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o/8 38-2, Capitulo iN Influéncias pré-natais no desenvolvimento YS ttn pré-c perinatais no desenvolvimento Clara Regina Rappaport fe-personalidade_tém_orige Nao faremos uma revisio completa destes aspectos, pois inimeros nitores ja a fizeram, quer de forma breve, quer de forma exaustiva. Citaremos alguns detes apenas a titulo introdut6rio, pois a propria crendice popular tem mostrado a0 longo da histéria que os mistérios a vida intra-uterina e as formas pelas quais o ambiente pode influen- ciar esses processos despertam o interesse de todos. ‘Antes do advento da embriologia, acreditava-se que qualquer evento influenciando a mae durante a gravidez afetaria o feto, como, por exemplo, se uma futura mae fosse assustada por um cio, crianga poderia desenvolver fobia por este animal; se desejasse algum tipo de alimento ¢ ndo 0 obtivesse, a crianca poderia ter aspecto deste alimento; que nao se pode recusar qualquer tipo de alimento oferecido por uma gestante, etc. Estas crencas derivavam de uma suposta conexdo neural entre o sistema nervoso da mie € 0 do filho ¢ da transmissio direta de emogées, desejos, angiistias, etc., 0 que ‘obviamente nao tem sentido devido as grandes diferengas de matu- ridade do sistema nervoso central de um adulto (mie) e daquele que ainda esta se formando no feto. Atualmente, sabe-se que grande nimero de substincias pas através da placenta da mae para o feto. Alteracoes na fisiologia da mae produzem mudancas no feto, embora isto ocorra por um me- canismo muito mais complexo do que fazem supor as crendices 1 Pe Oe CF O88, populares, Estudos neste sentido comecaram com a constatagio de que deformidades nas criangas deviam-se a virus (como o da ru. béola ou da sifilis); venenos, radiagdes, substincias quimicas (co mo drogas ou antibidticos) © auséneia ou excesso de vitaminas leva. vam a cegucira, mi-formagio craniana, auséncia de membros, debi. lidade mental, desordens do sistema nervoso central ¢ outras defor. midades grosseiras, Do ponto de vista emocional, Sontag (1941) sugeriu que subs- taneias quimicas que aparece no sangue materno durante 0 siress emocional se transmitem ao feto, gerando neste efeitos adversos Por exemplo, constatou que os movimentos fetais aumentam por varias horas ¢ assim criangas nascidas de maes com siress emocional Prolongado poderiam apresentar alto nivel de atividade apos 0 nas cimento, Em outro capitulo ter-se-i uma visio mais atvalizada ¢ mais complexa das influéncias dos estados emocionais da mie durante gestacio. Lembraremos no momento outros tipos de fator: Idade da mae. Algumas deformidades ocorrem com mais fre- qiiéncidem macs muito jovens (menos de 20 anos — aparelho re- produtor ainda em formacao) ou mais idosas (mais de 35 anos) Ex.: mongolismo. S22 Drogas. Quando ingeridas no estagio de formagio podem provocar deformacdes fisicas e mentais diferentes, conforme a quan- tidade ingerida ¢ a ctapa da gravidez. Como exemplo podemos citar as anfetaminas, os sedativos, cocaina, etc. Na década de 60 muitas gestantes, em vérios paises do mundo, ingeriram uma droga — Tali- domida (sedativo) — no inicio da gestagio e seus bebés nasceram com varios tipos de deformagio. Atualmente, existem estudos mostrando que u prptio cigurto © as bebidas alcodlicas nao devem ser utilizados em excesso durante ‘a gestagdo sob risco de provocarem anormalidades, embora meno- res. As préprias drogas anestésicas utilizadas durante © proceso de arto estio sendo questionadas no sentido de provocarem uma certa letargia, uma menor capacidade de resposta aos estimulos. Radiacées. Raio X em excesso podem provocar deformagées no cérebro. Quanto as radiagdes atémicas, é bastante conhecido 0 fato de que, além da destruicdo causada pelas bombas atémicas em Hiroshima durante a 2.* Guerra Mundial, as criancas nascidas de mulheres que se encontravam gestantes naquela ocasiio apresentaram Varios tipos de anomalia Doencas infecciosas. Sifilis, rubéola ¢ caxumba podem pro- rons tos (fetos de mé-formagio, eliminados espontancamente 2 pelo organismo) ou anormalidades fisicas (cegueira, surdez, defor- midades nos membros) ou mentais. Ss Foor Rh. Quando houver incompatibilidade entre os tipos sangiiintos da mie e do feto, podem ocorrer abortos, natimortos, morte logo apés 0 nascimento, ou mesmo puralisias parciais ou de- ficiéncias mentais. Felizmente estes problemas j4 sio bastante co- nhecidos na clinica médica, facilitando medidas profildticas. Exis- tem, eutretanto, outras incompatibilidades sangilineas (como © caso: mae O, feto B) que podem produzir substancias téxicas no orga- nismo (no caso, altas taxas de bilirrubina) e€ que estio ainda em fase inicial de estudos. Dieta. Esti atualmente comprovado que uma dieta pobre predispde a maiores complicagdes durante a gestagdo e 0 parto, prematuridades, maior vulnerabilidade do bebé a certas doencas ¢ mesmo atraso no desenvolvimento fisico e mental. Dai a prioridade que 0 governo brasileiro vem dando ao atendimento materno, infantil. Embora ainda precdrio, esse atendimento ou esta desaconselhando as chamadas gestagdes de alto risco, ou, quando ocorrem, procurando oferecer atendimento médico © complementago_alimentar. Tao grave 6 este problema na nossa populacéo carente que o proprio jornal O Estado de S. Paulo, numa série de reportagens pu- blicadas no final do ano de 1980, mostra que uma alta porcentagem das criangas de determinadas regides da Grande Sio Paulo apresen- ta déficit tanto no erescimento fisico quanto no intelectual, ha- vendo uma média de 2 anos de retardamento no seu desenvolvi- mento. Esta defasagem é atribuida 2 m4 qualidade de vida e prin palmente alimentagdo inadequada ¢ insuficiente da gestante, do bebé © da crianga pré-escolar, Como solugéo para minorar ow pelo menos impedir que esta situacio se agrave, sugere-se a orien- tagio para um planejamento familiar mais adequade, bem como uma melhoria nas condigdes de alimentacdo e saiide no inicio-da vida, Diga-se de passagem que, além das deficiéncias nutritivas, estas criangas_vivem num ambiente~seni—estimulacio adequada_para_o desenvolvimento intelectual.Pesquisas_realizadas na Inglaterta_mos- asa Taglalene mos ‘raram que criangas, filhas de pais carentes e de Q.I. rebaixado, quando submetias-aestimlagao adequada em instigdes as quais pass vam parte do_tempo,-tiveram-desenvolyjifiento superior aquelas de ‘um grupo. controle sem manipulagao. Além do periodo que as criangas passavam na instituigo, 0 programa previa atendimento e orienta- ‘Gao As mies no sentido’ de autovalorizagio, melhoria em suas con- digoes de trabalho e de relacionamento com as criangas. Complstando nda a experigncia, as mogas adolescentes desta comunidade eram treinadas no cuidado com bebés ¢ criangas pré-escolares no sentido profilético, isto é, para quando fossem macs. “ae a i Se “ C F — Muitas instituigées comunitarias ¢ religiosas tém prestado algum tipo de assisténcia a mies e familias carentes em nosso meio, embora no contem, geralmente, com os mesmos recursos que tinham estes pesquisadores ingleses, Por esta breve exposigio de alguns dos muitos fatores que podem predispor a diversos’tipos de distirbio durante a gestacao, Conclui-se pela importincia da orientagio médica durante a gestacio fou mesmo do aconselhamento genético quando um dos membros do casal é portador de qualquer caracteristica que possa afctar negati- Vamente o feto; ou ainda quando, embora pai ¢ mac sejam sadios, possa existir algum tipo de incompatibilidade capaz de prejudicar © feta. O conselheiro geneticista:faz um estudo do casal ¢ orienta no sentido da desejabilidade ou ndo da procriagao. Embora recente, no Brasil este tipo de atividade existe nos grandes centros urbanos, ligado geralmente a escolas superiores de medicina ¢ genética. ‘Alem dos fatores jé enumerados que prejudicam o feto de forma iprosseira, existem outros que, embora de maneira mais sutil, preju- dicam 0 desenvolvimento ¢ o bem-estar psicol6gico (€ social, em tlti- ma andlise) tanto da mie quanto do bebé. Quero me referir a0 pro- cess0 de parto tal qual vem sendo comumente realizado em nossa sociedade. Vejamos como ocorre. Durante a gravidez a mulher, avida de atengdes especiais que a ajudem a ajustar-se ao novo papel de mic, recebe assisténcia obstétrica de forma mecénica e impessoal, Free ida por um médico atarefado que a examina e receita vitaminas ou ‘outros medicamentos necessérios. Suas emogdes, medos, ansiedades, alegrias e expectativas nao sio considerados. parto é realizado num ambiente hospitalar que, se traz. ben ficios & satide pela sua assepsia, pode produzir efeitos emocionais da- noses, os quiais podemos denominar “esterilizacéo emocional”. Anali- semos a situaga0 pari passu. A mulher parturiente, sofrendo as dores das contragdes e as angistias de um momento desconhecido c crucial, € recebida ria e rotineiramente por pessoas estranhas. f conduzida de uma sala para outra, sem participar de qualquer decisto, tomada fem nome de princfpios obstétricos que nao Ihe sao transmitidos. ‘A indugéo do parto por drogas € 0 rompimento artificial das membranas feito por conveniéncia (para acelerar processo) produ- zem aumento das contragdes uterinas (e portanto das dores da mae) ¢ menor fluxo sangiiineo para o cérebro do bebé, 0 que pode causar anormalidades neurolégicas, cardiacas, disfungao cerebral minima, cte., além da necessidade de se administrar analgésicos ¢ sedativos para aliviar as dores maternas. Estas drogas concentram-se na circulagio fetal e no sistema nervoso central, o que pode levar a comporta- mento menos responsivo apés 0 nascimento, menor succio, proble- mas de respiragio ¢ disfungio cerebral minima. Este estado da crianga ¢ a sonoléncia da mie apés o parto (decorrente das drogas) evam a alteracdes nas respostas materas e, dependendo do par mae- crianga do grau e da duragdo, podem levar a conseqiiéncias mais duradouras ¢ imprevisiveis. ‘A posi¢ao da mulher deitada e amarrada torna 0 parto menos confortavel, impede a mie de participar no sentido de procurar a posigo mais confortdvel; interfere ¢ inibe 0 comportamento materno natural, © que pode também influenciar no estabelecimento da inte ragio com seu bebé. ‘© corte que se faz na mulher durante o parto causa desconforto durante a amamentagao, afeta 0 relacionamento sexual (e portanto conjugal) apés 0 parto, dificultando ao casal a elaboracdo da nova situagao familiar. Vejamos agora 0 que ocorre ao bebé. Os cuidados pés-parto sio executados de maneira mecinica, rapidamente, num ambiente tumul- tuado ¢ de muita luz. As luzes fortes sobre os olhos do bebé podem prejudicar o comportamento de olhar mituo que ocorre entre a mae © a crianca durante a amamentacio, ‘© parto cesariano, realizado incontaveis vezes sem indicacao obstétrica, com anestesia geral, pode levar a sentimento de incerteza em relagio ao bebé (seri mesmo seu filho?), sentimento de fatha como mulher, além das dores e da separacao subscqiiente. ‘A clologia, a partir de estudos com animais e posteriormente da observacio de bebés humanos, constatou que os primeiros dias ¢ semanas apés 0 nascimento constituem um periodo fundamental para o estabelecimento de uma ligagdo afetiva sadia entre a mae € 0 sew bebe. As primeiras horas e dias se constituiriam no denom nado periods de reconhecimento, quando 0s dois membros da diade estariam explorando um a0 outro, conhecendo-se. Dai a importancia fundamental de um parto num ambiente de mator atetividade © de ‘um contato continuo com o bebé nas primeiras horas, Caberia a0 pessoal hospitalar um auxilio no sentido de ajudar a cuidar do bebé, pois que, ainda dentro dos principios etolégicos, qualquer mae (hu- mana ou animal) esté apta a cuidar de seu filho desde que possa dar livre vazio as suas emogdes. £ como se as mulheres fossem programadas gencticamente para cuidar de seus filhos e estes nasces- \ 5 sem com aspecto © comportamentos capazes de eliciar nelas 0 cha- mado comportamento materno. Assim, numa posigéo naturalista, | basta que mie e filho sejam deixados juntos, num ambiente adequado para que desenvolvam 0 attachment ou ligacio afetiva. Inclusive, ha quem ache que, quando 0 pai ou outras pessoas da familia assis tem ao parto, além de oferecerem seguranca emocional para a mie, estariam-se ligando afetivamente a0 bebé. | : 2 2 a a e a en 2 R z Rm m z = =~ mz “a Quanto 20 beds, constatou-se que criangas nascidas em case € } cuidadas, desde 0 inicio, pelas proprias mies, estabelecem um bior- Fitmo proprio em poucos dias. Ao contririo, nas enfermarias demm0- ram dez dias, além de apresentarem maior dificuldade de. alimen- tagio € mais choro Conclui-se, portanto, que este perfodo péscparto & muito deli cado tanto para a mie quanto para o bebé, podendo determinar a qualidade da ligagio afetiva que'se ir& estabelecer entre os membros da diade crianga-mie. © ‘tratamento mecdnico dispensado a mulher, que exige dela passividade, auséncia de informagdes e pouco contato com o bel pode gerar sentimentos de culpa e frustragSes que, quando prolon- Eados, provocam depressio.pés-parto, cujos reflexos podem durar muitos anos, Ela pode sentir-se privada de suas fungdes femininas, coagida e manipulada, embora do ponto de vista obstétrico 0 parto tenha sido um sucesso. Sugere-se entdo que a assisténcia dada a gestante, a parturiente © & nutriz seja feita de mancira mais calorosa, mais humana, que inclua a partcipagio do marido e dos outros flhos (quando houver), no sentido de promover uma interagio familiar sadia, LI Bibliografia 1, Bell, R.A. Contributions of human infants to caregiving and social inte raetion. In: Lewis, M, ¢ Rosemblaum, L. (ore.) The effects of the infan fon its caregious, N.Y. Willey, 1974, cap. 1, pp. 1-19. 