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MAIS UM CRIME BARBARO EDITORIAL: MAIS UM CRIME BARBARO Mais_um crime birbaro, 0 assassinate da crianga Joao Helio Fernandes Vieites, de seis anos, arrastado por quilémetros preso 30 cinto de seguranga de um carto, aliments a ilusio de {que basta aumentar o rigor da leislacio penal para se for fim & crise da seguranga publica Como ocorre em outeis tagedias, a indign cio da sociedade se converteu em caldo de cul- {ura para. proposigio de medidas vingativas que, amplifeadas por uma midiadvida de audigneia © por demagngas em busca de plata, ne pas- sam de tespostas ieacionais ) iracionalidade da violencia urbuna ¢ &escalada do erime Sob a forma de tortura © outras formas de dor Rsica eerteldade, tanto a vialénein quanto le vinganga sempre estiveram presen série cs humanidade, Contulo, nue en 6 demais lembror — e a histéria cantempo- ropleta de evidéncias nesse sentido — que a conjugagio de intalerancia e radica- lismo com maior rigor punitiva-repressivo em ‘matéria penal costumam desogiar em trict Tencia; costumam ageavar 0 esgargamento do tecido social; mais precisamente, costurnam cul- rminar em experiéncias Fracassadas, quanto aos propésitos de garanti seguranga, e muitas veres esustrasas para as instituigdes democriticas A historia também mostra que, quanto maio rus slo a repressio ea vigilineia, mais as garan~ tias fundamentais © as liberdades civistendem a ser ameagadas Quanto mais ilimitado € 0 poder dos drgios de seguranca, como se a im portincia dos fins justificasse © recurso de ‘quaisquer meios para se assegurar a ardem, menor tende ser 6 respeito a0s dircitos mais elementares Fo) assio nos vombrios tempos da fiscisma, ‘na Europa Foi assim na época dss ditaduras militares, na América Latina. E infelizmente tem sido aisim desde o inicio da atual dead, principalmente apés a tragédia do 11 de setem= bro, em Novs York, quanda slteragies legais voutdas em cima des lates imediatos, sem dis- tanciamento critico © sob forte comogio 40 cial, abrizam eaminhe para a chamada "legis- lagi do plinico”. Sia respostas dads as pres 58, sem teflesio aeerea das eonseqiéncias que tum Estado policial pode acarretar pars as si ‘vaguardas juridicas, substiwuindo a seguranca o dlizeto pelo arbitrio e pela opressio Por isso, neste momento de comprecnsivel indjgnacao da populagio brasileira com a bi nalizagio da violencia, com o aumento da de- Lingiigneia juvenil, com a escalada do crime, ‘com as diferentes formas de inseguranga e com a impunidade, € fundamental diseernir entre mites ¢ fates, entre impulso ¢ peudéncia, entee azo € emogio, entre propostis sérins que me- recem ser debatidas e solugées farsaicas, a fim de queea sociedadle eo Pais no baivem 2 gunrda do respeito le, ao dieito de defest e as liber= dades pablicas Fevoupy ‘Quando se sabe que no Estado de Sie Paulo peas 19% de jovens com menos de 18 cenvolveu em homicidias, como levar a sério a proposta de tornse jovens acima de 16 anos res. ponsiveis porseus crimes. Até que ponto a pre ‘mogio da emaneipagio judicial penal de ado- lescentes infratores aumenta, de foto, # seg ranga publica? Em que medida a “estadualiza io” da legislagie penal, justilicada como ama ‘medida capas. de “responder is peculiaridades de cada regio", € compativel com a realidade e ‘com as tridighes institucionais do pais? E se cendurecimento penal signifies mais gente na prisio, 0 que ocorrers com um sistema prisio= ral que, alm de satarado,oferece condigaes de vida crus, vergonhosas, desumanas e degra dgntes 20s que ele viver’ Em termos comparativos, pesqui das por investigadores conceituados sobre a re- lagio entre taxa de encarcerimenta ¢ taxi de criminalidade revelam por exemplo que, na In- slaterra,o acréscimo de 25% na primeira teve 0 pifio resultado de redurir a segunda em somen- te 1%, Nos Estados Unidos, as estados com os maiores acréscimos mss toss de encarcerimen- to tiveram, em média, menores redugdes em suas taxas de criminalidade. O grupo de esta- dos que mais investia em represtio © em pr sées sumentou sua taxa de encarceramenco-em 72%, mas obteve ums redusio de somente 1386 fos indices de criminalidale’ Esscs atimeros na deisam margein a dvi das e io padem ser desprezadas no debate s0- bre a reforma da Ieyistagso penal. Eles mos- tam que a relagio custoybeneficio da pena de prisio € absolutamente desfavorivel Ou seit, les sinalizam que, apesar do endurecimente penal edo aumento das tasas de to nio hi a esperada reducio da eriminalidade, sobretudo nos erimes mais violentos Alem disto, @ Levantamento Nacional do Atendimento Sécio-Educativo a0 Adaleseente fem Conflito com a Lei — divulgide em 2006 pela Secretaria Especial dos Direitos Huma: nos da Presidéncia da Repiblica — aponta que ‘o deficit ee 3396 vagas nas unidades de atendi- indice EDITORIAL: [MAIS UMCRIMEBARBARO. 