? Cassio Murilo Dias da Silva* Resumo Este artigo tem como finalidade diseutir a mudanca de “Antigo” para “Primeiro” Testamento, ¢ de “Nove” para “Segundo” Tesiamento. Vir ries setores acedémicos, eclesidsticas @ comerciais (autores, professores, pregadores, editoras ete.) assuniram a nova terminologia, muitas vezes ‘com a reta intencdo de eliminar rusgas, ressentimentos e preconceitos em relacéo & comunidad judaica, mas 6 maioria dos adepias da nova nomen clatura ni esté inteirada das quesibes subjacentes. Este artigo labora um mosaico critico do que esti envolvido ¢ avallia se a mudanca tem fun- damenies exegétices e teolégicos. Palavras-chave: Novo Testamento, Inspiraito. Revelacdo. Verdade. Pa- Javea de Deus. Abstract This paper discusses the change of “Old” to “First” Testament, and “New to “Second” Tesiament Several academics, ecclesiastical and commercial ‘sectors feuthovs, teachers, preachers, publishers eic.) have taken the new terminology, often with the right intention to eliminate raids, resentments ‘and prejudices abou ihe.lewish conununity. but mast of dre nev nomencla- ture apologists have no clear idea about the subjacent issues. This articte presens a critical mosaic of what is involved and evaluates whether the change has exegeilcal and deotogical bases. Keywords: New Testament, Inspiration. Revelation. Truth. God's Word. = Dice em Cinsas Bias pelo Poni Instinzo Bic de Roma, Professor ra FaetidadeeTeoogt ‘asPoetitola Unvertice Caled Ris Grande Su sv 764951 tacos bikes vl 3,76, p. 225244 abun 215 228 isto Muro Dias ca Sha INTRODUCAO Negro o1 preto? S20 ou azeite? Diato ou deménio? Cireunferéacia ou circulu? Socicpeta ov poivopata? Em “oda ¢ qualquet lingua ¢ idioms, a lisa co elenco de terios e das palavras sinommras e equrvalentes ¢ longa 2 extensa No campo cientificoe no amtito académico, muitos e incantavers sio os desacordos © 8 divergéncias sobre a nomenclatura ¢ arespeito da teem nologia! Como oa letor/a ods2rvou, > parigrofo anterier $ proponitagamente ro cheadie de vocibulos ave aparentemerte dizena mesma cosa. Todavia, olhando ‘mais de rerio, nenhum dees exprime tao per‘eitamente o conceito expresso pelo outro, ponto de nfo ter, adaum deles, suas préprias nvancas, sea por sun eti- mologin, per sue apticapan, De. ideoogia que carrega, pelas consequencias gu prowoea et, Na eologis ens exegere nfo posleria ser fiferents, 2 muitas das discussdes etter siénciar eavolvom sxatamente a questio acersa de qual a melhor definigta para objeto éeessudo. Desde meades da déeada de 1980, em muites ambiantes eclesiisticos, te>- légicos © acadénicos, difindiv-se 0 costume do nfio mais se falar em “Antigo” © “Novo” Tesamentos, sin “Primeirc” “Segundo”, Tembém a0 Brasil este nove nomenciatare f2z um bom numer de adeplos entre protessores, autores, pregadorts, teblogos, bbistase cientstas da religio. Tevez vocé mesma, lei- tovla, prolirs “Baguinda Tartamanin’ ain higar de “Nlvie Tociamentn Noein cn, pergumte a si mesmo”: Per que vocé oplot por““Sogunds” Testamento? ‘Talvez vooé terhe escutade ou lid que ¢ velha nemensletura ~ “Antigo” Testumerto, “Novo” Testemeno~ trax consigorangos antijndaicos.Talver tenha seconvercide d> cuc anove romeaciatara é mais edequada co didloge inter re ligioso, Talver tenia aceio a ergimenugay de que 4 nova uomeavlatura € mais