2. Bell, RAW A reinterpretation of the direction of effect in studies of socia: lization. Payehological Review, 75 (2): 81-95, 1968 3. Brown, 1.U.; Bakerman, R.; Snyder, Pz Fredrickson; Morgan, S. ¢ Hepler R. Interactions of biack inner city mothers with their newborn infants, Child Development, 46: 677-686, 1975, 4, Carmichael, L. Manual de Psicologia da Crianga. Organizador: Mussen P. Coordenador da edigio. brasileira: Samuel Piromm Netto, Sio Paulo, EP-UJEDUSP, 1975. Vol. 1: Bases biologicas Jo desenvolvimento. 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Da pactg dn peta Wagner Rocha Fiori TAO contexto familiar ‘Quando uma crianga é concebida, jé ha na mae e no pai uma organizagao de fantasias ou de expectativas ligadas a concepcdo ¢ a0 desenvolvimento da crianca. Isto € verdadeiro tanto para as gestagées programadas, onde as expectativas so explicitadas pelos pais, atraves das preocupagdes com a gravidez, com a escoiha de nomes, com a preferéncia de sexo, com as expectativas sobre futuras caracteristicas icas, perspectivas de profissio € evolucio social, e muitas outras ‘expeetativas, quanto para as concepgdes acidenmais. Por que uma gestante soltcira provoca aborto, enquanto outra luta contra tudo para ter o filho? Por que alguns pais assumem com intenso prazer © filho-surpresa € outros 0 desagregam psicologicamente? Por que mulheres, as vezes até muito metédicas, erram na utilizagio de meios anticoncepcionais? Podemos inclusive tomar 0 processo pelo contrério: por que muitas mulheres tentam engravidar durante ano: submetem-se a varios tratamentos que acabam revelando-se infru feros ¢, tao logo abandonam as tentativas e adotam uma crianca, imediatamente engravidam? Todas estas questées nos indicam que, se do ponto de vista biolégico a gravidez comeca com a concepgio, do ponto de vista psicolégico hd uma hist6ria do pai-e da mic, dentro da qual jé estio reservados padres de relacionamento a serem estabelecidos com a Vinda da crianga. Joao Joao, sete anos, chega ao consultorio trazido pela_mae. Os pais so curopeus, estabelecidos no Brasil desde que tinha 3 anos. A mie procura o tratamento as escondidas do pai. As queixas se refe- rem ao baixo rendimento escolar, raciocinio considerado pobre pelas pedagogas, incapacidade de se relacionar com os amiguinhos, fobias © especificamente um terror paralisante diante das céleras do pai © pai s6 comparece apés vérios meses de tratamento. Na histéria do pai encontramos que € de familia bem dotada economicamente, com pais ¢ irmaos bem-sucedidos. Ele € uma espé- ie de ovelha negra da familia, Nao conseguiu realizar estudos supe- riores, apesar dos melhores colégios europeus ¢ das tentativas da mie de sempre ajudi-lo. Tentativas as vezes inadequadas, como interferir junto a ditecdo dos colégios. Hi no pai um misto de célera 7 contra os pais que 0 sufocam, paralelo a uma posicio subserviente de dependéncia. Dirige empresas que estio em nome da familia por tum salatio quatro ou cinco vezes menor que a realidade de mercado. Os negécios nao vaio bem, mas, quando esporadicamente assessora futra empresa, é administrador brithante, recebe excelentes propos- tas, mas ndo as accita. "A mae, filha de operdrios, € de uma beleza rara. Como 0 pal, sofre um dominio sufocante da familia, notadamente da mie. Ao SChtrdrio do pai, cuja familia dele nada espera, a mic € tevada a ima expectativa alta de realizagdo, mas paradoxalmente dentro de tuma postura impotente. Os desejos que a dirigem sio os desejos da mae © nao os seus. Nao & ela que se realizaré, mas a mae que se realizar através de uma filha impotente. Dd romance decorrente, surge a concepgio de Joao. Para a familia do pai € 0 ponto final das demonstragies de sua incapaci- dade de fazer algo de bom. E deserdado e, com o casamento, perde Seus privilégios anteriores, tendo que sobreviver desempregado as expensas do sogro, apenas um operario. Para a familia da mie, 0 sonho da “pata borralheira” de ser princesa queda destruido. O prin- Cipe virou sapo. A est6ria de fadas inverte-se. E resta a vergonha de uma filha solteira, gravida, que deve casar-se as pressas. ‘Oual poderia ser a evolucao deste filho? Seu nascimento destréi ‘um pai impotente, mas colérico. Destréi uma mac criada para realizar bs desejos da avd. Como ser forte, se vencer confirmari de novo a mpoténcia dos pais? Como identificar-se com 0 pai € formar sua masculinidade, se 0 pai no o reconhece, ¢ se 0 pai s6 surge may Goleras? Como apoiar-se numa mae frigil, que teme o pai, que s° Submete aos avds? Joao também nao pode crescer intelectualmente. Como buscar o saber, se junto com 0 conhecimento ¢ a compreensio poder’ haver 4 percepedo da destruicio que ‘A vinda de um segundo filho faz a reden com a familia, A gestagdo é completada no Brasil e 0 pai empossado 1a idiretoria de um grupo de empresas. Um filho brasileiro the da direi- tos, Na realidade, 0 pai € novamente manipulado, mas assume como Seu este segundo filho que Ihe dé conquistas. Como Joao poderé erescer, se em sua cabega vé apenas 0 pai assumindo como filho a crianga menor? Vemos que Joao nio inicia sua vida com a concepgio ov 0 nascimento, Sua evolucdo jé esté patologicamente perturbada pela historia de vida de seus pais. O atendimento terapéutico que poderia tjudé-lo ndo teve a aceitagio da pai. O pai mio concordou com 0 Gtendimento, mas permitiu que a mae o assumisse. Depois de al- guns meses, 0 garoto apresentou boa melhora no rendimento escolar, € os pais suspenderam a psicoterapia. Fato que, infelizmente, € de 8 cocorréncia comum. Desaparecido 0 sintoma externo, interrompe-se © tratamento. Mas o problema central ainda nao fora resolvido. Paulo Paulo vem para diagnéstico aos seis anos. Forte, agitado, agar- rado & mie, nao desce de scu colo. A expressio é de quem esta muito perturbado. Nao ha qualquer possibilidade de contato com tle. Quando a me 0 conduz @ minha sala, ele a belisca, puxa-Ihe os cabelos, dé-Ihe socos. Néo quer contato com ninguém. Paulo tem uma lesio auditiva congénita grave, Ouve apenas os ruidos graves. Nio entende sons. Varias tentativas de tratamentos e aparelhos foram infrutiferas, Também nio consegue relacionar-se com as fonoaudidlo- gas ¢ seu desenvolvimento da fala, durante muito tempo de trata- mento, ¢ pobre. Sé a mae o entende. As criancas com lesbes auditivas sio muito propensas & manutengdo de forte vinculo simbiético com a mie. © isolamento € a incapacidade decorrentes de compreender © mundo nao raras vezes as levam a psicose, (Os pais se recusam a aceitar a incapacidade do fitho. O pai, homem simples ¢ decidido, continua a vé-ln como seu filho. seu companheiro, e um homem que se desenvolverd, Faz sacrificios quase {que impossiveis na luta por sua recuperagio, levando-o inclusive para diagndstico no exterior. So consultados de médicos a médiuns. A mae o acolhe com amor. Erra ao tentar acertar, pois permanente- mente reforga uma Tigagio simbiética. Mas acredita nete Durante alguns meses a psicoterapia € realizada com a mae presente, Aos poucos Paulo vai permitinda sew afastamento, Os pais. has sessdes de orientagdo, mostram excelente compreensio dos pro- cessos vividos por Paulo * podem ajudi-lo muito, O tratamento fonistrico progride e as palavras dele sio parcialmente compreensi- veis, Paulo me relata suas saidas com o pai, as pescarias, a futebol. ‘Ks vezes ndo o entendo e ele se utiliza de desenhos ¢ mimica para ‘me explicar. Sou contra uma escola especial e junto com a Conseguimos uma escola comum, com classe pequena, que accite, © comeco & dificil. A professora me telefona pedindo orientagao quase que semanalmente. AS notas sio inicialmente baixas, mas 20 final do semestre Paulo j4 acompanha razoavelmente a classe. Com- plementa a percepgio de sons com a leitura dos labios. Mas ainda hao pode fazer ditados normais. Oriento a professora para fazé-los com figuras, Ao final do 1.8 ano escolar Paulo é aprovado. £ exce~ Tente aluno em aritmética. Ainda fraco em portugués. Ao final do sepundo ano escolar Paulo € um aluny praticamente normal. “Nao fentendo como, sendo deficiente, pode ter tanta lideranga sobre 0 srupo”, dizeme a professor. O tratamento psicolégico tem alta € os 9 ais sdo orientados para que me procurem, se surgirem momentos criticos. Recebo depois de alguns meses apenas um telefonema para informar que tudo vai bem. \ Joao ¢ Panto — A fantasia famitiar Vimos dois exemplos extremos. De um lado, uma configuragao de fantasia familiar, dentro da qual a concepeao do filho concretiza no plano simbélico a destruicdo dos pais Por concretizazio estou entendendo a existéncia de uma fantasia ou temor nao assumido, que de repente vem a tona face a um fato concreto que magicamente 0 confirme. Por exemplo, normalmente nfo acreditamos que “quebrar espelhos dé sete anos de azar”, Mas, se recebermos uma noticia tré- gica logo depois de haver quebrado um, magicamente associamos os fatos, € a superstigao fica instalada, Da mesma maneira nao é este filho que desagrega os pais. Ele apenas faz com que os problemas anteriores, camuflados, aflorem juntos. Fecha-se um citculo vicioso onde os pais sc sentem simultaneamente destruidos por seu nasci- mento, ao mesmo tempo em que, por nao poder ajudi-lo, assumem © papel de seus destruidores. A culpa gerada, ainda que insonsciente, toma-se novo foco de angtstia que impediré tanto a reorganizacdo individual dos pais, quanto 0 adequado relacionamento com o filho. De outro lado, para Paulo estavam reservados amor ¢ confianca. ‘Um relacionamento adequado dos pais ja Ihe tragara a estrada de um desenvolvimento sadio. A natureza o levou, destruindo-Ihe um 6rgio fundamental para o desenvolvimento infantil. Pais fortes, nao se abateram; e, se crraram, foi na tentativa de acertar. Havia uma ideologia coerente de mundo, transmitida para a crianga, dentro da qual estavam claras as mensagens de que ela era amada ¢ de que se confiava nela, Polidas as arestas, Paulo pode desenvolver seu potencial. Eis farts eer ets areca at para | _A mie € a figura central do desenvolvimento psicoldgico infan- "til, O pai s6 tardiamente € percebido. Paralelamente 20 contexto de fantasia familiar, haveré um significado psicoldgico especifico da gravidez para a mie, significado este que facilitaré ou dificultara assumir adequadas relagdes de maternagem. Tecbel "Sole, prcanalsta argendna’ em seu Psicalogia de Emiaran, Pato y Pheperos sett ¢getcratea as vot ee a (qeee sf unaineee (care oT ee cendo os varios surtos de ansiedades especificas que a gestante tem, fem como an feniuins subjocentes © ala momento 10 Para Soifer, toda gestacio implica de inicio em uma ambivaléncia bisica: de um lado o desejo de ter a crianca, ou seja, sua aceitagio: de outro, a rejeicdo & gravidez, ou seja, o temor da gestante de ser destruida pela gestagio. Note-se que nao é uma rejeigdo especifica 20 filho, mas sim uma postura defensiva diante dos temores gerados que levam a mie a fantasias ou sintomas de rejcigio. Para ela, 0: ( genitais possnem estreita correlagao com os processos psiquicos ©, quando os padrdes de nio aceitagio da concepeio predominam, 4 estabelecem-se varios processos psicanaliticos que impedem a concep. | so. Por exemplo, contragdes uterinas que expulsam o esperma, (_ inflamacdes tubirias, variagdes do PH que tornam a vagina e 0 utero espermaticidas. O pressuposto ¢ entio que, quando uma concepcso se realiza e é mantida, o desejo de ser mae é predominante sobre a Fejeigdo. Mesmo que a vinda da crianga crie enormes problemas Feais € seja rejeitada ao nivel consciente, no plano inconsciente ¢ “mais fundamental li o desejo de um filo, Devemos acentuar que a relacdo inversa é igualmente verdadeira, ou seja, qualquer gravidez 7 bem aceita, planejada, oriunda de pais saudaveis, sempre trard cons go alguns temores. As ansiedades aqui serav minimizadas, mas. sur rio, € qualquer surto de ansiedade sempre incrementard fantasias ligadas a rejeicdo da gravidez. As mensagens de aceitacio ou rejei¢io, embora possam ser explicitadas verbalmente, so basicamente. processos. inconscientes, Enguanto atuantes a este nivel, nio as perceberemos formalmente verbalizadas, mas as compreenderemos através de seus sintomas. Um sintoma & uma forma disfargada de expressar a mensagem que nio pode ser dada, ou seja, a mensagem ou o desejo surge sob a forma de um enigma, que impediré que o sujeito tenha percepcéo consciente de um processo ansiogénico. THEI gravider € percebida antes do seu diagnéstico = Antes da confirmagio clinica da gravidez, ou mesmo nos casos que a concepcao surge de surpresa ¢ a gestante no tem cons. ciéncia de que esta gravida, varios sintomas surgem, indicando que a gravidex ja esté mobilizando a organizacao psiquica. Os principais sintomas so a hipersonia, o tema dos sonhos, 0 aumento do apetite, as nduseas, dierréia a constipagio intestinal. Examinemos o signi -ficado de cada sintoma: Hipersonia e regressao Quando observamos uma mie em seu relacionamento com o tecém-nascido, imediatamente nos chamam a atencio os comporta- MW mentos infantis desta mae. Ela balbucia para falar com o filho, seus Comportamentos so mais corporais do que verbais. Scnte prazsr em Tranusear a erianga ao limpé-la dos excrementos, conduta esta, que causaria repulsa em grande parte das pessoas. Perccbemos emo tue esta mae, de certa forma, se infantilizou, Este processo, que tecnicamente chamam Por finalidade adaptar 0 psiquismo da mie A compreensio ¢ senda mento das necessidades infantis. A crianca jamais podera formalion: em termos adultos seus desejos © necessidades. A natureza dermal, Xe, portanto, a evolugéo de um processo regressivo materno, strssce Go qual © didlogo filho-mae poderd ser estabelecido. 