1 Pas Pouiicas esusTica SEGURANCA, £0 BEM.COMUM MainaPerea Pres Oivera 3 ICA SOBRE A EMISSAONA, LELN*8.069/90, André Del Gros. Asumpglo 4 SISTEMAPENAL, POLITICA Cera EOUTRAS POLITICAS sina Zach 6 [9 DIReITO DE MORRER EM PAZ ECOM DIGNIDADE. Mio Roberto Hischheaner eClis Francs Constantino 9 )RONEIS,JUIZES \|-EECONOMISTAS: £0 PODER, ESTUPIDO! van Césac Rb Biba Lopes de Meta Fergo 12 PA LEI 11.435, DE (28.12.2006 E 0 “Novo” [ARRESTO No cODIGO DDE PROCESSO PENAL Gustavo Henrique Rs Bodo 13 "A RETENCAO DO ‘PASSAPORTE COMO. (MEDIDA CAUTELAR, ALTERNATIVA A PRISKO PROVISORIA André ies ended Rend) 15 "A OTIMIZACAO, AINDA AIMIDA,DAASSISTENCA DE ADVOGADO AO PRESO ogee Seti. Cuz 17 PLE N° 11.449/07: 0 PAPEL DA DDEFENSORIA PUBLICA NA PRISAO EM FLAGRANTE Cale Henrique Bard Haddad 18 Caderno de Jurisprudéncia FSSO PENAL, PRINCIPIODA NAO-CULPABILIDADE. PRISAO CAUTELAR. NECESSIDADE DE. FUNDAMENTACAO ENTAS 1065 1068 1eccrim © PAPEL DA DEFENSORIA PUBLICA NA PRISAO EM FLAGRANTE LET N° 11.449/07: LEI N° 11.449/07: 0 PAPEL DA O processo penal brasileiro nfo-conhe- ce a figura do sewsado dissociada do de- fensor "Vivem, aeusudo e defensor, em ver- dadeirs smbioe”® Qualquer que seis © pprocedimento, previsto na legislagio co- mum u especial qualquer que se in fragio praticids, crime ou contravengia, ‘qualquer que sejz 0 acusadlo que a come: teu, o acompanhamento por peatissional habilitade € imperativa. A Lei a" 11-49) 07, seguinda a diresriz principiolégica ‘que se extrai do Cadigo de Processo Pe- nal, pretendeu tornar ineguivoca a neces sidade de assisténcia de defensor antes mesmo de iniead o processo,na fase pré- cautelar da prisio em flagrante A nova regulamentacio legal procurov estender ‘papel da defesa além do pracesso judi- cial, aa exigir a comunicagio 3 Defenso. ria Pablica acerea da prisio em Magrante, caso o autuado nie informe o nome de seu advogado, n verbs Mr. 206. piso de qualquer pesos eo local onde se encore serdo comunicudos imnediatamente ao jis competente ed fart tha co pres ow a pesoa por ele indicada $1" Dentro em 24h (vine e quatro ho us) depois da pri, serd encannnhado ao juts competente 0 auto de prisio om fle ‘gante aconipanhado de sods us otic Thidase, caso oautuudo nda informe o wore de seu adeogado, eépia integral para a De- ensoria Piibliea §2'.No mesmo pruco, end enegue ao reso, mediante recibo, a nota de cul, asi ‘nada pela antoridade, com 0 motive da pri- onomede condutore odastestemunlas A Constituicio Federal, no att 5° LIT, prevé a comunicagio da prisio em Hagrinte wo juiz competence, 3 familia do ppreso ou a pessoa por ele indicads, nos exatos termos da nova redagio do art 5116, capnt do CPP, dada pela Lei 11 489/ 07 ‘Assim como as comunicagé tom realizadas pels autoridade polical a fixagio de prize de 24 hors pas a lie wratuea do auto de prisio em fagrante pouco inovou o ordenamento juridica, seja porque a Chute Magna ja dispunha sobre a cicntifeagio da detensio a de terminadas pessoas, seja porque se infe ia do prazo de entrega da nota de culpa qual seria o lapso de tempo em que de veria finalizac a laveatura do auto de pri= io © operar-se 4 comunic captu- 2} autoridade judiciria, Posto que pouco se alterow © panor- sma juridico atinemte & prazos a que deve subon dade polical, verdadeia inovac? jcessidade de infra Fensoria Péblica sobre 8 prise efetwads (O autuado pode ser atingide aos seus ditctos pessoas e reais logo que a prisio se efetiva A presenga do delensor € ne- cessiria, pois. a delesa nio comegi com a do conheei iio do inguérte pol cial « 0 comeso dit instruct cusigio formal ral. que entre 0 medeiam dias, semanas ou meses. Se 0 defensor muitos elementos dle interesse para a dfesa no che f ase con tradiéria e, mes: ‘mo