biblica de quea aniento: ‘alvez ouiro motive de algum modo ligado a exegese € A weelogia Talver voce teahs aveto.a nova namenclatira sem se perpuntar se ela ten anstentscio exegstioae ecligica, se ela é adequada ese cumpre a fimo au os seus proposentes advogan. ‘Antes de continua a letura deste artigo, responca a si mesmo/a: Voce sabe quais io as questies teoldgieas envnlvidas na passazem de “Artigo”/"Novo” para “Primeire”*“Segurdo” Testimerto? Vosé sabe 0 que esti em jogo por tis dessa mudangs para ¢ “peliticemenie corrcto”? Fate peiguile asin ssmulada lalver soja gendrice demais, Entfo, vamos cespecificar am poueco wait: (@) Qual diforonca ontre “novo” ¢ “segundo”? (0) De ye muy wun os puMU WILY afets UmNUdy Ue suapceinler © esp) zat as relegCes entre cs doss Lestamenios? (©) 0 que isso tema ver com os coneeitos de revelacio ¢ inspiracto? {(@) Qual a diferenga entre revelacto einspiragao? {€) Quala diferenga entre Pelavre de Deus e Sagrada Esertura? Estas so apenas algumas das perguntes que precisam ser respondides an- tes de ume escolha por qualquer uma das possibilidades. Portamto, se voc® no ppensou seriamente Sobre iss0, cuidado! Telyez vocé tenha accito a nove nomen- clatura somente por gostar de mudancas e, neste caso, ta preferéncia & quase que afetva e, por assim dizer, para soguir a moda. Isso significa que se trata de uma ‘oped que no fo tomada apo a avaliar os prs, os coniras e os desdobramentas dessa mudanpa o, 0 que 6 mais importante, o que est por iris da proposte da nova nomenclatural Eate artigo visa apresentar os varios dados do problema, mas nfo de modo cxaustive ¢ sistematico (0 que seria impossivel em um breve artigo), ¢ sim de modo provocative e fragmentado. Provocative, pozque quer “euitcar” os con- ccitos exexético-tolgicos que talvez estjam adormeeidos nova leitora, Frag- rmentado, porgue, como um mossico, tocar somente cs ponies relevantes para ‘© assunto que so esta debaten¢o. Por fim, o artigo epresenta também um balango due serviré de base para oTeitor fazer (ou rever) a sua oppo, 1 AS RAZOES DA PROPOSTA DE MUDANGA Comecemos com esta provocapio: boa parte das pessoas que adotam (e até ¢ vingativo fa vingancs de Deas 6 abancante ro livzo da Apocalipse do Joo). © proprio Jesus sente ira Qe 1115-18 ¢ yaraleles, Me 1,41, conferme alguns manuscritos), por vezes ¢ itolerante (Mz 3,28 e paralelos) ¢ impreca a sestnuigdo de quem no oaceita (Mt 11,20-24 e parielos: Me 14,21) oude quer nin ca mncaiva am con projeta (Le 6,24°26), Pcr fim, cumpre lembrar que Antigo ¢ Novo Tesamento tém em: commun ‘nf somente 0 mesino Deas, mas também o mesine poo: Jesus era judes ¢ nun ca deixou de ser; seus discfoulos cram judeus, ¢s autores do Novo Testamento (se néo todcs, a sua grande maioria) eram__udews; o p:incigal evento do Novo Testamento (vide-morte-reseurre c2o de Criste) aconteceu entre judens; a Igreja camerou com as judens. © que nos urremete para ouira qu2siae: Novo Testamento substitu igo? oA 9: VARIAGOES DE UMA CONCEFGAO ENRON, Néo precise dize: cue ¥ euulu pensur queo Antigo Testarsexto porde sua validade para o Novo, ou que ¢ sudsiituido pelo Novo, oa, ainda, que & anula- do pelo Novo. De fato, estas so variawdes de un ei.w piovurady pr elywitay confusBes de conceitos: confunde-se “reyelagio" com “Palavia de Deus”, eon funde-se “Pelavra de Deus” com “Sagrada Escritwca", confunde-se “plenitude” com “toralidade rtmtrerto coer apis dle Porcunsguinte ts inaidaccre mstaiapensnae lundviede Yeomnrcenids™ 50 € enqalrata, demetiends dint [Bimportane ter ideiasclarase cistintas sobre tado iso, pois seri de capital importancia para a discussio da terminologia “segundo”/"novo”. Infelizmente, a exiguidade de pginas deste artigo nto permite estabelecer as cistingdes. NBO betante,é necessrio afar o Novo Testamerto isoladamente ro é plenitude (emuito menos a totalidade) da Palavra de Deus, nem da Sagrada Eseritura, nem da revelaga. © mesmo se diga do Antigo, Eembora Antigo ¢Novo Testamento sejam Sagrada Escritura (nao obstante 2 diferenga dos quatro cfnones: judaico de Alexandria, farisaico p53-70, eristio catdlico € cristio no catslico), juatos os dois Testamentos também nto esgo- tam a revelacgo, nem a Palavra Deus. Dito de outro modo: a revelapto divina & @ Palevra de Deus niio se identificam nem se resumem aos livros eansnicos do judeu-cristianismo! Por outro lado, hé de se perguntar se um Tesiamenio depende do outro para que ambos sejam Palavra de Deus e documentos da revelagio. Ou seja: 0 Novo ‘Testamento depende do Antigo para ser Palavra de Deus? O Antigo depende do ‘Novo para ser inspirado? CO coneeito de revelagao como “depésito de verdades” fez com que a discus- so acerca da inspiragdo se restringisse quase exclusivamente & questo sobre a ‘utoria da Sagrada Escritura. A pergunta "Quem € 0 autor (a causa)?”, aresposta se apresentava assim: Deus ¢ a causa eficiente literaria; o homem € a causa efi- ciente do escrito. Deste modo, tentava-se garantir que a autoria divina nao impe- disse nem rebaixasse a autoria humana. Este modo de discutir 0 problema mareou de tal modo a reflexdo sobre as relagdes entre Antigo © Novo Testamento, a ponto de varios tedlogos (ou niio) & cienlistas da religiGo (ow n&) confundirem a ordem da percepedo com a ordem. dos acontecimentos e afirmar que © Antigo Testamento & inspirado (e, portanio, Palavea de Deus) somente por causa do Novo e gragas a ele, Na pritiea, isso significa dimninuira inspiragio do Antigo Testammento ¢— novamente a arrozincia crista —afirmar que os judeus, que nfo aceitem o Novo Testament, leem ein suas sinagogas algo que ndo é Palavra de Deus! Sem divida, © Novo Testemento reconhece © Antigo como inpirado (Tin 3,16). Mas, uma coisa &reeonhecer que algo sea (significa que sempre foi, mes- mo antes de ser percebido como tal) outa, 6 fazer ca que sea (significa que no era, © que pessa« ser quando consituido daguelestodo), Voici este onto mais acinte, Por ora, qucro chamar a ateayio para 0 Tato que 0 Aatigo ‘Testament fem feu proprio reno, independente do Novo. Ainda que nao 2 “plonitad”, mas 6 prteitemente possvel compreendero Antigo Tesismeno it dependente do Novo. O contrario, porém, nao acontece: ¢ absolutamente impos- sive) eompreender o Novo sem o-antign Fs afirmagaobestara para questions: Enido.. guel copende de qual? E o Antigo cue depende do Novo, ou o Nove que depende do Antigo? studos elas ye... 26 21249, abrfun20% 24 si Mul Dia dave Aplicada # Jesus, eta mesme pergurta se prope assim E Jesus quem legi= tima/elucida 0 Antigo Testamento some Palaya de Deus, ou & que Antige Testa, mento que legisima/eluciia Jesus como Messias-Cristo? Poia, ac 0 rasicefnio segundo