0 processo nao! € apenas regressivo: € também um processo de_idemiificayio. “A crianga € como que sentida como uma extensdo da mie. Este nivel: mento através de uma afetividade infantil é um ponto fundamental da maternagem. Quando negado ou inexistente, nao so ¢ indieador de patologia materna, como dificultaré para a erianga 0 estabelecn mento dos vinculos de amor com a figura basica de seu desenvolv mento inicial. Com freqiéncia temos acompanhado o tratamento Criangas problemiticas, onde esta relagio afetiva inicial foi substitat Ga por uma postura técnica € profissional das mies. Sao com frequen cia filhos de meédicas, pedugogas, psicdlogas, onde tecnicamente foi dada a melhor orientacao possivel aos filhos, mas faltou a inte, acho afetiva basica. Estas criangas séo praticamente criadas como “filhos dos manuais" As alteragdes hormonais que se sucedem a concepcdo. sie inconscientemente percebidas, amtes mesmo do conhecimento formal da gravidez, Um dos primeiros sintomas a surgir ¢ 0 incremento do Sore, Este aumento do sono € um sintoma normal, positive, que indica simultaneamente a existéncia de dois processos priquices Iter dos a sestagdo. Em primeiro lugar, no dizer ile Mary Langer, Rosita uma identiicasao fantasiada com o felo, ou seja cle sentido como algo pequeno, permanentemente como uma exteneio da mie que dorme. E 0 sentir sono, © dormir junto, € estar cone Partilhando do mesmo processo. Neste sentido, a hipersonia, € um Sintoma de aceitago da gravidee que se inicia, Paralelamente. este toma indica o inicio do processo da regressio materna, Ou seja & mic inicia a adaptagdo afetiva que the permitiré sentir-se come » bebé, para poder compreendé-lo nos seus desejos e necessidades Hi ainda um terceiro fator presente na hipersonia, que € 6 inicio da organizacio defensiva que se mobilizara contra os sncied. des especificas da pestacéo. Repousar é desligar-se do munde cee RO, das preocupagdes ¢ ansiedades, bem como possibilitar um forte. Jecimento orgiinico, sempre importante para enfrentar os momentos de crise. de regressio, tem 12 O tema dos sonhos As gestantes, mesmo neste periodo que antecede a descoberta a gravide2, trazem dois temas bisicos em seus sonhos. © primes cuja relagdo.simbélica é clara, povoa seus sonhos de filhotes de seta gtiangas. © segundo diz respeito a0 proprio processo da Bestagdo. Sonham com objetos continentes, por exemplo, interior ae casas, veiculos onde hd gente dentro, carteiras, bolsas ou outieg objetos onde hé coisas dentro. Todas’ estas coisas, notadamente s £483, so objetos que simbolicamente representam 0 corpo da mic. Sio objetos cuja finalidade é abrigar outros em seu interior, © curioso, no processo, € que esta percepgao inconsciente da estagdo € de alguma forma transmitida para o pai e os irmaos Imaiores. As criangas apresentam-se com manhas, terrores noturnos, alaques & mae, por exemplo disfarcados no brinquedo de vir correndo ¢ pular na barriga da mae. Uma conhecida psicanalista de eviangas fos relatou em comunicagio pessoal o caso de um garotinho, seu cliente, que de repente comecou a querer vasculhar todas as’ suse gavelas ¢ a sistematizar brincadeiras com filhotes de bichinhos. Ela Pergunta entéo mie se esté erdvida ¢ esta, surpresa, diz que esta com a menstruacao atrasada, que nao sabe se esta gravida ou nao, € que nao disse nada nem ao marido. Duas ou trés semanas depois, 8 mie traz a noticia de que a gravidea fora clinicamente contirmada, Ao nivel do marido, 0s sonhos jé surgem com caracteristicas ersecutérias. Por exemplo, sonhar que j4 foi despedido e contrata. Tam outo para seu aga, que hd om rival queens seas coisa que € sua. Vemos que o marido ji esta psiquicamente engajado nha gestagio, de certa forma engravidando psicologicamente junto com a mulher. Estes sonhos persecutdrios devem ser analisados em dois niveis. Num primeiro, so uma reacio a retragdo da mulher, ‘que se afastard progréssivamente dele para colocar a crianga no foco de suas atengdes. Num segundo nivel, indica uma regressdo do marido 0 ponto de seu desenvolvimento psicolégico onde foi mais dificil enfrentar a competigio de um terceiro, ou seja, ao seu proprio com- plexo de Edipo. A relagio triangular que se estabeleceré trard res- Sonincias de sua propria vida passada, durante a resolugio de seu Edipo. O processo é ambiguo, porque ama o filho ¢ sente que sera amado por ele, como ama e foi amado por seu pai. Mas também jodiou seu pai como um competidor, na luta simbélica pela. posse da mie, ¢ temeu ser por ele castrado. Assim, teme 0 ddio e a destru- tividade de seu filho, bem como 0s seus, atualizando suas angistias ndo resolvidas durante a fase edipiana 13 eT ee ee CL Le ae ee Le en Pe ee Fome, nduseas, diarréia e constipagao Os processos psiquicos tendem a ser slobalizantes. Quando algum modelo de relagao se estabelece, nic o faz, em geral, apenas Para um segmento da ‘personalidade, mas todas as relaacs. internas & portanto, toda decorrente interagio com o mundo, passam a solver interferéncias desta modalidade de relagio estabelecida, Vimos acima gue 0 nascimento de um filho gera um triangulo familiar que faz com que:o pai retome suas angustias edipicas passadas, No caso de mie, a regressio que, a priori, esté a servico de uma matemagem adequada, faré com que, paralelamente, a estrutura afetiva rerredida da mae seja particularmente sensivel & retomada de suas angiistias passadas. A crianga, durante suas etapas iniciais de vida, nutre nao apenas lum grande vinculo de amor pela mac, mas também apresento crises de odio e destrutividade. ‘Tratamos introdutoriamente destes aspectos no primeiro volume desta colegio e © aprofundaremos progressiva, mente dentro de nossa proposta de acompanhamento evolutive da crianca. Por ora, basta-nos saber que nio s6 a crianca deseja v sein como nas crises de fome ¢ de dor fantasia alaques desirutivos. ao seio, onde as armas sio principalmente os dentes, as fezes ea utina, seio, € depois a mae, sio ambigua e paralelamente assimilados como bons, ¢ atacados como maus. Se as angistias despertam 0 instinto de morte © se a mie constitui © objeto basico da relagio inicial, quanto maiores as angiistias do inicio da vida mais itwe fixadas as fantasias de que a mae foi atacada ou destruida, e, em Contraponto, pelo retorno da destrutividade projetada, mais ficam fixadas as fantasias de que a mae atacou ou destruiu a criang Toda gestante possui entio uma histéria passada onde, para: Jelamente aos momentos de prazer, houve momentos onde » angistia € @ destruicao estiveram presentes'em seu relacionamento fantasiado com @ mae. Estamos utilizando 0 termo relacionamento. fan Porque para o desenvolvimento afetivo 0 que importa é a r Psiquica. A realidade externa objetiva, exceto se muito patologica, serve em geral para concretizar as fantasias que 0 psiquismo esté gerando. Nenhuma mae “média™ é totalmente boa ou ma. A crianga Pode tomar como preponderante ou os seus aspectos bons ou os aus. Isto depende de varios fatores, como a capacidade congénita de crescimento (forca de Eros, ou do instinto de vida), de fatores circunstanciais (doencas da crianga ou da “mie, afastamentos aci- dentais, etc...) € das atitudes globaie da mae Devemos ter claro que a gestante esté com um filho presente. Ainda no nasceu, mas ja ha o relacionamento afetivo dela com um filho, Estamos portanto num bindmio mae-filho, tal qual a gestante 14 feve com sua propria mie. Se cla esta regredindo a modelos afeti- vos infantis, esté também retomando as anglstias vividas na relagao com sua prépria mae. E estes contlitos sio atualizados na relagio que agora estabelece com seu préprio filho. Se em sua fantasia sente que atacou © destruiu sua mae, agora terd o sentimento de que serd utacada e destruida por este filho. Se a inveja e a voracidade foram sentimentos que a dominaram durante seu aleitamento, deve. ter estado um sentimento de que, para crescer, esvaziou e ‘destruiu a mde. Este sentimento poderd ser agora atualizado, ficando a fantasia de que, para crescer, o filho a destruird. As angiistias geradas durante a gestacao so basicamente organizadas como atualizagoes das anpis- tias vividas pela_gestante, quando ainda bebé, em seu relaciona, mento com a mic. Todos estes processos sio_inconsciente: camente através de sintomas orais e anais, visto que estes periodos carregam 05 aspectos mais destrutivos (¢ também mais cheios de amor) da fantasia infantil. Ao nivel oral a fome aparece como um sintoma de aceitagio. A gestante come desbrazadamente, alepanda que estd comendo por dois. Ora, no final da quarta semana o embriao tem apenas $ mm de comprimento. Ao fim do 2.° més, apenas 25 mm, E Obvio que a grande quantidade de comida extra ndo esta sendo usada para alimentar feto. A fantasia determinante 6 a de por coisas boas dentro do corpo, ou seja, a de ter coisas boas dentro do corpo. Dai as tarefas rduas dos maridos de procurarem raros ¢ saborosos quitutes, as vezes fora de época e hora, para satisfazer suas esposas. A niusea, a0 contririo, surge como um sintoma de que algo inteiro é sentido como mau e precisa ser eliminado. E comum pessoas Sentirem néuseas diante de situagdes deprimentes. Mas voltamos a frisar que, face a ambiguidade emocional diante da gravidez, € normal Coexistirem tanto a fome (aceitago) quanto as nauseas (rejeigio). Normalmente, a fome-passa a estar sob controle © as nduseas dest. Parecem ou diminuem com a evolugio do processo. A permanénei de um nivel alto de néuscas e vémitos é indicativo de que a gestante hecessita atendimento psicoprofilitico voltado para o parto. A constipacio ¢ a diarréia so correlatos anais da fome e da ndusea. A constipagio se manifesta como uma tentativa de teter dentro de si um produto que é precioso. £ um sintoma de aceitagio mas, se exacerbado, além dos problemas fisicos decorrentes, pode estar indicando uma tentativa de aprisionamento simbidtico do filho. Isto podera ser um sintoma de problemas futuros, ou seja, a mie nao permitiré que a crianga se desligue ¢ consirua sua identidade pessoal Na diarréia, tal qual na néusea, hd no sintoma fisico a tentativa de expelir um processo interno ansidgeno. Note-se que o que se tenta Manifestam-se_basi- 15 expulsar é 0 proceso que gera a angiistia, € nio o filho, Mas, quando estes sintomas de rejeicio so intensos, ‘hd alto risco de aborto. O mecanismo de defesa psicoldgico foi inadequado € exacerbado. 1.2.2.2 Outros momentos criticos da gravide: Rachel Soifer acompanha cada etapa especifica da zestagio, analisando as fantasias e os sintomas correlatos. Apresentarei apenas trés outros periodos criticos da gestagio, por me parecerem os cen- trais na evolugdo psiquica da gestagio: ‘a placentagio, a instalagao dos movimentos fetais e os tltimos dias antes do part. Placentacao A nidagio ¢ a placentagio sio processos que biologicamente poderiamos classificar de parasitismos. Nao sio processos de trocas, ‘mas processos nos quais um organismo se intstala no outro, sugando-0 para prover seu proprio desenvolvimento. Fazem parte do psiquismo infantil fantasias de roubar (sugar, esvaziar pela voracidade ¢ inveja) € ser roubado. Os processos psiquicos parecem sempre se originar de processos biolégicos de base, pelo menos em sua origem. Por isso, sempre dizemos que 0 psicoldgico é anaclitico ao bioldgico. Se no desenvolvimento biolégico da gestagio existe um processo orginico de parasitagem, isto criard condig6es de base para a emergéncia de fantasias persecutérias. Neste momento os sonhos das gestantes tra- duzem fantasias tipicas de estarem sendo roubadas ¢ esvaziadas. Este um momento critico dentro da gestagiio. Se os sintomas de rejeicio (nduseas ¢ diarréias) persistirem, um acompanhamento psicolégico da gestagin, hem como as orientagdes ¢ informacées coneretas as pestan. tes sero necessarios como psicoprofilaxia do aborto, A movimentacao do feto ‘A motilidade surge no feto a partir do 4.° més. Em geral ainda no hé a percepgio consciente destes movimentos. Grande parte das gestantes os percebem durante 0 5.° e algumas s6 no 7.