A boa gente pega um bronzeado sob o sol do paraso original, aquele do qual voc foi banido muito antes de nascer. A boa gente faz banquete, piquenique e bacanal, como voc pode ver na tev. A boa gente faz muito dinheiro, em dlar, euro e impostos coletados s por voc existir. A boa gente est com o sorriso em dia e voc no tem mais dentes pra sorrir. A boa gente est viajando, comendo, fodendo e fazendo selfies em estaes de esqui nos Alpes suos. A boa gente est fazendo cara de paisagem e aumenta seus dramas e salrios, mas nunca dorme numa cama de pregos como o resto, os comedores de restos. A boa gente excitada esfrega seus genitais potentes na sua cara de pobre demente, e considera seu nobre mijo, merda e gozo a definitiva soluo para os problemas de uma gente cada vez menos gente. A boa gente o abuso, o sangue que escorre entre as pernas da menina estuprada e viciada em crack. A boa gente crocodilo. A boa gente o absurdo kafkiano, so os senhores do castelo que no querem receber voc. A boa gente vai aos teatros de elite e chora com o drama do garoto Montecchio e da menina Capuleto, sem se importar em sufocar o moleque favelado com m educao ou se seus pais morrem em corredores de hospitais ou em sangrentas vendetas policiais. A boa gente constri shoppings e frequenta restaurantes da moda, enquanto voc acha foda o vestido da madame, o terno importado do senhor. Ento voc passa ali na frente e vo reclamar do seu odor: Quelle horreur! Depois eles iro correr atrs, dizendo que voc tem de colaborar. Acontece de vez em quando mais ou menos de dois em dois anos , voc precisa confiar, tudo isto vai mudar, no vo mais esporrar na sua cara, nunca mais... E voc, igual a um cordeirinho, aceita a ajudinha parca e o falso carinho e diz o doutor vai consertar. A boa gente est na sombra, protegida do sol forte do inferno que criou, aquele ao qual voc foi condenado muito antes de nascer.