qual o Antigo Tostamento & Palavra de Deus sorseate porque assim revoahzeide psle Novo, o-nestie pode ser usado inverss- mente e afirmar: “o Neve x5 ¢ Palavia de Deus porque preparado pelo Antigo!” “Mais ainda: “Jesus +0 € salvados porque ‘prenuntiao* pelo Antigo" Isso impli ‘cara ctzer que, sem o Artigo, Jests Tao seria messias, nem Salvador, rer Fino de Deus! Afual, por uf mesmo ~ = lndepeantente do que aftunady no A.rtigy Teste mento —Jerus é ou nao é tudo isso? Noentanto, embre seo/ Istaria: Antigo Testamento nde fala de Jesus de Nazaré, 889 08 cristios cuc irtespretam Jesis & luz dos escritos veterotestatnen- trios e vezm nele o cumprimamoe a plena realizado do que lé esid escrito, eb squmas coisas de modo dire‘o ¢ da Escriture judaice, isto 6, 0 Antigo Testamento. Mas. . uel? Dem: provaveimente, 2 Timoteo foi escrite antes 4a definigdo do caren fatisaico, 0 que 10s coloce diante do problema de nao sa- bermos quats livres compoem esta “Eserinara”™ Cumpre recerdar que foi 0 coveilio farsaico de Samia yus expurgcu do ccanon jugaico 0§ tvins zo escreos em neoruico, emibora na sinagoga de Alexan- dra fossem utilizados também Evios escrites em grego’. Er: 21m, portanto, de uais livos se ‘ala: somente o cue estava em rebraico ou também 0 que estava em rego, isto & a gumlivro dh Septvagint, tal como Sinécida e Sabedoria? Mais ainda, esta “Escritare inspirada” inclu também os livios que no entraram no cé- tion furistioy, masque sao ctattos For Judas’? Pots 7.1410 serve-s€ d0 Livro de eroc; Md 7, do lextemenio tos Doze Patnarces; 149, da Assungio de Moisés! Facey outres quesilonamennos fazom re-omar & problematica 60 conecito Ue pleniuide” e dos verbos, madequaces cu 289, ust para explica-la: omple- tar, Sutstitui, suplantare, d modo partctler, cumprt Qui signifine Sonmpnio™ Eom que sentido a Nove “eumpre” © Antigo? Pois, se “cumprir” ¢ Ido como “executar o preserite ou prometid; satis fezer o determinado, tornar efetivas as promessas”, entio, Novo Testamerto “cumpre” muite pouzoo Artigo: otrono de Davinio foi restabelecido, a derrota dos ininiges de ¥ 1wit 229 ecomteceu. 0 fmpio 80 foi extipado da face da terva, Soe ioe a ae Mati 6 justo nfo prosperou na sociedade, Jerusalém nao se tornou uma cidade de paz! ‘Nem no tempo de Jesus, nem no tempo da Igreja, desde seu inicio até hoje! ‘ONovo Testemento “cumpre” o Antigo somente no campo da cristologia, 0 que equivale dizer, gracas & rcleitura eristi. Mas 0 perigo & considerar 0 que nio E ctistologico algo provisorio, superade, no importante e, portanto, descartivel! Equivale a afirmar que o que nao & cristologico no Antigo Testamento nao ¢ Pa- lavra de Deus! 8, ANOVA NOMENCLATURA SE SUSTENTA? Come voe# pode ver, a mudanga para uma nova nomenclatura no é algo {Wo tranguilo como se imagina e ndo traz somente consequéncias positivas ¢ poli- ticamente corcetas, Ao contratio, traz no seu bojo uma série de questionamentos ligades 2 problemas ha muito latentes ¢ malresolvidos. Em muitos casos, 0 pro- ‘gresso da discussdo teolégica revelou a fragilidade das respostas que por muito ‘tempo (por vezes séculos) foram accites. Ora, a simples mudanga terminolégica no ajuda a resolver impasses nem a encontrar novas respostas. Picr, corre 0 risco de até mesmo mascarar os reais problemas ou desviar a atengdo de ques ‘toes mais fundamentais, ‘Uma