°, Varias ansiedades esto ligadas & percepgdo destes movimentos, e é um meca- nismo defensivo normal 0 embotamento de sua percep¢ao, ou seja, a negacdo. Assim, estes movimenios que so inconscientemente per- cebidos, podem ser negados no plano da percepeio consciente. Nos casos mais graves, esta negagio pode ser somatizada através da contragéo dos mtisculos abdominais, numa tentativa fantasiosa de impedir a movimentagio do feto. Se estas contracdes musculares, que so inconscientemente provocadas, persistirem durante @ con 16 nuagdo do processo, poderdo interferir na rotagdo do feto, deixando 2 crianga em posigao atipica para o parto. © conflito aceitagao-rejei¢do que acompanha a gravidez sera agora sintomatizado na verbalizagdo. Algumas macs se utilizarao de frases carinhosas para indicar os movimentos. Dirdo que a crianca as, esté alisando, esté se aninhando, ou que parecem borbulhas gostosas. Outras os descreverdo como chutes, cutucadas, nao sendo raro ouvir frases como “esta me entortando a’ costela” ou “esti me amassando © rim”. A verbalizagao pode ser tomada numa relagio direta. As verbalizagées positivas ou prazeirosas, como manifestagio da dimen- sto de aceitagio; € as negativas ou agressivas, como manifestagao da rejeicao. Com a movimentagao fetal surge também a percepgdo concreta de que 0 feto esté vivo, ou seja, a consciéncia de que se esté dando A luz uma nova geracdo que emerge. Esta consciéncia traré varias, fantasias especificas que envolverio diferencialmente marido © mu- ther. Em primeiro lugar, emerge a responsabilidade materna, ou seja, 4 preocupagio com as caracteristicas que tera a futura erianga, Note se que, no plano da fantasia, a crianca é sentida muito mais como produto da mie do que do pai. Para isto podemos apontar, de um Jado, raizes na evolucdo filogenética da fantasia, ou seja, a capacida- de masculina de fecundar as mulheres s6 & descoberta tardiamente na histéria da evolugio humana. Nos grupos mais primitivos a for magi do bebé era de responsabilidade exclusiva das mulheres. De outro lado, raizes atuais, em que, pelo fato de carregar 0 nascituro ro ventre durante 9 meses © por nutrir sua formacao da concepeao a0 nascimento, 0 bebé acaba sendo fantasiado muito mais como um produto matemo do que como um produto dual. Embora esta preocupagio também surja nos pais, ¢ notadamente intensificada nas mies. Um meio concreto de se confirmar este dado consiste em verificar como os pais suportam melhor o nascinento de uma crianga lesionada do que. as’ mies da gestante com sua mic, em geral menor serio temor de deformacao fetal. Digo em geral porque fatores concretos tais como malformagdo uterina Je doengas genéticas na familia agravario o temor. Ernest Jones, ja /no inicio do século, havia caracterizado que, das relacdes hostis mae- “filha, pode ficar na crianga o sentimento de que esta destruida sua | capacidade de sentir prazer ou de obter gratificagdo genital. Melanie Uctein amplia depois a compreensdo destas relagoes, mostrando que f estrutura central da fantasia decorrente é o temor de ter destruido os Srgiios internos da mae, ou de que a mae destruiu os seus. A medida que predominou a angistia, ou seja, 0s ataques destrutivos fantasiados nas relacdes iniciais. perdurari na mulher a fantasia de 7 i | { \ que seu interior é destruido ow destrutivo. © filho, produto de seu interior, poderd ser fantasiado como atingido por esta destrutividade. a pratica, isto aparecerd por uma reagio maniaca, ou seja, a ferbalizara © apregoara que teré um filho maravilhoso, forte, saud‘- vel, sensivel, inteligente. & interessante como estas afirmayaes. vem precedidas claramente por mecanismos de negagio dos temores, A Mac diré coisas assim: “ndo estou preocupada, porque sei que tudo ité dar certo... jamais tive a prencupagio de que seri defsituose € acho que serd muito bonito...”, etc. 'E senso comum em psico. logia que as afirmacées precedidas de negagio normalmente indicam um temor que nio esti sendo percebido. Quando pedimos a estas mies que nos relatem seus sonhos, neles encontramos estes temores presentes de forma direta ou simbolizada A consciéncia de que se est produzindo uma nova geragin desperta igualmente no pai e na mae o temor de sua propria morte A fantasia bésica subjacente € a de que, uma vez posta no mundo a seracdo futura, a geracao atual cumpriu sua tarefa e inicia seu trajelo Tumo a morte. A sucessio de geracées, ou seja, o ciclo de vida, procriacio © marte faz parte do cielo evolutivo da muureza. O su. Porte para 2 fantasia é filogenético. Mas nio deixa de apresentar modelos defensivos atuais, por exemplo, a postura filicida faz. parte nao s6 das mitologias (Cronos come seus filhos para que nio eres. gam © tomem seu lugar), como também das estruturas sociais moder. nas, onde a geragio dominante cria barreiras & ascensao dos Brupos jovens. O vestibular ¢ um exemplo tipico do modelo social de con. tengo da geracio emergente. Ao nivel da mulher, a condensagio destas ansiedades é o tenor de morrer no parto. Ao nivel do homem, o temor fica mais difuso, Por falta de um suporte concreto. Temos observado que este constitut Um momenin critico na estrutura psiquica du sutido, sendo que muitos abandonos de lar ocorrem nestes momentos. A ansicdade 10 definida provoca uma defesa inadequada, ¢ 9 marido foge. A movimentagao fetal acentua também a configuragio de uma relagdo triangular pai-mie-filho. Isto atualiza os conflitos passados teferentes a fase félica, ou seja, ao tridngulo edipico. Muitas das expresses utilizadas pelas maes para descrever os movimentos scam como sensagdes masturbatérias. Se a ansiedade edipica aumenta, dois sintomas ficam tipicos. O primeiro € evitar o relacionamento sexual, ois com isto afasta-se a idéia de sexualidade; portanto, evitam-se a¢ fantasias incestuosas. O segundo € o “‘enfeiamento” da gestante, As roupas horriveis, chinclos, anda mal arrumada e penteada, Esta dese. legincia traz simbolizada a mensagem de que “sou feia, portanto nao sou sexualmente atraente, portanto néo me envolverei numa sexuali. dade incestuosa” I / {Ao nivel do pai, a atualizacio do édipo traz vérios conflitos sintomas. Um primeiro é como defesa, cindir a imagem feminina em | mulher-mae ¢ mulher-sexual. Passa a evitar relacionamento sexual com sua esposa, idealizada como mulher-mie, © inicia casos extra- conjagais, em geral com prostitutas, onde é muito concreta e definida imagem da mulher-sexual, Vejam que, se falamos em retomada das ansiedades edipicas, devemos ter presente que o temor de cas- tracdo esti presente. Nesta situacio, 0 temor de castragao se con retiza no temor de uma: vagina dentada, que podera castra-lo na Penetracao. Discutimos em detalhes esta fantasia masculina no pr Meiro volume desta colegio, quando tratamos dos mitos das sereias ¢ iaras. Esta fantasia, se exacerbada, poderé causar a impoténcia masculina diante da mulher gravida. Durante virios anos supervisio- amos cera, de duzentan entrisas anuais, realzadas por nossos ‘alunos das Faculdades Metropolitanas Unidas, com gestantes e par. turientes. & interessante como sao freqiientes estes episddios de im- / poténcia e, em geral, racionalizados como um “temor de ferir a * crianea”. Uma outra caracteristica do psiquismo masculinu neste momen- to € 0 aparecimento da inveja da fertilidade feminina. Da mesma forma que hé na mulher uma inveja bésica do pénis, tao exaustiva. mente explorada por Freud, outros psicanalistas, notadamente Mela. (nic Klein, descrevem 0 correlato masculino como uma inveja da | capacidade que a mulher tem de gerar um filho em sew interior. Esta ‘inveja ¢ inconsciente, aparecendo neste momento como uma curiosi- dade ou preocupacio em acompanhar o que esta acontecendo dentro da mulher. O pai entio tenta escutar o bebé, falar com ele, apalpa- Jo ou acompanhar seus movimentos. Este proceso é fundamental para o desenvolvimento do sentido de paternidade. Podemos observar facilmente nos grupos mamiferos que em geral apenas a temea assume a cria. Parece que 0 instinto materno é inato. O paterno deve ser desenvolvido. E a inveja da mulher, ao motivar este acompanha. mento da gestagio, faz com que 0 homem também sinta a gestagio como sua, assumindo portanto o filho como seu e desenvolvendo o sentido de paternidade O final da gestagao A medida que 0 momento do parto se aproxima, se a an: dade predominou na gestagio, acirram-se os conflitos bésicos. ji dliscutidus. Apenas urés aspectos nos parecem um acréscimo impor ante. Em primeiro lugar, 0 temor de morte passa a ser no s6 uma fantasia de transigio de geragdes, mas também um. temor especifico \ de morrer no parto. Apenas ha poucas geragées que as mulheres 19 | estio livres deste risco. Antes dos desenvolvimentos da cirurgia, das anestesias e dos antibidticos, 0 risco de morrer no parto era rez0a- velmente grande, Agora este risco parece menor do que 0 de morrer ‘em um acidente automobilistico mas, dentro do pensamento coletivo, © temor do parto permanece. | Em segundo lugar, 0 desenvolvimento rapido do feto provoca lalteragdes bruscas do esquema corporal, ¢ sabemos que estas altera- ges provocam sensacdes de estranheza, interferem na organizagio lespago-temporal e atualizam niicleos psicéticos de despersonalizacio. Devemos lembrar que isto nic acontece apenas com a gestante. As engordas répidas, ou os emagrecimentos ripidos, também as. provo- cam. O mesmo fenémeno se dé com o desenvolvimento fisico brusco do adolescente inicial. —_* Em terceiro lugar, a interrupgao das relagdes sexuais, situagdo que freqiientemente ocorre neste periodo final, contribui para a elevacdo da ansiedade. Rachel Loifer afirma que as relagdes sexuais devem ser mantidas até 0s dtimos dias por trés motivos basicos. Em primeiro lugar, porque mantém a harmonia conjugal ao_diminuir 98 citimes, tanto os do marido com relagdo ao filho, quanto os da mulher com relagdo aos possiveis casos extraconjugais do marido. Em segundo lugar, porque, sendo o orgasmo a maior fonte de des- carga de tenso do adulto normal, a manutencdo da capacidade orgastica ¢ libidinosa da mulher propicia momentos de prazer, re! xamento ¢ tranqlilidade dentro de um proceso que tem seus aspec- tos ansidgenos. Em terceiro lugar, porque o exercicio sexual mantém a flexibilidade dos miisculos perineais, 0 que facilita a distensao no momento do parto. 1.2.3. Conclusao Tentamos explicitar que a vida psiquica da crianga nao parte de um marco zero com o nascimento. As estruturas psiquicas do pai ¢ da mae ja reservam para a crianca um lugar pré-determinado. Tam- bém 0s conflitos evolutivos nao resolvidos de cada um serao atuali- zados durante a gestagio ¢ terdo importincia fundamental nas ex- pectativas ou fantasias parentais. Ao nascer, a crianca no esté livre para se desenvolver. Ela cresceré com 0 amor e fantasias positivas que os pais nela depositam, mas também reagira e sofrerd as crises decorrentes do lugar persecutério que ocupa nas fantasias parentais. Isto nos deixa algumas ligdes bésicas. A primeira é a de que sé poderemos compreender a patologia infantil se tivermos a com- reensio das fantasias familiares lipadas a esta crianca. A sepunda & a de que uma psicoterapia infantil terd sua probabilidade de sucesso ampliada, & medida que os conflitos dos pais, notadamente 08 correlatos & erianga, possam ser suportados por uma aconselha: mento terapéutico. E em terceiro lugar, muitas patologias familiares € conflitos prejudiciais ao desenvolvimento infantil seriam evitaden com 0 atendimento do casal em uma psicoprofilaxia de parto, 1.2.4 Leituras recomendadas ‘As leituras indicadas neste segundo volume pressupdem o embae samento te6rico tratado no.primeiro. E necessario que os concelter basicos de psicandlise estejam adquiridos. para que « acompante, mento da leitura mais especializada possa resultar proveitoso, 1. Mannoni, M. A crianca atrasada e sua mae. Lisboa, Ed., 1977. A autora, psicanalista teoricamente filiada ao Lacan, analisa o contexto da fantasia familiar e suas implicagdes na patologia infantil. 2. Soifer, R. Psicologia del embarazo, parto y puerperiv. Buenos Aires, Kargioman, 1976, Rachel Soifer analisa neste trabalho, etapa por etapa, as reacdes psiquicas ¢ sintomas existentes na mac, be pai € nos’ filhos, decorrentes da gestagio. O trabalho propoe sinds as bases da psicoprofilaxia da gestagio e parto. 3. Dolio, F. Psicundlise € Pediaria, Rio de Janeiro, Zahar 1972. A autora discute em linguagem simples 0 desenvolvimento ds libido, para em seguida exemplificd-lo com varios casos clinicos, 4. Abrahan, K. Teoria psicanalitica da libido. Rio de Janeiro, Imago, 1970. £ uma coletinea de varios textos:tesricos de Abraham, Neles, Abrahan desenvolve e aprofunda os conhecimentos det por Freud referentes as etapas pré-genitais de desenvolvimento, 5. Segal, H. Introdueao @ obra de Melanie Klein. Rio de Janeic ro, Imago, 1975. A autora, professora de psicandlise do Instituto de Psicandlise de Londres,, apresenta neste trabalho uma sintese dec aulas por ela ministradas sobre Melanie Klein. Este livro ofereee uma visio panorimica e didatica que facilita 0 posterior contate com as obras especificas de M. Klein. Moraes grupo de lecorrentes ados 2 SSO SSSDISSSICS ISS SAS SOS SD OL LO Pee Capitulo 2 Desenvolvimento emocional e social na primeira infancia 2.1 Desenvolvimento fisico na infiincia Clara Regina Rappaport © conhecimento, em profundidade, do desenvolvimento fisico na inffncia no tio importante para o psicélogo. Este deverd, entretanto, ter nogbes bésicas.do tamanho, peso, capacidades senso, Tiais e motoras de cada faixa etéria. Isto porque obviamente o com. Portamento sera sempre decorrente das capacidades desenvolvidas Pelo organismo, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a erianga no tera ainda pensamento conceitual, mas sera dotada de uma inteligéncia sensorial-motora. Assim, ma infancia inicial (0-18 meses) © préprio desenvolvimento intelectual estara dirctamente Ii gado & maturagdo do sistema nervoso central, a capacidade Ue sece. ber e aprender impresses sensoriais, de exccutar movimentos, ela Neste sentido, podemos afirmar que o desenvolvimento fisico ¢ altamente dependente da maturacio, embora posca ser influcnciado Pashiva Ou-negativamente por fatures ambientais, Por atu namo crescimento em tamanho, emergéncia € a controle de movimentos, a integracio das impres, Ses sensoriais, a possibilidade de sentar, andar, controlar os esting. teres, Segurar um lapis, executar corretamente os movimentos da escrita, falar, andar de bicicleta, etc, e que aparecem na mesma Seqiiéncia para todos os individuos da espécie. Houve durante muitos anos uma controvérsia na psicologia a respeito de comportamentos inatos ou aprendidos, da. atuagio. pre, dominante da hereditariedade ou do meio ambiente na determinacio de comportamentos emergentes na infancia e mesmo na idade adultes Esta discussio se mostrou estéril, persistindo hoje um ponto de vista interacionista, ou seja, tanto hereditariedade como meio direcionam © desenvolvimento, Vejamos um exemplo. © desenvolvimento fisico € fortemente dependente do