conliando 9 autoridade poli cial, cujos, atos presumem-se re- vestir de legalida- de, nfo seria exe ero imaginar, 20 critério seletive de provas. Si0 pelas quais se conferiv ao sutu ado 0 direito de DEFENSORIA PUBLICA NA PRISAO EM FLAGRANTE Carlos Henrique Borlido Haddad cial na slo ge tem que ocor A presenga do defensor durante 0 interrogatério em nada pode melhorar a condi¢ao processual do autuado se nao Ihes fot permitido prévio contato, capaz de integrar a ~ defesa técnica a autodefesa. As vezes, por mais que o defensor tente afastar ou diminuir a responsabilidade assumida por ele no interrogatério, baldam-se os esforcos. A prova jé se tornou maciga e contundente, ndo mais infirmavel por qualquer outra. aplicaveis, no que For cabive plina do interrogatsrio judie quirigdo realizaia em sede exteajudi- é diference di eletivada em zo, salvo pelas autoridades que as pre- idem e pelo momento provedimental a disci Ain criminal Nao bast recanhecero diteto inseul- pido a LNIII da Constituigio da inquisiéria, Replica na esfera judicial F imensa ojuiz cometer gum abuso du: ‘nce ointesrog- trio, realizado em audigaci pablieas © acess- vel todasas pes: soas,doqueaau- toridade polieial fem sede estraj dicial. Temado ddesurpresa ¢ sem a presenca de de- fensar, torna-se 0 interrogatério, ceuja publicidad da consecugio & testrta, paleo de ozar de patroci nie da Defensoria Pablica, a fim de que tenha tutelado, quanto antes, seus int resses, especialmente 0s coneernentes A Tiberdade A romessa i Defensoria Pablien da pia da ato de prio em flagrante, em reluglo ao autuado que nfo tena indica- do advogade consttui medida indispen- sivel | manutengio da deten; dda autoridade policial so importa ‘em nulidade do auto de prisio, desde que obedecidas as demais formalidades cexigidas nos artigos 304 © 305 de CPR. conseqtiéncia da falta de comunieagio & Defensoria Péblics aut de prisio laveado, perfeito e seabado, mas teria repercuss «lo du prisio proviséria do autuado, que passaria a ser ilegal em virtude de se ne- gar efetiva avsisténcia de aclvogado, co- mo determinads no art 5", LXUL da Constituicio de L988, A obrigatéria presenga da delensor durante o interrogatério judicial foi de terminada pela Lei n" 10792403. Mas a regulamentagin no apenas exigiv a pre- senca do defensor em juizo. Em combi fnacio com o art 6° V da CPR a audighn Udo indiciada na fase extrajudicial passou a reclamar a presenga do delensor, por que, ao procedimento ddeclaragses nem sempre proferidas com plena Itherdade de autodeterminacéa A vfetividade da detesa téenica, que antida ainda na fase extra dlicial, nfo se perfaz com a mera indaga- gia se @ acusado deseja comunicar sua advogade, Hii de ser girantida a concrete assist samesa pela pre- senga do defensor ao ato de inquitia salvo manifestagio em eonteério do py prio autuade. A preacupagio com 3 4 sisténcia téenica durante 0 procedimento extrajudicial & necessiria em face da mic serdvel freguesia de nosso sistema penal Por esse motivo, pecou a Leia 11 449/ 07 so impor a comunicagto da Defenso- ria Pablica sobre a prisio vm flageante do autuado apés kia o respective auto © contrariou, em certa medida, 0 que dise pe o art 185, capur © § 2" cle ar. 6°. %, ambos do CPR de acordo com os quais 0 interrogat6rio, qualquer que seja, ral za-se ni presenga do defensin, ap6s p vis eotrevista. Em sua tentativa de ade (quar-se 4s dispostcdes da Constituigio de 1988, o Codigo de Pracesso Penal sofre sucessivas alteragées que, se por um lide apresentam aypecto positive nai concate nagio de normas constitucianais e ore por autro lado eliminams a sua e= ‘confer a diplom & BOLETIM IBCCRIM - ANO 14 172 - MARGO - 2007 opyiog i : "> aspecto de coleha de retalhos A comunicagie da prisio deve ser feits imediatameate, destle que 9 sutuado no se rogado. Con- © PAPEL DA DEFENSORIA PUBLICA NA PRISAO.. LEI N° 11.449/07: ‘opons a aconselhar-se com 3 quanto 2 camunieacto posterio do auto de prisio em flageante arcada as ee wo dincita const- tucionalmente assegurado de assisténcia de lefensor ao preso, por se tratar de tarda me= dla O diecita cansttucional somen assegurado se fornecida a assisténeia por de Tensor antes de se prestar dec es perante oridade policial, sobretudo

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