delas refere-se a0 carter inspirado—a inspirabilidade ~ dos dois Testa- rmontos: independents da mudanga da nomenclatura, & necessirio mudar o modo cde comprecnder a inspirabilidade das duas partes da Biblia, paticularmente 0 que se refere a0 Antigo/Primeiro Testamento. Concreiamente: de nada ediante mudar de “antiga” para “primeira”, de “novo” para “segundo” e continuar pensando que 0 “Antigo/Primeico” Testamento & inspirado e Palavia de Deus 88 grecas 20 “Novo/Segundo” Testamento, apenas em funpio ¢ por causa dele. Este tipo de postura caracteriza um despreze bem maior do que o uso de win ou de outro termo. Em outras palavras, a mudanga dc “antigo” ¢ “novo” para “primeiro” © “segundo” acaba sendo apenas um exemplo de falsa modstia crist2, caso Sc con sidere o cariter inspirado do Antigo-Primeiro Testamento como algo dependents do Novo-Segundo, ‘Além disso, nfo deixa de ser uma presungéo cristi pensar que © Antigo Tes- tamento € Palavra de Deus ¢ Sagrada Eseritura 53 por causa do Novo ¢ em jiriga0 ‘dle. Esta presung20, como consequéncia, leva a afirmar “pobres dos judeus ¢ dos rmualmanos, que ‘icaram’ s6 com © Antigo Testament”! Ore, iss0 € inaceitivel, seja pelo respeito as religides, seja porque é um erro de exegese ede teologia. Basta lembrar que 0s préprios coneeitos de “plenitude” e “cumprimento” para o Novo ‘Testamento no sfo tio ives de problemas, uma vez que também 9 Novo ‘Testa- rmento contém promessas ainda nfo realizadas c, portanto, poderia no ser“plenitu- de" nem “cumnprimento”, dependendo do significado, atribuidos a esses vocébulos. Repetindo, a leitura crista do Antigo Testamento é “uma” leitura: a leitura dos eristaos. Mas, seré a tiniea? Seré a mais adequada? studs Baca, ol 33 9.26 p- 22524 bru 2085 240 asso uurin Gaséasiva Tsu tudo ten a ver Siretamence com © aryuinente exutasero, ist 4 que ‘6 termo “antign” indu7 ao desprezn tas Fecrinvas juvlaizas comn saperaas & totalmente substitidas pelas Fecrinirs cristise, por issn, reve ser evita. Ora, ‘o que ie fato obstaculiza ¢ didlcgo entre judeus e cristos nao é apenas e 180 so- ‘mentea conotarao pejorativa de um termro ambiyaleate. mast: mode d= pensar ‘ inspragdo ¢ a Excritura, um modo que ado ¢ eliminado coma simples mudanca terminolégica, embora, sem dtivida, esta possa ajuder. Quanto ase argumentor intrincaoce, tambéan matics domonctram ce proble Primeiro,o caréterbiblico da “ase “primeiraalianga” (pr6re diariéle),2 tad om varias veces eu Helveus (8,7.13, 9,1.15..8) e118 versdo gtege do Levitie co (2639-45). Trata-se de um fato :nquesticndvel Mas também € inguestionavel 6 feto de “nove alianga” (iciné alatheke) ser igualments ama frase biblica: nto £6 no mesmo exciito aoe Hebreus (8,$; 6,15), come também em Le 22,20; 1Cor 11.25; 2Cor 3.6; ¢ ia antes em Jr 38,31. Portanto.< dificil admitir que “Primeino ‘Testamento” seja mais bibico (!) do que “Antigo Testamente”. aso voc€ tenha lide com atengao « pardgravo antcrir,leré npkadoa passa~ goin, uw pardrafwaciu, Ue “alianye” pa.a “testamiento™, Ise perieave as diicul= Gades “claivas ao Segundo arguine wns MSeCO, ISI) &, Ue US OILS “pute 10 2 *regunde” coreszoxdem melhor 4 continvidade | “primcirc” ¢ Biblia jadsice, “scgundo” « Biblia cris. Sabre a inadequanin das terme “jncaica” @ “erst falared monic ahnive ‘Quero agora levantar uma questo de