cédigo genético. A crianca a0 nascer traz uma tendéncia para ser alta ou baixa, gorda ou magra. Estar Potencialidades serio atualizadas ou no em funcdo do tipo de ali ‘mentagao oferecido a erianga, da pratica de exercicios fisicos e ‘de esportes, da ocorréncia ou ‘nio de certas doengas, ete. Mas, seo ambiente for favordvel, a érianga com tendéncia para alta estatary ré desenvolvé-la. 4a no caso de outras capacidades, como, por exemplo, a lingua- gem, © processo é mais complicado. ‘A linguazem depende também a maturacio biol6gica, pois no hé processo de estimulagao am. Fiental que faca um bebé de 6 meses falar. Mas se uma erianga liver Imaturagao biolégica e nao receber estimulacéo ambiental (cog. nitiva, afetiva © social), poderd apresentar retardamento na aquisigao da linguagem ou vi lal ios tipos de perturbagdo. como eagueiras, dis- 5, eIC. Assim sendo, é preciso ficar claro que o desenvolvimento fisied © motor na primeira infancia € altamentedependemte da maturad gio bioléeica, mas ¢ tambéur suscetivel a atuagdo ambiental | Tone bramos também que exporemos apenas alguns dados fundamente & respeito destes aspectos do desenvolvimento, pois uma descrigao mais detalhada foge aos objetivos deste trabalho e pode ser encen, trada na bibliografia pertinente. © bebé que tem sido, tradicionalmente, visto como sujeito pas- sivo, dependente, apresenta jé ao nascer diversas caracteristicas fish as © comportamentais que direcionam a atividade de outras pessoas A sua aparéncia € fragilidade mesmo tem o poder de elidiar mos adultos comportamentos que o protegem. Assim sendo, as posigoes mais recentes dentro da Psicologia do Desenvolvimento term cone erado 0 bebs como sujcity ativo desde 0 nascimento. A. chegada dde um bebé vai exigir uma adaptacio em termos emocinais ¢ som milia © esta adaptagio Portamentais de todos “os elementos da Gcorrerd ei fungdo de caracteristicas de personalidade dos adultos ou de outras criancas da familia, mas também daguelas } presentes NO bebé. Sabe-se que certas cafacteristicas como maior Ou mence I de atividade (dimensio da personalidade denominada tempe. Tamento por alguns autores), ritmo de sono, alimentagio, etc., estio Presentes logo apds o nascimento apresentando variagoes individuais Exemplificando, alguns bebés. dormem muito e choram pouco (© que € bastante freqiiente nas meninas), enquanto outros dormen menos c cloram mais (principalmente os meninos). Obviamente cera Inais fécil para uma mae, notadamente a primipara, adaptar-se a uma crianga trangiila. Aquele bebé que chora muito, solicita excessive, mente a presenca da mie, impedindo-a de dormir, realizar trabalhos 23 domésticos ou outras atividades, pode em alguns casos levar a mic (€ 0 pai) & exaustio, resultando dai_um sentimento consciente ou inconsciente de rejeicio — ¢ culpa (Bell, 1974). Ora, ja vimos que as primeiras semanas de vida sdo fundamentais no estabelecimento da ligagio afetiva mae-crianga. Se a crianca € particularmente dificil (como no caso de um excesso de choro e de solicitagio) este vinculo poderd ter aspectos negativos. E importante considerar que a quali- dade do vinculo mae-crianca nio depende apenas de caracteristicas de personalidade da mae, mas também daquelas trazidas pelo bebé ja ao nascer, ¢ da interagdo destes fatos. Explicando melhor podemos Verificar que determinadas caracteristicas de uma crianga se tornam iceis para uma mulher mas no o sio para outra, como por exem- “plo 0 sexo da crianca. Parece comprovado que os bebés masculinos, embora mais desejados pelos pais antes do nascimento, sio geral- mente mais ativos ¢ mais exigentes do que os bebés femininos (ge- ralmente mais déceis). Mas, nem todas as mulheres experimentam iculdades para cuidar de seus bebés masculinos, ¢ parece, inclu- segundo dados experimentais (Moss, 1967), que estes so mais jados e acaricisdos por suas mies do que os bebts femininos. Esta questéo da interacdo mae-crianca é sem divida bastante complexa e seri tratada mais detalhadamente nos demais capitulos. Queremos lembrar apenas que no caso de criancas que apresentam deformidades fisicas ou mentais ja nos primeiros meses de vida, 0 estabelecimento do vineulo mie-crianca torna-se particularmente di- ficil para a mic. (Isto sera facilmente entendido se considerarmos todas as fantasias presentes durante a gestacio e 0 parto.) Concluindo, lembramos mais uma vez que todos os aspectos do desenvolvimento sao interligados e interdependentes e que a divi- $40 por aspectos (fisico, emocional, social, intelectual) ¢ meramente didatica 2.1.1 Equipamento inicial Existem grandes variagdes no tamanho © no peso dos bebés, bem como no seu ritmo de crescimento. Pesam ao nascer, em média, entre 3 kg € 3500 kg, ¢ tém aproximadamente 50 cm de altura, sendo os bebés masculinos ligeiramente maiores e mais pesados do que os femininos. Os recém-nascidos de mies carentes do ponto de vista nutritive podem apresentar pesos mais baixos. O crescimento em altura e peso é répido e intenso (desde que 4 crianga tenha uma alimentacao adequada), podendo atingir a0 final do 1.° ano de vida 70 cm de comprimento e 9 kg de peso. Ocorrem, nesta fase, grandes modificagdes nas proporgées do corpo (a cabeca do recém-nascido tem 1/4 do tamanho total do corpo, 24 enquanto no adulto esta proporgao é de 1/10; suas pernas sio curtas em relagio ao tamanho do tronco ¢ por isso se desenvolvem. mais rapidamente), na estrutura neural ¢ muscular. Ao nascer, a crianga ¢ dotada praticamente de todos 0s sentidos € “esta biologicamente pronta para experimentar a maioria das sensa- ‘goes basicas de sua espécie” (Mussen ¢ col., 1977). Pode ver (em= bora obviamente ndo identifique qualquer objeto, distingue luz ¢ sombra, acompanha os movimentos de uma luz, etc.), ouvir (6 fre qliente ‘a utilizagdo pelas mies de cantigas de ninar miisica para acalmar os bebés), cheirar, tem_sensibi (onde ocorrem grandes diferengas individuais), ao tato e as mudan- gas de posigao. Quanto ao gosto, se ndo estiver presente no momento do nascimento, iré se desenvolver logo apés (observamos reagées de desagrado quando administramos um medicamento de sabor desa- gradavel a criangas de poucos dias). Quanto 20 comportamento, a crianca ser capaz de chorar em qualquer situago de desconforto, tossir, espirrar, vomitar, sugar, virar para o lado quando sua face for estimulada. Apresentard inti micros comportamentus reflexus que dao indiclo da adequagao-do Sesenvolvimento de seu sistema nervoso central. Alguns destes re- flexos tém valor de sobrevivéncia (como ¢ 0 caso do reflexo de sucgdo) € iro permanecer no repertério comportamental do bebé (transformando-se eventualmente em esquemas sensoriais motores). Outros reflexos que podem ser citados: preensio — consiste em fechar a mao quando nela colocamos qualque? objeto (0 dedo por exemplo); andar — segurando 0 bebé na posigio erecta ele dard alguns passos; nadar. Estes dois ultimos desaparecem enquanto com- portamento reflexo respectivamente com 8 semanas ¢ 6 meses de ‘dade, voltando a aparecer mais tarde como comportamento volun- tario. Outro reflexo interessante que deve desaparecer em torno de 3 meses de idade € 0 reflexo de Moro, que consiste numa resposta ge abrir os bragos, esticar dedos e pernas em resposta a_um som intenso ou a qualquer estimulo repentino e forte, Eo de Babinski, que consiste em curvatura do(ai aior para cima e oS menores se estendem abertos, quando a sola do pé é estimulada. 2.4.2 Necessidades basicas Sono. Embora existam discussies tedricas a respeito da neces- sidade de sono da crianga, sabe-se que swas finalidades basicas con- sistem em regular 0 corpo, manter 0 equilibrio na constituicio qui- + Ver descrigao mais detalhada dos reflexos no item S da bibliografia, mica e preservar as energias do organismo para as atividades sub- seqiientes. 'No 1.9 més de vida o bebé dorme aproximadamente 80% do tempo, em sonecas curtas e irregulares; no final do 1.° ano dormira 50% do tempo, isto é, a noite toda ¢ uma ou duas sonecas curtas durante 0 dia. E dbvio que esta evolucdo sera lenta e gradual. ‘Quanto aos padrdes de sono, as criangas apresentario, desde 2 mais tenta idade, diferenyas individuais em fungao de seu nivel de atividade, drogas anestésicas administradas & mae durante 0 parto € sexo (Iembramos que os bebés femininos usualmente dormem mais tempo que os bebés masculinos). Eliminagdo. A eliminagio das fezes ¢ da urina seri, no inicio da vida, totalmente reflexa ¢ involuntéria, Nos primeiros dias evacuara apés toda mamada e a0 redor da &* semana deveri evacuar 2 vézes a0 dia. (0 tipo de alimentacio, oferecido ao bebé iri influenciar sua eliminagdo e também as. reagdes da gic. Quando 0 bebe recebe aleitamento natural ter4 uma digestio mais completa com movimen~ tos intestinais suaves © suas fezes no apresentario odur desagra- davel. J4 no caso da alimentacao artificial, as fezes apresentam odor desagradavel e todo o processo de troca de fraldas ¢ higiene da cerianca torna-se penoso para a mic. ‘Um problema geralmente associado a eliminagio é a presenga de célicas intestinais. Spitz, apés seus estudos de observacio de bebés e suas mics, sugeriu que aquelas criangas que apresentavam muitas célicas eram filhas de macs ansiosas, que sentiam dificul- dades io desempenho de suas t6féfas maternais. Outros estudos, entretanto, sugerem que a presenca ou auséncia de célicas se deve a ‘uma disposigao temperamental da crianga, ou seja, a seu nivel de atividade. Assim sendo, uma crienga que apresenta ‘elevado grau de célicas no inicio da vida, possivelmente seré hiperativa mais tarde. Neste sentido a interpretagio é inversa aquela dada por Spitz. Isto &, nio seria a ansiedade da mac a responsdvel pelas colicas do bebé. ‘Mas sim o alto nivel de atividade deste (do qual as célicas seriam ‘uma manifestagao) é que provoca a ansiedade da mie, exigindo maior contato no sentido de cuidados, e menos no de interagao social. Fome e sede. Estas necessidades sao fundamentais do ponto de vista psicolégico, porque implicam relacionamento social ¢ emocional (que sera descrito no capitulo referente fase oral). Manifestam-se airavés de choro e de movimentos violentos de todo 0 corpe, Nas primeiras semanas, a crianca ingere pequena quantidade de alimento (que se restringe basicamente ao leite) €, portanto, precisa ser ali- mentada a intervalos curtos (geralmente a cada 3 horas, ocorrendo 26 variagdes individuais na freqiiéncia © quantidade da alimentagao) ‘Ate a década de 40 aproximadamente, a8 macs costumavam ama- ‘mentar seus filhos sempre que chorassem e que este choro fosse inter, Hein coon principios. de instalagio © controle de_comportamenta wm divulgados para os pediatras ¢ o grande publico (em revistas femininas, por exemplo) ¢ as maes passaram a ser orientadas no sentide de manter um horério rigido de amamentagao (por exemplo, cada quatro horas). ‘Atualmente considera-se que. se o bebé tiver uma mae que capta seus sinais e responde adequadamente a cles, a mae saberd quando seu filho precisa ser alimentado. Este, por sua vez, em poucos dias Gesenvolverd naturalmente um ritmo adequado de alimentacdo. Nao hha, portanto, necessidade de se estabelecer rigidamente um hordrio de amamentagao ¢ tampouco de a mie estar sempre. a disposieao. de seu filho, Isto porque, quando a mae sente que deve estar sempre agindo tm funcao do bebé, sem réulizar qualquer outro tipo de atividade, poderd sentir-se frustrada como pessoa ¢ desenvolver uma hostilidads Consciente ou inconsciente em fungao da excessiva exigéncin do bebé. Em torno de 30 dias de idade, 2 crianga se torna capaz de ingerir maior quantidade de leite em cada refeigio, passando a ne~ cessiti-lo aproximadamente S ou 6 vezes por dia apenas. A partir desta época, os pediatras costumam sugerir o inicio da administracao de suco de frutas, e, em tomo de 4 meses. © inicio da alimentacio sélida (sopas, papas de frutas, etc.) Parece estar comprovado que, quando a crianga € slimentada naturalmente, nio hé necessidade de qualquer outro tipo de alimento até a idade aproximada de 6 meses. 