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Mitio A. Perini SOFRENDO A GRAMATICA Ensolos sobre @ linguagem ‘ura parte importante do folclore da literatura oral, da visio de mundo de um povo indigena que hoje, quase noventa anos depois, jf se encontra irremediavelmente transformado pelo contato com nossa cvilizacto. Ra-txa u-ni-ku-i permanece, sob ‘esse aspecto, uma imensa mina de informapSes areeuperarest~ dar e interpreta. 4. AS DUAS LINGUAS DO BRASIL, _ (qual & rmesme a lingue que falamas?) ‘As linguas dferem muito pouco no que diz respeto a suas capacidades expestivas (ver oenaaio“O rock portugues). Mas, Como é evident, diferem mitasimo quanto a sua importinda Cultural, polite e comercial. Temos, por um ado lingua como ‘inglés, oespanhol, muss ochinés,o francis (mais modes- ‘amente,o portugues) que servem a vastas comunidades, sendo {ntensivamente utlizadas na politica, TV e na imprens na Ciencia, na literara ete. Ela fo chamadas, um tanto precon teituoramente,"Kaguas de evilizasic "Por outro lado, exstern linguas de inceressepramente lca, ‘como o xavante eo caxinatis entre 0s indi brasileirs, a maoria ‘ha gua aftcanas, muitos dialerosloais da Europa eda Asia, ¢ assim por diate. Essa linguas nem sempre sto fladas por Somoniavies diminutas: embora algums sé tenham algumas (© caso mais exzemo dessa limitagto € oda inguasrealmen- te desprovidas de tadigfo esrta. Estas podem possuir uma ortografa, em gerl de invengto recente, mas o corpo de mate~ Fal esrito nelas€ muito pequeno erestrito a eras rea de inte- ‘esse: alguma literatura regional, eaduges da Biblia feiss com. vistas catoquese, pouco mais. Tas inguae se chamam “Agra fae iteralmente, “sem est’; mas jf vimos que essa prvagto ‘Mo precisa ser absolut). E 0 caso do xavante, do changana (Galado em Mogambique), do bengamasco(flado em Bergamo, no norte da Telia), de muita pequenas linus da India. Existe uma verdadciea mulidto de lingua dgrafse polo smandaafora Em geal, elas conviver com uma da inguss de lvillagto, que seus flantesublizam quando watam de asun~ tos forn das necesidades do dia dia, Dessa forma, um cida- ‘io de Bergamo, quando convecsa com a fai, poder expe rmir-se em bergamasco — mat, a0 tratar de negécios, flard italiano;20 assist televisio, tard ouvindo italiano seu joe- ral de domingo extra excrito em italiano. Pode aver discussto entre ov especialstas bre quando é que ‘uma lingua deve ser consderada dgrafi, Muitos sustentam que © maa, lingua indigcna do aul do Mésico, nfo € grat jf que este textos ness linguhavirios culos Néo precisamosentar essa briga; ereio que qualquer um pode ver difrenga nitida ctr umalingua que serv a todas a necesidades da vida moder ‘nae uma que no o fiz esta tia chamaremos “graf ‘Vamos mudar de assunto agors; mais tarde, tentaremosjun- tielo ao que foi dito acima. Nosso segundo tema é 0 seguinte: Que lingua se fala no Brasil? ‘Mas sera que vale a pena fazer essa pesgunta? Todo mundo (€todo 0 mundo) sabe que lingua do Brasil é0 portagués. Além ik do mais, é uma lingua de civilizagio, segundo a definigzo que vimos, Basta pegar um jorna,lgar a TV, passar os olhos nas pra teleiras de uma livraria, slta& vista que o portugues é a Kua do Bras io hi divida de que a lingua de civilizagio que nos serve 60 portugués. Além do mais, ela aio esti nem um pouco em perige de perder esea posisto privilegiada: apesar do que se fla dos progresios do inglés em certas reas, 0 portagués continua firme como o vefculo de todos os aspectos da culeura brasileira. ‘A imensa maioria da populagio (incluindo os universitirios) € incapaz de se exprimi, e mesmo de ler, em qualquer outra Kin gua. Logo, como te pode ter divida sobre a posigzo do port {guts na comunidade brasileira? Mas notem que eu no perguntsi qual era a Lingua de civi- lizagao do Brasil Perguntei que lingua ve fala no Brasil. Exp ‘cando melhor: seri. que falamos a mesma lingua que esereveros elemos? “Muita gente tem opinito sobre isso; mas para formar nossa propria opinito vamos colher alguns dados. Digamos que esta- ‘mos usando um binécalo durante o jogo de Futebol e um amigo também queira dar uma olhada. Ele chega e diz: —Me empresta cle af wm minuto importante observar que ess ¢ uma forma crreta de ilar aquele local e naquele momento. E que guaguer pessoa pode- ‘in uiliar uma fabe como esa (ao apenas as chamadas sous incults”) A fase acima fiz parte do reperério linguisti~ Co de todos os brasilezos; em uma palaves,€ assim que nds falamon, Podemosesrever diferente (por exemplo, omprese-mo tum minut), tas falaondaqele eto. ~ Tmaginemos outa situago: uma senora est na confeita- sia encomendando salgadinhos diz ea: olan pany "oot pode fezer les pra siti? A fxta a er | domings ex lo powo in a porque oie tml nage, ermeu mado aan ops evans ero. | bbusco eles no sibado, se vocttver de acordo. ‘Imagine a pessoa falando,everé que cot fla 6 psfeita te natural. Mas escrta ela choca um poueco, porque est cheia de ‘tragos que no costumamos encontrar em textos escritos: oy re ve prs falando, nem sempre wsamos 0 1s tom eligi naescrta, deve -perfeito simples (ize, gottdramor, fore) ‘0 futuro do presente (fare, gestaremos, Fr). [Na Mingua falada em Minas, também raramente ocorte 0 presente do subjuntivo (fasamas, goxtem, 0); essas formas so, (oquinbypouess, vp owips wns wo “oud RUWG WHPA) “13g op orSeuyop 9 azoqoosopas 9p ‘oydure spews orofoad wn 9p sured, ousoo wgaouoa anb 2 s¥axgnd ® noloys wus ab ou7 aug peop wqusnbrpoucig wasn opussais> soue soi nossed apempuY ap ouyyy “Tseg ou ojopUroA wo 1ADIH9 x assessed 38 anb ap ‘soonsaiins sousus ojad no ‘seansatn: annoy ¥f “opunus op upuiy enuy soreu apepmqeqord pon 309 seus oss 98 oF “orsu9 asap aured woud wu soureuyures ab 8 owoo “agely enuy eum ojopuzan op 245 oss Teo ena, ‘owos oprooqucnas 9 ova ‘oss wipe api oFSypen apes 92 ‘ope owruaidun opumu wu soarede ogu‘enepopred so01st00 9196 (fu eaxameo 2s opu sopy enuy[ eno wzsoquco OFU 9 a1uSUR -nsuoo userqan o anb“seossod ap soo quanbup 2 oxu99 2p sur ap eusaeur enue» oxnoyusas o orea26q0 KUN BIOS "pp woo xan 9p souton 9 ean ‘sssou wo opefreare orgy um 9 seus ‘oxsems wssap oxsol 98 fot RN fanfrasod sey open, wipqune 9 9 ojmoyuraA 19421989 ,0P en, 92am saney apod OPN "omagUAaA eR 9 Sgein0d 3959969 9 (eres so9Suaau0> seed en1208 0 9 est) 13, 0 MISSY so2ygnd sof wa aisod ap no wansexuigj ap sosmaeip ox | sepereansiua soqSenais wo CWSU Ypy 9¢ 98 9 PeULC} BEND PH ‘opesn 9 sgnnasod o xf uueazoduwr 9 owsyeas © spud ‘one 2p ‘sod wo owo>‘soypose sons $0199 wa 9 PouneyH vy eu Te lwo wen 2s ofopuzoa C)"tnno eu bun wasapanuT opueaReAd EU'S ‘ondord oruruop nas ewn ype was seg op sen senp sy sowuepod 2p ‘ears woo ‘ouruyus ou uete>y svossad sesso anb a1uapina ‘ops 9p say seyppases9|>-24p-s24fon9p eyuEURE SLA Bn 9g — _xSjure souour ered opuszyp eyurou wusn OF NO | ‘oanuns wm our-sasaerg — ‘opurzip joqaary ap oxp “p39 ap oxz2yundisos nos o wousewsy sgnSnasod sep oped 9 ‘wou ‘eye 28 ort seas ou seus ‘vy ap 8122, vusO} eu WI9q im ansp9 2p tua ‘oper, 2ss0y ofnoyuroA o anb wed ‘onb (95 saniinazod eqey ap epeas euus03 eum anousodans 9 o;ort “fon anb sesuad e souropust ‘ops ottoa seston se opuss Sey, ‘sprooquosar ayuauiqega 2 oF PaqID ap senuyy wrasoy sequre 9 ‘sunsp sendy sepesopis 00 298 uuapod pens spaSanv0u 0 sgnbseureusp o o1uenb no ‘Toquedso 0 sqndinod o oxsenb sauaiayrp of: ors anb oxtadsns no seu ‘seSUS39]0p sens ap axwaBlmaqe opsereae viun s9zKy nos #o1 rounu wpifunyyseBURpY OsmFORGE Wo OFS OFU SEL SEHD -aned oxmus sensiuy‘orep 9 ‘oes ojnopzon 0 2 spnfinaiod G ‘wou qeBnasog wo uroU een 98 oF anb ‘onqsesq ojnapuon O 2 Wa¥4q{ ou vey 2s onb enSuyyw seyy “eotayy ep soap sunt (wo 9 pemsog wo opSezqtan ap eas owios euoruny wpquuts ‘nb enus] rum ‘sgnfinjiod ura aasiovo 98 fee1g ou amb sour -anp ‘wissy (gpmpuson avuousojdums seanaqe emed ‘n0) ata: 21g ampusoa 9p ysesgg ou epeysy wus» seureYy> soureA, “siuswepenbape w-purop © way ‘punt oxSendod vp ouzed some v9 “joo wu epspuasde 398 ap war (,89n@nuzod, 0) eno w somaqseag sop wuzsneu! was © > ‘nb eusayp nso 9 (owou way wt anb epezaudsop oa 9 anb 3) ‘ey28 anb enino 9 sendimsod, ap awou 9 aqasox nb 9) 2435989, 96 anb wu cpseig ou senuy senp yy ‘sanped sexo ay (eg-spasdiua apts sour osu 9p wSuvus anb) opbeaxunuso e padi, ‘Coma se sabe, Mario utizava uma linguagem muito mais péxi- sma do vemeuto do que o portugues escrito aval. Como disse ee: [Nio pensem que vou defender Portugal e me tomar simpatico pros portugas nacionalstas nfo. [No entanto, isso nfo vingou, pelo menos a0 momento, Con- ‘inuamos aescrever em portugués ea considerar 0 verndculo uma -mancitaerrada de fala, Pessoalmente, nfo tenho grandes obje- ‘6e8 quanto a se excrever portugués; mas acho importante que se entenda que ele ¢ (pelo menos no Brasil) apenas uma lingua ‘escrita, Nosta lingua materna nio é 0 portugues, € 0 vernaculo brasileiro — isto nio € um slogan, nem uma posicio politica; € ‘0 simples reconhecimento de um fato. ‘Assim, nose cogita de substtur 0 portugués pelo veenéculo pa essita. Mas, nos tltimos anos, tem havido um aumento not velde interesse pelo wernéculo como lingua a ser estudada. O mes amigo ¢ colegs Aaliba de Castilho coordena hoje um grupo de linguistas que vem realizando um trabalho muito interessante de “descrigio da estrutura do verndculo. Hi esperangas, poreanto, de ‘que, dentro de alguns anos, se possa dispor de gramiticas adequa- das da nossa lingua materna;por tanto tempo ignorada, negada e lespeezada. a O ADIETIVO E © ORNITORRINCO, (lemas da classicagdo das palavres) Grande parted labor cent consists em clasificarent- dhades ecaborrjustfcatvas para eat clases A cena nfo selimitaa so, evidentemente-uma cca € mt ais qu uma Sanfiapo de objetos. Maser eral depende decasificasdex, ft mesmo pars powbiltaro ddiogo one os cenit Por exctnplo, on zodlogos divider on anima em diversas categoria: mamiferon, pti, peer, into, avon anos {asim por dant. Sem eas categoras seria muito dif fazer Zoologia, ou meso fir de zootogia, pos els pemitem a0 Gientntn referee a eper de animain; om ver de refere-se a Cada animal (ou «cada eapécs)ndvidalmente Assim, pode- tmot encontrar trabalhoe descritivos sobre os mamiferor da ‘América do Sul, ow sobre a evolu dos réptes, ou sobre a Feiologia dos instos ete. Exes tral, emisimos outros, dlependem da classifcagio prévia dos anienais (em classes, orden, filing, generore especies) para a definigao de seu Campo de interest; nese vento, todo 0 trabalho da z00lo- tia epoca sobre clasfcagies. precio, aturlment, dor decritsos objets par colo ar um animal neta on naguela classe, Assim, mamieos Se

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