fendo (ou de fundamento): 9 “Segunda ‘estamento ligt-se 20 “Primero” somente pele ccntinuidade, ou hé tamber: des- continaidade e, portanto, mptura e nevidede? Mais ainds: # nova terminologia pis cere sri deze e'e omg” pe de Tate ac Além disso - ¢ para ficar somente na “centinuidade” —ha de se pergentar: ‘Traia-se de uma continuidade icamente cronoldgice (rorque as Eseritura jue daicas vieram ontes das Excrituras cristés) ou deve ser levad> em conta também ‘o aspects teolégico {e, novamente, com continuidade-revetigao € descontinui- dade-rovidede)? E tembém ~ ¢ ainda permanecendo no registro da “contimuidede” ~ que facet wom a Septvag.nta? Pois a assim chemada *Diblia grega” nfo € uma mera tradugio das Eserituras hebraicas; artes, contém também raptures, aovidades, zerésemos, tanto em termos literérics como em terms teclOgicos. No atin, quattodo século XX, chegou-se ao consenso de que a versto grega das Fscritures hebracas € am-bém Inspired’. Isso nzo <6 fundamenta a canonicidade dos ItvTos stéien das Dscriturss: §,Soireiss, ret VELTRI, Ginserpe. Lispinione della LXX ra leznenda etenlogi. Zanentanasy, yi pelo 19/0; 8J2241 Uh, cars Idurore dle nea espacio elk "Sete Rast Sue etl 70,f. 1 L197 CBMOSA, Mito, La eecusion sea del LIX: Dib al eprsicr. Salesian. 4.9.3-14, 4, “deuterocandnicos”, usando a definig2o catélica, mas também coloce 0 proble- ma: 5¢ 0 texto grego 6 tio inspirado quanto 0 hebraico, entzo deveriamos ter dois “Antigos” Testamentos, 0 hebraico co grego! Arenas dois exemplos para ilustrar: 0 Saltérie hebraico ¢ diferente do Sal- trio grego (0 que, alias, obrigou JerOnimo a manter as duas versOes lado a lado ‘em sua Valgatal; ¢ Jeremias hebraico é bom diferente do Jeremias grego (a ordem dos capitulos no éa mesma, ¢ o Jeremias hebraico ¢ cerca de 1/8 mais longo do que o Jeremias grego) Bsa questio da Septuegints importante e retomarel a ela mais adiante Mas, antes, é necessiio ola com mais atongdo o proprio fermo “testamento”. [Nas Iinguas modemnas, “testamento™ ndo significa © mesmo que lestansen- tum oss lati. Nas lingnas moderns, “testament” designa 0 conjunto das reco- icadages ou Yontades tltmas de elgusm que salbe que Vai morver: Embora se fale também de “testamento” quando essas dertadeires determinages sio dei- xades oralmente, em geval o termo € aplicado a um documento escrito. 0 termo latino festanientum foi usado para tradazir as palayres que em hebraico ¢ em ‘rego signficam “alianca’:respectivamente, berite diathéke. Com: isso, o acento ;passou do “pacto” pare 0 “documento do pact”, @ foi esse significado derivado {quo se impés & ponto de se falar dos dois Testamentes bibicos muito mais como livros (ou partes de um dnico livzo) do que como duas aliancas”, (Ora, 2 mudanca de “antigoinovo” para “primeiro’segundo” provoca alte ragSes também na compreensio de “testamento”, de mode a obseurecer ainda ais o significado de “pacto, documento do pacto” ¢ manier quase que exclu sivamente o conceito de “documento” e, portanto, texto. Com isso, reemergem (8 questionamentos ligados 4 Septuaginta, a ponto de ser inevitavel a pergunta’ Se “testamento” ¢ “livro, documento escrito”, qual é 0 “segundo” testamento: as escrituras crisis ou a versto/ampliageo greya das Escrituras hebraicas? Ou seja, “segundo” testamento no deveria ser a Septuaginta? Este descompasso