2.1.9 Desenvolvimento, psicomotor - © desenvolvimento motor & resultado da_maturagdo de” certos tecidos nervosos, aumento em tamanho € complexidade do sistema nervos central, crescimento dos ossos € miscul6s. ‘S80, por- tanto, comportamentos nfo-aprendidos que surgem espontaneamente, desde que a ctianga tenha condigdes adequadas para exercitar-se ‘Queremos com isto dizer que, apenas em casus de extrema privagt (ou de algum tipo de distirbio ou doenca), estes comportamentos no se desenvolverdo. Criangas criadas em caixotes ou quartos es- curos (por mais incrivel que pareca, tém-se varias noticias a este fespeito) ou em creches de péssima qualidade, onde as criangas s80 mantidas sempre em seus bergos, sem qualquer estimulagdo, nfo desenvolverao 0 comportamento de sentar, andar, etc. na €poca adequada, 20 a PPP E SSD D888 EOE EE Coste (1978) relaciona entre as principais funcdes psicomoto- as as seguintes: desenvolvimento da estruturagio do esquema cor. oral (mostrando a evolucdo da apreensio da imagem do corpo 90 Pipelho ea exploragio e reconhecimento do proprio corpo): eve forgo da precisay © da coordenagao éculo-manual (evolucio da fisugdo ocular; preensao ¢ olhar); desenvolvimento da funcao tonica eda postura em pé; reflexes arcaicos além da estruturacio, espago- temporal (tempo, espaco. distancia e ritmo) Seria importante realgar que esses aspectos de desenvolvimento isico indo oeorrem mecanicamente apenas. Sio_ vivenciados pela J-fSanca (e pela familia) e formam a base da nocdo de eu corporal Sim porque obviamente um individuo, uma personalidade, existe @ partir de um determinado corpo (embora algumas abordagens ainda Pafatizem, disfargadamente, o dualismo mente-corpo) € o que acon- fece neste corpo & apreendido pelo sujeito (através de algum meca- iso. intelectual) € tem repercussoes emocionais. Queremos nos iterir ao conhecimento que a crianga vai tendo de seu proprio corpo, B formagao de sua imagem corporal e aos sentimentos que sao des- pertados por esta o¥ aquels caracteristica, Como exemplo podemos Fembrar a valorizagao que a beleza fisica tem em nossa sociedade Possivelmente uma pessoa bonita teré um fator a mais no sentido Ge desenvolver uma_auto-imagem positiva do que uma pessoa de provida desta beleza. Certas profissies dependem fuadamentalmen {eda qualidade da aparéncia, Outro exemplo que poderiamos lem frat é'o do adolescente cheio de espinhas, com excesso de peso, te, que teri dificuldades em se tornar popular em seu grupo de amigos. "Assim sendo, 20 estudar o desenvolvimento fisico de um be devemos estar atentos também aos aspectos intelestuss, emociona sociais. Sabemos que uma das fungdes bisicas do desenvolvimento na primeira infincia é conhecimento do proprio corpo, ¢ a colocagio Beste corpo entre os demais objetos ¢ pessoas do ambiente circun- dante, A medida que o bebé se auto-explora (olhando para suas “nies, executando varios tipos de movimento, etc.) estard formando lim exquema de si préprio que podemos designar como eu corporal Esta nogio de eu corporal ird incluir também os afetos positives ¢ negativos que o bebé terd a respeito de si mesmo, ¢, como este aulo- neeceito jnicial ih depender fundamentalmente da reacio das pessoas do ambiente (principalmente a mac), vemos que d fay Separagio do estudo do desenvolvimento humano em aspectos © meramente diditica. 28 2.1.4 Bibliografia Ver Bibliografia do capitulo 1, secdo 1.1. fase oral ¢ amamentacio Wagner Rocha Fiori 2.2.1 A fase oral 22.1 A descoberta da afetividade oral ‘As descobertas da psicandlise seguiram uma caminho inverso a0 processo. de evoluGRO. Partindo do estudo das neuroses, notads: 20 rota histeria, Freud descobre que hi, em todo neurético, per, Mrpacdes da genitalidade. Isto 0 Tevou a concluir que hé um padsso lurbaersiidade adulto ou, melhor dizendo, genital, que consti oF ein organizagio afetiva normal. E deste padrio de sexualida: Je desta evolucio da libido para uma genitalidade plena que 0 te em saudavel se define como aquele que é capaz de “amar © pometnar' Amar num senido anplo tanto envolve os prazeres, das \rabaines. sexuais, quanto os da constituicao familiar, procriagio auvigparo ou formagao dos descendentes que viro a sucedé-o, cpa alhar implica nos derivatives sublimados da_sexualidade De um indo, produzir, seja bens ou cultura, € eternizar sua perma- praca no mundo, tal qual o faz na constituicio da geragio Seguin cea Giopresa que se desenvolve, cada produto que. € concluido, cata erica desenvolvida, cada colheita obtida simbolicamente cor. erMondem a um produto seu, que permanece. que 0 Serve, que serve seiemupo ¢ que serve a preservacao da vida, De outro lag. 6 tea, 20 BruPe cata a mobilizagdo dos processos secundarios do Ego, ¢ batho rePmental € suporte para que as sublimagoes se realizem. £ fermitir que a sexualidade primitva evolua nao sO para a sexualidade Penital, mas face & plasticidade da libido, evolua, para satisfaret senagoes produtivas e adequadas & sobrevivéncia do grupo hi ‘mano. ‘Estes padres cram perturbados nos neuréticos e, progres sivamente, Freud passa a observar que a sexualidade nio partia do Std para brotar espontaneamente no adulto. Freud descobre_ave nade feacia as fantasias sexuais j4 se manifestavam, Era_uma. sexta. Maat featasiada que se organizava em toro do_grupo familiar, A configuragia do triangulo edipico propiciava a onganizagao” de base fara ‘a sexualidade adulta, Os quadros hstericos, taziam come, pane Fara a deuma vivencia inadequada deste periodo de sexualidade 29 JAMA AAA AAA 2 OO en infantil, posteriormente denominado de fase falica. Assim, a partir de um trabalho clinico, primeiro ficam identificados os padres da genitalidade adulta, e depois uma fase infantil, que é bisica para sua Srganizagao. Entre os dois se estabelece um perfodo onde a sexua- fidade € contida, ou melhor, reprimida, denominado periodo de laténcia, ‘Com a continuidade destes tratamentos e com a tentativa de compreender ¢ tratar quadros mais graves — au seja, a neurose Sbseesiva, a parandia, a melancolia e a propria esquizofrenia — foram sendo descobertos tracos de que ja havia uma organizacio ‘afetivo-sexual infantil anterior A sexualidade centrada nos genitais. Verifiearse que o conjunto-de_instintos voltados para o prazer, que chamamos de libido, tinha em cada etapa evolutiva da vida uma Correlagdo com as estruturas biolégicas que formavam o centro do processo maturacional no momento. Assim sio descritos tragos de Drganizacdo psiquicos correspondentes aos segundo ¢ terceiro anos de vida, periodo tipico do dominio muscular voluntario, do andar, do falar, das primeiras producdes pessoais, que na fantasia infantil Se acham protundamente assuciadus com 03 primeiros produtos que tla pode expulsar ou reter em seu corpo, ou scja, as fezes e a urina. ‘Asociados aos fracassos nestas aquisigdes, a psicandlise descobre a forganizacdo de niicleos patogénicos que mais tarde poderio desen- cadear a neurose obsessiva e a parandia. ‘Os tracos afetivos da organizagao infantil mais precoce, refe- rentes ao desenvolvimento do primeiro ano de vida, foram os que apresentaram maior dificuldade de serem discriminados ¢ com- preendidos. Em primeiro lugar, por situarem-se no periodo mais Primitivo da vida, sendo portanto mais dificeis de serem rememo- Fidos. Em segundo lugar, porque este periodo corresponde a um periodo pré-verbal da exisiéncia, havendo portanto a necessidide de ima evolugdo na tcoria dos simbolos para sua compreensio, Em terceiro lugar, porque nos é dificil, como adultos, sendo por um grande esforco de introspecgio ¢ imaginagio, compreender 0 sentido Gas emocées infantis. E finalmente porque, embora estes tracos fstejam presentes nos. adultos, s6 com 0 desenvolvimento das técni- cas ludoterépicas, notadamente © trabalho de Melanie Klein, com a psicoterapia de criancas pequenas, que se pode estar mais proximo Ga organizacio afetiva inicial. A_organizacio_afetiva do_primeizo ‘ano de vida, periodo denominado pela psicandlise de fase oral, ters Sua organizogio basica proposta por Freud. Karl Abrahan se deter em seu exame, discriminando melhor seus mecanismos ¢ modali- Gades de relagio. Melanie Klein, notabilizada como analista de criangas, dard o grande modelo tedrico de compreensio deste periodo. 20 2.2.1.2 A organizagao da libido 0 reflexo de suegio inato, sendo desencadeado pela coloca- ao do mamilo ou outro objeto na boca da crianca. Um toque rea- Tizado com 0 dedo, no rosto da crianca, far’ com que esta se volte para tentar sugar 0 objeto que a esta tocando. Os toques em outras Fegides do corpo com freqiléncia provocario o mesmo reflexo. De uma maneira geral, podemos deduzir que, biologicamente, 0 impulso Westinado # slimentagao € um fator central da organizacio infantil inicial, E é exatamente a0 nivel dos reflexos alimentares que a busca de adaptago ao mundo e a procura de prazer sio profundamente correlacionados. Outros grupos reflexos coexistem neste momento. Dentro dos reflexos posturais vemos que a crianca j possui estrutura automat zada para o andar. Um recém-nascidio, seguro pelas mios ¢ condu- tido de pé para a frente, apresentara a coordenagio alternada € teflexo do movimento de pernas. Ha um niicleo reflexo, posterior mente dominado pela organizacao voluntiria, sobre 0 qual se estru- turard © andar. O reflexo ténico-cervical-assimétrico do recém-nas- ido, que 0 deixa na classica posicao de exgrimista, ou seja, tertinho, Com uma perna encolhida ¢ uma mao diante do rosto, serviré de Suporte para as correlagdes mAo-boca ¢ conhecimento da mao, dados fundamentais para as praxias iniciais. Mas este grupo de reflexos ndo tem a conotacio de prazer apre- sentado pelos alimentares. O mesmo se pode dizer dos reflexos defensivos. Por exemplo, diante de um ruido forte o bebé se encolhe rapidamente e em seguida atira as pernas e bracos para fora. Nao é ilieil ver @ correlagéo com nossos processos defensivos fisicos onde, ‘num primeiro momento, nos protegemos ¢, num segundo, tentamos expulsar a fonte da agressao. Esta postura defensiva fica ainda mais lara quando picamos a planta dos pes de um beb? com uma agulla Reflexamente cle retisa o pé. Mas, sc este pé estiver seguro, ele encolhe a outra perna ¢ em seguida a estica na diregio do pé magoado. Parece-nos claro que todos ‘os grupos reflexos esto ligados ao pro- gressivo processo de construgao do real, notavelmente estudado € escrito pelo grupo de Piaget. Mas o vinculo do prazer, suporte para (© desenvolvimento da afetividade, ¢ neste momento uma correlago oral. E em cima do prazer inicial, da satisfagdo tida com a ama- mentagdo, que se aprender a amar ¢ que se aprenderi a desenvolver fos vinculos de amor em seguida dissociados da exigéncia bioldgica Ihisica de alimentagdo. Freud organiza a descrigio das fases de evo- lugao da libido em seu Trés ensaios para uma tcoria sexual (1903). Neles, o termo fase oral ainda nao aparece, mas Freud ja descreve vérios aspectos da afetividade oral, estruturados sobre a. amamen- a ete are ee eee et ee ee eer ee Tt ee Ce es ee ee tagdo. Dé como suporte as descrigées efetuadas pelo pediatra Lindner onde os vinculos de prazer ligados & amamentagao sdo excepcional- mente bem descritos. Quase que apenas Ihe falta uma sintese te6rica para se antecipar a Freud. Mostra Lindner como todo envolvimento, a expresso de prazer ¢ éxtase durante 0 processo de amamentagao sto similares as manifestagdes orgisticas do adulto. ‘Vimos observando até agora que, tanto ao nivel dos reflexos quanto ao nivel dos vinculos de prazer externamente_ percebido: ‘organizagao oral é o elemento central da motivacao infantil inici Quando utilizamos o termo motivacio, temos claro que estamos crian- doa impressio de uma dicotomia no ser humano, dicotomia que teria, diante das situagdes de vida, de um lado a capacidade cogni- tiva de elaborar e resolver problemas e, de outro, o impulso que da a energia para que a situagdo de vida seja enfrentada. Nao cremos Pessoalmente nesta dicotomia humana, mas a0 nivel dos atuais co- nhecimentos da psicologia, Piaget (e seguidores) emerge como o tedrico: da construgio do real, portanto da evolucio da cogni¢io humana; ¢ Freud e seguidores sio os responsiveis pela descricdo evolutiva normal © patoldgica: da afetividade. Nesta dimensao ate- tiva, 0 vinculo oral € claramente percebido como 0 ponto central do vineulo humano de prazer. ‘A evolugao da libido & portanto, o tema central do desenvol- vimento para 2 psicanilise. “A fase oral é entéo definida como a etapa de desenvolvimento onde a libido esté organizada sob 0 pri mado da zona erdgena oral, dando como modalidade de relacao a incorporagao. Isto significa que 0 centro da organizagio afetiva esti determinado por processos introjetivos. Mamar e sentir prazer é sentir que o leite é bom, que o scio € bom, que a mac é boa e que (© mundo é bom. A sua sensagio de que esta bem ¢ correlata a de ter colocado dentro de si objetos do mundo externo que sio bons, O seio e a mie podem ser sentidos Gomo bons porque foram incorpo- rados. A incorporagao é a modalidade primitiva da introjecao, por- tanto dependente de referenciais concretos. Por isso, 2 maternagem é fundamental para que a crianca se sinta adequada, amando ¢ sendo amada. O vinculo bésico da’ matenagem € a amamentagio. Erik Erikson diz que neste momento a crianga ama com a boca e a mae ama com o seio. 2.2.1.3 As etapas orais Karl Abrahan, psicanalista do grupo freudiano, aprofunda-se nas idéias iniciais de Freud sobre a fase oral e nela discrimina duas ctapas basicas de desenvolvimento da libido. A primeira é chamada de fase oral de sucgao, e corresponde a um periodo de relagées 32 afetivas pré-ambivalentes, que cobrem basicamente 0 primeiro. se- mestre de vida; ou, num correlato bioldgico, vai do nascimento a0 periodo inicial da denticdo. O segundo semestre do primeiro ano cor- tesponderé a etapa oral sddico-canibal, iniciada a partir da denticao, onde as fantasias agressivas serio correlacionadas com a percepcio, do objeto inteiro, ou seja, com o surgimento da aibivaléncia (a mesma mae é boa € m4), € com a denticio, ou seja, a percepgio do primeiro momento de agressao ou destrutividade real da crianga. A etapa oral de succao A ccrianga funciona basicamente incorporando 0 universo que a rodeia, Nao 0 discrimina coerentemente, e 0 mundo de suas cias é © mundo interno das fantasias. No hd vinculos com objetos externos inteiros. Eles so apreendidos de forma parcial e organi- zados pela realidade interna. O que é apreencido & se parte integrante do eu. O mundo é buscado para ser incorporado, reduzindo-se_a algo “digerido”, indissociado dos sentimentos bons ou maus que a relagio desperta, ‘A relacdo incorporativa estabelecida & a base da introjecio. O seio, a mae, as relagdes boas que deles emanam passam a fazer parte do murilo interno da crianga. Ela sente que as coisas que ecebe em seu interior so boas, e sente-se boa. Como o que importa € a realidade interna, este sentimento de amor ou de bom é utilizado para permear as primeiras percepcdes do mundo externo, ou scja, ‘08 objetos percebidos sio sentidos. como bons. Simplificando, 0 processo fica assim: incorporo ¢ me sinto bom, projeto para ver 0 mundo “externo”, porque este s6 é percebido