entre “testamento” e “slianga” fica ainda mais evidente na nova nomenclatura, gue apresenta “primeira testamento”, “segundo tesiamento", ‘mas no “primeira alianga", “segunda alianga” Pois, se é possivel falar de “antiga alianga” ~ “nova alianga” como dois modelos de projeto salvifico, 0 mesmo nio se pode dizer de “primeira alianca” ~ “segunda alianca’, que logo se demonstra terminologia inadequada, visto que sto intimeras as aliangas narradas no (liveo do) Antigo Testamento: alianga com Noé, aliangs com Abrio, aliangs com Moi- Trae dss pees au Be cada mast aa potesane-vangtca. Scclivos ntcins: Bane, Eels (Siiis), Sade, Toasts, 12 Masabexs. Eaindaas pac ropes de Denil e de Eee, 10. Comprise yor que mcs aoe «eres do igh int prfiam “covenant” (= ling) et aged east tudes Bibles vel 3,75, p. 35244 abun 2095 20 atl Mul Died vs ses, alianga ccm Lavi! Sem falar que seria no minima ahsnrcio colncar va hoce de Jesus a finse “Este ctlice 6 a segunda alianga no neu sangue” (of Le 22,20)! Estas varias implicapSes referentes ao cegurde angumento intrinseco alle i podein hast ciquecc 0 teacaity agomanto inmbiin inttinneesenertinco de que o esquema “promessa cumprimen’o” expresse adequadamente as rade: centre 05 dois Testanemos. Como jé vinwws emt algunas paginas acim, de Le nao 0 €. Mas, 0 cue st deve mesmo perguntar € se esta :nadequacuo do esquent fica resolvica com a yassagem de “zntigo/novo” para “prime:ro/segundo”, ou se E necessd:iobuscaroutm modelo (ceso nde seja possive! alinar e aprimorar 2st), independentamente da torminologia ueada. Aueorentove lulu iu a ulerveqdy de que, até wesmmy quen alr 6 nova nomenclatira nem sempre se mantem coerente com sha epee. Cita come exemplo 0 seguinte farigrafo de Milton Schientes, um des que ederiu é mu danga: “Pois cs extos reterotestementérios [J Ha quem diga que o Primeire Testammento[.."" Por que no livros Sprotstestamentérios"? Por uma questao de ccesSnsie cons up,de feta, 0 emu “vetewucstamentiries® deveria ver abanesale! Se mettanemenc, deverse-ta filer Ue livres “Gemeroustamentaries’, weclogte “pro:otestumentiric” telogia “deutzrotestamentiria” et, ‘Como seve, os aryumeatos inufnseces em favor dé nova verminologiarere: Jam 20 bastants fragoi « probleratioos, « quo deka ¢ argimonto extriaasee aon qualquer ‘usifcctira ave re seja a busce de uma cova convensio para se roferir as duas partes da Bscitursjudeico-crst 9. EXISTE UMA NOMENCLATURA ADEQUADA? Abusca de ura terninologiatolalsnents isenta de problemes para evitar‘“Fri- msirs/Anigs” Tectimorta ° *Segendo/Mev a) Biblia Judaica: Terminologia totelmente inadequada, uma vez que tante 8 Septaginia como 0 Novo Testamenta si escriniras dns jndens e, portarto, também sio“Bibliss Judaices”. } Biblia Hotraica: Som dtivida, “Biblia Hebraice” designa o conjanto de Jamnia (90-190 dC), embora rer todos os capitules da Bblia “Febraice” tenham sido escritos em bebraico (hit varios capi- tulosc versioulos en aramaico). Neo obstamto, Wata-se do urna exprvsHic MACLOE problemiiica éo que “Bibla Judaica” (conforme o parigrafo arterior). ‘Tectamento revela ce fuctrente: H.SCHWANTES, Mil unt ood We eLanab urge. 8 Lea, Ct 2082p ) Biblia Grega: Termo normalmente usado para falar da tradugso grega do ‘Antigo/Primeiro Testamento. Mas, o Novo/Segundo Testamento é também Biblia fe também em grego! Alem disso, poder-sc-ia aplicar “Biblia Gregn” também s tradugdes de Simaco, Teodoci8o e Aquila. Por isso, ¢ melhor empregar Septua- ‘ginta (ou Setenta ov LXX). 4) Biblia Crista: Expresséo que normalmente designa os livros produzios pelos cristios ¢ pertencentes 20 cénon cristo, isto 6, os livres do Novo/Segundo Testamento, E & exatamente esta a inadequacdo, pois o Primeiro/Antigo Tesia- mento (seja ele o hebraico, seja 0 grego) também integra a Biblia dos seguidores de Jesus. A rigor, portato, é um reducionismo as novas eserituras dos eristios. Alem disio, hi de so recordar que a histbria da definigdo do ednon eristio é com- plexa e, até se chegar a um consenso, havia varios “cinones”, incluindo livros como a Terceira Carta eos Covintos ea Primeira Carta de Clemente Romano, ou exeluindo Hebreus, Tiago, 2 Pedro e 3 Joto! De fato, uma lista fechada de livros surgird somente no séeulo IV ‘Além de tudo iso, hé semore a questo ~ propositadamente omitida aqui —da variedade de manuseritos, o que nes faz perguntar:a versio de “qual” manuserito #0" texto inspirado? BREVE CONCLUSAO ‘Apés todo este percurse — por vezes sinuoso ¢ talvez repetitive ~ é neves- sério reconhecer: ndo hd argumentos sblidos e decisivos a favor da mudanga e, portanto, a escolha da nova terminolagia & algo subjetivo e muito mais afetivo do ue exegéiica e teolagicamente justificavel! Por sso —caplicando © mesmo principio do respeito revindicedo por quem audvoga 0 uso de “primeiro” e “segundo” —, até que se enconire um argumento defintivo para uma ou outta terminologia, até que se chegue 2 um consenso, quem prefere a nova convengio ¢ quem prefere a convengio tradicional eto de conviver e respeita a liberdade da escolha do outro, ‘alvez a unanimidade venha por uma terceira vie... mas que, aié se impor. também enfreatara dividas e questionamentos, “Terminologias vém, terminologias vio: elas se esgotam, tomam-se obsole- tas, revelanrse fiteis, pois sfo apenas palavras humanas, Permanece para sempre somente a Palavra de Deus. seja Kio que isso signifique exatameate! 13, Pun una breve ksi dy nos de Novo Testament, se KAESTLI, aD, Hisara d cnon 40 ‘Novo Teste ie MARGUERAT Daniel ee Novo eto ~isua,esertura elt, Sb Pas [Lol 20,p. 71-03, Pata ane apresrto mai apotadal, ve MANNUCCL, Valo. Lib, Palo (he Den Sto Pa: Puls, 1986,» 235-257 Fetus bios vel 52,n-95,p. 225944 abrfuna0%s 2a eto Hr Die da Sve Divtiogs atts BENTO XVI. Bxoragdo slpestilios Pix Sinodal Verbeim Domini. Gio Paul: Paslinas 2010 (A Vor de Pepa, 194), BUZZETTI. Carl. Traduzione della Bibkia eispimzione della ‘Settana’,Rivisto Bibica alana 20 (1972) 153-161 CIMOSA, Maio, La waducicue gieea del LX 40 (194) 914 GADE, Gertard. “Antico” o “Primo” Testementa? He Thecikigns 18 Q0¢() 255-276 [Também em espanhol em: Selercienes de Teolngia 60 (2001) 179-310. Disponivel na intoonat: bp Jeoloosionsodstcolegia meUacloccionealib'vol4O/1C0GO_gade lls Aver 296m 19/122014} KASSTLI, ‘ean-Detiel Histiria do cénon de Novo Testamento. In; MARGUERAT, Daniel ora) Novo Testamento ~ histéria. escrtua e tealeain Sha Pana Leyla 2009, p. 571-603, LEVORATTH, Amando J, ed. Antiguo o Prime Tesuuneny? I: LEVORATT, Ar mando Jed Comznuert Biblce Latncanericano— AnaiguoTesament, Yl. {: Femta- tence yet nara, EX: Verbo Livino, 200, p. 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