através da minha rea- lidade psiquica: e, portanto, por me sentir bom posto ver 2 minha mae boa; como ew a vejo especularmente, ligo-me a ela. Este pro- cesso, que chamamos de identificagio projetiva, constitui a base da configuragio dos vinculos de amor, da configuragio inicial da iden- tidade ¢ do reassegutamento dos ‘entimentos positivos que permi- tirdo a progressiva evolugéo da libido através das varias fases. Embora a genitalidade domine a organizacdo afetiva adulta, po- demos perceber que varios tracos orais siio mantidos, permeando os relacionamentos afetivos dos adultos. O beijo é ainda o simbolo central do engajamento amoroso. Expressamos nele o trago do vinculo afetivo original mais forte que foi desenvolvido. O beijo nio fecunda, nio é elemento biolégico necessirio para a perpetuagio da espécie. £, sim, vinculo do engajamento amoroso, constitutivo da organizagao afetiva familiar humana, Chamar a mulher amada de “docinho” ou 0 homem de “pao” sio verbalizagdes denotadoras dos tracos orais que permanecem na genitalidade. Isto é igualmente vi- [33 pans PNAS, o> Perper 2 ee ee eS eee ee eS eee -insatisfatéria ow’ insuti lido para a expresso “comer alguém” como indicadora do relacio- namento sexual. Homens mandam bombons para as namoradas. Mulheres prendem os homens “pelo est6mago”; 0 trago oral persiste. ‘Ao nivel masculino, 0 prazer obtido com o seio ¢ mantido, expandindo-se para 0 prazer de se relacionar com 0 corpo © os genitais femininos. A mulher se estrutura como objeto desejado fonte de prazer. Ao nivel feminino, sentir que as coisas que recebe fem sen interior sho boas prepara-a para a sua futura genitalidade receptiva. Receber o homem em seu interior sera sentido como fonte de prazer e gratificacao. A gratificagio oral inicial também pode ter sido sentida como te. Isto eriaré permanentemente a expec- tativa de que reccber 0 mundo externo, ou se relacionar com ele, serd fonte de angistia ou de sofrimentos. Discutiremos algumas destas modalidades quando tratarmos. da amamentagao. Interessa-nos agora a mais grave delas: a esquizofrenia.. Temos examinado que © mundo externo s6 pode ser progressivamente conhecido e amado a partir dos vinculos de maternagem. A crianga pode nascer tio frdgil, tio sensfvel & angustia ou, como dizemos analiticamente, com predomi nancia do instinto de morte sobre o de vida, que quaisquer oscilagdes da maternagem repercutirio como processos destrutivos, fazendo-a regredir ¢ isolar-se em seu mundo intemo de fantasias. Também a crianga com uma propensio normal ao desenvolvimento sadio pode sofrer uma maternagem tao desestruturadora ¢ agressiva, que nao seja_capaz estabelecer vinculos significativos com u mie e, por tanto, com os demais objetos do mundo externo. Nestes casos ocorre um isolamento, Nao ocorre 0 desenvolvi- mento de vinculos, e a realidade externa passa a ser rejeitada, Todo prazer, ou melhor, toda seguranca, s6 pode existit dentro do mundo imtemo de fantasias, O externo nde forma um todo coerente, as discriminagées so fragmentirias e parciais. As apreensoes parciais sio modeladas e integradas em uma realidade interna, de fantasias, que é sentida como a tinica realidade. Os processos mentais si0 0s do inconsciente. O Ego nao se fortalece, © processo secundario nao se estabiliza. O desejo, 0 temor, as fantasias organizam-se como a realidade do pensamento. A configuracéo da identidade nao se pode formar. Este ndo é um fendmeno do “tudo ou nada”. Em maior ow menor grau, todas as pessoas sofreram frustragées orais que as mar- caram de maneira mais ou menos profurida. Estatisticamente 0 pico da incidéncia dos surtos esquizofrénicos esta situado no periodo final da adolescéncia. Isto significa que 0 individuo tem uma certa capacidade para resistir a0s picos mais criticos das angustias iniciais € para continuar seu proceso de desenvolvimento, que pode até 34 aparentar-se normal para a percepgio extema ¢ leiga, Mas um ponto de fixacéo foi criado, ou seja, grande parte da energia da libido foi imobilizada neste momento. Os desejos nao satisfeitos con- servam-se sempre, como uma energia presa que nio pode ser cla- borada. A represséo que se forma, para nao permitir a emergéncia dos desejos ou da destrutividade que € sentida junto com eles, imo- biliza outro tanto de energia. Com isto, ficam também presas a este ponto as fantasias deste momento e as’ modalidades de relacdo com ‘© mundo que o caracterizam, ¢, mais particularmente, das. defesas que foram mobilizadas contra’a angistia. Embora o desenvolvimento aparentemente prossiga, o individuo se torna frégil. Parte de sua energia vital esté imobilizada, ¢ seu desenvolvimento prosseguiré sendo estruturado pela energia restante. © Ego sera mais frégil e nao terd tanta forga para enfrentar as fu- turas crises. Assim, ndo é que a estrutura narcisista ¢ cindida da crianga permanera linearmente. Melanie Klein_mostra inclusive que 9 pensuientainfaiBT € PHEBUCD) mas neste mémento ito representa uma etapa adequada do desenvolvimento infantil. E exatamente 0 que Freud chama de narcisismo_secundério que iri configurar a doenga. Freud utiliza um correlato bioldgico para exemplificar 0 proceso. A ameba € uma massa fechada. Emite pseudopoder, para vontactuar ¢ incorporar os objetos extemos, que sdo trazidos para dentro dela. Mas enquanto a ameba vai permanentemente fazendo suas incorporagdes por este contato, 0 psicético recolhe para dentro de si as apreensdes externas, recolhe suas possibilidades de novas ligagdes, ¢ 0 mundo extemo perde o sentido A etapa oral-canibal Este segundo periodo oral é introduzido na obra de Freud por Karl Abrahan, Se antes a crianga apenas incorporava, ¢ suas moda-_ lidades agressivas existiam apenas no plano da fantasia, agora, com a vinda dos dentes, # agressividade seré concretizada. Os dentes surgem rasgando as’ gengivas, provocando dor, febre e angistia. A oposicao do primeiro dente com as gengivas fere. O dedo é levado a boca e mordido, e a sensacdo de morder ¢ ser mordido traz_ a percepco de que concretamente se pode destruir. Os alimentos so mordidos e triturados para serem ingeridos. O seio da mie se retrai com a mordida, e concretiza-se a fantasia de que a agressividade destruiu 0 seio, ‘a. mae, 0 objeto de amor. (© procesto é em si adaptativo, como qualquer procedimenta humano caracteristico. N&o 0 fosse, ¢ 0 padrio se teria extinto, ou a propria adaptacio da espécie estaria em perigo. E necesséria certa dose de agressividade para entrar no mundo, atacé-lo em suas opo- 35 POPPI ID PPGVPECCD SCV OCUrvruwrwww + sigdes € moldé-lo as necessidades do organismo. A agressividade faz parte do desenvolvimento do processo secundério. Mira y Lopez ‘em seu modelo de teoria da personalidade, suporte te6rico de seu Psicodiagnéstico Mio-Kinético (PMK), 0 termo combatividade para definir a adequada elaboragdo da agressividade nas relacées, com 0 mundo. As fantasias destrutivas podem, porém, predominar. Isto ocorre sempre que a angistia predomina sobre 0 amor. que a dor predo- ‘mina sobre 0 prazer. A relagdo com o mundo passa a ser sentida -omo_uma relagio onde tudo o que se_consegue é atacado e des- ruido, A amamentagio perdida € 0 seio que foi incorporado e esiruido.-A me pode ser perdida_ou pela desiralcao. ou por Set ;protegida do contacto destruidor. Nada satisfaz porque, se incorpo- ado, foi_desituido_e nao serve mais) Muitos adultos vivem dentro desta modalidade. Discutiremos os tragos desta modalidade de incor- Poracio com destruigéo quando tratarmos do desmame, Agora nos prenderemos a organizaco da dimensio mais grave desta modalida- de, ou seja, a melancolia! ‘A melancolia esta estruturada dentro da modalidade de incor- poracdd-tom desiruigdo. A dimensao de destruir apresenta, ao nivel Eramtsie, ume modaiidade dupla, De um lado, 0 sealimento de que somos’ maus ¢ destruidores, ambivalente ao sentimento sempre existente de que somos bons. Isto na pratica apareceré como um sentimento simultinco de destruicio ¢ de culpa porque, paralelo dio, existe o amor pelo objeto destruido, Logo, o objeto de relaca seri ambivalentemente estruturado como um objeto mau © bom a0 mesmo tempo. Como estamos dentro de uma modalidade oral, por- tanto introjetiva, isto significa que, quando o objeto ambivalente atacado, ou seja, na crise de édio ou de destrutividade, 0 objeto é Cindido e seu aspecto mau ¢ introjetado. Por exemplo, a mae ¢ exter- namente preservada € idealizada como tendo apenas caracteristicas boas, ¢ a mae mé é introjetada. Normalmente o que introjetamos sentido como nosso, ou seja, a introjecio é seguida pela identifi- cago. Isto explica a estrutura autodestrutiva do melancélico. Ataca permanentemente o objeto mau que foi introjetado e com o qual se identifica. A estrutura superegdica & rigida e os ataques autopuni- tivos e a autodepreciacdo acusatéria constituem, portanto, uma compensacao pela destrutividade. © sentimento de compensacao era prazer, ¢, portanto, 0 melancélico goza sua autodestruigao. O modelo é similar as procisses medievais de autoflagelamento. onde a dor € prazcirosa, porque redime a maldade ¢ 0 pecado. A onipo- téncia, como caracteristica primitiva, estard presente. Jé que nao pode ser 0 maior objeto de amor, seré um monstro de destrutividade. 36° © melancélico grave, em seus delirios, sente-se responsivel por toda maldade do mundo, Abrahan mostra que para a emergéncia da melancolia so necessairios virios fatores, cada um dos quais podendo isoladamente Pertencer a qualquer estrutura patolégica. Sao eles: 1) Um fator constitucional, A maior ou menor forga dos ins- tintos de vida, ow seja, uma predisposi¢ao inata para o desenvolvi- mento, poderd em maior ou menor grau enfrentar ou sucumbir as rustragdes durante 0 desenvolvimento dos vinculos. 2) Uma fixagio da libido no nivel oral. A organizago oral exacerbada fixaré uma modalidade onde toda troca é oral. Encontra- ‘mos estes tracos nos prazeres anormais no ato de comer, nas mani- pulagdes da boca e maxilares que acompanham as tarefas dificcis, ou seja, & necessario um prazer oral diante de cada dificuldade. 3) Uma grave lesio ao narcisismo infantil, provocada por sucessivos desapontamentos amorosos. Aqui a fragilidade constitu- cional e a fixagio oral Somam-se as frustracdes reais ou fantasiadas. {Um desmame inadequado, a vinda de um irmao, os afastamentos da mae, as intemnagdes. A’ frustrayau exacerbara as modalidades de- Cfensivas orais. 4) A ocorréncia do primeiro desapontamento amoroso antes que os desejos edipianos tenham sido superados. Dentro da evolucio da libido, a crianga evolui para a configuracao do tridngulo edipico. Neste momento, as frustracdes provocario uma regressio dos vinculos edipicos & modalidade oral-canibalesca, ou seja, os processos de cisio, introjecdo ¢ identificagao recairdo macicamente sobre os objetos fun damentais de amor: amie e 0 pai 5) A repeti¢io do desapontamento primatio na vida ulterior. E 0 que temos indicado sempre como o fator desencadeante. O dese pontamento amoroso, 0 fracasso financeiro e os acidentes fario com que a regressio seja estabelecida, permitindo a emergéncia do surto melancélico. Uma angtstia atual, que nio pode ser suportad: desencadeara a_regiessa0.—— ‘A angistia do melancélico no pode ser indefinidamente su- Portada. Os processos onipotentes ligados 3 autodepreciago e auto- destruicao sdo periodicamente revertidos para a modalidade onipo- depressio. Se para o melancélico 0 superego era exacerbado, para 0 tentécontraria, ou. seja, a mania surge como uma defesa contra a \ Smamiaco ele desaparece, ¢ 0 ego frigil cede aos desejos vividos como realidade. A identificagio com 0 objeto destruido é negada © surgem apenas as dimensdes de amor, felicidade e poder. Ao ciclo destas ‘oscilagées alternadas de melancolia e mania damos 0 nome de psicose maniaco-depressiva. 37 h : : , ? y , ° 2.2.2 Amamentacdo ‘As implicagdes da amamentacdo como vinculo central da mater- nagem ja foi discutida em varios niveis te6rico-evolutivos. Tentare- mos agora examinar alguns aspectos priticos da atuacdo materna ¢ suas conseqiiéncias no desenvolvimento infantil, Em primeiro lugar, € importante ter claro que estam< je uma modalidade oral, ‘ow seia. as fantasias ligadas & amamentagio sio o niicleo da mater- fagem, mas nd0.a propria matemnagem, Estas fantasias so org zadoras do_mundo interno da_crianga e correlacionam-se apenas fragmentariamente com a realidade externa e objetiva. Se 0 desen- Volvimento fosse diretamente correlacionado ao processo externo obje- tivo, a ctianga seria tio mais ajustada quanto maior fosse a quanti- dade de leite produzida e a duragdo do aleitamento. Isto nao é verdade. O relacionamento com a mac é primordialmente qualita- tivo, Nao importa apenas dar p seio. O que importa ¢ como o seio € dado, como as solicitagGes paralelas da crianga sio atendidas, ou Seja, ndo se esté apenas incorporando o leite da mae, mas também sua voz, seus embalos, suas caricias. O bebé discrimina mais a mie pelo cheiro e pela voz, do que pelo olhar, visto que 0 rosto humano $6 serd discriminado no 4.° més. As caricias da mde no s6 propor- cionam intensa sensagio de prazer, como vao progressivamente dando ferianca a configuragio de seu proprio corpo; portanto, vao auxi- Tiando a configuragao do esquema corporal. O eu da crianga comeca a configurar limites, ou seja, a ter existéncia propria pelo contorno que Ihe é dado pelo corpo materno. ‘AS criancas criadas em instituigdes, apesar de todos os cuidados alimentares, higiénicos e médicos, andam_tardiamente, falam tar- diamente, possuem um esquema corporal prejudicado, ém dificul- gades de estabelecer ligacies significativas e como fonte de satisfagio sam freqlentemente condutas auto-eréticas, portanto regredidas. Por exemplo, os balanceios ¢ as ritualizagdes ritmicas de movimen- tos. O leite ¢ 0 asscio néo sdo em si suficientes para o desenvolvi- mento sadio. Mamar deve ser acompanhado de um ritual prazeiroso de conhecimento de uma figura amada ¢ permanente. O mesmo é Valido para 0s. cuidados higignicos © 0s jogos. Por isto fracassam tanto os programas institucionais onde voluntarias esporidicas vio brinear com as criancas. Estamos frisando que, a0 nivel da figura materna, 0 ponto fundamental & a presenca de uma mulher que seja figura estavel, que seja capaz de dar amor © que seja, a0 nivel qualitative, capaz de compreender € atender as solicitagdes bisicas feitas pela criarya. Nao utilizamos 0 termo mie, mas sim figura materna, porque este é 0 ‘elemento fundamental para a crianca. Nao importa se a mae ¢ verda- 38 deira ou nao a0 nivel biolégico. Importa, sim, que seja uma figura capaz de criar lagos estveis de amor ¢ de confianga na relagao estabelecida com 0 bebé. Alguns padrées bisicos de relacionamento, como os estabelecidos com a mac, com 0 pai e com o tridngulo edipico, sio estruturas inatas da crianga, que para serem desenvol- vidas requerem basicamente a existéncia de uma mulher ¢ de um homem adequados ¢ estéveis. ‘Da mesma forma, nao é dado iinico partir-se de que 0 seio real seja indispensivel para o desenvolvimento psicolégico sadio. A ma- temagem é um processo global de envolvimento mae-filho. Caso al” mie nio possua leite, ou mesmo em caso de filho adotivo, é 0} relacionamento amoroso e corporal como totalidade que_alimentara| fs processos introjetivos da crianca, Portanto, mesmo nao havendo| Ieite no scio, a mae seré adequada se puder amar e se puder repetir| todo o ritual existente na amamentacdo real. Tomar 0 filho a0 colo nu € dar-Ihe um contato pele a pele prazeiroso € configurador. Falar com cle, embalé-lo, acaricid-lo, tudo the dari nio s6 a propria configuracio, mas também o ajudard a organizar e amar 0 objeto primordial de toda sua evolugdo afetiva: sua mac, Com freqliéneia, a auséncia de aleitamento matey esta coite Jacionada a problemas emdtionais no desenvolvimento. Julgamos que nao € especificamente a falta do leite do seio que provoca estes problemas, mas exatamente por existirem, ao nivel da mae, distarbios emocionais. sérios, cujos sintomas implicam na rejeigao do filho, é que, por somatizacio, 0 leite desaparece. Mesmo a0 nivel da sabedo- ii popular conhecemos a expressio indicadora de que “o leite secou" em conseqiéncia de susto ou frustragao violenta. As angis- tias inconscientes poderao bloquear a formacio do leite. Sabemos também que na origem do aleitamento ha influéncias. hormonais (pré-lactina) © de estimulagio local. Por exemplo, em algumas tiibos séo as mulheres idosas que amamentam todas 3s criangas. A constante estimulagéo local mantém o fluxo de leite quase que inde- finido. Também na Idade Média, as damax de leite cram escolhidas entfe mogas solteiras e sem filhos. Como amamentar nio era uma fungio nobre, tao logo chegava a hora de nascer um sangue azul, as donzelas punham os irmaos menores (e os namorados) a prover estimulagio local. O leite jorrava, cla e sua familia eram levadas para o castelo, resolvendo-se a sobrevivéncia da familia. Queremos com isto mostrar que 0 prazer que a mulher tem de dar 0 seio e a estimulagao resultante das amamentacdes regulares constituem a base da manutengio do leite. Ora, as mulheres que evitam dar 0 seio, que o retiram ao primeiro intervalo da crianca, que desnecessariamente ficam buscando alimentagao_complementar {que espace a amamentagao, sio mulheres que em geral tém este de- 39. EEN NN TOT TY OD YO OY ER EY EX EN FY EY FY EY” een , sempenho como sintoma de uma rejeigio inconsciente da crianca. Estamos ressalvando, é l6gico, os casos onde a miséria e o trabalho materno impedem 0 processo. E portanto_julgamento precipitado atribuir_os_problemas-psicolégicas_evolulivos_A_caréncia de~aleita: ‘mento materno. Pensamos que 0 que faltou nao foi o leite, mas a ‘ie, lo sentido pleno da palavra. Podemos voltar as instituigaes, onde o suporte da mamadeira € 0 travesseiro, onde a enfermeira nao se relaciona com uma crianga, mas com vinte ou trinta trasciros screm lavados. A crianga nio evolui, nio porque o alcitamento seja artificial, mas sim porque inexiste a mulher permanente que ama e que se engaja na relagdo com o filho. Em seu processo de desenvolvimento, a crianga apresenta uma Seqiiéncia definida na evolugdo de seu mundo psicoldgico, ou seja, ‘© momento de interrupgio da amamentacdo coneretizara diferente posturas no relacionamento com o mundo. Posturas estas que, embo- ra iniciadas nestes momentos, tenderio a se expandir para todo desenvolvimento futuro, ou seja, todas as modalidades de relagées futuras poderdo estar permeadas por este processo. Teremos, entio, quatro momentos diferenciais na interrupcao da amamentacio, a) interrupcao correta; ') interrupgao precoce; ©) interrupcao no surgimento da denticao; 4) amamentagao anormalmente prolongada, 4) Interrupgao correta E senso comum, tanto para a pediatria quanto para a psicolo- gia, que a amamentacio deve perdurar até 0 sexto més. © desmame deve comegar por volta do terceiro més, quando ¢ iniciada a intro- dugéo de sucos © papinhas. Progréssivamente as refcigdes infantis o yao substituindo, até que ao final do sexto més 0 seio pode ser deixado. © seio, primeiro objeto de amor € ponto de partida para o desenvolvimento das relagdes objetais, nio pode ser perdido, antes que outros objetos possam ser amados € valorizados para servirem de suporte a esta perda fundamental. Por volia do terceiro més a cnanga jé esté estabelecendo suas relagdes com a mae, Para Melanie Klein, situa-se entre o terceiro e quarto més a passagem da posigéo esquizo-paranéide para a posicio depressiva, ou seja, as apreensdes cindidas passam a ceder lugar & apreensio de obietos inteiros. O relacionamento prazeiroso, ainda que dependente do seio, jé pode ser efetuado com a mae como um todo. O pai passa a ser percebido, constituindo nova fonte de relacionamento prazeiroso. Os alimentos 40 {que séo progressivamente introduzidos também dio prazer. Os brin- quedos comecam a existir como fonte de prazer, embora neste mo- mento s6 existam quando dentro do campo perceptual da crianca © objeto permanente, ou seja, a capacidade de manter na meméria os objetos que saem do campo visual s6 estaré estabelecido aos ito meses. Mas, mesmo assim, os brinquedos © os jogos corporais sao fontes de prazer. Podemos perceber entio que o seio s6 pode ser perdido quand: cexistirem outras fontes de satistasio c ligagdes afetivas que compen: sem a perda. O desmame progressivo permitiré que os novos vinculos sejam progressivamente estabelecidos, & medida que o vinculo inicial com o seio for sendo reduzido. A crianga sentiré a perda. O des- mame €, provavelmente, a maior frustragio de nosso desenvolvi- mento afetivo. Se perdido, porém, o seio, restam mae € pai amoro- sos © adequados; se perdido o leite, ganha-se a possibilidade de todos os outros alimentos; se perdido o prazer de sugar, ganha-se © de morder, o de jogar; a frustragao & assimilada porque 08 ganhos so maiores do que a perda. b) Interrupeao precoce Quando a amamentacdo ¢ interrompida antes que surjam outros vinculos de prazer que permitam suportar a frustragdo, 0 sentimento jue fica & um sentimento de caréncia, uma sensagio de que € pre- iso comer, & preciso incorporar ¢ de que o que & recebido nao basta. Para’ preencher estar falta, € preciso sempre buscar relagdes ‘onde as pessoas ou objetos sejam um eterno vertedouro de prazer ¢ alimento, Quando este sentimento se acentua, ¢ isto poderd ocorrer tanto por uma fragilidade constitucional da ctianga, quanto porque a maternagem como uum toda nao é sentida como satisfatoria, tere= ‘mos o desenvolvimento de uma postura oral captadora. a tipo oral captatlor permanece na cterna expectativa de poder apenas se amamentar em todas as relagoes que estabelece. O cacador de dotes ou genrocrata & um exemplo social tipico. Nao pode esta- belecer vinculos afetivo-genitais com as mulheres, ou melhor, sequer as pode perceber direito. S6 pode vé-las como fonte de riqueza, de seguranca econémica € social, de prazer culindrio. O céften € seu desdobramento psicopatico..Também funcionam assim as. mulheres que avaliam seus homens pelos carros, j6ias e propriedades das quais, poder usufruir. Os glutdes, os beberrdes, os toxicémanos participa também da postura de uma eterna tentativa de satisfagio oral. Cum- pre salientar que como regra geral sio todos sexualmente frios. Nao desenvolvem a modalidade genital a ¢) Interrupgao no surgimento da dentican 40 surgimento da dentigio marca o aparecimento da concreti- zagio da agressividade e da destrutividade. 14 discutimos anterior mente estes aspectos. Ao nivel da amamentagio, € um isco, para a evolucio psicolégica da crianca, que o desmame seja interrompido em conseqiiéncia das mordidas. Ao nivel do pensamento infantil, o proceso € sentido como se a crianga, ao tentar se relacionar com 0 objeto de prazer, 0 tenha destruido ¢ perdido. A erianga posta de mamar, € neste momento gosta também de morder. Ao morder, a mae retira 0 seio. Sucedem-se mordidas e interrupsdes, até que 0 seio ¢ definitivamente retirado, Fica o sentimento de que o objeto de prazer foi usado e destruido. - A Tixagio desta modalidade de incorporagio com destruigio poderd produzir tipos sociais eternamente insatisfeitos com suas con- quistas. Uma vez conquistado um objetivo, € como se este houvesse Sido destruido e tivesse deixado de existir como fonte de prazer. s eternos primeiranistas de faculdade so em nosso meio social um exemplo tipico, Luta-se por uma faculdade de engenharia, por exemplo, que € abandonada apos © primeiro ano; sucedem-se entra- das jgualmente insatisfatSrias em dois ou trés cursos diferentes até que por pressio da vida acaba-se por permanecer em algum, mas sem \é-lo definido realmente como sua fonte de prazer profissional. Aquilo que foi conquistado ¢ imediatamente desvalorizado. As mulheres so deslumbrantes ¢ idealizadas até a primeira noite. Efetuada a con. quista, elas ndo mais merece valor ¢ as energias sio voltadas para outra conquista. O carro dos sonhos vira pogo de defeitos ta logo seja adquirido. preciso buscar outro modelo, porque 36 permane- ce bom ¢ idealizado enquanto nfo destruido pela posse. Paralelamente, esta_postura de devorar_e destruir tudo que é amado © conquistado pod “a0_isolamento. Ha uma espécie de-temor-difuso-(porque a fantasia e a modalidade de relacdo sio inconscientes) de se destruir os objetos amados. Eos objetos de amor mais significativos nfo podem, portanto, ser trazidos para a destruigdo. O amor verdadeiro ndo seré declarado, para que o par- ceiro 0 amor sejam preservados. 4) Amamentacéo anormalmente prolongada A amamentacio s6 poder se estender sea crianca refrear seu impulso para morder. Nao ha mamilo que resista an eorte dos pri- meiros dentes. Mas quais as conseqiéncias de se bloquear o apare cimento da agressio? Em primeiro lugar, a agressividade oral nao Surge gratuitamente. Todo processo de competigao na luta pela vida 42 implica numa atuagao agressiva. & preciso que o boi seja abatido Para que tenhamos a carne, temos que derrubar a floresta para cul, livar @ terra. Quando lutamos por uma vaga num emprego ou numa universidade, conquisté-la significa derrotar os que nio'a consegul, ram. A agressividade € 0 elemento fundamental da combatividade, ou seja, @ capacidade do ego de exercer 0 processo secundario, de cfetuar conquistas para que 0 desejo possa ser realizado implica a Participago de um impulso agressive. Sabemos também que 0 desenvolvimento humano possui_pe- riodos criticos, como 0 processo de “estampagem” nos animais, Ure curié que nao tenha ouvido regularmente o canto da espécie durante @ Periodo de inicio de seu canto, jamais o aprenderé adequadamen, ic. Passado o momento de uma aquisisdo, ela nio poderd ser adequa, damente estabelecida em um periodo posterior. E este é 0 momento Ge organizacdo da agressividade real, é 0 momento de morder para se valinentar. Vedando-se sua manifestacio, corre-se 0 risco de se extinguir © impulso para competir e combater, de se configurar uma estrutura de relagdo onde, mesmo havendo competéncia, falta a cx acidade de conquista. Com freqiiéncia, todos nbs conhecemas tipos assim. E bom profissional, mas nio consegue emprego. E excepcio. nal nos treinos esportivos, mas fracassa durante as competigoes. Sua vida seré um eterno desperdicio de talento, porque jamais. lutars Pelo lugar que sente que merece. Acomoda-se ¢ passivamente man. tém © que jé possui. Lutar é sempre sentido como um isco de erder 0 que jé tem. 2.3 Conclusio Vimos que a amamentacdo ¢ um elemento central da materna- gem. Que organiza a evolugio afetiva normal, mas que pode ser Perturbada pela inadequagio afetiva da mae, pela maior tragilidade constitucional da crianga e por fatores acidentais. Como nticleo da ‘maternagem, as distorgdes na amamentagio sio sintomas de que ha Problemas emocionais ao nivel da crianga ou da mie. O processo de esmame deve ser progressivo e situado entre a percepgio da mie (¢ outros objetos de amor) © 0 inicio da dentigao. Distorgdes no Proceso podem concretizar fantasias infantis de caréncia ou de Aestrutividade, provocando modelos de relacio distorcidos, que po. derio perdurar por toda a vida, j 2.2.4. Leituras recomendadas Ver Leituras recomendadas do capitulo 1, seco 1.2, 43

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